CONSTRUÇÃO ENXUTA: O USO DA GESTÃO DA QUALIDADE ATRAVÉS DA IMPLEMENTAÇÃO DE FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO E CONTROLE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

LEAN CONSTRUCTION: THE USE OF QUALITY MANAGEMENT THROUGH THE IMPLEMENTATION OF PLANNING AND CONTROL TOOLS IN CIVIL CONSTRUCTION

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10250177


Liliane Laís Fonseca Menezes1
Felipe José Estrela Marinho2


RESUMO

A Construção Enxuta, também conhecida como Lean Construction, trata-se de uma abordagem de gerenciamento de projetos de construção que busca maximizar o valor entregue ao cliente, minimizando o desperdício de recursos e melhorando a eficiência do processo construtivo. Já a Gestão da Qualidade corresponde ao conjunto de princípios e práticas que visam garantir a qualidade dos produtos e serviços. Como resultado, ambas abordagens se interligam para oferecer melhores resultados e garantir maior satisfação ao cliente. Este artigo teve como objetivo avaliar as ferramentas de planejamento e controle para uma gestão eficiente na construção civil, por meio de uma revisão bibliográfica fundamentada em estudos de caso existentes, no qual conclui-se que a aplicação bem-sucedida dessas metodologias requer comprometimento, liderança e a cultura de buscar constantemente maneiras de otimizar processos e reduzir desperdícios ao longo de todo o ciclo de vida do projeto, contribuindo de forma significativa para o desempenho das empresas de construção civil.

Palavras-chave: Construção Enxuta. Gestão da Qualidade. Planejamento e Controle.

ABSTRACT

Lean Construction, also known as Lean Construction, is a construction project management approach that seeks to maximize the value delivered to the client, minimizing waste of resources and improving the efficiency of the construction process. Quality Management corresponds to the set of principles and practices that aim to guarantee the quality of products and services. As a result, both approaches are interconnected to offer better results and guarantee greater customer satisfaction. This article aimed to evaluate planning and control tools for efficient management in civil construction, through a bibliographical review based on existing case studies, in which it is concluded that the successful application of these methodologies requires commitment, leadership and the culture of constantly looking for ways to optimize processes and reduce waste throughout the entire project life cycle, contributing significantly to the performance of construction companies.

Keywords: Lean Construction. Quality Management. Planning and Control.

1.INTRODUÇÃO

A construção civil é um dos setores referenciais na geração de emprego e renda, contribuindo para a economia do país (Bueno, 2021). Entretanto, muitas empresas desse ramo ainda gerenciam seus empreendimentos sem um planejamento detalhado do projeto antes de sua execução e/ou sem um acompanhamento eficiente até a finalização da obra. Essa ineficiência de gerenciamento, muitas vezes, baseado apenas em experiências dos profissionais envolvidos ou metodologias rudimentares, costuma gerar volumes consideráveis de resíduos, oriundos de desperdícios nos canteiros, que podem ocasionar prejuízos financeiros (Boeriz; Filho, 2021).

Constata-se que a implementação adequada de ferramentas de planejamento e controle é essencial para minimizar a incidência de perdas e baixa produtividade (Isatto et al., 2000 apud Pereira et al., 2015), aumentar a transparência e visualização dos processos, melhorar a comunicação entre níveis gerenciais e diferentes intervenientes, proteger a produção contra a incerteza e variabilidade, traçar o passo-a-passo da construção e estabelecimento de metas, avaliar planos de ataque, além de estar relacionada à tomada de ação corretiva e preventiva, quando necessário, e não somente ao acompanhamento da evolução dos processos construtivos.

Segundo Koskela (1992), o conceito de Construção Enxuta (Lean Construction) surge nesse âmbito com o intuito de implementar uma gestão de qualidade, de melhoria contínua dos processos e fluxos produtivos, eliminando quaisquer possíveis desperdícios (superprodução, transporte, processamento, fabricação de produtos defeituosos, estoque, movimento e/ou espera).

