CONHECIMENTO DA EPISIOTOMIA RELACIONADO À VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ENTRE PACIENTES PUÉRPERAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505142104


Marcela Fernandes Guimarães da Conceição1; Mailma Costa de Almeida2; Ana Beatriz de Almeida Santana3; Inalda das Neves Nogueira Brandão4; Taylana Catete Tavares5; Orientador: MSc. Denilson Veras6


Resumo

Objetivo: Conhecer a percepção de pacientes puérperas sobre a episiotomia relacionado à violência obstétrica em uma Unidade Básica de Saúde. Método: Estudo de caráter exploratório com abordagem qualitativa, realizado em uma Unidade Básica de Saúde com 11 pacientes puérperas no período de junho a setembro de 2019, através de um roteiro de perguntas para traçar o perfil das puérperas e uma entrevista audiogravada. Resultado: Das falas das entrevistadas surgiram os seguintes temas: dor, satisfação e medo como a experiência em relação ao parto; traumas físicos e psicológicos após a episiotomia; recuperação após o parto e opinião sobre violência obstétrica. Conclusão: Os resultados apresentados mostraram que a maioria das puérperas tinham um conhecimento sobre o que era o procedimento, entretanto não sabiam sobre os riscos, indicações, vantagens e desvantagens, e naquelas em que foi realizado tal procedimento, em metade não teve seu consentimento.

Descritores: Medicina e Enfermagem; Episiotomia; Parto natural; Puerpério; Obstetrícia; Violência contra a mulher.

Abstract

Objective: To know the perception of postpartum patients about episiotomy related to obstetric violence in a Basic Health Unit. Method: An exploratory study with a qualitative approach, conducted in a Basic Health Unit with 11 postpartum patients from June to September 2019, through a script of questions to profile the postpartum women and an audio-recorded interview. Result: From the interviewees’ speeches emerged the following themes: pain, satisfaction and fear as the experience in relation to childbirth; physical and psychological trauma after episiotomy; postpartum recovery and opinion on obstetric violence. Conclusion: The results presented showed that most of the mothers had knowledge about what the procedure was, however they did not know about the risks, indications, advantages and disadvantages, and in those in which it was performed, half did not have their consent.

Key words: Nursing; Episiotomy; Natural childbirth; Postpartum; Obstetrics; Violence against women.

Descriptores: Medicine and Enfermeria; Episiotomía; Parto natural; Posparto; Obstetricia; Violencia contra la mujer.

Introdução

Na assistência ao parto natural, um dos procedimentos cirúrgicos mais utilizados é a episiotomia, uma incisão que pode ser feita em três regiões da vulva: lateral, médio-lateral e mediana. A episiotomia é uma intervenção comumente realizada no parto natural e viola o corpo da mulher causando dor, sofrimento e trauma físico quando realizada desnecessariamente, o que caracteriza uma violência obstétrica (1).

Alguns autores defendem essa intervenção como uma forma de facilitar o nascimento, através da ampliação do canal vaginal, o que diminui lesões nessa região, evita lacerações no períneo, promove melhor cicatrização, reduz o tempo do segundo estágio do parto. Em contrapartida, outros autores, defendem que mesmo com a prática da episiotomia pode acontecer lacerações, acarretando dor e desconforto maiores quando comparadas com as lacerações de partos sem a episiotomia, além de consequências como grande perda sanguínea, edema e disfunção sexual (2,3).A prevalência da episiotomia ainda é muito elevada, embora deva ser feita de maneira seletiva, apenas em casos em que possa haver sofrimento fetal e risco para a mãe (4).

Dois fatores que contribuem pela perca da autonomia da mulher durante o ato de parir é a falta de conhecimento das parturientes sobre o procedimento e prevalência da prática do modelo biomédico pelo profissional de saúde em muitos serviços de saúde. Há uma grande incidência de mulheres grávidas que são desprovidas de informações sobre o procedimento da episiotomia antes do parto, e caso haja necessidade de realizá-lo, estas não possuem informações a respeito dos riscos aos quais estão sendo submetidas, outro fator agravante é a realização da conduta sem o consentimento da mulher (5).

