INTESTINAL CONSTIPATION ASSOCIATED WITH INCREASE CARDIOVASCULAR RISK
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10965941
Amanda Batista Barrêto1; Eryclys Abreu de Lira2; Flávio Lima Silva3; Guilherme Almeida Barbosa4; Joaquim Fernandes de Sousa Neto5; Maria Eduarda Mulato do Vale6; Mateus Andrade Ferreira7; Rafael Pereira Duarte8; Sabrina Lima Leal9; Marta Lígia Vieira Melo10
Resumo
As Doenças Cardiovasculares (DCVs) são patologias que afetam a integridade do coração e dos vasos sanguíneos e, por sua evolução silenciosa e gradual, geram uma alta morbimortalidade dos pacientes afetados. A constipação intestinal, por sua vez, é a condição em que há a diminuição da frequência de evacuações ou a mudança dos hábitos intestinais preexistentes secundária ao estilo de vida. Por serem patologias que possuem fatores de risco em comum, objetiva-se, nesta revisão, analisar, através da literatura, a correlação entre elas, de modo a elucidar a possível influência da constipação intestinal na saúde cardiovascular. Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada em novembro de 2023, com a análise de artigos científicos publicados nos periódicos indexados na base de dados MEDLINE, disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizados os descritores em ciência da saúde “Constipation” e “Cardiovascular Risk” e o operador booleano AND foi usado para cruzamento entre os termos. Ao final, 12 estudos foram incluídos nesta revisão. Após a leitura dos artigos, observou-se uma estreita relação entre constipação e risco cardiovascular, influenciada pelo gênero, peso, raça e faixa etária, relatando-se, principalmente, o aumento da pressão arterial, a progressão da aterosclerose, a fibrilação atrial, o tromboembolismo venoso, a insuficiência cardíaca e o infarto agudo do miocárdio. Ressalta-se, portanto, a importância da análise desta problemática para a saúde pública, de modo que a indicação de medidas terapêutico-medicamentosas e dietéticas que o amenizem tornam-se cada vez mais essenciais, a fim de evitar em mais populações desfechos cardiovasculares ligados à constipação.
Palavras-chave: Constipação. Risco cardiovascular. Associação.
1. INTRODUÇÃO
As Doenças Cardiovasculares (DCVs) englobam o grupo de patologias que afetam o coração e vasos sanguíneos ou que são causadas por um suprimento sanguíneo inadequado. Está entre as maiores causas de morte no mundo e, em muitos casos, a evolução insidiosa e a limitada prevenção primária e secundária expõem os pacientes a complicações e desfechos negativos, gerando graves consequências sociais e clínicas. Fatores genéticos e ambientais são responsáveis pelo surgimento e pela progressão do quadro, e ao identificá-los, novas formas de reduzir a crescente incidência dessas doenças podem surgir. (EVANS et al., 2020)
Dentre os principais fatores de risco identificados para desenvolvimento e agravo das DCVs pode-se citar a constipação intestinal. Ela é definida como a diminuição na frequência de evacuações, fezes duras ou distúrbio de defecação derivado do estilo de vida (estresse e dietas pouco saudáveis), está relacionada como fator de risco para ocorrência de diferentes doenças crônicas, chegando a estar presente em até 50% dos pacientes com patologias cardíacas (NISHITANI-YOKOYAMA et al., 2021).
Considerada um dos distúrbios gastrointestinais mais comuns na população, cujo principal mecanismo fisiopatológico é a modificação da microbiota intestinal, a constipação gera o aumento de respostas inflamatórias, visto pelo aumento de biomarcadores inflamatórios, supressão imunológica e danos aos ácidos nucléicos do indivíduo (SUNDBØLL et al., 2020)
Os fatores de risco que aumentam as chances de desenvolver ambas as patologias devem ser levados em consideração, a exemplo do uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), diabetes mellitus (DM), sedentarismo, depressão e uma dieta deficiente de fibras e água. Em uma análise mais específica percebeu-se que o envelhecimento é um dos principais mecanismos de correlação produzido pelo surgimento de eventos cardiovasculares relacionados à constipação (ISHYIAMA et al., 2019; ZHENG et al., 2020).
