KNOWLEDGE OF CAREGIVERS OF ELDERLY INDIVIDUALS IN LONG-TERM CARE FACILITIES ABOUT CHANGES IN MASTICATION AND SWALLOWING
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410211357
Myrelle Ferreira Soares1;
José Fabrício Luis da Silva1;
Marisa Siqueira Brandão Canuto2
Resumo
As alterações fisiológicas da terceira idade impactam significativamente a vida biopsicossocial, especialmente nas áreas de comunicação e alimentação, sendo a alimentação não apenas uma fonte de prazer, mas também um facilitador crucial da interação social. A integridade das funções de mastigação e deglutição é essencial para garantir a segurança. Idosos que não conseguem realizar atividades da vida diária de forma independente requer atenção de cuidadores, sejam eles membros da família ou profissionais, para assegurar seu bem-estar e qualidade de vida. Assim, o presente estudo tem como objetivo compreender a percepção dos cuidadores de idosos quanto às alterações de mastigação e deglutição de idosos nas Instituições de Longa Permanência (ILPI’s). Este estudo, é quantitativo e analítico, realizado com cuidadores de idosos de ILPI’s em Alagoas, por meio de formulário, com amostra aleatória e não probabilística. Foram coletados 34 questionários. A média de tempo de trabalho com idosos foi de 3 anos e 9 meses, e permanecem por média de 1 ano e 10 meses. 94,1% dos cuidadores identificaram a presença de alterações mastigatórias, correlacionando estas as ausências dentárias e/ou uso de próteses (41,2%). As adaptações alimentares para lidar com essas alterações são realizadas individualmente por cada cuidador, embora, acreditem conhecer o que é importante para uma boa mastigação, não associam a ausência dentária ao prejuízo mastigatório.É notório que os cuidadores não conseguem evitar a ocorrência de engasgos, pois 70,5% já precisaram realizar a manobra de Heimlich durante a oferta de refeições.
Palavras-chave: Cuidadores. Idoso. Mastigação. Deglutição.
Abstract
Physiological changes in old age significantly impact biopsychosocial life, especially in the areas of communication and eating, with eating being not only a source of pleasure but also a crucial facilitator of social interaction. The integrity of chewing and swallowing functions is essential to ensure safety. Elderly people who are unable to perform activities of daily living independently require the attention of caregivers, whether family members or professionals, to ensure their well-being and quality of life. Thus, this study aims to understand the perception of caregivers of elderly people regarding changes in chewing and swallowing of elderly people in Long-Term Care Facilities (LTCFs). This study is quantitative and analytical, carried out with caregivers of elderly people in LTCFs in Alagoas, using a form, with a random and non-probabilistic sample. Thirty-four questionnaires were collected. The average time working with elderly people was 3 years and 9 months, and they remained for an average of 1 year and 10 months. 94.1% of caregivers identified the presence of chewing disorders, correlating these with missing teeth and/or use of dentures (41.2%). Dietary adaptations to deal with these disorders are carried out individually by each caregiver, although they believe they know what is important for good chewing, they do not associate missing teeth with chewing impairment. It is clear that caregivers are unable to prevent choking, as 70.5% have had to perform the Heimlich maneuver while serving meals.
Keywords: Caregivers. Elderly. Chewing. Swallowing.
1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento acarreta mudanças em todos os aspectos na vida dos idosos, sendo caracterizado por uma modificação nas funções sociais, mentais e corporais. No Sistema Estomatoglossognático, é possível observar alterações significativas, começando pela função de mastigação e fase preparatória da deglutição, que podem repercutir no prazer e qualidade alimentar (Santos et al., 2018).
Na nossa cultura a alimentação, além de suprir as necessidades de sobrevivência, atua como uma fonte de prazer, tornando-se um ato social e facilitador da interação (Santos, 2015). Quando não realizada de forma eficaz, causa uma série de perturbações no que diz respeito aos aspectos orgânicos.
