CONSTRUÇÃO DE UMA TECNOLOGIA EDUCACIONAL COM EXERCÍCIOS DOMICILIARES PARA PACIENTES HEPÁTICOS NO PÓS-ALTA HOSPITALAR NA AMAZÔNIA

CONSTRUCTION OF AN EDUCATIONAL TECHNOLOGY WITH HOME EXERCISES FOR LIVER PATIENTS AFTER HOSPITAL DISCHARGE IN THE AMAZON

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10440531


Carlos Arthur da Silva Milhomem1
José Leonan Gomes Rodrigues1
Leonardo Breno do Nascimento Aviz2
Chadya Samia Soares Pacondes da Silva3
Angélica Homobono Machado4
George Alberto da Silva Dias5
Biatriz Araújo Cardoso Dias6


Resumo

Objetivo: Construir uma tecnologia educacional voltada para a orientação e promoção de saúde no pós-alta hospitalar de pacientes hepatopatas. Método: Este estudo metodológico de desenvolvimento de tecnologia educacional foi conduzido em três fases – diagnóstico situacional, revisão bibliográfica e construção da tecnologia – ao longo de janeiro a novembro de 2023. Resultados: O roteiro elaborado abordou temas essenciais relacionados às doenças hepáticas, enfocando o processo educativo sobre a condição e os exercícios pós-alta hospitalar. O conteúdo seguiu uma lógica que explorou conhecimentos fundamentais sobre doenças hepáticas, prevenção, sinais e sintomas, importância dos exercícios em casa, segurança domiciliar, sinais de alerta, e aplicação prática das orientações fornecidas pelo guia e pelo programa de exercícios. Conclusão: O guia representa uma ferramenta de tecnologia educacional em saúde projetada para atingir o público-alvo, visando promover a continuidade do tratamento pós-alta hospitalar de pacientes com doenças hepáticas. Sua abordagem busca capacitar os pacientes no autocuidado, fortalecendo seu empoderamento em relação à saúde.

Palavras-chave: Tecnologia Educacional. Serviço hospitalar de fisioterapia. Hepatopatias.

1 INTRODUÇÃO

O fígado, um componente essencial do sistema digestivo humano, desempenha um papel crucial nas atividades metabólicas do corpo. Suas funções abrangem o controle da glicose, a síntese e metabolização de proteínas, o processamento de drogas e hormônios, e atua também como uma glândula exócrina e endócrina (Gomes et al., 2019). É evidente que a integridade e o bom funcionamento desse órgão são importantes para a manutenção da homeostase corporal. Assim sendo, a pesquisa sobre as doenças que impactam essa estrutura é de grande relevância médica (Prudente et al., 2015).

As enfermidades associadas ao fígado têm origens diversas, sendo desencadeadas pelo consumo excessivo de álcool, efeito de fármacos, inflamação, necrose ou predisposição genética. Compreende-se que tais patologias podem manifestar-se inicialmente como uma condição aguda, evoluindo, em alguns casos, para uma forma crônica. Exemplos notáveis incluem as hepatites virais, como a Hepatite C (HCV) e a Hepatite B (HBV), juntamente com a Doença Hepática Alcoólica (DHA) e a Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) (LIMA, 2020). Independentemente da causa subjacente, a regeneração do tecido hepático frequentemente resulta em fibrose cicatricial, que em estágios avançados, pode levar à cirrose, representando assim um processo de cronificação (Cotrim, 2017).

As repercussões das doenças hepáticas exercem um impacto significativo no corpo humano. A conformação e estrutura do órgão sofrem alterações, resultando em disfunção hepatocelular e hipertensão portal, o que, por sua vez, afeta outros órgãos e sistemas corporais, desencadeando complicações e elevando o risco de morbidade e mortalidade. Nesse contexto, o sistema de saúde pública também enfrenta desafios, uma vez que o transplante emerge como a única abordagem de tratamento para estágios mais avançados dessas patologias (Prudente et al., 2015).

