CONTRAINDICAÇÕES PARA INDUÇÃO FARMACOLÓGICA NO TRABALHO DE PARTO: UMA REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8048391


Ana Cecília Camargos Silva1
Larissa Junia Carvalho de Souza1
Joice Poliane dos Santos Duarte1
Eduardo Nogueira Cortez2


RESUMO. Objetivo: identificar as contraindicações para indução farmacológica no trabalho de parto. Metodologia: revisão narrativa da literatura. Foi realizada uma pesquisa através de artigos usando os bancos de dados da Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde (BVS), para pesquisas nas bases de dados Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Base de dados em enfermagem (BDEnf), bem como de literatura cinzenta, catalogada na base de dados Google Scholar. Resultados: Foram selecionados, dentre as amostras constantes das bases de dados, um total de 09 artigos, os quais foram sistematizados segundo seu delineamento, objetivo e principais resultados, sendo separados em três eixos principais: probabilidade de falha no processo de indução, efeitos colaterais do uso da ocitocina ou misoprostol e percepção negativa das puérperas quanto ao procedimento de indução. Conclusão: O uso de técnicas farmacológicas para a indução do parto é, muitas vezes, necessário, considerando as circunstâncias como o pós termo gestacional ou intercorrências da mãe, como pré-eclâmpsia e, portanto, deve ser realizado com cautela. É fundamental para a equipe considerar os riscos e benefícios envolvidos, devendo-se sopesar as condições de saúde da gestante e do bebê, bem como a avaliação individual de cada caso.

Palavras-chave: Trabalho de Parto Induzido. Papel do profissional de enfermagem. Contra Indicação medicamentosa

ABSTRACT: Objective: to identify contraindications for pharmacological induction of labor. Methodology: narrative review of the literature. A search was carried out through articles using the databases of the Virtual Library of the Ministry of Health (VHL), for searches in the databases Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), and Database in nursing (BDEnf), as well as gray literature, cataloged in the Google Scholar database. Results: A total of 09 articles were selected from among the samples contained in the databases, which were systematized according to their design, objective and main results, being separated into three main axes: probability of failure in the induction process, side effects the use of oxytocin and misoprostol and negative perception of postpartum women regarding the induction procedure. Conclusion: The use of pharmacological techniques for labor induction is often necessary, considering circumstances such as post-term gestation or maternal intercurrences, such as pre-eclampsia, and therefore must be performed with caution. It is fundamental for the team to consider the risks and benefits involved, considering the health conditions of the pregnant woman and the baby, as well as the individual evaluation of each case.

Keywords: Induced Labor. Role of the nursing professional. dDug contraindication

INTRODUÇÃO

O trabalho de parto consiste em uma série de sincronia fisiológica e anatômica do corpo humano feminino para proporcionar ao mundo o nascimento de um novo ser. A décadas a obstetrícia vem se modernizando e conta com recursos para a prática de indução farmacológica no trabalho de parto, que consiste em estimular artificialmente as contrações uterinas coordenadas e efetivas antes de seu início espontâneo, levando ao desencadeamento do trabalho de parto garantindo assim uma maior segurança tanto para a mãe quanto para o filho (BRASIL, 2017). 

De fato, os avanços obstétricos e a melhoria da assistência pré-natal contribuíram para menores taxas nos indicadores de mortalidade e morbidades maternas e perinatais no Brasil, melhorando consideravelmente a saúde pública. As taxas de mortalidade materna em 2009 eram de 77,31 mortes a cada 100.000 nascidos vivos, já em 2020 registrou uma taxa de 71,97 mortes por 100.000 nascidos vivos (BRASIL, 2020).

Entretanto, intervenções para indução do trabalho de parto, que muitas vezes são realizadas no entendimento do obstetra, que podem beneficiar e acelerar este processo, podem colocar em risco a vida do bebê e da mãe, principalmente se não tiver um acompanhamento terapêutico adequado durante essa indução (BRASIL, 2017).