As alterações fisiológicas presentes na terceira idade interferem, na maioria dos casos, na vida da pessoa idosa, desse modo, é essencial ter um acompanhamento de rotina com uma pessoa de confiança que conheça esses riscos biológicos – o cuidador. Nos países desenvolvidos, o cuidador já representa uma parceria com a equipe de saúde, no qual é auxiliado a garantir o bem-estar do idoso (Grundy, 2003).
A pessoa idosa usufrui de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana (Estatuto do idoso, 2022). Assim, é responsabilidade da sociedade garantir os direitos a essa faixa etária, visto que os índices de envelhecimento aumentam em decorrência disto, trazendo maiores consequências à política social e à saúde pública.
Compreende-se que a população idosa precisa de um cuidado especial por pertencer a um nível de fragilidade maior, em virtude do contexto social, físico e/ou mental, em razão do abandono familiar ou social. Além de favorecer um desgaste psicológico maior em relação à solidão nas Instituições de Longa Permanência (ILP) decorrente da ausência de proximidade dos familiares (Almeida, 2004).
Néri e Sommerhalder (2002) relacionam as alterações estruturais com as de funcionalidade como um fator necessário para o auxílio do cuidador. Entretanto, nem todo cuidador passa pelo processo de capacitação antes de exercer o cargo, e também pode não ter conhecimento acerca do desenvolvimento do idoso, dessa forma, com um olhar desatento, não compreende as alterações resultantes do tempo.
Os cuidadores são pessoas que se dedicam a função de cuidar de alguém quando este não consegue desempenhar tarefas da vida diária sem auxílio, sejam eles membros da família que, voluntariamente ou não, assumem esta atividade. Existem dois tipos de cuidadores: o formal e o informal. O cuidador formal é o profissional preparado em uma instituição de ensino para prestar cuidados em domicílio ou ambiente hospitalar, segundo as necessidades específicas do paciente. Já o informal é um membro da família ou comunidade, não remunerado, que presta cuidados de forma parcial ou integral ao paciente com déficit de autocuidado (Silva, 2007; Abreu, 2013; Batista, Almeida, Lancman, 2014).
O cuidador pode ser classificado como primário ou secundário, sendo primário aquele cuidador que tem responsabilidade total em relação ao fornecimento da ajuda e os demais são os secundários. Os graus de incapacidade do paciente determinam os níveis de dependência e constituem, consequentemente, um desafio para o cuidador, cabendo a ele adesão às orientações, dentre estas como preparar e ofertar os alimentos (Silva, 2007; Abreu, 2013).
A escassez de estudos no campo da percepção do cuidador de idosos e de sua capacitação favorece o risco de má orientação do cuidador, podendo acarretar em complicações no processo de envelhecimento natural do idoso e consequentemente interferir na sua qualidade de vida.
Desse modo, este estudo tem como objetivo geral compreender a percepção dos cuidadores de idosos de Instituições de Longa Permanência (ILP’s), localizadas na cidade de Maceió, Alagoas, quanto às alterações da mastigação e deglutição de idosos institucionalizados.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo analítico, transversal de abordagem quantitativa, realizado com cuidadores de idosos de quatro Instituições de Longa Permanência em Maceió, Alagoas.
Participaram da pesquisa todos os cuidadores de idosos das quatro Instituições onde foi realizada a pesquisa, independente da idade ou do sexo. Foi adotado como critério de exclusão os cuidadores de idosos que também trabalham em home care.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual em Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) sob número de parecer 6.099.847. Antes de iniciar a coleta, foi realizada uma reunião com os cuidadores para esclarecer sobre objetivo, justificativa e metas do projeto. Após sanadas as dúvidas sobre a pesquisa foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento (TCLE), comprovando estar ciente sobre os objetivos e possíveis riscos da pesquisa.
