REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10884223
Laura Belchior Vilas Novas1
Natália Sampaio Sobrinho1
Ana Beatriz Milhomem Veiga Rodrigues2
Vívian Girotto Rodrigues2
RESUMO
Objetivos: Realizar uma análise sobre o uso de creatina em pacientes renais policísticos e o acometimento renal gerado nos mesmos. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, realizada através de buscas por publicações indexadas nas bases de dados: MEDLINE via PubMed, Lilacs e SciELO. Os seguintes descritores foram utilizados: Creatina; Doença Renal Policística; Função renal; Tratamento. Ao final da pesquisa, 19 publicações atenderam aos critérios de inclusão e exclusão propostos, sendo elegíveis para o estudo. O estudo tem caráter descritivo, método social que utiliza a quantificação nas modalidades de coletas de informação e técnicas estatísticas. Após a escolha dos artigos coletados e estudados, foi feita uma análise de convergência entre as informações fornecidas pela literatura. Resultados e discussões: Este estudo permitiu refletir sobre a urgência de garantir a correlação do uso de creatina e o que gera nos pacientes renais crônicos, além de garantir tratamentos e prognósticos efetivos para os pacientes, promovendo melhora na qualidade de vida e maior sobrevida, utilizando, para tal, um apoio médico e uma relação médico-paciente efetiva, novas tecnologias e medicamentos e, sobretudo, estabelecimento de terapêuticas de acordo com a necessidade de cada pessoa.
PALAVRAS-CHAVE: Creatina; Doença Renal Policística, Taxa de filtração glomerular; Falência Renal.
ABSTRACT
Objectives: To analyze the use of creatine in polycystic kidney patients and the renal impairment generated in them. Methodology: This is an integrative literature review, carried out by searching for publications indexed in the following databases: MEDLINE via PubMed, Lilacs and SciELO. The following descriptors were used: Creatine; Polycystic Kidney Disease; Renal function; Treatment. At the end of the search, 19 publications met the proposed inclusion and exclusion criteria and were eligible for the study. The study is descriptive in nature, a social method that uses quantification in the collection of information and statistical techniques. After selecting the articles collected and studied, an analysis was made of the convergence between the information provided by the literature. Results and discussions: This study allowed us to reflect on the urgency of ensuring the correlation between creatine use and what it generates in chronic kidney patients, as well as guaranteeing effective treatments and prognoses for patients, promoting improved quality of life and greater survival, using medical support and an effective doctor-patient relationship, new technologies and medicines and, above all, establishing therapies according to the needs of each person.
KEYWORDS: Creatine; Polycystic kidney disease, Glomerular filtration rate; Renal failure.
1. INTRODUÇÃO
A doença renal policística é um distúrbio hereditário no qual cistos se formam em ambos os rins. O defeito genético conduz à formação maciça de cistos nos rins. O aumento gradual dos cistos com a idade é acompanhado de redução do fluxo sanguíneo e de um processo de cicatrização no interior dos rins. Os cistos podem infeccionar ou sangrar. Cálculos renais podem se desenvolver. O defeito genético também pode fazer com que apareçam cistos em outras partes do corpo, como no fígado e no pâncreas.
Dentre os sintomas estão o desconforto ou dor no flanco ou abdominal, sangue na urina, micção frequente e dores intensas em cólica devido aos cálculos renais. Em outros casos, a pessoa pode sentir fadiga, náuseas e outras consequências da doença renal crônica, pela diminuição do tecido funcional nos rins. Cistos podem se romper, causando uma febre que poderá durar por semanas. Infecções no trato urinário repetidas podem agravar a doença renal crônica. Pelo menos metade das pessoas com DRP têm hipertensão arterial no momento do diagnóstico da doença.
É notório afirmar, a carência de estudos no tocante à associação direta entre a doença renal policística (DPR) e o uso de creatina, fato que justificou a necessidade de uma revisão bibliográfica que engloba essa visão crítica da problemática abordada. Diante do exposto, é válido enfatizar a necessidade de um trabalho que aborde esse viés na literatura, visto que, é um tema em ascensão, devido aos inegáveis casos de DPR no Brasil. Com isso, a pergunta que pode ser feita com essa temática seria: Qual a possível relação entre o agravo da Doença Renal Policística em pacientes que ingerem creatina?
A creatina (ácido a-metil guanidino acético) é uma amina de ocorrência natural encontrada primariamente no músculo esquelético e sintetizada endogenamente pelo fígado, rins e pâncreas a partir dos aminoácidos glicina e arginina. A creatina tornou-se um dos suplementos alimentares mais populares entre uma vasta gama de populações saudáveis e clínicas, isso se deve ao fato da síntese endógena não ser suficiente para causar uma melhora no desempenho físico.