A indução farmacológica não pode ser feita em todos os casos. Análises clínicas e obstétricas da parturiente possibilitam ao corpo clínico dimensões de qual intervenção é necessária. As contraindicações de indução farmacológicas durante o trabalho de parto devem ser respeitadas para essa metodologia de escolha, pois a indução administrada de forma inadequada poderá trazer prejuízos problemas graves tanto para a parturiente quanto para o bebê (BRASIL, 2017).

Quando se aborda o trabalho de parto devemos analisar cuidadosamente essa opção, pois leva-se em consideração fatores fisiológicos e patológicos da gestante e do bebê e essa análise é feita através do índice de Bishop, que consiste em uma avaliação feita através do toque vaginal e a partir de alguns parâmetros, sendo possível pontuar de 0 a 10. Quando esta nota é menor que seis, considera-se o colo como desfavorável e acima deste valor como favorável para a indução do parto.

Para estar na indução do trabalho de parto existe algumas contraindicações absolutas para essa prática, dentre elas, cita-se: placenta prévia, apresentação córmica, desproporção cefalopélvica, herpes genital ativo, prolapso de cordão umbilical, anormalidade na pelve materna, carcinoma invasor do colo e sangramento uterino (BRASIL, 2020).

E há as contraindicações relativas que são como a frequência cardíaca fetal não tranquilizadora, macrossomia fetal, doença cardíaca materna, polidrâmnio e grande multiparidade. Compreendendo as contraindicações de indução farmacológica do trabalho de parto pode-se diminuir os riscos e reduzir as complicações do parto induzido, visando uma melhor qualidade de assistência à parturiente.

Neste sentido, o objetivo deste estudo foi identificar as contra indicações para indução farmacológica no trabalho de parto através de uma revisão narrativa da literatura.

METODOLOGIA 

Este estudo se caracteriza como uma revisão narrativa da literatura, a qual, segundo Sousa e outros (2017), tem como objetivo geral reunir conhecimentos sobre um assunto, de modo a fundamentar um estudo significativo para a enfermagem.

Assim, por meio desse estudo, objetiva-se responder à seguinte questão norteadora: Quais as principais intercorrências e contra indicação para indução farmacológica no trabalho de parto?

De modo a realizar a pesquisa, foram verificados dentre os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) as palavras chave mais adequadas à pesquisa a ser realizada. Assim, foram selecionados os seguintes descritores: “Trabalho de parto induzido” “Efeitos Colaterais e Reações Adversas Relacionados a Medicamentos” e “Contra Indicação Medicamentosa”. 

Além dos descritores mencionados, foram usados os operadores booleanos AND e OR, resultando na seguinte equação de pesquisa: Trabalho de parto induzido AND Efeitos Colaterais e Reações Adversas Relacionados a Medicamentos OR “Contra Indicação Medicamentosa”. 

Para obter os resultados e respostas acerca da problematização apresentada neste trabalho, foi realizada uma pesquisa através de artigos usando os bancos de dados da Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde (BVS), para pesquisas nas bases de dados Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Base de dados em enfermagem (BDEnf), bem como de literatura cinzenta, catalogada na base de dados Google Scholar.

Portanto, foram definidos como critérios de exclusão a data de publicação dos últimos cinco anos. Foi definido como critério de inclusão o idioma português e inglês, eliminados os demais. Foram excluídos também os artigos disponíveis em duplicidade nas bases consultadas.

Após tal triagem, ainda ficaram uma margem grande de bibliografia, sendo necessária nova triagem dos artigos. Assim, os artigos encontrados foram divididos entre os autores, para leitura do título e resumo, de maneira a verificar quais artigos, dentre os pesquisados, possuíam pertinência temática com a discussão a ser realizada no trabalho.

