REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7971937
Beatris Tres
Elizama Iarocheski Pinheiro
Jacqueline Ramos Da Silva
Silviane Galvan Pereira
Talita Passala
Resumo
Introdução: O câncer de colo de útero (CCU) é um dos tipos de câncer mais comum entre as mulheres, sendo seu agente principal o Papilomavírus humano (HPV). Porém, há alguns fatores que podem aumentar o risco como: tabagismo, o início precoce da prática sexual e com diversos parceiros. Para o rastreamento do CCU no Brasil é utilizado o exame de Papanicolau, que é recomendado às mulheres de 25 a 64 anos, ou que já iniciaram atividade sexual. Objetivo: Identificar o conhecimento e percepção das mulheres em relação ao exame de Papanicolau. Método: Pesquisa de cunho descritiva, exploratória de caráter qualitativo, realizado na ESF do distrito São Jorge, no município de São Miguel do Iguaçu/ PR com mulheres com idade acima de 25 anos ou que já iniciaram atividade sexual, que irão realizar o Exame de Papanicolau. Para a coleta de dados foi realizada entrevista individual com a aplicação de um questionário com sete questões discursivas com foco na temática principal. Para a análise dos dados, as entrevistas foram gravadas e transcritas, após a transcrição ocorreu à interpretação dos dados e a classificação de acordo com a relevância do assunto abordado. Resultados: percebeu-se que as mulheres entrevistadas tem o conhecimento muito superficial sobre o exame papanicolau, relacionando com diagnóstico de doença e não como uma forma de prevenção, verificou-se ainda que muitas relatam procurar atendimento somente quando tem queixas ginecológicas. A vergonha e a timidez foram identificados como uns dos principais motivos de não adesão do exame. Conclusão: É necessário profissionais qualificados e com conhecimento teórico para realização do acolhimento das usuárias, além de adoção de planejamentos de saúde para uma melhor assistência às mulheres que procuram o serviço.
Palavras-chave: Mulheres. Conhecimento. Percepção. Útero. Neoplasias do Colo.
1 INTRODUÇÃO
O principal causador de câncer de colo do útero (CCU) é a infecção constante de alguns tipos de Papilomavírus Humano (HPV). Essa infecção genital é muito frequente e na maioria das vezes não causa doença. Entretanto, em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem se tornar um câncer (INCA, 2019).
Alguns fatores que aumentam os riscos de desenvolver esse tipo de câncer é o início precoce da prática sexual e com múltiplos parceiros, o tabagismo, relacionado à quantidade de cigarros fumados, e o uso prolongado de pílulas anticoncepcionais (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2019).
Dada sua elevada incidência, o câncer de colo de útero é considerado um problema de saúde pública. É o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres, registrando 530 mil casos novos no mundo, sendo mais frequente em países menos desenvolvidos (DIAS, 2019). O número de ocorrências esperadas para o Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022, será de 16.590 (INCA, 2019).
O CCU é uma doença silenciosa e que evolui lentamente. Tendo uma fase pré-clínica, sem sintomas, mas com transformações intra epiteliais progressivas em que a detecção de lesões é possível por meio do exame preventivo do colo do útero (SANTOS et al., 2015).
O método de rastreamento do CCU no Brasil é o exame de Papanicolau ou exame citopatológico, que é recomendado às mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos ou que já iniciaram a atividade sexual. A faixa etária escolhida se deve ao fato de ser a que se nota mais incidência de lesões de alto grau, que ainda podem ser tratadas para não evoluir para câncer (BRASIL, 2016). Para prevenir o CCU é importante que as mulheres efetuem o exame Papanicolau, visto que quanto mais precoce for à detecção, mais rápido poderá se iniciar o tratamento (SLOVINSKI et al., 2020).
O exame é realizado pela atenção primária, à equipe profissional deve conhecer os métodos utilizados para esse procedimento, qual é o período de realização, a população alvo, orientações para as mulheres e se necessário encaminhar para tratamento. O exame deve ser feito uma vez ao ano, com dois exames anuais consecutivos negativos, deve realizar a cada três anos (BRASIL, 2016).
