CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA SOBRE O NOME DAS MEDICAÇÕES QUE FAZEM USO E ENTENDIMENTO À CERCA DOS MEDICAMENTOS PRESCRITOS APÓS A CONSULTA MÉDICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412051351


Flaviana Rossato,
Laura Teodoro Campos Faleiros,
Luiza Teodoro Campos Faleiros,
Luiz Felipe Nascimento de Oliveira,
Orientadora: Prof. Dra Viviane Rodrigues Esperandim Sampaio


RESUMO

Os medicamentos têm assumido um papel importante na redução do sofrimento humano. Produzem curas, prolongando a vida e retardando o surgimento de complicações associadas às doenças, facilitando o convívio entre o indivíduo e sua enfermidade. Ademais, os medicamentos são considerados tecnologias altamente custo-efetivas e seu uso pode influenciar o processo de cuidado em saúde. Entretanto, o uso abusivo, insuficiente ou inadequado de medicamentos lesa a população e desperdiça os recursos públicos. Dessa forma, o objetivo geral do estudo foi verificar a percepção da população da atenção básica em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Franca/SP, a respeito dos medicamentos que fazem uso e o entendimento com relação a finalidade destes após a prescrição médica. É fundamental ainda, levar em consideração a importância dessas informações em casos de emergências e/ou quando a pessoa está em outra rede de atendimento, uma vez que os sistemas informatizados que integram os dados dos usuários muitas vezes são falhos e devido a informação deficitária por parte do paciente e do sistema a prescrição de novos medicamentos a abordagem com o indivíduo acaba sendo afetada. Assim, trata-se de uma pesquisa descritiva aplicada com abordagem quantitativa com base em levantamento de dados. Foi selecionada para pesquisa a UBS Ângela Rosa, do mês de Janeiro de 2022 até Março de 2023 onde essa proporcionou a possibilidade de entrevistas com 51 usuários da APS, sendo o único pré- requisito o indivíduo ser maior de 18 anos de idade. Não houve predileção por sexo. As entrevistas foram realizadas mediante um questionário durante consultas na rede de atenção básica, o qual foi composto pelas seguintes perguntas norteadoras: (A) Nome do medicamento; (B) Horário que faz uso; (C) Indicação; (D) Dose; (E) Frequência de uso; (F) Duração do tratamento; (G) Efeitos adversos; (H) Precauções. A pesquisa foi realizada em duas etapas, onde na primeira foi baseado em levantamento e revisão de literatura juntamente com a coleta de dados. Na segunda etapa, feita apresentação dos resultados em eventos científicos e análise e discussão dos dados coletados. Os resultados foram comparados entre si usando as variáveis sexo, idade: separadas em 3 faixas etárias: 18-39 anos/ 40-59 anos/ 60 anos ou mais, considerando respectivamente a população jovem, meia idade e idosa. A APS onde foram coletados os dados apresentou uma expressiva maioria de pessoas com índices de conhecimentos minimamente satisfatórios a respeito do tratamento de suas doenças, sendo necessário ênfase em 3 questões principais para melhoria de seu tratamento. Assim, deveria ser melhor abordado e alertado a respeito da importância em saber a dose, precauções e feitos adversos que os medicamentos em uso podem causar e que deve ser chamada a atenção em casos de aparecimento destes. Esse fato é de extrema relevância, pois demostra que o processo de cuidado é influenciado por uma miríade de fatores tanto macros quanto micros e que se configuram como objetos de questionamento e intervenção no âmbito da atenção primária.

Palavras-chave: Medicamentos. Conhecimento. Atenção básica. Saúde Pública.

ABSTRACT

Medicines have played an important role in reducing human suffering. They produce cures, prolonging life and delaying the emergence of complications associated with diseases, facilitating coexistence between the individual and their illness. Furthermore, medicines are considered highly cost-effective technologies and their use can influence the health care process. However, the abusive, insufficient or inappropriate use of medicines harms the population and wastes public resources. Therefore, the general objective of this study was verify the population’s perception of primary care in a Basic Health Unit (UBS) in the city of Franca/SP, regarding the medications they use and the understanding regarding their purpose after medical prescription. It is also essential to take into account the importance of this information in cases of emergencies and/or when the person is in another service network, since the computerized systems that integrate user data are often flawed and due to deficient information due to part of the patient and the system, the prescription of new medications, the approach to the individual ends up being affected. Thus, this is a descriptive research applied with a quantitative approach based on data collection. UBS Ângela Rosa was selected for research, from January 2023 to March 2023, where it provided the possibility of interviews with 51 users, the only pre requisite being that the individual was over 18 years of age. There was no predilection for sex. The interviews were carried out using a questionnaire during consultations in the primary care network, which was composed of the following guiding questions: (A) Name of the medication; (B) Time used; (C) Indication; (D) Dose; (E) Frequency of use; (F) Duration of treatment; (G) Adverse effects; (H) Precautions. The research was carried out in two stages, the first of which was based on a survey and literature review together with data collection. In the second stage, the results were presented at events scientific studies and analysis and discussion of the collected data. The results were compared using the variables sex and age: separated into 3 age groups: 18-39 years/ 40-59 years/ 60 years or more, considering the young, middle-aged and elderly populations respectively. The UBS where the data were collected presented a significant majority of people with minimally satisfactory knowledge levels regarding the treatment of their diseases, requiring emphasis on 3 main issues to improve their treatment. Therefore, it should be better addressed and warned about the importance of knowing the dose, precautions and adverse effects that the medications in use can cause and that attention should be drawn in cases of these occurrences. This fact is extremely relevant, as it demonstrates that the care process is influenced by a myriad of factors, both macro and micro, which constitute objects of questioning and intervention within the scope of primary care.

Keywords: Medicines. Knowledge. Basic attention. Public health.

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde define o medicamento como um produto farmacêutico para recuperação ou manutenção da saúde. De acordo com informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso indiscriminado de medicamento, facilitado pelo acesso de uma parte da população “ao comércio”, leva a população a um processo de risco à saúde e até a morte (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2018).

A reorientação da Assistência Farmacêutica integra as diretrizes da Política Nacional de Medicamentos, devendo ser considerada como uma das atividades prioritárias da assistência à saúde, em face de sua transversalidade com as demais ações programas de saúde. Nesse sentido, o medicamento é de fundamental importância, sendo difícil um outro fator, isoladamente, possuir no âmbito dos serviços de saúde maior impacto sobre a capacidade resolutiva dos mesmos. Portanto, pode-se considerar que o medicamento é um insumo estratégico para a melhoria das condições de saúde da população. (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2018).

A evolução da terapêutica farmacológica tem sido visível desde o surgimento dos primeiros medicamentos para o controle de infecções entre 1930 e 1940, que contribuíram fortemente com a redução da morbimortalidade ao longo do século passado. A partir daí os medicamentos começaram a ser vistos como elementos complexos, deixando de ser apenas um instrumento de intervenção terapêutica. Os potenciais benefícios do uso de medicamentos, em geral, são bem conhecidos, porém, mesmo na época do surgimento dos primeiros fármacos, já era conhecida a capacidade dos medicamentos de provocar efeitos adversos no organismo. (SILVA et al., 2021).

O Brasil tem adotado estratégias que visam ampliar o acesso a medicamentos seguros e eficazes, por meio de regulamentações de grande relevância para o sistema de saúde. O marco legal para assegurar o acesso aos medicamentos foi estabelecido com a lei 8080/19905 que estabeleceu o direito de todos os cidadãos à assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica. No entanto, após inúmeros casos de desvios de qualidade, falsificações e controle sanitário ineficiente, em 1998 foi elaborada e publicada uma Política Nacional de Medicamentos com a finalidade de garantir o acesso da população aos medicamentos considerados essenciais.

Desta forma, em 1985 surge o conceito de promoção do Uso Racional de Medicamentos (URM), proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que traz a informação de que o paciente deve receber a medicação correta, na dose adequada e em um determinado período de tempo, considerando também, o custo individual e comunitário da droga. Tendo em vista estas informações, os profissionais prescritores necessitam permanecer cautelosos às inúmeras questões ligadas ao tratamento farmacológico do cliente, analisando se na realidade, determinada medicação está adequada para o doente, se é segura, efetiva e se há aceitação do paciente à terapêutica proposta (COSTA et al., 2012).