A seleção inicial dos artigos foi realizada com base em seus títulos e resumos e, quando relacionados ao assunto, buscou-se o texto completo. Todos os artigos sobre os métodos, fármacos e contraindicação foram incluídos, não havendo critério de eliminação de algum artigo tendo em vista a necessidade de uma revisão abrangente e de artigos de difícil acesso. Os artigos utilizados nesta pesquisa se restringem somente aos idiomas português e inglês.

A amostra inicial foi de 4.293 artigos, os quais, após aplicação de critérios de inclusão e exclusão, bem como de análise dos títulos, resumos, e posteriormente da íntegra dos artigos, chegou-se a uma amostra de 09 artigos, selecionados para a realização da revisão.

Foi dada prioridade aos artigos mais recentes, por serem mais coerentes com a prática obstétrica atual, além de revisões e consensos de sociedades médicas.

Após a pesquisa nas bases de dados, foi encontrada uma amostra significativa de artigos, especialmente relativos à literatura cinzenta, sendo necessário o estabelecimento de critérios de exclusão, com vistas a seleção de uma base mais confiável de artigos.

Assim, após tal análise, foi obtida uma amostra de 25 artigos, os quais foram lidos na íntegra por todos os integrantes, sendo selecionados, dentre estes, 9 artigos, que compõem a amostra para a presente revisão. 

RESULTADOS

Analisados os artigos, verificou-se que a questão das intercorrências e efeitos colaterais estão associadas a três principais eixos: a probabilidade de falha no processo de indução (três artigos), eventuais efeitos colaterais do uso da ocitocina e misoprostol (três artigos) e a percepção negativa das puérperas quanto ao procedimento de indução, tanto em relação à medicação quanto às técnicas utilizadas, ocasionando a necessidade de intervenção cirúrgica (três artigos)

Como forma de ilustrar o processo de seleção de bibliografia, foi elaborado o seguinte fluxograma:

Figura 1 – Fluxograma de seleção de artigos. Fonte: os autores

Os artigos selecionados, então, foram sistematizados segundo critérios de (1) autor e ano de publicação, (2) Objetivo, (3) delineamento do estudo e (4) principais resultados.  A sistematização foi demonstrada no seguinte quadro sinóptico:

