CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA FASE PRÉ-ESCOLAR

PHONOLOGICAL AWARENESS IN THE PRESCHOOL PHASE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248071432


Andréia Silva de Miranda
Catarina da Silva Gama
Eliane Maia Miranda Moreira
Thiago Araújo Ribeiro


RESUMO

Esse artigo teve como objetivo geral analisar a influência da consciência fonológica na fase pré-escolar no desenvolvimento inicial da linguagem e sua relação com a aquisição efetiva de habilidades de leitura e escrita do educando. Delimitaram-se como objetivos específicos: explorar as principais teorias psicológicas que contribuíram para a compreensão do desenvolvimento infantil, Iivestigar como a consciência fonológica pode impactar a aquisição de novas palavras. Para chegar aos objetivos apresentados nesse estudo foram utilizados procedimentos metodológicos para se ter um melhor embasamento teórico e prático. O procedimento usado foi à pesquisa bibliográfica de natureza básica. Em se tratando da abordagem se trata de uma pesquisa qualitativa. Para a compreensão desse estudo, foi utilizado o referencial de autores como: Adams (2016), Bimonti et al., (2017); Moyeda et al., (2015) entre outros que abordam o assunto, já que na pesquisa qualitativa o referencial teórico está sempre em construção. Diante dos estudos realizados, pode-se concluir que investir no desenvolvimento da consciência fonológica durante a fase pré-escolar não apenas prepara as crianças para os desafios iniciais da alfabetização, mas também promove a autonomia e a confiança nas habilidades linguística. Essa preparação sólida na infância estabelece as bases para um percurso educacional mais fluente, capacitando os indivíduos a se tornarem leitores proficientes e participantes ativos na sociedade.

Palavras-chave: Alfabetização. Consciência fonológica. Educação infantil. 

ABSTRACT

This article had the general objective of analyzing the influence of phonological awareness in the preschool phase on the initial development of language and its relationship with the student’s effective acquisition of reading and writing skills. Specific objectives were defined as: exploring the main psychological theories that contributed to the understanding of child development, Investigating how phonological awareness can impact the acquisition of new words. To achieve the objectives presented in this study, methodological procedures were used to provide a better theoretical and practical basis. The procedure used was bibliographical research of a basic nature. When it comes to the approach, it is qualitative research. To understand this study, references from authors such as: Adams (2016), Bimonti et al., (2017) were used; Moyeda et al., (2015) among others who address the subject, since in qualitative research the theoretical framework is always under construction. Given the studies carried out, it can be concluded that investing in the development of phonological awareness during the preschool phase not only prepares children for the initial challenges of literacy, but also promotes autonomy and confidence in linguistic skills. This solid preparation in childhood lays the foundation for a more fluent educational path, enabling individuals to become proficient readers and active participants in society.

Keywords: Literacy. Phonological awareness. Child education.

1  INTRODUÇÃO

A educação infantil, fase crucial no desenvolvimento de habilidades fundamentais, estabelece as bases para uma aprendizagem futura. Na pré-escola, crianças de 4 e 5 anos estão em um período de rápido crescimento cognitivo e linguístico, tornando-se o momento ideal para introduzir conceitos que influenciarão diretamente sua capacidade de alfabetização. Uma das áreas mais específicas nesse estágio é o desenvolvimento da consciência fonológica, a habilidade de reflexão e manipulação dos sons da fala, que é uma chave preditora da futura leitura e escrita (Sargiani; Maluf, 2018).

A abordagem da consciência fonológica na fase pré-escolar não é apenas uma preparação para habilidades acadêmicas específicas, mas também contribui para o desenvolvimento holístico da criança. Ao aprender a discernir os sons da linguagem, as crianças aprimoram suas habilidades auditivas, a capacidade de comunicação e, por consequência, a expressão e compreensão de ideias (Capovilla; Capovilla, 2018).