Sabendo disso, a prescrição torna-se um importante instrumento neste contexto, pois contribui com a intervenção de agravos, favorecendo que as vantagens intrínsecas da utilização dos medicamentos sejam maiores que os riscos, sendo que a prescrição é uma forma de determinar qual intervenção medicamentosa deve ser feita pelo paciente, orientando de forma escrita, todas as informações essenciais pertinentes ao tratamento em questão, além de ser um documento necessário para a dispensação e aquisição de alguns fármacos, evitando a automedicação e aumentando a segurança do paciente no processo terapêutico. (SILVA et al., 2021).

A utilização de medicamentos é influenciada pela estrutura demográfica, fatores socioeconômicos, comportamentais e culturais, perfil de morbidade, características do mercado farmacêutico e pelas políticas governamentais dirigidas ao setor. O aumento da prevalência de doenças crônicas no país, especialmente a hipertensão arterial, diabetes, artrite/artrose e depressão é resultado do rápido e crescente processo de envelhecimento da população brasileira nos últimos anos (PINTO et al., 2016).

É comum nos depararmos com situações em que os indivíduos sem conhecimento técnico ou idosos, sentem dificuldades ou desconhecem o seguimento de um tratamento favorecendo uma interação medicamentosa e aumentando os riscos de intoxicação. Para especialistas, o consumo nacional de medicamentos estaria relacionado ao hábito do brasileiro em fazer automedicação, e ao fato do medicamento ser considerado uma mercadoria que pode ser adquirida e consumida sem a orientação devida. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50% dos usuários de medicamentos o faz de forma incorreta. É importante que a pessoa saiba o que é o produto que está adquirindo, a ação que vai acontecer em seu organismo ao consumir a substância e das incompatibilidades que existem em relação ao medicamento, assim como a responsabilidade de tomá-lo corretamente (SILVA et al., 2021).

Ainda de acordo com a OMS, a forma mais efetiva de melhorar o uso de medicamentos na atenção primária em países em desenvolvimento é a combinação de educação e supervisão dos profissionais de saúde, educação do consumidor e garantia de adequado acesso a medicamentos apropriados. Todavia, qualquer uma dessas estratégias, isoladamente, ocasiona impacto limitado (BARROS et al., 2011)

Os medicamentos de maior uso pela população brasileira são: anticoncepcionais, analgésicos, descongestionantes nasais, anti-inflamatórios e alguns antibióticos. Estudos epidemiológicos de base populacional têm mostrado que, entre idosos, existem diferenças no padrão de consumo de medicamentos prescritos e não prescritos, sendo aqueles mais consumidos do que estes. Os medicamentos que atuam sobre o sistema cardiovascular são a categoria terapêutica mais utilizada entre os prescritos, ao passo que, entre os não prescritos, prevalecem os analgésicos. Em geral, o consumo de medicamentos prescritos é associado ao sexo feminino, às faixas etárias mais elevadas, à utilização de serviços de saúde (visitas médicas e hospitalização) e a um pior estado de saúde. Por sua vez, o consumo de medicamentos não prescritos é observado com maior frequência no sexo feminino, sendo esta a variável mais consistentemente associada a tal prática.

A Política Nacional de Medicamentos, como parte essencial da Política Nacional de Saúde, constitui, dessa forma, um dos elementos fundamentais para a efetiva implementação de ações capazes de promover a melhoria das condições da assistência à saúde da população. O seu propósito precípuo é o de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2001).

A Atenção Primária em Saúde (APS) como parte e como coordenadora de uma rede de atenção à saúde deve estar preparada para solucionar a quase totalidade dos problemas mais frequentes que se apresentam no âmbito dos cuidados primários. A integralidade significa a prestação, pela equipe de saúde, de um conjunto de serviços que atendam às necessidades da população adstrita nos campos da promoção, da prevenção, da cura, do cuidado e da reabilitação. (PINTO et al., 2016)

Ademais, é importante ressaltar que a saúde do homem, quando comparada à mulher, apresenta uma menor prevalência na rotina de cuidados periódicos nos serviços de saúde e pode ter influência de fatores intrínsecos e extrínsecos de modo a aumentar a morbimortalidade masculina e contribuir com a má qualidade de saúde. Esses fatores são de natureza biopsicossociocultural favorecendo as poucas ações de promoção da saúde e prevenção das doenças que acometem os homens, situação que pode ser influenciada pelo despreparo dos profissionais de saúde, poucos incentivos e investimento em políticas públicas de saúde do homem no Brasil e pouco apoio estrutural para garantir o prosseguimento das atividades. (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2008).

A concepção de masculinidade era sinônimo de virilidade e decorre do patriarcalismo o qual estabelecia uma hierarquia entre os sexos, caracterizando os homens como seres supremos, invulneráveis e isentos de emoções, entendendo o cuidado à saúde como algo incomum à masculinidade. Estudos estatísticos mostraram que, aproximadamente, um terço (31%) dos homens residentes no Brasil não tem o hábito de ir aos serviços de saúde para fazer acompanhamento de rotina; esses homens não buscam informações e formas de auxílio na prevenção de doenças de modo a não se preocuparem com sua própria qualidade de vida (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2008).

Pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde (MS) apontaram que existem barreiras socioculturais que interferem na prevenção à saúde. Porém, em outras situações, os pacientes masculinos acreditam que não adoecem ou temem descobrir alguma doença, além de sentirem que o autocuidado pode gerar distorção da imagem de homem forte e protetor da família. Contudo, a saúde é essencial para que os homens participem ativamente das atividades do lar. Dentre as barreiras que comprometem a busca do público masculino aos serviços de saúde, podem ser citadas o horário de funcionamento das unidades que é coincidente com o horário de trabalho; as equipes de saúde serem constituída maioritariamente por mulheres; a demora em conseguir atendimento; o preconceito quanto a ser atendido ou tocado por um profissional masculino; o acolhimento deficiente; a inexperiência dos profissionais; a escassez de programas sociais voltados ao público masculino; o ambiente físico que não permite uma privacidade no atendimento; a precarização e pouca resolutividade dos serviços de saúde, principalmente na atenção básica (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2014.)

Assim, a forma com que o serviço de saúde se coloca, motiva sentimentos de constrangimento, timidez e afastamento, fazendo com que haja o desconhecimento acerca das inúmeras possibilidades fornecidas pela Estratégia de Saúde da Família, gerando a aumento da vulnerabilidade do público masculino às relações de mortalidade. Assim, estes fatores dificultadores contribuem para a piora na qualidade de vida do homem de modo a diminuir a sua expectativa de vida, bem como aumentar o índice de doenças crônicas transmissíveis e não transmissíveis que podem ser evitadas (LIMA., et al, 2022).

Além disso, é sabido que o envelhecimento populacional gera novas demandas, cujo atendimento requer a constante adequação do sistema de saúde e, certamente, a transformação do modelo de atenção prestada, de modo a conferir prioridade ao caráter preventivo das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. No processo de atenção à saúde, o paciente deve ser visto como membro ativo no processo saúde/doença/tratamento. Dessa maneira, o paciente deve assumir solidariamente a responsabilidade por seu tratamento, uma vez que sua atitude interfere no sucesso da terapêutica. A importância do paciente se dá pelo fato de ser ele quem descreve o que está sentindo e de ser quem vai aderir ou não à indicação médica, pois, se ele não seguir as recomendações prescritas e não utilizar corretamente os medicamentos, na maioria das vezes, o tratamento não alcançará o objetivo esperado (VERAS, 2009).

Entre os principais problemas relacionados ao uso de medicamentos estão o sobreuso (como consequência da prescrição excessiva ou do uso indiscriminado), a polimedicação (prescrição de vários medicamentos) e o uso incorreto (medicamento ineficaz ou na dose errada). A falta de informações ou a não-compreensão das informações transmitidas pelos profissionais da saúde aos pacientes podem trazer consequências como: não-adesão ao tratamento, com o consequente insucesso terapêutico; retardo na administração do medicamento, agravando o quadro clínico do paciente; aumento da incidência de efeitos adversos, por inadequado esquema de administração e/ou duração do tratamento; dificuldades na diferenciação entre manifestações da doença e efeitos adversos da terapêutica; e incentivo à automedicação, bem como outras sérias consequências, que podem piorar o estado de saúde do paciente (OENNING; DE OLIVEIRA; BLATT, 2009).

