CONHECIMENTO DA EQUIPE MULTIPROSSIONAL SOBRE A DOR NEONATAL: ESTUDO DE LEVANTAMENTO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6611540


Autores:
Dandara Kysa Silva da Hora
Adrielle Santos da Purificação
Paloma Cerqueira Vieira Motta
Erika Moitinho Carvalho Cordeiro
Luciane Marieta Soares
Maiara Lanna Souza Bacelar Bouzas
Tatiane Falcão dos Santos Albergaria


RESUMO

Introdução: A dor é um fenômeno subjetivo, complexo, multidimensional, mediada por componentes sensoriais, afetivos, cognitivos, comportamentais e ambientais. A dor no neonato é avaliada através de parâmetros fisiológicos e comportamentais, de forma multidimensional, utilizando escalas validadas e de confiança. Sendo necessário ter uma equipe multidisciplinar treinada para reconhecer e avaliar a dor no mesmo, Objetivo: Os objetivos específicos foram caracterizar a equipe multidisciplinar da Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCINCO); averiguar se os profissionais utilizam escalas específicas para avaliação da dor neonatal; verificar se os profissionais têm realizado registro em prontuário da avaliação de dor dos pacientes internados. Metodologia: Trata-se de um estudo de levantamento, observacional, transversal, descritivo, com abordagem quantitativa, realizado na UCINCO de uma maternidade pública através de questionário aplicado à equipe multidisciplinar da unidade, com aprovação do projeto no Comitê de Ética em pesquisa. Resultados: Foram entrevistados 57 profissionais da UCINCO e verificou-se que a equipe possui conhecimento sobre a presença e a importância do diagnóstico da dor em neonatos, porém não fazem atualizações sistemáticas e periódicas sobre o tema e a unidade de trabalho não dispõe de um protocolo assistencial para guiar e sistematizar a avaliação e o cuidado com o neonato em relação a dor. Conclusão: Identificou-se a importância da percepção e aplicabilidade de medidas analgésicas, sejam elas farmacológicas ou não, para prevenir e diminuir os danos promovidos pela exposição prolongada à dor durante o internamento, interferindo no desenvolvimento neuropsicomotor do neonato.

Palavras-chave: recém- nascido; unidade de terapia intensiva neonatal; dor.

ABSTRACT

Introduction: Pain is a subjective, complex, multidimensional phenomenon, mediated by sensory, affective, cognitive, behavioral and environmental components. Pain in neonates is assessed through physiological and behavioral parameters, in a multidimensional way, using validated and reliable scales. It is necessary to have a multidisciplinary team trained to recognize and assess pain, Objective: The specific objectives were to characterize the multidisciplinary team of the Intermediate Neonatal Conventional Care Unit; to find out if professionals use specific scales to assess neonatal pain; to check if the professionals have registered the pain assessment in the Neonatal Intermediate Care Unit. Methodology: This is a survey, observational, cross-sectional, descriptive, with a quantitative approach, carried out in the Intermediate Neonatal Conventional Care Unit of a public maternity hospital, with project approval by the Research Ethics Committee. Results: 57 UCINCO professionals were interviewed and we obtained as answers to the questionnaires that the team is aware of the presence and importance of the diagnosis of pain in neonates, but they do not make systematic and periodic updates on the topic and the work unit does not have a care protocol to guide and systematize the assessment and care of the neonate in relation to pain. Conclusion: This study aims to cooperate with the scientific community, by identifying the importance of the perception and applicability of analgesic measures, whether pharmacological or not, to prevent and reduce the damage caused by prolonged exposure during hospitalization, interfering with the neuropsychomotor development of the neonate.

Keywords: newborn; neonatal intensive care unit; pain.

