REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7261943
Rosilene Gomes Pereira1
Hafra Kelly Pessoas Martins2
Luisa Chrisdayla Macêdo Santos3
Ana Beatriz dos Santos Rocha4
Resumo
A experiência como profissionais de enfermagem e a prestação de assistência direta aos pacientes faz com que os profissionais de saúde fiquem expostos a ocasiões que podem gerar infecções causadas por acidentes. Os acadêmicos de enfermagem treinam suas habilidades práticas em instituições de saúde e se expõem aos mesmos riscos que os trabalhadores da enfermagem, sobre tudo ao material biológico. Este estudo teve como objetivo analisar o conhecimento dos acadêmicos de enfermagem sobre acidentes com material biológico no município do Piauí. Foi realizado um estudo descritivo com abordagem quantitativa e delineamento transversal em duas Instituições de Ensino Superior. A amostra foi definida por 135 estudantes e através da aplicação de um questionário com variáveis sobre acidentes com material biológico. Observou-se que um percentil já havia sofrido acidente com material biológico (10,4%) com a maioria identificando sangue o material envolvido (6,7%). A maioria possuía conhecimento sobre Biossegurança (88,9%) e NR32 (56,91%). Mais da metade já participaram de palestras com tema biossegurança (62,2%), e sobre conhecimento das precauções padrão, os estudantes possuem em grande maioria (83%). No que diz respeito às quais são as Precauções Padrão mais da metade consideram como uso de luvas, uso de máscaras, higienização das mãos, uso de touca, uso de óculos de proteção, uso de jaleco, uso de propés (68,1%). Portanto a conscientização e motivação por parte dos acadêmicos para a busca de conhecimento através de capacitações mais abrangentes sobre o tema tornam-se crucial, sendo responsáveis pela promoção de um ambiente seguro.
Palavras-chaves: Biossegurança. Estudantes de Enfermagem. Conhecimento. Exposições Ocupacionais. Riscos.
1 INTRODUÇÃO
A prática da enfermagem, por envolver o manuseio e manipulação de perfurocortante, lâminas, cateteres e outros produtos que permitem o rompimento das camadas da pele, torna estes profissionais mais suscetíveis à ocorrência de acidentes, além de expô-los a agentes biológicos com potencial patogênico(RODRIGUES, et al., 2022).
Torna-se importante evidenciar que no processo de ensino aprendizagem os acadêmicos de enfermagem treinam suas habilidades práticas em instituições de saúde e se expõem aos mesmos riscos que os trabalhadores da enfermagem, já que as atividades práticas ocorrem em situações reais semelhantes à prática do profissional, o que o coloca em risco de exposição a material biológico (OLIVEIRA et al., 2017).
Os acidentes e os riscos que acarretam geram um estado de incerteza e vulnerabilidade para os profissionais que estão repensando sua vida pessoal e principalmente profissional. O risco de morte refletiu-se mais no tipo de exposição, no diagnóstico do paciente (ou não) e na probabilidade de infecção pelo vírus (HIV, hepatite C ou B). Observamos que quando consideramos as possíveis infecções ocupacionais, o medo dos efeitos colaterais induzidos pelos medicamentos parecia corresponder ao medo de contrair a doença (RODRIGUES, et al., 2022).
Os estudantes de enfermagem em suas práticas hospitalares sofrem com a mesma insegurança, vergonha de receberem possíveis críticas e o medo de contrair doenças infectocontagiosas, por não possuírem a experiência para manusear estes resíduos corretamente (SILVA, 2009).
Sabe-se que alunos sofrem acidentes durante atividades práticas; várias situações são vivenciadas durante o curso de graduação, mas a comunicação do mesmo nem sempre é realizada. Por isso a necessidade de investigar o ocorrido entre acadêmicos de enfermagem, bem como o conhecimento sobre o mesmo, tendo em vista a gama de estudos voltados basicamente aos profissionais de saúde (CANALLI, 2010).
Diante dessa necessidade formulamos a seguinte pergunta norteadora: Qual o conhecimento dos acadêmicos de enfermagem das Instituições de Ensino Superior (IES) sobre os acidentes com material biológico no município de Floriano Piauí? Sugere-se como hipótese positiva: Existe conhecimento prévio sobre temas acerca de acidentes com material biológico entre acadêmicos de enfermagem. E hipótese negativa: Não existe conhecimento prévio sobre acidentes com material biológico entre acadêmicos de enfermagem.