A falta de conhecimento das mulheres em relação ao câncer de colo uterino e do exame Papanicolau interfere na busca pela realização do exame, provocando consequentemente o desinteresse pela prevenção, não apenas do câncer, mas de outras patologias (CHUBACI; MERIGHI; YASUMORI, 2005; RESSEL et al., 2013).
Considerando que o câncer de colo de útero é uma prioridade de saúde do país, mostrando elevada incidência e mortalidade no mundo, e que o exame apresenta-se eficaz na prevenção, considera-se importante a análise do conhecimento e percepção das mulheres em relação desta prática, facilitando na identificação dos fatores facilitadores e dificultadores para a realização do exame. Presuma-se que os resultados poderão conduzir o profissional de saúde uma melhor abordagem para orientar essas mulheres em relação ao procedimento de coleta do Papanicolau e, assim, consequentemente, reduzir o índice de diagnósticos tardios (VASCONCELOS, et al., 2017).
Diante disso, o presente estudo tem como questão norteadora: Qual é o conhecimento e a percepção das mulheres de um município do interior do Paraná em relação ao exame de Papanicolau?
Mendes; Elias; Silva (2018) identificaram em seu estudo que algumas participantes da pesquisa apenas procuram o exame de Papanicolau quando possui alguma queixa ginecológica com o objetivo de cura, e não de prevenção, o que pode indicar uma falha no conhecimento das mulheres em relação às ações de prevenção ao CCU.
Ainda, em relação ao conhecimento e percepção das mulheres acerca do exame de prevenção, a maioria afirma ter ouvido falar a respeito do câncer uterino, mas desconhecem a definição da doença. Mais da metade das entrevistadas demonstram falta de conhecimento quanto à importância do exame preventivo. (CHICONELA; CHIDASSICUA, 2017)
Nesse contexto, a pesquisa se justifica por tornar-se relevante visto que possibilitará reconhecer o ponto de vista das mulheres em relação ao exame preventivo e identificar as dificuldades da realização, a fim de contribuir com profissionais da saúde na implementação de ações para diagnósticos precoce e melhoria na qualidade de vida das mulheres.
2 OBJETIVO
Identificar o conhecimento e percepção das mulheres em relação ao exame de Papanicolau.
3 METODOLOGIA
3.1 Método a ser utilizado
Trata-se de uma pesquisa de cunho descritiva, exploratória de caráter qualitativo. Com a proposta de avaliar o conhecimento e percepção das mulheres acerca do exame Papanicolau.
A pesquisa é descritiva e exploratória. Descritiva, visto que procura descrever os fatos e fenômenos de determinada população, no mesmo momento em que estabelece relações com a problemática do estudo. Exploratória, pois o objetivo principal é conhecer, explorar e familiarizar-se com o problema, para que assim, o pesquisador esteja apto a construir hipóteses e lidar com a temática da pesquisa (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).
O estudo qualitativo não se baseia a partir da quantidade numérica de participantes, mas sim um aprofundamento de compreensão de determinada população, grupo ou objeto de pesquisa. Os pesquisadores neste tipo de pesquisa buscam compreender o porquê das coisas, os motivos e significados sem julgar e sem contaminar a pesquisa com base em seus conhecimentos, valores pessoais e crenças (MINAYO, 2012)
3.2 Local de realização da pesquisa
O estudo realizou-se na Estratégia Saúde da Família (ESF) no distrito de São Jorge, no município de São Miguel do Iguaçu. O município se localiza na região Oeste do Paraná, com uma área territorial de 851,917 km², e uma população estimada de aproximadamente 27.696 habitantes. (IBGE, 2017)
A unidade básica de saúde mencionada está localizada no distrito de São Jorge, na Rua Santo Antônio, 544. O atendimento é matutino e vespertino, onde conta com uma equipe composta por médico, enfermeiro e dentista. O exame de Papanicolau é realizado na ESF semanalmente, com agendamento.