No entanto, o método e a eficácia com que essas habilidades são trabalhadas na pré-escola, especificamente em crianças de 4 e 5 anos, permanecem pouco exploradas e carecem de uma compreensão profunda. Considerando-se, pois, que o tema proposto desperta várias discussões, o presente estudo se propõe a responder a seguinte problemática de pesquisa: Com base nas evidências científicas nacionais, como a promoção da consciência fonológica na fase pré-escolar influencia o desenvolvimento inicial da linguagem e, por conseguinte, das habilidades de leitura e escrita do educando?

Esse artigo teve como objetivo geral analisar, com base em uma revisão bibliográfica, a influência da consciência fonológica na fase pré-escolar no desenvolvimento inicial da linguagem e sua relação com a aquisição efetiva de habilidades de leitura e escrita do educando. Delimitaram-se como objetivos específicos: explorar as principais teorias psicológicas que contribuíram para a compreensão do desenvolvimento infantil, Investigar como a consciência fonológica pode impactar a aquisição de novas palavras.

Devido às constantes resistências inovadoras no processo de ensinoaprendizagem e considerando também a faixa etária dos alunos no período préescolar é que se justifica a realização deste estudo bem como a necessidade de discorrer sobre esse tema principalmente pelo conhecimento de que os resultados educacionais de aprendizagem continuam de certa forma insatisfatórios necessitando de mudanças e inovações. Desta forma, a pesquisa também contribuirá para a literatura existente ao fornecer evidências empíricas dos resultados da educação fonológica introdutória. 

Para chegar aos objetivos apresentados nesse estudo foram utilizados procedimentos metodológicos para se ter um melhor embasamento teórico e prático. O procedimento usado foi à pesquisa bibliográfica de natureza básica. Em se tratando da abordagem se trata de uma pesquisa qualitativa. Para a compreensão desse estudo, foi utilizado o referencial de autores como: Adams (2016), Bimonti et al., (2017); Moyeda et al., (2015) entre outros que abordam o assunto, já que na pesquisa qualitativa o referencial teórico está sempre em construção.

Esse artigo está estruturado da seguinte forma: no primeiro tópico define-se o problema, justificativa, objetivos e estrutura do trabalho. No segundo tópico foram tratados os conceitos, histórico e realizadas discussões acerca da temática em voga. E, por fim, no terceiro tópico elencam-se as considerações finais seguido das referências bibliográficas utilizadas na construção dessa pesquisa

2  O ESTÍMULO DA CONSCIENCIA FONOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

2.1 O MARCO TEÓRICO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O conceito de infância sofreu uma evolução significativa ao longo da história, e entender essa evolução é crucial para contextualizar a importância da educação infantil na atualidade. Ariès (2006) ilustra em sua obra como a noção de infância foi construída historicamente, evidenciando a mudança na percepção de crianças como pequenos adultos para seres com características e necessidades próprias. Essa mudança de paradigma foi fundamental para o desenvolvimento de práticas educativas e de cuidado que liberam a infância como uma fase distinta e crucial do desenvolvimento humano, marcando o início do que hoje conhecemos como educação infantil. 

O marco teórico da infância é um constructo complexo e dinâmico que reflete as perspectivas acadêmicas e sociais sobre o período que abrange o nascimento até o início da adolescência. Diversas disciplinas, como psicologia, sociologia, educação e antropologia, contribuem para a construção desse entendimento, moldando concepções sobre o desenvolvimento infantil, o papel das instituições sociais e a formação da identidade.

Na psicologia, teorias como as de Jean Piaget e Lev Vygotsky fornecem alicerces essenciais para compreender o desenvolvimento cognitivo e social na infância. Piaget (2005) destacou as diferentes etapas do desenvolvimento intelectual, enfatizando a assimilação e a acomodação como processos-chave na construção do conhecimento. Vygotsky (2007), por sua vez, ressalta a importância da interação social e da linguagem no desenvolvimento cognitivo, destacando a zona de desenvolvimento proximal como um espaço crucial para a aprendizagem.