Sendo assim, o interesse sobre o assunto emergiu após as aulas práticas em ambiente hospitalar, onde foi observada a necessidade de obter conhecimento sobre biossegurança perante as práticas em contato direto ao paciente. Há a necessidade de refletir sobre o conhecimento que esses acadêmicos de enfermagem têm acerca das medidas de biossegurança, a fim de contribuir para a conscientização sobre a importância de sua adoção em prol da prevenção de acidentes com material biológico, despertando assim o interesse de outras pessoas a produção de trabalhos voltados para o mesmo tema.
2 OBJETIVO
Analisar o conhecimento dos acadêmicos de enfermagem sobre acidentes com material biológico no município de Floriano-PI.
3 MÉTODOS
Foi realizado um estudo descritivo com abordagem quantitativa e delineamento transversal em 02 Instituições de Ensino Superior. A amostra foi definida por estudantes que já estivessem realizados práticas em ambiente hospitalar, totalizando 135 estudantes e através da aplicação de um questionário com variáveis sobre acidentes com material biológico. Em seguida os instrumentos da coleta de dados foram organizados e depois os dados digitados na planilha do software Microsoft Excel versão 2010 e foram importados para software Statistical Package for Social Sciences for Windows (SPSS) (2009) versão 20.0 para geração dos resultados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente estudo, os acadêmicos de enfermagem foram abordados sobre seu conhecimento sobre biossegurança, cuja maioria afirmou ter conhecimento (93,2%) – Gráfico 1. Em relação ao conceito de biossegurança, obteve-se uma diferença mínima que marcaram a opção que não condiz com a resposta correta (46,21%) e ainda uma quantidade significativa deixaram de responder (2,2%). Apesar de o resultado ter sido positivo, esperava-se uma quantidade maior nos resultados quanto a terem conhecimento sobre biossegurança, já que mesmo com uma diferença pequena, a maioria marcou a definição que não correspondia, embora das três opções dadas à última fosse totalmente descartada sobrando duas alternativas em que possuía uma palavra diferente: ações e normas. Por isso entende-se que por motivo de mínimo detalhe entre o entendimento de ação para normas fez com que ocorresse essa discrepância no resultado.
Em um estudo realizado por Figueredo et al., (2018) que tratava sobre o conhecimento de acadêmicos de diversos cursos da área da saúde, na qual no curso de enfermagem em um público de 42 estudantes, 39 deles afirmaram terem conhecimento sobre biossegurança. Corroborando com estudo realizado por Ribeiro, Pires, Scherer (2016) destacaram em seu estudo que 30,76% consideram ter conhecimento sobre biossegurança.
GRÁFICO 1- Conhecimento do significado de biossegurança
GRÁFICO 2 – Conceito de biossegurança
Por seguinte, tratando-se sobre o conhecimento da NR32 mais da metade dos estudantes relataram terem conhecimento sobre a norma (56,91%) e que uma quantidade significativa deixou de responder (8,9%). Em relação ao conceito da norma a maior parte dos alunos marcou a opção que condiz com o conceito (87,5%), sendo que uma quantidade expressiva dos alunos deixou de responder (23%). Entende-se que por se tratar de uma norma especifica no primeiro momento com a pergunta sobre ter ou não conhecimento sobre NR32 não sabiam do que se tratava, mas que ao se depararem com as alternativas sobre o conceito ficou subtendido que associaram algum conhecimento resguardado ou que apenas marcaram a alternativa que mais o convém. Salienta-se ainda que boa parte dos alunos não responderam por não saberem, terem esquecido ou tenham passado para o questionamento seguinte. Em uma pesquisa realizada por Rocha et al., (2014) que tratava de conhecimento sobre biossegurança por profissionais de saúde em ambiente hospitalar observou-se que 62% conhecem o conceito da NR32.
GRÁFICO 3 – Conhecimento dos Acadêmicos de Enfermagem acerca da NR32
GRÁFICO 4 – Conhecimento dos Acadêmicos de Enfermagem acerca do conceito da NR32
No que diz respeito à participação em palestra com tema biossegurança mais da metade já participaram (62,2%). Diante esses dados podemos observar que a participação em eventos com tema biossegurança, apesar de que o percentil ser moderado, mas que levando em consideração que estes estudantes de enfermagem estão em períodos bem avançados no curso, esperava-se um valor maior, subtendendo-se que existe alguma falha de formação em relação ao que diz respeito a conhecimento geral de biossegurança.
