REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12738217
Matheus Dantas Ribeiro Batista, Tônia Arianne Mendes Cruz, Arthur Henrique Vieira, Ricardo Erton de Melo Pereira da Silva, Frank Gigianne Texeira e Silva, Marcos Alexandre Casimiro de Oliveira, Raulison Vieira de Sousa, José Klidenberg de Oliveira Júnior, Clarissa Lopes Drumond
RESUMO
Urgências e emergências médicas são caracterizadas como situações inesperadas que exigem ações imediatas, pois podem comprometer a vida do paciente. Dessa forma, o conhecimento sobre primeiros socorros é importante no dia a dia do cirurgião-dentista e na vida do acadêmico do curso de odontologia, pois mesmo que os casos sejam raros dentro do consultório odontológico, eles ainda podem acontecer, e o cirurgião-dentista deve estar preparado para lidar com situações que colocam em risco a vida do paciente. O objetivo do presente estudo foi verificar os conhecimentos sobre primeiros socorros dos graduandos de odontologia do alto sertão da Paraíba. Trata-se de um estudo transversal que foi realizado com graduandos de odontologia da cidade de Cajazeiras, Paraíba, Brasil. A amostra foi composta por 24 graduandos do curso de Odontologia do alto sertão Paraibano. Os participantes responderam a um questionário pré-estruturado via Google Forms, composto por 13 questões, que continham informações sobre primeiros socorros. Dentre esses graduandos, 54,2% (n=13) afirmaram ter na matriz unidade curricular de primeiros socorros. Os graduandos que presenciaram urgência durante a prática clínica foram de 20,8% (n=5), a maioria (66,7%; n=16) afirmou que não se sentiram seguros para realizar os primeiros socorros. Poucos os participantes 8,3% (n=2) sabiam o protocolo de atendimento em caso de hipoglicemia. Em caso de hipoglicemia durante a prática clínica, 45,8% (n=11) não souberam solucionar o problema, 79,1% (n=19) não souberam agir em caso de reações alérgicas. A maioria dos participantes 70,8 % (n=17) tinham conhecimento sobre as atitudes diante de parada cardiorrespiratória, sobre síncope 79,2% (n=19). Conclui-se que a maioria dos graduandos de Odontologia não apresentaram conhecimento suficiente para realizar os primeiros socorros durante a prática odontológica.
PALAVRAS-CHAVE: Primeiros Socorros, Graduandos, Odontologia, Emergências.
INTRODUÇÃO
O cirurgião-dentista, em sua prática profissional, está intrinsecamente exposto ao risco de enfrentar emergências médicas. Embora não sejam frequentes, tais ocorrências podem acontecer no ambiente odontológico e com qualquer indivíduo antes, durante ou após uma intervenção. Podem ocorrer tanto em serviços públicos ou privados (Albuquerque,2016).
Um evento emergencial é uma condição inesperada que exige uma ação imediata para preservar a vida e a saúde. Podem ser caracterizados como situações como reação alérgica, convulsão ou síncope que exigem ações de cuidado imediato pois essas situações comprometem a vida e o estado integral do paciente. Dessa forma, os profissionais têm que estar aptos e seguros para o manejo de uma emergência (Sakai et al., 2005; Malamed,1997; Marzola: Griza, 2001).
O cirurgião-dentista deve se manter apto para conseguir adequar o seu atendimento e prevenir complicações. A partir da anamnese detalhada, o exame clínico completo e bem conduzido como também estar sempre em comunicação sobre a saúde geral do seu paciente, e quando necessário fazer contato com outros profissionais que acompanham o paciente são fundamentais para evitar situações emergenciais. Para um correto atendimento em uma emergência, o profissional e sua equipe auxiliar devem estar preparados, com treinamento em Suporte Básico de Vida (SBV). Nessas ocasiões, o profissional deve ter ações rápidas e corretas. Para tanto, também deve ter um preparo psicológico adequado e estar seguro no ato de socorrer (Caputo et al, 2010; Wakeen,1993; Bennettt,1995; Maringoni;1998).
