CONTRA O SILENCIAMENTO: REVISANDO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA A PARTIR DAS FILÓSOFAS INVISÍVEIS

AGAINST SILENCE: REVIEWING THE HISTORY OF PHILOSOPHY FROM THE POINT OF VIEW OF INVISIBLE WOMEN PHILOSOPHERS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501061530


Zilmar Melo Pereira1
João Pedro Vieira Marques2
Matheus Lucas Oliveira da Silva3


Resumo:

O referido trabalho, intitulado “Contra o Silenciamento: Revisitando a História da Filosofia a Partir das Filósofas Invisíveis”, investiga a invisibilidade das filósofas ao longo da história e suas implicações para o conhecimento filosófico. A pesquisa ora apresentada enfatiza a importância de inclusão, representatividade e justiça histórica, apontando como a falta de reconhecimento dessas pensadoras resulta em uma perda significativa de perspectivas que poderiam enriquecer o debate filosófico contemporâneo. Os objetivos incluem a análise dos mecanismos institucionais que perpetuaram essa invisibilidade, a exploração das contribuições das filósofas em questões de ética, epistemologia e política, e a avaliação da presença delas nos currículos acadêmicos e nas escolas de ensino médio. A metodologia combina análise bibliográfica de quatro autoras negligenciadas, buscando captar diferentes percepções sobre a problemática apresentada. Os resultados esperados visam não apenas destacar a relevância das vozes femininas, mas também promover uma reflexão crítica sobre a história da filosofia e a necessidade de reformulação do cânone. Este estudo oferece uma oportunidade de revisão das narrativas tradicionais, defendendo uma filosofia mais inclusiva que valorize a pluralidade de pensamentos a experiências femininas.

Palavras-chave: Invisibilidade, Silenciamento, Pensadoras, Filosofia Inclusiva.

Abstract:

The referred work, titled “Against Silencing: Revisiting the History of Philosophy from the Perspective of Invisible Female Philosophers,” investigates the invisibility of female philosophers throughout history and its implications for philosophical knowledge. The presented research emphasizes the importance of inclusion, representation, and historical justice, highlighting how the lack of recognition of these thinkers results in a significant loss of perspectives that could enrich contemporary philosophical debate. The objectives include analyzing the institutional mechanisms that perpetuated this invisibility, exploring the contributions of female philosophers in ethics, epistemology and politics, and evaluating their presence in academic curricula and high school education. The methodology combines bibliographic analysis of four neglected authors, aiming to capture different perceptions of the presented issue. The expected results aim not only to highlight the relevance of female voices but also to promote a critical reflection on the history of philosophy and the need to reformulate the canon. This study offers an opportunity to review traditional narratives, advocating for a more inclusive philosophy that values the plurality of female thoughts and   experiences.

Keywords: Invisibility. Silencing. Female ľhinkeís. Inclusive Philosophy.

1.  INTRODUÇÃO

A história da filosofia tem sido tradicionalmente centrada em figuras masculinas como Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Maquiavel, Descartes, Hume, Hobbes, Locke, Rousseau, Marx, Sartre etc. O que consolidou uma perspectiva predominantemente ocidental e masculina. Essa hegemonia, segundo Ferreira (2008), levou à invisibilidade das mulheres filósofas, um fenômeno de marginalização histórico e institucional também observado nas ciências (PACHECO, 2015; FERRAND, 1994). Simone de Beauvoir (2016) argumenta que as mulheres foram relegadas ao papel de “Outro”, sempre em posição subordinada aos homens. O silenciamento feminino, conforme Tiburi (2007), não decorre apenas de sua ausência física, mas da omissão deliberada de suas contribuições nas narrativas históricas e nos currículos acadêmicos e escolares. Esse processo, como apontam Castro (2017) e Rocha (2014), reflete a dominação masculina no campo do saber, limitando a diversidade de perspectivas e empobrecendo o debate filosófico.

Este trabalho examina o impacto do silenciamento das filósofas no desenvolvimento da filosofia de forma geral como também na produção filosófica brasileira, identificando autoras e obras negligenciadas. Além disso, investiga como o silenciamento institucional afetou a recepção e preservação de suas contribuições, destacando sua ausência nos currículos escolares e publicações acadêmicas. O objetivo é reintegrar essas pensadoras ao cânone filosófico e promover uma visão mais inclusiva da filosofia.