Diante desse cenário pode-se compreender a preocupação com a temática estudada, o problema vem aumentando ainda mais pela falta de orientação da parturiente sobre o procedimento realizado. Acredita-se que um trabalho direcionado a informação sobre o procedimento, através de educação em saúde, possa trazer grandes benefícios para cliente. Durante a experiência da pesquisadora na ocasião do parto normal, sentiu-se a necessidade de conhecer e tentar melhorar essas lacunas a qual foram vivenciadas, deixando uma inquietação como futura profissional de saúde sobre como poderia se inserir em um trabalho para melhorar as orientações das parturientes, surgindo o interesse pela pesquisa através do seguinte questionamento: Como está a visão de clientes puérperas sobre a episiotomia relacionado à violência obstétrica?

Acredita-se na relevância desse estudo, em avaliar o conhecimento de pacientes puérperas sobre a episiotomia, a fim de contribuir e ofertar informação no período gestacional, com a finalidade de incentivar a autonomia decisória da mulher em relação à episiotomia no momento do parto e nascimento do bebê, evitando a prática de tomada de decisão exclusivamente pelo profissional de saúde, o que torna a mulher vulnerável a suas decisões. O estudo irá contribuir para o meio científico produzindo um novo conhecimento para os profissionais da área de saúde, acadêmicos e para a sociedade.

Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo conhecer a percepção de pacientes puérperas sobre a episiotomia relacionado à violência obstétrica em uma Unidade Básica de Saúde.

Metodologia

Estudo exploratório com abordagem qualitativa, realizado uma Unidade Básica de Saúde da região Norte, localizada na cidade de Manaus, AM, Brasil. A coleta de dados foi realizada no período de junho a setembro de 2019, através de entrevista semiestruturada que foi realizada após o aceite para participar e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Foi realizada em três momentos: primeiro foi a apresentação do tema do estudo, os objetivos; no segundo momento foi entregue as duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e assinatura da participante; no terceiro momento foi feito a entrevista com a participante e gravação das respostas obtidas em uma sala reservada disponibilizada pela Unidade, a qual pudesse deixar a participante em um ambiente confortável, no período determinado pela puérpera de acordo com a sua disponibilidade para participar da entrevista com duração máxima de 20 minutos.

A amostra intencional, a mais adequada para auxiliar o pesquisador a compreender o problema da pesquisa, foi composta por puérperas atendidas na Unidade Básica de Saúde (UBS) a qual passaram pelas experiências anteriores de parto. Não fizeram parte deste estudo mulheres autodeclaradas indígenas, mulheres estrangeiras ou não falantes (por questões de dificuldade na comunicação com as mesmas e falta de intérprete no serviço de saúde). A cada uma foi conferido um código numérico por ordem de participação na entrevista, garantindo o anonimato e o sigilo da fonte das informações.

A análise realizada foi a de conteúdo operacionalizada em três fases: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados; inferência e interpretação (6). O estudo só foi desenvolvido após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas, parecer número 11412319.4.0000.5016

Resultados

As onze puérperas que participaram do estudo tinham idade entre 18 e 34 anos; a maioria possuía ensino médio completo, três o ensino fundamental incompleto e uma o ensino médio incompleto; no que se referem ao estado civil sete eram casadas e quatro solteiras. Três  puérperas haviam iniciado o pré-natal com um mês de gestação, três com dois meses de gestação, outras três com três meses de gestação, uma com quatro meses e uma com cinco meses.

Em relação a variável gestação, sete eram multíparas e as demais primíparas. No que se refere ao número de filhos, quatro puérperas eram o primeiro filho, outras quatro eram o segundo filho, duas o terceiro filho e uma o quinto filho. Quanto ao tipo de parto, dez puérperas haviam tido somente partos normais e uma já havia tido tanto o parto cesáreo quanto o normal.  A maioria já tinha um conhecimento sobre a episiotomia, porém todas não tinham sido informadas em relação aos riscos e as vantagens do procedimento e a maioria foram submetidas ao procedimento.

Percepção das puérperas em relação ao parto

Uma vez que foi feito o delineamento do perfil das puérperas, dos dados da gestação e dados dos partos, buscou-se analisar a experiência das puérperas em relação aos partos anteriores, a ocorrência de traumas físicos ou psicológicos após a episiotomia, a sua recuperação após o parto e o seu entendimento sobre violência obstétrica. Através dos dados coletados por meio das falas das puérperas que foram identificadas pela letra P (P1, P2, P3,…P11), surgiram então os seguintes temas:

Dor e satisfação

Sobre a experiência das puérperas em relação aos partos anteriores, o parto vaginal foi discutido como um evento doloroso, mas também visto como uma experiência satisfatória após o nascimento do bebê, através das seguintes falas:

(…) Ela chegando ao mundo é bom, mas a dor não é não, dói demais, sofri muito (P7).

