CONSEQUÊNCIA DA OBESIDADE INFANTIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10728942


Anna Júllya Libânio de Amorim1
Candice de Souza Carneiro1
Yan Carlos Silva2
Fábio Marques de Almeida3
Orientador: Murillo de Sousa Pinto3


RESUMO: A obesidade, doença causada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, produz efeitos iminentes à saúde. Sua etiologia é multifatorial, envolvendo aspectos biológicos, históricos, ecológicos, políticos, socioeconômicos, psicossociais e culturais. O objetivo é abordar o caráter multifatorial da obesidade, envolvendo a variedade de fatores ambientais e genéticos implicados na sua etiologia a partir de estudos de revisão da literatura nas principais bases de dados e bibliotecas especializadas. A obesidade tem sido considerada a mais importante desordem nutricional nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, devido ao aumento da sua incidência. Os aspectos genéticos, metabólicos, psicossociais, simbólicos, culturais e de estilo de vida permitiu fundamentar a obesidade enquanto uma enfermidade plural e a necessidade de criar políticas públicas com ações multidisciplinares e intersetoriais, que valorizem a parceria entre governo e sociedade civil, na prevenção e combate à obesidade e promoção da saúde, possibilitando a participação da comunidade nesse processo, através da responsabilização e do autocuidado.

Palavras-Chave: Obesidade. Genética. Autocuidado.

ABSTRACT: Obesity, a disease caused by the excessive accumulation of body fat, produces imminent health effects. Its etiology is multifactorial, involving biological, historical, ecological, political, socioeconomic, psychosocial, and cultural aspects. The goal is to address the multifactorial nature of obesity, involving the variety of environmental and genetic factors implicated in its etiology through literature review studies in major databases and specialized libraries. Obesity has been considered the most significant nutritional disorder in both developed and developing countries, given the increasing incidence. Genetic, metabolic, psychosocial, symbolic, cultural, and lifestyle aspects have allowed the foundation of obesity as a plural ailment, emphasizing the need for public policies with multidisciplinary and intersectoral actions that value the partnership between government and civil society in the prevention and combat of obesity and the promotion of health. This approach enables community participation in the process through accountability and self-care.

Keywords: Obesity. Genetics. Self-care.

INTRODUÇÃO

Sobrepeso e obesidade são considerados problemas de saúde no mundo inteiro, atingindo crianças, adolescentes, adultos e idosos de ambos os sexos.  No cenário mundial, o número de pessoas com excesso de peso vem enfrentando um aumento significativo ocasionando diversas complicações relacionadas (Menezes e  Vasconcelos, 2021) tornando-se um desafio na saúde pública em geral (Kumar; Kaufmann, 2018).

Atualmente, no Brasil, observa-se maior incidência nos medidores do excesso de peso nos pacientes infantis, estimando-se que 9,4% das meninas e 12,4% dos meninos, são obesos em 2020 (SBC, 2020). O número de crianças obesas de 5 a 9 anos cresceu mais de 300% entre os anos de 1989 e 2009 (Crescente et al., 2021).

As consequências da obesidade estão relacionadas a um aumento de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, na infância, o excesso de peso está diretamente relacionado às concentrações elevadas de insulina plasmática, perfil lipídico alterado e hipertensão (Gurnani et al., 2015).

Esses dados podem impactar a expectativa de vida, principalmente relacionado ao crescimento e desenvolvimento musculoesquelético (SBP, 2012). A atividade física somada a uma boa alimentação, desempenham um papel fundamental no estilo de vida e na composição corporal, podendo regular o perfil lipídico e metabólico de crianças (Paes, Marins e Andreazzi, 2015). 

Os benefícios da atividade física não são restritos à questão física, mas também  aos  aspectos  psicológicos, cognitivos e socioculturais (Oliveira et al., 2011). Estudos demonstram que crianças com sobrepeso, apresentam maior risco de se tornarem adultos obesos, assim, a prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes pode levar a diminuição na qualidade de vida, elevando o custo em cuidados com saúde (Jardim e Souza, 2017). 

