KNOWLEDGE OF NURSING STUDENTS ABOUT AUTISM SPECTRUM DISORDER
CONOCIMIENTO DE LOS ESTUDIANTES DE ENFERMERÍA SOBRE EL TRASTORNO DEL ESPECTRO AUTISTA
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8034831
Eduarda Batista de Jesus
Resumo
Objetivo: analisar o conhecimento dos estudantes do curso de graduação em enfermagem sobre o Transtorno do Espectro Autista. Método: trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório que foi realizado em uma instituição de ensino superior de caráter privado, localizada na cidade de São Paulo. Os participantes do estudo foram estudantes de enfermagem, com idade superior a 18 anos, de ambos os sexos, que concluíram o terceiro semestre do curso de graduação durante o período de coleta de dados. O instrumento de coleta de dados é um questionário dividido em três partes, a primeira constitui-se de variáveis referentes à identificação social do indivíduo, a segunda contém questões com intuito de verificar o seu contato com o Transtorno do Espectro Autista e a última apresenta questões sobre o nível de conhecimento acerca do transtorno. Resultados: metade dos alunos acertaram entre 75% e 100% das questões, e a grande maioria 94,64%, acertou pelo menos 50% das questões, apenas três alunos acertaram 100% das questões. Conclusões: este estudo indica um nível razoável de conhecimento sobre o Transtorno do Espectro Autista entre os estudantes com possibilidade de melhoria, provando a importância do estudo quanto à formação dos futuros profissionais de enfermagem.
Descritores
Transtorno do Espectro Autista; Estudantes de Enfermagem; Educação em Enfermagem; Assistência de Enfermagem; Enfermagem.
Abstract
Objective: to analyze the knowledge of undergraduate nursing students about autism spectrum disorder. Method: this is a cross-sectional, descriptive and exploratory study that was carried out in a private higher education institution, located in the city of São Paulo. Study participants were nursing students, aged over 18 years, of both genders, who completed the third semester of the undergraduate course during the data collection period. The data collection instrument is a questionnaire divided into three parts, the first consists of variables related to the individual’s social identification, the second contains questions to verify their contact with the Autistic Spectrum Disorder and the last presents questions on the level of knowledge about the disorder. Results: half of the students got between 75% and 100% of the questions right, and the vast majority, 94.64%, got at least 50% of the questions right, only three students got 100% of the questions right. Conclusions: this study indicates a reasonable level of knowledge about autism spectrum disorder among students with the possibility of improvement, proving the importance of the study regarding the training of future nursing professionals.
Descriptors
Autism Spectrum Disorder; Students, Nursing; Education, Nursing; Nursing Care; Nursing.
Resumen
Objetivo: analizar el conocimiento de estudiantes de graduación en enfermería sobre el Trastorno del Espectro Autista. Método: se trata de un estudio transversal, descriptivo y exploratorio, realizado en una institución privada de enseñanza superior, ubicada en la ciudad de São Paulo. Los participantes del estudio fueron estudiantes de enfermería, mayores de 18 años, de ambos sexos, que completaron el tercer semestre del curso de graduación durante el período de recolección de datos. El instrumento de recolección de datos es un cuestionario dividido en tres partes, la primera consta de variables relacionadas con la identificación social del individuo, la segunda contiene preguntas con el fin de verificar su contacto con el Trastorno del Espectro Autista y la última presenta preguntas sobre el nivel de conocimiento sobre el desorden. Resultados: la mitad de los alumnos acertó entre el 75% y el 100% de las preguntas, y la gran mayoría, el 94,64%, acertó al menos el 50% de las preguntas, solo tres alumnos acertaron el 100%. Conclusiones: este estudio indica un nivel razonable de conocimiento sobre el Trastorno del Espectro Autista entre los estudiantes con posibilidad de mejora, demostrando la importancia del estudio en la formación de los futuros profesionales de enfermería.