Assim, no que diz respeito às informações sobre medicamentos, um paciente habitualmente pode obtê-las em três momentos: [a] consulta com profissional de saúde; [b] aquisição ou recebimento do medicamento geralmente pelo farmacêutico; [c] utilização do medicamento (WAARDE, 2006). A utilização do medicamento pode ser um momento difícil do processo para o paciente pois se tiver dúvidas acerca dos medicamentos ele dificilmente terá acesso direto a um profissional de saúde. O uso indevido e indiscriminado de substâncias, até mesmo fármacos considerados não prejudiciais pela população, pode acarretar diversas consequências, como resistência bacteriana, reações de hipersensibilidade, dependência, sangramento digestivo ou sintomas de retirada e ainda aumentar o risco para determinadas neoplasias. Além disso, o alívio momentâneo dos sintomas mascara a doença de base que passa despercebida e pode, assim, progredir. (LOYOLA FILHO et al., 2002; VIDAL, 2004).

Neste sentido, o profissional da área da saúde deve prover, clara e objetivamente, o aconselhamento sobre a automedicação e recomendar a consulta médica, quando for reconhecido que a automedicação responsável não é adequada, além de encorajar a população a tratar os medicamentos como produtos especiais, que devem ser armazenados e utilizados com atenção e cautela.

Para lidar com as dificuldades relacionadas ao uso de muitos medicamentos, os idosos, por exemplo, geralmente adotam estratégias de memória que os auxilie a cumprir a prescrição dada pelo seu médico. As estratégias de memória para uso de medicamentos podem ser classificadas como internas ou externas (WERLANG ET AL, 2008). Associar a tomada de determinados medicamentos à hora do almoço, por exemplo, é considerada estratégia de memória interna. As estratégias de memória externas, por sua vez, caracterizam-se pelo uso de algum registro físico ou produto que ajude a lembrar qual medicamento tomar, em que dose e quando tomar. Caixas para acondicionamento diário dos comprimidos e anotações (na própria embalagem do medicamento ou em outros suportes) são exemplos de estratégias externas de memória.

Sabe-se ainda que, as dificuldades que o idoso normalmente enfrenta para se lembrar dos medicamentos que precisa tomar (quais, quando e em que dosagem), devido ao declínio cognitivo advindo com o envelhecimento, tornam as estratégias externas um importante aliado para que ele consiga aderir adequadamente à prescrição médica. Em sua pesquisa, Werlang et al (2008, p. 109) observaram que as estratégias externas têm papel importante em relação à adesão do idoso ao regime terapêutico, particularmente na condição de polimedicado.

A literatura aponta para a relevância dos elementos visuais nos artefatos de informação utilizados nas estratégias de memória externa (bula, embalagem de medicamento, porta comprimidos, calendários, tabelas, aplicativos para smartphones, dentre outros), cuja aplicação pode em geral ajudar no processo de tomada dos medicamentos, implicando em maior taxa de adesão por parte do paciente. Independentemente do artefato de informação utilizado para auxiliar no uso dos medicamentos, elementos visuais como tipografia, cores formas, tamanhos, ilustrações são bastante recorrentes e influenciam de forma significativa na adesão ao tratamento.

Existe na literatura também uma tabela com uma sugestão de parâmetros ou diretrizes a serem utilizadas para se preparar informação sobre medicamentos para idosos, contemplando aspectos ligados à tipografia (fonte, tamanho, contraste, cor, peso, espaçamento entre caracteres, espaçamento entre linhas, formatação de parágrafos, alinhamento) e ao papel (acabamento, tipo e cor). Pesquisadores comentam sobre o papel diferenciador da cor, em particular, nas informações sobre medicamentos. Além disso, afirmam que há apenas quatro tipos de elementos visuais: elementos textuais, elementos de imagem, elementos esquemáticos e um quarto elemento que ele denomina por “combinação inseparável”.

Segundo estes, os elementos textuais são moldados de acordo com os princípios do design tipográfico. Elementos de imagem podem ser fotos, ilustrações, símbolos, pictogramas, etc. Elementos esquemáticos são todos aqueles que não apresentam um significado direto, mas fornecem estrutura e ornamento. Linhas, cores, quadros e bordas são elementos esquemáticos.

Por fim, combinação inseparável são elementos visuais resultantes da combinação dos outros três tipos. As estratégias de memória externas, ao fazer uso de registros físicos ou eletrônicos, podem envolver diversos artefatos de informação, nos quais diversos elementos visuais são utilizados. Elementos como cor, forma, tamanho, tipografia e outros elementos visuais são comumente utilizados na elaboração e aplicação das estratégias externas, seja relacionada ao medicamento em si (cor e tamanho dos comprimidos, por exemplo), ou aplicada nos materiais que ajudam o idoso a se lembrar de quais medicamentos tomar.

Dessa forma, é de fundamental importância compreender essa lacuna existente entre o que o paciente deveria saber e o que ele sabe sobre seu tratamento/ medicamentos em uso e descobrir quais falhas determinam para que esse problema que fere o contexto da saúde direta e indiretamente ainda seja tão presente nos dias atuais mesmo diante ao acesso à tantas fontes que deveriam ser informativas e de finalidade esclarecedora.

2) OBJETIVOS DA PESQUISA
2.1) OBJETIVO GERAL

Verificar a percepção dos usuários das redes a respeito do conhecimento da população da atenção básica sobre o nome das medicações que fazem uso e entendimento à cerca dos medicamentos prescritos após a consulta médica em uma Unidade Básica de Saúde no município de Franca/SP.

2.1.1) OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Realizar levantamento de dados e traçar o perfil farmacoepidemiológico como ferramenta intervencionista para utilização dos medicamentos de maneira racional, além de identificar as fortalezas das informações obtidas e ressaltar a importância de tal entendimento para condutas médicas e para posteridade na eficácia do tratamento e no curso/ prognóstico da doença.

3) METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa aplicada de abordagem quantitativa, realizada através de pesquisa descritiva, participativa e exploratória dos usuários da Unidade Básica de Saúde Ângela Rosa, situada em uma cidade no município de Franca/SP.

A pesquisa foi dividida em duas etapas, onde, na primeira, foi realizada coleta de dados através de um questionário juntamente com levantamento e revisão de literatura. Posteriormente, para segunda etapa, foram feitas apresentações dos resultados em eventos científicos e análise e discussão dos dados. A população da pesquisa foi composta por pacientes que frequentam serviços de APS do município de Franca/SP.

O questionário foi aplicado em âmbito dos pacientes que tiveram consulta de Janeiro 2023 até Março de 2023. As unidades de análise foram os indivíduos atendidos pelos serviços da UBS Ângela Rosa, com idade igual ou superior a 18 anos, em uso de medicamentos. As informações foram obtidas presencialmente, na unidade de saúde, por meio de questionário semiestruturado e previamente validado pelo Comitê de Ética. Uma noção importante referente à amostragem é reconhecer que uma amostra válida simplesmente não é o conjunto de respostas que adquirimos quando administrarmos um questionário. Um conjunto de respostas só uma amostra válida, em condições estatísticas, se for obtido por um processo de amostragem aleatório, o que foi realizado na presente pesquisa.

As entrevistas foram realizadas mediante a técnica de entrevistas individuais, utilizando as seguintes perguntas norteadoras no questionário: (A) Nome do medicamento; (B) Horário que faz uso; (C) Indicação; (D) Dose; (E) Frequência de uso; (F) Duração do tratamento; (G) Efeitos adversos; (H) Precauções. Portanto, durante a construção do questionário foi definido itens que gerassem respostas fidedignas e válidas e, para isso, foi criado no intuito de apresentar cinco características básicas: (a) a pergunta ser compreendida consistentemente; (b) a pergunta precisa ser comunicada consistentemente; (c) as expectativas quanto à resposta adequada precisam ser claras para o respondente; (d) os respondentes precisam estar dispostos a responder.