O objetivo do presente estudo é analisar o caráter multifatorial da obesidade, envolvendo a variedade de fatores ambientais e genéticos implicados na sua etiologia a partir de estudos de revisão da literatura nas principais bases de dados e bibliotecas especializadas.

MÉTODOS

Esta pesquisa trata-se de uma revisão de literatura de caráter qualitativo e descritivo.  O levantamento bibliográfico foi conduzido nas bases de dados PubMed, Scielo e Google Acadêmico, entre os anos de 2018 a 2023. Foram utilizadas as palavras-chaves “sobrepeso”, “obesidade infantil”, “atividade física”, “riscos para a saúde”, “hábitos alimentares” “consequências da obesidade”, “pacientes infantis”,  para recuperação dos dados. 

Foram selecionados os artigos de interesse para o objetivo proposto, ou seja, promover uma reflexão teórica sobre a obesidade infantil e identificar os aspectos gerais associados a esta patologia, destacando aspectos epidemiológicos, etiológicos, consequências e tratamento, considerando a importância e a gravidade da obesidade em crianças.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o conceito fundamental de sobrepeso e obesidade define-se pelo acúmulo de gordura anormal ou excessiva que pode provocar algum risco à saúde (ABESO, 2019).

Atualmente, os índices de obesidade infantil aumentam a cada dia de forma alarmante em todo o Brasil. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), 15% das crianças entre cinco a nove anos já apresentavam excesso de peso e este índice dobrava entre os adolescentes de doze a dezessete anos, apresentando complicações mais graves na fase adulta. Estatísticas recentes apontam que um em cada cinco jovens entre 10 e 19 anos apresentam excesso de peso (IBGE, 2016).

De acordo com Agostini (2009), as taxas de obesidade em crianças e adolescentes em todo o mundo aumentaram de menos de 1% (equivalente a cinco milhões de meninas e seis milhões de meninos) em 1975 para quase 6% em meninas (50 milhões) e quase 8% em meninos (74 milhões) em 2016.

Inúmeros riscos para saúde podem ser citados como causados pela obesidade, riscos estes que podem trazer problemas para o indivíduo tanto na infância quanto na vida adulta. O sobrepeso e obesidade são condições consideradas sérias e relevantes, apontadas como um dos maiores problemas de saúde no mundo, responsável pelo aumento na morbidade e mortalidade por Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNST), segundo a OMS (2002).

 A obesidade infantil traz diversos riscos para saúde, e pode ser relacionada a várias doenças como alterações cardiovasculares, Hiperlipidemias, Câncer Colorretal, Diabetes Mellitus, Gota, Artrite, Doenças Pulmonares, baixa resistência ao calor (Freitas; Coelho; Ribeiro, 2009).

Na infância ocorre a formação dos hábitos alimentares, nesta fase as crianças formam preferências alimentares que se estenderão ao longo da vida. Os hábitos alimentares dos pais interferem no aumento do excesso de peso dos seus filhos, que são influenciados pelo comportamento alimentar do meio familiar. Este reflexo estimula o surgimento de distúrbios de sobrepeso, concluindo que os pais são os principais responsáveis pela escolha alimentar de seus filhos e que podem contribuir para o excesso do peso dos mesmos (Silva et al. 2019)

Apesar da atividade física ter efeitos benéficos sobre a saúde, estima-se que apenas 20% dos adolescentes participam de 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa, o que aliado a uma alimentação de má qualidade, promovem a obesidade nesta população. Já em crianças, por sofrerem fortes influências da convivência familiar e escolar, com prática de atividade física e alimentação saudável (Barreto e Nunes, 2019)