Descriptores
Trastorno del Espectro Autista; Estudiantes de Enfermería; Educación en Enfermería; Atención de Enfermería; Enfermería.
INTRODUÇÃO
O autismo começou a ser estudado em 1943 por Leo Kanner, um pioneiro da psiquiatria infantil, que reconheceu um conjunto de comportamentos e o designou por distúrbios autísticos,(1) mas somente em 1980, com a publicação da terceira edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III) pela Associação Americana de Psiquiatria, atribuiu-se á essa síndrome um diagnóstico específico, apesar destes critérios diagnósticos ainda serem discutidos após a última versão deste manual DSM-5, suas atualizações contribuíram para o aprimoramento do diagnóstico de TEA e o aumento da cobertura de informação sobre esse transtorno.(2)
O Transtorno do espectro autista (TEA), é uma síndrome inata do indivíduo, a qual possui razão biológica e multifatorial, sendo uma variação do neurodesenvolvimento. É diagnosticada pela observação e avaliação do comportamento que se manifesta segundo o DSM-5 por: “Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, sendo que os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.”
Estima-se que pessoas com TEA correspondam a 2% da população mundial,(3) e que no cenário brasileiro há em média 2 milhões de pessoas autistas. De acordo com a última estimativa do Centers for Disease Control and Prevention – CDC, uma a cada 44 crianças têm TEA,(4) e estas se distribuem entre os sexos na relação de uma menina para cada quatro meninos, sem distinções entre etnias, tampouco classes sociais.(4) Apesar desse estudo ser realizado nos Estados Unidos, considera-se essa prevalência no Brasil, pois não há estudos robustos que comprovem esses dados no país.
Na constituição brasileira a pessoa com TEA é rotulada como deficiente,(5) que apesar de não ser o termo adequado capaz de caracterizar essa população, é apropriado devido a suas diversas vulnerabilidades sociais. Nessa perspectiva, foi sancionada a Lei n.12.7645, de 27 de dezembro de 2012 que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA, conferindo apoio a esses indivíduos, muitas vezes negados de seus direitos civis. Nesse sentido, inclui-se prioridade de atendimento em espaços públicos e privados, atribui-se a necessidade do poder público de difundir informações sobre o transtorno, bem como estimular pesquisas científicas, promover a inserção de pessoas com TEA no mercado de trabalho, possibilitar a capacitação e a garantia de acesso a serviços de saúde que atendam às suas necessidades. E para que recursos financeiros fossem aplicados a essa população de forma efetiva foi sancionada uma lei que inclui o autismo nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).(6)
Para entender as terapias e intervenções aplicadas às pessoas com TEA, é importante entender que o suporte implementado é inversamente proporcional aos déficits apresentados pelo autista. As dificuldades apresentam-se de forma diferente em cada indivíduo, mas socialmente é aplicada uma classificação do nível de suporte necessário baseado no comprometimento das suas habilidades sociais e inflexibilidade de comportamento, sendo eles: pouco suporte, suporte intermediário e suporte avançado.(7)
O último guia de intervenção baseada em evidências em TEA publicado em 2020 pela The National Clearinghouse on Autism Evidence and Practice (NCAEP)(8) elenca 28 terapias como intervenção baseada em evidências, sendo em sua grande maioria métodos da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), ciência derivada do behaviorismo, que no seu escopo atua na melhora de comportamentos disruptivos, estimula comunicação, aprendizado de habilidades cotidianas entre outras.