Desse modo, a procura da suplementação de ácido metil guanidino acético tem sido algo constante e que desencadeia múltiplos benefícios para o metabolismo com aparente ganho de força muscular e melhora da atividade cognitiva. A creatina é um composto que pode ser produzido de forma endógena assim como pode também ser encontrado nos alimentos de origem animal. A mesma vem ganhando cada vez mais popularidade entre os praticantes de atividades físicas que suplementam com o objetivo de acelerar o processo de hipertrofia ou melhora no rendimento, principalmente os que praticam jogos ou atividades que necessitam de um ou vários esforços máximos de curta duração (TEIXEIRA, 2020).
No entanto, os seus potenciais efeitos adversos na saúde renal continuam sendo motivo de preocupação. Os suplementos de creatina podem aumentar transitoriamente os níveis de creatinina sérica e simular uma doença renal. Ela pode ser obtida via alimentação, especialmente pelo consumo de peixes e carne vermelha . A produção endógena (1g/dia) somada à obtida na dieta (1g/dia para uma dieta onívora) se iguala à taxa de degradação espontânea da creatina e fosfocreatina, formando creatinina, por reação não enzimática (1). A creatina é encontrada no corpo humano nas formas livre (60 a 70%) e fosforilada (30 a 40%). Cerca de 95% é armazenada no músculo esquelético, sendo que o restante se situa no coração, músculos lisos, cérebro e testículos(1,2). (Mello el et,. 2019).
2. METODOLOGIA
O estudo é caracterizado como uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), que possibilita a identificação, síntese e a realização de uma análise ampla na literatura acerca de uma temática específica (Silva et al.,2020). Dessa forma, foram utilizadas seis etapas para sua elaboração: (1) delimitação do tema e construção da pergunta norteadora da pesquisa; (2) levantamento das publicações nas bases de dados escolhidas; (3) classificação e análise das informações achadas em cada estudo ; (4) análise crítica das pesquisas selecionadas; (5) descrição dos resultados encontrados e (6) inclusão, análise crítica dos achados e síntese da revisão da literatura.
Diante disso, o presente estudo tem como pergunta norteadora: Qual a correlação entre o uso suplementar de creatina em pacientes com doenças renais crônicas? Em seguida, para a construção deste estudo, foram utilizadas as seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE via PubMed), Cochrane, Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Para complementar a busca utilizou-se os portais de Órgãos Governamentais (Diário Oficial da União do Brasil e Ministério da Saúde do Brasil ); portais de Serviços de Saúde (World Health Organization, Fundação Oswaldo Cruz e GlobalMed).
Os estudos foram localizados a partir da busca avançada, realizada entre os meses de Janeiro de 2023 e Março de 2024, foram utilizados filtros em três idiomas (português, inglês e espanhol) tendo os artigos analisados data de publicação entre os anos de 2019 e 2024. A escolha desse recorte temporal dos últimos 5 anos, se deu pela atualidade da temática, com artigos que contemplassem as palavras-chave: Creatina, suplementação, doença renal e creatinina. Deste modo, foram incluídas publicações que englobasse a temática da creatina de forma geral, bem como à correlacionando com seus fatores de risco e desafios relacionados à sua prescrição pela equipe médica.
Os efeitos da suplementação de creatina sobre a função renal são discutidos intensamente na literatura científica. Enquanto alguns pesquisadores posicionam-se contra o uso dessa substância, uma vez que estudos de caso têm sugerido efeitos deletérios à função renal, há autores que se debruçam sobre estudos longitudinais, que embora possuam sérias limitações metodológicas, indicam a segurança da suplementação de creatina. Diante da incerteza em torno do tema, o seguinte trabalho tem o intuito de averiguar, através de uma revisão bibliográfica, os possíveis acometimentos da ingestão desta substância.
Buscou-se discorrer, nesta revisão, as controversas do uso da creatina e as consequências acarretadas em pacientes com doenças renais crônicas, como: cistos renais, tumores, insuficiência renal, nefropatia hipertensiva e nefropatia diabética. Os termos empregados na busca foram: rim, doença renal, creatinina, creatina. Dito isso, também foram utilizados estudos resumidos, artigos científicos e um estudo de caso, realizado por nefrologistas britânicos, chamado the lancet.
No estudo de caso descrito, foi comprovado que em indivíduos saudáveis a suplementação de creatina não tem efeito adverso na função renal com uma dose de 20 g de creatina monohidratada diariamente durante 5 dias consecutivos.
Foi realizado um estudo randomizado, na qual cada participante do grupo da creatina (primeiro grupo) foi orientado a tomar 21 g de creatina monohidratada diariamente, distribuídas em doses de 7 g no início da manhã, ao meio-dia e à noite, durante 5 dias consecutivos. Em seguida, tomaram 3 g de dose individual diariamente durante 58 dias adicionais.
Os participantes do grupo placebo (segundo grupo) seguiram o mesmo protocolo, mas tomaram maltodextrina (carboidrato com função energética de liberação lenta que auxilia no aumento do glicogênio muscular auxiliando a performance de atletas e praticantes de atividades físicas de alto rendimento e longa duração).