No campo da sociologia, as contribuições de Émile Durkheim destacam a importância da educação como agente de socialização, enquanto Elias contribui com a ideia de civilização do costumes, evidenciando como as normas sociais moldam o comportamento infantil. A abordagem histórico-cultural, proposta por Vygotsky (2007) e ampliada por outros teóricos, destaca a importância do contexto cultural na formação da infância. Essa perspectiva reconhece que as práticas educacionais, as representações simbólicas e as expectativas em relação às crianças são profundamente enraizadas em contextos culturais específicos.

No século XXI, as discussões sobre a infância também foram influenciadas pelas teorias críticas, que questionam as relações de poder e as desigualdades presentes na sociedade. Autores como Paulo Freire (2009) e Henry Giroux (2006) contribuem de forma positiva para o entendimento de como as estruturas sociais e educacionais impactam a experiência infantil, destacando, portanto, a necessidade de abordagens pedagógicas que promovam a participação ativa e o pensamento crítico desde cedo.

Já o teórico Wallon (2005) propõs uma visão integrada do desenvolvimento infantil, onde as dimensões afetivas, cognitivas e motoras são interdependentes. A educação infantil deve, portanto, criar condições para que todas essas dimensões sejam executadas harmoniosamente. Segundo Wallon, a afetividade, a cognição e a motricidade são aspectos que se influenciam mutuamente, e uma abordagem pedagógica eficaz deve considerar essa interação como fundamental para o desenvolvimento da criança. 

A pedagogia da educação infantil deve ser cuidadosamente estruturada para atender às necessidades específicas da fase da vida, como argumentado por. A autora defende que a pedagogia na pré-escola deve ser holística e focada na criança, promovendo o desenvolvimento em todas as áreas – cognitiva, emocional, social e física – e proporcionando um ambiente rico em estímulos que favoreça o desenvolvimento integral (Santos; Maluf, 2017).

A consciência fonológica é apenas um dos muitos componentes que devem ser integrados em um currículo que visa o desenvolvimento completo e equilibrado da criança, preparando-a não apenas academicamente, mas também social e emocionalmente para os desafios futuros (Bimonti et al., 2017).. 

2.2     DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DE  PROCESSAMENTO FONOLÓGICO

A necessidade de estudar a consciência fonológica na pré-escola surge da sua importância comprovada para o sucesso subsequente na alfabetização. Segundo Sargiani e Maluf (2018), as dificuldades de leitura e escrita podem ser atenuadas com intervenções prévias e eficazes. 

O desenvolvimento das habilidades de processamento fonológico relacionadas à leitura representa um importante marco de desenvolvimento no processo de aprendizagem da leitura. Numa sociedade alfabetizada, aprender a ler e a escrever são marcos fundamentais do desenvolvimento. As competências de leitura e escrita constituem a base para a aquisição de conhecimentos de conteúdos noutros domínios, tanto na escola como ao longo da vida (Capovilla; Capovilla; 2018).

O conhecimento sobre as causas, correlatos e preditores dos sucessos e fracassos de leitura das crianças em idade escolar aumentou substancialmente nas últimas três décadas; no entanto, apenas nos últimos 10 anos esforços consideráveis foram direcionados para a compreensão do desenvolvimento e da contribuição das competências relacionadas com a leitura antes do ingresso na escola. Este crescente conjunto de evidências destaca a importância do período pré-escolar para o desenvolvimento de diversas habilidades de alfabetização precoce extremamente importantes (Adams, 2016).

Estas competências são frequentemente referidas como competências de literacia emergentes, que Whitehurst e Lonigan (2005, p.849) definiram como os “precursores do desenvolvimento das formas convencionais de leitura e escrita” (p. 849). Embora teorias mais antigas sobre as causas das dificuldades de leitura postulassem envolvimento significativo de sistemas perceptivos-visuais ou hipotetizassem dificuldades sutis de visão, as conceituações mais recentes de dificuldades de leitura concentraram-se em fatores linguísticos. Existe agora um forte consenso de que a causa mais comum de dificuldades precoces de leitura é uma fraqueza nas habilidades de processamento fonológico das crianças 

Wagner e Torgesen (2007) , com base em pesquisas com crianças em idade escolar, identificaram três grupos inter-relacionados de habilidades de processamento fonológico relacionadas à leitura: consciência fonológica, memória fonológica e acesso fonológico ao armazenamento lexical. 

