CONTINUIDADE DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DOMICILIAR: PERCEPÇÃO DE CUIDADORES DE CRIANÇAS COM DOENÇAS NEUROLÓGICAS EM PORTO VELHO – RO.

CONTINUITY OF HOME PHYSICAL THERAPY TREATMENT: PERCEPTION OF CAREGIVERS OF CHILDREN WITH NEUROLOGICAL DISEASES IN PORTO VELHO – RO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11661304


Ester Fróz da Silva1, Rafaele Viana Francelino Maciel1, Simone Ramos Arruda Silva1, Orientadora: Profª Me. Fabiana Silva de Souza2


RESUMO

As alterações neurológicas provocadas por alguma doença requerem cuidados especiais, que para os pais – na maioria das vezes os principais cuidadores – podem influenciar na carga emocional, física e econômica, o que pode ser substancial para afetar a sua qualidade de vida. O cuidador é fundamental para o sucesso da recuperação das crianças portadoras de disfunções neurológicas e, muitas vezes, é colocado em segundo plano durante o tratamento. As orientações fisioterapêuticas para os cuidadores de crianças com distúrbios neurológicos são um importante recurso para o programa de reabilitação, resultando em melhores resultados terapêuticos para a criança OBJETIVOS: Compreender a percepção dos cuidadores de crianças atípicas que realizam tratamento fisioterapêutico na cidade de Porto Velho. METODOLOGIA: A presente pesquisa foi realizada com cuidadores de crianças que apresentam condições neurológicas residentes da cidade de Porto Velho – RO. Através de um questionário on-line. RESULTADOS: Participaram da pesquisa 32 cuidadores de crianças que responderam ao questionário eletrônico a respeito da sua percepção. Obtivemos com este uma apresentação da percepção do conhecimento dos cuidadores a respeito da patologia e manejo da criança, além de compreender o contexto social na qual o cuidador e a criança então inseridos. CONCLUSÕES: Com base na análise dos dados, foi possível confirmar que os objetivos iniciais do estudo foram alcançados. A pesquisa demonstrou que a integração dos cuidadores no processo terapêutico e a oferta de suporte adequado contribuem significativamente para a melhora no tratamento das crianças com condições neurológicas.

Palavras-chave: Crianças, Cuidadores, Fisioterapia.

ABSTRACT

Neurological changes caused by a disease require special care, which for parents – most of the time the main caregivers – can influence the emotional, physical and economic burden, which can be substantial in affecting their quality of life. The caregiver is fundamental to the successful recovery of children with neurological disorders and is often placed in the background during treatment. Physiotherapeutic guidelines for caregivers of children with neurological disorders are an important resource for the rehabilitation program, resulting in better therapeutic results for the child.OBJECTIVES: Understand the perception of caregivers of atypical children who undergo physiotherapeutic treatment in the city of Porto Velho.METHODS: This research was carried out with caregivers of children with neurological conditions living in the city of Porto Velho – RO. Through an online questionnaire.RESULTS: Thirty caregivers of children participated in the research and responded to the electronic questionnaire regarding their perception. With this, we obtained a presentation of the caregivers’ perception of knowledge regarding the child’s pathology and management, in addition to understanding the social context in which the caregiver and the child are inserted. CONCLUSIONS: Based on data analysis, it was possible to confirm that the initial objectives of the study were achieved. Research has shown that integrating caregivers into the therapeutic process and offering adequate support contributes significantly to improving the treatment of children with neurological conditions.

KEYWORDS: Children, Caregivers, Physiotherapy

INTRODUÇÃO

Distúrbios neurológicos são doenças que afetam o sistema nervoso central e periférico devido a fatores genéticos, congênitos ou ambientais. Esses distúrbios neurológicos são responsáveis por 6,3% da morbidade e 12% das mortes em todo o mundo. Dentre os principais grupos de doenças nervosas, podem-se citar as doenças vasculares, doenças desmielinizantes, doenças infecciosas, tumores do sistema nervoso central ou periférico; lesões na cabeça ou na coluna; doenças inflamatórias; transtornos do desenvolvimento e doenças degenerativas. Na infância, as condições neurológicas recorrentes correspondem à paralisia cerebral (PC), doenças neuromusculares e lesões cerebrais (DA CONCEIÇÃO et al., 2021).