A obtenção dos dados foi realizada por meio de um formulário físico (Anexo 1), aplicado a todos os cuidadores vinculados a instituição, contendo 11 questões entre fechadas e abertas, feito pelos próprios pesquisadores, no qual permitiu avaliar os conhecimentos de cada cuidadores sobre a mastigação e a deglutição, avaliando se observa alterações durante a alimentação do idoso e quais as medidas alimentares são decididas.
Garantindo-se o anonimato das informações registradas, nenhuma informação que comprometesse a integridade do cuidador foi armazenada, somente os pesquisadores tiveram acesso às fichas de coleta. O formulário foi entregue de modo individual e presencialmente a cada cuidador, os pesquisadores se dividiram para obter um alcance maior entre os cuidadores dos dois turnos (manhã/tarde e noite). Após a coleta de dados foi realizada a tabulação dos dados no programa de Software Microsoft Excel (2010).
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao todo, foram coletados 34 questionários dos cuidadores das pessoas idosas que trabalham em quatro Instituições de Longa Permanência (ILPI’s) na capital de Alagoas. A média de tempo de trabalho com idosos entre os cuidadores é de 3 anos e 9 meses, e a média do tempo de permanência na instituição atual é de 1 ano e 10 meses. Foi observado uma rotatividade de cuidadores em algumas instituições, além da inexperiência no ambiente de trabalho atual, no qual 47,1% (N=16) cuidadores estavam no período inicial de 6 meses nas ILPI’s.
Seguindo o questionário aplicado, 82,4% (N=28) dos cuidadores realizaram ao longo de sua carreira profissional algum curso de cuidados com a pessoa idosa. Entretanto, 17,6% (N=06) nunca haviam participado de nenhuma capacitação antes de iniciar esta atividade laboral.
Para compreender melhor o nível de formação dos cuidadores que realizaram cursos, procurou-se entender qual havia sido a abordagem destes, obtendo-se o resultado descrito na tabela 1.
Tabela 1: RESPOSTA DOS CUIDADORES DAS PESSOAS IDOSAS QUE POSSUÍAM CURSO/CAPACITAÇÃO
Constata-se que alguns cuidadores realizaram mais de um curso, diversificando seus conhecimentos. As temáticas foram relacionadas a higiene pessoal, alimentação, comportamento e comunicação. Contudo, durante os questionamentos não conseguiram explicitar os conhecimentos adquiridos em cada curso. Revelando uma fragilidade nessa formação.
Entende-se que dentre as temáticas compreender as possíveis modificações comportamentais inerentes ao processo de envelhecimento é o pressuposto para direcionar assertivamente o cuidado físico: da higiene pessoal e da alimentação da pessoa idosa.
Alterações comportamentais e cognitivas podem ser indicativas de condições de saúde subjacentes, como demência ou depressão, o cuidador deve estar preparado para entender e lidar com comportamentos desafiadores, como a agitação, confusão ou até mesmo resistência aos tratamentos, gerando estresse e maus-tratos involuntários em ambos. Além disso, a pessoa idosa que apresenta declínio cognitivo exige uma abordagem específica e mais sensível, cuidadores não treinados adequadamente podem ter dificuldades em identificar e atender de modo eficaz as demandas específicas (Novelli; Nitrini; Caramelli, 2010).
Estas modificações de comportamento podem dificultar o cuidador na realização da higiene pessoal da pessoa idosa, especialmente a higiene oral, fundamental para prevenir uma série de complicações, como cáries, perdas dentárias e doenças gengivais. A saúde oral está intrinsecamente ligada à saúde geral e a capacidade de desfrutar de uma alimentação adequada, portanto, o cuidador de idosos deve estar bem informado sobre as técnicas adequadas, sendo essencial garantir uma boa e segura higiene oral (Domingos, 2012).
Desta forma, resgata-se que compreender as alterações de comportamento favorece o direcionamento do cuidado físico, enquanto saber ouvir a pessoa idosa auxilia no cuidado psicoemocional. O conhecimento destes pilares possibilita o cuidar generalista, de forma ampla e individualizada.