A constipação intestinal, embora seja relatada como uma patologia benigna e quase sempre autolimitada, quando cronificada, apresenta maior propensão a desenvolver hipertensão e outros eventos cardiovasculares, como fibrilação atrial, infarto do miocárdio (IAM), angina e acidente vascular cerebral, tendo efeitos negativos sobre a qualidade de vida dos acometidos. (JUDKINS et al, 2023).
Considerando a alta taxa de morbimortalidade por doenças cardiovasculares e a possível influência da constipação intestinal na saúde cardiovascular, esta revisão objetiva elucidar, na literatura, a existência da relação entre essas patologias, justificando-se pela necessidade de identificar os fatores de risco para o desenvolvimento das DCVs, a fim de planejar melhor as formas de prevenção e as estratégias terapêuticas para garantir uma melhor qualidade de vida para a população.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada no mês de novembro de 2023, a partir de um levantamento bibliográfico de artigos científicos publicados nos periódicos indexados na base de dados MEDLINE disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizados como descritores em ciência da saúde: “Constipation” e “Cardiovascular Risk”. O operador booleano AND foi usado para cruzamento entre os termos.
Ao total foram encontrados 64 estudos na MEDLINE por meio da estratégia de busca. Os critérios de inclusão foram: artigos completos gratuitos, publicados no período de 2018 a 2023, na língua portuguesa, inglesa ou espanhola. Foram excluídas teses, dissertações, cartas ao editor.
Após aplicação dos critérios de elegibilidade, a análise dos resultados foi feita, inicialmente, por meio dos títulos e resumos dos artigos, excluindo-se 47 publicações por título e 7 por resumo. Aqueles selecionados foram, então, submetidos à leitura completa e 2 estudos foram identificados por meio de busca manual na seção de referência dos artigos. A avaliação final resultou em 12 estudos para elaboração da presente revisão.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A constipação foi relacionada com aumento da pressão arterial, progressão da aterosclerose, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca, envolvidos por meio de um estresse oxidativo e características próprias de cada doença. Ademais, a interferência da obstipação no aumento do risco cardiovascular e da mortalidade por DCVs pode ser influenciada pelo gênero, peso, raça e faixa etária, principalmente nos casos crônicos. (JUDKINS et al., 2023)
Os achados do estudo de Peng et al. (2022), realizado em pacientes com constipação crônica, demonstraram que há maior risco de mortalidade cardiovascular em mulheres, obesos, brancos não-hispânicos e em pacientes que desenvolveram constipação crônica antes dos 60 anos de idade. A interação mais significativa da constipação com a mortalidade por DCV foi em relação ao IMC elevado.
O estudo de Ishiyama et al. (2019) mostrou que idosos sofreram um sensível aumento de pressão arterial imediatamente antes e durante a defecação, o que não foi visto em pacientes jovens. O mecanismo pelo qual essa diferenciação ocorre não é completamente explicado, porém, considera-se o natural risco aumentado de DCVs pelas alterações fisiológicas da senilidade associado à diminuição da motilidade intestinal, ocorre um aumento do tempo que o alimento passa sobre a superfície absortiva duodenal, gerando uma hiperabsorção de gorduras e sódio, que são precursores da formação de placas ateroscleróticas, dislipidemia e elevação da pressão arterial.
