CONTRIBUIÇÕES DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA: REABILITAÇÃO EM PACIENTES COM LESÃO MEDULAR ESPINHAL TRAUMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411081342


Sirlei Vieira Pinheiro Corrêa¹


RESUMO-  A Fisioterapia Aquática (FA) tem a sua aplicabilidade relatada em diversas especialidades da esfera fisioterapêutica, somatizando nas condutas de reabilitação, sobretudo pós Lesão Medular Espinhal (LME), com resultados benéficos para indivíduos portadores dessa condição. Tende a ser mais eficiente para retomar parte ou todo movimento, a princípio com plegia, apresentando diminuição e até ausência de força e equilíbrio pós trauma em região de coluna vertebral, levando a injúria da medula espinhal. O ambiente aquático proporciona ao paciente um bombardeio de estímulos sensório motores, ativando ainda mais a neuroplasticidade na reabilitação, assim como a redução do quadro álgico, proporcionando ainda relaxamento de toda a musculatura, bem como o aumento de aporte sanguíneo para a musculatura. Além de ser uma terapia em ambiente seguro, tendo como fator importante a redução de impactos nas articulações e melhora no retorno venoso, possibilitando resgatar os movimentos. Objetivo: Compreender as contribuições da fisioterapia aquática na reabilitação funcional em (LME). Metodologia: Baseada em pesquisas bibliográficas, utilizando banco de dados eletrônico Bireme, PubMed, Scielo, com artigos publicados a partir do ano 2000.  Conclusão: A fisioterapia aquática e seus benefícios na recuperação da saúde, alcançados através das propriedades físicas da água, são estudados desde os tempos de Hipócrates, que somado à protocolos de atendimento fisioterápicos, promovem a melhor reabilitação funcional a pacientes com (LM).

PALAVRAS-CHAVE: Fisioterapia aquática; Lesão medular; Marcha aquática; Terapia aquática.

Abstract: Aquatic Physical Therapy (APT) has been reported as applicable in various specialties within the physiotherapy field, culminating in rehabilitation procedures, especially after Spinal Cord Injury (SCI), with beneficial results for individuals with this condition. It tends to be more effective in restoring some or all movement, initially with plegia, presenting a decrease and even absence of strength and balance post-trauma in the vertebral column region, leading to spinal cord injury. The aquatic environment provides the patient with a bombardment of sensory-motor stimuli, further activating neuroplasticity in rehabilitation, as well as reducing pain, providing relaxation of all muscles, and increasing blood supply to the muscles. In addition to being a therapy in a safe environment, an important factor is the reduction of joint impact and improvement in venous return, making it possible to recover movements. Objective: To understand the contributions of aquatic physiotherapy in functional rehabilitation in (SCI). Methodology: Based on bibliographic research, using the electronic databases Bireme, PubMed, and Scielo, with articles published from 2000 onwards. Conclusion: Aquatic physiotherapy and its benefits in health recovery, achieved through the physical properties of water, have been studied since the time of Hippocrates, which, combined with physiotherapy treatment protocols, promote better functional rehabilitation for patients with (SCI).

Keywords: Aquatic physiotherapy; Spinal cord injury; Aquatic gait; Aquatic therapy.

INTRODUÇÃO

A Fisioterapia Aquática (FA) segundo o Crefito 15 , é indicada a diversas condições patológicas, sendo o seu principal objetivo prevenir comorbidades e também promover a reabilitação, restaurando a saúde nas alterações funcionais, sendo a Fisioterapia Aquática uma especialidade reconhecida pelo COFFITO.

A Organização Mundial de Saúde (2011) apresenta a definição de reabilitação como um conjunto de medidas que possibilitam, dentro de um processo dinâmico, obter e manter a funcionalidade ideal de uma pessoa que passou por um processo traumático, levando-a  apresentar melhora em seu quadro e promovendo a interação ao meio em que vive.                    