1. INTRODUÇÃO

A dor é um fenômeno subjetivo, complexo, multidimensional, mediada por componentes sensoriais, afetivos, cognitivos, comportamentais e ambientais (ARAUJO, 2015).  No período de internamento onde o recém-nascido (RN) encontra-se muitas vezes instável hemodinamicamente, precisando de frequentes procedimentos para sua estabilização, ele passa por várias experiências e procedimentos dolorosos que impactam no desenvolvimento do sistema nervoso promovendo consequências em longo prazo (SPOSITO et al, 2017).

Cada RN internado em Unidade de terapia intensiva (UTI) recebe de 50 a 150 procedimentos potencialmente dolorosos ao dia e o RN com peso menor que 1.000g sofre cerca de 500 ou mais intervenções dolorosas ao longo de sua internação (PRESTES et al, 2005).

Apesar dos RN serem constantemente submetidos a procedimentos dolorosos, verifica-se que a analgesia não é um tratamento de escolha e quando selecionado, pode ser insuficiente e ineficaz. Isso ocorre, devido a algumas circunstâncias, como o despreparo dos profissionais de saúde que não estão capacitados para avaliar, mensurar e perceber os sinais de dor que o RN demonstra, além da unidade de saúde que pode não dispor de um protocolo para avaliação e oferta de medidas analgésicas farmacológicas e não farmacológicas, o que proporcionaria  um atendimento de qualidade ao RN (SPOSITO et al, 2017; CHRISTOFFEL et al, 2009).

A dor no RN é avaliada através de parâmetros fisiológicos e comportamentais, de forma multidimensional, utilizando escalas validadas e de confiança. Sendo necessário ter uma equipe multidisciplinar treinada para reconhecer e avaliar a dor no RN, além do conhecimento sobre anatomia, fisiologia, fisiopatologia, aspectos biológicos, comportamentais e cognitivos da dor, por meio de ferramentas multidimensionais (ARAUJO, 2015).

 Protocolos institucionais são essenciais na prática assistencial, uma vez que estes visam avaliar a dor de forma rotineira, diminuir o número de procedimentos e assim utilizar medidas não farmacológicas e farmacológicas para controle (AQUINO & CHRISTOFFEL, 2012). Para avaliação objetiva da dor é necessário o uso de um instrumento de avaliação confiável, adequado e de forma sistematizada e regular que caracterize a dor como um quinto sinal vital. Para isso são utilizadas ferramentas apropriadas, como escalas validadas e confiáveis, que analisem parâmetros fisiológicos e comportamentais de modo individualizado para acompanhar a evolução do quadro do RN, assim como as respostas aos tratamentos (CRUZ & STUM, 2015). 

Devido ao processo de internamento na UTI, o RN passa por diversos procedimentos invasivos e estímulos potencialmente dolorosos de forma repetida ocasionando dor frequente, em consequência às mudanças nos parâmetros fisiológicos (como alteração no sistema cardíaco, respiratório, digestivo e hormonal verificados por meio da modificação dos sinais vitais) e comportamentais (como choro, movimentação da face, atividade motora e o estado do sono e vigília) mensurados através de escalas disponíveis na literatura como NIPS, BIIP (AQUINO & CHRISTOFFEL, 2012).

Logo, torna-se necessário um protocolo assistencial criterioso, com métodos de avaliação continuo e apropriado para acompanhar a evolução do quadro do RN, registrando as respostas dos tratamentos executados com o objetivo de instituir a melhor conduta terapêutica para alívio da dor, seja ela através de medidas não farmacológicas como amamentação, sucção não nutritiva, diminuição do estímulo tátil, ou medidas farmacológicas com a finalidade de reduzir os efeitos deletérios da dor (AQUINO & CHRISTOFFEL, 2012).