Apesar da divulgação de informações sobre o TEA nas mídias sociais, considera-se incipiente a propagação de conhecimento acerca do tema, pela população brasileira. Essa debilidade acerca da discussão e educação em saúde, também pode ser evidenciada nos cursos de graduação em enfermagem e na área de saúde. Diante disso, a formação e a capacitação para o cuidado de pessoas com TEA tornam-se deficitárias. Tais aspectos corroboram a falta de conhecimento a respeito desse transtorno entre os profissionais enfermeiros. Devido à falta de apropriação teórico-prática no assunto, a qualidade do cuidado de enfermagem eventualmente é comprometida.(9-10)
Assim sendo, muitos serão os impactos na qualidade de vida e bem-estar biopsicossocial das pessoas com TEA e sua rede de apoio social a longo prazo. Pois a carência de conhecimento sobre esse distúrbio do neurodesenvolvimento no processo ensino-aprendizagem do enfermeiro, impedirá, muitas vezes, o pensamento crítico desse profissional, prejudicando a assistência a essa população. Esses malefícios atingem principalmente o nível primário de atenção à saúde, cenário propício para o rastreio e a identificação de diagnóstico precoce e eficaz que proporciona melhores resultados e favorece o encaminhamento a intervenções comportamentais desses sujeitos.(11)
Não está disponível na literatura, estudos que investigaram o conhecimento de estudantes de graduação em enfermagem em Instituições de ensino superior privadas sobre o TEA e os seus impactos na assistência à pessoa com esse diagnóstico. Portanto, é desejável e pode ser de grande importância, identificar o aprendizado dos estudantes após estratégias de ensino – o que possibilita identificar a compreensão durante a formação acadêmica sobre esse distúrbio e proporcionar melhorias no cuidado às pessoas com TEA.
Este estudo justifica-se pela tentativa em preencher a lacuna na produção científica que aborda o conhecimento de estudantes de graduação em enfermagem a respeito do TEA e as suas implicações no cuidado do enfermeiro, elevando o desempenho profissional nesse contexto, possuindo, portanto, um caráter de ineditismo. Neste contexto, o objetivo do estudo é analisar o conhecimento dos estudantes do curso de graduação em enfermagem sobre o Transtorno do Espectro Autista
MÉTODO
Tipo de estudo
Trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório. Estudos transversais investigam fatores permanentes do indivíduo, necessitando assim da exposição de fatores em um único momento do tempo. Correlacionando um fato, conhecimento ou fenômeno com dados que possam ser influenciadores desses aspectos da pesquisa. Aplicando uma abordagem comparativa à amostra, evidenciaremos diferentes grupos de pessoas para delinear suas diferenças e similaridades.(12)
Quanto à pesquisa quantitativa, caracteriza-se por ser um estudo sistemático e objetivo com o intuito de mensurar os dados coletados, atribuindo-o a variáveis e realizando análise estatística.(13)
Local do estudo
O estudo foi realizado em uma instituição de ensino superior de caráter privado, localizada na cidade de São Paulo, que oferece cursos em ciências da saúde (medicina, enfermagem e fisioterapia). Constitui-se de oito turmas de graduação em enfermagem.
Participantes do estudo
Os participantes do estudo são 168 estudantes de graduação em enfermagem de uma instituição privada do município de São Paulo. Sendo a amostra não probabilística. Critérios de inclusão: Foram incluídos estudantes de enfermagem, com idade superior a 18 anos, de ambos os sexos, regularmente matriculados, que concluíram o terceiro semestre do curso de graduação em agosto de 2022 (período da etapa de coleta de dados). Critérios de exclusão: Foram excluídos os estudantes com matrículas irregulares durante a etapa de coleta de dados, além daqueles que não preencheram devidamente os instrumentos de coleta de dados.
Coleta de dados
O instrumento de coleta de dados foi um questionário elaborado pelos autores dividido em 3 partes, sendo a primeira referente a identificação social do indivíduo, a segunda relevante ao contato que o participante teve com TEA e o último é quanto ao nível do conhecimento. O questionário possui apenas questões quantitativas, com o intuito de avaliar o conhecimento dos estudantes de enfermagem sobre o TEA. Para avaliar o conhecimento dos estudantes foram elencadas as seguintes variáveis no questionário: Onde adquire conhecimento sobre TEA; Se possui familiares com TEA; Se já possui experiência profissional com paciente com TEA; Semestre da graduação que está cursando; Conhecimento teórico quanto ao TEA; Se possui interesse em adquirir esse conhecimento; Dentre outras.
