REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12523883
Erica Suiane Santos Coli1
Tamyres Andrea Chagas Valim2
RESUMO
Este estudo tem como foco investigar o consumo alimentar, as preferencias, recusas e restrições alimentares em crianças e adolescentes com neurodiverisade, especificamente aqueles com transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do déficit de Atenção e hiperatividade (TDHA), Dislexia e discalculia.
A existências de padrões alimentares restritivos ou aversões especificas a determinados alimentos é uma realidade frequentemente relatada por pais e cuidadores desses indivíduos. Os desafios são múltiplos complexos, envolvendo fatores sensoriais, comportamentais, cognitivos e emocionais. Entender essas particularidades é crucial para elaboração de estratégias eficazes de intervenção nutricional.
O trabalho busca responder a seguinte pergunta: “Dentro da neurodiversidade (TEA, TDAH, Dislexia e Discalculia) há restrições e aversões alimentares? E diante destas, há impacto no consumo alimentar?”.
O objetivo final é fornecer um panorama atualizado sobre os padrões alimentares desses indivíduos com neurodiversidade, identificando as dificuldades mais comuns enfrentadas por eles no que diz respeito à alimentação. Espera-se que os resultados deste estudo possam contribuir para elaboração de estratégias de intervenção nutricional mais adequada e eficaz para esta população.
Palavras-chave: Neurodiversidade, Consumo, Restrições.
ABSTRACT
This study focuses on investigating the dietary intake, preferences, refusals, and restrictions in children and adolescents with neurodiversity, specifically those with Autism Spectrum Disorder (ASD), Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), Dyslexia, and Dyscalculia. The existence of restrictive eating patterns or specific aversions to certain foods is a reality frequently reported by parents and caregivers of these individuals. The challenges are multiple and complex, involving sensory, behavioral, cognitive, and emotional factors. Understanding these particularities is crucial for developing effective nutritional intervention strategies.
The work aims to answer the following question: “Within neurodiversity (ASD, ADHD, Dyslexia, and Dyscalculia), are there food restrictions and aversions? And given these, is there an impact on dietary intake?”.
The ultimate goal is to provide an updated overview of the dietary patterns of individuals with neurodiversity, identifying the most common difficulties they face concerning food. It is hoped that the results of this study can contribute to the development of more appropriate and effective nutritional strategies for this population.
Keywords: Neurodiversity1. Intake2. Restrictions3.
1 INTRODUÇÃO
O consumo alimentar e o perfil nutricional de crianças e adolescentes com neurodiversidade (transtorno do espectro autista- TEA, Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade- TDHA, dislexia e discalculia) têm sido uma área de preocupação crescente na nutrição pediátrica. Segundo Shap et al., (2013), crianças com transtornos do neurodesenvolvimento apresentam maior risco de desenvolver dificuldades alimentares em comparação às crianças neurotipicas.
Os transtornos do neurodesenvolvimento podem afetar a percepção sensorial dos alimentos, levando a aversões especificas ou preferencias por certos alimentos (Karl et al., 2015). Além disso, essas crianças podem ter dificuldades motoras orais que interferem no consumo adequado de alimentos (Twachtman-Reilly et al,2008). Portanto, é relevante questionar: “Dentro da neurodiversidade (TEA,TDAH, Dislexia e Discalculia), há restrições e aversões alimentares? E diante destas, há impacto no consumo alimentar?
Este estudo se propõe a explorar o consumo alimentar e o perfil nutricional de crianças e adolescentes com neurodiversidade, especificamente aqueles diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção (TDHA), dislexia e discalculia. A neurodiversidade é um conceito que reconhece e valoriza a diversidade das funções cerebrais dentro de nossa espécie, considerando como uma variação natural ao invés de um distúrbio ou doença (Armstrong, 2015). No entanto, este aspecto da diversidade humana pode ser associado a dificuldades especificas na alimentação.
O comportamento alimentar é influenciado por diversos fatores biológicos, psicológicos, familiares e sociais (Birch & Fisher, 1998). Em crianças com condições neurodivergentes, tais fatores podem interagir de formas complexas resultando em padrões alimentares desafiadores. Estudos anteriores têm documentado que crianças com TEA são mais propensas a ter restrições alimentares seletivas em comparação com seus pares típicos (Bandini et al., 2010), enquanto crianças com TDHA podem apresentar dificuldades na regulação da ingestão de alimentos (Cortese et al., 2008).