O presente estudo teve como motivação estudar o reconhecimento, avaliação e manejo adequado da dor que são importantes para a determinação de ações eficazes e menos deletérias ao desenvolvimento dos neonatos hospitalizados. Os objetivos do estudo foram principal foi averiguar e descrever como a equipe multiprofissional realiza a avaliação e manejo da dor em recém-nascidos internados em uma Unidade de Cuidado intermediário Neonatal Convencional.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de levantamento, observacional, transversal, descritivo, com abordagem quantitativa, realizado na UCINCO de uma maternidade pública localizada na cidade do Salvador-Ba, considerada referência na assistência da mulher e do recém-nascido. O período de coleta durou dois meses, com aprovação do projeto no Comitê de Ética em pesquisa, através da CAAE: 57846816.9.0000.5662.

De acordo com a portaria 930/2012 art. 15 as UCINCO, também conhecidas como Unidades semi-intensiva, são serviços em unidades hospitalares destinados ao atendimento de recém-nascidos considerados de médio risco e que demandem assistência contínua, porém de menor complexidade do que em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).

A coleta de dados ocorreu através da utilização de um questionário próprio construído pelas próprias pesquisadoras que contém informações sobre os dados pessoais e profissionais dos participantes, além de perguntas relacionadas a avaliação e manejo da dor neonatal. O quadro de funcionários que prestam assistência ao RN internado na UCINCO é formado por 74 profissionais, destes fazem parte do quadro efetivo 14 enfermeiros, 11 médicos, 01 fonoaudiólogo, 10 fisioterapeutas, 22 técnicos de enfermagem, 8 técnicos de radiologia e 8 técnicos de laboratório. Como 3 profissionais estavam afastados (2 enfermeiros e um técnico de enfermagem), o número total da amostra foi de 71 profissionais. Aos profissionais da unidade que aceitaram participar da pesquisa foi apresentado o objetivo da mesma e solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

O estudo piloto foi realizado com um profissional de cada categoria com o objetivo de testar o instrumento de coleta e se necessário realizar adequação do mesmo.

Foi disponibilizado na unidade, durante todo o período da coleta de dados, uma caixa fechada com abertura anterior, onde o participante depositou seu questionário respondido. Essa caixa somente foi aberta após o período de coleta de dados, com o objetivo de garantir o anonimato dos participantes, incentivando maior veracidade nas respostas e desta forma, evitando viesses de aferição.

As análises estatísticas foram examinadas por meio do programa SPSS versão 22. As características dos dados foram descritas através de frequências para variáveis categóricas e através de médias e desvio padrão para variáveis contínuas paramétricas.

3. RESULTADOS

Foi realizado um questionário com os profissionais de saúde que atuam na UCINCO de uma maternidade, no qual participaram 57 respondedores onde as caraterísticas dos profissionais estão descritas na tabela 1.

TABELA 1: PERFIL DOS PROFISSIONAIS QUE ATUAM EM UMA UCINCO NA CIDADE DE SALVADOR, BAHIA

CARACTERÍSTICAS
IdadeNúmero (%)
Até 30 anos
Entre 30 e 40 anos
Entre 40 e 50 anos
Mais de 50 anos
2(40,3)
23(31,5)
14(24,5)
18(3,5)
Tempo de atuação na NeonatologiaTempo em anos
Menos de 5 anos
Entre 5 e 10 anos
Entre 10 e 20 anos
Entre 20 e 30 anos
Mais de 30 anos
17(29,8)
14(24,5)
9(15,8)
12(21)
5(8,8)
ProfissãoNúmero (%)
Enfermagem
Fisioterapia
Medico
Radiologia
Técnico de Enfermagem
Técnico de Laboratório
Nutricionista
9(16)
7(12)
9(16)
2(4)
20(35)
9(16)
1(2)
Frequência semanal de leitura para atualizaçãoNúmero (%)
1 vez
2 vezes
Mais de 3 vezes
Esporádica
Não realiza
9(16)
8(14)
6(11)
31(54)
3(5)
Instrumento para atualizaçãoNúmero (%)
Cursos
EAD
Livros
Artigos
Blogs
Vídeo Aula
Colegas
Treinamentos
16(12)
5(4)
29(21)
30(22)
9(7)
9(7)
37(27)
1(1)
Carga Horária interfere no trabalho?Número (%)
Sim
Não
22(39)
35(61)

