CONHECIMENTO DE ACADÊMICOS DE MEDICINA ACERCA DE TOXOPLASMOSE GESTACIONAL

KNOWLEDGE OF MEDICAL STUDENTS ABOUT GESTATIONAL TOXOPLASMOSIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10223970


Milena Viana Freire1
Lilian de Melo Bona2
Liliam Mendes de Araújo3
Adriana Sávia de Souza Araújo4


RESUMO

Objetivo: Avaliar o conhecimento de acadêmicos de medicina sobre diversos aspectos da toxoplasmose gestacional. Método: Trata-se de um estudo transversal, descritivo e quantitativo. A amostra foi composta por 320 acadêmicos de medicina, do 1º ao 12º período. Foi aplicado um questionário eletrônico com questões objetivas sobre a toxoplasmose gestacional. Os dados foram analisados utilizando os softwares Microsoft Office Excel 2010 e GraphPad Prism 5. Resultados: Os acadêmicos do internato demonstraram maior nível de conhecimento no que se refere ao agente etiológico, transmissão, prevenção e tratamento da doença. Já em relação ao diagnóstico no pré-natal, os alunos do ciclo clínico apresentaram os melhores resultados. Evidenciou-se que 77,8% dos discentes, dos três ciclos, obtiveram conhecimento inadequado quanto ao tratamento indicado na ocorrência da infecção durante a gestação. Conclusão: Os acadêmicos de medicina apresentaram aumento progressivo do nível de conhecimento ao longo dos períodos durante a graduação. Entretanto, observa-se que ainda existem lacunas em alguns aspectos básicos relacionados à toxoplasmose em gestantes, principalmente quanto à conduta terapêutica. Dessa forma, faz-se necessário discutir estratégias para corrigir as deficiências no ensino teórico da patologia e assim garantir uma assistência de qualidade no pré-natal.

Palavras-chave: Toxoplasmose gestacional. Conhecimento. Medicina.

ABSTRACT

Objective: To evaluate the knowledge of medical students about different aspects of gestational toxoplasmosis. Method: this is a cross-sectional, descriptive and quantitative study. The sample consisted of 320 medical students, from the 1st to the 12th period. An electronic questionnaire with objective questions about gestational toxoplasmosis was applied. Data were analyzed using Microsoft Office Excel 2010 and GraphPad Prism 5 software. Results: medical internship students demonstrated a higher level of knowledge regarding the etiological agent, transmission, prevention and treatment of the disease. Regarding prenatal diagnosis, students in the clinical cycle showed the best results. It was evident that 77.8% of students, from the three cycles, had inadequate knowledge regarding the treatment indicated when the infection occurred during pregnancy. Conclusion: Medical students showed a progressive increase in the level of knowledge throughout the periods during graduation. Nonetheless, it is observed that there are failures in terms of basic knowledge related to toxoplasmosis in pregnant women, especially regarding therapeutic management. Therefore, it is necessary to discuss strategies to correct deficiencies in the theoretical teaching of pathology and thus guarantee quality prenatal care.

Keywords: Gestational toxoplasmosis. Knowledge. Medicine.

INTRODUÇÃO

A toxoplasmose é uma infecção parasitária causada pelo Toxoplasma gondii, um protozoário intracelular obrigatório, que possui um ciclo de vida complexo com dois hospedeiros: os felídeos, como hospedeiros definitivos, nos quais ocorre a reprodução sexuada do parasita; e aves e mamíferos, incluindo o homem, como hospedeiros intermediários, nos quais ocorre a replicação assexuada (STRANG et al., 2020).

A infecção nos humanos ocorre, principalmente, através da ingestão de alimentos contaminados pelo protozoário. Eventualmente, pode acontecer transmissão por transfusão sanguínea e transplante de órgãos (FERNANDES; SÁ, 2019).

A infecção adquirida durante o período gravídico é de grande relevância por apresentar potencial risco de transmissão para o feto, através da via transplacentária (WALCHER; COMPARSI; PEDROSO, 2017), podendo causar lesões neurológicas como microcefalia, hidrocefalia e calcificações intracranianas, além de problemas oftalmológicos, prematuridade e abortamento (FERNANDES; SÁ, 2019).

O risco de transmissão vertical aumenta com o avanço da idade gestacional no momento da infecção materna (MANDELBROT, 2020). Entretanto, a gravidade das sequelas clínicas do neonato é maior quando a infecção ocorre no primeiro trimestre da gestação (WALCHER; COMPARSI; PEDROSO, 2017).