2.  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao longo da história da filosofia, várias pensadoras se destacaram por suas contribuições inovadoras e impactantes. No século V, Hipátia de Alexandria emergiu como uma figura relevante em um contexto predominantemente masculino. Conhecida por suas habilidades excepcionais em matemática, astronomia e filosofia, Hipátia não apenas preservou o saber antigo, mas também o expandiu, desafiando a hegemonia masculina de sua época (WELTER et al., 2024). No século XVII, Margaret Cavendish questionou paradigmas filosóficos e científicos estabelecidos, oferecendo críticas ao mecanicismo e abrindo novas possibilidades para a reflexão filosófica e científica, tornando-se uma voz vital para contrapor as ideias dominantes da época (WELTER et al., 2024).

No século XX, Simone de Beauvoir e Hannah Arendt se destacaram por suas análises profundas sobre liberdade, política e a condição feminina. A obra de Beauvoir, “O Segundo Sexo”, não só revelou a opressão das mulheres, mas também foi fundamental para o desenvolvimento do feminismo contemporâneo (WELTER et al., 2024). Essas filósofas mostram como a contribuição feminina tem enriquecido a filosofia e desafiado as normas estabelecidas ao longo dos séculos.

Mecanismos institucionais têm historicamente silenciado e excluído as contribuições das filósofas, refletindo uma estrutura predominantemente masculina no campo filosófico. Desde a Antiguidade, a presença feminina foi marginalizada, com o sistema acadêmico consolidando uma visão masculina do conhecimento filosófico. A resistência da filosofia ao estudo das produções filosóficas feitas por mulheres é resultado dessa exclusão, que persiste mesmo nas práticas acadêmicas contemporâneas (ANDRADE; GONTIJO, 2020, p. 258). Tal fenômeno não é causado pela ausência de filósofas, mas sim pelo silenciamento e ocultação de suas obras, como destacado por Pacheco (2015). A exclusão se manifesta não só pela ausência de mulheres em textos e currículos, mas também pela marginalização de suas contribuições no campo filosófico, perpetuando uma narrativa masculina dominante sobre a filosofia (ANDRADE; GONTIJO, 2020, p. 258).

Essa narrativa estabelecida é repetidamente reproduzida na academia, criando um ambiente que ignora a participação feminina, minimizando ou esquecendo suas ideias e perspectivas (ANDRADE; GONTIJO, 2020, p. 258). O padrão de exclusão e silenciamento resulta em uma visão distorcida e incompleta da filosofia, que desconsidera a riqueza do pensamento feminino ao longo da história. Esse cenário não só limita a pluralidade de perspectivas, mas também empobrece o debate filosófico ao negligenciar contribuições que poderiam ampliar o campo.

No contexto brasileiro, a exclusão das mulheres da filosofia segue as práticas históricas de marginalização. Mulheres que ingressam em cursos de filosofia frequentemente encontram um ambiente acadêmico que lhes é hostil, com uma tradição que negligencia suas contribuições (MENEZES, 2002, p. 13). Essa ausência de reconhecimento reforça a visão de que a filosofia é um campo predominantemente masculino. A filosofia feminista, nesse sentido, surge como uma resposta a essa exclusão, integrando as demandas do movimento feminista e buscando redefinir o campo filosófico de maneira mais inclusiva (BORGES; TIBURI; CASTRO, 2023, p. 10).

Filósofas como Aspásia de Mileto, conhecida por sua influência em debates filosóficos de sua época, são frequentemente esquecidas na educação filosófica (BLOEDOW apud WAITHE, 1987, p. 78). A falta de representação nos currículos não só limita a diversidade de perspectivas, mas também reforça a ideia de que a filosofia é um campo exclusivamente masculino. Christine de Pizan, que desafiou construções culturais e sociais sobre o gênero, é outro exemplo de como as contribuições femininas foram minimizadas ao longo da história (LEAL, 1999). A ausência de tais pensadoras nos currículos impede uma compreensão mais completa e plural da filosofia, limitando a capacidade de captar a profundidade e a diversidade do pensamento filosófico.

2.1  – Contribuições filosóficas em diversos contextos culturais.