TABELA 2: PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS SOBRE OS FATORES QUE PODEM CAUSAR DOR NOS RECÉM-NASCIDOS E AVALIAÇÃO

CARACTERÍSTICAS
Fatores que podem causar dorNúmero (%)
Exames de imagem
Procedimentos invasivos
Patologias
Traumas parto
Manipulações inadequadas
Posicionamento inadequado
Ruído
Temperatura
Uso de CPAP
Banho
Imobilidade prolongada
Jejum
Ventilação mecânica
Exame do Olhinho
Fixações
Luminosidade
1(1)
43(23)
2(1)
1(1)
15(8)
10(5)
8(4)
1(1)
2(1)
2(1)
1(1)
1(1)
2(1)
1(1)
2(1)
1(1)
Importância da avaliação?Número (%)
Sim
Não
57(100)
0(0)
Frequência de avaliaçãoNúmero (%)
Aleatoriamente
Uma em uma
Duas em duas
Três em três
Quatro em quatro
Cinco em cinco
Seis em seis
Outros
39(68)
2(4)
2(4)
3(5)
2(4)
0(0)
6(11)
3(5)
Há diferenças na avaliação no neonato em ventilação mecânica e ventilação espontânea?Número (%)
Sim
Não
Não sei
32(56)
14(25)
11(19)
Quais as diferenças na avaliação do RN em ventilação mecânica e espontânea?Número (%)
Sedação
Choro
Não sabe
Dispositivo
17(50)
9(26)
6(18)
2(6)
Forma de avaliar a dorNúmero (%)
Clínica
Escalas específicas
Laboratoriais
Imagem
Outros
Não respondeu
Movimentação corporal
Irritabilidade
Pressão arterial
Gemido
Não Respondeu
Apnéia
SpO2
Cor da pele
Regurgitação
Sudorese
WOB
48(67)
6(8)
9(13)
6(8)
0(0)
3(4)
11(8)
16(12)
8(6)
3(2)
2(1)
1(1)
3(2)
1(1)
1(1)
1(1)
2(1)
Realiza a reavaliação?Número (%)
Sim
Não Sei
Não
40(70,1)
12(21,0)
5(8,7)
Escala Utilizada para Avaliação da DorNúmero (%)
Exame NIPS
Não respondeu
3(50)
3(50)
Como a instituição direciona a avaliação?*Número (%)
Percepção individual do profissional
Não direciona
Educação continuada
Não respondeu
Protocolos multiprofissionais
*Podia marcar mais de uma opção
28(47,4)
11(18,6)
10(16,9)
6(10,1)
4(6,7)
Recursos para controle da dor*Número (%)
Medicamento
Glicose
Sucção não nutritiva
Posicionamento em contenção
Mudança de decúbito
Colo/toque
Não sabe
Mudança fator da dor
Contato pele a pele
Manuseio adequado
Seio materno
Chupeta
*Podia marcar mais de uma opção
18(17,1)
17(16,1)
12(11,4)
11(10,4)
10(9,5)
10(9,5)
10(9,5)
6(5,7)
4(3,8)
3(2,8)
2(1,9)
2(1,9)
Após usar recurso para controle da dor aplica a reavaliação?Número (%)
Sim
Não
Não respondeu
40(70,1)
5(8,7)
12(21)

A tabela 2 apresenta a análise das perguntas no questionário referente a percepção dos profissionais sobre os fatores que podem causar dor nos recém-nascidos. Quando questionados se os RN sentem dor, a maioria dos respondedores afirmou que os recém-nascidos sente dor, e dois participantes, que correspondem a 4% da amostra afirmaram que o RN não sente dor.