As propriedades físicas da água a tornam um elemento onipresente e essencial para o desenvolvimento do ser biológico de todos os organismos vivos da terra. Os estudos sobre essas abordagens hidroterapêuticas em imersão em água são datadas da antiguidade, pelo Dr. Hipócrates em 460 a.C. 

Visando restaurar a saúde do indivíduo, observamos através da história que os povos antigos desde o século IV a.C. como os egípcios, muçulmanos e os Hindus, prescreviam a hidroterapia no combate à febre, devido as suas propriedades físicas, assim como os orientais que se utilizavam dos banhos de imersão. Sempre evoluindo através dos séculos, com estudos sobre as propriedades hidrodinâmicas, corpo imerso ao executar uma atividade física, (SACCELL; ACCACIO E RADL, 2007). 

No Brasil, a hidroterapia iniciou através da Santa Casa do Rio de Janeiro em 1922, com orientações médicas (CUNHA, 2001).  Conta hoje com diversas terapias no meio líquido que possibilitam a reabilitação, tais como a hidrocinésioterapia, que promove melhoria do condicionamento físico geral, tanto em força muscular, como em restauração de equilíbrio postural, e por conseguinte, inibe ansiedade e controla comportamento depressivo. Alcançando dessa forma, a máxima promoção da capacidade funcional, aumentando a qualidade de vida do indivíduo e minimizando os efeitos do imobilismo.( SCHANZER GS, QUEIROZ SS, 2007). 

Hoje a Fisioterapia Aquática é uma especialidade que conta com diversas técnicas de abordagens aquáticas, favorecendo tratamentos em diversas condições patológicas, como a técnica de Bad Ragaz criado na Suíça em 1930, focada em movimentos resistidos isométricamente. Contamos também com a técnica de Halliwick que surgiu em 1945 após a segunda Guerra Mundial, focada na reabilitação continuada. Também muito utilizada nos protocolos de reabilitação, temos ainda a técnica de Watsu ou hidroshiatsu, adaptada para reequilíbrio energético e alongamentos, ajudando na manutenção e melhora das amplitudes de movimentos, (BIASOLE E MACHADO, 2006), .(SCHANZER GS, QUEIROZ SS, 2007), (DULL, 2000).

A Lesão Medular Espinhal (LME) é uma das causas que mais levam a debilidades físicas, sociais e psicológicas na perspectiva global, sendo assim um processo patológico, como um problema de saúde grave, necessitando de reabilitação continuada.

O presente estudo foi construído a partir de uma revisão bibliográfica em artigos nas bases de dados PubMed, Scielo, Google Acadêmico e periódicos, sem restrição de língua estrangeira, utilizando a estratégia de palavras chaves, com seleção de temas em Lesões Medulares Traumáticas. Também fizeram parte da pesquisa digital para construção desse estudo, termos relevantes como Reabilitação em Água. As buscas foram realizadas dentro do período de maio de 2022 a dezembro de 2022.

Para melhor compreender a importância da Fisioterapia Aquática dentro do processo de reabilitação com pacientes com lesão neurológica por trauma, temos que nos deter primeiramente nas propriedades físicas da água e sua aplicabilidade sobre o corpo físico imerso e quais as técnicas mais indicadas dentro da complexidade do quadro de LME. Este estudo leva-nos a considerar que a busca pelo conhecimento científico a respeito do tratamento, tem chamado atenção para novos estudos.

PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA SOBRE O CORPO IMERSO 

Toda técnica da fisioterapia aquática requer a análise de pelo menos três aspectos envolvidos, visando um prognóstico para o  indivíduo com LME e entre outras patologias: efeitos físicos da água, condição do paciente e os objetivos específicos da conduta. Carrego e Toledo (2008) apresenta essas características chamadas de propriedades físicas da água, como a flutuação, que segundo o princípio de Arquimedes, ocorre quando um corpo em imersão na água, estando em repouso, sofre uma força de reação chamada empuxo, sentido antigravitacional, permitindo a flutuação e levando ao movimento tridimensional aumentando o bombardeio de estímulos sensoriais ao Sistema Nervoso Central.

