NEONATAL CONSEQUENCES OF THE DIAGNOSIS OF GESTATIONAL DIABETES MELLITUS – A SYSTEMATIC REVIEW
CONSECUENCIAS NEONATALES DEL DIAGNÓSTICO DE DIABETES MELLITUS GESTACIONAL – UNA REVISIÓN SISTEMÁTICA
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7752727
Hayani Yuri Ferreira Outi
Fabrício Alexandre Simão
Luiz Guilherme Godinho de Toledo Rosa
Victoria de Oliveira Carmo Borges
Natália Suzin Spinello
Eduardo Haruo Domingos Udo
Samantha Gonçalves Barbosa
João Carlos Bizzinotto Leal de Lima
Giselle Juliana de Jesus
RESUMO
A diabetes mellitus consiste em uma patologia muito prevalente na sociedade atual, sendo previsto o seu aumento nos anos subsequentes em função da piora dos hábitos de vida da população. Quando ocorre na gestação em mulheres previamente saudáveis, é nomeada como Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) a qual pode trazer diversas complicações para a vida futura da gestante e do feto. Com base nisso, o objetivo desse trabalho é identificar as principais consequências neonatais do diagnóstico de Diabetes Mellitus Gestacional, bem como as principais medidas de prevenção. Para isso, foi realizada uma busca na BVS e na PubMed, com as palavras-chaves “Infant, Newborn”; “Diabetes Complications”; “Diabetes, Gestational”. Inclui aqueles com texto completo disponível, bem como dos anos de 2021 e 2022. Exclui revisões da literatura e outros artigos de metodologia com risco de viés. Sendo selecionados 10 artigos para a leitura do texto completo e 5 utilizados na composição dessa revisão. Pode-se evidenciar que a macrossomia fetal, a taxa de Cesáreas, de prematuridade, óbito fetal, natimorto, dentre outras complicações foram mais incidentes em neonatos de gestantes portadoras de DMG do que na população em geral. Ademais, não houve diferença significativa entre o tratamento com a insulinoterapia e a mudanças nos hábitos de vida quanto aos desfechos fetais. Esse fato permite atentar aos riscos pós-parto e a importância de compreendê-los e preparar a equipe e a família.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus Gestacional; Macrossomia Fetal; Pré-eclâmpsia; Distocia Fetal.
ABSTRACT
Diabetes mellitus is a very prevalent pathology in today’s society, and its increase is expected in subsequent years due to the worsening of the population’s lifestyle. When it occurs during pregnancy in previously healthy women, it is called Gestational Diabetes Mellitus (GDM) which can bring several complications to the future life of the pregnant woman and the fetus. Based on this, the objective of this work is to identify the main neonatal consequences of the diagnosis of Gestational Diabetes Mellitus, as well as the main prevention measures. For this, a search was performed in the VHL and PubMed, with the keywords “Infant, Newborn”; “Diabetes Complications”; “Diabetes, Gestational”. Excludes literature reviews and other methodology articles with risk of bias. 10 articles were selected for reading the full text and 5 were used in the composition of this review. It can be shown that fetal macrosomia, the rate of Cesarean sections, prematurity, Fetal death, stillbirth, among other complications, were more frequent in neonates of pregnant women with GDM than in the general population. Furthermore, there was no significant difference between treatment with insulin therapy and changes in lifestyle regarding fetal outcomes. This fact allows attention to postpartum risks and the importance of understanding them and preparing the team and the family.
Keywords: Gestational Diabetes Mellitus; Fetal macrosomia; Pre eclampsia; Fetal Dystocia.
RESUMEN
La diabetes mellitus es una patología muy prevalente en la sociedad actual, y se espera su aumento en los próximos años debido al empeoramiento del estilo de vida de la población. Cuando ocurre durante el embarazo en mujeres previamente sanas, se denomina Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) la cual puede traer diversas complicaciones a la vida futura de la gestante y del feto. En base a ello, el objetivo de este trabajo es identificar las principales consecuencias neonatales del diagnóstico de Diabetes Mellitus Gestacional, así como las principales medidas de prevención. Para ello, se realizó una búsqueda en la BVS y PubMed, con las palabras clave “Infant, Newborn”; “Diabetes Complications”; “Diabetes Gestacional”. Se excluyen revisiones de literatura y otros artículos de metodología con riesgo de sesgo. Se seleccionaron 10 artículos. para la lectura del texto completo y en la composición de esta revisión se utilizaron 5. Se puede demostrar que la macrosomía fetal, la tasa de cesáreas, la prematuridad, la muerte fetal, la mortinatalidad, entre otras complicaciones, fueron más frecuentes en los recién nacidos de gestantes con DMG que en la población general.Además, no hubo diferencia significativa entre el tratamiento con insulinoterapia y los cambios en el estilo de vida en cuanto a los resultados fetales.Este hecho permite prestar atención a los riesgos posparto y la importancia de conocerlos y preparar al equipo y a la familia.
Palabras clave: Diabetes Mellitus Gestacional; macrosomía fetal; preeclampsia; Distocia Fetal.
INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus (DM) caracteriza-se pelo excesso crônico de açúcar circulando pelo organismo devido à insuficiência fisiológica do pâncreas ou por uma redução sistêmica da resposta à insulina. A fisiopatologia consiste na produção insuficiente de insulina, hormônio responsável pelo controle da quantidade de glicose presente no sangue após a ingestão calórica, nesse caso, a quantidade produzida não é suficiente para realizar a quebra e a digestão do açúcar proveniente da ingestão alimentar. Enquanto neste último, a produção pancreática de insulina é normal, porém as células não respondem ao seu comando, o qual tem como função permitir a entrada de glicose para realizar as funções metabólicas da célula. A problemática principal consiste que essa doença possui alta prevalência mundial, tendo seu fator de risco relacionado com a genética e múltiplos fatores ambientais. A obesidade é um dos principais fatores desencadeantes desta patologia durante o período gestacional, além disso, tem essa classificação quando é diagnóstica na gestação em mulheres previamente saudáveis e evolui em diferentes graus (Araújo, Gregio, Scardua & Trindade, 2021); (Ukah, Platt, Auger, Dasgupta & Dayan, 2022).
O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) consiste em endocrinopatia, a qual é manifestada durante a gestação e pode evoluir para o quadro crônico de Diabetes Mellitus 2 posteriormente. Em geral, na gestação ocorre um aumento fisiológico da resistência periférica à insulina, porém, em casos normais, essa alteração é suficiente apenas para garantir glicose ao feto e não leva a gestante ao quadro de DMG. O diagnóstico dessa patologia decorre da apresentação de um exame clínico alterado, sendo a glicemia em jejum feita no início do pré-natal. Nesse primeiro exame, um resultado superior a 92 mg/dL é suficiente para fechar a suspeita diagnóstica, entretanto, se superior a 126mg/dL é considerado DM crônica. Caso esse teste seja norma, ainda é feito mais um durante o pré-natal, o teste de tolerância oral à glicose (TOTG), o qual é amplamente utilizado e o diagnóstico é confirmado quando há alteração de ao menos um dos valores (Zaccara, Paganoti, Mikami, Francisco & Costa, 2022); (Murray & Reynolds, 2020). Em 2021, registrou uma prevalência de 18% nos casos de DMG no Sistema Único de Saúde, ademais estima-se que uma a cada seis gestantes desenvolvem hiperglicemia, das quais 84% enquadram no quadro de DMG. Desse modo, é instituído no Brasil, que seja feito o rastreamento em todas as gestantes, uma vez que essa patologia pode trazer complicações tanto para a mãe, quanto para o feto (Ukah et al, 2022).