4. DISCUSSÃO

Até meados dos anos 70, os profissionais acreditavam que o fato do RN não verbalizar sua dor, o mesmo também seria incapaz de senti-la, pois as terminações nervosas não estariam completamente mielinizadas ou ainda por não haver função cortical capaz de interpretar ou registrar as experiências dolorosas. Porém, pesquisas recentes demonstram que “a mielinização incompleta é compensada” pelo distanciamento inter neuronal menor, que aumenta a velocidade média de condução nervosa, e que o RN apresenta todos os componentes anatômicos, funcionais e neuroquímicos necessários para a percepção da dor (CAETANO et al, 2013).

O sistema nervoso humano é dividido em central, periférico e autônomo, e deriva-se da placa neural que originam-se da diferenciação ao longo desenvolvimento embrionário das pregas neurais, tubo neural e crista neural. Por isso, a exposição a dor no período neonatal pode desencadear efeitos fisiológicos, comportamentais e alterações no desenvolvimento do sistema nervoso, com prejuízos futuros em aspectos fundamentais como atenção, aprendizado e memória (FERRARESI & ARRAIS, 2018).

Até os anos 1980 a dor no RN não era diagnosticada e percebida de forma apropriada e por isso deixava de ser registrada. A incapacidade dos RN em demonstrar que sentem dor é um grande desafio para a equipe multidisciplinar que os acompanham durante o internamento. Nos dias atuais a análise sobre a dor em RN evoluiu devido aos avanços na área da ciência,  além do desenvolvimento tecnológico atual, por outro lado, há um emprego crescente de procedimentos invasivos potencialmente dolorosos para manutenção da vida dos RN gravemente enfermos e por isso a dor ainda se faz presente (MARQUES et al, 2019). 

As pesquisas realizadas com a equipe multidisciplinar que trabalham em unidades de atendimento à RN, mostram que no quesito avaliação da dor existem lacunas no conhecimento e na prática assistencial. Entre os motivos para não avaliação, segundo os profissionais, estão à falta de conhecimento, atitude, sobrecarga de trabalho, experiência profissional e pessoal (CAPELLINI et al, 2014).

A avaliação da dor no período neonatal, principalmente entre RN, está centrada nas respostas do mesmo frente ao estímulo nociceptivo. A linguagem de dor entre RN é realizada por meio de três eixos básicos: mudanças fisiológicas, hormonais e comportamentais exibidas em resposta aos eventos dolorosos (BALDA & GUINSBURG, 2019).

São utilizados alguns procedimentos para alívio da dor, porém não há padronização ou sistematização destas estratégias. Também foi verificada a ausência de protocolos e diretrizes baseadas em evidências para avaliação da dor, com utilização de escalas validadas e, do emprego de medidas farmacológicas e não farmacológicas para alívio da dor neonatal de forma sistematizada (MORAES, 2017).

Estudos trazem que é necessário treinamento e capacitação continuada para atualização da equipe de trabalho. Como a dor é considerada um sinal clínico importante e que deve ser avaliado nos neonatos, é necessária a atualização e capacitação de forma constante dos profissionais de saúde para prestar um atendimento de qualidade a este público (MORETTO et al, 2019). Os conhecimentos sobre a dor deverá fazer parte dos conteúdos educacionais para atender a todos os profissionais que atendam o público RN, sendo assim, o manejo da dor, deve ser abordado de forma que esse profissional seja capaz de identificar a dor em qualquer situação (CAPELLINI et al, 2014).

Uma atitude fundamental da equipe multidisciplinar que atua em meio ao RN é o controle da dor, pois na literatura existe a associação entre as experiências de dor neonatal em RN prematuros e o impacto negativo no crescimento pós-natal e no desenvolvimento cerebral (MARQUES et al, 2019). Essas questões levaram o Ministério da Saúde (MS) a recomendar o uso das escalas para avaliação da dor e foi criado um protocolo onde critérios objetivos são utilizados para a identificação e tratamento. A avaliação da dor deve ser repetida regularmente, de forma sistemática, independentemente da escala utilizada, devendo ser considerada como um quinto sinal vital (MARQUES et al, 2019).