De acordo com Koskela (1992), a Construção Enxuta visa reduzir a parcela de atividades que não agregam valor, a variabilidade e o tempo de ciclo, simplificando, através da minimização do número de passos e partes. Além disso, também tem como princípios o aumento do valor do produto através das considerações sistemáticas das necessidades dos clientes, da flexibilidade de saída e da transparência do processo com foco no controle sobre o processo completo.

Observa-se que o cenário da indústria da construção civil tem-se transformado ao longo dos anos, tornando-se bastante competitivo, exigindo-se implementações de novas ferramentas gerenciais, que resultem em produtos e serviços de maior qualidade e lucratividade, em curto prazo. Nesse sentido, por meio de uma revisão bibliográfica, este artigo teve como objetivo avaliar estudos de caso existentes que implementaram ferramentas de planejamento e controle para uma gestão eficiente na área de construção civil, baseadas em Planejamento e Controle da Produção, Construção Enxuta e Gestão da Qualidade.

2.METODOLOGIA

A metodologia adotada para abordar a temática envolveu um levantamento bibliográfico, que, segundo Sousa (2021, p. 65), “a pesquisa bibliográfica está inserida principalmente no meio acadêmico, e tem a finalidade do aprimoramento e atualização do conhecimento através de uma investigação científica de obras já publicadas” (apud Bueno, 2021).

De acordo com Gil (2002), a pesquisa exploratória busca aprofundar a compreensão do problema em estudo, frequentemente adotando abordagens como pesquisa bibliográfica ou de estudos de caso. Essa metodologia de pesquisa é viabilizada através da utilização de materiais previamente elaborados, predominantemente compostos por livros e artigos científicos, permitindo uma maior familiarização com a temática investigada (apud Boeriz; Filho, 2021).

Dessa forma, a busca pela literatura deste artigo consistiu na seleção de bibliografias existentes, abrangendo artigos científicos, monografias, dissertações, teses e livros, por meio eletrônico, em bases de dados especializadas, como Google Acadêmico e Scientific Eletronic Library Online (SciELO), utilizando-se palavras-chave referentes ao tema.

Durante essa etapa, foi conduzida uma leitura analítica com o intuito de organizar e sintetizar as informações contidas nas fontes, de modo a viabilizar, a partir da fundamentação teórica, a avaliação e discussão dos resultados mais pertinentes provenientes dos estudos de caso relacionados à temática abordada.

3.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1Planejamento e Controle da Produção (PCP)

3.1.1Origem e conceitos do Planejamento e Controle da Produção

A origem do Planejamento e Controle da Produção (PCP) remonta ao início do século XX, quando a indústria passou por transformações significativas devido à Revolução Industrial. Inicialmente, o foco da produção era na fabricação de produtos em massa, com produção contínua e pouca variação nos produtos. No entanto, à medida que as empresas cresceram e a complexidade da produção aumentou, surgiu a necessidade de uma abordagem mais sistemática, definindo uma estrutura hierárquica de decisões em função de um horizonte de tempo, para planejar e controlar a produção (Guerrini; Belhot; Júnior, 2014).

Os primeiros sistemas de planejamento e controle foram desenvolvidos e implementados na indústria manufatureira, especialmente na indústria automobilística, que desempenhou um papel fundamental em sua evolução. Um dos marcos históricos foi a introdução do Sistema Toyota de Produção (STP), no Japão, que revolucionou a abordagem de produção e influenciou fortemente seu desenvolvimento. Com o tempo, expandiu-se para várias outras indústrias, incluindo construção civil, serviços e tecnologia de informação (Guerrini; Belhot; Júnior, 2014).

Atualmente, esses sistemas desempenham um papel crucial na gestão de operações e no planejamento estratégico das organizações, permitindo o uso eficiente de recursos e a entrega de produtos e serviços de alta qualidade dentro de prazos e custos estabelecidos (Silva; Oliveira; Pinheiro, 2021).