Elementos presentes no processo de constipação, como o ato de prender a respiração ligado a tensão para conseguir evacuar, semelhante à Manobra de Valsalva, e o estresse psicológico advindo do quadro causam grande aumento da pressão arterial momentânea. Esse processo é responsável por alterações na circulação, eventos hemorrágicos e arrítmicos, que podem ser fatais, principalmente em idosos com hipertensão pregressa. (YAMAMOTO et al., 2023)
Uma das principais causas de constipação intestinal é a dieta inadequada. A alta ingestão de gorduras e baixo consumo de pré e probióticos é um dos fatores que afetam o potencial inflamatório do corpo, visto pelo aumento do índice inflamatório dietético (DII), que avalia especificamente fatores dietéticos pró e anti-inflamatórios, e pelo aumento da proteína C Reativa (PCR). Ocorre a formação de um ambiente com metabólitos proteicos e resíduos de ácidos biliares desconjugados que comprometem a permeabilidade da mucosa intestinal e as respostas imunológicas do organismo, que possuem função na ocorrência e progressão das principais doenças cardiovasculares. (ZHANG et al., 2020)
A composição da flora intestinal impacta na extração dos nutrientes dos alimentos ingeridos, fornecendo ao metabolismo sua base para gerar os sinais biológicos e sistêmicos ao corpo. Esse cenário inflamatório pode gerar disbiose intestinal – desequilíbrio bacteriano da flora habitual –, atuando como contribuinte para o crescimento dos níveis de inflamações sistêmicas e do risco cardiovascular. (DONG et al., 2023).
O estudo de Sumida et al. (2019) mostrou a constipação como fator de risco para doença cardiovascular aterosclerótica, apresentando riscos mais elevados de mortalidade, doença coronariana e acidente vascular cerebral isquêmico. Da mesma forma, o estudo de Sundboll et al. (2020) relatou associação com risco aumentado de tromboembolismo venoso, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, infarto agudo do miocárdio e doença arterial periférica, principalmente no primeiro ano após o início da constipação.
Distúrbios na microbiota intestinal causam rigidez dos vasos e aumento da pressão arterial, predispondo a doenças ateroscleróticas e insuficiência cardíaca. Esse fato ocorre devido ao aumento do tempo de trânsito intestinal necessário para digestão dos alimentos, levando a maior translocação de citocinas pró-inflamatórias produzidas pelas bactérias intestinais, causando aumento das respostas inflamatórias e estresse oxidativo que contribui para o desenvolvimento da aterosclerose. (JING et al., 2023)
Por outro lado, algumas doenças cardiovasculares também foram vistas como fatores de risco para o desenvolvimento da constipação intestinal, gerando uma piora do quadro global do paciente. No tratamento da insuficiência cardíaca (IC), frequentemente há necessidade de uma menor ingesta de líquidos e, muitas vezes, o uso de diuréticos e bloqueadores de canais de cálcio podem promover comprometimento do peristaltismo, anormalidades na permeabilidade intestinal, endurecimento das fezes e dificultar o processo de evacuação, levando ao surgimento da constipação e piora do quadro clínico dos pacientes que a desenvolveram. (HAYASHI et al., 2018).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento, progressão e mortalidade de doenças cardiovasculares é propiciado pela constipação intestinal, especialmente: aterosclerose, tromboembolismo venoso, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, infarto agudo do miocárdio e doença arterial periférica, principalmente no primeiro ano após o início da constipação. Os principais fatores de risco envolvidos são: gênero, idade, índice de massa corporal, cronicidade da obstipação, tensão ao evacuar, estresse psicológico, dieta e influência de outros tratamentos na evacuação, que devem ser considerados no manejo e prevenção dos casos.
A elevação da pressão arterial durante o ato de evacuar em constipados, principalmente em idosos, foi o principal mecanismo relacionado ao desfecho cardiovascular negativo, pois está amplamente atrelada com eventos hemorrágicos e arritmias. Além disso, entende-se que a adequada absorção de nutrientes pelo organismo depende do bom funcionamento da flora intestinal. Dessa forma, a constipação, como fator de desregulação da microbiota, gera desequilíbrios que podem contribuir para a multiplicação de citocinas pró-inflamatórias, o aumento da hipertensão sistêmica e, consequentemente, o maior risco de desenvolvimento de desfechos cardiovasculares.
Portanto, quaisquer associações da constipação feitas com doenças cardiovasculares tornam-se de grande interesse para a saúde pública. Evidências apontam que o risco para doenças cardiovasculares como fibrilação atrial, aterosclerose e AVC isquêmico são consequência direta ou indireta do problema gastrointestinal. Extrai-se que é uma questão que atinge cada vez mais populações e deve-se considerar fatores intrínsecos e extrínsecos a ela relacionados. Percebe-se, pois, que mais estudos precisam delinear mais especificamente esse problema, bem como indicar medidas terapêutico-medicamentosas e dietéticas que o amenizem.