4.1 Escalas de avaliação da dor

A dor nos recém-nascidos até os dias atuais é avaliada e tratada de maneira subjetiva, e não de uma forma sistematizada, por isso é importante sensibilizar gestores e equipes para este problema. Seria importante adotar e padronizar o diagnóstico da dor em RN através das escalas disponíveis para a avaliação da dor em UTI neonatal. Atualmente as mais utilizadas são a NIPS e a NFCS. Também existe a N-PASS, porém essa é mais recente escala multidimensional. A escala a N-PASS está sendo bem avaliada porque agrega várias observações importantes que interverem de forma positiva na avaliação da dor no recém-nascido. Todavia, a NIPS é a escala mais usada devido a fácil aplicação (BALDA & GUINSBURG, 2019).

As escalas são instrumentos fundamentais para mensurar e registrar a dor, porém é necessário que os profissionais de saúde se sintam seguros para utilizá-las e, assim, realizarem uma avaliação efetiva. Importante ressaltar que não existe o melhor instrumento e nem o de fácil realização para avaliação da dor em RN. O que precisa, de fato, é o treinamento da equipe multiprofissional para avaliação da dor utilizando ferramentas multidimensionais, existência de normas e rotinas nos serviços de saúde e atividades de educação (AQUINO & CHRTISTOFFEL, 2012; SPOSITO et al, 2017).

A literatura aponta várias escalas para avaliação da dor neonatal, porém as mais utilizadas são: Neonatal Facial Coding Scale (NFCS); Neonatal Infant Pain Scale (NIPS); Escore para avaliação da dor pós-operatória do RN (CRIES) e Premature Infant Pain Profile (PIPP). Importante caracterizar estes instrumentos de avaliação (SPOSITO et al, 2017).

O Sistema de Codificação da Atividade Facial (NFCS) é uma escala que pode ser aplicada em RNPT, RNT e crianças. Leva em conta a presença ou ausência de mímica facial como: Fronte saliente; Fenda palpebral estreitada; Sulco nasolabial aprofundado; Boca aberta; Língua tensa; Protrusão de língua e tremor de queixo. A pontuação máxima é de oito pontos, sendo considerado dor com a presença de três ou mais movimentos faciais. Refere-se ao aspecto comportamental apenas, por isso não é a mais utilizada na prática (BUENO et al, 2007).

Já a NIPS é uma escala validada, de fácil aplicabilidade, confiável e útil para avaliação da dor no RN termo e prematuro. É um instrumento de avaliação de caráter multidimensional, que envolvem cinco indicadores comportamentais e um fisiológico, sendo os seguintes: expressão facial, choro, respiração, movimentação dos braços e pernas e estado de consciência. Trata-se de uma escala que diferencia os estímulos dolorosos dos não dolorosos, com pontuação máxima de sete, que considera dor acima ou igual a quatro (ANDREAZZA et al, 2017).

Outra escala de aspecto multidimensional é a PIPP, a mais indicada para avaliar a dor de RN prematuro, pois considera aspectos peculiares deste grupo específico. É uma escala validada e sensível, que valoriza o prematuro, embora avalie a dor em todas as faixas etárias. Os indicadores são avaliados levando em consideração o tempo de observação, envolvendo o estado de alerta, variação da frequência cardíaca, saturação de oxigênio e três parâmetros de mímica facial. A pontuação deste instrumento varia de 0 a 21 pontos, sendo que menor ou igual a seis pontos, considera-se sem dor ou dor mínima. Já o escore superior a doze, refere-se a dor moderada ou intensa (SILVA et al, 2007).