Autor e ano de publicaçãoObjetivoDelineamento do estudoPrincipais resultados
AMANDO et. al., 2020Analisar a compreensão de puérperas sobre o processo de indução do trabalho de parto vivenciado por elas. Pesquisa descritiva exploratória, realizada com 13 puérperas que passaram pela indução do parto em uma maternidade de referência localizada em Petrolina/PernambucoO aumento da dor ocasionada pelo uso de fármacos indutores, tornando a experiência de parto como algo ruim, negativo e, por vezes, desumano. 
ANDRADE et. al., 2022Investigar fatores associados à morbidade materna grave entre mulheres atendidas em maternidades públicas do Município de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Estudo quantitativo, analítico, transversal, realizado com 1.098 puérperas com parto em uma das quatro maternidades públicas do municípioA qualidade da assistência é ponto chave para o enfrentamento da morbimortalidade materna no país
CORRÊA, 2021Determinar os critérios preditores de sucesso no amadurecimento cervical em
indução do parto de fetos vivos com uso do misoprostol em gestantes internadas na
Maternidade Otto Cirne do Hospital das Clínicas da UFMG.
Foram revisados os prontuários de 873 gestantes admitidas para
amadurecimento cervical no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2018
O menor número de toques vaginais,
amniotomia/amniorrexe com líquido claro e menor tempo de indução do parto foram
associados com maior a chance de parto não operatório
CORRÊA et. al., 2022Determinar os critérios preditivos para o sucesso na indução do trabalho de parto para fetos vivos utilizando misoprostol em gestantes.Foram revisados os prontuários de 873 gestantes internadas para amadurecimento cervical entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018 em um estudo descritivo observacional de análise retrospectivaA indução do parto com misoprostol teve uma incidência de cesárea 15% menor em comparação com a taxa geral de cesárea de nosso hospital no período do estudo, com a maioria das pacientes (quase 70%) dando à luz em até 24 horas após o início da indução, usando até 4 doses do comprimido.
DUTRA et. al., 2021Analisar os conhecimentos e as vivências de mulheres submetidas a terapêuticas para a indução do trabalho de parto.Pesquisa descritiva exploratória, com abordagem qualitativa, realizada em um município do interior de Mato Grosso, Brasil,As participantes não possuem conhecimento quanto aos procedimentos realizados por profissionais de saúde no momento parturitivo e não reconhecem as terapêuticas para indução do trabalho de parto, como o uso de fármacos, sendo este método o mais usado para a indução.
PFÜTZEN REUTER et. al., 2019Avaliar os resultados do trabalho de parto induzido e determinar os principais fatores associados à cesariana intraparto após pacientes submetidas a esse procedimentoEstudo transversal retrospectivo que incluiu todas as gestações que resultaram em feto único, com idade gestacional > 22 semanas e que foram submetidas à indução do parto no HU/UFSC no período de 2013 a 2016.Relação da Taxa de insucesso na indução do parto com história prévia de cesárea, presença de fetos com restrição de crescimento intrauterino, e tempos muito curtos ou muito longos de indução.
PONTES et. al, 2021medir a prevalência da utilização de ocitocina no trabalho de parto e parto e identificar os fatores associados.estudo quantitativo, descritivo, transversal, realizado com 344 puérperas, entre janeiro e junho de 2017, por meio da análise dos prontuáriosPresença de amniotomia espontânea e a internação das mulheres na fase ativa do trabalho de parto se apresentaram como fatores de proteção para o uso de ocitocina, evidenciando respeitar o processo fisiológico do parto
SIRE et. al., 2022comparar as modalidades de parto após o uso de dinoprostona ou misoprostol para indução do parto na ruptura prematura de membranas após 35 semanas em mulheres com colo uterino desfavorávelEstudo de coorte retrospectivo, unicêntrico e comparativo em uma maternidade de nível 3 na França de 2009 a 2018A dinoprostona vaginal usada para indução do parto na ruptura prematura de membranas parece ser mais eficaz para o parto vaginal do que o misoprostol vaginal
WEN et. al., 2022Avaliar a eficácia e a segurança da aplicação modificada do COOK Cervical Ripening Balloon (CCRB) para indução do trabalho de parto (LIO) a termo em primíparasEstudo transversal com 227 puérperas A aplicação modificada do CCRB associada a ocitocina pode beneficiar o amadurecimento cervical e encurtar a duração do trabalho de parto

Probabilidade de falha no processo de indução

Quanto ao primeiro eixo, qual seja, a probabilidade de falha no processo de indução, destacam Andrade e outros (2022) que a indução do trabalho de parto, quando realizada adequadamente, é um procedimento de proteção da saúde materna em situações de risco, e que, portanto, a associação entre complicações graves e induzir o parto pode inclusive indicar adequada qualidade da assistência obstétrica. Todavia, o mesmo estudo cita possível associação de morbidade materna grave com o trabalho de parto induzido, mas concluíram em seu estudo a associação entre indução do trabalho de parto e morbidade materna grave pode indicar que a interrupção da gestação em tempo oportuno pode ser essencial para a preservação da saúde materna e/ou fetal. Assim, a possibilidade de intercorrências na indução farmacológica estaria atrelada, de maneira mais direta, à qualidade da assistência.

Ainda, em relação à eficiência da indução, Corrêa (2021) menciona em seu estudo que os métodos farmacológicos no geral, tem a maior probabilidade de levar a efeitos colaterais indesejados quando usados, como hiperestimulação uterina (contrações excessivas do útero) e, como resultado, sofrimento fetal. Por conta disso, os métodos de indução mecânica estão ganhando popularidade por apresentarem potencial para um melhor perfil de segurança em comparação aos métodos farmacológicos, porém, possivelmente, às custas de uma maior duração do trabalho de parto. Esses fatores precisam ser considerados para determinar os métodos mais adequados, dependendo da situação clínica, com impacto na duração do trabalho de parto. Assim, caberia, em cada caso, a avaliação acerca do método com a maior probabilidade de sucesso.