A literatura mostra que 75% dos casos de urgência e emergência em consultórios odontológicos são causadas por estresse e medo, o que pode ser o responsável pelo paciente apresentar quadros de angina ou infarto.
Dentre os episódios de urgência e emergência mais comuns de ocorrerem no consultório odontológico se destacam a sincope, convulsão, reação alérgica, obstrução das vias aéreas, hipoglicemia, emergências cardiovasculares e crise de asma (Malamed, 2016; Guimarães, 2001).
A maioria dos cirurgiões-dentistas não se sente preparado para atender uma emergência, sendo necessário a presença de um médico para prestar socorro ao paciente (Torres; Santana, 2014). Uma pesquisa feita para verificar o nível de conhecimento dos dentistas diante as emergências mostraram que 76,6% dos profissionais não se sentem preparados para agir em situações de emergência (Santos; Rumel, 2006). Em uma pesquisa realizada em 2014, foi visto que cerca 56,8% dos cirurgiões-dentistas não tinham treinamento de Suporte Básico da Vida (SBV) (Del Rayanne, 2016).
Sabendo que o paciente pode ter várias situações emergenciais no consultório, o aprendizado em urgências e emergência médicas devem ser introduzidas desde a graduação para o atendimento de forma prática e segura. Dessa forma, estudos são necessários medir o conhecimento dos graduandos do ensino superior do curso de odontologia sobre prática de urgências. Os dados poderão direcionar os componentes curriculares que compõe a matriz curricular do ensino do curso de Odontologia.
O objetivo do presente estudo foi verificar os conhecimentos sobre primeiros socorros dos graduandos de odontologia do alto sertão da Paraíba.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal descritivo de caráter exploratório, que foi realizado com uma amostra por conveniência de 24 graduandos do curso de odontologia no município de Cajazeiras-PB. O município de Cajazeiras-PB, situada na extremidade ocidental da Paraíba, apresenta 63, 2390 mil habitantes. Situa-se a 480 km de Joao Pessoa, capital do estado da Paraíba. O município contem cinco instituições de ensino superior, sendo que duas apresentam o curso de Odontologia.
A pesquisa foi realizada no período de agosto de 2023 a março de 2024. Teve como critérios de inclusão graduandos, de ambos os sexos, matriculados no curso de odontologia da cidade de Cajazeiras, Paraíba Foram excluídos os graduandos que não preencheram completamente o questionário.
Foram enviados aos graduandos das duas instituições de ensino que continha o curso de Odontologia em Cajazeiras-PB. O início da pesquisa foi realizado com graduandos do Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM). Foi pedido para que estes que conhecessem algum graduando da outra instituição de ensino, Faculdade São Francisco, enviassem o link para responderem a pesquisa pelo método Bola de Neve (Vinuto, 2014).
O questionário foi inserido no aplicativo google forms. O link do questionário foi enviado aos graduandos de odontologia. O questionário pré-estruturado pela equipe de pesquisa continha 16 perguntas com informações sobre a formação acadêmica, ano de conclusão do curso, se havia feito pós-graduação, se havia realizado algum curso preparatório sobre primeiros socorros, se a matriz curricular do curso de odontologia da instituição de ensino superior em que estudou possuía a unidade curricular de primeiros socorros. Foi perguntado se os graduandos da pesquisa já presenciaram alguma urgência ou emergência durante um atendimento odontológico, e também se sentiam seguros em realizar os primeiros socorros. Foi perguntado se tinham conhecimentos sobre primeiros socorros.
A equipe de trabalho correspondeu a dois cirurgião-dentista pesquisadores e dois assistentes. Os cirurgiões-dentistas foram responsáveis pela montagem do questionário e os assistentes foram responsáveis por inserirem as perguntas no link, realizar a coleta de dados e inserirem os dados no banco.
As informações obtidas através do questionário foram digitadas, organizadas e analisadas em um banco de dados. Para isso, foi utilizado o programa Statistical Package for Social Sciences (IBM SPSS Statistics for Windows, Version 22.0 Armonk, NY: IBM Corp.). Os dados foram digitados por duas pessoas, uma digitou cada informação do questionário e a outra conferiu se os dados foram inseridos corretamente.