A consciência fonológica refere-se à capacidade de detectar, apreender ou manipular a estrutura sonora da linguagem oral independentemente do significado, e é comumente medida por tarefas que exigem combinar, misturar, excluir ou contar sons dentro das palavras. Esta capacidade de acessar unidades sonoras cada vez menores nas palavras faladas ajuda as crianças a fazer a conexão entre os sons e as letras que os representam na impressão (ou seja, o código alfabético) (Carvalho; Alvarez, 2011).

A memória fonológica refere-se à codificação de informações em um sistema de representação baseado em som para armazenamento temporário e é normalmente medida pela recordação imediata de material apresentado verbalmente (por exemplo, repetição de pseudopalavras. Uma memória fonológica eficiente pode permitir que as crianças mantenham uma representação precisa dos fonemas associados às letras de uma palavra durante a decodificação e, portanto, dediquem mais recursos cognitivos aos processos de decodificação e compreensão de palavras (Santos; Maluf, 2017).

O acesso fonológico ao armazenamento lexical (“acesso lexical”) refere-se à velocidade e precisão (ou seja, eficiência) com as quais as crianças podem recuperar códigos fonológicos da memória de longo prazo, e é normalmente medido como a taxa na qual um conjunto de letras, dígitos ou cores podem ser nomeados. A eficiência no acesso lexical pode influenciar a facilidade com que uma criança pode recuperar a informação fonológica associada a letras, segmentos de palavras e palavras inteiras, e aumentar a probabilidade de que ela possa usar esta informação fonológica na descodificação de palavras (Capovilla; Capovilla, 2018).

De acordo com o Modelo do Déficit do Núcleo Fonológico, as dificuldades de leitura são na maioria das vezes o resultado de uma fraqueza significativa nas habilidades de processamento fonológico. Ou seja, crianças que têm dificuldade de decodificar palavras com precisão e fluência apresentam uma fraqueza significativa em uma ou mais habilidades de processamento fonológico, normalmente consciência fonológica ou acesso lexical (Carvalho; Alvarez, 2011).

Algumas evidências sugerem que as crianças com um déficit tanto na consciência fonológica como no acesso lexical, uma condição muitas vezes referida como “duplo déficit”, tendem a estar na base da distribuição da capacidade de leitura; no entanto, outras evidências questionam a independência destas duas habilidades nos extremos da distribuição de habilidades (por exemplo, crianças com níveis extremamente baixos de consciência fonológica que têm níveis médios a altos de acesso lexical; bem como a importância do fraco acesso lexical para dificuldades de leitura (Moyeda et al., 2015).

Além de estarem associadas a graves dificuldades de leitura, essas habilidades de processamento fonológico são preditivas de crescimento nas habilidades de leitura. Em relação à consciência fonológica, as crianças que detectam ou manipulam melhor sílabas, rimas ou fonemas aprendem a ler mais rapidamente do que as crianças menos capazes de realizar essas tarefas, e essa relação está presente mesmo após variabilidade na habilidade de leitura devido a fatores como à medida que o QI, o vocabulário receptivo, as habilidades de memória e a classe social são parcialmente eliminados (Morais, 2019).

As medidas de acesso lexical também são preditores significativos do crescimento nas habilidades de decodificação de palavras em crianças em idade escolar e parecem ter um efeito independente no crescimento da decodificação de palavras acima da consciência fonológica e da memória fonológica. Da mesma forma, as medidas da memória fonológica são correlatos significativos do crescimento nas habilidades de decodificação de palavras, mas atualmente há poucas evidências de que a memória fonológica forneça uma variação preditiva única para o crescimento na decodificação de palavras além daquela fornecida pela consciência fonológica (Capovilla; Capovilla, 2018).