Nesse sentido, Wen e outros (2020) avaliaram a combinação de métodos mecânicos com farmacológicos, como forma de maximização da eficácia da indução e redução de efeitos colaterais. Em resumo, o estudo modificou o procedimento operacional do Balão de Amadurecimento Cervical, ferramenta utilizada com a finalidade de dilatação mecânica do canal cervical, usado em situações em que o colo do útero está desfavorável para a indução do parto, com o uso de ocitocina. O método modificado melhorou significativamente a eficiência clínica, reduziu a sensação de pressão vaginal, melhorou a taxa de parto em 24 horas e reduziu o tempo de internação. Pode melhorar a adesão do paciente e reduzir a taxa de cesariana causada por fatores psicológicos. 

Efeitos colaterais do uso da ocitocina e misoprostol

Acerca da dosagem de ocitocina, também foi observado por Pontes e outros (2021) que o uso de ocitocina em altas doses e sem o controle adequado pode ocasionar alguns efeitos adversos na mulher, como taquissistolia, hiper estimulação, hipertonia uterina e exaustão materna, podendo levar à rotura uterina e, em relação ao feto, ao sofrimento fetal agudo, resultante da taquissistolia/hipertonia, que diminui a perfusão sanguínea placentária. O mesmo estudo avaliou também que o uso da ocitocina é uma intervenção embasada em evidências científicas, considerando-se, assim, a primeira intervenção durante o trabalho de parto, existindo a possibilidade de desencadear o “efeito cascata”, caracterizado por intervenções consecutivas interdependentes. Neste sentido, é importante a avaliação da necessidade da indução, como forma de não geração de complicações posteriores.

O estudo conduzido por Sire e colaboradores (2022) também avaliou a terapia medicamentosa em indução de partos, comparando o uso de ocitocina e misoprostol para indução, comparando também seus efeitos colaterais. Nesse sentido, compararam a ocitocina intravenosa e o misoprostol sublingual (25 µg a cada 4 horas). Os efeitos colaterais devido às contrações uterinas no grupo misoprostol foram taquissistolia (14,2%), hipertonicidade uterina (4,2%) e coração fetal anormal durante taquissistolia ou hipertonicidade uterina (10%). No grupo da ocitocina, esses efeitos colaterais estavam presentes em 5,8%, 4,2% e 8,2% dos casos, respectivamente. Houve diferença estatisticamente significativa (p = 0,023) entre os dois grupos. A taxa de cesariana foi a mesma nos dois grupos. Houve diferença estatisticamente significativa (p = 0,022) entre os dois grupos quanto à indicação de cesariana, com mais cesarianas por frequência cardíaca fetal anormal no grupo misoprostol.

Acerca dos medicamentos, a literatura disponível aponta como mais usados a ocitocina e o misoprostol, sendo que o segundo, de acordo com a avaliação de Corrêa e colaboradores (2022) tem maior possibilidade de sucesso. De acordo com o estudo conduzido pelos autores, a indução do parto com misoprostol teve uma incidência de cesárea 15% menor em comparação com a taxa geral de cesárea de hospital no qual foi conduzida a pesquisa, no período estudado, com a maioria das pacientes (quase 70%) dando à luz em até 24 horas após o início da indução, usando até 4 doses do comprimido.