Diante das pesquisas realizadas queremos sugerir quatro pensadoras que possuem contribuições filosóficas importantes a serem inseridas nos currículos escolares ou de universidades. São elas: Hipátia de Alexandria (355-415), Beatriz de Nazaré (1200-1268), Edith Stein (1891-1942) e Djamila Ribeiro. Hipátia de Alexandria contribuiu significativamente ao pensamento filosófico, abordando temas éticos e políticos em seu ensino. Defendeu uma vida baseada na virtude e na racionalidade, propondo o diálogo como ferramenta central para a vida política. Ela afirmava que “o filósofo deve guiar a sociedade pela razão” e que “a busca pela verdade transcende interesses políticos” ou seu ecletismo, unificou filosofia e ação pública. Beatriz de Nazaré (1200-1268) ofereceu uma visão singular sobre ética e política, fundamentada no amor divino como força ética central. Seus “sete modos do amor” revelam como o amor transforma o indivíduo, promovendo uma vida moralmente elevada. Ela afirmava que “o amor deve ser total e irrestrito”, sendo a base da prática ética. Beatriz também destacou que “o amor divino une a comunidade”, sugerindo implicações políticas de coesão social e solidariedade. As contribuições filosóficas de Edith Stein para a ética concentram-se na empatia, que ela descreve como um meio essencial para compreender as experiências dos outros. A abordagem fenomenológica de Stein vê a empatia como um caminho para o cuidado ético, no qual uma pessoa percebe as emoções e as vivências de outra. Politicamente, essa empatia leva a um chamado à responsabilidade para com os outros, transcendendo preocupações individuais para promover o bem-estar coletivo. Por meio de sua obra, Stein defende uma postura ética profundamente conectada ao reconhecimento da dignidade inerente a todos os indivíduos. Edith Stein morreu, em agosto de 1942, juntamente com a sua irmã Rosa nas câmaras de gás de Auschwitz. A filósofa Djamila Ribeiro (nasceu em 1980), em O que é: lugar de fala?, aborda a relação entre poder e estrutura social, afirmando que “a localização de poder se encontra em uma estrutura social de poder” (RIBEIRO, 2019, p. 13). Ela evidencia a importância de reconhecer como certos grupos, historicamente marginalizados, foram silenciados e privados de espaço discursivo. Ribeiro também destaca que “compreender o lugar de fala é entender que existe uma hierarquia de poder na qual a perspectiva de determinados grupos se sobressai” (RIBEIRO, 2019, p. 27). Sua obra contribui para uma reflexão crítica sobre justiça social.

3.  METODOLOGIA

A pesquisa apresentada, baseia-se em uma abordagem qualitativa. A análise bibliográfica será centrada em quatro autoras que foram invisibilizadas na história da filosofia, abrangendo diferentes períodos históricos: Idade Antiga, Idade Medieval, Idade Moderna e Idade Contemporânea. A escolha dessas autoras se justifica pelo objetivo de explorar como as suas contribuições foram impactadas pelo silenciamento institucional ao longo dos séculos, bem como identificar as formas pelas quais suas obras abordaram questões de ética, epistemologia e política. A análise será realizada com base em textos filosóficos primários, como também, livros paradidáticos, além de estudos secundários que contextualizam essas pensadoras e seus trabalhos dentro do desenvolvimento da filosofia global e brasileira.

A análise bibliográfica seguirá o critério de seleção de representatividade, envolvendo diferentes instituições de ensino, com o intuito de captar suas percepções acerca da invisibilidade das filósofas e o impacto do silenciamento institucional no currículo escolar e nas publicações acadêmicas. Assim, buscaremos identificar padrões de percepção sobre o silenciamento das filósofas, bem como interpreta-lo à luz da revisão histórica da filosofia, confrontando as informações obtidas nas bibliografias analisadas.

Por fim, os resultados da análise bibliográfica serão objeto de estudo, buscando fornecer uma visão abrangente sobre a invisibilidade das filósofas no contexto histórico e atual da filosofia. A comparação entre os diferentes períodos históricos e as percepções contemporâneas que contribuirá para uma reflexão crítica sobre a inclusão das filósofas nos currículos acadêmicos, no cânone filosófico em instituições cearenses. Ao confrontar as ideias políticas de Djamila Ribeiro e Martin Heidegger, nota-se um abismo nas concepções de opressão e justiça. Ribeiro (2017), influenciada por Luiza Bairros, argumenta que a opressão não se acumula, mas que as mulheres negras vivem a opressão de uma posição diferente das mulheres brancas, desafiando a universalização da experiência feminina. Heidegger, por outro lado, justificou seu apoio ao nacional-socialismo em 1933 como uma tentativa de “renovação espiritual” e reconciliação social (TERTULIAN, 2008), sem reconhecer as estruturas de poder racial e de gênero que sustentavam tal regime opressor, o que contrasta fortemente com o feminismo interseccional de Ribeiro.