A análise estatística consistiu na distribuição de frequência absoluta e relativa de todas as variáveis do estudo.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob parecer n° 5.376.631. Todos os participantes do estudo foram convidados a participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).
RESULTADOS
No presente estudo, participaram 24 graduandos do curso de Odontologia das instituições de ensino superior (IES) com o curso de Odontologia situadas na cidade de Cajazeiras – PB. Desses graduandos, 8,3% (n= 2) estavam cursando o sétimo período, 83% (n= 20) não participaram de curso extracurricular sobre emergências médicas, enquanto 17% (n=4) já participaram de algum curso sobre emergências médicas. Em relação a pergunta sobre a matriz curricular ter a unidade curricular de “Primeiros Socorros”, 54,2% (n= 13) disseram que sim, enquanto 45,8% (n= 11) comentaram que não possui primeiros socorros na grade curricular. Cerca de 79,2% (n=19) comentaram que não presenciaram caso de urgência durante o atendimento clínico. Cerca de 66,7% (n=16) comentaram que não se sentem seguros em realizar os primeiros socorros caso ocorra o caso de urgência durante o atendimento clinico.
A totalidade da amostra, que corresponde a 100% (n=24) concordaram que as IES deveriam implementar primeiros socorros na grade curricular. Em relação o conhecimento, 79,2% dos graduandos (n=19) afirmam que colocar o paciente em posição supina com a cabeça para atrás possui a melhor oxigenação em caso de sincope. Além disso, 54,2% dos graduandos (n=13) afirmam que em caso de náuseas, sudorese, sensação de fome diminuição da temperatura corporal e taquicardia é sinal de hipoglicemia. 58,3% dos graduandos (n=14) afirmou que em caso de palidez, sonolência, perda temporária de consciência e sinal de sincope. Em caso de crise convulsiva, 37,5% (n=9) afirmou que a atitude de inclinar a cabeça para o lado com o propósito de evitar que vômito e saliva não sejam broncos aspirados.
Em caso de reação alérgica grave no consultório, 37,5% (n=9) afirmou que administra adrenalina de 0,5 milímetros via intramuscular e faz monitoramento dos sinais vitais. Em caso de hipertensão, 54,2% (n=13) disseram colocar o paciente em posição confortável tentando tranquiliza o paciente, monitorar os sinais vitais e administrar captopril de 25 miligramas resolveria o problema.
Em caso de parada cardiorrespiratória, 70,8% (n=17) afirmaram que chamar o Samu, realizar reanimação cardiorrespiratória, verificar sinais vitais e a responsividade, desobstrução das vias aéreas, verificar a pulsação e realizar a massagem cardíaca é a melhor ação a ser realizada. Em caso de hipoglicemia, 54,2% (n=13) afirmaram que ingestão de carboidrato é a solução. Caso o paciente esteja inconsciente ministrar em 25 ml de glicose via endovenosa.