Campion Margaret R (2000, p.03) diz que a “ Unidade de água está principalmente no seu empuxo, que alivia o estresse sobre as articulações sustentadoras de peso e permite que se realize movimentos em forças gravitacionais reduzidas; dessa forma, as atividades que não sustentam peso podem ser iniciadas antes mesmo de serem possíveis no solo.”  

Para um pleno aproveitamento dessas propriedades, não podemos deixar de considerar a temperatura da água, onde as piscinas terapêuticas devem se manter entre 33º e 36 ºC. Essa temperatura d’água é relativamente maior que a do ar e pode assim regular o tônus e a dor. A perda de calor dentro da água, pode ser de até 25 vezes superior à do ar em certos ambientes (RUOTI ET AL. 2000).

Com a pressão hidrostática, temos favorecida uma melhor resposta de equilíbrio e de redução de edemas, que somada a resistência d’água, pela sua viscosidade, temos um ambiente seguro e livres de quedas para o paciente. Segundo a Lei de Pascal, a pressão hidrostática exerce força sobre toda área imersa, que aumenta de acordo com a profundidade. Dessa forma, produz melhoria com atenuação dos espasmos e na coordenação motora (CAMPION, 2000).

A água além de suas propriedades bem exploradas na terapia,  ainda possui o fluxo que é o seu deslocamento, onde as moléculas se movimentam de forma paralelas, formando um movimento turbulento ou ausência dele que é denominado de fluxo laminar, estes fluxos são bem vindo nas condutas  fisioterapêuticas, (RUOTI ET AL. 2000).

A fricção entre essas moléculas gera viscosidades, aumentando a resistência do movimento, beneficiando os músculos enfraquecidos, sendo propício para a fisioterapia de treino de fortalecimento, onde a resistência é dependente da quantidade da força aplicada no movimento, (RUOTI ET AL.2000)    

TÉCNICAS TERAPÊUTICAS APLICADAS EM MEIO AQUÁTICO.

Todo tratamento fisioterapêutico se dá início após realizadas as devidas avaliações, tanto subjetivas como objetivas, bem como os testes necessários para traçar um plano de ação. Com a intervenção dos melhores métodos comprovados cientificamente, no caso da FA é observado tanto a avaliação em solo como também considera a avaliação em meio aquático, devido as duas principais forças atuantes, que são a gravidade e o empuxo para equilíbrio. 

Campion Margaret R (2000, p.23) relata que “Uma avaliação no solo é essencial e os detalhes devem ser observados pelo fisioterapeuta que conduz o paciente para o tratamento aquático. Uma avaliação baseada no mesmo protocolo deve ser realizada na água, mas é preciso levar em consideração um número adicional de fatores, com atenção a atividade aquática.”

A fisioterapia  em meio aquático vem complementar a fisioterapia em solo, pois as sessões de exercícios, chamados de hidrocinésioterapia, contemplam as necessidades e evitam possíveis fadiga que podem comprometer a recuperação do sistema nervoso autônomo lesado. 

Bennie Aliçon traz sua contribuição, dizendo que “ A pessoa que teve recentemente uma LME, normalmente será encaminhada a hidroterapia como parte  do programa abrangente e extensivo de reabilitação.” ( CAMPION, M R, 2000, p.239). 

MÉTODO BAD RAGAZ 

O método de Bad Ragaz que surgiu na Suíça, teve o seu início em 1930 como exercícios cinéticos tanto passivo como ativo, destinado a promover estabilização do tronco e de extremidades a partir de padrões básicos de movimentos resistidos isométricamente (BIASOLE E MACHADO, 2006). Sendo uma técnica aplicada na fraqueza muscular, conferindo sua aplicabilidade no tratamento de diversas condições patológicas, tais como pacientes neurológicos, ortopédicos e reumatológicos (ROUTI, MORRIS E COLE, 2000).