Para assegurar tais atributos, cada pergunta deve ser específica, breve, clara, além de escrita em vocabulário apropriado, simples e correto. Assim, todas as perguntas do questionário foram neutras para que o paciente não fosse tendencioso ao responder o mesmo. Essas afirmativas, embasadas a partir do texto “Como elaborar um questionário?” da autora Marina Bandeira, professora e Ph.D. do departamento de psicologia na disciplina Método de Pesquisa Quantitativa, da Universidade Federal de São João Del Rei – FUNREI demonstram que, por exemplo, o medo do julgamento do outro é considerado um condicionante de respostas. Por isso, as entrevistas foram realizadas de maneira individual no intuito de afastar tal fator que poderia ser um viés para a pesquisa.

As discussões das entrevistas foram transcritas em formato de tabelas para posterior análise dos dados utilizando-se o Microsoft Office Excel 2003. Assim, a cada pergunta do questionário foram atribuídas pontuações. O mesmo, composto por 8 perguntas ao total, atribuiu pontuação 1 para todas as perguntas respondidas corretamente, exceto as perguntas a respeito do nome do medicamento e de sua indicação, onde essas possuirão pontuação 2 devido serem informações indispensáveis; totalizando, dessa forma, 10 pontos.

Todos foram voluntários e assinarão de maneira presencial, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), ( APÊNDICE B), no momento em que o questionário for aplicado. Vale a pena ressaltar que durante a pesquisa a identificação do usuário com as informações: nome, sexo e idade foram colhidas para posterior estatística no estudo com relação a prevalência de idade e sexo. Entretanto, tais informações serão sigilosas, onde a identificação do participante não será exposta em nenhum momento.

A 2ª etapa foi para apresentação dos resultados em eventos científicos e análise e discussão dos dados para verificar se as informações obtidas são condizentes com os dados encontrados em literatura, que, afirmam que a população masculina e idosa são as que mais possuem dificuldade em relatar os medicamentos em uso.

3.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Foram inclusos no estudo usuários da APS, sem distinção de sexo e que concordarem em assinar o TCLE e responder ao questionário. Bem como, foram excluídos da pesquisa pacientes com menos de 18 anos de idade e também aqueles que não concordaram em assinar o TCLE ou aqueles que se recusaram a responder o questionário.

4) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

No começo do século XIX a maioria dos medicamentos eram remédios de origem natural, de estrutura química e natureza desconhecidas. Após 1940, ocorreu a introdução maciça de novos fármacos, que trouxeram à população possibilidade de cura para enfermidades até então fatais, sobretudo no campo de doenças infecciosas. Os avanços nas pesquisas de novos fármacos, em conjunto com sua promoção comercial, criaram uma excessiva crença da sociedade em relação ao poder dos medicamentos (MELO et al., 2006).

Assim, o Brasil e outros países em desenvolvimento, a partir da década de 1970, preocupados com a falta de medicamentos para a população de menor poder aquisitivo, tentaram desenvolver programas governamentais que garantissem a disponibilidade ao menos dos medicamentos mais importantes. No Brasil, em 1970, foi instituída a Central de Medicamentos (CEME). Apesar de muitos dos programas não terem sucesso, os esforços para garantir os medicamentos essenciais à população geraram o surgimento da RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e dos formulários ou guias terapêuticos que padronizam os medicamentos utilizados nos hospitais, diminuindo custos e possibilitando melhor atendimento (MELO et al., 2006).

A garantia de acesso aos medicamentos é particularmente importante no âmbito da Atenção Primária em Saúde (APS), que se caracteriza como porta de entrada no SUS, e é parte integrante do processo de promoção, recuperação e prevenção de algumas das doenças mais prevalentes na população.

Sendo assim, a avaliação do acesso aos medicamentos é de fundamental importância, uma vez que uma grande parcela da população brasileira, principalmente a de menor renda, depende de programas públicos e em especial dos medicamentos ofertados pelo Componente Básico da Assistência Farmacêutica do SUS. O acesso aos medicamentos depende de uma complexa rede de atores públicos e privados, que desempenham diferentes papéis em função do contexto econômico, político e social dos diversos países nos quais são fomentadas condições para que tal acesso se efetive14, devendo haver trabalho conjunto e união de esforços políticos, sociais e multiprofissionais em direção a soluções. No campo acadêmico o termo “acesso aos serviços de saúde”, apresenta marcante multiplicidade de conceitos e abordagens. Conceitualmente “acesso à saúde” tem sido utilizado para representar diferentes dimensões ao longo do tempo (MELO et al., 2006).

No Brasil, pelo menos 35% dos medicamentos são adquiridos por automedicação, ou seja, para cada dois medicamentos prescritos, pelo menos um é consumido sem orientação médica, sendo comum a reutilização de receitas (FOELLMER et al.; 2010).

Em 1993, a OMS, em colaboração com a Rede Internacional para o Uso Racional de Drogas (INRUD), apresentou um conjunto de indicadores básicos, denominados “indicadores do uso de medicamentos”, com o objetivo de delinear métodos para a coleta de dados e quantificar o desempenho dos serviços de saúde em três grandes áreas relacionadas ao uso racional de medicamentos na atenção primária à saúde (APS): área da prescrição, área da assistência ao paciente e área do serviço de saúde. São exemplos dos indicadores da prescrição: número médio de medicamentos prescritos por consulta; porcentagem de medicamentos prescritos por nome genérico; porcentagem de consultas nas quais se prescreve antibiótico; porcentagem de consultas nas quais se prescreve medicamento injetável; e porcentagem de medicamentos prescritos que estão presentes na lista local de medicamentos essenciais (SILVA et al., 2018).

Para os indicadores da assistência ao paciente, são exemplos o tempo médio de consulta; tempo médio de dispensação; porcentagem de medicamentos corretamente etiquetados; porcentagem de medicamentos prescritos que realmente são dispensados; e porcentagem de pacientes que conhecem a dose correta (SILVA et al., 2018).

Por fim, são exemplos dos indicadores sobre o serviço de saúde a disponibilidade de cópias da lista ou formulário de medicamentos essenciais; e a disponibilidade dos medicamentos essenciais ou medicamentos-chave no próprio serviço onde são prescritos. Em termos gerais, esses indicadores são medidas objetivas de síntese ou estatísticas. Tomadas em conjunto, essas medidas permitem descrever a racionalidade do uso de medicamentos em grandes e pequenos centros de saúde, regiões ou países (MELO et al., 2006).

A medicalização da sociedade e as expectativas individuais, culturais e sociais fazem do consumo de medicamentos um campo de estudo e de intervenção vasto e essencial para a atenção integral à saúde. (SILVA et al., 2018)

A literatura afirma que as representações sociais são conhecimentos culturalmente carregados, são “um tipo de saber, socialmente negociado, contido no senso comum e na dimensão cotidiana, que permite ao indivíduo uma visão de mundo e o orienta nos projetos de ação e nas estratégias que desenvolve em seu meio social”. Cada grupo social constrói códigos culturais que articulam representações sobre diversas esferas sociais, entre as quais se incluem representações sobre corpo, saúde e doença, formando uma matriz cultural ou um sistema simbólico.

É a cultura que fornece as lentes por meio das quais será realizada a leitura dos sinais corporais, contribuindo para determinar se eles serão avaliados como irrelevantes ou se, ao contrário, serão percebidos como indicadores de doença que demande ajuda terapêutica imediata. As representações podem, também, influenciar na escolha e na avaliação das alternativas terapêuticas pelos indivíduos, segundo a proximidade ou distanciamento com relação ao contexto cultural em que estão inseridos. Parte-se do pressuposto que os indivíduos, no encontro terapêutico, sempre fazem uma releitura do discurso médico a partir da sua matriz cultural.

Medicamentos são pesquisados com o intuito de beneficiar quem os utiliza, seja na cura de uma doença, no prolongamento da vida ou na melhora da qualidade de vida do usuário. Dessa forma, é sabido que os medicamentos desempenham papel cada vez mais relevante, estando presentes na maioria dos procedimentos terapêuticos. Os autores alertam que, ao mesmo tempo, a frequência de uso, a facilidade de aquisição e a publicidade sem restrições banalizam o uso de medicamentos, como se não houvesse riscos. Entretanto, o uso inadequado de medicamentos é um problema de saúde pública prevalente em todo o mundo. Pesquisas apresentadas em um estudo de revisão dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que entre 25% e 70% dos gastos em saúde nos países em desenvolvimento correspondem a medicamentos (FOELLMER et al., 2010).