Tabela 1. Caracterização da amostra com dados da pesquisa Conhecimento sobre primeiros socorros entre graduandos em odontologia na cidade de Cajazeira-PB
Variáveis | Frequência N (%) |
Havia primeiros socorros na matriz curricular do seu curso de odontologia? | |
Sim | 13 (54,2%) |
Não | 11 (45,8%) |
Você participa ou já participou de algum curso extracurricular sobre emergências médicas? | |
Sim | 4 (17%) |
Não | 20 (83%) |
Você já presenciou alguma urgência dentro do atendimento clinico? | |
Sim | 5 (20,8%) |
Não | 19 (79,2%) |
Caso apareça alguma urgência durante o atendimento clinico, você se sentiria seguro em realizar os primeiros socorros? | |
Sim | 8 (33,3%) |
Não | 16 (66,7%) |
Você acha que os cursos de odontologia deveriam implementar os primeiros socorros em sua grade curricular? | |
Sim | 24 (100%) |
Não | 0 (0%) |
Você acredita que os graduandos de odontologia estão preparados para lidar com urgências e emergências, dentro do consultório odontológico? | |
Sim | 9 (37,5%) |
Não | 15 (62,5%) |
Qual das opções abaixo mostram a melhor maneira de se agir diante de um caso de Síncope (desmaio)? | |
Colocar o paciente em posição supina, colocando a cabeça para trás, possibilitando a oxigenação. | 19 (79,2%) |
Realizar massagem cardíaca, verificando os sinais vitais do paciente, até que a assistência médica chegue. | 5 (21,8%) |
Dar algo doce para o paciente comer | 0 (0,0%) |
Nenhuma das alternativas | 0 (0,0%) |
Paciente durante o atendimento, começa a apresentar náuseas, sudorese, sensação de fome, diminuição da temperatura corporal e taquicardia. Considerando os sintomas, qual o possível diagnóstico? | |
Reação alérgica a anestesia | 2 (8,3%) |
Parada cardiorrespiratória | 7 (29,2%) |
Hipoglicemia | 13 (54,2%) |
Nenhuma da anteriores | 2 (8,3%) |
Durante o atendimento, o paciente começa a apresentar os sinais de palidez, sonolência, perda temporária de consciência. Considerando os sinais, qual o possível diagnóstico? | |
Infarto do miocárdio | 1 (4,2%) |
Parada Cardiorrespiratória | 3 (2,5%) |
Síncope (Desmaio) | 14 (58,3%) |
Hipoglicemia | 6 (25%) |
O que se deve ser feito durante um caso de reação alérgica grave, dentro do consultório odontológico? | |
Deve ser feito a administração de adrenalina de 0,3 milímetros via intramuscular, fazendo a monitoração dos sinais vitais. | 5 (20,8%) |
Parar o atendimento de imediato, retirando os objetos da boca do paciente, para evitar deglutição. | 5 (20,8%) |
Deve ser feito a administração de adrenalina de 0,5 milímetros via intramuscular, fazendo a monitoração dos sinais vitais. | 9 (37,5%) |
Parar o atendimento de imediato e tratar o paciente com anti-histamínicos. | 5 (20,8%) |
Em casos de hipertensão, qual método mais adequado de tratar esse paciente? | |
Colocar o paciente em uma posição confortável, tentando tranquilizado, monitorando os sinais vitais, administrando captopril 25 mg. | 13 (54,2%) |
Administrar o captopril 25 mg, aguardar que a crise cesse e logo em seguida prosseguir com o atendimento. | 2 (8,3%) |
Administrar o captopril 25 mg, aguardar que a cesse e logo em seguida, mandar o paciente para casa para que se recupere. | 5 (20,8%) |
Nenhuma das opções anteriores | 4 (16,7%) |
Durante uma crise de Hipoglicemia, qual a maneira mais adequada de se lidar com o caso? | |
Fazer com que o paciente ingira carboidratos (doces), caso o paciente esteja inconsciente, ministrar 25 mililitros de glicose via endovenosa. | 13 (54,2%) |
Fazer com que o paciente ingira carboidratos (doces), caso o paciente esteja inconsciente, ministrar 45 mililitros de glicose via endovenosa. | 3 (12,5%) |
Fazer com que o paciente ingira carboidratos (doces), caso o paciente esteja inconsciente, ministrar 50 mililitros de glicose via endovenosa. | 2 (8,3%) |
Nenhuma das opções anteriores | 6 (25%) |
Durante o atendimento odontológico, paciente de 45 anos, começa a mostrar sintomas que caracterizam uma parada cardiorrespiratória, qual a melhor opção que deve, deve agir nesse caso? | |
Ministrar captopril 25 mg, e esperar que os sintomas cessem, enviando o paciente para casa para se recuperar. | 0 (0%) |
Ministrar captopril 25 mg, ligar para o SAMU logo em seguida, para que o paciente possa receber os tratamentos adequados. | 4 (16,7%) |
Ligar para o Samu, realizar a reanimação cardiorrespiratória (RCP), verificando os sinais vitais, checando a responsividade, desobstruindo as vias aéreas, verificando a pulsação e realizando a massagem cardíaca comprimindo o tórax por no mínimo 4 cm, fazendo 35 compressões seguidas de duas insuflações, não esquecendo de ligar para a emergência. | 17 (70,8%) |
Nenhuma das opções anteriores | 3 (12,5%) |
DISCUSSÃO
As emergências médicas em consultório odontológico são situações que embora não sejam tão frequentes no dia a dia, o profissional cirurgião-dentista vai lidar pelo menos alguma vez na vida durante a profissão (Coulthard et al., 2000). O gerenciamento bem-sucedida de um episódio de emergência no atendimento odontológico é responsabilidade do dentista (Carvalho et al., 2008).