MÉTODO HALLIWICK

A técnica do Halliwick promove uma reabilitação continuada, observando a postura do corpo em seu plano e eixo, fornecendo o equilíbrio e controle de tronco, independência no meio aquático com a estabilização do corpo na água, devido ao considerável esforço para alterar os posicionamentos (SCHANZER GS, QUEIROZ SS, 2007). 

MÉTODO WATSU

Na década de 80 surgiu a técnica de Watsu, com Zen Shiatsu Harold Dull, que adaptou sua técnica de shiatsu em meio aquático, em piscinas aquecidas, baseada em alongamentos e reequilíbrio energético, sendo muito eficaz (DULL, 2000).  

LESÃO MEDULAR  

A nossa medula espinhal tem como sua importância fisiológica, um centro de processamento ferenciais, controlando as informações sensório motoras e as funções vitais do nosso organismo. A lesão medular espinhal (LME) é uma das causas devastadora que afeta muitos sistemas, levando a debilidades físicas, sociais, e psicológicas na perspectiva global. É um processo patológico e um problema de saúde grave, devido as suas sequelas incapacitantes, capaz de trazer deficiências motoras e sensoriais. Isso ocorre nas vias ferenciais, quando os axônios que são os prolongamentos das células nervosas, que descem do SNC-Sistema Nervoso Central através da medula espinhal, sofrem algum trauma (laceração, compressão ou secção). Esses por sua vez, interrompem a comunicação sensorial entre o SNC com o SNP-Sistema Nervo Periférico, abaixo do nível dessa lesão, podendo ser até irreversível, dependendo da gravidade do trauma, levando a déficit sensitivos superficiais e profundos, com alterações viscerais do SNA-Sistema Nervoso Autônomo, entre outras alterações como o controle esfincteriano, vasoplegia, controle da temperatura corporal (SOMERS.M-2001; ECKERT MJ-2017).

“Embora a lesão da medula possa resultar de uma lesão em chicote, uma lesão medular grave em geral está relacionada a fratura- deslocamento na região cervical, toráxica baixa, ou lombar alta, que, frequentemente, está associada com dor local… O local mais comum de lesão medular traumática é a região cervical” ( GREENBERG D A, AMINOFF M J, SIMON R P., 2014, p. 261).

As sintomatologias dependerão do nível do trauma, que podem ser classificadas em graus de lesão completa ou incompleta. Nos casos de lesões completas, o déficit sensitivo com a paralisia pode ser total abaixo da injúria axonial, pelo interrompimento completo do trato nervoso, enquanto que a lesão incompleta apresenta íntegro algumas fibras nervosas, preservando parte de grupos musculares e áreas sensitivas (ADLER C. 2005)

Eckert M J (2017) relata que mundialmente os casos de LME poderiam ser evitáveis, tendo como predominância a faixa etária entre 16 a 30 anos, do gênero masculino, e devido à violência e acidentes automobilísticos. A maioria dessas lesões são por traumas direto, levando a compressão pela fratura das vertebras, e causando um hematoma epidural ou abscesso, comprometendo o fluxo sanguíneo e gerando distúrbios metabólicos.

Os traumas medulares podem ocorrer como lesão primária ou secundária. Na primária ocorrem devido as fraturas nas vertebras, pelo impacto direto, onde os fragmentos ósseos podem levar ao estiramento e ruptura medular. Já na lesão secundária, pode-se dizer que é a fase aguda, logo que ocorre a lesão primária, podendo perdurar longo tempo com os fenômenos biológicos, devido aos desequilíbrios eletrolíticos, e segue com a fase subaguda, onde a neuro-inflamação é mais incorporada (ALIZADEH A; DYCK SM; 2019). 