Para avaliação da dor pós-operatória do RN, foi desenvolvida a escala CRIES. Esta escala pode avaliar a intensidade da dor do RN e consta de cinco variáveis: choro, Fração Inspirada de Oxigênio (Fio2) para saturação de oxigênio acima de 95%, Frequência cardíaca e/ou Pressão Arterial comparado ao pré-operatório, expressão facial e sono. Se a pontuação for maior ou igual a cinco é indicativo de dor (CILIENTO, 2008).

As escalas apresentadas são importantes para avaliação e mensuração da dor do RN, pois possibilita o diagnóstico, bem como determina o tratamento mais efetivo. Para isso, os profissionais de saúde precisam ter sensibilidade e conhecimento sobre dor. Somando a isso, os serviços de saúde devem estabelecer rotinas específicas para avaliação e manejo da dor (CILIENTO, 2008).

4.2 Recursos para Analgesia

Nas unidades de terapia intensiva neonatal, o uso de analgésicos e sedação nem sempre são frequentes, pois a impossibilidade de o neonato verbalizar o que sente muitas vezes faz com que se desconsidere a dor e o desconforto sentido pelos pacientes durante os procedimentos e manuseios necessários ao recém-nascido doente (ANDREAZZA et al, 2017). São esses argumentos que levaram a escolha desse tema de artigo, pois existe grande dúvida até os dias atuais em relação aos protocolos de atendimento ao neonatal.

Os sedativos são agentes farmacológicos que diminuem a atividade, a ansiedade e a agitação do paciente, podendo levar à amnésia de eventos dolorosos ou não dolorosos, mas não reduzem a dor. Esses medicamentos são administrados com a finalidade de reduzir o nível de consciência e acalmar o paciente, diminuir a sua movimentação espontânea e induzir o sono. Na UTI neonatal, antes da administração de sedativos, as possíveis causas de agitação deverão ser analisadas e tratadas adequadamente, o que inclui a presença de dor, hipoxemia, hipertermia, lesões inflamatórias e outras (BALDA & GUINSBURG, 2019).

Intervenções farmacológicas e não farmacológicas proporcionam atenuação da dor, além de serem seguros se acompanhados de perto pelo enfermeiro. As medidas farmacológicas auxiliam a minimizar significativamente a dor e incômodos provenientes de procedimentos invasivos. Os fármacos mais aplicados no tratamento da dor em recém-nascidos são: os analgésicos não-opióides, (para dores tradicionais leves e moderadas, sendo o paracetamol – acetaminofeno o mais aplicado); analgésicos opióides (em patologias moderadas ou intensas como a morfina, codeína e fentanila); além dos anestésicos locais: lidocaína e bupivacaína e finalmente os sedativos do tipo hidrato de cloral e benzodiazepínico midazolam (SILVA, 2018). 

A maneira mais efetiva de reduzir a dor no recém-nascido seria diminuir o número de procedimentos realizados, além de eliminar ao máximo o número de procedimentos desnecessários e evitar a repetição de procedimentos após tentativas sem sucesso. Para o manejo da dor no recém-nascido, deverão ser utilizadas intervenções não farmacológicas ou farmacológicas, de acordo com a necessidade. “Vale ressaltar que uma vez realizada a intervenção, a dor seja reavaliada de 30 minutos a 1 hora após, certificando-se da efetividade do tratamento. Existe uma variedade de formas de manejo não farmacológico da dor no recém-nascido (MOTTA & CUNHA, 2015).

A sucção não nutritiva é um reflexo natural do recém-nascido, sendo uma das medidas comportamentais mais utilizadas na UTIN não somente para analgesia, mas também para promover conforto e calma. A amamentação possui efeitos positivos da sucção ao seio materno em relação à redução das respostas à dor em RN saudáveis submetidos a procedimentos dolorosos, em especial punção de calcâneo e venosa (MOTTA & CUNHA, 2015).