No presente estudo grande parte dos estudantes de odontologia relataram a existência da unidade curricular de primeiros socorros na sua matriz curricular. Apesar que nas Diretrizes curriculares Nacionais do curso de Odontologia do Brasil não exigirem a presente unidade curricular (Brasil, 2021), as matrizes curriculares de diversas IES têm colocado essa unidade curricular em função da necessidade de capacitação dos acadêmicos de odontologia sentem principalmente ao final do curso. A falta de unidades curriculares que abordem a emergência médica pode formar cirurgiões-dentistas sem preparo para atendimento emergencial. O preparo poderá reduzir a morbidade e mortalidade dos pacientes (Hass, 2010). Dessa forma, pode diminuir o provável receio dos estudantes em vivenciarem tais situações na prática clínica, e se sentirem impotentes para resolve-las (Sá Del Fio; Fernandes, 2004).
Metade dos discentes nesta pesquisa informaram que passaram pela unidade curricular de urgência e emergência, mas muitos não se sentiram confortáveis e seguros na hora de realizar o procedimento. Outros estudos com amostra de graduandos apontaram que a maioria dos graduandos relataram não se sentiram capazes de atenderem emergências médicas no consultório (Moretto et al., 2020; Gomes et al., 2020).
Além disso, a maioria dos participantes acreditam que os graduandos não sabem conduzir com os primeiros socorros e todos os participantes relataram a importância dos cursos de Odontologia terem a UC. Muitos cursos de odontologia do Brasil não incluem unidades curriculares e/ou aulas voltadas ao ensino das emergências médicas e seus protocolos de intervenção (Silva et al., 2018). Os profissionais, em sua grande parte, se formam e não sabem como lidar diante desses casos, não sabem identificar os sinais e sintomas que o paciente apresenta em cada situação de alteração da normalidade. Apenas uma pequena minoria de graduandos se sente capacitados para diagnosticar ou socorrer uma situação de emergência médica (Silva et al., 2018). A comunidade acadêmica deve ter conhecimento das medidas de suporte básico de via e esse conhecimento ter tido durante a formação acadêmica (Marzola; Griza, 1998; Sá Del Fio; Fernandes, 2004).
A maioria das pessoas colocaram que em caso de sincope a posição de forma supina, colocando a cabeça para traz para possibilitar a melhor oxigenação. Essa emergência corresponde a 50,37% no consultório odontológico (Boff, 2018). Pressão arterial e o pulso devem ser verificados em posição supina, sentada e em posição ortostática, para avaliar a possibilidade de hipotensão ortostática. O ritmo e frequência cardíaca devem ser observados, assim como a presença de sopros cardíacos. Diferenças de pulsos entre membros, saturação de oxigênio e frequência respiratória também deve ser avaliada. Os graduandos do presente estudo mostraram possuir o conhecimento base sobre o protocolo SBV para este tipo de situação o que corresponde achados na literatura (Boff, 2018).
Menos da metade dos estudantes deste estudo mostrou saber a conduta em caso de alergia graves. Administrar adrenalina intramuscular e monitorar os sinais vitais. Este é um procedimento crítico e o baixo percentual de respostas corretas é preocupante. A administração correta de medicamentos em situações de emergência requer prática regular e confiança. A partir do resultado do presente estudo, sugere-se que os graduandos podem não estar suficientemente preparados para tais eventos (Little et al., 2008).