Percepção negativa das puérperas quanto ao procedimento de indução

A respeito da percepção negativa das puérperas quanto ao procedimento de indução, o estudo de Amando e colaboradores (2020) apontou que o aumento da dor ocasionada pelo uso de fármacos indutores foi percebido pelas puérperas analisadas como um aspecto negativo, tornando a experiência de parto como algo ruim, negativo e, por vezes, desumano. Outra questão levantada pelos autores diz respeito pouca ou nenhuma orientação prévia a respeito de questões envolvidas no processo de indução do parto, como possíveis indicações, benefícios e de como a técnica é realizada. A ausência de comunicação efetiva e escuta ativa da puérpera, neste caso, tem um potencial de complicação, visto que eventuais circunstâncias que poderiam vir a ser contra indicativas para a realização do parto induzido possam ser negligenciadas pela equipe, elevando-se o risco de intercorrências.

Na mesma linha, Dutra e outros (2021) entenderam que embora a indução apresente eficácia, pode gerar agravos, pois altera o processo natural do parto ocasionando alteração na frequência cardíaca fetal, hiper estimulação, ruptura uterina, sangramento e complicações imediatas que podem levar a cesariana de emergência. Além disso, pressupõem-se que as mulheres não possuem conhecimentos sobre a indução do trabalho de parto e não receberam orientações quanto à ação medicamentosa dos fármacos utilizados ou dos procedimentos realizados. Além disso, as vivências de mulheres podem resultar em uma experiência negativa e em danos psicológicos no pós-parto, pela exposição a uma situação indesejada durante o momento parturitivo.

É necessário, também, avaliar, junto à parturiente, a indicação da indução do parto. Segundo Pfützenreuter e outros (2019), recomenda-se como indicação para indução do parto as seguintes condições: corioamnionite, morte fetal, hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e/ou eclâmpsia, ruptura das membranas amnióticas, gravidez ≥ 41 semanas, certas condições maternas (por exemplo, diabetes, doença renal, hipertensão crônica, entre outros) e comprometimento fetal (por exemplo, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), isoimunização e oligodramnia). 

DISCUSSÃO

A indução do parto também pode ser indicada por questões como risco de trabalho de parto prolongado, malformação fetal incompatível com a vida extrauterina, distância do hospital ou questões psicossociais.

Diante da análise realizada, verifica-se que a indução do parto, embora seja considerado um procedimento seguro e indicado em determinadas situações como uma adequada assistência, tem possibilidades de intercorrências e contra indicações, especialmente no caso da indução medicamentosa.

A ocitocina é o método de escolha na maior parte das maternidades, e seu uso pode apresentar alguns efeitos adversos, como: vômito, náuseas, cefaleia, intoxicação hídrica. Então, quando ocorre na prática uma administração de doses elevadas e o não controle do que está sendo administrado, a hiper estimulação uterina é um dos problemas que pode surgir e consequentemente acontecer do bebê entrar em sofrimento. Assim, a questão relativa à dosagem deve ser observada na administração desse medicamento (SANTOS et al., 2019).

E de acordo com Souza, Amorim e Noronha Neto (2010) em sua revisão de literatura descrevem que, dentre os fármacos utilizados para indução, há evidências suficientes para se recomendar o uso de estrogênio, propranolol, relaxina, mefepristone e hialuronidase, de forma que a utilização de tais substâncias deve, atualmente, limitar-se a protocolos de pesquisa, enquanto que a ocitocina constitui um método cuja efetividade foi documentada em pacientes com ruptura das membranas, porém as evidências são insuficientes para a sua utilização em outros grupos de pacientes. Os autores mencionam também que tanto prostaglandinas como misoprostol têm efetividade comprovada na indução do parto, recomendando-se a administração por via vaginal. Não existem diferenças significativas entre ambas as drogas quanto ao perfil de efetividade e segurança, porém o misoprostol é habitualmente preferido em decorrência de questões práticas, como menor custo, facilidade de estocagem e de administração. 