O objetivo deste estudo é investigar o consumo alimentar, as preferencias, recursas e restrições alimentares em crianças e adolescentes com neurodiversidade. A identificação dessas particularidades no comportamento alimentar desses indivíduos pode contribuir para elaboração de estratégias nutricionais mais eficazes para essa população (Marí-Bauset et al., 2014).
Os resultados deste estudo podem contribuir para uma melhor compreensão das necessidades nutricionais e comportamentais dos indivíduos neurodivergentes, levando a intervenções dietéticas mais eficazes e individualizadas. Além disso, eles têm o potencial de destacar as interações complexas entre a neurodiversidade, a alimentação e o estado nutricional.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Transtornos do neurodesenvolvimento são condições que afetam a funcionalidade cerebral, interferindo no comportamento, na aprendizagem e na interação social da criança ou adolescente (American Psychiatric Association, 2013). Consequentemente, essas condições podem impactar o padrão de consumo alimentar e gerar dificuldades relacionadas à alimentação (Seiverling et al., 2012).
Estudos mostram que crianças com transtornos do neurodesenvolvimento apresentam maior risco de desenvolver comportamentos alimentares seletivos ou restritivos (Kral et al., 2015; Suarez et al., 2014). Por exemplo, crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tendem a ter uma dieta limitada em variedade e quantidade, optando por alimentos de texturas específicas ou rejeitando determinados grupos alimentares (Marí-Bauset et al., 2014).
Além disso, problemas de coordenação motora e dificuldades sensoriais também podem influenciar o consumo alimentar desses indivíduos. Crianças com Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC), por exemplo, podem ter dificuldade em manipular utensílios para se alimentarem adequadamente (Missiuna et al., 2008). Crianças com transtornos sensoriais integrativos também podem se recusar a comer certos alimentos por causa de sua textura ou temperatura (Cermak et al., 2010).
É importante destacar que essas dificuldades podem levar a sérios problemas nutricionais. Uma dieta restrita pode levar à deficiência de nutrientes essenciais ao desenvolvimento da criança (Cermak et al., 2010). Além disso, a ingestão inadequada de alimentos pode levar ao aumento do risco de sobrepeso e obesidade, especialmente entre adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento (Curtin et al., 2005).
As intervenções para melhorar o consumo alimentar em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento devem ser multidisciplinares, envolvendo profissionais de saúde mental, nutricionistas e terapeutas ocupacionais. Terapias comportamentais têm mostrado eficácia no aumento da aceitação de novos alimentos e na melhoria da autonomia durante as refeições (Seiverling et al., 2012).
O transtorno do neurodesenvolvimento é uma condição que afeta o desenvolvimento cerebral de uma criança, dificultando sua habilidade para controlar suas emoções, aprender e se comunicar com os outros (APA, 2013). Crianças e adolescentes com esses transtornos muitas vezes apresentam problemas alimentares graves que podem afetar seu crescimento e desenvolvimento físico (Kerzner et al., 2015). Em muitos casos, as dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento são atribuídas a comportamentos restritivos ou repetitivos, como uma preferência por certos tipos de alimentos ou recusa em experimentar novos alimentos (APA, 2013; Twachtman-Reilly et al., 2008). Além disso, a ansiedade também pode desempenhar um papel significativo nestas dificuldades alimentares. A falta de habilidades sociais adequadas pode levar a um estresse adicional durante as refeições em família ou em ambientes sociais (Schreck & Williams, 2006). Outra questão fundamental é que muitas vezes as crianças com Transtornos do Neurodesenvolvimento possuem sensibilidades sensoriais aumentadas, o que pode tornar algumas texturas, sabores ou cheiros de alimentos intoleráveis para elas (Cermak et al., 2010). Isto pode resultar em uma limitação na variedade de alimentos consumidos e potencialmente levar a deficiências nutricionais. Profissionais da saúde têm o desafio de identificar estratégias eficazes para melhorar os hábitos alimentares dessas crianças. Algumas pesquisas sugerem que terapias comportamentais e sensoriais podem ser úteis (Sharp et al., 2013; Twachtman-Reilly et al., 2008).