A habilidade de ouvir e compreender as preocupações dos residentes das ILPI’s permite um cuidado mais personalizado e eficaz, facilitando uma comunicação clara e empática que estabelece a relação de confiança, contribuindo para entender as necessidades individuais e identificar sinais precoces de problemas de saúde, além de promover a socialização interpessoal e combater o estigma associado a solidão da pessoa idosa e em declínio social, melhorando significativamente sua qualidade de vida (Martins, 2023).
Como um dos objetivos desta pesquisa, tentou-se apresentar na tabela 2, de forma mais detalhada, os conhecimentos dos cuidadores sobre a alimentação da pessoa idosa, com enfoque na função de deglutição.
Tabela 2: CONHECIMENTO DOS CUIDADORES SOBRE DEGLUTIÇÃO
No que concerne aos conhecimentos alimentares quase a totalidade dos cuidadores compreende os fatores importantes para deglutição efetiva. Deste quantitativo apenas 70,6% (N=24) entendem o significado da palavra deglutição. SegundoGuedes (2009), a precarização da informação sobre o que é a disfagia e a atuação fonoaudiológica na área, contribuem para o desconhecimento dos seus sinais e causas, em virtude desta matemática ser mais abordada em cursos superiores, fazendo com que o conhecimento de técnicos ou cuidadores informais sobre o processo de deglutição seja aleatório e não científico. Neres (2021) completa destacando que mesmo com formação superior muitos profissionais ainda desconhecem a temática e seus sinais e sintomas.
No estudo de Leonor et al. (2015) a maioria dos técnicos de enfermagem relataram saber o que é disfagia por ter sido abordado nos cursos que fizeram. Neste estudo foi encontrado relato semelhante, porém de forma contraditória ao conceituar a nomina houve uma descrição da biomecânica da deglutição e não a explanação do significado da temática.
Esta observação curiosa intrigou os pesquisadores, que buscaram destrinchar com os cuidadores sobre as experiências vividas com as pessoas idosas no momento da deglutição, para entender as possíveis dificuldades de deglutição, conforme descrito na tabela 3.
Tabela 3: EXPERIENCIA DOS CUIDADORES SOBRE ALTERAÇÕES NA DEGLUTIÇÃO
No que tange a dificuldade de engolir, a maioria dos cuidadores identificam problemas na deglutição, considerando a ocorrência de engasgos e da recusa alimentar no momento da refeição. Sabe-se que muitas pessoas idosas nas ILPI’s frequentemente fazem suas refeições na cama, o que contribui para o desencadeamento de tosse e engasgos, o que pode causar asfixia e aspiração (Kayser-Jones, Pengilly, 1999). Santos et al. (2018) relatam que um dos problemas alimentares apresentados pela pessoa idosa institucionalizada é a recusa alimentar. Campos et al. (2022) em seus estudos referem que os sinais e sintomas mais frequentes de disfagia orofaríngea nas pessoas idosas institucionalizadas foram presença de tosse e engasgo. Contudo, a tosse não foi mencionada pelos cuidadores.
Um dado intrigante foi o fato de 70% ter presenciado episódio de engasgo, mas não houve associação desta ocorrência com a dificuldade de deglutição de forma proporcional. Embora quase 42% da amostra tenha presenciado engasgo de variação diária a quinzenal.
A anodontia, ausência total dos dentes, pode representar um obstáculo significativo na alimentação, tornando a mastigação difícil e desconfortável (Aquino et al., 2024). Como recurso auxiliar, é comum o uso de próteses dentárias, entretanto, a maioria inadequadas. O uso de próteses mal adaptadas pode contribuir com o quadro de disfagia orofaríngea, pela dificuldade na trituração dos alimentos, repercutindo na fase oral de deglutição e em alguns casos determinantes de disfagia grave. A tabela 4 apresenta, de forma mais detalhada, os conhecimentos dos cuidados sobre a alimentação da pessoa idosa, com destaque na função de mastigação.