Já nos desenvolvidos esse percentual é de 15%. No mesmo estudo, também a partir de dados da OMS, o autor afirma que 50% a 70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa, 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente, somente 50% dos pacientes tomam corretamente seus medicamentos e os hospitais gastam de 15% a 20% de seus orçamentos com o manejo das complicações causadas pelo mau uso de fármacos. Assim, a má qualidade da oferta de medicamentos, o não cumprimento da obrigatoriedade da apresentação da receita médica e a carência de informação e instrução da população em geral justificam a preocupação com a qualidade da automedicação praticada no Brasil (BONFIM et al., 2001).

O acesso aos medicamentos somente se concretiza com o uso de forma racional e adequada. Assim, entre as questões centrais para sua efetivação, está a adesão ao tratamento, que é entendido como o comportamento de uma pessoa em relação a usar um medicamento, seguir uma dieta ou mudar o estilo de vida, segundo as recomendações prescritas. Certos fatores podem influenciar a adesão, como as características individuais, a quantidade de medicamentos prescrita e a percepção do usuário em relação à sua saúde.

A não adesão pode ser não intencional, causada por esquecimento, dificuldade em seguir as recomendações, em compreender a complexidade do regime ou outros problemas físicos e cognitivos, por exemplo. Compreende-se como “não adesão”: tomar medicamentos em menor ou maior quantidade, não respeitar os intervalos de dose ou não seguir as orientações farmacológicas (BROEIRO, et al.; 2008).

Muitos autores afirmam que a polifarmácia, geralmente definida como a prescrição de cinco ou mais medicamentos, afeta a adesão do paciente. A própria condição em tratamento já é um fator de risco, pois pode diminuir a adesão, causar interações medicamentosas e muitos outros equívocos ao esquema terapêutico. Por outro lado, outros autores afirmam que ela não se baseia apenas no número de medicamentos, mas também nos aspectos qualitativos do paciente e do tratamento. Além disso, defendem que é importante que a avaliação seja multifatorial, considerando não apenas a quantidade de medicamento, mas quem é o paciente, a quais patologias ele está sujeito e o seu contexto social (ESHER e COUTINHO, et al.; 2017).

Dessa forma, esse conceito de polifarmácia envolve uma complexidade de fatores maior que a simples quantidade de medicamentos na terapêutica. Devem-se levar em conta o paciente e seu suporte social, bem como a estrutura dos serviços de saúde disponíveis. Uma família que mora em área rural, por exemplo, não tem as mesmas condições de se locomover a uma unidade de saúde com a mesma frequência que uma família em área urbana fazendo com que isso limite o acompanhamento terapêutico por profissional de saúde, aumentando os riscos da polifarmácia (TESSER et al., 2010).

Ademais, na perspectiva do paciente, há de se ter em conta que é uma pessoa que, na maioria das vezes, não tem letramento em saúde, o que o torna dependente do que o profissional de saúde diz sobre sua saúde. O usuário é alguém com capacidades cognitivas, talvez ele não saiba tanto quanto o profissional em nível técnico, mas entende os conhecimentos comuns da vida. Ainda que, em uma dada situação, o paciente tenha limitações cognitivas ou até mesmo de comunicação, o profissional poderá mobilizar suporte social, que pode ser constituído por amigos e/ou familiares (TESSER, et al.; 2010).

A população precisa ser informada sobre o uso adequado de medicamentos e destacam que são necessárias medidas que garantam a oferta de produtos necessários, eficazes, seguros e de preço acessível. Para que isto seja possível é necessário que todos os profissionais da saúde tenham clareza e estejam capacitados no que se refere as suas habilidades e responsabilidades profissionais. Além disso, precisam constituir uma equipe que se comunique, entre si e com os usuários de medicamentos, para assim compreender suas dificuldades, esclarecer suas dúvidas e atender suas expectativas, permitindo que entendam a relação da saúde/doença com a medicação (BONFIM et al., 2001).

Com a conscientização de que os estudos de utilização de medicamentos são imprescindíveis para a detecção, análise e solução dos problemas advindos da utilização inadequada dos medicamentos, reforça-se a tendência de que cresça o número desses estudos e das instituições que apoiem sua realização, dando-lhes condições de serem realizados com maior fidedignidade dos dados como prescrição eletrônica, melhoria da qualidade dos prontuários, tanto em sua organização como na melhor descrição da evolução clínica (TESSER et al., 2010).

Com recursos de informatização e um banco de dados com informações sobre os critérios do uso adequado dos medicamentos, é possível realizar estudos prospectivos e, por meio da comunicação entre médicos e farmacêuticos, corrigir possíveis erros de prescrição, logo que ocorrerem, garantindo melhor assistência aos pacientes. É importante destacar ainda que a oferta destas informações ao usuário de medicamentos deve ser entendida durante a consulta médica onde o usuário precisa ser esclarecido a respeito de todos os itens de sua prescrição: dose, modo de ingerir, cuidados especiais na reconstituição e/ou armazenamento, considerações ao ingerir o medicamento, possíveis interações, entre outros (SILVA et al., 2006).

De maneira geral, apenas será possível reverter ou minimizar a situação na qual o medicamento se encontra atualmente a partir da educação de prescritores, dispensadores e usuários. Os primeiros precisam se dispor a entender os riscos relacionados a uma prescrição e se fazer entender pelo usuário quanto aos objetivos do tratamento proposto e a melhor forma de cumpri-lo, além de discutir com o farmacêutico os riscos e benefícios da terapia proposta a cada paciente. No que se refere à população é preciso disponibilizar informações e orientações sobre os medicamentos utilizados (BROEIRO et al., 2008).

Em termos básicos, para que ocorra o uso racional de medicamentos, é necessário que os países possuam uma política nacional de medicamentos implantada, que fortaleça as autoridades reguladoras de medicamentos e a gestão da assistência farmacêutica. Dessa implantação partem três bases importantes que precisam ser aperfeiçoadas: a lista de medicamentos essenciais do país; a gestão e a operacionalização dos medicamentos; e os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas. A partir dessas ferramentas partem as estratégias interventivas para melhorias de produto, serviço e processo (WANNMACHER et al 2012).

Outro ponto que deve ser levantado é de que estudos constatam que os homens, em geral, padecem mais de condições severas e crônicas de saúde do que as mulheres e também morrem mais do que elas pelas principais causas de morte. Isso porque a presença de homens nos serviços de atenção primária à saúde é menor do que a das mulheres. Ademais, sabe-se que tomar corretamente muitos medicamentos é um desafio principalmente para idosos com doenças crônicas. A grande quantidade de informações e déficits de memória tornam esta tarefa bastante complexa para os idosos (PINTO et al., 2016).

Dentre as dificuldades dessa população, as mais prevalentes foram: utilização da bula, manuseio da embalagem, similaridade visual do medicamento e embalagem, nome dos medicamentos, ambiente, situação e logística de uso. Os elementos visuais se mostram fundamentais como estratégias externas de memória dos idosos no uso de fármacos, como: tamanho e forma dos medicamentos, características das embalagens externas (caixas), posição da embalagem no local onde o idoso deixa os medicamentos e marcas (cortes) feitos nos blisters (PINTO et al., 2016).

Dessa forma, constata-se que a quantidade de informação envolvida na organização da tarefa é também um grande complicador, lembrando ainda que a polifarmácia ou plurimedicação que se refere a administração de múltiplos medicamentos ao mesmo paciente é comum nessa faixa etária (PINTO et al., 2016).

Tendo em vista as diversidades de conduta clínica e a complexidade de tecnologias, as indicações para a maioria dos medicamentos não seguem padrão de uniformidade. Assim, estabelecer protocolos é de fundamental importância para a harmonização das condutas terapêuticas, em conformidade com a medicina baseada em evidências (SILVA et al., 2006).