A nível global, a frequência de toxoplasmose gestacional varia de 1 a 14 casos a cada 1000 gestações (SANDRIN et al., 2012). O Brasil é um dos países com maior incidência (BRASIL, 2018). Estima-se que a soroprevalência de toxoplasmose em gestantes brasileiras é de 42 a 91% (MUELLER et al., 2021).

O diagnóstico de toxoplasmose gestacional dificilmente é clínico, tendo em vista que a maioria das gestantes infectadas pelo T. gondii são assintomáticas ou apresentam sinais e sintomas inespecíficos, como febre, fadiga, calafrios, cefaleia, mialgia, exantema maculopapular difuso e linfadenopatia cervical. Dessa forma, o rastreamento durante o pré-natal é de suma importância para diagnosticar os casos de toxoplasmose aguda nessas pacientes (FERNANDES; SÁ, 2019).

Os casos suspeitos ou confirmados de toxoplasmose no período gravídico devem ser tratados adequadamente, com o intuito de prevenir a transmissão transplacentária ou tratar o feto infectado, reduzindo as sequelas associadas à infecção congênita (EVANGELISTA et al., 2020).

Considerando os aspectos elencados, é fundamental que os futuros profissionais médicos possuam conhecimentos adequados quanto à abordagem da toxoplasmose em gestantes, visando evitar a transmissão vertical e a morbimortalidade perinatal. Portanto, este estudo tem como objetivo avaliar o conhecimento de acadêmicos de medicina sobre diversos aspectos da toxoplasmose gestacional.

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, descritivo e quantitativo, realizado em uma Instituição de Ensino Superior de Teresina-PI, onde são ofertados diversos cursos na área da saúde, entre eles o curso de medicina. Ressalta-se que a pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa em 13 de dezembro de 2022, Parecer 5.813.234.

A população foi composta por discentes matriculados do primeiro ao décimo segundo período letivo do curso de medicina, totalizando 1663 alunos. Para o cálculo da amostra foi considerado um nível de confiança de 95% e margem de erro de 5%. Ao final, a amostra foi constituída por 320 alunos, dividida proporcionalmente entre os 12 períodos do curso, que foram agrupados em ciclo básico (1º ao 5º período), ciclo clínico (6º ao 8º período) e internato (9º ao 12º período).

A seleção da amostra ocorreu de forma aleatória, sendo incluídos os discentes regularmente matriculados e com idade maior ou igual a 18 anos, e excluídos os transferidos de outras instituições de ensino e os portadores de diplomas de graduação em outros cursos na área da saúde. A coleta de dados ocorreu no período de abril a julho de 2023. Os participantes foram contatados por meio de mensagens via e-mail ou WhatsApp, sendo disponibilizado um questionário eletrônico realizado no Google Forms.

O questionário de autopreenchimento foi constituído pelos seguintes tópicos: caracterização do perfil dos participantes (idade, sexo, período em curso, modalidade de ingresso e se possui outra graduação na área da saúde) e conhecimento sobre a toxoplasmose gestacional (agente etiológico, transmissão, diagnóstico, tratamento, prevenção e notificação). O acesso ao questionário só foi concedido após a leitura e aceite do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Para a análise dos dados, os achados foram inseridos em uma planilha eletrônica por meio do software Microsoft Office Excel 2010. As variáveis categorizadas foram descritas por meio de frequência absoluta e relativa percentual. As variáveis contínuas foram descritas por meio de média e desvio padrão analisadas no software GraphPad Prism 5. Para identificar se os dados apresentavam uma distribuição gaussiana ou não gaussiana, foram utilizados os testes de normalidade de Kolmogorov – Smirnov (KS). Após o teste de normalidade, para análise dos dados não paramétricos, foi utilizado o Teste Kruskal Wallis e o pós-teste Dunn.

RESULTADOS

A amostra final foi composta por 320 acadêmicos, distribuídos no ciclo básico (1º ao 5º período), ciclo clínico (6º ao 8º período) e internato (9º ao 12º período), sendo 57,8% do sexo feminino e 42,2% do sexo masculino. A idade dos participantes variou de 18 a 44 anos, com uma média de 23 anos e mediana de 22 anos.

O Gráfico 1 demonstra o conhecimento sobre a toxoplasmose gestacional segundo autoavaliação dos acadêmicos.

Gráfico 1: Distribuição da amostra (n-320) segundo autoavaliação do conhecimento sobre a toxoplasmose gestacional. Teresina, PI, Brasil, 2023.

Fonte: Autoria própria

Tabela 1 – Distribuição da proporção de acertos (n=160) de acordo com o conhecimento dos acadêmicos de medicina do ciclo básico sobre Toxoplasmose gestacional. Teresina, PI, Brasil, 2023.