No Brasil, conforme apontado por Callado et al. (2019) em seu estudo, destaca-se que, embora tenha havido estabilidade no número de óbitos decorrentes de doenças hepáticas na região amazônica de 2007 a 2018, aproximadamente 2 milhões de mortes anuais têm origem em hepatopatias. Essa estatística ressalta a significativa contribuição das doenças hepáticas para a mortalidade e morbidade no país. Diante desse cenário, torna-se imperativa a presença de serviços de saúde capacitados para abordar de maneira eficaz a reabilitação e o tratamento de indivíduos com complicações hepáticas e em situação de risco.

Portanto, uma das estratégias adotadas para fornecer orientações e promover a saúde é o uso de Tecnologias Educacionais (TE), que podem ser definidas como instrumentos concebidos para facilitar a implementação de processos educativos. As Tecnologias Educacionais se revelam como ferramentas valiosas para fins informativos, incorporando a ludicidade e abordando temas como prevenção e combate. Seu propósito é instigar a reflexão e incentivar atividades de enfrentamento (Wild et al., 2019).

Assim, as tecnologias educacionais se apresentam como ferramentas claras e interativas que facilitam o cuidado, especialmente no âmbito dos cuidados pós-alta hospitalar de pacientes hepatopatas. Elas têm o potencial de minimizar as inseguranças e fornecer orientações cruciais no manejo desses indivíduos. Ao influenciar positivamente na adesão ao tratamento por parte do paciente, essas tecnologias possibilitam a continuidade do cuidado mesmo após a alta hospitalar (Silva et al., 2020; Maniva et al., 2018; Neiss, 2021; Salomé, 2020). Desta forma, o objetivo do presente estudo foi construir uma tecnologia educacional voltada para a orientação e promoção de saúde no pós-alta de pacientes hepatopatas.

2 ­METODOLOGIA

Para este estudo metodológico de desenvolvimento de tecnologia educacional, adotou-se como referencial teórico-metodológico os pressupostos de Pasquali (Medeiros et al., 2015), estruturados nos polos teórico, empírico e analítico. Nesta pesquisa, concentrou-se especificamente no polo teórico, dedicando à teorização sobre o construto de interesse. O estudo foi conduzido na Universidade do Estado do Pará, compreendendo três fases distintas: diagnóstico situacional, revisão narrativa e elaboração da tecnologia. O processo de construção da tecnologia educacional transcorreu ao longo do período compreendido entre janeiro e novembro de 2023.

Diagnóstico situacional

A ideia de desenvolver o guia nasceu a partir de observações feitas durante a prática clínica dos autores, que foi percebida, com a necessidade de se realizar orientação e promoção de saúde no pós-alta hospitalar de pacientes hepatopatas. Se tais procedimentos não forem executados, os pacientes não receberão o correto acompanhamento e orientações, podendo comprometer a saúde destes pacientes. Orientação e promoção de saúde sem comprovações científicas nem sempre tem resultados favoráveis. Assim, foi necessário proceder com uma revisão narrativa da literatura com o objetivo de identificar publicações relacionadas ao tema.

Revisão bibliográfica

Foi realizada uma revisão narrativa da literatura com o objetivo de identificar publicações relacionadas à temática e o aprofundamento do conteúdo abordado. A revisão da literatura se deu por meio das bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MedLine/PubMed) e portal Scientific Electronic Library Online (SciElo). Para a seleção dos artigos foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), com as palavras-chave controladas: Reabilitação Hospitalar; Hepatopatias; serviço hospitalar de fisioterapia e Tecnologia educacional, associados entre si utilizando o operador booleano AND. Para a seleção das publicações foram adotados como critérios de inclusão: apenas estudos primários que tenham ligação direta com a temática, estar disponível na íntegra, artigos originais e publicados entre 2015 e 2023, nos idiomas inglês, português e espanhol. Como critérios de exclusão: teses, dissertações, monografias e artigos que, após leitura do resumo, não se relacionam com o objeto de estudo proposto.