Os protocolos devem ser elaborados a partir da relação de medicamentos essenciais e do formulário terapêutico. Devem ser acompanhados e avaliados sistematicamente. Sua elaboração precisa envolver a equipe, com a finalidade de favorecer o processo de educação continuada e a troca de informações. Devem ser elaborados de forma participativa, com especialistas de cada clínica médica, além de sociedades médicas (SILVA et al., 2006).

Ademais, os protocolos também devem contemplar procedimentos e condutas cientificamente recomendadas, incluindo as não medicamentosas, buscando definir e harmonizar especialmente indicações, posologias, duração de tratamento. O ideal é que as informações dos medicamentos selecionados estejam anexadas à relação de medicamento, em um único documento (SILVA et al., 2006).

Portanto, para o alcance de bons resultados em qualquer atividade é preciso estabelecer objetivos claros, identificar onde e como estamos, aonde pretende- se chegar. Quem não planeja suas ações e atividades não sabe agir estrategicamente, não está gerenciando, está apenas “fazendo coisas”. Só a partir de uma análise situacional, de uma referência de partida, pode-se intervir na realidade e avançar para processos de melhoria (SILVA et al., 2006).

É preciso romper a rotina gerencial consumida na lógica imediatista, de atendimento de demanda espontânea, de se tentar resolver uma quantidade infindável de problemas emergenciais, sem avaliar prioridades. É preciso trabalhar com planejamento, metas definidas, com acompanhamento e avaliação sistemática das ações desenvolvidas, além de assumir responsabilidades com resultados (SILVA et al., 2006). O planejamento é um processo sistematizado, dinâmico, contínuo, racional, participativo, realista, pragmático, de se conhecer e intervir na realidade local, para o alcance de uma situação desejada. O produto do planejamento é o plano de ação, que, de forma simplificada, pode-se dizer que é um documento elaborado a partir da identificação de problemas, para os quais, elaboram-se objetivos, ações/atividades com o fim de resolvê-los, em conformidade com um cronograma de execução, que responda as seguintes questões: como, quem, quando e quanto (SILVA et al., 2006).

5)  ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS
5.1  VISÃO GERAL

Participaram da pesquisa 51 usuários da APS Ângela Rosa, localizada em Franca, interior de SP, sendo 16 homens (31,3%) e 35 mulheres (68,7%). A fim de verificar qual faixa etária demandaria maior atenção para o projeto de intervenção, os usuários foram divididos em 3 grupos distintos, sendo os primeiros aqueles com idade entre 18-39 (jovens), o segundo entre 40 e 59 anos (meia-idade) e, por fim, o último com 60 anos ou mais (idosos). As Tabelas 1 e 2 e os Gráficos 1 e 2 exemplificam isso.

Tabela 1 – Número e Porcentagem de participantes da pesquisa por faixa etária

Fonte: autor

Figura 1 – Gráfico de Porcentagem de participantes da pesquisa por faixa etária

Fonte: autor

5.1.1 Participantes da pesquisa por faixa etária

Visando, portanto, verificar o conhecimento da população da atenção Básica sobre o nome das medicações que fazem uso e o entendimento à cerca dos medicamentos prescritos após consulta médica, na APS em que o estudo foi aplicado percebeu-se um predomínio da população idosa nos indivíduos que responderam á pesquisa. A complexidade das demandas de saúde apresentadas pelos idosos exige dos serviços a capacidade de responder adequadamente às suas necessidades não só de prevenção e controle de doenças, mas também da promoção de um envelhecimento ativo e saudável, visando autonomia e bem-estar.

As ações da APS devem conduzir a uma atenção integral dos usuários, capaz de melhorar as condições de saúde, a qualidade de vida e a autonomia dos indivíduos e da coletividade. A APS apresenta atributos específicos como a atenção ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação do cuidado, destacando- se no âmbito da prevenção e cuidado de condições crônicas.

Por representar uma das parcelas mais vulneráveis da população, os serviços de atenção primária à saúde visam organizar e ofertar serviços aos idosos considerando suas demandas específicas e busca pela redução das iniquidades em saúde.

Tabela 2 – Participantes da pesquisa por sexo

Fonte: autor

Figura 2 – Gráfico de Participantes da pesquisa por sexo

Fonte: autor

Fonte: autor

Fonte: autor

5.1.2   Participantes da pesquisa por sexo:

Objetivando verificar o conhecimento da população da atenção Básica sobre o nome das medicações que fazem uso e o entendimento à cerca dos medicamentos prescritos após consulta médica, foi também evidenciado na pesquisa e representado na tabela e figura 2 que houve um predomínio dos usuários que responderam à pesquisa do sexo feminino, sendo que a porcentagem dessa população é mais que o dobro com relação a população masculina segundo as estatísticas e os dados colhidos.

A literatura evidencia que não existe consenso na literatura sobre o período recordatório ideal para investigar o uso de medicamentos na população, pois a seleção do período depende do que se pretende que seja recordado e da capacidade dos indivíduos em lembrar. Sabe-se que a prevalência do uso de medicamentos é dependente da definição desse período, e uma das principais questões metodológicas relacionadas é a dificuldade de recordação com precisão das informações, que é influenciada pelo aumento da idade e do número de medicamentos utilizados no período.

Outro aspecto a ser considerado é a precisão da informação que pode depender do estado de saúde em que o indivíduo se encontra. Além desses pontos abordados, a dificuldade de recordação pode ser acentuada quanto maior o período a ser lembrado, o que pode acarretar numa subnotificação de alguns tipos de medicamentos e uma subestimação da sua utilização.

Estudos afirmam que homens frequentam bem menos os serviços de APS se a compararmos com as mulheres colaborando, assim, para uma má qualidade de saúde desse público. A representação do cuidar como tarefa feminina, as questões relacionadas ao trabalho, a dificuldade de acesso aos serviços e a falta de unidades especificamente voltadas para a saúde do homem são os principais motivos expressos pelos sujeitos para a pouca procura pelos serviços de saúde.

Conclui-se, dentre outros aspectos, que o imaginário social que vê o homem como ser invulnerável acaba contribuindo para que eles padeçam mais de condições severas e crônicas de saúde do que as mulheres e também morram mais do que elas pelas principais causas de morte. Essa análise pode ser importante para se refletir sobre as dificuldades, os obstáculos e as resistências associadas à saúde do homem numa dimensão relacional de gênero.

Outra questão que reforça a ausência dos homens ao serviço de saúde seria o medo da descoberta de uma doença grave, assim, não saber pode ser considerado um fator de “proteção” para os homens estudados. Outra dificuldade para o acesso dos homens a esses serviços é a vergonha da exposição do seu corpo perante o profissional de saúde, particularmente a região anal, no caso da prevenção ao câncer de próstata. Também é apontado como um fator que dificulta esse acesso a falta de unidades específicas para o tratamento da saúde do homem (GOMES et al., 2007).

Tabela 3 – Número de acertos dos usuários de 18-39 anos

Fonte: autor

Figura 3 – Número de acertos dos usuários de 18-39 anos

Fonte: autor

Tabela 4 – Número de acertos dos usuários de 40-59 anos

Fonte: autor

Figura 4 – Número de acertos dos usuários de 40-59 anos

Fonte: autor

Tabela 5 – Número de acertos dos usuários de 60 anos ou mais

Fonte: autor

Figura 5- Gráfico de número de acertos dos usuários de 60 anos ou mais

Fonte: autor

Assim, verificando o conhecimento da população da atenção Básica sobre o nome das medicações que fazem uso e o entendimento à cerca dos medicamentos prescritos após consulta médica, percebe-se que os estudos de utilização de medicamentos possibilitam o melhor conhecimento sobre as características dos usuários de medicamentos e a identificação de fatores associados ao consumo, contribuindo para qualificar o uso e racionalizar os recursos em saúde.

Os resultados mostrados, nas tabelas acima, são derivados do questionário aplicado aos usuários que utilizam os serviços da atenção básica no município com base em cada faixa etária.