Tabela 4: RESPOSTA DOS CUIDADORES EM RELAÇÃO À MASTIGAÇÃO E DENTIÇÃO
No que se refere a oferta de alimentos das pessoas idosas nas ILPI’s quase totalidade dos participantes entendem ser um momento de cuidado e atenção foi possível identificar que a estratégia predominante para o momento da oferta da dieta é a mudança de consistência, justificando-se na crença que apesar da mudança de consistência supri os valores nutricionais da pessoa idosa, independente da presença dentária ou de próteses, pois facilita o processo de deglutição. A modificação da consistência alimentar é uma das estratégias mais comuns no tratamento dos distúrbios da deglutição. Alimentos líquidos como a água, por exemplo, por fluírem rapidamente, podem ocasionar escape prematuro para faringe em pacientes disfágicos, enquanto alimentos pastosos requerem maior força de propulsão da língua e dos músculos faríngeos, e quando esta está reduzida existe o risco de permanência de resíduos de alimento em recessos faríngeos após a deglutição. A modificação sem orientação pode comprometer a segurança da deglutição (Amaral et al., 2015). Registra-se que quarenta por cento dos entrevistados não responderam se utilizam alguma estratégia.
Importante ressaltar que a experiência alimentar vai além da nutrição, sendo intrinsecamente ligada ao prazer gustativo e à dimensão social, uma alimentação inadequada pode causar déficits nutricionais, comprometendo o sistema imunológico e levando à desnutrição, afetando o cognitivo e a saúde oral (Fernandes, 2021).
Com a presença dentária e a repercussão alimentar, buscou-se entender de forma mais específica os cuidados na alimentação da pessoa idosa, como apresentado na tabela 5.
Tabela 5: CUIDADOS ESPECIAL NA ALIMENTAÇÃO DA PESSOA IDOSA
Na tentativa de entender a ação dos cuidadores no momento da ocorrência de engasgo durante alimentação da pessoa idosa, foram elencadas as ações mais citadas pelos mesmos na tabela 6.
Tabela 6: ESTRATÉGIA UTILIZADA NA PRESENÇA DE ENGASGO
Verifica-se que um pouco mais da metade dos entrevistados não conseguiram evitar a ocorrência de engasgos, pois já precisaram de realizar a manobra de Heimlich. Portanto, evidencia-se que os sinais de riscos para disfagia não foram percebidos, pois a manobra mencionada é uma técnica de primeiros socorros utilizada em casos de asfixia em decorrência de obstrução das vias aéreas por corpo estranho (Silva et al., 2022). Corroborando com esta constatação, outro percentual maior de pesquisado já realizou prestação de assistência quando já havia ocorrido o engasgo. Reforçando-se o despreparo dos cuidadores em perceber os sinais de risco para problemas de deglutição, os quais podem determinar a ocorrência disfágica e complicações clínicas.
Com a realização desta pesquisa foi possível constatar que haviam cuidadores com mais de 10 anos de instituição, os quais nunca obtiveram capacitação, nem por busca de aprimoramento profissional, nem por investimento institucional. Portanto, terão acesso ao primeiro curso na atual área profissional ao final desta pesquisa, como benefício direto estabelecido para os cuidadores e de modo indireto, o benefício a uma melhor qualidade de vida decorrente do cuidado ao idoso institucionalizado.
A falta ou ausência de capacitação adequada para os cuidadores das pessoas idosas é um risco, não somente para o senescente sob seus cuidados, mas para os próprios profissionais. A contratação de cuidadores sem capacitação específica acarreta em cuidados inadequados, comprometendo a segurança, manejo irresponsável nos cuidados específicos e prevenção ineficaz de doenças, resultando em potencial negligência às pessoas idosas, considerando-se a Lei Nº 14.423, de 22 de Julho de 2022, em seus artigos 10 e 11.