4.  DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADO
Impactos do silenciamento.

O silenciamento das vozes femininas ao longo da história da filosofia não é apenas uma questão de injustiça social; suas consequências reverberam profundamente no desenvolvimento do pensamento filosófico. Esse apagamento resulta em uma filosofia que carece de diversidade e pluralidade de perspectivas, limitando a riqueza do debate intelectual e a complexidade das questões abordadas. Filósofas como Simone de Beauvoir, Hannah Arendt, Hipátia de Alexandria, Beatriz de Nazaré, Edith Stein e Djamila Ribeiro, cujas contribuições foram historicamente minimizadas ou ignoradas, apresentaram reflexões cruciais sobre ética, política e condição humana, que poderiam ter enriquecido o discurso filosófico se fossem reconhecidas e integradas ao cânone.

Além disso, a exclusão das mulheres do campo filosófico perpetua estereótipos de gênero que deslegitimam a capacidade das mulheres de contribuir para o saber. A falta de modelos femininos na filosofia não apenas desincentiva a participação de novas gerações de mulheres, mas também reforça a ideia de que o espaço da filosofia é predominantemente masculino. Como resultado, o pensamento filosófico torna-se monolítico, e questões essenciais relacionadas à experiência feminina e à interseccionalidade são frequentemente deixadas de fora do debate.

As consequências do silenciamento também se estendem ao ensino da filosofia. Nos currículos tradicionais escolares, a ausência de filósofas contribui para a formação de estudantes que possuem uma visão distorcida da história do pensamento, no qual apenas as vozes masculinas são valorizadas. Isso pode gerar um ciclo de exclusão e invisibilidade, em que as contribuições das mulheres são vistas como periféricas ou irrelevantes.

A inclusão de filósofas como Hipátia de Alexandria, Beatriz de Nazaré, Edith Stein e Djamila Ribeiro, como de muitas outras nos currículos de filosofia pode transformar significativamente o ensino, ao promover uma maior pluralidade de perspectivas. Tal reformulação contribuiu para uma educação mais crítica e diversa, que desafia o domínio eurocêntrico e masculino no campo filosófico. Como observa Pacheco (2020), “a revisão curricular é uma etapa crucial na descolonização do pensamento”. Ao incluir essas pensadoras, “fomenta-se um ambiente de ensino mais inclusivo e reflexivo, capaz de dialogar com diferentes tradições de pensamento” (Barbosa, 2019).

Portanto, a discussão sobre a inclusão das filósofas deve ser uma prioridade na formação de futuros pensadores, visando não apenas a justiça histórica, mas também um enriquecimento da própria disciplina.

A reavaliação do Cânone Filosófico.

A necessidade de reavaliar o pensamento filosófico é imperativa para a construção de uma filosofia que reflita a diversidade da experiência humana. As obras de Juliana Pacheco e Fernanda Barbosa enfatizam a importância de incluir vozes femininas na narrativa filosófica, argumentando que a legitimação de um espaço para as filósofas é essencial para o reconhecimento de suas contribuições significativas. Essa revisão crítica não apenas expõe as injustiças históricas que perpetuaram o silenciamento, mas também permite que novas ideias e abordagens surjam.

Uma análise do livro “Filósofas: a presença das mulheres na filosofia” de Pacheco revela como as filósofas contribuíram de maneira única em áreas como ética, epistemologia e filosofia política, frequentemente trazendo uma perspectiva que questiona normas estabelecidas e promove uma reflexão mais inclusiva. A inclusão de filósofas em currículos e publicações acadêmicas desafia as narrativas dominantes e propõe uma reconfiguração do espaço filosófico que abraça a pluralidade de vozes.

A reavaliação do cânone deve ser acompanhada por um exame crítico dos mecanismos institucionais que historicamente marginalizaram as mulheres na filosofia. As estruturas acadêmicas, que muitas vezes são rigidamente hierárquicas e excludentes, precisam ser repensadas para promover um ambiente mais acolhedor e inclusivo para todas as vozes. Isso inclui não apenas a inclusão de filósofas nos currículos, mas também o reconhecimento e a valorização de suas contribuições em publicações, conferências e outras plataformas acadêmicas.

Contribuições para o futuro.

A inclusão de filósofas e a reavaliação do lócus filosófico não são apenas uma questão de justiça histórica; também são essenciais para moldar o futuro da filosofia. Ao reconhecer e legitimar as contribuições de pensadoras ao longo da história, abre-se um espaço para uma discussão filosófica mais rica e complexa, que considera uma variedade de perspectivas e experiências.