Segundo Formiga, Pedrazzani e Tudella (2010), quando uma criança nasce com algum comprometimento neurológico, há um impacto na vida dos pais, devido à preocupação em relação ao futuro dessa criança. As alterações neurológicas provocadas por alguma doença requerem cuidados especiais, que para os pais – na maioria das vezes os principais cuidadores – podem influenciar na carga emocional, física e econômica, o que pode ser substancial para afetar a sua qualidade de vida (RAIANA et al., 2005; MARQUES, DIXE, 2011).

O cuidador é fundamental para o sucesso da recuperação das crianças portadoras de disfunções neurológicas e, muitas vezes, é colocado em segundo plano durante o tratamento. É ele quem permanece a maior parte do tempo em torno do paciente, zela por suas necessidades básicas em período integral (higiene, alimentação, movimentação), além de ser o principal responsável pelo suporte emocional e afetivo do paciente. Desse personagem, geralmente mãe, pai, irmão (a) ou avô (ó), são exigidas abnegações que podem implicar em abrir mão do trabalho, estudo e projetos pessoais para prestação integral de assistência à criança (SIMÕES et al., 2013).

Assim, o contato fisioterapeuta-paciente-família é essencial para um melhor prognóstico da criança e melhoria na qualidade de vida de seus familiares/cuidadores. Isso é possível através de interação satisfatória do profissional com a criança e a família.

Essa relação é também importante para otimizar o tratamento domiciliar pelos cuidadores, pois, muitas vezes, eles devem continuar a fisioterapia em casa, e para isso, o cuidador precisa conhecer detalhadamente o tratamento e sua função no quadro evolutivo da criança (ALLEGRETTI et al., 2001).

O manejo terapêutico do paciente neuropediatria envolve o trabalho de uma equipe multidisciplinar composta por médicos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e fisioterapeutas. O tratamento fisioterapêutico desses pacientes, baseado em estratégias terapêuticas específicas e orientações aos cuidadores, visa assegurar o domínio das habilidades motoras, prevenir deformidades e promover a participação da criança no ambiente comunitário e familiar (DO VALE et al., 2018).

As orientações fisioterapêuticas para cuidadores de crianças com distúrbios neurológicos são um importante recurso para o programa de reabilitação, pois quando os cuidadores compreendem o quadro clínico da criança, a importância da abordagem do fisioterapeuta e a importância da realização de exercícios em casa, a participação no tratamento é maior, contribuindo para melhores resultados terapêuticos para a criança (PAMPLONA et al., 2019).

A presente pesquisa teve como meta: aplicar um questionário aos cuidadores de crianças com condições neurológicas que realizam tratamento fisioterapêutico na cidade de Porto Velho – RO, com idade entre 3 meses a 13 anos que estão em tratamento fisioterapêutico; avaliar dados acerca do conhecimento dos cuidadores sobre a continuidade do tratamento fisioterapêutico domiciliar.

METODOLOGIA

Esta pesquisa caracterizou-se como um estudo transversal,  qualitativo, quantitativo e descritivo. A mostra foi construída por 32 cuidadores de crianças com condições neurológicas na cidade de Porto Velho-RO.

Os cuidadores responderam um questionário composto por perguntas de múltipla escolha e três questões abertas, de forma voluntária, onde inicialmente incluía o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e após leitura e compreensão dava-se início as perguntas do questionário relacionadas à pesquisa. A coleta ocorreu no período entre 11/12/2023 à 20/02/2024 pelo acesso ao link disponibilizado na plataforma on-line (Google forms). O link foi encaminhado para cuidadores que residem com crianças com condições neurológicas, onde somente os cuidadores primários poderiam responder ao questionário. Esse estudo seguiu a Resolução CNS 466/2012, que regulamenta a pesquisa com seres humanos, assegurando os direitos e deveres do participante da pesquisa.