3.3 População a ser estudada
A população do estudo foi constituída de mulheres, com idade superior a 25 até 64 anos ou que já iniciaram atividade sexual, usuárias do Sistema Único de Saúde do distrito de São Jorge, que compareceram para a realização do exame de Papanicolau.
Considerando que se trata de uma pesquisa qualitativa, o número de mulheres entrevistadas foi definido no decorrer da pesquisa, quando obtidos depoimentos suficientes para mostrar a essência do fenômeno estudado.
3.4 Critérios de Inclusão
Os seguintes critérios de inclusão foram utilizados no estudo:
a) Mulheres que realizaram o exame do Papanicolau na ESF;
b) Mulheres com idade superior a 25 até a 64 anos, ou que já iniciaram atividade sexual;
c) Que aceitaram participar da entrevista, concordaram com os termos (TCLE) e autorizaram a gravação.
3.5 Critérios de Exclusão
Os seguintes critérios de exclusão foram utilizados no estudo:
a) Mulheres com idade inferior a 18 anos;
b) Cadastradas no Sistema Único de Saúde de outra região do município;
c) Que não aceitaram participar da entrevista.
3.6 Instrumento de coleta de dados
O instrumento de pesquisa foi constituído do instrumento desenvolvido por Mendes (2020), no seu artigo intitulado “O exame de Papanicolau: conhecimento e atitudes das mulheres a respeito da prevenção do câncer do colo de útero”. Os dados foram coletados através de entrevista individual.
O instrumento conta com perguntas abertas em um modelo semiestruturado com foco no tema. O questionário semi estruturado permite que a entrevista ocorra de forma livre, deixando os participantes se expressar. O instrumento contém linguagem simplificada para melhor entendimento das mulheres. Este foi dividido em três categorias: O conhecimento das mulheres em relação ao exame de Papanicolau; a procura pela realização do exame de Papanicolau; os sentimentos e dificuldades na execução do exame (MENDES, 2020).
3.7 Coleta de dados
A coleta foi realizada na ESF escolhida no primeiro semestre de 2023, por meio de entrevista individual. Os dados foram coletados através da aplicação de um questionário com sete questões discursivas com foco na temática principal. Com base nessas questões realizou-se um roteiro de entrevista, com o objetivo de identificar o conhecimento e a percepção das mulheres em relação ao exame do Papanicolau (Anexo 1). O mesmo foi aplicado durante 5 dias, no período matutino ou vespertino, conforme agenda da unidade para execução do exame. As participantes foram abordadas após a realização do exame de Papanicolau onde apresentou-se o objetivo, a natureza, os riscos, benefícios, ressarcimento e indenização do estudo. Logo após a decisão, leitura e assinatura do TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), a entrevista é realizada em uma sala disponibilizada pela ESF, onde estavam presentes no momento os pesquisadores e a participante, com tempo estimado de 15 minutos.
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas pelas pesquisadoras, após a transcrição ocorreu à interpretação dos dados e a classificação de acordo com a relevância do assunto abordado.
3.8 Análise dos dados
Para a análise dos dados, todas as entrevistas foram gravadas e transcritas pelas pesquisadoras, após a transcrição ocorreu a interpretação dos dados e a classificação de acordo com a relevância do assunto abordado.
Os áudios serão deletados com o objetivo de proteger as informações e o sigilo das participantes.
3.9 Garantias éticas aos participantes da pesquisa
Para a execução do projeto, foram respeitadas as diretrizes da Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que trata das normas regulamentadoras e dos aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus de Medianeira (UTFPR) (CAAE: 65612922.7.0000.0165) (Anexo B). Todos aqueles que aceitaram participar assinaram, juntamente com o pesquisador, em duas vias, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo que uma via assinada ficou em posse do participante da pesquisa e a outra em posse do pesquisador responsável.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa contou com a participação de 11 mulheres, na qual responderam um questionário com características sociodemográficas. Abordando as seguintes variáveis: faixa etária, raça, estado civil e escolaridade (Tabela 1).