A etapa de coleta de dados foi realizada presencialmente, portanto, o instrumento de coleta de dados, assim como o TCLE foram disponibilizados impressos aos participantes em folhas sulfite A4 para preenchimento e assinatura. Os candidatos a participante da pesquisa, foram convidados individual e presencialmente a ingressar e contribuir com o estudo. Nessa abordagem, o pesquisador principal informou e esclareceu todas as informações acerca da investigação. Tais como: objetivos da pesquisa, benefícios, riscos, aspectos éticos, dentre outros.
Os participantes assinaram o documento, expressando a sua concordância. Somente após este procedimento, aplicou-se o instrumento de coleta de dados para o preenchimento das questões. Diante disso, a assinatura do TCLE pelo participante procedeu às perguntas referentes à coleta de informações.
Procedimentos de análise e tratamento dos dados
Os dados obtidos da coleta de dados foram arquivados e consolidados em uma planilha, na qual somente o pesquisador responsável tem acesso. O nome de cada participante foi excluído da planilha e adotou-se um número de identificação (ID) para cada um deles, a fim de preservar a confidencialidade e o sigilo que são direitos do participante de pesquisa.
Dessa maneira, será garantido ao participante que os dados da pesquisa serão utilizados exclusivamente para os fins deste estudo, bem como será assegurado o anonimato quando do repasse dos dados. Foram utilizadas tabelas de frequência, valores de média e mediana, desvio padrão, variância e intervalo de confiança para apresentação dos dados.
Utilizou-se regressão de Poisson para estimar as razões de prevalência (RP) e obter testes de heterogeneidade e de tendência linear nas análises ajustadas, com nível de significância de 5%.
Aspectos éticos
As fases que estruturaram este estudo e a sua operacionalização atenderam todos os aspectos éticos e legais de pesquisa envolvendo seres humanos, em consonância com a Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012 e suas complementares (BRASIL, 2012). Além desta, cumpre todas as determinações da Resolução n. 510, de 07 de abril de 2016 do Conselho Nacional de Saúde, que determina diretrizes éticas específicas para as ciências humanas e sociais. E o projeto foi aprovado mediante CAAE: 57056922.1.0000.0071.
RESULTADOS
Caracterização da amostra
A amostra deste estudo é representada por 168 estudantes da graduação, que estavam cursando a partir do quarto semestre da graduação, portanto, foram aqueles que já haviam concluído pelo menos um ciclo de estágios. Em relação a caracterização da amostra 151 estudantes eram do sexo feminino (89,88%) e dezessete (10,12%) do sexo masculino , 129 declararam cor da pele branca (76,79%), seguidos de 24 pardos (14,29%), 8 negros (4,76%), 7 amarelos (4,17%) e não havia nenhum aluno que se autodeclarou indígena. A média de idade foi de 23 anos, com idade mínima e máxima de 18 a 49 anos respectivamente, com desvio padrão de 4,32. Do total da amostra, 110 ainda não trabalham na área da enfermagem (65,48%) e os 58 restantes prestam cuidados como profissionais de enfermagem de nível médio ou são estagiários. 36 participantes exercem estágio extracurricular (21,43%), 21 como técnicos (12,50%) e 1 (0,60%) como auxiliar. Foi questionado aos estudantes que trabalhavam se haviam tido contato com pacientes com TEA no trabalho, 42 participantes (72,41%) disse que sim enquanto 16 (28,58%) afirmaram que não. Já durante os estágios curriculares 127 (75,60%) afirmou que não teve contato com TEA enquanto 41 (24,40%) tiveram.
Dos estudantes 23 (13,69%) possuem familiares com TEA enquanto 145 (86,31%) não possui. Também foi questionada a fonte de informação dos estudantes sobre autismo, que se distribui conforme Quadro 1.
Quadro 1. Fonte de informação dos estudantes sobre TEA segundo modalidade.