Os cuidadores de crianças com condições neurológicas foram selecionados de acordo com critérios de inclusão e exclusão, devendo a criança estar na faixa etária de 3 meses à 13 anos e que possui condições neurológicas. Desta forma, os dados foram coletados através de um questionário on-line, contendo perguntas que nos possibilitaram avaliar a percepção dos cuidadores de crianças com condições neurológicas que realizam tratamento fisioterapêutico na cidade de Porto Velho/RO.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram da pesquisa 32 cuidadores de crianças com condições neurológicas residentes na cidade de Porto velho-RO que responderam a um questionário on-line disponibilizado através de link gerado pela plataforma Google forms.

A seguir, os dados obtidos com os questionários serão descritos e apresentados em forma de gráficos para melhor compreensão e análise destes. O questionário online, contendo 34 perguntas relacionadas a percepção dos cuidadores de crianças com condições neurológicas, sobre a importância da continuidade da fisioterapia em casa.

O gráfico (Figura 1) abaixo nos mostra que o grau de parentesco na sua maior parte é constituído pelas mães, 92,6%. O restante é constituído por pais e avós com 3,07% cada. Esses dados corroboram com Borsa e Nunes (2011) que dizem que as mães tendem a ter um envolvimento maior na criação e cuidado dos filhos em comparação com os pais. As idades dos cuidadores tiveram seu maior percentual 48,1% entre 31 a 40 anos, e o segundo maior percentual entre 21 a 30 anos, com 29,6%.

Figura 1 – Grau parentesco com criança

Figura 2 – Idade

Figura 3 – sexo

Quanto ao grau de escolaridade dos cuidadores, 29% possuem nível superior completo, os graus ensino médio incompleto, ensino médio completo e ensino superior incompleto obtiveram porcentagens iguais de 19,4%, os níveis de fundamental completo e incompleto também se igualam sendo 3,2% e para o nível de pós-graduação a porcentagem foi de 6,5%. PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua): Em 2022, no Brasil, 24% da população com 18 anos ou mais não tinha instrução ou possuía apenas o ensino fundamental incompleto.

Entre as pessoas com 25 anos ou mais, 37% não concluíram o ensino fundamental (figura 2). O grau de escolaridade está diretamente relacionado à capacidade de entendimento, ou seja, à capacidade de compreender informações e ideias complexas. As estatísticas demonstram que pessoas com maior grau de escolaridade possuem melhores habilidades de comunicação e resolução de problemas. O que se mostra necessário para que haja um bom entendimento da patologia e consequentemente para que os cuidados necessários para a continuidade da estimulação no ambiente domiciliar sejam realizados da forma.

Figura 4 – Grau de escolaridade

Figura 5 – Renda mensal da família

Segundo informações do Censo 2022, a região Norte apresenta a maior densidade domiciliar, com 3,3 pessoas por domicílio. No gráfico ao lado podemos perceber esse fato, 51,6% dos cuidadores moram em casa com 4 pessoas, além de 35% dos cuidadores afirmaram que sua renda mensal está entre 1 e 3 salários mínimos. Essa condição afeta a quantidade de recursos disponíveis por pessoa, e também o direcionamento dos recursos de cuidado da criança, de acordo com James S. Coleman et al (1966). O ambiente familiar, incluindo a distribuição de recursos dentro da família, desempenha um papel fundamental na determinação da qualidade de vida e do desenvolvimento humano.