(…) É muito bom ter filho, na hora em que minha neném nasceu foi um sensação maravilhosa, mas não na parte lá que dói, é horrível aquela dor (P8).

Medo

O medo foi algo bem expressado pelas entrevistadas, percebe-se que o parto se configura como uma experiência desconhecida e imprevisível, acarretando sentimentos de medo e nervosismo, conforme as seguintes falas:

Logo no começo eu fiquei um pouco assustada e com medo, porque a gente não tem muita noção né, mas eu tava com a minha mãe e ocorreu tudo bem (…) (P2).

O meu parto normal eu tive muito medo, por causa da dor e algumas pessoas ao invés de acalmar a gente, fazem a gente se apavorar mais ainda, ai foi muito difícil pra mim, porque eu estava muito nervosa em relação a ter minha filha de parto normal (…) (P3).

Traumas após a episiotomia

O trauma após a episiotomia foi destacado pelas entrevistadas que entendem que após esse procedimento tiveram tanto traumas físicos como psicológicos:

Logo no começo, nos primeiros dias, eu sofri muito, por causa do corte, eu não conseguia sentar, os pontos ardiam, tinha uma sensação de inchaço, fiquei com medo de tocar e machucar, foi muito ruim pra mim, fiquei também com medo na hora de olhar no espelho a minha região intima e tá um corte maior do que eu imaginava e ficar uma cicatriz feia. (P3).

Inflamou muito, e também de vez em quando eu sinto muita dor no lugar, isso meio que me traumatizou, por isso não quero mais ter filho de parto normal pra não ter que receber o corte (P8).

Recuperação após o parto

As falas das entrevistadas relatam a preocupação em que elas tinham na recuperação após o parto, pois referiram o fato da dor perdurar depois do parto devido à sutura feita após a episiotomia:

Eu acho que é porque eu não sou mãe de primeira viagem, então eu já não deixo mais me abalar tanto, mas ainda tenho essas dores nas partes íntimas que incomodam (…) (P1).

(…) Quando esse pontinho estourou que eu tive dor, mas ai eu voltei com o ginecologista, ele disse que tava tudo bem, passou um remedinho e passou um pouco mais a dor (P3).

Eu ainda sinto dor por causa dos pontos (…) (P8).

Todavia o discurso das puérperas a seguir mostra uma recuperação em um tempo satisfatório:

Minha recuperação está sendo tranquila e rápida, já consigo fazer algumas coisas em casa e cuidar do meu neném (…) (P2).

Está sendo rápida, consigo andar normal, tomar banho sozinho, (…) o sangramento agora está bem menos (…) (P5).

Bom, porque minha mãe é daquelas que tipo não pode fazer nada, levantar nada, então está sendo tranquilo, não to fazendo nem um esforço físico, nem nada, estão sendo resguardo mesmo (…) (P9).

Tá sendo boa né, tranquila e rápida, o meu sangramento já tá quase parando (…) (P11).

Opinião sobre violência obstétrica

A opinião das puérperas sobre a violência obstétrica, segue no eixo em relação ao entendimento da temática  correlacionando com a sua experiência desagradável no momento do parto:

Bem, logo no começo quando a doutora me tratou super mal, a gente percebe que não é um procedimento adequado né, ela deveria ter conversado e explicado e não ter mandado logo a gente embora porque lá não tinha leito, e disse que meu caso não era de risco e eu poderia esperar em casa (…) (P2).

Ah, é quando a mulher já vai precisando de ajuda e o médico vai e fica com violência, ai não trata direito. No meu caso, por exemplo, eu cheguei na maternidade com muita dor e sangramento, ai a médica foi super ignorante comigo, mandou eu ir embora pra casa e não me explicou nada, disse que o meu filho era só pro outro mês, mas eu já tinha dilatação e tava com muita dor (…) (P6).