Em relação à faixa etária, foi entrevistadas 2 mulheres (18,18%) entre 20-30 anos, 2 mulheres (18,18%) entre 31-40 anos, 3 mulheres (27,27%) entre 41-50 anos, 3 mulheres (27,27%) entre 51-60 anos e 1 mulher (9,10%) 61 anos ou mais. Houve uma predominância de mulheres entre 41 a 60 anos, o que está dentro da faixa etária preconizada pelo Ministério de Saúde.
Com relação a raça, foi observado que a maioria das mulheres entrevistadas se consideram brancas, sendo 6 (54,55%), 3 mulheres (27,27%) se consideram pardas e 2 mulheres (18,18%) se consideram pretas.
Com relação ao estado civil, a maioria é casada (54,55%), 3 mulheres (27,27%) solteiras, 1 mulher (9,09%) divorciada e 1 mulher (9,09%) viúva.
Na análise em relação à escolaridade, 1 mulher (9,09%) analfabeta, 3 mulheres (27,27%) tem o ensino fundamental incompleto, 2 mulheres (18,18%) tem o ensino fundamental completo, 1 mulher (9,09%) tem o ensino médio incompleto, 3 mulheres (27,27%) tem o ensino médio completo e 1 mulher (9,10%) tem o ensino superior.
Tabela 1 – Caracterização da amostra quanto aos dados sociodemográficos. Mulheres (n=11). São Miguel do Iguaçu- PR. Brasil 2023.
Fonte: A autora.
Os demais resultados foram analisados em três categorias, sendo elas: A percepção das mulheres em relação ao exame; A frequência e os cuidados antes de realizar o exame; As dificuldades na realização do exame papanicolau.
4.1 A percepção das mulheres em relação ao exame
Quando questionadas sobre o exame papanicolau, a maioria das mulheres mencionam que o exame é realizado como método de prevenção de câncer ou infecção, enquanto outras relacionam ao diagnóstico de doenças.
“Pra ver se tem algum problema, alguma coisa assim com alguma prevenção de algum câncer, alguma infecção” (M02)
“Pra gente saber se a gente tem alguma doença, pra gente se preservar, a minha mãe teve câncer no colo do útero e daí eu faço todos os anos” (M06).
“Pra mim é importante saber se tem doenças no colo do útero, e … tem muita mulher que não faz, daí quando quer engravidar tem problema, não consegue resolver. Acho que é isso” (M08)
O câncer de colo de útero é um dos câncer com mais potencialização de prevenção e cura, podendo chegar a 100% se diagnosticado precocemente. Isso é possível pela sua fase pré clínica longa e a eficiência do exame papanicolau em detecção (GREENWOOD et al., 2006). Resultados do estudo apontam que a maior parte das entrevistas tem conhecimento em relação à finalidade do exame, no entanto muitas associam a diagnóstico e cura. Estudo semelhante constatou que grande parte das mulheres tem conhecimento genérico e incompleto, mas afirmam que entendem da importância para a saúde das mulheres (MENDES, 2020).
Cada mulher tem sua própria percepção em relação aos procedimentos do exame, algumas entendem como um procedimento simples, porém outras podem não ter a mesma opinião. Em estudo similar a maior parte das mulheres entendem a importância, todavia ficou claro que algumas não entendiam sua finalidade (MOREIRA, et al., 2018).
4.2 A frequência e cuidados antes de realizar o exame
Nessa categoria foi investigado a frequência, quando e com qual idade as mulheres devem procurar atendimento para a realização do exame.
Quando questionadas sobre quando devem procurar atendimento para realizar o exame, 5 mulheres (45,45%) declaram que deve ser realizado todo ano, enquanto 4 mulheres (36,36%) mencionam que deve-se quando sentir alguma dor ou desconforto.