A ingestão de alimentos por gatilhos emocionais ganha destaque como causador do ganho de peso excessivo e passa tornar-se um ponto essencial no tratamento da criança obesa. O fator emocional é de grande importância tanto para causa como consequência da obesidade e foco indispensável no tratamento. Estudos afirmam que há hiperativação e hipo-ativação de regiões cerebrais específicas responsáveis pelo sistema de recompensa e comportamento inibitório respectivamente, o que evidencia a influência dos sentimentos negativos (insatisfação com a própria imagem) e a presença de deficiência de mecanismos de regulação das emoções em pacientes obesos com transtorno compulsivo alimentar (Nunes, 2019)

No artigo de revisão de Godinho et al (2019), os autores descreveram que os principais fatores para o desenvolvimento do sobrepeso e da obesidade entre crianças relacionam-se à alimentação inadequada, inatividade física, equipamentos eletrônicos, fatores socioeconômicos e influência familiar. Os autores ressaltam que os acompanhamentos nutricionais na infância e adolescência por parte da família, assim como em outros ambientes, entre eles o escolar, são essenciais na criação de hábitos saudáveis na vida adulta. 

Os principais fatores que desencadeiam a obesidade na infância estão relacionados aos maus hábitos alimentares e ao sedentarismo. Nessa perspectiva, tanto os profissionais de saúde e da educação quanto a família têm papel importante no sentido de evitar o sobrepeso e a obesidade das crianças (Botelho, Soares e Finelli, 2019).

O mecanismo de desenvolvimento da obesidade não é totalmente compreendido e acredita-se que seja um distúrbio com múltiplas causas. Fatores ambientais, preferências de estilo de vida e ambiente cultural desempenham papéis centrais na crescente prevalência da obesidade em todo o mundo. Em geral, supõe-se que o excesso de peso e a obesidade sejam os resultados de um aumento na ingestão calórica e gordurosa. A autora afirma também que o declínio constante da atividade física tem desempenhado um papel importante nas crescentes taxas de obesidade em todo o mundo. (JONAS, 2018)

Através de uma revisão bibliográfica sobre o assunto, os autores Silva e colaboradores (2018), observaram que a organização da sociedade permeada pelo consumo irracional e inconsequente tem afetado, sobremaneira, a saúde de crianças brasileiras, outro forte fator que influencia na obesidade infantil é o papel da mídia como indutor ao consumo de determinados tipos de alimentos.

A mídia tem participação ativa e majoritária na infância; por meio dessas mídias, empresas estimulam o consumo de alimentos com alto teor de gorduras, sódio e outras substâncias nocivas à saúde (Ceccatto et al., 2018) e Beltramin et al., 2015)

Linhares et al (2016), citam em seu artigo de revisão bibliográfica que o âmbito familiar e social é um fator que influencia na condição de obesidade nas crianças. Os autores relatam que as causas da obesidade estão relacionadas também a vários fatores, podendo ser a ingestão inadequada de alimentos e falta da prática de exercícios físicos, a obesidade é também desencadeada por fatores ambientais, além de biológicos, hereditários e psicológicos.

CONCLUSÃO

Acreditamos ser necessário criar novos protocolos  de investigação em saúde e nutrição que valorizem abordagens metodológicas que iniciam da perspectiva da obesidade enquanto uma enfermidade multifatorial, não fragmentada, como normalmente se apresenta a literatura sobre o tema. Alguns autores já têm realizado estudos com esta abordagem mais abrangente e múltipla. É a partir da construção de estudos com esse foco que será possível promover uma instrumentalização mais eficiente dos profissionais de saúde para o tratamento da obesidade no nível individual e familiar, no qual as abordagens multidisciplinares e intersetoriais se destacariam.

Ações coletivas devem envolver políticas públicas que promovam a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, onde a parceria entre o governo e a sociedade  seja um caminho abrangente na prevenção e tratamento da obesidade, por meio da responsabilização e do autocuidado, permitindo que a sociedade participe do processo de promoção da saúde.

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1Academicas do Curso de Biomedicina da Faculdade de Piracanjuba
2Mestrando em Assistência e Avaliação em Saúde – PPGAAS- UFG
3Professor do Centro Universitário Alfredo Nasser – UNIFAN