Quando questionados sobre quais são os tipos de EPIs a maioria marcou os itens:
luvas, máscaras, toucas, óculos de proteção, capote e propés (77,8%) e uma quantidade mínima deixou de responder (1,5%). No que se refere ao uso ou não de EPIs, a grande maioria utiliza (94,1%). Além disso, foi observado que uma quantidade significativa de alunos observou que os profissionais de saúde utilizam EPIs (88,1%). E que ainda a maioria utiliza EPIs sempre independente do diagnostico (88,1%). Pode-se ressaltar que, o resultado obtido quanto ao uso de EPIs pelos acadêmicos bem como quantos os profissionais foram positivos na percepção dos alunos. Corroborando com Ribeiro et al (2019) ao ser observado as medidas de biossegurança adotada pelos estudantes constatou-se que 66% utilizam luvas, jaleco, máscara e propés. Em estudo realizado por Dias et al (2016) que aborda o conhecimento dos estudantes de enfermagem quanto ao uso de EPIs relatam que 86,66% utilizam EPIs. De conformidade com estudo de que mostrou que 80% dos estudantes utilizam EPIs independe do diagnóstico (ROCHA et al., 2014).
Por seguinte, com relação ao conhecimento sobre as precauções padrão, os estudantes o possuem em grande maioria (83%). No que diz respeito às quais são as PP mais da metade consideram como uso de luvas, uso de máscaras, higienização das mãos, uso de touca, uso de óculos de proteção, uso de jaleco, uso de propés (68,1%) e uma quantidade significativa deixou de responder (8,9%). Boa parte dos acadêmicos percebeu que já estiveram expostos a risco biológico durante a prática acadêmica (88,1%). E que ainda a maior parte dos estudantes acredita que equipamentos adequados e em bom estado precisam ser melhorados para promover uma maior segurança à saúde durante as práticas hospitalares (75,6%). Tratando-se das PP pode-se observar que o resultado foi positivo, porém que por motivo desconhecido boa parte dos estudantes deixou de responder sobre quais os tipos de PP. Corroborando com Neto et al (2017) na qual em seu estudo foi observado que 85,5% dos estudantes de enfermagem conhecem as medidas de precauções padrão.
Estudo realizado por Parentes et al (2018) que abordava medidas de PP por estudantes de enfermagem em que o uso de luvas e higienização das mãos obtiveram 100%, seguidos de uso de máscara e goro, 92% e 84% respectivamente. Tratando-se do conhecimento e adesão das PP, apenas 9,8% sentem-se suscetíveis o tempo todo, enquanto 3,9% nunca se sentem em risco de exposição a material biológico (GOMES et al.; 2015).
Julio, Filardi e Marziale (2014) em sua pesquisa identificaram que 4,3% de estudantes de enfermagem sofreram acidentes com material biológico. Corroborando com Cardoso et al (2019) em que 2,4% dos acadêmicos sofreram acidente com material biológico. Subtende-se que perante o tamanho da amostra coletada o número de alunos que sofreram acidentes pode ser considerado relativamente baixo, mas que é preocupante quando se tenta compreender por qual motivo ocasionou o acidente.
2 CONCLUSÃO
É importante destacar que na pesquisa com os acadêmicos de enfermagem, foi possível evidenciar que eles tem conhecimento sobre biossegurança, sobre os riscos inerentes ao manuseio com material biológico e sobre a importância do uso de EPIs, embora, mesmo tendo experiência atividades práticas hospitalares, deveriam se mostrar mais preparados em relação às medidas de precaução padrão, já que ficou evidente que a maior parte deles já se expuseram a riscos biológicos. Contudo, houve um percentual de estudantes que desconhecem ou não se atentam à execução correta de determinados procedimentos, gerando uma quantidade significativa de acidentes com material biológico acadêmico.
Diante desse contexto, ficou evidente a importância de ter conhecimento sobre temas que envolvem acidentes com material biológicos, já que é impossível discursar sobre acidente com material biológico sem falar sobre biossegurança evolvendo assuntos sobre Norma Reguladora 32 e Precauções Padrão, para o fortalecimento e aprimoramento de ações biosseguras. É importante que a educação continuada e supervisão por parte dos docentes para que promovam de forma dinâmica e incorpore ações preventivas imprescindíveis para uma atuação mais segura. Com isso, as Instituições de Ensino Superior precisam propiciar espaços, assim como a necessidade de intensificar palestras e treinamentos sobre acidentes com material biológico. Portanto a conscientização e motivação por parte dos acadêmicos para a busca de conhecimento através de capacitações mais abrangentes sobre o tema torna-se crucial, tornando-se responsáveis pela promoção de um ambiente de estágio seguro, pois esse aprendizado refletirá também na sua vida profissional.
REFERENCIAS
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1 Enfermeira pela Universidade Federal do Piauí e-mail: rosilenegomes.mp@hotmail.com
2 Pós Graduanda pela UniDiferencial https://orcid.org/0000-0001-6342-3367
3 Enfermeira pela Universidade Federal do Piauí https://orcid.org/0000-0002-9364-0917
4Centro universitário Santos Agostinho