*Teste Kruskal Wallis/ Dunn para dados não paramétricos
Fonte: Autoria própria

A Tabela 1 apresenta os dados relacionados ao conhecimento dos acadêmicos do ciclo básico sobre a toxoplasmose gestacional. Quanto ao agente etiológico, 91 (56,9%) estudantes reconheceram o Toxoplasma gondii como o protozoário causador do agravo. Destaca-se o fato de que 100 (62,5%) dos participantes desconhecem as vias de transmissão do patógeno. No que se refere ao diagnóstico no pré-natal, 90 (56,2%) acadêmicos elencaram os métodos sorológicos utilizados para detecção de imunoglobulinas anti-T.gondii (IgG e IgM). Sobre o tratamento medicamentoso, somente 9 (5,62%) estudantes do ciclo básico indicaram a espiramicina em caso de infecção aguda no início da gravidez. Quanto às formas de prevenção, 73 (45,6%) participantes demonstraram conhecimento, citando a higienização de frutas e verduras como a alternativa verdadeira.

O pós-teste Kruskal Wallis/ Dunn (não paramétricos) mostrou uma diferença dos conhecimentos entre os acadêmicos dos períodos do ciclo básico, quanto ao agente etiológico, transmissão, diagnóstico e tratamento, estas foram significantes estatisticamente p = 0,0007, p = 0,0001, p = 0,0001 e p = 0,0378 respectivamente. Apenas no quesito prevenção, essa diferença entre os conhecimentos não foi significativa (p = 0,2758)

Tabela 2 – Distribuição da proporção de acertos (n=96) de acordo com o conhecimento dos acadêmicos de medicina do ciclo clínico sobre Toxoplasmose gestacional. Teresina, PI, Brasil, 2023.

*Teste Kruskal Wallis/ Dunn para dados não paramétricos
Fonte: Autoria própria

A Tabela 2 demonstra o conhecimento sobre toxoplasmose gestacional pelos acadêmicos do ciclo clínico. Destes, 91 (94,8%) identificaram o T. gondii como o agente etiológico. Em relação à transmissão, 64 (66,7%) demonstraram conhecimento. O diagnóstico através de sorologia IgG e IgM anti-T.gondii foi reconhecido por 88 (91,7%) dos entrevistados. Já o tratamento farmacológico feito nas primeiras semanas de idade gestacional é pouco conhecido, dado que apenas 32 (33,3%) responderam corretamente. No que tange à prevenção, 69 (71,9%) estudantes citaram a higienização dos alimentos.

O pós-teste Kruskal Wallis/ Dunn (não paramétricos) mostrou que não há diferença dos conhecimentos entre os acadêmicos dos períodos do ciclo clínico, quanto ao agente etiológico, transmissão, diagnóstico, tratamento e prevenção, estas foram insignificantes estatisticamente p = 0,2350, p = 0,2012, p = 0,1238, p = 0,4885 e p = 0,6681 respectivamente.

Tabela 3 – Distribuição da proporção de acertos (n=64) de acordo com o conhecimento dos acadêmicos de medicina do internato sobre Toxoplasmose gestacional. Teresina, PI, Brasil, 2023.

Fonte: Autoria própria

Na Tabela 3 está demonstrado o conhecimento dos acadêmicos do internato, onde 160 (100%) reconheceu o T. gondii como agente causador da toxoplasmose; 56 (87,5%) apontaram a ingestão de alimentos contaminados como principal via de transmissão; 54 (84,4%) conhecem os meios diagnósticos; 58 (90,6%) indicaram medidas higiênico-dietéticas como prevenção ao contágio pelo protozoário e, apenas 30 (46,9%) apontaram a espiramicina como primeira opção de tratamento.

Gráfico 2: Distribuição da amostra (n-320) segundo conhecimento sobre a notificação compulsória da toxoplasmose gestacional. Teresina, PI, Brasil, 2023.

Fonte: Autoria própria

O Gráfico 2 mostra o conhecimento dos acadêmicos de medicina sobre a notificação compulsória da toxoplasmose gestacional. Entre os participantes, 65,7% reconhecem a notificação da doença como obrigatória e 29,3% não souberam responder.

Gráfico 3: Distribuição da amostra (n-320) segundo percentual de acertos do ciclo básico, ciclo clínico e internato. Teresina, PI, Brasil, 2023.