Esse movimento de inclusão pode ter um impacto profundo no ensino da filosofia, tanto no Brasil quanto globalmente. Ao diversificar os conteúdos abordados nas aulas, estudantes são expostos a uma gama mais ampla de ideias e conceitos, permitindo um desenvolvimento crítico mais abrangente. Isso não apenas estimula a criatividade e a inovação no pensamento filosófico, mas também promove um ambiente mais inclusivo que valoriza a diversidade.

A presença de filósofas na filosofia contemporânea, como ilustrado nas obras de Pacheco e Barbosa, sugere que a inclusão dessas vozes pode trazer novas questões e debates que são urgentemente necessários em um mundo cada vez mais complexo. Por exemplo, as interseções entre gênero, raça e classe, que muitas vezes são negligenciadas na filosofia tradicional, podem ser exploradas de maneira mais profunda, oferecendo soluções mais abrangentes para os desafios sociais atuais.

Além disso, essa inclusão pode inspirar novas gerações de estudantes e pensadores a se engajarem com a filosofia de uma maneira mais crítica e reflexiva, contribuindo para um futuro onde a filosofia não seja vista como uma disciplina elitista e excludente, mas como um espaço aberto e acessível a todos. Ao incorporar as vozes das filósofas, pode-se aspirar a uma disciplina que verdadeiramente reflita a complexidade e a diversidade da experiência humana

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa, intitulada “Contra o Silenciamento: Revisitando a História da Filosofia a Partir das Filósofas Invisíveis”, buscou destacar a relevância das vozes femininas na construção do conhecimento filosófico e os impactos do silenciamento institucional que têm perpetuado sua invisibilidade. A análise das interseções entre o silenciamento das filósofas e o desenvolvimento da filosofia brasileira revela não apenas uma lacuna no conhecimento, mas também uma oportunidade de reconfiguração do campo filosófico.

Ao identificar autoras e obras negligenciadas, esta investigação propõe uma reflexão crítica sobre os mecanismos que têm historicamente marginalizado as mulheres na filosofia. A inclusão de filósofas no cânone não é apenas uma questão de justiça histórica, mas uma necessidade para enriquecer o debate intelectual e ampliar as perspectivas que informam nossas discussões contemporâneas.

Em um momento em que as questões de equidade de gênero e representatividade se tornam cada vez mais prementes, é fundamental que a filosofia adote uma abordagem inclusiva, reconhecendo a pluralidade de vozes que compõem seu tecido. Esta pesquisa não só contribui para a revisão crítica da história da filosofia, mas também serve como um convite à comunidade escolar para repensar as narrativas tradicionais e abrir espaço para uma filosofia que realmente reflita a diversidade da experiência humana.

A revisão do cânone filosófico e a inclusão de vozes femininas como Hipátia de Alexandria, Beatriz de Nazaré, Edith Stein e Djamila Ribeiro no ensino médio e acadêmico podem ampliar o horizonte crítico dos estudantes, promovendo uma filosofia mais plural e inclusiva. Como afirma Pacheco (2020), “a invisibilização das filósofas impede o reconhecimento de suas contribuições fundamentais”. Ao integrar essas pensadoras, “abre-se espaço para que novas gerações questionem as estruturas de poder que moldaram a história do pensamento” (Barbosa, 2019), incentivando uma abordagem crítica e reflexiva sobre temas contemporâneos, como justiça social e igualdade de gênero.

Em última análise, ao desafiar o silenciamento das filósofas e promover suas contribuições, podemos avançar em direção a uma prática filosófica mais equitativa e representativa, que não apenas reconheça, mas celebre a riqueza do pensamento feminino na construção do saber.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Fernanda. Mulheres e filosofias: a legitimação de um lugar de fala. Erechim, RS: Universidade Federal da Fronteira Sul, 2023. 56 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Licenciatura em Filosofia.

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PACHECO, Juliana. Filósofas: a presença das mulheres na filosofia. Porto Alegre, RS: EditoraFi, 2016.

RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. São Paulo: Editora Unesp, 2007.

RODRIGUES, Dagmar. Qual o lugar da mulher na história da filosofia e na filosofia do ensino básico?. In: Cadernos de Filosofia e Educação, v. 3, n. 1, p. 45-62, 2020.


1 Pós-graduação em Ensino de Filosofia pela Ucamprominas. Professor efetivo da rede estadual do Ceará, leciona Filosofia na EEEP Manoel Mano do Estado do Ceará.

2 2º ano do Curso de Comércio na EEEP. Manoel Mano.

3 2º ano do Curso de Comércio na EEEP. Manoel Mano.