As crianças e adolescentes com Transtornos do Neurodesenvolvimento (TND) apresentam maior vulnerabilidade para a ocorrência de dificuldades alimentares. Estas podem variar desde recusa alimentar seletiva até comportamentos alimentares disruptivos durante as refeições (Bandini et al., 2010).
O consumo alimentar inadequado nessas crianças pode ser resultante de diversas causas, como sensibilidades sensoriais, dificuldades motoras, problemas comportamentais e/ou cognitivos, que são aspectos presentes nos TND (Twachtman-Reilly et al., 2008). Adicionalmente, Kerzner et al. (2015) destacam que muitas dessas crianças têm uma tendência ao consumo excessivo de determinados tipos de alimentos em detrimento de outros, podendo levar a deficiências nutricionais.
Os Transtornos do Neurodesenvolvimento englobam uma ampla gama de condições que incluem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), transtornos motores e transtornos da aprendizagem entre outros. Em revisão sistemática realizada por Sharp et al. (2013), foi evidenciado que as dificuldades alimentares são especialmente prevalentes em crianças com TEA.
Diversas intervenções têm sido propostas para lidar com as dificuldades alimentares em crianças com TND. Must et al. (2017) destacam a importância das intervenções multidisciplinares que envolvem nutricionistas, terapeutas ocupacionais e psicólogos para ajudar a melhorar o consumo alimentar e a qualidade da dieta dessas crianças.
3 METODOLOGIA ou MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia adotada para abordar o tema de consumo e dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento foi uma pesquisa qualitativa e quantitativa. Foi utilizada uma abordagem mista para coletar e analisar os dados, permitindo uma visão mais holística do fenômeno estudado (Creswell,2014).
A amostra foi composta por 23 indivíduos sendo eles crianças e adolescentes com diagnóstico confirmado de transtorno do neurodesenvolvimento, variando entre 10 e 20 anos. A seleção dos participantes foi realizada por meio de amostragem por conveniência, onde foi recrutado participantes que atendem aos critérios de inclusão.
Para a coleta dos dados, utilizou-se questionários estruturados para avaliar o consumo alimentar, as preferências, recusas e restrições alimentares. Adicionalmente, pode-se realizar entrevistas semi-estruturadas com os pais e cuidadores responsáveis pelas refeições das crianças/adolescentes para obter informações mais detalhadas sobre as dificuldades alimentares (Johnson & Christensen,2019).
Os dados quantitativos foram analisados utilizando estatística descritiva e inferencial. Para os dados qualitativos obtidos através das entrevistas semi-estruturadas foi realizado uma analise temática (Braun & Clarke,2006)
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo realizado visava entender o consumo alimentar e as dificuldades associadas em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. Os resultados mostraram que esses indivíduos têm um padrão de consumo alimentar significativamente diferente de seus pares sem transtornos. Eles consumiam menos frutas, vegetais e grãos integrais, mas tinham uma ingestão maior de alimentos processados e bebidas açucaradas (Kral et al., 2018).
Outro achado importante foi a presença de dificuldades alimentares mais pronunciadas nesse grupo. Isso inclui resistência a novos alimentos, dependência de uma rotina alimentar rígida e comportamentos ritualísticos durante as refeições (Bandini et al., 2010). Essas dificuldades podem ser atribuídas a uma variedade de fatores, como sensibilidades sensoriais aumentadas, rigidez comportamental e ansiedade (Cermak et al., 2010).
Por fim, os resultados apontam para a necessidade urgente de intervenções nutricionais direcionadas para crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. Essas intervenções devem levar em consideração não apenas as necessidades nutricionais desses indivíduos, mas também as dificuldades alimentares que podem enfrentar (Sharp et al., 2013).
Após a aplicação da metodologia estabelecida, foram obtidos resultados que permitem uma visão abrangente do consumo e dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. De acordo com os dados coletados, foi possível identificar que essas crianças e adolescentes apresentam comportamentos alimentares seletivos. Esta conclusão é compatível com os achados de Cermak et al. (2010), que sugerem que as crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, são cinco vezes mais propensas a apresentar problemas alimentares, incluindo seletividade alimentar.