Fonte | Contagem |
Internet | 128 |
Tv, Filmes e séries | 87 |
Mídia Social | 86 |
Conteúdo acadêmico | 64 |
Artigos Científicos | 30 |
Outros | 18 |
Nenhuma | 4 |
Total | 417 |
* A contagem de respostas excede o número de participantes, visto que cada participante poderia ter mais de uma fonte de informação sobre TEA.
Principais Resultados
Os principais resultados desta pesquisa indicam que, pelo menos, metade dos alunos acertaram entre 75% e 100% das questões, informações com base na mediana, e a outra metade acertou menos que 75% das questões. Apenas três alunos acertaram as oito questões (100%), e a grande maioria (94,64%) acertou pelo menos 50% das questões. Fazendo testes comparativos entre o grupo com familiares com TEA e o que não possui familiares no espectro a porcentagem média de acertos foi significativamente maior no grupo que tem familiar com TEA (p=0,05). E comparando o conhecimento dos estudantes que já trabalham na área de enfermagem e o grupo que não trabalha, a porcentagem média de acertos foi significativamente maior no grupo que não trabalha na enfermagem (p=0,029). Não houve variações de conhecimento relevantes entre os semestres da graduação de enfermagem.
Ao serem questionados sobre a sua percepção acerca do conhecimento sobre o TEA, a maioria (90,5%) não considerou o ensino na graduação sobre TEA suficiente e não se sente seguro em atender pacientes no TEA (79,2%). Além disso, quase todos gostariam de ter mais conhecimento sobre TEA (97,6%), mas menos da metade (39,3%) buscou informação sobre o assunto nos últimos 6 meses.
Quadro 2. Porcentagens de acertos por questão de conhecimento do TEA.
1. Etiologia do autismo | 129(76,8) |
2. Profissional que faz o diagnóstico de TEA | 98(58,3) |
3. Abordagens terapêuticas/educacionais de forma individualizada | 132(78,6) |
4. Tratamento medicamentoso é possibilidade de tratamento para TEA | 42(25,0) |
5. Pessoas com TEA têm capacidade sensorial exacerbada | 158(94,1) |
6. Estereotipias e/ou hiperfoco nas pessoas com TEA é maneira de absorver estímulos, aliviar ansiedade e obter satisfação | 143(85,1) |
7. Causas das dificuldades sociais no TEA são inatas devido ao seu desenvolvimento neurológico | 87(51,8) |
8. TEA nas pessoas do sexo feminino é pouco diagnosticado pelo mecanismo chamado “masking” | 128(76,2) |
Tabela 1. Porcentagem de acertos por aluno:
% Questões corretas | Contagem(%) |
---|---|
25,0 | 1(0,60) |
37,5 | 8(4,76) |
50,0 | 24(14,29) |
62,5 | 50(29,76) |
75,0 | 53(31,55) |
87,5 | 29(17,26) |
100,0 | 3(1,79) |
Tabela 2. Medidas estatísticas da porcentagem de acertos.
Variável | N | Média | DesvPad | Mínimo | Mediana | Máximo | |
% questões corretas | 168 | 68,23 | 14,53 | 25,00 | 75,00 | 100,00 | |
Variável | Familiar com TEA | N | Média | DesvPad | Mínimo | Mediana | Máximo |
% questões corretas | 0 | 110 | 69,77 | 14,60 | 25,00 | 75,00 | 100,00 |
1 | 58 | 65,30 | 14,06 | 37,50 | 62,50 | 87,50 |
Tabela 3. Autoavaliação dos estudantes acerca do conhecimento sobre TEA. São Paulo, 2022.