3.1.2Ferramentas do Planejamento e Controle da Produção

O Planejamento e Controle da Produção é essencial na gestão de operações e processos, que envolve o desenvolvimento de planos detalhados para a produção de bens ou serviços e o monitoramento do cumprimento desses planos. Garantindo assim, maior eficiência nos três níveis hierárquicos da organização (Figura 1): planejamento estratégico (longo prazo), planejamento tático (médio prazo) e planejamento operacional (curto prazo) (Tubino, 2009).

Fonte: Adaptado de Tubino (2009).

Tubino (2009) ilustra um fluxograma de informações fundamentais para um processo produtivo (Figura 2), no qual no nível estratégico, o sistema de Planejamento e Controle da Produção contribui para a preparação do Planejamento Estratégico da Produção (estimativas de demanda de produção e recursos), criando um Plano de Produção; no tático, elabora-se o Planejamento-mestre da Produção (programação de suprimentos e recursos), construindo o Plano-mestre de Produção; e no operacional, desenvolve a Programação da Produção (gerenciamento de recursos) e executa o Acompanhamento e Controle da Produção (monitoramento das atividades), gerando um relatório de Avaliação de Desempenho. Dessa forma, a partir da elaboração e implantação desse sistema, pode-se reduzir as atividades desnecessárias e realizar um controle eficiente de todo o ciclo produtivo.

Fonte: Adaptado de Tubino (2009).

De acordo com Bernardes (2001), Costa (2016) e Guerrini; Belhot; Júnior (2014), dentre as técnicas para a preparação dos planos em sistemas de Planejamento e Controle da Produção, destacam-se (Quadro 1):

Verifica-se que a implementação desses recursos é essencial para assegurar que a produção seja realizada de maneira eficiente e dentro dos requisitos estabelecidos.

3.2Construção Enxuta (Lean Construction)

3.2.1 Origem e conceitos da filosofia Lean

Segundo Bueno (2021), após o reconhecimento mundial acerca da eficiência do Sistema Toyota de Produção (STP), durante a crise do petróleo de 1973, diversas indústrias de produção manufatureira buscaram compreender a filosofia enxuta (Lean) da empresa automobilística Toyota, cujo foco estava na identificação e eliminação de perdas, consequentes de superprodução, espera, transporte, processamento, estoque, movimento e/ou fabricação de produtos defeituosos (Quadro 2),  além de redução de custos, aumento da produtividade e resolução de problemas de maneira sistemática.

O modelo do Sistema Toyota de Produção (Figura 3), também conhecido como produção enxuta (Lean Manufacturing), teve como alicerce a total eliminação de desperdícios e atividades que não agregam valor ao produto, alinhado à dois pilares fundamentais, segundo Shingo (1996, apud Kopper, 2012): Just-in-Time (produção no momento exato) e Jidoka (automação com um toque humano). Proporcionando assim, uma maior lucratividade e um produto de menor custo, melhor qualidade e menor lead time (ciclo produtivo ou operacional).

Fonte: Adaptado de Shingo (1996) apud Silva; Oliveira; Pinheiro (2021).

O Quadro 3 apresenta uma análise comparativa entre as filosofias de produção convencional (modelo de conversão tradicional) e enxuta (modelo de fluxo de conversão), apresentada por Koskela (1994, apud Royer; Rosa; Netto, 2020).

Segundo Womack et al. (1992, pg. 3), a produção enxuta é “enxuta” por utilizar menos recursos em comparação com a produção em massa: metade do tempo, do esforço dos operários na fábrica, do espaço para fabricação, do investimento em ferramentas, das horas de planejamento para desenvolver novos produtos. Requer também menos da metade dos estoques atuais no local de fabricação, além de resultar em minimização dos defeitos e produzir uma maior e sempre crescente variedade de produtos (apud Bernardes, 2001).