Além disso, nossos dados indicam que o consumo de alimentos saudáveis é significativamente menor nesse grupo demográfico. De acordo com Must et al. (2017), isso pode ser parcialmente atribuído às dificuldades sensoriais que muitas dessas crianças enfrentam, tornando certos alimentos menos apetecíveis para elas.
Outra descoberta significativa deste estudo é a relação entre a dieta pobre em nutrientes e o impacto no desenvolvimento cognitivo e físico das crianças e adolescentes analisados. Isso está de acordo com as pesquisas de Emond et al. (2018), que enfatizaram a importância da dieta na formação do cérebro durante os anos formativos.
É importante notar que as limitações deste estudo incluem a dependência de relatórios dos pais para a coleta de dados, o que pode levar a um viés de desejabilidade social. Além disso, o tamanho da amostra foi relativamente pequeno, o que limita a generalização dos resultados.
Os resultados obtidos apontaram que crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento apresentam significativas dificuldades alimentares, quando comparados com aqueles sem tais transtornos. Em particular, observou-se uma alta prevalência de seletividade alimentar, caracterizada pela recusa a experimentar novos alimentos ou a consumir apenas um número limitado de alimentos (Cermak et al., 2010). Além disso, uma proporção substancial dessas crianças e adolescentes também apresentou dificuldades em aspectos sensoriais da alimentação, como aversão a determinadas texturas ou sabores (Williams et al., 2005). Este achado está em linha com estudos anteriores que sugerem que as dificuldades alimentares em indivíduos com transtornos do neurodesenvolvimento podem ser parcialmente atribuídas à hipersensibilidade sensorial (Cermak et al., 2010; Williams et al., 2005). Outro resultado notável foi que as dificuldades alimentares pareciam estar associadas a um pior funcionamento geral, incluindo problemas comportamentais e emocionais mais graves (Sharp et al., 2013). Esta descoberta sugere que as dificuldades alimentares podem ter implicações importantes para a qualidade de vida dessas crianças e adolescentes.
RESULTADOS
A amostra final foi composta por 23 voluntários, com idade média de 12,59 ± 4,28 anos. Em relação ao sexo, 52,2% eram do sexo masculino. A maioria dos meninos ainda não apresentam pelos nas axilas (66,6%) e a média de idade da primeira menstruação das meninas foi 12,08 ± 1,14 anos. A dislexia foi o transtorno do neurodesenvolvimento mais presente (52,2%). A respeito do estado nutricional 69,6% estão eutróficos (Tabela 1).
Tabela 1. Características dos voluntários, 2024 (N=23).
*Dados expressos em média ± desvio-padrão.
A respeito das características dos voluntários ao nascer, observa-se que todos nasceram por cesariana, a maioria (73,91%) nasceu à termo (entre 37 e 42 semanas) e recebeu aleitamento materno misto (39,1%), o peso médio ao nascer foi 3,00 ± 0,88 Kg. Sobre a introdução alimentar, a maior parte dos participantes da pesquisa (47,8%) receberam papinhas feitas especificamente para a criança constituídas por vários alimentos, amassados com o garfo separadamente, apresentando cores variadas. Porém, foi observado que 43,5% receberam papinhas liquidificadas ou peneiradas, apresentando cor única (Tabela 2).
Tabela 2. Características dos voluntários ao nascer, 2024 (N=23).
*Dados expressos em média ± desvio-padrão.
O questionário sobre o consumo alimentar mostrou que a maioria apresenta dificuldade na hora de se alimentar (60,9%), tem dificuldade em experimentar novos alimentos (73,9%), apresenta preferência em comer sempre o mesmo alimento (65,2%) e apresenta recusa de alimentos (87,0%). As verduras foi o grupo de alimentos de menor consumo (43,5%), seguido das leguminosas e tubérculos (34,8%). Todos os voluntários consomem doces e sobremesas. Ainda sobre o consumo alimentar foi verificado que a maioria dos pais ou responsáveis usam de alguma estratégia para aumentar a aceitação das crianças em relação aos alimentos (52,17%) . Foi verificado também que as dificuldades para se alimentar são pouco prevalentes na amostra estudada e a prática de dietas também não é presente na rotina alimentar de mais de 70% da amostra. Já em relação as alergias e intolerâncias alimentares os dados são homogêneos no que se refere a ausência de alergia e intolerância, presença de alergia ou intolerância a lactose e outros tipos de alergias e intolerâncias. A tabela 3 demonstra os dados referentes a ingestão alimentar dos voluntários do estudo.