Pacientes que sofrem traumas que levam a lesões medulares, acabam adotando estilo de vida sedentária, com baixa qualidade de vida e grandes desafios médicos, que por si só acabam se isolando socialmente, impactando negativamente. Por isso a rotina de exercícios adaptados pode aliviar o estresse e aumentar a qualidade de vida, melhorando o seu perfil cardiometabólico (KESIKTAS ET AL., 2004).  

INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA REABILITAÇÃO LME

A reabilitação do paciente com sequela pela Lesão Medular Espinhal, demanda intervenção com equipe multidisciplinar, afim de promover a reabilitação e reintegração familiar e na sociedade, com a melhor funcionalidade possível nas suas atividades de vida diária e instrumental. Nesse processo, a fisioterapia é essencial para a reabilitação, minimizando as alterações musculoesqueléticas que levam a limitações, promovendo a melhora da ADM-Amplitude de Movimento. Com a melhoria da força muscular de tronco e de MMSS e MMII, melhoria da propriocepção corporal e marcha mais funcional, o paciente tem a oportunidade de resgatar sua participação na vida social.

A fisioterapia aquática é parte importante no processo de reabilitação, em tratamento complementar e/ou juntamente com outras intervenções terapêuticas, sendo sua contribuição de vital importância. Melhora resistência cardiovascular, força muscular, flexibilidade, equilíbrio, capacitação funcional, bem como outras contribuições benéficas promovidas pelo ambiente aquático em piscina terapêutica (TEMPLETON ET AL., 1996; HINMAN ET AL., 2007; WANG ET AL., 2007).   

Segundo Schanzer e Queiroz dizem que “A abordagem da fisioterapia aquática pode influenciar o paciente com distúrbio neurológico…O ambiente aquático proporciona estimulação sensorial global, envolvendo os sistemas auditivo, visual, tátil, vestibular e proprioceptivo.”( SACCHELLI T, ACCACIO L M P, Radl A L M – p. 192 – 2007).   

Todo método intervencionista, será baseado na neuroplasticidade do cérebro e medula espinhal, para uma reeducação de padrões de movimentos nas áreas de segmento comprometida, tendo como um princípio a repetitividade de execuções de tarefas ou parte delas, através de estímulos específicos para melhoria da função neuromotora, (STEIN R , 2002).  

Segundo Sknner e Thonson (1985), descrevem a hidroterapia como recurso de cura através da água, onde o meio líquido com todos os seus benefícios fisiológicos e terapêuticos, associado com a cinesioterapia e demais técnicas aquáticas, melhoram e corrigem desvios da estrutura mecânica funcional. Gardiner (1995). Também apresenta que a cinesioterapia é um meio de promover a reabilitação das estruturas que possui uma diminuição da função, assim minimizando e corrigindo a ineficácia das estruturas musculoesqueléticas comprometidas, melhorando a funcionabilidade, melhorando a mobilidade, flexibilidade, coordenação, força, integração proprioceptiva, num ambiente seguro, (XHARDEZ 1998),

Brito R.N. (2020), destaca a importância dos 3 pilares como efeitos das propriedades físicas da água em resposta fisiológica e terapêutica, junto com os benefícios dos métodos e técnicas da fisioterapia aquática, trazendo bons resultados registrados na literatura em relação a recuperação funcional do equilíbrio, mobilidade, marcha, força e importante para manejo de processos dolorosos.

Segundo Barker et al, (2003), menciona as forças hidrostáticas do meio líquido como saudáveis para um corpo imerso na água, com boas respostas fisiológicas e terapêuticas, beneficiando o fluxo sanguíneo, com melhor redistribuição para todos os sistemas e no aumento do retorno venoso intrapulmonar.

“Os efeitos da imersão no sistema muscular estão relacionados a força de compressão provocada pela pressão hidrostática da água e pela regulação do tônus dos vasos sanguíneos… Como consequência do fluxo sanguíneo elevado, há: maior distribuição de oxigênio; maior eficiência na remoção de produtos tóxicos do metabolismo muscular e redução no espasmo muscular.”(SACCHELLI T, ACCACIO L M P, RADL A L M ; p.20 –  2007).