“Bom, ele é de por mais que você não esteja sentindo nada, né…Ele costuma fazer a cada seis meses, né…Ou pelo menos uma vez ao ano, né” (M02)
“Uma vez por ano. Uma vez por ano porque a gente não sabe do o decorrer do ano que que aconteceu dentro da gente. A não ser esses exames” (M06)
“…Eu faço cada um ano né, todo ano eu estou ali fazendo mesmo tendo dor ou não né..” (M04)
Todavia, é visível que algumas mulheres ainda associam o exame papanicolau como um método de diagnóstico, por esse motivo mencionam que deve-se realizar quando houver alguma queixa ginecológica, como pode ser visto nas falas a seguir:
“Ah ela pode estar procurando ali a agente de saúde ali para estar marcando quando ela estiver sentindo dor né” (M04)
“Ah, eu acho que quando elas estão sentindo aí alguma coisa, ou antes também…” (M05)
“…quando ela sentir que está desconfortável com alguma coisa, acho que é isso.” (M08)
“… eu acredito que dependendo dos sintomas, né. Porque a gente é sensível a praticamente a tudo, né. Desde que você esteja sentindo alguma coisa, uma dor, algo que te incomoda, né. Que você saiba que não é normal, acho que a gente deve procurar um recurso desde o início, né.” (M11)
Como observado, algumas mulheres associam a realização do exame com queixas ginecológicas, e essa afirmação confirma o que muitos estudos apontam, que as mulheres acreditam que o exame citopatológico é voltado para doença e não um exame de prevenção (AGUILAR; SOARES, 2015). Em um estudo semelhante que foi realizado no sul do Brasil, foi identificado que 50% das entrevistadas só procuravam o exame em uma unidade de saúde quando tinham algum sinal de alerta (SOARES et al., 2010).
As participantes foram questionadas ainda com qual idade deve iniciar a realização do exame, 3 mulheres (27,27%) acreditam que deve-se iniciar após a primeira relação sexual, 1 mulher (9,09%) 18 anos, 2 mulheres (18,18%) entre 20 à 29 anos, 3 mulheres (27,27%) entre 30 à 40 anos, 1 mulher (9,09%) acima de 40 anos e 1 mulher (9,09%) não soube responder. (Tabela 2)
Tabela 2 – Idade ideal para iniciar a realização do exame Papanicolau, segundo mulheres entrevistadas. São Miguel do Iguaçu- PR. Brasil 2023.
Fonte: A autora.
Como foi possível ver nos resultados, as mulheres não têm conhecimento exato a partir de que idade inicia a realização do exame.
“Eu comecei assim foi com pouca idade eu não sei muito bem né, mas acredito que quando a mulher já começa a ter relação sexual ela tem que estar procurando ali pra estar fazendo os exames certinhos né.” (M04)
“Ah, hoje em dia as meninas podem começar com trinta, trinta e cinco por aí.” (M09)
“O correto seria a partir da da inicialização do sexo, né…já começar a fazer o preventivo. Mas infelizmente o SUS só começa a liberar aos quarenta.” (M10)
O início da realização do exame é recomendado em mulheres a partir de 25 anos, as que já iniciaram atividade sexual, até 64 anos (CARVALHO PG, et al.,2019). Algumas mulheres afirmaram que o exame deve ser iniciado após a primeira relação sexual, seguida de outras entrevistadas que responderam que deveria ser iniciado de 30 à 40 anos. Todavia, em um estudo realizado em Pernambuco constatou que jovens de 18 a 25 anos e que já iniciaram atividades sexuais, apenas 46,2% das participantes procuraram atendimento para realizar o exame (SILVA et, al., 2016).
Quando questionadas sobre a frequência que deve ser realizado, a maioria respondeu que deve-se fazer todo ano, e outras responderam duas vezes no ano.
“Eu, no meu caso, eu fazia cada uma vez ao ano, que é referente ao outubro rosa, acho que é isso. Que é mais a parte da mulher, né… do exame de mulheres.” (M08)
“Eu acredito assim que o tempo que for necessário né…Que eu mesmo no caso não sei qual seria o correto disso né.. Mas eu acredito que devido a tantos problemas que tem hoje em dia que a maioria das mulheres estão tendo problema no colo do útero né… acredito que quanto antes procurar um recurso acho que seria melhor, mais seguro, né.” (M10)
A frequência de realização do exame de Papanicolaou recomendada pelo MS é uma vez ao ano, com dois exames anuais consecutivos negativos, deve realizar a cada três anos (BRASIL, 2016). Um estudo desenvolvido em uma UBS do Distrito Sul do Município de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, na Região Nordeste do Brasil, revelou que a maioria (60%) das entrevistadas realizavam o exame de Papanicolau em um intervalo recomendado pelo MS. Porém, 40% das pesquisadas realizam o exame em períodos não recomendados, sendo 27% a cada 2 anos e 13% a cada 6 meses, o que exige uma intervenção, para tentar adequar essa periodicidade (DAVIM. et,al., 2005).