Na APS em que foi realizada a pesquisa, houve um predomínio da população idosa que responderam o questionário, visualizada graficamente na tabela 01. O instrumento utilizado para a coleta de dados estruturou-se em 08 perguntas em que essas foram relacionadas a compreensão dos medicamentos em uso, avaliando o conhecimento do participante sobre: nome do medicamento, horário de uso, indicação, dose, frequência de uso, duração do tratamento, efeitos adversos e precauções. Assim, foi atribuído 01 ponto a cada pergunta respondida corretamente; com exceção do nome do medicamento e da indicação que foram atribuídos 02 pontos uma vez que essas informações são indispensáveis para entendimento do usuário a respeito do seu tratamento.

Todas as entrevistas foram realizadas em âmbito de consultório, individualmente para que o usuário não se sentisse constrangido e, posteriormente as informações colhidas eram conferidas no prontuário eletrônico do paciente. Durante a entrevista, o paciente podia consultar a receita ou qualquer outro material para responder às questões relativas ao medicamento. O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Uni-FACEF (conforme parecer em anexo B).

As tabelas 3,4 e 5 representadas anteriormente, trazem os resultados obtidos no questionário, em que ficou evidente que independentemente da faixa etária, o número dos que desconhecem principalmente dose, efeitos adversos e precauções é relativamente predominantemente alta, esse resultado pode ser consequência de consultas que priorizam informações fundamentais para que o usuário adote o tratamento ao invés de instruções sobre fatos que podem interferir de algum modo no desfecho da terapia medicamentosa, não informando e/ou escrevendo na receita.

Tabela 6- Análise com todos usuários entrevistados:

Fonte: autor

Figura 6- Gráfico de Análise com todos usuários entrevistados:

Fonte: autor

Como foi explicitado anteriormente ao longo do trabalho, o projeto baseou- se na aplicação de um questionário de oito perguntas norteadoras, sendo essas: nome do medicamento, horário de uso, indicação, dose, frequência de uso, duração do tratamento, efeitos adversos e precauções; onde a cada item respondido corretamente eram atribuídas pontuações para posteriormente serem feitas estimativas quais são as principais informações que os usuários sentem dificuldade em responder.

Assim, na pesquisa, houve um predomínio da população idosa, ou seja, usuários com idade igual ou superior a 60 anos o que possivelmente pode ser justificado pela característica do bairro em que a APS Ângela Rosa está localizada. Essa informação pode ser confirmada de acordo com a tabela e o gráfico 1 apresentados.

Além disso, também houve um predomínio da população do sexo feminino que frequenta a APS, onde dessa vez essa característica não se deve a localização da ESF, mas sim, da literatura que afirma em estatísticas que há em maior escala mulheres que frequentam serviços de saúde ao contrário dos homens em que há uma menor procura, o que remete a hábitos de prevenção que usualmente são mais associados às mulheres do que aos homens. Observa-se um maior consumo entre as mulheres em todas as faixas etárias, o que corrobora com a literatura. A diferença entre as mulheres e os homens tem sido explicada por aspectos socioculturais e biológicos que favoreceriam maior adoecimento, maior autocuidado, maior busca por serviços de saúde e maior exposição a medicamentos entre as mulheres.

Os serviços de saúde em geral prestam mais assistência ao atendimento das mulheres com programas específicos, como o pré-natal, prevenção de câncer do colo uterino e mama, entre outros. Assim, estes serviços públicos costumam ser percebidos como um espaço feminizado, frequentado principalmente por mulheres e composto por uma equipe de profissionais formada, em sua maioria, também por mulheres. Essa situação provocaria nos homens a sensação de não pertencimento àquele espaço e remetendo por consequência grande parte das vezes a pouca procura desta população nesses serviços como confirmado na tabela 2 e figura 2.

6)  PLANO DE AÇÃO

Assim, levando em consideração os resultados coletados, pode-se destacar algumas características dos participantes. A faixa etária que mais prevaleceu no estudo foi da população idosa (60 anos ou mais) onde devido o processo de envelhecimento ser acompanhado grande parte das vezes também pelo declínio progressivo das capacidades tanto físicas como cognitivas, essa parcela da população apresenta maior dificuldade em fazer uso dos medicamentos de maneira correta ou de saber mais afundo o que aquele remédio poderia causar como efeito adverso ou precauções que deveriam/ poderiam ser tomadas para uso do mesmo, como mostrado na pesquisa ser um dos principais desconhecimentos dos usuários.

Em todas faixas etárias, o maior índice de erro acerca do medicamento foi em Dose, Precauções e Efeitos adversos. Questões pouco alertadas em consultas e de extrema relevância. Dessa maneira, torna-se necessário fazer um plano de ação com o objetivo voltado para que eventuais e indispensáveis dúvidas como essas possam ser sanadas. Dessa forma, para que tal acesso seja proporcionado ao paciente, foi elaborado um panfleto (APÊNDICE C) assuntos pertinentes e de dúvidas recorrentes do dia- a- dia de: “Como e onde armazenar os medicamentos? que será distribuído na Unidade Básica de Saúde Ângela Rosa onde ocorreu a coleta de dados. O panfleto ainda descreve alguns aplicativos de celulares que podem ser utilizados, sendo esses: Medisafe, Caixa de Remédios, My Therapy. Todos esses ajudam a lembrar o horário de tomada do medicamento e descrições simples sobre o remédio, seus componentes, dosagens, possíveis efeitos adversos e etc. O aplicativo fornece sinal do lembrete para tomar o medicamento, marcar o remédio como tomado ou adiar o alarme caso naquele momento você não consiga.

Além disso, visando melhorar a organização da tomada dos medicamentos e levando em consideração que é uma dificuldade presente na vida de diversas pessoas, principalmente da população idosa em decorrência do declínio das capacidades físicas e cognitivas, fabriquei uma caixa organizadora de medicamentos simples e passível de ser feita em casa. O intuito será deixa-la na unidade básica de saúde para que assim, a mesma sirva de inspiração para que mais pessoas a façam em casa e, assim, facilite a tomada dos medicamentos de uso contínuo (APÊNDICE D).

Por fim, visando ainda o controle para tomada correta e no horário certo dos medicamentos, elaborei uma caderneta onde a pessoa descreve todos os medicamentos que toma e horários de cada um. Ao tomar o medicamento, a pessoa faz um “X” na frente do nome do mesmo indicando que já fez o uso daquele remédio e no horário indicado. Irei fornecer algumas cópias dessa caderneta a fim de fomentar a distribuição da mesma e também deixarei em mãos da coordenadoria da UBS a arte para que a impressão destas sejam feitas sempre que necessário (APÊNDICE E).

7) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse tema trata-se de uma grande relevância na área da saúde pública, uma vez que busca a identificação de possíveis fatores de riscos para o desconhecimento a respeito dos medicamentos que fazem uso e o entendimento com relação a finalidade destes. A realização desse estudo teve como objetivo verificar a percepção dos usuários das redes a respeito do conhecimento da população da atenção básica sobre o nome das medicações que fazem uso e entendimento à cerca dos medicamentos prescritos após a consulta médica em uma Unidade Básica de Saúde no município de Franca/SP, levando em consideração a importância dessas informações em casos de emergências e/ou quando a pessoa está em outra rede de atendimento, uma vez que os sistemas informatizados que integram os dados dos usuários muitas vezes são falhos e devido a informação deficitária por parte do paciente e do sistema a prescrição de novos medicamentos a abordagem com o indivíduo acaba sendo afetada.

A avaliação do acesso aos medicamentos no Brasil ainda é um grande desafio, principalmente no que diz respeito à multiplicidade de conceitos e abordagens sobre o tema. Além de dificultar a comparabilidade dos estudos, a falta de padronização entre os instrumentos utilizados nas avaliações faz com que os indicadores revelem resultados discrepantes entre as dimensões. Os resultados do presente estudo sobre o acesso aos medicamentos são representativos do Brasil. Avaliar as diferentes dimensões na perspectiva do usuário do SUS e o consequente desempenho das políticas públicas para este fim fornece dados com implicações sobre a gestão e a alocação dos recursos do setor saúde.

Desse modo, diante da hipótese levantada, foi de grande importância avaliar os principais motivos para o desconhecimento à cerca das medicações que o indivíduo faz uso e, além disso, salientar o motivo e finalidade do uso deste, contribuindo assim para que haja melhora na qualidade de vida desses indivíduos e influenciando diretamente em benefícios futuros.