Apesar de um grande conjunto de pesquisas relacionando as habilidades de processamento fonológico com a leitura e investigando o desenvolvimento dessas habilidades em crianças em idade escolar, há muito menos pesquisas sistemáticas disponíveis sobre o desenvolvimento e a importância dessas habilidades em crianças mais novas (Moyeda et al., 2015).

Dadas as fortes relações preditivas e causais entre as habilidades de processamento fonológico e as habilidades posteriores de leitura, e o alto grau de estabilidade dessas habilidades, é importante compreender a natureza e a estrutura das habilidades de processamento fonológico em crianças, tanto antes como no início da infância. experiências educacionais formais (ou seja, pré-escola e jardim de infância). Esse conhecimento pode levar a formas mais eficazes de identificar crianças pequenas que correm o risco de ter um fraco desempenho na leitura e levar ao desenvolvimento de intervenções precoces que ajudarão a eliminar o risco de problemas de leitura posteriores (Santos; Maluf, 2017).

2.3 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E AQUISIÇÃO DE NOVAS PALAVRAS

A consciência fonológica é mais frequentemente definida como uma consciência e sensibilidade em relação à estrutura sonora da língua nativa do indivíduo. Bimonti et al., (2017) usam o termo consciência fonológica para se referir à capacidade de reconhecer e manipular os sons que ocorrem na linguagem (por exemplo, a busca por rima, a combinação de sílabas e a contagem do número de sons em uma palavra). O desenvolvimento da sensibilidade fonológica varia desde unidades sonoras mais longas e concretas (por exemplo, palavras e sílabas) até unidades sonoras menores (por exemplo, o som inicial da palavra, rima) e as menores unidades sonoras, ou seja, fonemas (Bimonti et al., 2017).. 

Portanto, a consciência fonológica da criança abrange desde uma simples operação de processamento de áudio até operações mais complexas: rimar, separar frases, separar e misturar sílabas, separar e misturar início e fim, e separar e misturar fonemas individuais (Adams, 2016).

A consciência fonológica também é definida como um dos processos-chave do processamento fonológico. O processamento fonológico refere-se a “uma ampla gama de atividades que aumentam a sensibilidade do indivíduo aos sons e ao uso desses sons nas palavras. Bimonti et al., (2017) demonstraram que as habilidades perceptivas musicais se correlacionam com a consciência fonológica e as habilidades de leitura, podendo também ser preditivas do desenvolvimento da leitura em préescolares

Para poder atribuir um único estímulo à mesma categoria ou a categorias diferentes (por exemplo, fonemas, altura), as crianças devem perceber e diferenciar esse estímulo. Com o aumento da idade, as crianças estão a tornar-se conscientes e são capazes de distinguir até nuances subtis dentro de uma categoria (por exemplo, os mesmos ritmos de fontes diferentes ou combinações semelhantes de fonemas de falantes diferentes), bem como diferenças entre categorias (por exemplo, diferenças entre dois diferentes falantes). ritmos ou dois fonemas diferentes) (Kaminski; Mota; Cielo, 2011).

Nas ideias de Capovilla e Capovilla (2018), a consciência fonológica, caracterizada pela capacidade de discernir e manipular os sons da linguagem, desempenha um papel fundamental no domínio da fala e, por extensão, na construção do vocabulário infantil. No âmbito desse contexto, observa-se que crianças que demonstram um maior nível de consciência fonológica tendem a apresentar um vocabulário mais rico e diversificado. A habilidade de segmentar as palavras em unidades sonoras distintas, como sílabas e fonemas, parece influenciar diretamente a capacidade da criança de identificar, recordar e utilizar novas palavras em seu vocabulário receptivo e expressivo (Capovilla; Capovilla, 2018).

Além disso, o estudo de Bandini, Santos e Souza (2013) buscou compreender como o desenvolvimento da consciência fonológica pode facilitar ou representar um desafio para a aquisição de novas palavras. Os resultados revelam que crianças que conseguem identificar e isolar fonemas em palavras, por exemplo, podem ter uma vantagem ao internalizar novos termos, já que possuem uma compreensão mais refinada da estrutura sonora das palavras.