O gráfico 5 apresenta que 90,3 % dos cuidadores possuem conhecimento sobre a patologia da criança,9,7 % responderam não ter conhecimento sobre a patologia. Segundo Yue A et al (2017). Dentro desse aspecto, evidências apontam que mães com melhor conhecimento sobre o DNPM infantil possuem maior probabilidade de criar um ambiente doméstico apropriado que ajude seu filho em todas as fases do desenvolvimento. O gráfico 6 abaixo (Figura 6) com a pergunta: Quem foi o profissional que mais te orientou quanto ao diagnóstico da criança? Mostra que 42,5% dos cuidadores recebem orientações quanto ao diagnóstico da criança pelo médico, outros 42,5% dos cuidadores receberam orientações quanto ao diagnóstico pelo fisioterapeuta. Domenech ACP et al. (2016). Salienta que o manejo terapêutico de pacientes neuropediátricos envolve a atuação de uma equipe multiprofissional composta por médicos, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo e fisioterapeuta. Ribeiro e Santos et al. (2017). O treinamento para cuidadores de crianças com condições neurológicas pode fornecer conhecimento, habilidades e estratégias para lidar com os desafios do cuidado. O treinamento pode ajudar os cuidadores a melhorar a qualidade de vida da criança e da família.

Figura 6 – Quem foi o profissional que mais te orientou quanto ao diagnóstico?

Figura 7 – Tem conhecimento de patologia (doença) que a criança apresenta?

O gráfico 7 acima (Figura 7) apresenta a prevalência de crianças diagnosticadas com Síndrome de Down, representando a maior porcentagem entre as condições neurológicas analisadas. Onde 31% são crianças com Síndrome de Down, 23,9 % das crianças possuem Autismo, e 4% diagnosticadas com Paralisia Cerebral. Cuidar de uma criança com condição neurológica exige um olhar atento e sensível, demandando tempo, energia e resiliência dos cuidadores, que muitas vezes se sentem sobrecarregados e com dificuldades para conciliar as demandas do cuidado com outras áreas da vida (Silva & Santos, 2021). Existem diversas intervenções que podem ser utilizadas para auxiliar os cuidadores de crianças com condições neurológicas, como psicoeducação, grupos de apoio, terapia familiar e intervenções psicossociais (Gomes & Dias, 2021). Como relata o autor Pereira (2022) que o apoio social pode ajudar os cuidadores a lidar com os desafios do cuidado, melhorar sua saúde mental e física, e proporcionar uma melhor qualidade de vida para a criança.

Figura 8 – Diagnóstico médico referente a condição neurológica

O gráfico 8 acima (Figura 8) revela que as crianças participantes da pesquisa têm idades entre 4 ,5 e 6 anos. O gráfico 9 nos aponta que, após o diagnóstico da patologia, 48,4 % dos cuidadores iniciaram tratamento fisioterapêutico no primeiro ano da criança, 25,8 % só iniciaram o tratamento após 2 anos de idade. Somente 3,2% iniciaram o tratamento com 3 meses de vida. 3,2% começaram o tratamento e parou devido às condições financeiras, outros 3,2 % nunca realizou tratamento fisioterapêutico. O gráfico 10 apresenta que 77,4% das crianças realizam tratamento fisioterapêutico há mais de 2 anos. Hawking (2018) argumenta que o diagnóstico precoce é crucial para o sucesso do tratamento de muitas condições neurológicas. Ele afirma que quanto mais cedo uma criança for diagnosticada, mais cedo poderá receber o tratamento de que precisa para atingir seu pleno potencial. Isso é principalmente importante para crianças com condições neurológicas, onde a intervenção precoce pode fazer uma grande diferença no desenvolvimento da criança.