Percebe-se de acordo com os resultados, que as mulheres não receberam informações suficientes em relação a frequência da realização, o que acaba influenciando na procura.
Quanto aos cuidados que antecedem a realização do exame, observa-se que elas tem algum conhecimento sobre, dentre os cuidados citados temos: não ter relação antes do exame, não estar no período menstrual e realizar a higienização.
“Você tem que ficar se não me engano sete dias sem ter relação né…ali você tem que contar os dias da menstruação né… pra vim estar fazendo o exame não pode estar menstruada né… e fazer a higienização certinha antes de vim…” (M04)
“… não fazer sexo… e não passar cremes, só lavar com sabonete neutro.”(M07)
“Antes do ciclo menstrual, tem que fazer exame…” (M08)
As participantes no geral apresentaram conhecimento satisfatório, no entanto, é notório a necessidade de uma intervenção direcionada aos cuidados antes da sua coleta, visto que pode interferir na realização do exame e em seu resultado. Em uma pesquisa realizada em Rio Grande do Norte, mostra que as mulheres entrevistadas, no geral, apresentam algum conhecimento. Dentre os cuidados citados, destacam-se: não ter relações sexuais na véspera do exame (42%), não usar pomada ou comprimido vaginal (33%) e não estar menstruada (17%) (DAVIM, et, al., 2005).
4.3 Dificuldades na realização do exame papanicolau
Nessa categoria foi abordado motivos que influenciam a não adesão do exame e as dificuldades que elas enfrentam na realização do mesmo. Ao interrogadas sobre o motivo de não adesão do exame, obtivemos tais resultados:
“Ai é muito constrangedor… pra mim é porque às vezes eu fico só me enrolando, enrolando e assim ficam me mandando mensagem do posto “Vem fazer, vem fazer” … Aí eu fico pensando, até que me dá coragem e eu venho, mas que é horrível é… É constrangedor…” (M05)
“Medo. Medo de ter o câncer, medo de ter um mioma, um cisto. A gente não pode ter medo. Quanto mais medo a gente tem, mais a gente morre” (M06)
“Eu acredito que pelo constrangimento, né… pela vergonha também, né e pelo incômodo que acaba sendo dolorido né…No meu caso sempre foi assim, então por isso que às vezes eu evito procurar esse acesso por conta disso.” (M11)
A vergonha e o medo foram os mais ressaltados nos relatos, estes sentimentos dificultam a adesão e continuidade da assistência. Além disso, foi relatado também o desconforto e dor no momento da realização do exame. Em uma pesquisa no município Messias Targino, localizado no Rio Grande do Norte, foi entrevistadas 40 mulheres e identificado que 20 (50%) delas responderam que a vergonha e a timidez são os principais fatores para a não adesão do exame, além da falta de orientação, consequentemente as mulheres não compreendem a importância da realização do exame e não procuram as unidades de saúde. (DANTAS et al., 2018).
No que tange, a dificuldades das mulheres na realização do exame, a maioria afirma não ter tido dificuldades de realização, referem ter acesso facilmente e um bom atendimento.
“…todas as vezes que eu procurei eu fui atendida de imediato mesmo” (M11)“…sempre fui bem atendida ali, sempre vaga, sempre nunca tive dificuldades.” (M04)
A partir desses resultados, nota-se a importância do serviço de saúde, além da atuação do profissional de enfermagem no rastreamento do CCU. Observa-se que as participantes não tiveram dificuldades na realização do exame em relação a oferta de serviços, em contrapartida, na pesquisa realizada em Vitória da Conquista na Bahia, além das dificuldades de cada mulher para a realização do exame, aponta as dificuldades relacionadas com a estruturação dos serviços de saúde, as quais foram citadas por mulheres e profissionais de saúde. Sendo a dificuldade de marcar consulta por falta de vaga o maior obstáculo para o acesso ao exame Papanicolau (AGUILAR; SOARES, 2015).