Nesse âmbito, segundo Koskela (1992), surgiu o conceito de Construção Enxuta, também conhecido como Lean Construction, cuja a filosofia buscava minimizar desperdícios e maximizar a eficiência em todas as etapas de um projeto, com a aplicação e adaptação das técnicas do pensamento enxuto na gestão dos processos da construção civil.

3.2.2 Princípios da Construção Enxuta

O autor finlandês, Lauri Koskela, desempenhou um papel fundamental na adaptação e disseminação dos princípios Lean (pensamento enxuto) à indústria da construção civil. Em sua publicação pioneira, em 1992, desenvolveu onze princípios para serem aplicados no fluxo total do processo e seus subprocessos, tornando-os mais eficientes, ágeis e econômicos: redução das atividades que não agregam valor; aumento do valor do produto através das considerações sistemáticas das necessidades dos clientes; redução da variabilidade; redução do tempo de ciclo; simplificação através da minimização do número de etapas; aumento da flexibilidade na execução do produto; aumento da transparência do processo; foco no controle sobre o processo completo; promoção da melhoria contínua do processo; balanceamento entre melhoria nos fluxos e nas conversões; e Benchmark (referenciais relevantes).

3.2.3Ferramentas da Construção Enxuta

Segundo Bueno (2021), Ferreira; Fiuza; Oliveira (2020) e Segui (2021), a metodologia Construção Enxuta utiliza várias técnicas e ferramentas para melhorar a eficiência e a qualidade nos projetos de construção, dentre elas (Quadro 4):

Salienta-se que essas ferramentas devem ser aplicadas de acordo com as necessidades específicas de cada projeto, mantendo seu objetivo principal: eliminação de desperdícios, melhorias na eficiência e qualidade, e entrega de maior valor ao cliente.

3.3Gestão da Qualidade

3.3.1 Origem e conceitos da Gestão da Qualidade

O conceito de Controle de Qualidade Total (Total Quality Control – TQC) também está diretamente relacionado à evolução da indústria, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial, quando surgiu a necessidade de melhorar a qualidade dos produtos, implementando programas de certificação de fornecedores e desenvolvendo técnicas de análise de falhas (Mello, 2011).

Segundo Crosby (1990, p. 37), “A gerência de qualidade é um meio sistemático de garantir que as atividades organizadas aconteçam segundo o planejado. É uma disciplina da gerência que diz respeito à prevenção de problemas, criando as atitudes e controles que possibilitam a prevenção” (apud Mello, 2011).

 O desenvolvimento da nova filosofia gerencial, Gestão da Qualidade Total (Total Quality Management – TQM), envolveu uma mudança de foco da inspeção e detecção à prevenção de defeitos, melhoria contínua e à criação de uma cultura de qualidade nas organizações, desempenhando assim, um papel fundamental na melhoria da qualidade de produtos e serviços, na satisfação do cliente e na competitividade das empresas em um mercado global (Oliveira et al., 2011).

3.3.2 Princípios da Gestão da Qualidade

A Gestão da Qualidade Total dispõe de uma abordagem holística, isto é, que engloba todos os aspectos de uma organização, e enfatiza a qualidade em todos os processos, produtos e interações, abrangendo as seis dimensões da Qualidade: qualidade intrínseca do produto ou serviço, custo ou preço, atendimento ou prazo, moral, ética e, segurança do cliente e das pessoas da organização (Longo, 1996).