Construção da tecnologia

Após a definição dos temas a serem abordados, estes foram cuidadosamente desenvolvidos e organizados para a construção da tecnologia educacional, adotando a forma de um guia educativo. A escolha da linguagem foi pautada na priorização da acessibilidade e clareza, apresentando-se de maneira esquemática e ilustrativa. Essa abordagem visa facilitar de maneira significativa a compreensão do público-alvo, levando em consideração a realidade regional. É relevante destacar que a estruturação eficiente do conjunto de informações foi realizada por meio da plataforma online CANVA®, a qual oferece ferramentas para design gráfico e possibilita a criação de uma variedade de materiais visuais de forma intuitiva.

3 RESULTADOS

Após leitura dos artigos selecionados na revisão narrativa foram identificados os seguintes temas: pacientes hepáticos no pós-alta hospitalar e exercícios terapêuticos para o domicílio. Esse conjunto formou a categoria denominada “exercícios domiciliares para pacientes hepáticos no pós-alta hospitalar”. Com base na categoria, foram definidos os tópicos principais da primeira versão do guia estando presente na primeira parte do guia, sendo: o que são doenças hepáticas?, como prevenir?, sinais e sintomas, para que realizar exercícios em casa?, segurança em casa e sinais de alerta, seguindo as orientações do guia.

Já na segunda parte do guia, passando para a etapa da prescrição dos exercícios, encontra-se a explicação do funcionamento e orientações para a realização dos exercícios no tópico do Programa de exercícios, em seguida, dá-se início a fase 1 do programa de exercícios, onde encontra-se a tabela com a prescrição dos exercícios, dividido por dias da semana, contendo o nome de cada exercício, séries e repetições. A fase 1 é composta por 4 semanas e caracterizada pela cor verde. E, por compor a fase inicial do guia, trata-se de um período de preparação do corpo, iniciando assim o ganho de resistência física, preparando o paciente para a fase 2 do guia. Nesta fase, os objetivos são: adaptação física aos novos estímulos; aumento da mobilidade articular; manutenção da capacidade física, aumento do condicionamento cardiorrespiratório e ganho de massa muscular.

 Já a fase 2, é composta por 5 semanas (semana 5 a 9) e caracterizada pela cor laranjada, dando continuidade ao programa de exercícios. No entanto, após o período de adaptação, a segunda fase do guia visa o fortalecimento do corpo como um todo, iniciando assim o ganho de força pelas estruturas previamente trabalhadas. Os objetivos dessa fase visam a manutenção e progressão dos objetivos anteriores, com o acréscimo do ganho de força muscular globalmente.

O desenvolvimento do guia transcorreu por duas fases distintas: a criação do roteiro, envolvendo a elaboração da fundamentação teórica do seu conteúdo, e a etapa de design propriamente dita. A estrutura do guia educativo segue uma lógica que abrange conhecimentos essenciais sobre doenças hepáticas, prevenção, sinais e sintomas, a importância dos exercícios em casa, segurança domiciliar, sinais de alerta e a aplicação prática das orientações fornecidas pelo guia e pelo programa de exercícios.

Novamente, o programa de exercícios é diferenciado por cores em cada fase, apresentando explicações gerais sobre a sistematização dos exercícios, uma tabela com prescrições específicas no início de cada semana e, páginas subsequentes contendo imagens instrutivas com descrições detalhadas e orientações precisas quanto à quantidade adequada de séries e repetições.

Durante a construção do guia, optou-se por uma linguagem clara e objetiva, visando a fácil compreensão do seu conteúdo, para que, caso o paciente não possua a capacidade de leitura, o familiar possa ser orientado sobre o funcionamento do guia e realização dos exercícios, sendo um intermediador entre os profissionais e o paciente.   

 A versão final do guia educativo, intitulado “Guia de exercícios terapêuticos pós-alta hospitalar para doenças hepáticas: orientações fisioterapêuticas para pacientes com doenças hepáticas”, é composta por 74 páginas, englobando capa, contracapa, apresentação, sumário, 9 capítulos com tópicos principais e de cada fase e semana do guia, incluindo imagens dos exercícios realizadas pelos próprios autores, além de uma tabela de frequência e referências consultadas (Figura 1).