Figura 9 – Idade atual da criança

Figura 10 – Tratamento fisioterapêutico

Figura 11 – Diagnóstico da patologia

O gráfico 11 (Figura 11) mostra que 90,3% dos cuidadores receberam orientação do fisioterapeuta quanto ao programa de tratamento da criança. O fisioterapeuta pode orientar o cuidador sobre a patologia, alterações neurológicas e cuidados, Martins et al (2017). Salienta que, o fisioterapeuta é um dos profissionais a fornecer assistência à criança e à família para que se alcancem os objetivos terapêuticos, assim, compreender sobre a doença, a terapia instituída, o manuseio correto da criança em casa, a estimulação precoce, os cuidados diários, as limitações funcionais e a potencialidade da criança possibilitam maior colaboração da família. O treinamento para cuidadores de crianças com condições neurológicas é uma ferramenta essencial para proporcionar o melhor suporte possível à criança e à família Para Jordan et al., (2014) O acesso a informações e treinamento sobre a condição da criança pode ajudar os cuidadores a se sentirem mais confiantes e capazes. O gráfico 12 mostra qual frequência semanal do tratamento fisioterapêutico da criança, os dados apontam que 41,9 % das crianças realizam tratamento fisioterapêutico 3x na semana, 35,5% realizam tratamento fisioterapêutico 2x na semana e 22,6% realizam tratamento fisioterapêutico 1x na semana. O acesso à fisioterapia ainda apresenta desafios, especialmente no setor público, mas há oportunidades para ampliar e melhorar a qualidade do atendimento. O gráfico 13 mostra que 51,1% das crianças realizam tratamento fisioterapêutico em clínicas particulares, 41,9 % das crianças realizam tratamento em clínicas do setor público. O acesso ao tratamento fisioterapêutico ainda apresenta desafios, especialmente no setor público.

Figura 12 – Frequência semanal

Figura 13 – Programa de tratamento da criança

O gráfico 14 abaixo (Figura 14) demonstra sobre a orientação que os cuidadores receberam quanto à importância das atividades domiciliares para o bom desempenho do tratamento fisioterapêutico. Onde 90,3% afirmam que receberam as orientações e sobre a importância das atividades domiciliares fisioterapêuticas. Paralelo a este dado, apenas 71% executam orientações fisioterapêuticas em casa e 22,6% relataram que só às vezes realizam as orientações. O programa de reabilitação para crianças com disfunções neurológicas deve incluir orientações domiciliares aos cuidadores (Santos TG et al.,2015), tornando o domicílio, ambiente que elas passam a maior parte do tempo, um importante local para a continuidade do tratamento (Pavão SL et al., 2011). Como no gráfico 16 que observou-se, 48,4% dos cuidadores conseguem realizar as orientações fisioterapêuticas com a criança quando conseguem tempo durante a semana, 32,3% realizam 2x na semana e 9,7% somente 1x na semana. Segundo Gennaro LRM et al., (2014) afirma que a importância da abordagem do fisioterapeuta e a relevância da execução de exercícios em nível domiciliar, a participação no tratamento é maior, favorecendo a ocorrência de melhores resultados terapêuticos para a criança. Portanto as orientações fisioterapêuticas em domicílio podem assegurar o tratamento de forma adequada e ajudando o cuidador a realizar seu papel, auxiliando no desenvolvimento motor da criança, além de favorecer uma interação entre a criança e o cuidador.

Figura 14 – Orientação quanto a importância das atividades domiciliares

Figura 15 – Orientação do fisioterapeuta

Figura 16 – Execução do fisioterapeuta em casa

O gráfico 17 abaixo (Figura 17) apresenta 93,5% dos cuidadores que tiveram a percepção da melhora da criança após iniciar as atividades domiciliares. Em seguida, o próximo gráfico mostra que 67,7% realizam atividade interativa com a criança, enquanto somente 32,3% realizam às vezes alguma atividade interativa com a criança. Os cuidadores que se sentem apoiados e preparados para o seu papel são mais propensos a relatar níveis mais altos de satisfação. (Gallagher & Smith, 2011).