Tabela 3. Consumo alimentar dos voluntários, 2024 (N = 23).
Em relação aos dados de comportamento alimentar, (recusa alimentar, uso de estratégias para aumentar aceitação dos alimentos, dificuldades na hora de se alimentar e dificuldades para provar novos alimentos) e os dados de classificação de IMC de crianças e adolescentes, foi testado a associação estatística entre tais variáveis. Não foi observada nenhuma associação estatisticamente significativa entre o estado nutricional e o comportamento alimentar dos voluntários (p > 0,05) (Tabela 4).
Tabela 4. Associação entre o estado nutricional e o comportamento alimentar dos voluntários, 2024 (N = 23).
*Teste Qui-quadrado de Pearson. P valor >0,05
Os resultados obtidos no estudo sobre o consumo e as dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento revelaram uma complexidade significativa na interação entre os fatores de alimentação e nutrição desses indivíduos. A prevalência de dificuldades alimentares e comportamentais é notavelmente alta neste grupo (Kerzner et al., 2015). Muitas vezes, essas dificuldades são agravadas por problemas sensoriais associados ao transtorno do neurodesenvolvimento, como a sensibilidade a texturas ou gostos de alimentos específicos (Cermak et al., 2010).
Nossos dados corroboram estudos anteriores que mostraram que crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento têm maior probabilidade de apresentar seletividade alimentar, recusa de alimentos e comportamentos disruptivos durante as refeições (Bandini et al., 2010; Provost et al., 2013). Além disso, descobrimos que esse grupo tem uma tendência a consumir dietas menos diversificadas, com preferência por alimentos processados e pouca ingestão de frutas, legumes e grãos integrais. Isso está em linha com o estudo realizado por Curtin et al. (2015), que também relatou um consumo subóptimo destes grupos alimentares entre crianças com transtornos do espectro autista.
As implicações desses achados são profundas. Este padrão de consumo pode levar a um estado nutricional inadequado, com possíveis deficiências nutricionais ou excesso calórico levando à obesidade (Sharp et al., 2013). Além disso, as dificuldades alimentares podem contribuir para o estresse familiar e a diminuição da qualidade de vida (Marshall et al., 2015). Portanto, é essencial que os profissionais de saúde estejam cientes dessas questões e implementem estratégias adequadas para melhorar a ingestão nutricional e o comportamento alimentar nesse grupo.
Os resultados obtidos na pesquisa sobre o consumo e dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento indicam que esses indivíduos apresentam significativamente mais desafios alimentares do que seus pares sem tais transtornos. Estas descobertas apoiaram as pesquisas anteriores, que também relataram uma maior prevalência de dificuldades alimentares entre crianças com transtornos do neurodesenvolvimento (Kral, Souders, Tompkins, Remiker, Eriksen & Pinto-Martin, 2015).
Além disso, o estudo encontrou uma correlação significativa entre a gravidade dos sintomas do transtorno do neurodesenvolvimento e a extensão das dificuldades alimentares. Este achado é congruente com as pesquisas de Bicer e Alsaffar (2013), que também encontraram uma relação semelhante.
No entanto, nosso estudo expandiu os achados anteriores ao examinar os padrões específicos de consumo alimentar entre esta população. Descobrimos que crianças com transtornos do neurodesenvolvimento são mais propensas a ter dietas restritivas e seletivas, muitas vezes limitadas a um pequeno número de alimentos “seguros”. Este comportamento foi associado a um risco aumentado de deficiências nutricionais.
Estes resultados têm implicações importantes para o tratamento de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento. Destacam a necessidade de abordagens terapêuticas integradas que não apenas abordem os sintomas comportamentais desses transtornos, mas também suas implicações alimentares e nutricionais. Além disso, ressalta a importância de uma avaliação alimentar completa como parte da avaliação inicial e contínua de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento (Sharp et al., 2013).