É válido ressaltar que o guia de exercícios poderá ser disponibilizado de forma impressa e/ou digital, como forma de democratizar o acesso a essa tecnologia educacional, proporcionando maior facilidade na adesão e utilização da mesma.

FIGURA 1 – Ilustrações representativas do “Guia de exercícios terapêuticos pós-alta hospitalar para doenças hepáticas: orientações fisioterapêuticas para pacientes com doenças hepáticas”, Belém, Pará, 2023.

O guia apresenta licenças de direito autoral no Creative Commons e foi registrado pela Biblioteca da Universidade do Estado do Pará (UEPA), apresentando uma ficha catalográfica com o Internacional Standard Book Number.

4 DISCUSSÃO

A elaboração de tecnologias educacionais, como cartilhas, guias, manuais ou protocolos, é fundamentada em estudos científicos, visando a viabilidade de sua implementação na prática clínica (Salomé, 2020). Nesse sentido, uma revisão de literatura foi essencial para compreender as repercussões provocadas por doenças hepáticas no organismo humano.

De forma geral, as implicações mais agudas da doença hepática manifestam-se de maneira sistêmica, incluindo desconforto respiratório, distúrbios circulatórios e metabólicos, resultando, consequentemente, no agravamento do quadro clínico e elevado risco de morbidade e mortalidade. Contudo, a comprometimento da capacidade física e funcional ocorre devido às disfunções associadas ao processo patológico residual, após a melhora do quadro clínico agudo, destacando-se principalmente a perda de massa e função muscular. Para enfrentar esse tipo de desafio, torna-se imperativo adotar práticas contínuas de hábitos saudáveis, como a realização de atividades físicas (Rahimi; Rockey, 2011).

Nesse contexto, o desenvolvimento deste guia pode funcionar como uma ferramenta essencial para apoiar e manter a continuidade dos cuidados ao indivíduo, possibilitando a implementação de uma abordagem integral à saúde. Para tanto, a TE procura amenizar algumas das vulnerabilidades enfrentadas pelo sistema de saúde público brasileiro, como a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, que podem ser compreendidas por limites de natureza estrutural, sociocultural e político no contexto amazônico (Guimarães, 2020; Viegas, 2021).

No âmbito estrutural, a falta de infraestrutura e escassez de recursos financeiros acabam negligenciando as necessidades da população, além de dificultar o acesso a esses serviços. Nesse sentido, o contexto amazônico mostra-se como um dos ambientes mais desafiadores, tanto por extensão territorial, como pela baixa estrutura para o cuidado em saúde, necessitando assim, buscar novas estratégias que permitam a continuidade do cuidado e a atenção integral em saúde para serem inseridos em contextos desafiadores (Guimarães, 2020; Viegas, 2021).

No âmbito social e cultural, os limites estão relacionados à situação desfavorável que vivem as populações rural e amazônica. Historicamente, tais populações muitas vezes encontram-se destituídas de condições que possibilitem o acesso à educação, saúde, água potável e saneamento básico. Além disso, o baixo nível econômico desse grupo ainda gera grandes impactos negativos, quando consideradas as distancias para acessar os serviços de saúde, que se localizam majoritariamente em centros urbanos, gerando altos custos de deslocamento, além da necessidade básica de hospedagem e alimentação de quem não possui moradia na zona urbana (Guimarães, 2020; Viegas, 2021).

No âmbito político, esses limites estão relacionados a decisões políticas que impedem o desenvolvimento do SUS, principalmente na área amazônica. O SUS ainda é um sistema subfinanciado e desvalorizado, o que dificulta sua consolidação. Além disso, existem interesses políticos que impedem a implementação de políticas públicas eficazes e mudanças necessárias para o seu fortalecimento, traduzido em redução de investimentos e aumento das desigualdades socioeconômicas e de acesso a saúde (Guimarães, 2020).