Outro aspecto explorado é a relação bidirecional entre consciência fonológica e vocabulário. Não apenas a consciência fonológica influencia a expansão do vocabulário, mas o próprio enriquecimento vocabular pode, por sua vez, fortalecer a consciência fonológica. A interação constante entre esses dois elementos sugere um processo dinâmico e recíproco no qual a competência em um aspecto pode potencializar o desenvolvimento do outro (Morais, 2019).

2.4 CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E POLÍTICA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO]

Conforme enfatizado anteriormente, a consciência fonológica, entendida como a habilidade de compreender e manipular os sons da linguagem, tem uma relevância no processo de alfabetização. No contexto da Política Nacional de Alfabetização (PNA), um entendimento aprofundado da consciência fonológica torna-se essencial para o desenvolvimento de abordagens pedagógicas eficazes e alinhadas aos objetivos nacionais de promoção da leitura e escrita (Brasil, 2019).

A PNA, enquanto iniciativa governamental, visa aprimorar a qualidade do ensino da leitura, escrita e matemática nas escolas brasileiras. Ao considerar a consciência fonológica como um dos pilares do aprendizado inicial da leitura, a política reconhece a importância de estratégias pedagógicas que desenvolvam essa habilidade desde os primeiros anos escolares (Morais, 2019).

A inserção da consciência fonológica na PNA destaca a compreensão de que a capacidade de reconhecer e manipular sons está diretamente ligada à proficiência na decodificação e compreensão de textos. Portanto, a política destaca a necessidade de práticas pedagógicas que promovam atividades específicas para o desenvolvimento da consciência fonológica, contribuindo para a formação de leitores competentes (Scherer; Wolff, 2020).

O alinhamento entre consciência fonológica e PNA também ressalta a importância de adaptações curriculares e estratégias de ensino que considerem a diversidade linguística presente no Brasil. Reconhecendo as particularidades fonéticas e fonológicas regionais, a abordagem da consciência fonológica na PNA busca ser inclusiva e sensível às peculiaridades linguísticas dos diferentes contextos educacionais no país. 

No entanto, desafios práticos e implementação efetiva ainda se apresentam. A formação de professores, a disponibilidade de recursos educacionais e a integração consistente da consciência fonológica no currículo são áreas que demandam atenção para assegurar o pleno sucesso da relação entre essa habilidade e os objetivos da PNA (Morais, 2019).

3  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização da presente pesquisa acadêmica sobre a importância da habilidade fonológica durante os anos iniciais de vida, possibilitou identificar estratégias que promovem a consciência fonológica na fase pré-escolar têm implicações diretas na melhoria da proficiência em leitura e escrita. Além disso, ao considerar a diversidade linguística e cultural, o presente estudo destacou que se faz necessário que essas abordagens sejam adequadas aos perfis individuais das crianças, garantindo uma educação inclusiva e equitativa. 

Em suma, pode-se concluir que investir no desenvolvimento da consciência fonológica durante a fase pré-escolar não apenas prepara as crianças para os desafios iniciais da alfabetização, mas também promove a autonomia e a confiança nas habilidades linguística. Essa preparação sólida na infância estabelece as bases para um percurso educacional mais fluente, capacitando os indivíduos a se tornarem leitores proficientes e participantes ativos na sociedade.

Trata-se de temática contemporânea e que pode vir a ser norteadora de pesquisas posteriores e mais densas da parte da autora e fonte inspiradora para o leitor iniciante, cuja concepção de consciência fonológica não deve ser considerada como uma habilidade isolada, mas como um elemento integrante e transformador do processo educacional. Por fim, vale ressaltar que as proposições descritas no arcabouço da pesquisa puderam propor, ou ainda puderam inferir a confirmação positiva de se ter alcançado tanto o objetivo principal do trabalho como os objetivos específicos quanto objeto de estudo viável.

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