Fonte: Autoria própria

O Gráfico 3 demonstra a comparação do percentual de acertos por questão entre os estudantes de cada ciclo. Comparativamente, observou-se que nas variáveis “agente etiológico”, “transmissão”, “tratamento” e “prevenção” o internato obteve melhores resultados, seguido pelo ciclo clínico. Apesar do aumento progressivo do percentual de acertos, observou-se que, nos três ciclos, a maioria (77,8%) dos discentes detém conhecimento inadequado acerca do tratamento para toxoplasmose durante a gestação. Do total dos entrevistados, apenas 71 (22,2%) conheciam a conduta terapêutica. Além disso, na variável “diagnóstico”, os acadêmicos do ciclo clínico apresentaram um maior conhecimento (91,7%), que os acadêmicos do internato (84,4%), contradizendo o resultado esperado.

DISCUSSÃO

A amostra do presente estudo revelou o predomínio de discentes jovens matriculados no curso de medicina da instituição. Além disso, verificou-se a prevalência de mulheres entre os participantes. Esses dados são concordantes com o Censo da Educação Superior, realizado pelo Ministério da Educação (MEC) (BRASIL, 2022).

Nesse estudo, observou-se que a maior parte dos acadêmicos reconhecem que o agente etiológico da toxoplasmose é o protozoário Toxoplasma gondii. Este, pertencente ao filo Apicomplexa e a família Sarcocystidae (WALCHER; COMPARSI; PEDROSO, 2017), pode se apresentar em três formas infectantes: esporozoítos, taquizoítos e bradizoítos (BRASIL, 2018). Nota-se que um percentual significativo (43,1%) dos alunos do ciclo básico não sabe a etiologia da toxoplasmose, o que é preocupante, visto que se trata de um conteúdo discutido em um dos eixos da matriz.

Outra lacuna encontrada no aprendizado dos acadêmicos é referente ao mecanismo de contágio da gestante, que ocorre, principalmente, por meio da ingestão de carnes cruas ou mal cozidas de hospedeiros intermediários, além de água, frutas e vegetais contaminados. Com menor frequência, pode ocorrer transmissão através de transfusão sanguínea e transplante de órgãos (FERNANDES; SÁ, 2019). Dentre os participantes que erraram o questionamento, a maior parte considerou o contato direto com pessoas e gatos infectados como a principal via de transmissão. Sabe-se que os felídeos são os hospedeiros definitivos do T. gondii, eliminando-o em suas fezes (STRANG et al., 2020). Em condições climáticas ideais, os protozoários eliminados podem ficar viáveis por cerca de 12 a 18 meses, sendo potencialmente capazes de contaminar os alimentos (WALCHER; COMPARSI; PEDROSO, 2017).

O conhecimento sobre as formas de transmissão do protozoário é essencial para definir as medidas de prevenção primária. No pré-natal, as gestantes que ainda são suscetíveis à infecção devem receber orientações higiênicas e dietéticas (BRASIL, 2018). A prevenção é imprescindível para a redução das taxas de infecção materna e, consequentemente, das taxas de infecção congênita (DI MARIO et al., 2015). Portanto, é necessário que os futuros profissionais médicos saibam repassar essas informações para as gestantes durante a assistência pré-natal.

Santos, Ribeiro e Lima (2023), destacam que a qualidade das informações que os serviços e profissionais transmitem para a população, são importantes para mudança de comportamento e para adoção de hábitos saudáveis. Para as autoras, as informações em saúde poderão reduzir a incidência de casos da toxoplasmose e outras doenças.

Righi et al (2021) destacam a importância de profissionais de saúde capacitados para que as informações sejam repassadas de forma correta para as gestantes, para que seja evitado o diagnóstico tardio. Já que muitas vezes, este acontece no terceiro trimestre e não há tempo hábil para o tratamento da gestante, ocasionando a transmissão vertical da toxoplasmose.

Quanto ao diagnóstico de toxoplasmose na grávida 91,7% dos participantes do ciclo básico afirmaram que este é realizado através de métodos sorológicos. De fato, a sorologia para detecção de imunoglobulinas anti-T.gondii (IgG e IgM) é o método diagnóstico mais utilizado pelos laboratórios clínicos brasileiros (WALCHER; COMPARSI; PEDROSO, 2017). A condução do caso varia de acordo com o resultado da sorologia. Em caso de teste positivo para anticorpos IgG e IgM, também é necessário solicitar o teste da avidez de IgG para a elucidação diagnóstica (FERNANDES; SÁ, 2019). No entanto, quanto a esse questionamento observou-se que os acadêmicos do internato (84,4%) apresentavam conhecimento, sendo este inferior aos do ciclo clínico.