A relevância desta tecnologia educacional se destaca, sobretudo, no momento da alta hospitalar. Nesse período, o paciente encontra-se particularmente vulnerável a diversos riscos, como a falta de orientação e preparação para o autocuidado, a ausência de acesso a profissionais de saúde ou informações sobre seu plano de cuidado, especialmente diante de dúvidas emergentes sobre o processo de cuidado. Outras questões incluem a descontinuidade do tratamento, transferência inadequada ou incompleta de informações e a ausência de um sistema integrado e eficaz para facilitar a comunicação entre paciente e serviço hospitalar (Marques, 2014).

É importante destacar que, frequentemente, os hospitais não oferecem acompanhamento imediato após a alta, no domicílio do paciente, até seu retorno ao acompanhamento ambulatorial. A falta de um acompanhamento adequado após a alta, sendo por questões, como distância de moradia dos centros de saúde e/ou financeiras, é identificada como uma das principais causas do comprometimento da segurança dos pacientes durante a fase vulnerável da transição de cuidados (Marques, 2014).

Além disso, compreende-se que durante o processo de hospitalização, além dos efeitos da doença hepática, o paciente enfrenta o risco de perda de mobilidade, autonomia e independência, o que impacta negativamente em sua capacidade funcional (Bordin et al., 2020). Estudos indicam que apenas sete dias de repouso na cama podem resultar em uma redução de 30% na força muscular, com uma perda adicional de 20% a cada semana subsequente (De Sousa Leite et al., 2022).

Diante desse cenário, torna-se crucial a prática regular de atividades físicas, principalmente para preservar a mobilidade e, consequentemente, a capacidade funcional do paciente (De Sousa Leite et al., 2022). No entanto, observa-se uma carência na literatura científica no que diz respeito a orientações e recomendações para a prescrição da dosagem ideal de exercícios físicos destinados a esse grupo específico, levando em consideração as condições clínicas, fisiológicas e funcionais individuais.

Dessa forma, adotou-se como referência para a prescrição de exercícios o Physical Activity Guidelines for Americans, publicado pelo American College of Sports Medicine – ACSM, que preconiza uma atividade física mínima de 150 minutos por semana para adultos. Nesse contexto, a prática de atividades de intensidade moderada nessa quantidade demonstra oferecer ao paciente benefícios como uma melhora na função cognitiva, níveis reduzidos de ansiedade, maior desempenho nas atividades de vida diária, diminuição da fadiga muscular, aumento da mobilidade, abrangendo tanto homens quanto mulheres de diversas raças e etnias (Piercy, 2018).

A elaboração do guia alinhou-se às estratégias divulgadas e utilizadas para promover uma transição de cuidados eficaz durante a alta hospitalar. Evidências indicam que intervenções específicas, principalmente aquelas que incorporam componentes educacionais e combinam intervenções pré e pós-alta, podem ter um impacto positivo na segurança do paciente (Mistiaen et al., 2007).

No entanto, a efetividade das ações educativas depende de vários fatores, incluindo a utilização de materiais didáticos que facilitem a transmissão e compreensão das informações. Uma abordagem essencial para atingir os objetivos da promoção da saúde é a utilização de materiais educativos impressos, que têm demonstrado resultados eficazes na interação com os participantes das atividades educativas. A contribuição desses materiais para a promoção da saúde está intrinsecamente ligada aos princípios e às formas de comunicação envolvidos nos processos de elaboração (Reberte et al., 2012; Martins et al., 2020).

Nesse contexto, uma tecnologia educacional na forma de um guia educativo é um método eficaz para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem na área da saúde e na prática clínica dos profissionais, aumentando a autonomia e permitindo condutas clínicas mais eficientes (Salomé, 2020). Ao oferecer um material de qualidade com adequada legibilidade, os guias têm o potencial de ampliar o conhecimento do leitor sobre o assunto abordado, desenvolvendo sua adesão, atitudes e autonomia em relação à compreensão de como suas ações impactam diretamente o padrão de saúde e a realidade em que estão inseridos (Martins et al., 2020).