A fisioterapia domiciliar pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar o desenvolvimento motor e funcional de crianças com condições neurológicas. (Smith et al., 2020). O tratamento pode se tornar mais interessante para a criança com atividades lúdicas e interativas, ainda mais brincando. De acordo com Maluf (2003), brincando, a criança desenvolve suas capacidades físicas, verbais e intelectuais. Quando não se brinca com a criança, deixa-se de estimulá-la e atrasa o processo de desenvolvimento das suas capacidades. Como o autor Nijhof et al., (2016) concorda que o brincar auxilia no desenvolvimento saudável das crianças, oferecendo amplos benefícios físicos, emocionais, cognitivos e sociais, além disso, proporciona que as crianças desenvolvam suas habilidades motoras, simulem cenários e suas consequências de forma segura e envolvente. O cuidador de uma criança com condição neurológica é o suporte fundamental do seu desenvolvimento. Por meio de atividades interativas, o cuidador pode promover o potencial da criança, possibilitando a sua inclusão social.

Figura 17 – Percepção de melhoria

Figura 18 – Interativa com criança

No gráfico 19 abaixo (Figura 19) a distribuição percentual em relação ao cuidador se sente capacitado para cuidar e atender às necessidades que a criança precisa. Mostram que 58,1% se sentem capacitados como cuidador que atendem as necessidades da criança, porém 41,9% optam por não se sentir capacitados ao cuidar e suprir as necessidades da criança. O gráfico 20 ao lado demonstra que 45,2% dos cuidadores não conceituam se sentir isolados ao tempo que se dedica a cuidar da criança, 35,5% relatam que às vezes se sentem isolados e 19,4% responderam que se consideram isolados pelo tempo que dedicam à criança. Já o gráfico abaixo aponta que 67,5% não ficam tristes por conta da sua rotina em cuidar da criança, 22,6% às vezes consideram-se tristes e 9,7% confirmam que sua rotina em cuidar da criança os deixam tristes. Segundo Gratão (2012) a árdua tarefa contínua de cuidar, sem folgas e sem descansos para lazer pode interferir na vida dos cuidadores, gerando problemas e sobrecargas físicas psicológicas e sociais, o esgotamento e a exaustão dos cuidadores associados à sintomatologia podem ser frutos do esforço e da dedicação ininterrupta do ato de cuidar, que geralmente leva o cuidador a ignorar suas próprias necessidades. O desgaste físico e emocional está presente no cotidiano dessas famílias, havendo a necessidade de os pais e/ou cuidadores também serem cuidados. Se esses cuidadores não tiverem tempo para realizar atividades que melhorem seu bem-estar, começarão a ter problemas que dificultam o cuidado aos seus filhos pelo estresse físico e emocional, gerado pela sobrecarga no cuidado (Dantas MSA et al., 2012). O autor Smith et al., (2020) acrescenta que cuidar de uma criança com necessidades especiais pode ser uma experiência gratificante, mas também pode ser desafiadora e estressante.

Figura 19 – Capacitação como cuidador

Figura 20 – Você se sente isolado, pelo tempo que se dedica a cuidar da criança?

Figura 21 – Você se sente isolado, pelo tempo que se dedica a cuidar da criança?

O gráfico 22 abaixo (Figura 22) abaixo apresenta o percentual de 51,6% que os cuidadores não conseguem realizar planos para o futuro e 48,4% conseguem fazer planos. O gráfico ao lado demonstra que 96,8% se sentem satisfeitos ao cuidar da criança. Barbosa (2016) comenta que as famílias encaram a desorganização de suas rotinas para se adaptar e atender as demandas de cuidados especiais de saúde, consequentemente as tarefas acumulam sobre os principais cuidadores, a privacidade das famílias é prejudicada tendo como consequências o isolamento social e emocional das mesmas. Fernandes et al., (2022) cita que os cuidadores de crianças com deficiência frequentemente relatam dificuldades em fazer planos para o futuro, pois a imprevisibilidade da condição da criança exige flexibilidade e adaptabilidade constantes. O autor Smith et al., (2020) acrescenta que cuidar de uma criança com necessidades especiais pode ser uma experiência gratificante, mas também pode ser desafiadora e estressante.