O estudo abordado nesta pesquisa realizou um levantamento de informações sobre parcela da população que frequenta serviços de Atenção Primária a Saúde e seus conhecimentos a respeito das medicações em uso. A pesquisa visou identificar qual a principal dificuldade da população com relação as perguntas do questionário aplicado a fim de processar e correlacionar estatisticamente os dados colhidos para analisar o perfil dos usuários da UBS Ângela Rosa, localizada na cidade de Franca, no interior de SP. É importante destacar que tal pesquisa possui relevância para a população, visando intervenções para melhorias na qualidade de vida dos usuários e, consequentemente, prevenir agravos à saúde.

Essas informações podem auxiliar nas decisões em saúde pública, e os achados de alto consumo e o uso inapropriado de medicamentos servem de alerta às equipes multiprofissionais e aos gestores dos sistemas públicos de saúde. Recomenda- se às equipes de Atenção Primária à Saúde, permanente atenção na identificação e no desenvolvimento de ações para enfrentar a baixa adesão ao regime prescrito e a prática frequente de automedicação entre os adultos jovens, bem como o uso de MPI e a automedicação entre os idosos.

Ademais, há de se considerar que, a relação médico e paciente é única e cabe ao profissional conversar e orientar e se mostrar disponível para responder às dúvidas do paciente. É sabido que, as orientações sobre medicamentos fornecidas aos pacientes são fundamentais para o sucesso do tratamento, uma vez que a ausência delas é uma das principais causas do uso incorreto dos medicamentos. Assim, com paciência e uma audição atenta, será possível compreender as queixas e angústias apresentadas pelo paciente. Deste modo, esclarecendo, por exemplo, possíveis efeitos colaterais que o medicamento possa vir a ocasionar, o abandono do tratamento e do uso do medicamento indicado possivelmente será menor e o paciente tentará com maior afinco se adaptar ao tratamento proposto.

Além disso, diante de toda a análise feita, pode-se destacar algumas características dos participantes. Começando pelo sexo, houve uma observação importante já que as mulheres foram as responsáveis por apresentarem maiores frequentadoras do sistema.

A faixa etária que mais prevaleceu no estudo foi da população idosa (60 anos ou mais) onde devido o processo de envelhecimento ser acompanhado grande parte das vezes também pelo declínio progressivo das capacidades tanto físicas como cognitivas, essa parcela da população apresenta maior dificuldade em fazer uso dos medicamentos de maneira correta ou de saber mais afundo o que aquele remédio poderia causar como efeito adverso ou precauções que deveriam/ poderiam ser tomadas para uso do mesmo, como mostrado na pesquisa ser um dos principais desconhecimentos dos usuários.

Ademais, a parcela da população considerada jovem (18-39 anos) foram os que menos apontaram dificuldades em responder ao questionário, o que pode ser justificado pela maior facilidade de compreensão destes pela maior taxa de escolaridade dessa faixa etária, além de maior facilidade em pesquisar informações sobre informações de seu tratamento em meios eletrônicos e grande parte das vezes fazerem uso de apenas um medicamento.

Em todas faixas etárias, o maior índice de erro acerca do medicamento foi em Dose, Precauções e Efeitos adversos. Questões pouco alertadas em consultas e de extrema relevância. Em contrapartida, os maiores índices de acertos ficam na questão do nome do medicamento, horário e indicação deste.

Assim, pode-se concluir que a APS, em que foram coletados os dados apresentou uma expressiva maioria de pessoas com índices de conhecimentos minimamente satisfatórios a respeito do tratamento de suas doenças, sendo necessário ênfase em 3 questões principais para melhoria de seu tratamento. Assim, deveria ser melhor abordado e alertado a respeito da importância em saber a dose, precauções e feitos adversos que os medicamentos em uso podem causar e que deve ser chamada a atenção em casos de aparecimento destes. Esse fato é de extrema relevância, pois demostra que esse universo é complexo, no qual o processo de cuidado é influenciado por uma miríade de fatores tanto macros como micros e que se configuram como objetos de questionamento e intervenção no âmbito da atenção primária, uma vez que afetam a qualidade de vida da população idosa.

Por fim, é de extrema importância salientar que, no conjunto, os resultados corroboram com a complexidade do processo social que envolve a utilização de medicamentos, que pode tornar-se mais pronunciada ao longo dos anos, dada a transição demográfica e epidemiológica em curso no país. Assim, os achados identificam questões relevantes sobre o uso de medicamentos no município de Franca/SP, em diferentes faixas etárias. Na perspectiva da saúde pública, constituem um direcionamento para a elaboração de ações e programas em prol da melhoria da qualidade do uso de medicamentos no âmbito da atenção primária.

Os inquéritos de saúde locais tornam-se necessários para dar conta do conhecimento sobre a utilização de medicamentos pelos diferentes segmentos sociais da população, sobre o tipo de medicamento consumido, o perfil demográfico de quem os consome, entre outras informações. Essas informações permitem aos gestores a melhor compreensão do uso de medicamentos pela população, possibilitando intervenções mais direcionadas nas práticas de saúde, visando à garantia do acesso e o correto uso dos medicamentos.

8)  REFERÊNCIAS

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (Brasil). Efetivando o Controle Social. Efetivando o Controle Social, MS, ano 2018, ed. 10, p. 1-44, 2018.

DA SILVA, Marcelo et al. Avaliação do nível de conhecimento das prescrições na Atenção Primária à Saúde. Avaliação do nível de conhecimento das prescrições na Atenção Primária à Saúde, Research, Society and Development, v. 10, n. 1-15, ed. 5, p. 1-15, 26 abr. 2021.

COSTA, Karen Sarmento et al. Uso racional de medicamentos. Uso racional de medicamentos, Editora MS, v. 1, n. 1-158, 1. ed. p. 1-158, 2012. MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos Coordenação Geral de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos Esplanada dos Ministérios.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil); SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE (Brasil); DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA (Brasil); ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, (Brasil). Política Nacional de Medicamentos. Política Nacional de Medicamentos, Secretaria de Políticas de Saúde Departamento de Formulação de Políticas de Saúde, v. 2, n. 25, p. 1-40, 1 maio 2001.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil) et al. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: Princípios e Diretrizes. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: Princípios e Diretrizes, MS, v. 1, p. 1-40, Novembro 2008.

DE NOVAES, Anna Rita Vieira et al. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica – Caderno de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica – Caderno de Atenção Básica, MS, v. 35, ed. 1, p. 1-162, 2014.

LIMA, Kacia de Oliveira et al. Fatores dificultadores para o acesso e acompanhamento de rotina do homem nas instituições de saúde: revisão integrativa. Fatores dificultadores para o acesso e acompanhamento de rotina do homem nas instituições de saúde: revisão integrativa, Infarma. Ciências Farmacêuticas, v. 34, ed. 4, p. 291-299, 8 set. 2022.

VERAS, Renato. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações, Rev. Saúde Pública, v. 43, ed. 3, p. 1-7, Junho 2009.

OENNING, Diony; DE OLIVEIRA, Bruna Volpato; BLATT , Carine Raquel. Conhecimento dos pacientes sobre os medicamentos prescritos após consulta médica e dispensação. Conhecimento dos pacientes sobre os medicamentos prescritos após consulta médica e dispensação, Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, ed. 7, p. 1-7, 12 nov. 2009.

GOMES, Romeu; NASCIMENTO, Elaine Ferreira do; ARAÚJO, Fábio Carvalho de. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 565-574, mar. 2007.

ASSOCIAÇÃO MÉDICA MUNDIAL. Declaração de Helsinki. 2000. Acesso em: 6 ago. 2010.BENEDETTI, Tânia Rosane Bertoldo; GONÇALVES, Lúcia Hisako Takase; MOTA, Jorge Augusto Pinto da Silva. Uma proposta de política pública de atividade física para idosos. Texto e Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 6, n. 3, p. 387-398, jul. / set. 2007.

BORIM, Flávia Silva Arbex; BARROS, Marilisa Berti de Azevedo; NERI, Anita Liberalesso. Autoavaliação da saúde em idosos: pesquisa de base populacional no Município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 28, n. 4, p. 769-780, abr. 2012