Portanto, a capacitação dos cuidadores é fundamental para assegurar a qualidade do cuidado, a segurança e o bem-estar dos residentes nas ILPI’s, permitindo o conhecimento de necessidades específicas inerentes ao processo de envelhecimento, principalmente em termos de saúde física e mental, podendo proporcionar a redução de riscos de acidentes e lesões, como erros na administração de medicamentos, além de minimizar as consequências do isolamento social e favorecer uma oferta alimentar segura, reduzindo complicações sistêmicas inerentes a alteração de deglutição, como desnutrição e pneumonias.
5 CONCLUSÃO
O presente estudo revelou aspectos significativos sobre a atuação dos cuidadores de pessoas idosas em ILPIs, destacando tanto os pontos positivos quanto as áreas que necessitam de aprimoramento.
O uso de questionários presenciais e individuais, embora tenha sido uma abordagem apropriada para a coleta de dados, pode ter introduzido vieses de resposta, no qual os participantes podem ter fornecido respostas mais aceitáveis socialmente, em vez de expressarem suas opiniões honestamente, principalmente, por receio do setor administrativo julgar tal resposta, ressalta-se que antes de começar a coleta, os pesquisadores confirmaram total sigilo com relação ao formulário, esclarecendo que somente os mesmos teriam acesso. Apesar da garantia de sigilo, é importante reconhecer essa limitação e buscar métodos adicionais para mitigar tais vieses em futuros estudos.
A maioria dos cuidadores de pessoas idosas das ILPI’s entendem que precisam de cuidados específicos durante a oferta alimentar dos senescentes, com destaque para modificação da consistência alimentar oferecida, sendo esta pastosa. Contudo, não conseguem identificar as alterações de deglutição presentes nas pessoas idosas institucionalizadas, apenas percebem quando acontece o engasgo e a recusa alimentar, os quais podem representar sinais disfágicos e riscos à saúde clínica da pessoa idosa.
Logo, a capacitação e formação continuada dos cuidadores devem ser prioridades para as instituições de longa permanência, garantindo não apenas a segurança e o bem-estar, mas também a eficiência e a responsabilidade no cuidado à pessoa idosa, assegurando direitos constitucionais estabelecidos desde 2003 no Brasil.
Quase vinte e um anos depois esta pesquisa evidenciou a urgência em abordar essas questões, visto o desconhecimento dos cuidadores com relação ao impacto da deglutição alterada na alimentação, repercutindo no estado clínico e na qualidade de vida dos residentes da ILPI’s.
Um dado curioso foi a alta rotatividade dos cuidadores nas instituições, limitando os conhecimentos técnicos que a experiência profissional proporciona, agravado pela escassez de uma formação adequada, acentuando significativamente os riscos de agravos à saúde, comprometendo o contexto biopsicossocial das pessoas idosas institucionalizadas.
Ademais, destaca-se a importância de incluir temáticas como a habilidade de comunicação e gerenciamento de comportamentos inerentes ao processo de envelhecimento, que em particular, são subvalorizados, mas essenciais para um cuidado personalizado e eficaz, o qual pode promover a confiança e a socialização da pessoa idosa, contribuindo significativamente para sua qualidade de vida.
Indispensável o entendimento de que a pessoa idosa tem seus direitos garantidos constitucionalmente e o não cumprimento destes implica em infrações legais.
A falta ou ausência de capacitação adequada para os cuidadores das pessoas idosas é um risco, não somente para o senescente sob seus cuidados, mas para os próprios profissionais. A contratação de cuidadores sem capacitação específica acarreta em cuidados inadequados, comprometendo a segurança, manejo irresponsável nos cuidados específicos e prevenção ineficaz de doenças, resultando em potencial negligência às pessoas idosas, considerando-se a Lei Nº 14.423, de 22 de Julho de 2022, em seus artigos 10 e 11.
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1Discente do Curso Superior de Fonoaudiologia da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. E-mail: myrellesoares8@gmail.com fabrici0luis.2002@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Fonoaudiologia da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. Mestre em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva (SOBRATI). E-mail: marisa.canuto@uncisal.edu.br