Segundo Ainslie, (2012), o método dos anéis, chamada de Bad Ragaz criada com base nos fundamentos de Knupfer, Knott e Voss, é uma técnica que usa da flutuabilidade como suporte e ainda se propicia das propriedades da água, da turbulência e aerodinâmica na aplicação de terapias do movimento fisiológico dos músculos em padrão funcional em suas articulações, sendo aplicada com um único paciente em piscina terapêutica, aplicando a técnica manual de forma bilateralmente ou unilateralmente, onde o terapeuta será o ponto fixo, mantendo padrões isométricos, com movimentos dentro de um linear livre de dor, objetivando aumentar a AMA, Amplitude de Movimento Articular, melhorando a força e a resistência muscular, restaurando padrões normais do movimento biomecânico do paciente, (OMAR et al., 2019).

Segundo Bates e Hanson (1998), a terapia aquática tem se destacado pela sua validação como um excelente recurso que propõem não somente o relaxamento globalizado, mas também como treino de endurance, força, mobilidade  e flexibilidade embora necessitem de mais pesquisas nesta área, nas respostas fisiológicas.    

Harold Dull na década de 1980, nos apresenta a possibilidade de unir as mobilizações do Zen Shiatsu à Water e shiatsu, onde agrega movimentos passivos e suaves, possibilitando alongamento e massagens do Zen Shiatsu, com intuito de tratamento de pacientes  em meio aquático com temperatura entre 33º a 36,5º, promovendo assim alívio das tensões musculares, diminuição do quadro álgico, aumento das ADM e normalizando os níveis de estresse e de depressão, muito presente em indivíduos após um trauma em lesão medular, melhorando a qualidade de vida, (SACCHELLI T; ACCACIO L M P, RADL A L M , 2007).

Segundo McMillan, criador do conceito Halliwick dede 1950, baseado em programa de Dez Pontos para indivíduos com necessidades especiais onde suas limitações o levam a necessitar de adaptações, com respostas neurobiológicas, conduzindo o corpo a uma sequência de aprendizado sensório motor, levando a uma progressão básica no nível de independência ao meio aquático, sendo assim, uma técnica de fisioterapia aquática perfeita à qualquer deficiência e grau de seu comprometimento (SACCHELLI T; ACCACIO L M P, RADL A L M , 2007).

CONCLUSÃO

A hidroterapia tem se destacado pelos fisioterapeutas em suas explorações clínicas como um importante recurso fisioterapêutico na reabilitação e promoção da saúde em diversos tratamentos patológicos, inclusive na reabilitação de pacientes com traumas de caráter neurológicos. Os efeitos físicos da água acabam favorecendo aquisição de movimento e de fortalecimentos muscular pelo efeito do empuxo que é antigravitacional, onde em solo seria difícil realizar certos movimentos. A água com sua temperatura, promove auto regulação, inibindo a espasticidade permitindo mobilizações e treinos de atividades funcionais, tendo melhor fluxo sanguíneo pela pressão hidrostática. Sendo um excelente recurso a ser explorado para aquisição dos movimentos e do fortalecimento da musculatura intrínseca, pela melhora da amplitude de movimento e na prevenção de contraturas osteomioarticulares, que podem se instalar pelo estado de imobilismo corporal. A fisioterapia aquática contribui dessa forma pelo favorecimento da neuroplasticidade nestas aquisições do movimento, fortalecimento e equilíbrio, potencializando replicar posteriormente em solo com mais efetividade em seu processo de reabilitação pós trauma em LME.

REFERÊNCIAS

ADLER, C. (2005) – Lesões na medula espinhal. In: Predetti, L.W., Early, M.B. Terapia ocupacional: capacidades práticas para as disfunções físicas. 5ª ed. São Paulo: Roca, p. 805-831.