Dentre as principais intercorrências estão vômito, náuseas, cefaléia, intoxicação hídrica, hiperestimulação uterina, sofrimento fetal, necessidade de outras intervenções medicamentosas ou cirúrgicas ou mesmo a morbidade materna. Essa questão também foi avaliada no estudo conduzido por Scapin e colaboradores (2018), mencionando que as intercorrências observadas podem estar relacionadas às intercorrências clínicas maternas ou à idade gestacional, avaliando também que uso do Misoprostol, associado ou não à Ocitocina, garantiu maior taxa de parto vaginal.

Destaca-se que os estudos analisados dão conta que tais questões também podem ser minimizadas, devendo ser observadas questões como dosagem, qualidade da assistência e participação e informação da puérpera no processo de escolha quanto à realização da indução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A humanização do parto é um tema de extrema importância na área da saúde, especialmente no campo da obstetrícia. A busca por um parto mais respeitoso e centrado na mulher tem ganhado destaque nos últimos anos. A humanização do parto visa proporcionar à gestante um ambiente acolhedor, respeitando suas escolhas, oferecendo suporte emocional e físico durante todo o processo. A presença da enfermagem obstétrica nesse contexto é fundamental, pois esses profissionais são capacitados para oferecer cuidados especializados, promovendo a segurança da mãe e do bebê. Além disso, a utilização de técnicas farmacológicas para a indução do parto deve ser feita com critério, respeitando a individualidade da gestante e evitando intervenções desnecessárias.

O acompanhamento do parto pela enfermagem obstétrica desempenha um papel essencial na humanização desse momento tão especial na vida de uma mulher. Esses profissionais têm a capacidade de estabelecer uma relação empática com a gestante, proporcionando um suporte emocional que contribui para a redução da ansiedade e do medo durante o trabalho de parto. Além disso, a presença da enfermaria obstétrica permite um monitoramento contínuo da mãe e do bebê, identificando precocemente qualquer sinal de complicações e agindo prontamente para garantir a segurança de ambos.

O uso de técnicas farmacológicas para a indução do parto é, muitas vezes, necessário, considerando as circunstâncias como o pós termo gestacional ou intercorrências da mãe, como pré-eclâmpsia e, portanto, deve ser realizado com cautela. É fundamental para a equipe considerar os riscos e benefícios envolvidos, devendo-se sopesar as condições de saúde da gestante e do bebê, bem como a avaliação individual de cada caso. A humanização do parto não significa eliminar completamente o uso de técnicas farmacológicas, mas sim utilizá-las de forma criteriosa, respeitando a autonomia da mulher e buscando sempre o melhor desfecho para mãe e filho.

Em conclusão, a humanização do parto, o acompanhamento do parto pela enfermagem obstétrica e o uso de técnicas farmacológicas para a indução do parto são temas interligados e de extrema relevância. A busca por um parto mais humanizado envolve a valorização da mulher e o respeito às suas escolhas, aliado ao suporte emocional e físico oferecido pela equipe de enfermagem obstétrica. O uso de técnicas farmacológicas deve ser realizado de forma criteriosa, considerando os riscos e benefícios, sempre priorizando a segurança da mãe e do bebê. A integração desses elementos contribui para um parto mais respeitoso, seguro e satisfatório para todas as envolvidas nesse momento tão especial.

Ao final, os resultados encontrados permitiram verificar os aspectos mais relevantes no tocante a verificar na literatura disponível os aspectos mais relevantes sobre a indução farmacológica, bem como os casos de contraindicação ou mesmo os principais efeitos adversos que devem ser considerados na decisão de se promover a indução farmacológica do parto.

A limitação do presente estudo se dá em virtude dos poucos estudos observacionais existentes sobre o tema, o que tem o potencial de causar, em determinadas situações, um dissenso sobre o tema. Dessa forma, considerando-se a importância do tema e a necessidade de proporcionar desfechos maternos e neonatais mais favoráveis, levanta-se a necessidade de maior produção científica sobre essa questão.

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1 Acadêmicas do Centro Universitário UNA de Bom Despacho
2 Professor do Centro Universitário UNA de Bom Despacho