Foram coletadas amostras de sangue e urina 24 horas antes da suplementação (linha de base) e nos dias 5, 20, 51 e 63. Creatinina, uréia e albumina plasmática foram dosadas e sua depuração avaliada por métodos convencionais. Métodos não paramétricos foram aplicados para testar a significância estatística dos resultados.
Fonte: Autoria Própria (tradução do autor)
Diante dos resultados, é fato que a creatina não tem grandes acometimentos em pessoas saudáveis. Contudo, em pacientes com doença renal crônica, como foi comprovado pelo estudo, diante do paciente com glomeruloesclerose, comprova-se o agravamento e comprometimento adicional da sua função renal. Haja vista, que a creatina é convertida em creatinina, a qual é excretada pelos rins. O excesso de creatina obtida pela suplementação geraria uma sobrecarga renal ao ser excretada.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 1. Fluxograma PRISMA de seleção de estudos que constituíram a amostra.
Fonte: Autoria Própria
Na Figura 2, é apresentado um gráfico dos artigos apresentados de acordo com a organização para análise de dados, obtendo-se as seguintes publicações selecionadas na base de dados empregadas na discussão do estudo: Cochrane (n=3), Lilacs (n=5), SciELO (n=9), MEDLINE via PubMed (n=6) totalizando 28 publicações.
Figura 2. Distribuição dos artigos selecionados de acordo com as publicações elegidas na base de dados e portal eletrônico.
4. Conclusão
No presente estudo, foram sistematizados conhecimentos sobre os fatores relacionados à realização de suplementação da creatina em pacientes com doença renal crônica. Em suma, múltiplos fatores se mostram como relevantes no que concerne à suplementação de Creatina, dentre eles: A idade dos indivíduos que estão realizando tal suplementação, o nível de inflamação do rim, se o paciente possuem outras doenças renais ou cardíacas, estilo de vida, alimentação, assim como da atividade intestinal.
É fato que a compra de suplementos, como a creatina, vem crescendo no Brasil, justificando em parte o aumento do uso da mesma que vem sendo considerada cada vez mais presente na sociedade, tornando-se um suplemento de alto consumo, seja para pessoas ativas, que praticam atividade física e buscam uma melhora no desempenho físico, sejam também por pessoas com falta de informação que, infelizmente, apresentam doenças antecedentes e sem saber que podem acarretar em uma piora do quadro, acabam por ingerir em grande quantidade e acelerando e piorando a doença crônica.
Observa-se que as dificuldades ressaltadas por este estudo foram principalmente, a necessidade de maiores estudos a fim de definir os danos da ingestão da creatina em pessoas com doença renal, haja vista que há muitas pesquisas com indivíduos saudáveis, assim como possíveis novos fatores de impacto no uso do suplemento em questão.
Finalmente, salienta-se, que ações preventivas devem ser sempre preconizadas a fim de minimizar possíveis riscos que a suplementação realizada de forma incorreta possa gerar, é fato que há necessidade de retorno médico com frequência e acompanhamento para a instrução de possíveis suplementos que possam danificar o rim, sendo o acompanhamento da equipe médica, fundamental para citar a necessidade ou não da realização da suplementação assim como explicar os possíveis riscos que esta possa vir a trazer.
Destarte, proporcionando melhora significativa da qualidade de vida a milhares de indivíduos e um uso que maximize os benefícios da creatina globalmente.
REFERÊNCIAS
1. [EFFECTS of creatine supplementation on renal function] – PubMed. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31859895/. Acesso em: 18 mar. 2024.
2. A SUPLEMENTAÇÃO de creatina prejudica a função renal? Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/fMR3mrmKxXyLkLXmtDLXhBs/. Acesso em: 19 mar. 2024.
3. REDIRECTING. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(05)77836-3. Acesso em: 19 mar. 2024.
4. Wyss M and Kaddurah-Daouk R. Creatine and creatinine metabolism. Physiol Rev 2000; 80: 1107-213.
5. Terjung RL, Clarkson P, Eichner ER, Greenhaff PL, Hespel PJ, Israel RG, et al. American College of Sports Medicine roundtable. The physiological and health effects of oral creatine supplementation. Med Sci Sports Exerc 2000; 32: 706-17.
6. Poortmans JR and Francaux M. Adverse effects of creatine supplementation: fact or fiction? Sports Med 2000; 30: 155-70.
7. J Appl Physiol (1985). 1997 Dec;83(6):2055-63 – PubMed
8. Acta Physiol Scand. 1993 Dec;149(4):521-3 – PubMed
9. Med Sci Sports Exerc. 1997 Apr;29(4):489-95 – PubMed
10. Lancet. 1998 Jul 18;352(9123):234 – PubMed
11. Int J Sport Nutr. 1997 Jun;7(2):138-43 – PubMed
12. Yoshizumi WM, Tsourounis C. Effects of creatine supplementation on renal function. J Herb Pharmacother. 2004;4(1):1-7. PMID: 15273072.
1Acadêmicos de Medicina Universidade Nove de Julho- São Paulo- SP
2Acadêmicos de Medicina Universidade São Leopoldo Mandic- Campinas- SP