Apesar de grande parte das mulheres terem acesso ao exame pela rede pública, é necessário investimento no serviço de saúde, assegurando assim um bom atendimento desde o nível de atenção primário até o nível terciário, buscando melhorar o serviço e satisfazer a usuária, não apenas no momento do exame, mas para qualquer atendimento que necessitar (GOMES et al., 2012).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da realização do estudo pode-se perceber que algumas das mulheres entrevistadas compreendem a importância e para que serve o exame de papanicolau, porém algumas delas ainda tem conhecimento insuficiente sobre o assunto, associando a cura de doenças e não a rastreamento de CCU. Essa desinformação pode afetar a procura e adesão das mulheres à essa prática.
Vale destacar que muitas mulheres relatam dificuldades na realização do exame relacionado a timidez e vergonha, portanto é notório a importância de profissionais qualificados e com conhecimento teórico para realização do acolhimento das usuárias, com escuta ativa e apto a esclarecimento das dúvidas.
Com os resultados dessa pesquisa, é possível direcionar uma melhor assistência e planejamento de ações em saúde, com o objetivo de orientar de forma clara e objetiva as mulheres em relação a importância do exame papanicolau, visto que é uma forma de proteção das mulheres e ajuda na redução de mortalidades e diagnóstico precoce do câncer de colo de útero.
6 REFERÊNCIAS
AGUILAR, Rebeca Pinheiro; SOARES, Daniela Arruda. Barreiras à realização do exame Papanicolaou: perspectivas de usuárias e profissionais da Estratégia de Saúde da Família da cidade de Vitória da Conquista – BA. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 359-379, jun. 2015.
BRASIL, Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. 2. Ed. Ver. Atual, Rio de Janeiro: INCA, 2016.
CARVALHO PG, et al. Trajetórias Assistenciais de Mulheres entre Diagnóstico e Início de Tratamento do Câncer de Colo Uterino. Saúde Debate, 2018;
CHICONELA, F. V.; CHIDASSICUA, J. B. Conhecimento e atitudes das mulheres em relação ao exame preventivo do câncer do colo uterino, Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, Goiás, v. 19, n. 23, p. 1-9, 6 set. 2017.
CHUBACI, Y.S.; MERIGHI, M.A.B.; YASUMORI, Y. A mulher japonesa vivenciando o câncer cérvico- uterino: um estudo de caso com abordagem da fenomenologia social, Revista da Escola de Enfermagem USP, São Paulo, v. 39, n. 2, p. 189-94, junho 2005.
DANTAS, Paula Viviany Jales et al. Conhecimento das mulheres e fatores da não adesão acerca do Exame Papanicolaou. Revista de Enfermagem – UFPE, Recife, v. 3, n. 12, p. 684-691, mar. 2018.
DAVIM RMB, Torres G de V, Silva RAR da, Silva DAR da. Conhecimento de mulheres de uma Unidade Básica de Saúde da cidade de Natal/RN sobre o exame de Papanicolau. Rev esc enferm USP [Internet]. 2005Sep.
DIAS, C. F.; MICHELETTI, V. C. D.; FRONZA, E.; ALVES, J. da S.; ATTADEMO, C. V.; STRAPASSON, M. R. Perfil de exames citopatológicos coletados em estratégia de saúde da família, Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, v. 11, n. 1, p. 192-198, 2019.
GERHARDT, T. E; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2009. Disponível em:<MET.PESQUISA.innd(ufrgs.br)>. Acesso em: 05 set. 2022.