A principal dificuldade encontrada no conhecimento dos acadêmicos foi quanto à conduta terapêutica. O Ministério da Saúde recomenda o uso de espiramicina para mulheres com infecção aguda no início da gravidez, visando reduzir o risco de transmissão vertical (BARTHOLO et al., 2020). Esse tratamento é mantido até o final da gestação se não for evidenciado nenhum sinal clínico de infecção fetal (CUNNINGHAM et al., 2021). Para os casos de infecção materna após 18 semanas gestacionais ou se houver suspeita de infecção congênita, é recomendado o uso da terapia tríplice: pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico (BARTHOLO et al., 2020). Nesse contexto apenas 22,2% dos alunos do curso apresentaram conhecimento quanto ao manejo terapêutico da doença, evidenciando uma lacuna no conhecimento quanto a esse quesito.

Inagaki et al., (2015) ao avaliar os conhecimentos de acadêmicos quanto às formas infectantes, prevenção, diagnóstico e tratamento concluíram que este era insatisfatório. Corroborando com os resultados desse estudo, Oliveira et al., (2020) afirmam que os acadêmicos apresentaram conhecimentos deficiente quanto à prevenção, diagnóstico e tratamento da toxoplasmose gestacional. O reflexo dessa deficiência desde a vida acadêmica, foi evidenciado em uma pesquisa em que os profissionais médicos, relataram não saber como orientar gestantes quanto à prevenção da infecção e quanto a conduta a ser adotada diante de uma gestante com IgG e IgM anti-T. gondii reagentes (BRANCO; ARAÚJO; FALAVIGNA-GUILHERME, 2012), e quanto a interpretação dos testes diagnósticos (CONTIERO-TONINATO et al., 2014).

Para Sampaio, et al., (2020) as ações realizadas na atenção primária contribuem para intervenções junto à gestante, e ressaltam como um momento importante de integração do acadêmico do curso de medicina com a população, pacientes e profissionais que já atuam de saúde, para que o mesmo possa desenvolver habilidades necessárias para sua prática profissional. Nesse sentido, é importante destacar que na matriz curricular dos participantes desse estudo, conta um eixo temático que é a Integração Ensino Saúde-Comunidade (IESC) que vão do primeiro ao sétimo período, no qual os discentes vivenciam a prática na atenção básica, oportunizando a execução de cuidados primários nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo este um fator positivo na redução da lacuna de conhecimento.

No que se refere à notificação, é importante destacar que o Ministério da Saúde, por meio da Portaria n⁰ 204, de 17 de fevereiro de 2016, estabeleceu a obrigatoriedade da notificação semanal de casos suspeitos ou confirmados de toxoplasmose gestacional para as esferas municipal, estadual e federal (BRASIL, 2016), o que torna indiscutível a importância da adoção desse conteúdo no meio acadêmico. A notificação deve ser voltada para casos suspeitos de toxoplasmose gestacional e congênita, destaca-se também a importância de o profissional estar atento às gestantes imunocomprometidas que apresentarem toxoplasmose crônica devido à possibilidade de reativação da doença (BRASIL, 2018).

Para Santos, Ribeiro e Lima (2023), a complexidade da Toxoplasmose e do comprometimento que ela pode causar à vida da gestante e do neonato mostra a importância da investigação da situação epidemiológica. Righi et al (2021) destacaram a importância do preenchimento de fichas de notificação com informações completas, para que as estratégias de acompanhamento, controle e prevenção da toxoplasmose gestacional e congênita, possam ser programadas, organizadas de forma mais resolutivas.

CONCLUSÃO

Os acadêmicos de medicina apresentaram aumento progressivo do nível de conhecimento ao longo dos períodos durante a graduação. Entretanto, observa-se que ainda existem lacunas em alguns aspectos básicos relacionados à toxoplasmose em gestantes, principalmente quanto à conduta terapêutica.

Esse estudo contribuiu para a identificação das lacunas de conhecimento existentes na formação dos acadêmicos sobre a temática, contribuindo para o redirecionamento e planejamento de ações para promover o ensino e aprendizagem. Tendo em vista que a formação de médicos com conhecimento inadequado sobre a toxoplasmose gestacional compromete a qualidade do pré-natal e falhas na prevenção da toxoplasmose congênita.

Dessa forma, faz-se necessário a abordagem dessa temática na formação acadêmica, bem como na prática voltada para assistência pré-natal. Ressalta-se também a necessidade de pesquisas sobre o tema, pois os resultados aqui apresentados se referem a um pequeno grupo, não podendo ser generalizado.

Destaca-se também a limitação quanto às análises comparativas, em função da ausência de estudos abordando os conhecimentos de acadêmicos de medicina sobre toxoplasmose e mais especificamente toxoplasmose gestacional e congênita.

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