Figura 22 – Planos para o futuro

Figura 23 – Sente – se satisfeito (a) ao cuidar da criança?

CONCLUSÃO

Em conclusão, este estudo buscou destacar a importância de um olhar holístico e integrado no tratamento fisioterapêutico de crianças com condições neurológicas, onde o cuidador é uma peça fundamental. A criação de grupos de apoio e a implementação de programas de educação em saúde podem proporcionar uma rede de suporte, promovendo o compartilhamento de experiências e a construção de um ambiente mais acolhedor e motivador. É crucial discutir esta problemática com o objetivo de desenvolver estratégias de apoio e intervenção que minimizem as dificuldades enfrentadas pelos cuidadores. Além disso, é necessário abordar a formação e capacitação dos cuidadores, oferecendo treinamentos específicos de forma individualizada que possam englobar técnicas fisioterapêuticas básicas de manejo da criança pela qual ele é responsável. Ao entender e atender às necessidades dos cuidadores, é possível melhorar significativamente a qualidade do estímulo oferecido à criança no ambiente domiciliar, garantindo uma abordagem terapêutica mais eficaz e humanizada.

Com base na análise dos dados, foi possível confirmar que os objetivos iniciais do estudo foram alcançados. A pesquisa demonstrou que a integração dos cuidadores no processo terapêutico e a oferta de suporte adequado contribuem significativamente para a melhora no tratamento das crianças com condições neurológicas. As hipóteses propostas foram confirmadas, evidenciando a relevância de um suporte estruturado para os cuidadores. As principais contribuições teóricas e práticas deste estudo incluem a validação da importância do papel dos cuidadores no contexto terapêutico e a necessidade de programas de apoio e capacitação. A pesquisa também destaca a relevância de políticas públicas que incentivem a formação de redes de suporte para cuidadores, a fim de proporcionar um tratamento mais holístico e eficiente para as crianças.

No entanto, o estudo apresenta algumas limitações, como a amostra restrita a uma determinada região geográfica e a ausência de um acompanhamento longitudinal que poderia fornecer dados mais robustos sobre a eficácia das intervenções propostas. Sugere-se, para futuros estudos, a ampliação da amostra e a inclusão de diferentes contextos culturais e socioeconômicos, além da realização de pesquisas de longa duração para avaliar os impactos a longo prazo das estratégias de apoio aos cuidadores.

Em  resumo,  este  estudo responde à questão inicial ao demonstrar que um tratamento fisioterapêutico mais integrado e que inclua o cuidador é crucial para a eficácia do tratamento de crianças com condições neurológicas.

REFERÊNCIAS

ALLEGRETI, A. L. C. et al. A relação e o estabelecimento de vínculo entre terapeuta e criança com atendimento em instituição e clínica particular. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v. 1, n. 1, p.35-49. 2001.

Barbosa, T.A. and Reis, K.M.N. and Lomba, G.O. and Alves, G. V. and Braga, P.P. [2016] “Rede de apoio e apoio social às crianças com necessidades especiais de saúde”. In:Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, Fortaleza.

Borsa, J. C., & Nunes, M. L. T. (2011). Aspectos psicossociais da parentalidade: O papel de homens e mulheres na família nuclear. Psicologia Argumento, 29(64), 31-39.

Coleman, James S., Ernest Q. Campbell, Carol J. Hobson, James McPartland, Alexander M. Mood, Frederick D. Weinfeld e Robert L. York. 1966. Igualdade de Oportunidades Educacionais. Washington: Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar dos EUA, Escritório de Educação.

Dantas MSA, Pontes JF, Assis WD, Collet N. Facilidades e dificuldades da família no cuidado à criança com paralisia cerebral. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(3):73-80.

DA CONCEIÇÃO,  Haylane Nunes et al. ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA NEUROPEDIATRIA: A PERCEPÇÃO DOS CUIDADORES.  Revista Ciência e Saúde On-line, v. 6, n. 2, 2021.