5. CONCLUSÃO

Neste estudo, quando a equipe foi questionada sobre a percepção da dor, as características motoras, expressão facial seguida pelo choro e agitação motora foram lembradas por maior número de profissionais. As alterações fisiológicas descritas foram as alterações de frequência cardíaca, de saturação periférica de oxigênio, de frequência respiratória e de pressão arterial. A escala de avaliação mais citada foi a NIPS, porém nem todos dos profissionais utilizavam de forma rotineira para avaliação da dor.

As respostas dos questionários aplicados entre a equipe multidisciplinar da maternidade UCINCO, levaram ao entendimento que a dor é frequente e percebida nas unidades de terapia intensiva neonatal. Isso ocorre porque “a frequência de procedimentos dolorosos aos quais cada recém-nascido é submetido varia de 8 a 15-17/dia” (p.01). 

A presença de dor em recém-nascidos internados em UTI e/ou submetidos a procedimentos dolorosos precisa ser percebida, analisada com base na escolha da escala apropriada junto a avaliação clínica criteriosa, para a escolha do melhor tratamento a ser utilizado, por meio de medidas farmacológicas e não farmacológicas.

Os resultados das respostas do questionário mostraram que grande parte dos profissionais de saúde da equipe multidisciplinar que atua em UTIN sabe perceber que o neonato tem dor e sabe que existem maneiras eficazes de tratar essa dor, porém a falta de atualização do conhecimento sobre o tema leva a equipe multidisciplinar a não tratar a dor eficientemente porque não possuem conhecimento em como avaliar eficazmente essa dor.

Através da análise das respostas do questionário utilizado nessa pesquisa, percebeu-se a necessidade de implantação de protocolos de avaliação da dor. É importante sensibilizar gestores e as equipes envolvidas no atendimento a RN mostrando o quanto é imperativo que haja capacitação e atualização sobre o tema. Os profissionais que atuam em UTI neonatais podem fazer reuniões periódicas para compartilhar suas experiências sobre o tratamento da dor e como estão avaliando a presença da dor em RN. Por isso, sugere-se que seja necessário o treinamento de, no mínimo, uma escala unidimensional comportamental e a criação de um protocolo assistencial para avaliação e tratamento da dor no RN.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDREAZZA et al. Percepção da dor em neonatos pela equipe de enfermagem de unidade de terapia intensiva neonatal.   Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 19(4): 133-139, out-dez, 2017.

AQUINO, F. M.; CHRISTOFFEL, M. M. Neonatal pain: non-pharmacological measures used by the nursing team. Northeast Network Nursing Journal, v. 11, n. 0, 30 jul. 2012.

ARAÚJO, G. et al. Dor em recém-nascidos: identificação, avaliação e intervenções. Revista Baiana de Enfermagem, v. 29, n. 3, p. 261–270, set. 2015.

BALDA, R. C. X.; GUINSBURG, R. Avaliação e tratamento da dor no período neonatal. Resid Pediatr., 2019, 9(1): 43-52 DOI: 10.25060/residpediatr-2019.v9n1-13. Acesso em: 02/11/2021.

BUENO, M.; KIMURA, A. F.; PIMENTA, C. A. Pain assessment in neonates who underwent cardiac surgery. Acta Paulista de Enfermagem, v. 20, n. 4, p. 428–433, dez. 2007.

CAETANO, E. A. et al. O recém-nascido com dor: atuação da equipe de enfermagem. Escola Anna Nery [online]. 2013, v. 17, n. 3, pp. 439-445. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-81452013000300006>. Acesso em: 02/11/2021.

CAPELLIINI, V.K.; DARÉ, M.F.; CASTRAL, T.C.; CHRISTOFFEL, M.M.; LEITE, A. M.; SCOCHI, C. G. S. Conhecimento e atitudes de profissionais de saúde sobre avaliação e manejo da dor neonatal. Rev. Eletr. Enf. [online]. 2014 abr/jun, 16(2): 361-9. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5216/ree.v16i2.23611>. Acesso em: 19/11/2021.

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