REFERÊNCIAS
DONG, Q. et al. Constipation and cardiovascular disease: A two-sample Mendelian randomization analysis. Front Cardiovasc Med. 2023 Feb 24;10:1080982. Disponível em: https://ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9998987/. Acesso em: 27 nov. 2023.
EVANS M., SANS S., WALSH K. Cardiovascular Disease, Aging, and Clonal Hematopoiesis. AnnuRev.Pathol 2020; 15:419-438. doi:10.1146/annurev-pathmechdis-012419-032544. Acesso em: 02 mar. 2024.
HAYASHI, T. et al. Gut Microbiome and Plasma Microbiome-Related Metabolites in Patients With Decompensated and Compensated Heart Failure. Circ J. vol. 83, n. 1, p. 182-192. 2018. Disponível em: https://www.jstage.jst.go.jp/article/circj/83/1/83_CJ-18-0468/_article. Acesso em: 27 nov. 2023.
ISHIYAMA, Y. et al. Constipation‐induced pressor effects as triggers for cardiovascular events. The Journal of Clinical Hypertension, v. 21, n. 3, p. 421–425, 13 fev. 2019. Acesso em: 29 nov. 2023.
JING, L. et al. Alterations of gut microbiota are associated with blood pressure: a cross-sectional clinical trial in Northwestern China. J Transl Med. Vol: 21, N. 1; p. 429. 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10311887/. Acesso em: 27 nov. 2023.
JUDKINS, C. P. et al. Association of constipation with increased risk of hypertension and cardiovascular events in elderly Australian patients. Sci Rep. 2023 Jul 6;13(1):10943. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10326061/. Acesso em: 27 nov. 2023.
NISHITANI-YOKOYAMA, M. et al. Association Between Constipation and Frailty Components in Patients Undergoing Late Phase II Cardiac Rehabilitation. Cardiol Res. Vol. 12, n. 3, p. 169-176, 2021. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/mdl-34046111. Acesso em: 20 nov. 2023.
PENG, Y. et al. Association of abnormal bowel health with major chronic diseases and risk of mortality. Annals of Epidemiology. v. 75, p. 39–46, 1 nov. 2022. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1047279722002265?via%3Dihub. Acesso em 13 mar. 2024.
SUMIDA, K. et al. Constipation and risk of death and cardiovascular events. Atherosclerosis, v. 281, p. 114–120, 1 fev. 2019. Acesso em: 29 nov. 2023.
SUNDBØLL, J. et al. Constipation and risk of cardiovascular diseases: a Danish population-based matched cohort study. BMJ Open, vol. 10, n. 9, p. e037080, 2020. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/mdl-32873621. Acesso em: 20 nov. 2023.
YAMAMOTO, J. et al. “Relation between laxative use and risk of major bleeding in patients with atrial fibrillation and heart failure.” Heart and vessels vol. 38,7 (2023): 938-948. doi:10.1007/s00380-023-02249-6. Acesso em 13 mar. 2024.
ZHANG, C. et al. Meta-analysis of randomized controlled trials of the effects of probiotics on functional constipation in adults. Clinical Nutrition, v. 39, n. 10, p. 2960–2969, 1 out. 2020. doi: 10.1016/j.clnu.2020.01.005. Acesso em 13 mar. 2024.
1Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: amaanda_barreto@hotmail.com;
2Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: eryclyslira@gmail.com;
3Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: flaviolimasilva01@hotmail.com;
4Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: 20211056021@fsmead.com.br;
5Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: joaquim.neto22@hotmail.com;
6Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: eduardamulato@hotmail.com;
7Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: mateus0297@gmail.com;
8Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: rafaelpereiraduarte2330@gmail.com;
9Discente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: sabrinalimapicos12@gmail.com;
10Docente do Curso de Bacharelado em Medicina do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Cajazeiras – PB. E-mail: martaligiafisio@hotmail.com