Questão | Contagem (%) | |
Você acha que o ensino sobre TEA no curso de graduação é suficiente para a aquisição de conhecimento acerca desse distúrbio? | Sim | 16(9,52) |
Não | 152(90,48) | |
Você se sente seguro para atender/cuidar de um paciente com TEA de maneira efetiva, ética e baseada em evidências? | Sim | 35(20,83) |
Não | 133(79,17) | |
Você gostaria de ter mais conhecimento sobre o TEA durante o curso de graduação? | Sim | 164(97,62) |
Não | 4(2,38) | |
Você buscou informação sobre TEA nos últimos 6 meses? | Sim | 66(39,29) |
Não | 102(60,71) |
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo analisar o conhecimento dos estudantes de enfermagem por meio de um questionário desenvolvido pelos autores, que continha questões fundamentais sobre o TEA, como a sua etiologia, diagnóstico e as abordagens terapêuticas aos indivíduos, bem como as manifestações comportamentais categóricas do autismo, essenciais para o diagnóstico.
Idealmente os estudantes deveriam apresentar porcentagem de acertos elevada em todas as questões realizadas, mas apenas 1,79% da amostra acertaram todas as questões, sendo que nível de conhecimento da maioria dos estudantes chega a 50% e metade deles ultrapassa 75% de acertos, tendo maior porcentagem de acertos nos com familiares com TEA, mas menor incidência de acertos naqueles que já trabalham como enfermeiros, fato que contrapõe com 72,41% dos mesmos terem tido contato com pacientes com TEA.
Outros estudos(14) corroboram com o fato de profissionais da saúde declararem conhecimento ineficiente sobre TEA, e os profissionais que não se sentem preparados não promovem cuidado na plenitude das suas capacidades. Já pessoas com familiares com TEA têm exemplos vívidos da condição, que é provado como facilitador do aprendizado sobre TEA,(15) além de ter conhecimento dos cuidados prestados a essa população.
Dos estudantes, 90,48% não acha o ensino sobre TEA na graduação suficiente e as porcentagens de acerto não foram ascendentes do quarto ao oitavo semestre, conforme exposto na tabela 9, o que indica que neste caso o ensino da graduação não influencia de forma intrínseca no conhecimento sobre autismo, mas sim o quanto cada indivíduo foi exposto ao tema, busca informação e se essa informação é confiável.
Enquanto 97,62% gostariam de ter mais conhecimento sobre o assunto, apenas 39,29% da amostra buscou informação sobre o assunto nos últimos 6 meses, e as fontes de informação mais utilizadas foram Internet, TV, filmes e séries e mídias sociais respectivamente, sendo fontes mais acessíveis mas potencialmente estigmatizadoras.(16) Nesse contexto a graduação é um importante facilitador para o acesso de conhecimento fidedigno através de diferentes metodologias interativas e eficazes, como casos clínicos interdisciplinares(17) e simulações realísticas,(18) que desenvolvem qualidades terapêuticas representativas, beneficiando profissionais, autistas e suas famílias ao refinar a qualidade do cuidado prestado.
Analisando as oito questões aplicadas, as quatro primeiras haviam correspondência com estudo realizado em estudantes do Distrito Federal em 2018 por Ferreira e Franzoi.(19) Enquanto 76,8% da amostra dos estudantes de São Paulo acertaram a etiologia do autismo, que é multifatorial e complexa1, 53,8% da amostra de Ferreira e Franzoi acertaram sobre essa questão.
Já 58,3% acertaram quanto aos profissionais que realizam o diagnóstico de TEA comparados a 80% da amostra de Ferreira e Franzoi. O diagnóstico é realizado por uma variedade de profissionais especializados no assunto, sejam eles médicos, psicólogos ou pedagogos, é fundamental a investigação por meios específicos(20) por diferentes profissionais, e é necessária, por exemplo, a exclusão de influências auditivas e vocais nas alterações de comunicação, investigadas pelo profissional fonoaudiólogo,(21) que também pode participar da intervenção terapêutica.