GOMES, Cláudio Henrique Rebello et al. Câncer cervicouterino: correlação entre diagnóstico e realização prévia de exame preventivo em serviço de referência no norte de Minas Gerais. Revista Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v. 58, 40 n. 1, p.41-45, fev. 2012
GREENWOOD S.A, MACHADO M.F.A.S, SAMPAIO N.M.V. Motivos que levam mulheres a não retornarem para receber o resultado do exame Papanicolau. Rev Latino-am Enfermagem 2006 julho-agosto; 14(4):503-9.
INCA, Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Vigilância e Análise de Situação. Estimativa 2020: A incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro. INCA; 2019. Disponível em:< Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil | INCA – Instituto Nacional de Câncer>. Acesso em: 21 ago 2022.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades e Estados. 2017. Disponível em:< São Miguel do Iguaçu (PR) | Cidades e Estados | IBGE>. Acessado em: 08 set. 2022.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Tipos de câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2019. Disponível em: < Tipos de Câncer — Português (Brasil) (www.gov.br)>. Acesso em: 21 ago 2022.
MENDES, L. C.; ELIAS, T.C.; SILVA, S. R. Conhecimento e Práticas do Exame Papanicolau ou entre Estudantes de Escolas Públicas do período noturno. Revista Mineira de Enfermagem, Minas Gerais, v. 22, n. 2, p. 1-7, 2018.
MENDES, Leticia Dourado de Azevedo. Exame de Papanicolau: conhecimento e atitudes das mulheres a respeito da prevenção do câncer de colo de útero. 2020. 49 f. Trabalho de Conclusão de Residência 13 (Especialização em Atenção Oncológica)- Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2020.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 621- 626, mar. 2012.
MOREIRA, A. da S.; ANDRADE, E. G. da S. A importância do exame papanicolau na saúde da mulher. Revista de Iniciação Científica e Extensão, [S. l.], v. 1, n. Esp 3,p. 267–271, 2018..
PEREIRA, J.B; LEMOS, M. S. Preditores motivacionais de adesão à prevenção do câncer do colo de útero em estudantes universitárias. Estudos de Psicologia (Campinas), São Paulo, v. 36. 2019. Disponível em: < Psico7 – 2017-0073.indd (scielo.br)>. Acessado em: 21 ago 2022.
RESSEL, L. B.; STUMM, K. E.; PERIPOLLI, A. R.; CARBONELL, C. dos S.; FRESCURA, C, J. Exame preventivo do câncer de colo uterino: a percepção das mulheres. Av. Enferm., Bogotá, v. 31, n. 2, p. 65-73, 2013.
SANTOS, A. M. R.; HOLANDA, J. B. L.; SILVA, J. M. O.; SANTOS, A. A. P.; SILVA, E. M. Câncer de colo uterino: conhecimento e comportamento de mulheres para prevenção. Revista Brasileira em Promoção de Saúde, Fortaleza, v. 28, n. 2, p. 153-159, abr/ jun. 2015.
SÃO MIGUEL DO IGUAÇU. Economia. 2011. Disponível em:< Página não encontrada – Município de São Miguel do Iguaçu – PR | Gestão 2021-2024 (saomiguel.pr.gov.br)> . Acessado em: 08 set. 2022.
SILVA, Liniker Scolfild Rodrigues da et al. Adesão ao exame Papanicolaou por mulheres jovens em unidade básica de saúde. Revista de Enfermagem – UFPE, Recife, v. 12, n. 10, p. 4637-4645, dez. 2016.
SLOVINSKI, B.; SLOVINSKI, J.; OLIVEIRA, H. Exame preventivo de colo do útero: análise do perfil das usuárias e dos dados de incidência de câncer. Fag Journal of Health (FJH), v. 2, n. 2, p. 273-283, 14 jun. 2020.
SOARES, Marilu Correa et al. Câncer de colo uterino: caracterização das mulheres em um município do sul do Brasil. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 90-96, mar. 2010 .
VASCONCELO, L. C.; BUENO, D. S.; SILVA, J. S. M.; RIOS, R. F. D.; PESSOA, R. A.; MOREIRA, R, F.; ANDRADE, H. S. Conhecimento de mulheres a respeito do exame Papanicolau. Revista Uniciências, v. 21, n. 2, p. 105-109, 2017