ALIZADEH, A., Dyck, S.M., Karimi-Abdolrezaee, S. (2019) – Lesão traumática da medula espinhal: uma visão geral da fisiopatologia, modelos e mecanismos de lesão aguda. Fronteiras em Neurologia. [PubMed PMID: 30967837].

BARKER, K.L., Dawes, H., Hansford, P., Shamley, D. (2003) – Perceived and Measured Levels of Exertion of Patients With Chronic Back Pain Exercising in a Hydrotherapy Pool. Arch Phys Med Rehabil, 84, 1319-1323.

BIASOLI, M.C., Machado, C.M.C. (2006) – Hidroterapia: Técnicas e aplicabilidades nas disfunções reumatológicas. Temas de Reumatologia Clínica, 7(3), junho.

BRITO, R.N. (s.d.) – III Congresso Brasileiro de Fisioterapia Aquática. Disponível em: file:///C:/Users/MASTER/Downloads/3927-Texto%20do%20Artigo-23506-1-10-20200209.pdf.

CAMPION, M.R. (1990) – Adults Hydrotherapy in Practical Approach. Oxford: Heineman Medical Books.

CAMPION, M.R. (2000) – Hidroterapia Princípios e Prática. Ed. Manole Ltda, 1ª ed.

CARREGO, R.L., Toledo, A.M. (2008) – Efeitos Fisiológicos e Evidências Científicas da Eficácia da Terapia Aquática. Revista Movimento, 1(1).

CHARDEZ, Y. (1998) – Manual de Cinesioterapia: técnicas, patologias, indicações, tratamento. São Paulo: Atheneu.

CUNHA, M.C.B. (2001) – Histórico e princípios da Hidroterapia. Revista Fisioterapia Brasil, São Paulo, 2(6), 379-385.

ECKERT, M.J., Martin, M.J. (2017) – Trauma: Lesão da Medula Espinhal. As Clínicas Cirúrgicas da América do Norte, outubro. [PubMed PMID: 28958356].

GREENBERG, D.A., Aminoff, M.J., Simon, R.P. (2014) – Neurologia Clínica. 8ª ed. Porto Alegre: AMGH.

KESIKTAS, N., Paker, N., Erdogan, G., Bicki, D., Yilmaz, H. (2004) – O uso de hidroterapia para o manejo da espasticidade. 18(4), 268–273. https://doi.org/10.1177/1545968304270002. [PubMed] [Google Scholar].

OMAR, J.S., Khasati, A., Quadoumi, A.N., Quadoumi, M., Jarada, T.N. (2019) – Suco de melancia e exercícios aquáticos, seu efeito sinérgico em algumas variáveis de aptidão física e fisiológicas em voluntários masculinos e femininos. Jornal de Pesquisa em Farmácia, 23(3), 387-394.

ROUTI, R.T., Morris, D.M., Cole, A.J. (2000) – Reabilitação Aquática. São Paulo: Manole.

SACCHELLI, T., et al. (2007) – Fisioterapia Aquática – Manuais de Fisioterapia. 1ª ed. Manole, p. 68-137.

SACCHELLI, T., Accacio, L.M.P., Radl, A.L.M. (2007) – Fisioterapia Aquática. São Paulo: Manole, p. 350.

SCHANZER, G.S., Queiroz, S.S. – Fisioterapia Aquática Aplicada à Neurologia.

SKINNER, A.J., Thomson, A.M. (1985) – Exercícios na Água. 3ª ed. São Paulo: Manole. Disponível em: http://fisio-tb.unisul.br/Tccs/03b/fernando/artigofernandopereirazanetti.pdf.

SOMERS, M. (2001) – Spinal Cord Injury – Functional Rehabilitation. 2ª ed. New Jersey: Prentice Hall.

STEIN, R. (2002) – Electrical Stimulation for Therapy and Mobility After Spinal Cord Injury. Prog Brain Res, 137, 27-34.


¹sirleipinheiro@live.com