DO VALE, Marina Baía et al. O significado da fisioterapia para cuidadores de crianças com paralisia cerebral. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 6, n.12, p. 643-656, 2018.

Fernandes, M. J., & Silva, A. C. da. (2022). Estresse e qualidade de vida de cuidadores de crianças com deficiência: um estudo comparativo. Revista Brasileira de Enfermagem, 75(2), e20200814.

Formiga CKMR, Pedrazzani ES, Tudela E. Intervenção precoce com bebês de risco. Rio de Janeiro: Atheneu; 2010.

Gennaro LRM, Barham EJ. Estratégias para envolvimento parental em fisioterapia neuropediátrica: uma proposta interdisciplinar. Estud. pesqui. psicol. 2014;14:10-28.

Gomes, E. C., & Dias, S. M. (2021). O papel do psicodrama no acompanhamento de cuidadores de crianças com paralisia cerebral. Estudos de Psicologia (Natal), 20(2), 434-448.

GRATAO, Aline Cristina Martins. Burden and the emotional distress in caregivers of elderly individuals. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 21, p. 304-312,

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Síntese de Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2023.

Jordan, A. S., McSharry, D. G., & Malhotra, A. (2014). Adult obstructive sleep apnoea. Lancet, 383(9918), 736-747.

MALUF, ângela Cristina  Munhoz, Brincar prazer e  aprendizado.  Petrópolis, RJ:Vozes,2003.

Mary Jo Gallagher e Kathryn A. Smith. Core Curriculum for Family Caregiving: Second Edition. 2011; p.11.

Martins, F. S., Barroca, L. S., & Teixeira, L. C. (2017). A atuação do fisioterapeuta na educação em saúde de cuidadores de crianças com paralisia cerebral. Revista Brasileira de Fisioterapia, 21(3), 381-388.**

Nijhof, H. J., Haneveld, M. H., & Venema, H. A. (2016). The Importance of Play for Children’s Development: A Review of the Literature. Child Development Perspectives, 10(1), 43-52.

PAMPLONA, Edilene Araújo et al. A perspectiva dos pais sobre a reabilitação fisioterapêutica de crianças com deficiência múltipla. Acta fisiátrica, v. 26, n. 4, p. 220-229, 2019.

Pavão SL, Silva FPS, Rocha NAC. Efeito da orientação domiciliar no desempenho funcional de crianças com necessidades especiais. Motricidade. 2011;7(1):21-9.

Pereira, M. A. (2022). O papel do apoio social na vida de cuidadores de crianças com paralisia cerebral. Revista Brasileira de Enfermagem, 75(2), 220-227.

Raina P, O’Donnell M, Rosenbaum P, Brehaut J, Walter SD, Russell D, et al. The health and well-being of caregivers of children with cerebral palsy. Pediatrics. 2005; 115: 626–36.

Santos, T. G. Oliveira, D. A., & Botêlho, S. M. (2015). Percepção de mães sobre o desenvolvimento motor de seus filhos com paralisia cerebral. Revista Saúde.com, 11(1), 29-38.

SIMÕES, C. C. S.; SILVA, L.; SANTOS, M.R.; MISKO, M.D.; BOUSSO, R.S. A experiência dos pais no cuidado dos filhos com paralisia cerebral. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 15, n. 1, p. 138-45, 2013. Disponível em:<http://dx.doi.org/10.5216/ree.v15i1.13464>. Acesso em 23 nov. 2013.

Silva, G. O., & Santos, M. I. S. (2021). Qualidade de vida de cuidadores de crianças com disfunções neurológicas. Psicologia: Teoria e Prática, 23(1), 1-17.

Smith, T. L., Turner, S. R., & Hale, T. S. (2020). Home-based physical therapy for children with neurological conditions: A systematic review and meta-analysis. Pediatric Physical Therapy, 52(4), 484-500.


1Graduandos em Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA
2Docente das Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA – e-mail: rafaelavianafrancelinomaciel@gmail.com