O papel da enfermagem(22) nesse contexto é ser um facilitador a esses profissionais especializados, já que é o profissional de saúde que mais tem contato com a população, em especial na atenção primária à saúde, em que pela RAS faz referência e contrarreferência aos diferentes serviços de saúde, constatando a importância do conhecimento dos critérios diagnósticos do transtorno por esses profissionais, sabendo a importância do diagnóstico precoce no TEA.(23)
Sobre a abordagem terapêutica, os estudantes tiveram 78,6% de acertos, contrastando com 93,8% de acertos de Ferreira e Franzoi. Sabe-se que a abordagem de todo usuário de saúde deve ser individualizada de forma multidimensional, então por que a abordagem terapêutica do autista seria diferente? As intervenções para déficits sociais ou de outras comorbidades no autismo são diversas(7) e deve-se delinear um plano com múltiplos profissionais para o cuidado integrado no desenvolvimento desse indivíduo.
Um conhecimento que ainda é deficitário nas duas amostras é sobre a possibilidade de tratamento medicamentoso no TEA, tendo 25,0% de acertos em São Paulo e 36,9% de acertos em Ferreira e Franzoi, retomando sobre a alta taxa de comorbidade no TEA, medicamentos podem ser usados para essas condições anexas como depressão, ansiedade, TDAH entre outros, ou para os sintomas de irritabilidade, mas hoje nenhum medicamento altera a formação neurológica de um autista.
As demais questões do presente estudo não tinham consonância com outras pesquisas, assim, os resultados não podem ser comparados. Dos estudantes, 94,1% acertaram que pessoas com TEA têm capacidade sensorial exacerbada,(1) algo amplamente demonstrado na mídia, uma das principais fontes de informação dos participantes.
Observou-se que 85,1% acertaram que as estereotipias no TEA tem funcionalidade, em especial para aliviar ansiedade, absorver estímulos e obter satisfação, sendo benéfico para sua capacidade executiva, mas com possibilidade de intervenção profissional caso essa estereotipia se manifeste como hetero ou auto agressão.(24)
Com menor porcentagem, mas ainda representando a maioria, 51,8% acertaram que as alterações e dificuldades sociais no TEA se dão pelo desenvolvimento neurológico. Já 76,2% sabem que é mais difícil realizar o diagnóstico em meninas pela inteligência social mais desenvolvida no sexo feminino, que realiza mecanismos de “masking” para se adaptar ao meio social,(25) mas que acaba interferindo profundamente na autoestima e saúde emocional dessa população.(25)
Ante o exposto, se mostra necessária a apresentação da temática e a inserção de métodos de ensino do TEA nos cursos de graduação de enfermagem para qualificar os futuros profissionais no que diz respeito ao TEA, pensando na inserção desses métodos no currículo acadêmico.
Limitações do Estudo
Uma das limitações do estudo foi precisamente a ausência de uma ferramenta validada para avaliar o conhecimento dos estudantes de enfermagem sobre autismo, ter como amostra apenas uma instituição de caráter privado, não sendo possível avaliar outras realidades. Impossibilitando, por exemplo, a comparação entre o ensino público e privado. Vale destacar que por esse motivo, sugere-se que novos estudos com essa abordagem temática em outras instituições de saúde.
Contribuições para a Área
Considera-se que este estudo contribuiu para verificar o conhecimento dos estudantes de enfermagem sobre o assunto, além de estimular a realização de novos estudos e a ressignificação do conteúdo na grade curricular de cursos de Graduação em enfermagem, considerando as lacunas no conhecimento sobre TEA e as fragilidades demonstradas no estudo.
CONCLUSÕES
Este estudo possibilitou a análise do conhecimento dos estudantes de enfermagem acerca do TEA, que indica um nível razoável de conhecimento demonstrado pela maioria de acertos nas questões sobre etiologia e caracterização do autismo. Porém, propicia uma importante reflexão para eventuais discussões sobre como os futuros profissionais de saúde, incluindo, a categoria da enfermagem, poderão atender essa população específica, desconhecendo princípios fundamentais sobre a abordagem e o manejo às pessoas com TEA. Tais aspectos apontam a importância desse conteúdo que deve ser retratado nas Instituições de Ensino Superior.
REFERÊNCIAS
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