Em relação aos quadros de hipoglicemia a maioria dos graduandos identificou corretamente os sinais, como náuseas, sudorese, sensação de fome, diminuição da temperatura corporal e taquicardia. Esse resultado indica que os estudantes possuem um entendimento teórico adequado sobre os sintomas iniciais de hipoglicemia, o que é essencial para o manejo imediato da condição (Marzola; Griza,2006; Paiva; Espindola; Klug, 2009; Veiga et al., 2012). Porém, poucos mostraram não saber a conduta em caso de paciente terem crise de hipoglicemia. Outro estudo mostrou que 48,5% dos graduandos de uma amostra de 66 parcipantes sabiam como agirem em caso de pacientes com crise de hipoglicemia (Da Silva et al., 2018). Importante os graduandos, futuros cirurgiões-dentistas, saberem identificar pacientes com crise de hipoglicemia, pois na literatura mostra que é o evento comum das emergências médicas em atendimentos odontológicos (Hanna et al., 2014)
Mais da metade dos graduandos indicaram para casos de hipertensão que colocariam o paciente em uma posição confortável e monitorariam os sinais vitais, além de administrar captopril. Este conhecimento é vital para a estabilização inicial do paciente. O conhecimento sobre a dosagem e a administração correta de medicamentos, bem como a decisão de quando utilizar intervenções farmacológicas, precisa ser reforçado com treinamento supervisionado (Veiga et al., 2012; Lucio; Barreto, 2012).
Mais da metade dos participantes deste estudo mostrou que tem o conhecimento em caso de parada cardiorespitória durante o atendimento odontológico. Apesar que a literatura sinalizou que o despreparo para atuar em casos de parada cardiorrespiratória é evidente (Colet et al., 2011; Al-Iryani et al., 2018). Em um estudo realizado com médicos dentistas de Portugal, a prevalência de parada cardiorespiratória foi de 3% (Veigas et al., 2012). E a maioria dos participantes deste estudo disseram que não saberiam conduzir caso de parada cardiorrespiratória (Barboza; Lopes-Figueiredo; Campos, 2021). Outro estudo realizado com graduandos brasileiros, mostrou que apenas 10% mostraram ter conhecimento de como conduzir pacientes com parada cardiorrespiratória (Mesmo com conhecimento, a revisão continua das técnicas são necessárias para evitar o esquecimento (Colet et al., 2011; Al-Iryani et al., 2018).
O estudo sobre urgências e emergências médicas no contexto da odontologia é de suma importância, pois revela a necessidade de preparação adequada dos cirurgiões-dentistas para lidar com situações críticas que ameaçam a vida dos pacientes. Realizado com graduandos de odontologia em Cajazeiras, Paraíba, o estudo demonstrou que, apesar de alguns terem conhecimentos teóricos sobre primeiros socorros, muitos não se sentem seguros para aplicá-los na prática clínica.
O tamanho da amostra mostra-se uma limitação do presente estudo. Além disso, é um estudo transversal que não possibilita medir a relação de causa-efeito entre as variáveis do estudo. Porém, os resultados indicam que, embora os graduandos possuam um conhecimento teórico razoável sobre alguns aspectos dos primeiros socorros, há lacunas significativas na aplicação prática. Isso pode ser atribuído à falta de treinamento prático e simulações que permitem aos estudantes desenvolver confiança e habilidades práticas. Dessa forma, enfatiza a necessidade de aprimorar a educação e treinamento em primeiros socorros no curso de odontologia, para que os futuros profissionais estejam melhor preparados para responder eficazmente a emergências médicas.
CONCLUSÃO
Diante do resultado exposto, este estudo sugere que os graduandos de odontologia das faculdades do sertão paraibano não apresentaram conhecimento suficiente para se sentirem seguros para a realização dos primeiros socorros na prática odontológica.
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