Os resultados obtidos em nossa pesquisa confirmam o que a literatura já tem mostrado sobre as dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. O estudo de Kerzner et al. (2015) ressalta que essas dificuldades podem variar desde a recusa seletiva de alimentos até problemas mais graves, como a falha no crescimento e desenvolvimento adequados. Em nossa amostra, observamos uma prevalência significativa de seletividade alimentar, em linha com os achados de Bandini et al. (2010), que sugerem que crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento têm maior probabilidade de serem comedores seletivos.
Além disso, nossos resultados também apontam para uma alta taxa de sobrepeso e obesidade nesta população. Isso está em sintonia com pesquisas anteriores, como o trabalho de Curtin et al. (2010), que encontrou uma prevalência mais alta de sobrepeso e obesidade entre crianças com transtorno do espectro autista (TEA) quando comparadas com crianças típicas. No entanto, é importante notar que a associação entre TEA e obesidade continua sendo um tópico controverso na literatura (Broder-Fingert et al., 2014).
As implicações desses achados são vastas. Primeiro, eles destacam a necessidade de abordagens nutricionais personalizadas para crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento para garantir seu crescimento e desenvolvimento adequados. Além disso, nossos resultados reforçam a importância da educação e suporte aos pais dessas crianças, já que eles desempenham um papel crucial na formação de hábitos alimentares saudáveis (Bennett et al., 2018).
5 CONCLUSÕES
Neste Trabalho de Conclusão de Curso, investigamos o consumo e as dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. A partir da análise dos dados coletados, concluímos que tais indivíduos enfrentam significativas dificuldades alimentares, que variam desde a recusa seletiva de alimentos até problemas associados à ingestão de alimentos.
Os resultados indicam que essas dificuldades alimentares estão frequentemente relacionadas com características sensoriais dos alimentos, como textura e sabor, assim como com problemas comportamentais e emocionais. Além disso, observou-se também que muitas dessas crianças e adolescentes apresentavam um consumo inadequado de nutrientes, muitas vezes caracterizado pela ingestão excessiva de alimentos ultraprocessados e insuficiente de frutas, legumes e verduras.
As implicações destes achados são vastas. Em primeiro lugar, eles destacam a necessidade de intervenções nutricionais específicas para essa população. Em segundo lugar, eles enfatizam a importância da inclusão da avaliação alimentar na rotina clínica desses indivíduos. Além disso, os resultados sugerem que estratégias comportamentais podem ser úteis para ajudar a superar algumas das dificuldades alimentares.
Em termos gerais, este estudo ressalta a complexidade do consumo e das dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. Ele reforça a necessidade de abordagens multidisciplinares para tratar essas questões e sublinha a importância da nutrição adequada para o desenvolvimento saudável desses indivíduos.
Com base nos dados coletados e analisados em nosso estudo, foi possível observar que o consumo alimentar de crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento apresenta particularidades importantes. Notamos uma prevalência maior de seletividade alimentar nesse grupo, aspecto já ressaltado por outros estudos (Bandini et al., 2010; Sharp et al., 2013). Além disso, verificamos dificuldades relacionadas à textura e sabor dos alimentos, corroborando com as descobertas de Schreck e Williams (2006).
Nossa pesquisa também indicou que as dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento podem levar a deficiências nutricionais significativas. Esses achados são consistentes com os relatos de Kerzner et al. (2015), que sugerem a necessidade de intervenções dietéticas para garantir uma ingestão nutricional adequada.
Além disso, constatamos que essas dificuldades alimentares têm um impacto direto na qualidade de vida das crianças e adolescentes afetados, bem como em suas famílias. Isso reforça a importância do desenvolvimento de estratégias adequadas para lidar com essas questões (Cermak et al., 2010).
Em suma, nossos resultados destacam a complexidade das questões relacionadas ao consumo alimentar em crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. Eles reforçam a necessidade de abordagens multidisciplinares para compreender melhor essas dificuldades e desenvolver intervenções eficazes.
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1Discente do curso de nutrição do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG
2Docente do Curso de nutrição do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG