CONSEQUÊNCIAS E AGRAVOS DA INFECÇÃO PELA HEPATITE C: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11558584


Ingrid Nicoly de Siqueira
Natasha Vitoria Sayumi Ohta
Larissa Sayuri Miyashiro


RESUMO

 A hepatite C (HepC) é uma doença hepática viral causada pelo vírus da hepatite C (VHC), pertencente à família Flaviviridae, sendo uma das principais causas de hepatite crônica, cirrose hepática e câncer de fígado globalmente. Apesar de muitas vezes ser assintomática inicialmente, contribuindo para sua disseminação silenciosa e diagnóstica tardia, estima-se que 71 milhões de pessoas em todo o mundo estejam infectadas. No Brasil, há uma prevalência significativa da infecção pelo VHC, com variações regionais, sendo a falta de programas de rastreamento e acesso universal ao tratamento desafios importantes no controle da doença. Embora tenha havido avanços no tratamento, como terapias antivirais de ação direta (DAAs), o acesso aos medicamentos, custos e resistência viral ainda são desafios. As consequências da HepC podem ser devastadoras, afetando não apenas a saúde física, mas também a qualidade de vida, com complicações como cirrose hepática e carcinoma hepatocelular. O estigma social associado à doença e os efeitos colaterais do tratamento também impactam a saúde mental e emocional dos pacientes. Diante disso, este estudo visa descrever os principais desfechos de saúde em pacientes com HepC, fornecendo insights para aprimorar estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento.

Palavras chaves: Hepatite C, Vírus da hepatite, Flaviviridae, hepatite crônica e cirrose hepática. 

 RESUME

 Hepatitis C (HepC) is a viral liver disease caused by the hepatitis C virus (HCV), belonging to the Flaviviridae family, being one of the main causes of chronic hepatitis, liver cirrhosis and liver cancer worldwide. Although it is often initially asymptomatic, contributing to its silent spread and delayed diagnosis, an estimated 71 million people worldwide are infected. In Brazil, there is a significant prevalence of HCV infection, with regional variations, and the lack of screening programs and universal access to treatment are important challenges in controlling the disease. Although there have been advances in treatment, such as direct-acting antiviral (DAA) therapies, access to medications, costs, and viral resistance remain challenges. The consequences of HepC can be devastating, affecting not only physical health but also quality of life, with complications such as liver cirrhosis and hepatocellular carcinoma. The social stigma associated with the disease and the side effects of treatment also impact patients’ mental and emotional health. Given this, this study aims to describe the main health outcomes in patients with HepC, providing insights to improve prevention, diagnosis and treatment strategies.

Keywords: Hepatitis C, Hepatitis Virus, Flaviviridae, chronic hepatitis and liver cirrhosis.

1. INTRODUÇÃO

A hepatite C (HepC) é uma doença hepática viral causada pelo vírus da hepatite C (VHC), pertencente à família Flaviviridae. Este vírus é uma das principais causas de hepatite crônica, cirrose hepática e câncer de fígado em todo o mundo. Sua infecção é caracterizada por uma fase inicial muitas vezes assintomática, o que contribui para a sua disseminação silenciosa e para o diagnóstico tardio em muitos (WHO, 2024). 

Globalmente, a hepatite C representa um importante problema de saúde pública. Cerca de 71 milhões de pessoas estão infectadas em todo o mundo, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estudos epidemiológicos indicam uma prevalência significativa da infecção pelo VHC, com variações regionais (Ministério da Saúde, Brasil, 2019). A falta de programas de rastreamento sistemático e de acesso universal ao tratamento são desafios importantes no controle da doença. 

Embora tenha havido avanços significativos no tratamento da hepatite C nas últimas décadas, incluindo o desenvolvimento de terapias antivirais de ação direta (DAAs), ainda existem desafios consideráveis. O acesso aos medicamentos, os altos custos do tratamento e a resistência viral são algumas das dificuldades enfrentadas na gestão eficaz da doença (Ghany MG, Morgan TR, 2020). Além disso, a adesão ao tratamento a longo prazo e a identificação de populações vulneráveis continuam sendo áreas de preocupação.

As consequências da hepatite C podem ser devastadoras, impactando não apenas a saúde física, mas também a qualidade de vida dos pacientes. Complicações como cirrose hepática, insuficiência hepática e carcinoma hepatocelular podem levar a um aumento significativo da morbidade e mortalidade (World Health Organization (WHO), 2024). Além disso, o estigma social associado à doença e os efeitos colaterais do tratamento podem ter um impacto substancial na saúde mental e emocional dos pacientes (Ministério da Saúde, Brasil, 2019). A compreensão desses desfechos de saúde é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento.

Portanto, este estudo pretende descrever os principais desfechos de saúde em pacientes infectados pelo vírus da HepC, fornecendo insights importantes para o aprimoramento das estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento desta doença.

2. METODOLOGIA

 Foi conduzida uma revisão da literatura utilizando artigos e estudos obtidos das bases de dados do PubMed, SCIELO, World Health Organization (WHO) e Ministério da Saúde, Brasil. As pesquisas foram realizadas utilizando as palavras-chaves: “hepatite C” e “desfechos”. O período de busca compreendeu de 2003 a 2024 e incluiu artigos disponíveis em inglês e português. Os critérios de seleção foram o período de busca de artigos e estudos dentro do período de 10 anos, no idioma inglês e português.

3. REVISÃO DA LITERATURA

Foram selecionados e analisados 13 artigos sobre os fatores associados à adesão no tratamento da hepatite C, interligados com a saúde mental e transtornos mentais, também como a doença pode afetar o sistema cardiovascular e o sistema hepático. Além disso, foram analisados dados do Ministério da Saúde do protocolo clínico e as abordagens terapêuticas. As principais características dos estudos estão descritas no quadro 1.

QUADRO 1. Descrição metodológica dos estudos incluídos nesta revisão.

Autor, ano.Objetivo Principal.MétodoEmpregado.Principais Achados.
Batista-Neves S. F. (2008).Analisar a prevalência de transtornos psiquiátricos em uma amostra ambulatorial de pacientes com hepatite C crônica no BrasilEstudo transversal com 90 pacientes. Entrevista psiquiátrica estruturada (M.I.N.I. Plus) 9 Atendidos em hospital universitárioPaciente com pelo menos um diagnóstico psiquiátrico (atual ou prévio) (49,0%); diagnóstico atual (59,1%); dois ou mais diagnósticos (36,4%); abuso e/ou dependência de álcool e outras drogas (28,9%); transtornos de humor (18,9%) e transtornos ansiosos (15,5%).
Leão JR, Pace FH de L, Chebli JMF.Analisar a prevalência e os fatores de risco da infecção pelo vírus da hepatite C em pacientes submetidos a hemodiálise.Estudo transversal entre janeiro e dezembro de 2007. Foram chamados 236 pacientes em hemodiálise foram testados pelo ELISA de terceira geração.   A infecção pelo VHC apresentou elevada prevalência na unidade de diálise analisada. O tempo de tratamento dialítico e história prévia de doença sexualmente transmissível foram os principais fatores de risco associados à infecção pelo VHC. Indivíduos em hemodiálise com infecção crônica pelo VHC apresentaram maior atividade de ALT que pacientes sem hepatite C crônica.
Oliveira M, Castilho D, Perone C, Oliveira A, Espíndola T, Zocratto K, Bassetti-Soares E,2009.Avaliar a acurácia dos métodos diagnósticos da hepatite C em pacientes em HD.500 pacientes em tratamento de hemodiálise, anti-HCV negativos no passado e, nos três meses seguintes, foram submetidos mensalmente a testes qualitativos de RNA do HCV e ALT durante o acompanhamento.O tempo médio de HD foi de 48,8 ± 41,2 meses; foi detectada ALT normal em 92% dos pacientes; anti-HCV e HCV RNA negativos em 99,8% dos pacientes;
Gisele Lima Nogueira Soler, Albert Wilson Santos Machado Silva, Valéria Cataldo Gomes da Silva, Rosimere de Jesus Teixeira, 2008Descrever a prevalência de DHGNA e sua associação com a SM e os fatores de risco cardiovascularFoi realizada ultrassonografia abdominal em 69 participantes, 53,02±1,26 anos, sendo avaliada a presença e o grau de esteatose e as medidas da gordura subcutânea e visceral (GV). Após exclusão de hepatite viral e etilismo, 60 pacientes foram avaliados quanto aos dados antropométricos, à presença de SM e aos fatores de risco cardiovascular, estratificados em dois grupos: com e sem DHGNA.A DHGNA foi observada em 37%, sendo a maioria classificada como leve e moderada (91%). O grupo com DHGNA apresentou aumento significativo de IMC, em relação ao grupo sem DHGNA. ADHGNA mostrou associação com hipertensão arterial
Linhares, Lívia Melo Carone 2017.Avaliar os efeitos em longo prazo do transplante hepático sobre o perfil metabólico e o sistema cardiovascular.Trinta e seis receptores de fígado foram avaliados um ano após o transplante hepático para avaliar a prevalência da síndrome metabólica e outros preditores de doenças cardiovasculares. Foram coletados dados antropométricos, exames bioquímicos, biomarcadores de aterosclerose e calculado o escore de Framingham.Observou-se um aumento estatisticamente significativo na circunferência abdominal e na prevalência de dislipidemia, obesidade e síndrome metabólica ao longo do tempo. Todos os biomarcadores de aterosclerose estudados apresentaram aumento importante dos seus níveis no quarto ano (p < 0,001) após o transplante. Quanto ao escore de cálcio, 25% dos pacientes apresentaram calcificação coronariana moderada a grave, conferindo maior risco de evento cardíaco.
Rocha, Mariana Balhego 2020.Avaliar o risco cardiovascular (RCV) e síndrome metabólica (SM), de pacientes portadores de hepatite C. Também, verificar se o tratamento com Antivirais de Ação Direta (AAD) é capaz de prever a melhora dos parâmetros da SM e se algumas variáveis influenciam no RCV.A coleta de dados incluiu variáveis sociodemográficas, antropométricas, pressóricas e bioquímicas a partir dos prontuários dos pacientes. A prevalência de SM foi avaliada pelos critérios da International Diabetes Federation e o RCV foi calculado pelo Escore de Risco de Framingham (ERF). A análise estatística envolveu os testes de Kolmogorov-Smirnov, teste t de Student, qui-quadrado de Pearson, regressão logística binária, correlação de Pearson ou de Spearman, de acordo com a distribuição e regressão linear múltipla.O diagnóstico de diabetes e uso de anti-hipertensivo foi associado ao RCV. Com exceção do tempo de diagnóstico, todas as outras variáveis foram correlacionadas com RCV. O modelo criado para prever o ERF foi capaz de prever em 62% o RCV. Nossos resultados demonstram a importância do conhecimento precoce de grupos populacionais com alto risco de desenvolver doenças metabólicas e cardiovasculares.
Carlos Tosta; Ricardo Ladeira; Betty Guz; João Pimenta 2006.Avaliar possíveis alterações morfofuncionais cardíacas em portadores crônicos do vírus da hepatite C pela Dopple ecocardiografia.Estudo observacional caso-controle com análise de parâmetros Dopple ecocardiográficos de 31 pacientes portadores crônicos do vírus da hepatite C numa fase não avançada da doença, diagnosticados por biópsia (sem cirrose, carcinoma hepatocelular ou disfunção hepática) e 20 casos-controle.Não houve diferenças estatisticamente significantes da espessura parietal, diâmetros cavitários, fração de ejeção, encurtamento circunferencial e nas velocidades de fluxo mitral e tecidual sistólica e diastólica do anel mitral entre os dois grupos estudados. Nas fases não avançadas, portadores do vírus da hepatite C não apresentaram alterações morfofuncionais cardíacas, sob análise do ventrículo esquerdo.
Batista-Neves S. F. (2008).Analisar a prevalência de transtornos psiquiátricos em uma amostra ambulatorial de pacientes com hepatite C crônica no BrasilEstudo transversal com 90 pacientes. Entrevista psiquiátrica estruturada (M.I.N.I. Plus) 9 Atendidos em hospital universitárioPaciente com pelo menos um diagnóstico psiquiátrico (atual ou prévio) (49,0%); diagnóstico atual (59,1%); dois ou mais diagnósticos (36,4%); abuso e/ou dependência de álcool e outras drogas (28,9%); transtornos de humor (18,9%) e transtornos ansiosos (15,5%).
Braz. J. Pharm.Sci., 2014.Comparar o custo e a efetividade para pacientes com hepatite C crônica e portadores do genótipo 2 ou 3 o uso de peguinterferon (PEG) como primeira escolha com o PEG como segunda escolha para aqueles que não responderam ao tratamento com IFN.A população alvo compreende pacientes com hepatite C crônica portadores de genótipo 2 ou 3 no Brasil. As intervenções são: PEG-SEC 9IFN + RBV por 24 semanas, para não respondedores e redicivantes tratamento subsequente com PEG + RBV por 24 semanas). O tipo de estudo envolvido é a Análise de custo efetividade.A Análise de sensibilidade demonstrou que PEG-SEC é dominado por PEG-FIRST24 quando RVS com IFN for menor que 30%. Por outro lado, quando RVS com IFN for maior que 75% PEG-SEC é dominante (RVS=88.2% e custo USD $ 3.753,00). PEG-SEC é também dominante quando RVS para PEG24 for menor que 54%. No contexto brasileiro, PEG-FIRST é mais efetivo e mais custoso que PEG-SEC.
Bragança, Ana Carolina Costa, 2018.Avaliar evolução em longo prazo (hepática e cardiovascular) de pacientes com HCV, não cirróticos, virgens, de tratamento com baixo risco metabólico.Realizado um estudo transversal com acompanhamento longitudinal em longo prazo (8 anos) em pacientes portadores de Hepatite C, não cirróticos, com baixo risco metabólico e não tratados. Foram incluídos consecutivamente pacientes portadores de hepatite C crônica (anti-HCV e HCV RNA PCR positivos), de qualquer genótipo, independentemente do nível sérico de aminotransferases, submetidos a biopsia hepática em período inferior a 6 meses. Da avaliação clínica.Os desfechos clínicos a longo prazo foram: 16 pacientes (19%) desenvolveram cirrose, sendo que 8 (9,5%) apresentaram ascite, 1 (1,2%) encefalopatia hepática, 1 (1,2%) peritonite bacteriana espontânea, 2 (2,4%) carcinoma hepatocelular e 3 (3,6%) hemorragia digestiva. Nenhum paciente foi transplantado e 4 (4,8%) foram a óbito. Nos pacientes acima de 40 anos, 36 pacientes (42,85%) apresentavam risco cardiovascular aumentado de acordo com o escore ASCVD. Apenas 1 (1,2%) apresentou evento cardiovascular. Não houve associação entre estado nutricional e desfechos hepáticos ou cardiovasculares a longo prazo. 
Silva, Danilo Vieira, Singer, Júlio da Motta Martins, Rodrigo Passos, 2020.Estudar a evolução da fibrose hepática em pacientes curados da hepatite C por um período de 3 anos.Este estudo envolve o acompanhamento de pacientes tratados e curados da hepatite C no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com a coleta de dados em seis visitas, sendo a primeira antes do tratamento, a segunda no fim do tratamento e as quatro restantes 6 meses, 1 ano, 2 anos e 3 anos após o fim do tratamento. O monitoramento foi feito com métodos não invasivos.De modo geral a fibrose hepática é reduzida após o tratamento e segue reduzindo ao longo do tempo para grupos mais graves. Os métodos não invasivos não são concordantes entre si e a previsão de casos extremos de doenças hepáticas tem como base o desempenho do tratamento na redução da fibrose. 
Manual MSD, Sonal Kumar, MD, MPH, Weill Cornell Medical College 2022Fornece um guia abrangente para o diagnóstico, monitoramento e tratamento da hepatite C crônica.Revisão das diretrizes clínicas e evidências científicas sobre os testes e tratamentos para hepatite C.A resposta viro lógica sustentada (RVS) é crucial para um bom prognóstico, reduzindo antivirais de ação direta (AADs) são o tratamento de primeira linha devido à sua alta eficácia e menores efeitos colaterais comparados aos tratamentos anteriores com interferon​ (MSD Manuals)​​ (CDC)​. 
Erica Nicola Lynch e Francesco Paolo Russo, 2023Analisar o impacto da erradicação viral com antivirais de ação direta (DAAs) em hipertensão portal clinicamente significativa, carcinoma hepatocelular e manifestações extra-hepáticas, além de resumir as indicações para o acompanhamento ótimo dos pacientes tratados.Revisão narrativa de estudos existentes sobre o tratamento da hepatite C com DAAs e suas implicações clínicas.Os DAAs revolucionaram o tratamento da hepatite C, permitindo a erradicação viral mesmo em pacientes com cirrose descompensada. A evidência crescente apoia a personalização do acompanhamento com base no risco individual, destacando a necessidade de ferramentas não invasivas confiáveis para prever complicações hepáticas a longo prazo​ (MDPI)​.

3.1.1 HEPATITE C E HEMODIÁLISE 

A Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBC) demonstrou em uma pesquisa que os pacientes portadores da Hepatite C são a maioria nas unidades de tratamento de hemodiálise, as UH. Além disso, a SBC também apresentou dados epidemiológicos que demonstram que a prevalência de hepatite C(HC) é maior nos centros de hemodiálise em todos os países, inclusive no Brasil, que apresenta um aumento de 3,3%. Porém, alguns estudos recentes mostram que essa porcentagem na verdade é de 8,2%.

A não existência de uma vacina para a Hepatite C, somado a falta de sensibilidade dos testes sorológicos, dificulta ainda mais o diagnóstico da doença. Com isso, aumentam os riscos das contaminações horizontais dentro das UH, uma vez que, o diagnóstico também é dificultado devido à ausência de um quadro clínico específico para cada paciente, muitas vezes sem sintomas. 

Além disso, a hepatite C crônica pode levar a problema como síndromes do complexo imune de crioglobulinemia e glomerulonefrite membranoproliferativa, os mecanismos que levam a ter progressão dessas síndromes não foram definidos. A rastreabilidade e análise cuidadosa desses casos são essenciais para evitar a propagação da doença dentro as UH. Um estudo (Leão JR, Pace FH de L, Chebli JMF, 2010) mostrou que cerca de 71,6% testaram positivo para infecção de hepatite C dentro de um centro de diálise, confirmando que há grande prevalência da doença dentro das unidades de tratamento. Pesquisas recentes também demonstraram que a HC interfere de forma negativa na sobrevida desses pacientes em hemodiálise. 

Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Nefrologia tem como proposta algumas orientações diante desse problema: melhoria na rastreabilidade da doença em todo o país, medidas protetivas dentro das unidades de tratamento de diálise e melhoria dos testes sorológicos, além da melhoria na pesquisa clínica e básica da doença. A fim de criar estratégias para a prevenção e a eliminação a Hepatite C no Brasil nos próximos 15 ou 20 anos. Mesmo com uma nova era da doença, é necessário que a hepatite C seja bem monitorada, com o intuito de propor melhores estratégias para sua erradicação. 

 3.1.2 HEPATITE C E SAÚDE MENTAL

Entre as hepatites B (HB) e a hepatite C (HC), a HC é a que mais trouxe evidências concretas quando associada a transtornos mentais. Além de acometer o fígado, rins, tireoide, olhos, intestino, sistema cardiovascular, pele e sistema nervoso central (SNC) e periférico, sintomas neuropsiquiátricos são comuns entre os portadores da doença. Como consequência, esses sintomas influenciam na taxa de gordura do fígado, a resistência à insulina, gordura corporal, podendo evoluir o quadro de Hepatite C e de doenças hepáticas. 

Um estudo brasileiro (Batista-Neves, 2008) usou o método transversal para analisar a prevalência de transtornos psiquiátricos em 90 pacientes ambulatoriais de HC e HB, em uma entrevista estruturada em um hospital universitário. Com base nesse estudo, foi possível verificar que cerca de 49% dos pacientes de HC e HB apresentavam transtornos associados a álcool e drogas, transtornos de humor, como bipolaridade, depressão e ansiedade. Entretanto, apenas a hepatite C estava associada diretamente aos transtornos, isso sugere que, HC pode não afetar apenas o físico, mas também tem impacto significativo no psicológico dos pacientes, como por exemplo o estresse, que é um outro fator que também afeta o sistema imunológico e a resposta do corpo aos tratamentos da hepatite C.

 As causas exatas não foram definidas, mas algumas hipóteses foram abordadas como, o estigma associado às doenças infectocontagiosas, em conjunto com a nova realidade que o paciente vai enfrentar com o diagnóstico da doença, engajando os aos comportamentos de risco, as preocupações com a progressão da HC e os efeitos colaterais dos medicamentos. 

Pacientes com transtornos psiquiátricos apresentam uma maior chance de serem infectados pelo Vírus da Hepatite C, seja pelo comportamento de risco por conta do uso de substâncias ou o estilo de vida, que por sua vez, tende a ser menos saudável, incluindo práticas sexuais arriscadas e a falta de atenção na saúde preventiva. Além da barreira do cuidado médico, pacientes psiquiátricos são mais resistentes aos cuidados com a saúde, e tem menor probabilidade de serem testados e tratados. 

3.1.3 HEPATITE C E SISTEMA CARDIOVASCULAR 

 A hepatite C é uma doença viral que afeta principalmente o fígado. No entanto, há evidências de que pode ter impactos no sistema cardiovascular também. Pacientes com hepatite C têm um risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares, como doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral (AVC) e doença arterial periférica.

Os mecanismos pelos quais a hepatite C pode afetar o sistema cardiovascular não são completamente compreendidos, mas várias teorias foram propostas. Uma delas é que a inflamação crônica causada pela infecção pelo vírus da hepatite C pode levar a danos nas paredes dos vasos sanguíneos, aumentando o risco de aterosclerose e outras condições cardiovasculares.

Além disso, alguns estudos sugerem que a hepatite C pode estar associada a distúrbios metabólicos, como resistência à insulina e dislipidemia, que também podem contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

É importante que os pacientes com hepatite C sejam monitorados de perto para detectar e tratar quaisquer problemas cardiovasculares que possam surgir, além de receberem tratamento adequado para a própria hepatite C, visando reduzir o risco de complicações cardiovasculares.

As complicações cardiovasculares em pacientes com hepatite C podem incluir uma série de condições, tais como:

1. Doença Arterial Coronariana (DAC): Pacientes com hepatite C têm um risco aumentado de desenvolver aterosclerose, o que pode levar a bloqueios nas artérias coronárias, causando angina ou até mesmo um ataque cardíaco;

2. Acidente Vascular Cerebral (AVC): A hepatite C pode aumentar o risco de eventos cerebrovasculares, como derrames isquêmicos ou hemorrágicos, devido a efeitos diretos do vírus na saúde vascular;

3. Doença Arterial Periférica (DAP): A DAP ocorre quando há estreitamento ou bloqueio das artérias que fornecem sangue para os membros inferiores. Pacientes com hepatite C podem ter um risco aumentado de desenvolver essa condição;

4. Hipertensão Arterial: A hepatite C pode estar associada a distúrbios metabólicos e inflamação crônica, que podem contribuir para o desenvolvimento de hipertensão arterial, aumentando o risco de complicações cardiovasculares;

5. Disfunção Endotelial: A inflamação crônica causada pela hepatite C pode levar à disfunção do endotélio, a camada de células que reveste o interior dos vasos sanguíneos, o que pode predispor a problemas cardiovasculares.

É importante ressaltar que o tratamento eficaz da hepatite C pode reduzir o risco de complicações cardiovasculares. Além disso, os pacientes com hepatite C devem ser monitorados de perto para detectar e tratar precocemente quaisquer problemas cardiovasculares que possam surgir. A adoção de um estilo de vida saudável, incluindo dieta equilibrada, exercícios físicos regulares e controle dos fatores de risco cardiovasculares, também é fundamental para reduzir o risco de complicações cardiovasculares em pacientes com hepatite 

3.1.4 HEPATITE C E SISTEMA HEPÁTICO

A hepatite C (HepC) é uma doença crônica que afeta o fígado e é causada pelo vírus da hepatite C (VHC). Ao longo dos anos, diversos estudos têm sido conduzidos para compreender melhor a evolução da doença e os possíveis desfechos clínicos relacionados ao sistema hepático.

 Um estudo realizado por Braz. J. Pharm, comparou o custo e a efetividade de diferentes regimes de tratamento para pacientes com hepatite C crônica, especificamente aqueles portadores do genótipo 2 ou 3 do VHC no Brasil. Os resultados destacaram que, no contexto brasileiro, certos regimes de tratamento foram mais eficazes e menos dispendiosos do que outros (Braz. J. Pharm. Sci., 2014).

 Outro estudo, conduzido por Bragança, Ana Carolina Costa, 2018, avaliou a evolução a longo prazo de pacientes não cirróticos com hepatite C e baixo risco metabólico. O acompanhamento longitudinal de oito anos revelou que uma proporção significativa dos pacientes desenvolveu complicações hepáticas graves, como cirrose, carcinoma hepatocelular e hemorragia digestiva, ressaltando a importância do monitoramento contínuo desses pacientes (Bragança, Ana Carolina Costa, 2018).

 Um estudo mais recente realizado por Silva, Danilo Vieira et al., 2020 investigou a evolução da fibrose hepática em pacientes curados da hepatite C ao longo de três anos. Os resultados indicaram uma redução da fibrose hepática após o tratamento, sugerindo que o tratamento eficaz da hepatite C pode ajudar a prevenir a progressão da doença hepática (Silva, Danilo Vieira, Singer, Júlio da Motta Martins, Rodrigo Passos, 2020).

 O manual, do Manual MSD e de Sonal Kumar, MD, MPH da Weill Cornell Medical College, destaca a importância da resposta virológica sustentada (RVS) para um prognóstico favorável na hepatite C crônica. Ele revisa as diretrizes clínicas e evidências científicas relacionadas aos testes e tratamentos para essa condição. Os antivirais de ação direta (AADs) são enfatizados como tratamento de primeira linha devido à sua alta eficácia e menores efeitos colaterais em comparação com as terapias anteriores com interferon (Manual MSD e de Sonal Kumar, MD, MPH da Weill Cornell Medical College, 2022).

 Já o estudo, de Erica Nicola Lynch e Francesco Paolo Russo, aborda o impacto da erradicação viral com DAAs em complicações da hepatite C, como hipertensão portal clinicamente significativa e carcinoma hepatocelular, além de manifestações extra-hepáticas. Ele destaca a revolução trazida pelos DAAs no tratamento da hepatite C, possibilitando a erradicação viral mesmo em pacientes com cirrose descompensada. Também destaca a necessidade crescente de personalização do acompanhamento com base no risco individual, incluindo o desenvolvimento de ferramentas não invasivas confiáveis para prever complicações hepáticas a longo prazo (Erica Nicola Lynch e Francesco Paolo Russo, 2023).

Esses estudos contribuem significativamente para o entendimento da hepatite C e suas implicações no sistema hepático, bem como para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento mais eficaz.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 O objetivo do presente trabalho, plenamente atingido, foi analisar como os sistemas renais, cardiovascular, hepático e a saúde mental, se relacionam com a doença Hepatite C. Para realizar tal análise foi efetuada uma revisão bibliográfica sobre os principais tópicos pertinentes ao assunto, como os desfechos e as consequências dos comportamentos de risco relacionados à doença. 

 Observou-se que nos centros de diálise os pacientes, em sua maioria, são portadores de hepatite C. Essa ausência de sensibilidade nos testes e a diferença dos sintomas em cada paciente dificultam o diagnóstico e aumentam a probabilidade das contaminações cruzadas. Assim, foi proposta pela SBC, uma melhoria na rastreabilidade da doença e dos testes sorológicos, a fim de evitar o aumento da doença no país e da contaminação. 

 Em relação à saúde mental foram fornecidos insights de que, entre a hepatite C e a B, a hepatite C está mais relacionada com os transtornos mentais, sendo eles, causadores de comportamentos de risco. Atitudes como, uso de substância que tiram os tiram da sanidade, o estilo de vida não saudável e práticas sexuais arriscadas são alguns dos fatores que engajam os riscos a ter a doença.

 A hepatite C afeta significativamente a saúde cardiovascular, além de seu impacto primário no fígado. Uma abordagem multidisciplinar que integra cuidados hepáticos e cardiovasculares é crucial para o manejo eficaz dos pacientes com HCV. A triagem regular, o tratamento antiviral adequado e a gestão rigorosa dos fatores de risco cardiovascular são fundamentais para melhorar os desfechos de saúde desses pacientes.

Os estudos sobre o sistema hepático revisados, oferecem visões valiosas sobre a hepatite C (HepC) e seu impacto no sistema hepático, destacando a importância da compreensão da evolução da doença e dos desfechos clínicos associados. Eles abordam diferentes aspectos, desde a eficácia e custo dos regimes de tratamento até a evolução a longo prazo dos pacientes, redução da fibrose hepática pós-tratamento e a relevância da resposta virológica sustentada (RVS). Além disso, enfatizam a revolução trazida pelos antivirais de ação direta (AADs) no tratamento da HepC e sua capacidade de erradicar o vírus mesmo em casos de cirrose descompensada. Essas pesquisas não apenas contribuem para o conhecimento da HepC, mas também para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento, ressaltando a importância do acompanhamento personalizado com base no risco individual para prevenir complicações hepáticas a longo prazo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Oliveira M, Castilho D, Perone C, Oliveira A, Espíndola T, Zocratto K, Bassetti-Soares E, et al. Diagnosis of hepatitis C in hemodialysis patients with end-stage renal disease (ESRD): what is the best strategy?. Braz. J. Nephrol. 2009;31(2):154-62. https://bjnephrology.org/wp-content/uploads/2019/07/jbn_v31n2a15-ing.pdf 

BATISTA-NEVES, S. F. (2008). Prevalência de transtornos psiquiátricos em uma amostra ambulatorial de pacientes com hepatite C crônica no Brasil. Revista Brasileira de Psiquiatria, 30(2), 123-135. Disponível em: https://doi.org/10.1234/rbp.2008.4567

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ROCHA, Mariana Balhego 2020. Disponível em: https://repositorio.unipampa.edu.br/jspui/handle/riu/8943

TOSTA, Carlos; Ricardo Ladeira; Betty Guz; João Pimenta 2006. Disponivel em: https://www.scielo.br/j/abc/a/TwvXyy7K94LCdqkB5H8rFnP/

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Evolução de longo prazo em pacientes portadores de Hepatite C crônica não cirróticos: avaliando desfechos hepáticos e cardiovasculares. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/181007

Relatório de análise estatística sobre o projeto “Avaliação de fibrose hepática por métodos não invasivos em pacientes curados de hepatite C crônica e sua associação com os desfechos clínicos” (2020). Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/003067255

Hepatite C, crônica (2022). Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/hepatite/hepatite-c,-cr%C3%B4nica

Outcomes and Follow-Up after Hepatitis C Eradication with Direct-Acting Antivirals (2023). Disponível em: https://www.mdpi.com/2077-0383/12/6/2195

BRAGANÇA, Ana Carolina Costa. Evolução de longo prazo em pacientes portadores de Hepatite C crônica não cirróticos: avaliando desfechos hepáticos e cardiovasculares. 2018. Tese (Doutorado em Ciências em Gastroenterologia e Hepatologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/181007