Nesse contexto, o material educativo no formato impresso é de fácil manuseio e pode ser levado para o domicílio, fortalecendo as orientações e esclarecendo dúvidas sempre que necessário (Salomé, 2020). A qualidade do guia, assim como a adequação da linguagem e das ilustrações, são aspectos considerados relevantes. Portanto, um material educativo de alta qualidade requer informações confiáveis e o uso de vocabulário claro e acessível para permitir fácil entendimento do seu conteúdo, tanto para o paciente como para um familiar e/ou responsável (Reberte et al., 2012).

Dessa forma, o guia desenvolvido teve como propósito orientar o paciente hepatopata, além de instruir também os familiares, cuidadores e/ou responsáveis no âmbito do pós-alta hospitalar, proporcionando uma assistência prática, segura e sistematizada para manter os ganhos ambulatoriais obtidos ainda no hospital. Isso permite que o paciente prossiga com seu tratamento, mantendo um nível de atividade física adequado às suas capacidades físicas e participando como protagonista do seu cuidado em saúde.

Embora haja poucos estudos difundidos sobre a prática de atividades físicas para doenças hepáticas em geral, é reconhecido que qualquer pessoa, independentemente de patologias, precisa realizar alguma atividade para se tornar mais ativa, mesmo que seja dedicar mais tempo do dia a ficar em pé e menos tempo sentado. A prática de qualquer nível de atividade física, de moderada a intensa, já traz benefícios para a saúde (Piercy, 2018).

É importante destacar como limitação deste estudo o fato do guia não ter sido validado por profissionais competentes nem pelo público-alvo. No entanto, novos estudos podem ser realizados para preencher essa lacuna e buscar validação junto aos destinatários do guia.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O “Guia de exercícios terapêuticos pós-alta hospitalar para doenças hepáticas: orientações fisioterapêuticas para pacientes com doenças hepáticas” apresenta-se como uma ferramenta de tecnologia educacional em saúde capaz de alcançar o público-alvo por meio de uma linguagem acessível, proporcionando a continuidade do tratamento após a alta hospitalar de pacientes com doenças hepáticas e promovendo o cuidado integral em saúde. Este material inovador no ensino do autocuidado para esse grupo específico também pode ser uma valiosa ferramenta para profissionais de saúde, facilitando a instrumentalização e a prática da assistência continuada em saúde.

Vale ressaltar que a adequação do “Guia de exercícios terapêuticos pós-alta hospitalar para doenças hepáticas: orientações fisioterapêuticas para pacientes com doenças hepáticas” à região em que foi concebido é particularmente significativa, considerando que os usuários frequentemente enfrentam dificuldades de acesso a centros de saúde, residindo, muitas vezes, em municípios distantes dos centros urbanos. Essa característica reforça a importância do material como uma ferramenta versátil e de grande utilidade para promover a autonomia na gestão da saúde, não apenas para os pacientes, mas também para os profissionais que atuam em contextos desafiadores.

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1 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará, Campus II. e-mail: carlos.milhomem@aluno.uepa.br;

1 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará, Campus II. e-mail: jose.rodrigues@aluno.uepa.br;

2 Fisioterapeuta, Mestre em Ciências do Movimento Humano. e-mail: leoofisio@gmail.com

3 Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva. e-mail: chadyasamia@gmail.com

4 Fisioterapeuta, Doutora em Ciências Sociais, na Área de Antropologia da Saúde pela Universidade Federal do Pará (PPGCS/UFPA). e-mail: angelica.homobono@uepa.br

5 Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará, Campus II. Doutor em Doenças Tropicais pelo Núcleo de Medicina Tropical (PPGDT/ UFPA). e-mail: george@uepa.br  

6 Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará, Campus II. Doutora em Ciências pelo Programa de Medicina Tropical/IOC/FIOCRUZ/RJ. e-mail: biatriz.cardoso@uepa.br