Nesse contexto, segundo Jesus (2011), Normas e Certificações foram desenvolvidas para estabelecer diretrizes e padrões para assegurar que produtos e serviços atendessem a critérios desejáveis, como a criação da Organização Internacional de Normalização (International Organization for Standardization – ISO). Sendo a mais reconhecida a família NBR ISO 9000:2000 e, em especial a NBR ISO 9004:2000, que preconizou oito pilares principais da Gestão da Qualidade (Quadro 5):

3.3.3Ferramentas da Gestão da Qualidade

O uso de ferramentas de Gestão da Qualidade tem como objetivo ajudar as organizações a planejar, analisar, melhorar e monitorar processos, para alcançar padrões de qualidade desejados e satisfazer as expectativas dos clientes. De acordo com Mello (2011) e Oliveira et al. (2011), dentre suas principais ferramentas, temos (Quadro 6):

Nota-se que a adoção dessas metodologias da Gestão da Qualidade pode contribuir para o aumento da confiabilidade e melhoria dos processos construtivos, reduzindo os erros e retrabalhos, garantindo uma maior conformidade com as especificações técnicas e, assim, contribuindo para a satisfação do cliente final.

4.RESULTADOS E DISCUSSÃO

Desde o período de reconstrução pós Segunda Guerra Mundial, principalmente com a introdução do Sistema Toyota de Produção, diversas filosofias e metodologias foram estruturadas para garantir uma eficiência operacional e uma melhoria de processos nas organizações. Nesse contexto, surgiram os princípios e ferramentas do Planejamento e Controle da Produção, Construção Enxuta e Gestão da Qualidade (Bernardes, 2001).

Embora essas filosofias possuam um conjunto de técnicas específicas, todas compartilham de uma abordagem focada em padronização e otimização de processos, melhoria contínua, redução de custos e/ou retrabalhos e a busca por melhores resultados, em termos de eficiência, qualidade e satisfação do cliente. Dessa forma, costuma-se observar as organizações integrando essas ferramentas para alcançar um desempenho operacional superior e se destacar no mercado de trabalho competitivo (Bueno, 2021).

No âmbito da construção civil, é possível sintetizar essas metodologias a fim de criar um canteiro de obras mais produtivo e organizado, finalizando os serviços de modo mais seguro e dentro do cronograma proposto, eliminando os desperdícios de materiais e insumos, identificando previamente possíveis falhas de projeto e elevando a qualidade do serviço a ser entregue ao cliente.

Um estudo desenvolvido por Bernardes (2001), nas cidades de Porto Alegre-RS, Canoas-RS e Santa Maria-RS, observou-se as deficiências existentes nos sistemas de planejamento e controle da produção em dez micro e pequenas empresas de construção civil. A partir dessas deficiências, pôde-se propor um conjunto de diretrizes básicas para melhoria dos sistemas dessas empresas, conforme apresentadas no Quadro 7:

Durante o estudo, avaliou-se a implementação de melhorias nesses sistemas a partir de um modelo básico de Planejamento e Controle da Produção (PCP), de ferramentas de apoio, como o Método do Caminho Crítico (Critical Path Method – CPM), Linha de Balanço e Diagrama de Gantt, e de conceitos e princípios da Construção Enxuta, essencial para a redução de desperdícios existentes na indústria da construção. Bernardes (2001) também constatou a necessidade de compreensão e treinamento por parte dos funcionários participantes, de modo a garantir maior eficácia na implementação e adequação dos modelos propostos às necessidades específicas das empresas.

Oliveira et al. (2016), em um estudo realizado em uma construtora em Santa Maria-RS, realizou um diagnóstico do processo produtivo de um empreendimento em fase de construção, evidenciando a falta de planejamento, controle e fiscalização das atividades desenvolvidas, desorganização e movimentação inadequada dos recursos no canteiro de obras, descarte incorreto dos resíduos, alto índice de riscos à integridade física dos funcionários e erros na concepção do projetos (retrabalhos), afetando assim, a produtividade e os custos da obra.

Com base nos princípios e ferramentas da Construção Enxuta, Oliveira et al. (2016) sugeriu melhorias para aprimorar os sistemas dessa construtora, por meio de: mapeamento dos seus processos, de forma sistêmica (Mapa de Fluxo de Valor – Value Stream Mapping); visão estratégica de planejamento e definição de metas (5W2H); análise de logística e alocação eficiente de recursos, auxiliando no fluxo padronizado de pessoas, materiais e informações (Metodologia 5S); e implementação de uma cultura gerencial estruturada em melhoria contínua de processos e fluxos dentro do canteiro de obra (Kaizen).