Urge, portanto, a importância de compreender quais as principais consequências do diagnóstico de DMG para o neonato, de modo a atentar para os principais sinais e métodos de evitar a sua ocorrência, sendo este o principal objetivo deste trabalho.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, a qual tem como objetivo obter dados sobre um determinado questionamento. Para isso, visando que seja garantido o maior nível de evidência com baixo risco de viés, foi realizada a elaboração dessa revisão seguindo as normas metodológicas de formulação da pergunta norteadora, determinação dos critérios de inclusão, avaliação dos estudos incluídos, bem como análise e interpretação dos resultados.
A pergunta norteadora foi determinada mediante a estratégia PICO, na qual o nosso grupo de pacientes são os neonatos de gestantes portadoras de diabetes gestacional e o objetivo é analisar quais as consequências desse diagnóstico para o recém-nascido, sendo determinada a seguinte pergunta: Quais as consequências nos neonatos do diagnóstico de DMG?
Antes de iniciar a busca, primeiramente, utilizou-se a plataforma MESH (Medical Subject Headings) com o objetivo de determinar os descritores a serem usados na metodologia, de modo a selecionar os termos médicos mais abrangentes dentro do assunto. Com isso, pode-se obter os seguintes descritores: “Infant, Newborn”; “Diabetes Complications”; “Diabetes, Gestational” os quais foram unidos pelo operador booleano AND. A busca consistiu em duas etapas, as quais serão descritas a seguir:
A primeira busca foi feita na plataforma de direcionamento PubMed o qual indexa os artigos da MEDLIINE (Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica), nessa busca foram encontrados 1.956 artigos. Em seguida foram aplicados os filtros: Texto completo disponível na íntegra e publicação nos anos de 2015 e 2022 e, com isso, foram encontrados 60 artigos. Seguido a isso, exclui-se revisões da literatura e demais metodologias não compatíveis com a metodologia da revisão, de modo que sobraram 9 artigos para a leitura do texto completo.
A segunda busca foi realizada na BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), a qual indexa diversas bases de dados e foram encontrados 3.234 artigos, após aplicar os filtros escolhendo os artigos indexados na base de dados LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde) e com texto completo disponível na íntegra, identificando 45 artigos. Após essa etapa, adicionou o critério de inclusão de publicação nos anos de 2015 e 2022, exclui-se revisões da literatura e outras metodologias não recomendadas para esse tipo de estudo, sendo selecionado 9 artigos para a leitura do texto completo.
O fluxograma 1 ilustra a metodologia inicial de busca. Frente a isso, exclui-se duplicadas, selecionou os artigos que melhor respondiam à pergunta norteadora e selecionou-se os principais artigos, sendo 10 foram lidos completamente e 5 utilizados na composição dos resultados desse estudo.
Fluxograma 1: Seleção de artigos para composição dessa revisão.
Fonte: Autoria própria.
RESULTADOS
Dos 18 artigos lidos no resumo, foram excluídos cinco porque não respondiam completamente à questão norteadora. Além disso, outros quatro artigos foram excluídos, uma vez que não apresentavam uma metodologia confiável, ou eram revisões da literatura, ou tinham dados incompletos, fato que pode levar a ocorrência de viés. Por fim, foi lido na íntegra 10 artigos e os 5 que melhor respondiam a pergunta foram selecionados para a apresentação dos resultados de modo sucinto foi elaborada a Tabela 1, a qual segue a seguir descrevendo de modo resumido a metodologia aplicada por aquele estudo, bem como os seus resultados, ademais apresenta as principais limitações do estudo como critério de conclusão. Na tabela 1 será exposto também o título do artigo, bem como os seus autores e o ano de publicação. A seguir, será descrito de modo completo os resultados de cada artigo associado e as principais informações obtidas quanto à pergunta norteadora.
Tabela 1: Apresentação dos resultados
TÍTULO | AUTOR (ANO) | METODOLOGIA | RESULTADOS | CONCLUSÃO |
Prevalence of gestational diabetes and its association with stillbirth, preterm birth, macrosomia, abortion and cesarean delivery: a national prevalence study of 11 provinces in Iran. | Mitra Darbandi; Shahab Rezaian; Mostafa Dianatinasab; et al. (2022) | Estudo transversal realizado com mulheres grávidas, analisando a incidência de complicações neonatais com a DMG. | Houve uma prevalência maior de Cesárias, de aborto e macrossomia em mulheres diabéticas do que nas não diabéticas. Um destaque especial para os dois últimos, os quais foram mais que dobrados em gestantes portadores de DMG. | Algumas consequências neonatais não são tratáveis, desse modo é fundamental atentar para a prevenção. |
Incidence of maternal and fetal outcomes in women with gestational diabetes | Olfa Lajili; Yosra Tira; Aroua Temessek; et al. (2022) | Estudo prospectivo longitudinal descritivo e analítico, com 220 pacientes com DMG durante a gestação e pós parto. | Houve uma elevada incidência de Cesáreas, bem como de desconforto respiratório. Ao comparar o tratamento materno realizado não houve diferenças no desfecho fetal quando comparada a mudança na dieta e a insulinoterapia. Houve no segundo grupo maior índice de hipertensão gestacional induzida. | Não houve medida eficaz para reduzir os riscos neonatais, sendo importante atentar-se para o momento do parto e preparar a mãe e a equipe para possíveis incidências. |
Clinical profile of patients with gestational diabetes and incidence of neonatal complications in a Colombian maternal-fetal reference center | Lina Marcela Preciado; María Camila Peláez Domínguez; Jorge Luis Ferreira Morales; et al. (2020) | Coorte retrospectiva na qual avalia a clínica da gestante e o desfecho fetal, em mulheres portadoras de DMG. | A indicação da indução do parto foi cerca de 76%, cerca de 11% eram grandes para a idade gestacional e houve complicações neonatais em 27,6% dos neonatos. | O estudo contou com viés de seleção, fato que contou com amostra reduzida e demonstra a necessidade de maiores estudos. |
Diabetes mellitus gestacional: control glucémico durante el embarazo y su relación con los resultados neonatales en embarazos gemelares y de feto único | María Augusta Guillén-Sacoto; Beatriz Barquiela; Natalia Hillmana; et al. (2018) | Estudo observacional retrospectivo com gestantes portadoras de DMG, das quais 120 eram gemelares e 240 eram únicas. | O peso ao nascer foi maior nas gestações únicas, as gestações gemelares contaram com a maior incidência de pequenos para a idade gestacional, apesar da patologia materna com um deslocamento no percentil. Houve maior risco de hipoglicemia em gêmeos. | O estudo conta com uma amostra reduzida, exigindo maiores estudos para compreender melhor essas diferenças. |
Impact of maternal diabetes mellitus on mortality and morbidity of very low birth weight infants: a multicenter Latin America study | Carlos Grandi; José L. Tapia; Viviane C. Cardoso. (2015) | Estudo de coorte retrospectivo no qual analisa mortalidade e morbidade neonatal de gestantes portadoras de DMG. | Houve uma apresentação de maior peso ao nascer, houve maior incidência de enterocolite necrosante, porém não houve alterações significativas de mortalidade na sala de parto. Houve uma maior incidência de Cesáreas e maior risco de quadros hipertensivos. | Não houve diferenças significativas nos padrões de mortalidade e morbidade, entretanto o estudo contou com quadros de DMG controlados e, portanto, pode ser diferente em locais de menor acesso. |
Fonte: Autoria própria
Darbandi et al (2022) em seus estudos comparou dois grupos, um portador de DMG e outro não portador, com base em seus resultados é válido mencionar as principais complicações desencadeadas no recém-nascido pelo diagnóstico de DMG na gestante. Em primeiro ponto, existe uma maior incidência de Cesáreas em gestantes portadoras dessa patologia, essa intervenção cirúrgica apresenta fatores prejudiciais para a mãe e para o feto. Nesse caso, é válido destacar que para o bebê os principais riscos envolvem a prematuridade, uma vez que esse quadro pode levar a formação incompleta de sistemas essenciais à vida, tais como o respiratório e o digestório (Njogu, Makunyi, & Musau, 2022). A prematuridade também apresenta um risco isolado maior em mulheres portadoras de DMG, sendo cerca de 2 vezes mais incidentes nesses quadros. Outro ponto importante é a ocorrência de aborto espontâneo, a qual foi cerca de 2,86 maior nas portadoras da patologia, bem como a ocorrência de natimorto. A macrossomia também teve um aumento significativo nas portadoras de DMG, sendo 7 vezes maior do que na população em geral, a problemática principal desse quadro consiste que apresenta um risco de morbimortalidade acentuado para o binômio. No que tange a saúde fetal aumenta o risco de natimorto, óbito fetal, de desenvolver asfixia logo após o nascimento, distocia de ombro, lesões esqueléticas, aspiração de mecônio, baixo índice de Apgar, hipoglicemia (Njogu et al, 2022); (Woltamo, Meskele, Workie & Badacho, 2022). Houve também um maior risco de anomalias congênitas, esse cenário conta com causas multifatoriais, incluindo a idade materna tardia e a diabetes gestacional ou pré-existente como um fator de risco modificável. A incidência de natimortos e morte fetal foi 80% maior nas gestantes portadoras do quadro, enquanto a morte perinatal é 3 vezes maior (Darbandi et al, 2022). Em um estudo similar, Preciado et al (2022) em sua coorte retrospectiva pode-se observar a ocorrência de complicações neonatais em 1 a cada 4 neonatos de mães portadoras de DMG. A principal consequência relatada por esse estudo é o aumento na taxa de cesáreas, fato que concorda diretamente com o anterior, bem como a apresentação de fetos grandes para a idade gestacional. A macrossomia foi relatada com uma incidência entre 9 e 22% e houve quadro de hipoglicemia pós-parto em 2%. As causas de óbito neonatal de mães portadoras de DMG foram associadas a malformações fetais, prematuridade e hipóxia (Preciado et al, 2022). Nessa mesma linha, GRANDI (2015) avaliou as taxas de mortalidade e morbidade de recém-nascido de mães portadoras de DMG e comparou com aquelas não portadoras. Nos seus estudos pode-se evidenciar, em concordância aos anteriores, uma maior incidência de grande para a idade gestacional e maior incidência de Cesáreas. Houve um maior registro de quadros hipertensivos em gestantes com o quadro não controlado, com risco maior para o desenvolvimento de Pré-Eclâmpsia. Os resultados referentes à síndrome do desconforto respiratório são conflitantes, principalmente no que tange a maturação pulmonar. Em geral, não houve maior risco de mortalidade ou de morbidade, exceto pelo quadro de enterocolite necrosante, o qual foi mais incidente em neonatos de mães portadoras do DMG. O estudo contou com quadros de DMG controlados, desse modo, não apresentou sinais extremos de alarme (Grandi, Tapia, & Cardoso, 2015).
Lajili et al (2022) por sua vez, realizou um estudo prospectivo incluindo apenas gestantes portadoras de DMG, no qual comparava a eficácia de tratamentos diferentes na redução das consequências neonatais. É feito uma comparação entre os grupos, na qual um é tratado com insulinoterapia e o outro com modificação de hábitos de vida. Nos seus estudos, a taxa de Cesárea foi maior que 60% indicando uma maior incidência do que na população em geral, independente do tratamento. Houve também uma elevada incidência de macrossomia e de desconforto respiratório transitório, os quais também não foram influenciados pelo tipo de tratamento estabelecido (Lajili et al, 2022). Em concordância com a não influência do tratamento nas complicações neonatais, Socoto, Barquiel, Hillman, Burgos & Herranz, (2018), em seus estudos comparou em gestantes portadoras de DMG com gemelaridade ou gestação única e obteve dados similares quanto ao tratamento. Quando as possíveis complicações contaram com os mesmos principais desfechos. Houve maior índice de macrossomia e grandes para a idade gestacional em gestações únicas e maior taxa de complicações como hipoglicemia em gemelares. Essas maiores complicações devem-se principalmente ao baixo peso ao nascer dos recém-nascidos nesses casos e pode contar com um aumento na mortalidade. Além disso, exigiu maiores doses de insulina para controle da glicemia, porém não houve alterações significativas no desfecho com diferentes tipos de tratamento (Socoto et al, 2018).
Em suma, a taxa de Cesarianas é relativamente maior em gestantes portadoras de DMG, em um estudo comparando um grupo portador da doença associado a um não portador, obteve-se que foi cerca de 50% mais frequente no grupo portador (Darbandi et al, 2022); (Preciado et al, 2022). Em concordância com esse resultado, em um estudo prospectivo que aborda apenas pacientes com DMG diferenciando os grupos pelo tipo de tratamento, houve uma incidência de 63,6% de Cesárias e sem alterações significativas com o tipo de tratamento. Além disso, há uma maior indicação para indução do parto nesses casos, fato que pode levar a aumento da prematuridade ou de outras consequências da antecipação do parto, como a síndrome do desconforto respiratório (Darbandi et al, 2022); (Lajili et al, 2022). De modo similar a Cesária, houve uma concordância na maioria dos estudos na maior incidência de macrossomia, bem como todos os demais riscos que esse quadro traz ao recém-nascido (Grandi et al, 2015). Não houve influência do tratamento com o desfecho em neonatos, de modo que independente da dose utilizada ou da terapia implantada havia a mesma incidência de riscos (Lajili et al, 2022); (Socoto et al, 2018).
DISCUSSÃO
Durante o período gestacional o organismo da mulher passa por diversas modificações fisiológicas a fim de suprir as demandas fetais mantendo o pleno funcionamento do organismo materno. A produção de hormônios como a progesterona, lactogênio placentário e cortisol asseguram a oferta necessária de energia ao concepto, o que aumenta a resistência dos tecidos à insulina e aos níveis de glicose no sangue. Prostaglandina e prolactina também são outros hormônios que contribuem diretamente para se desenvolver a DMG (Ferreira et al, 2018). As somas dessas alterações podem resultar no quadro de Diabetes Mellitus Gestacional, o qual pode cursar com várias complicações obstétricas (Zaccara et al, 2022); (Há, Shubrook & Mason, 2022). Em consequência disso indica-se que seja feito o rastreio da patologia entre a 24 e 28 semanas gestacional para todas as gestantes que não tenham histórico de Diabetes Mellitus, haja vista que é nesse período que os hormônios aumentam a demanda de glicemia pós-prandial. Com a apresentação de valores glicêmicos alterados antes da 24 semana de gestação geralmente indicam o quadro de DM preexistente (Zaccara et al, 2022), (Zheng et al, 2022).
O tratamento da DMG é conservador, não sendo feitas grandes intervenções clínicas, consistindo basicamente na mudança de estilo de vida da gestante como: hábitos alimentares regrados, controle do peso da mãe e realização de atividades físicas leves, tudo isso a fim de adequar a vida da gestante para que futuramente, as complicações crônicas indesejadas não se manifestem (Murray & Reynolds, 2020). É importante salientar que, o uso de medicamentos caso seja necessário, quando o tratamento conservador não apresenta resultados positivos no quadro clínico, recomenda-se a insulinoterapia como padrão ouro para tratar dessa fisiopatologia. Uma vez que, outros fármacos como a metformina não estão indicados, já que não se sabe se pode causar danos à gestante ou ao concepto. Mesmo em casos que a gestante faça tratamento prévio com metformina e com outros fármacos antidiabéticos, como a glibenclamida, não é indicado manter, uma vez que estes atravessam as membranas fetais (Murray & Reynolds, 2020); (Ye et al, 2022).
A diabetes gestacional representa uma das principais causas de morbidade materna e está diretamente relacionada com as síndromes hipertensivas gestacionais, tais como hipertensão arterial sistêmica (HAS), pré-eclampsia e eclampsia. Representa importante motivo para o aumento dos partos através de cesarianas, uma vez que os fetos das mães que desenvolvem DMG possuem maiores chances de apresentar macrossomia fetal, também representam maiores complicações ao neonato como a distocia de ombro, trauma de nascimento e hipersul mento fetal. A gestante com DM já preexistente não tratada possui maior risco de ruptura prematura das membranas fetais, parto pré-termo, feto com apresentação pélvica, hipoglicemia e óbito perinatal. Os principais fatores associados a DMG são: baixa estatura, histórico familiar associados a diabetes familiar, idade materna superior aos 25 anos, uso de drogas hiperglicemiantes, obesidade ou ganho de peso excessivo durante a gestação, uso de corticóides, e/ou diuréticos, antecedentes obstétricos de óbito fetal e neonatal, macrossomia, malformações fetais e polidrâmnio (Kunzendorff, Nicoli, Luz, Martins, & Mendes, 2017). Além disso, fatores como idade materna tardia, história clínica anterior de DMG ou histórico familiar de DM, bem como alterações do perfil lipídico são informações importantes a serem analisadas pelo médico durante as consultas pré-natais. Sendo assim é importante salientar que esses fatos podem levar a sequelas graves, por toda a vida da paciente, como por exemplo a diabetes mellitus do tipo II e outras fisiopatológicas associadas a DMG tanto maternas quanto fetais, no caso das fetal, distocia os casos de apresentação pélvica, distocia de ombro e macrossomia fetal estão associadas a um maior índice glicêmico da mãe, posteriormente, as crianças que nasceram de uma gestação cuja a mãe possuía o diagnóstico de diabetes mellitus gestacional, possuem maiores riscos de desenvolverem diabetes mellitus do tipo II (Woltamo et al, 2022); (Soares, Araújo & Oliveira, 2014); (Lumbreras-Márquez, Torre-León, Hernández-Reguero, Wilkins-Haug & Seely, 2021).
CONCLUSÃO
Com base em tudo o que foi discorrido neste, pode-se fazer as seguintes considerações, o médico responsável pelo pré-natal é o principal responsável pela suspeita diagnóstica de DMG e, é de suma importância que o exame de tolerância oral à glicose seja realizado entre a 24° e a 28° semana, isso implica num fato importante a ser discutido, muitas gestante não mentem o acompanhamento pré-natal e não seguem as orientações a risca, o pré-natal é de extrema necessidade para a gestação ofereça segurança materno-fetal.
Quanto às complicações associadas a DMG são importantes salientar que o risco de se desenvolver DMII são significativos tanto para mãe quanto para o neonato uma vez que a alta exposição a glicose pode predefinir esse diagnóstico, é importante acompanhar e mapear todos os marcadores relacionados a diabetes mellitus II e outras doenças endócrinas. Sendo assim, a diabetes gestacional pode e deve ser vista como uma fisiopatologia que causa risco à vida da gestante e do concepto, podemos afirmar que o pré-natal é o principal responsável pelo diagnóstico e o diagnóstico precoce representa o melhor prognóstico possível. Grandes intervenções clínicas não são prescritas uma vez que podem causar prejuízos a vida da gestante e do concepto, a administração medicamentosa deve ser a última opção de controle do índice glicêmico, o uso do medicamento metformina não é indicado, haja vista que não se tem comprovações suficientes do benefício deste a saúde materno-infantil, porém não se recomenda a suspensão em casos de uso contínuo para o tratamento de DMII. As recomendações médicas estão no limiar clínico de acompanhamento médico, ajuste da dieta sendo recomendado uma melhora no cardápio da mãe e que esse cardápio seja balanceado e variado, recomenda-se também exercícios físicos de leves a moderados a fim de melhorar o gasto calórico da gestante e reduzir o índice glicêmico.
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