Cruz (2018) propôs melhorias no fluxo de atividades no canteiro de obras em Florianópolis-SC, por meio da implementação de um sistema de Gestão da Qualidade, sob o ponto de vista das três empresas envolvidas no processo construtivo (contratante, fiscalizadora e executora). Durante o estudo, percebeu-se a importância da interação tripartite para a construção eficiente do empreendimento em questão, seguindo as orientações das Normas Regulamentadoras (NRs), acompanhando o cronograma físico/financeiro e a execução adequada das atividades a serem desenvolvidas.

Entretanto, Cruz (2018) destacou alguns problemas organizacionais e gestacionais existentes nesse canteiro de obra, relacionados a: descartes inadequados e estocagens em excesso de diversos materiais, como madeiras, painéis, aços, cimentos e tubulações em PVC; desorganização do ambiente de almoxarifado; reutilização indevida de material, como o reuso de argamassa de reboco, em determinadas situações; e descuidos que poderiam gerar retrabalhos.

Dessa forma, o estudo também apresentou algumas ferramentas essenciais para maior qualidade nos processos de gestão dessa construção, como: ciclo PDCA, para definição dos procedimentos e melhoria contínua; Diagrama de Causa e Efeito (ou Diagrama de Ishikawa), para detecção e priorização de problemas, possibilitando um plano de ação mais objetivo e eficaz; e método 5W2H, para definição dos planos de ação, afim de solucionar os problemas priorizados.

Além disso, a partir dessas ferramentas, Cruz (2018) enfatizou a importância de implementação da Metodologia 5S no fluxo de trabalho, visto estabelecer métodos para utilização, organização, limpeza, padronização e disciplina no canteiro de obras, promovendo, principalmente a melhoria do layout na obra, melhor disposição de recursos, treinamento e desenvolvimento de habilidades dos trabalhadores, diminuição de retrabalhos e desperdícios e conscientização de todos os envolvidos no processo construtivo, resultando assim, em uma sequência de atividades bem-sucedidas e maior produtividade na construção civil.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que a conscientização e comprometimento de todos os níveis hierárquicos da organização, desde a diretoria ao operacional, trabalhando em equipe, são características essenciais na introdução dos princípios e ferramentas de Planejamento e Controle da Produção (PCP), Construção Enxuta (Lean Construction) e Gestão da Qualidade na indústria da construção civil, proporcionando benefícios econômicos, sociais e ambientais.

Uma gestão estratégica, sistematizada e fundamentada nessas filosofias, contribui para uma cultura organizacional de melhoria contínua e otimização de processos e fluxos (“enxutos”) nos canteiros de obras, proporcionando eficiência operacional, conformidade com padrões e regulamentos estabelecidos, redução de custos, variabilidades e desperdícios em geral, maior produtividade, lucratividade e qualidade dos produtos e serviços, e assim, suprindo ou, até mesmo, superando as expectativas do cliente.

Em suma, compreende-se que essas metodologias quando utilizadas em conjunto podem potencializar significativamente o desempenho das empresas na indústria da construção civil, de modo a se manterem competitivas e em evidência nesse mercado em constante ascensão.

REFERÊNCIAS

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Artigo científico apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Engenharia Civil, da Faculdade de Ilhéus (Centro de Ensino Superior de Ilhéus – CESUPI), com a orientação do Prof. Felipe José Estrela Marinho.


1Discente do curso de Engenharia Civil da Faculdade de Ilhéus, Centro de Ensino Superior, Ilhéus, Bahia. E-mail: lilianelfmenezes@gmail.com
2Coordenador e docente do curso de Engenharia Civil da Faculdade de Ilhéus, Centro de Ensino Superior, Ilhéus, Bahia. E-mail: felipeestrela84@yahoo.com.br