Nas falas a seguir foi descrito sobre situações presenciadas pelas puérperas em que profissionais realizaram violência verbal com parturientes:

Eu acredito que seja os maus tratos ali na hora do parto, porque eu já ouvi casos (…), eu no caso sou mais tranquila, e quem tá comigo eu tento falar né, olha a dor é assim, é bastante intensa, então não adianta você fazer escândalo, ficar gritando, ficar xingando as pessoas que não vai resolver, (…) mas ai tinha algumas pessoas e até profissionais que falavam: “ah, agora lá na hora do bem e bom tu achava bom né, e aqui é com essa frescura toda”, e percebo que não é assim. Agora comigo, eu não ouvi nenhuma dessas coisas, foi normal (P4).

Bom, o meu entender, é quando vamos supor eu né, fui lá à maternidade e tive meu filho, ai se caso esse ano eu engravidasse e tipo o médico falasse: “até o outro ano”, ou então me tratasse mal, essas coisas assim, eu entendo como isso, e também assim a enfermeira falar e maltratar a gestante, porque tem muitas mulheres que sentem bastante dor né, “cala a boca, quando tava fazendo tu não fazia esse escândalo, essas coisas assim (P9).

Quando o doutor agride né. Ah eu não sei te falar, porque isso ai nunca aconteceu comigo. Pra falar a verdade eu presenciei quando fui ter meu primeiro filho né, tinha uma moça lá que tava gritando, e as enfermeiras falaram né: “na hora de fazer é bom, tu não grita assim”, ai minha sogra tava comigo e falava: “não grita”, ai eu vi o que tavam fazendo com a menina lá, e eu não queria que fizessem comigo né. (P10).

Entretanto, percebe-se em algumas falas que as puérperas desconhecem o que é a violência obstétrica:

Ai, não entendo nada, não sei o que é não (P5).

Ai, não sei, eu já ouvi falar, mas não sei te explicar (P8).

Não sei não (P11).

Discussão

Nos últimos anos ocorreram significativas mudanças socioculturais influenciando os aspectos inerentes de natalidade. Assim essa mudança no comportamento das mulheres, no que se refere a faixa etária em que engravidam, pode estar diretamente relacionada ao seu nível de escolaridade e as maiores oportunidades no mercado de trabalho (7).

O grau de escolaridade pode influenciar consideravelmente o conhecimento e a interpretação do processo de trabalho de parto.  Desta maneira, a escolaridade pode facilitar ou impedir uma interpretação adequada a respeito de determinadas intervenções, no caso de parturientes com pouco conhecimento, o grau de informação e orientação pode contribuir para que não seja possível distinguir uma intervenção natural de uma intervenção abusiva, e consequentemente influenciar na qualidade de vida das parturientes (7).

A sensação de dor é um evento que faz parte do processo fisiológico da parturição, sendo caracterizada como intensa e inexplicável, na qual cada parturiente sente e vivencia o processo de parturição de maneira diferente através de fatores de sociais e culturais. Embora represente sofrimento, o parto natural é visto como um componente primordial da maternidade associado a sensação das mães de serem capazes de gerar um filho, sendo o nascimento do filho uma recompensa por toda aquela dor (8).

O medo torna-se outro fator que interfere na experiência das mulheres em trabalho de parto, que pode ser desencadeado na mulher de três formas: a gestação anterior, as informações de familiares ou amigos perante os possíveis sentimentos que a mulher pode apresentar no momento do parto e a influência das crenças e religiosidade.  Nesse sentido, destaca-se o papel do profissional de saúde em prestar um serviço que atenda as necessidades do indivíduo, a fim de estabelecer uma relação de confiança com a parturiente, ao esclarecer suas dúvidas e amenizar seus anseios, para que o atendimento ofertado não seja mais um fator de estresse para a pessoa que está recebendo (9).

Alguns autores expõem sobre uma sociedade na qual é presente duas vertentes diferentes em relação ao parto: uma de mulheres que sofrem mais durante o parto por terem sido criadas por mães que  tem medo do parto, quando comparadas com mulheres em que a mãe, irmãs ou amigas relataram o momento do parto como uma experiência satisfatória, pois é isso que a parturiente espera que aconteça consigo, o que possivelmente acarreta em um evento positivo (9).

A manifestação dolorosa na região perineal pode ser vista na literatura como uma consequência comum no momento do parto, de caráter agudo e que constitui uma causa frequente de morbidade no período puerperal. A dor pode acarretar uma gama de sintomas, como: restrição das atividades diárias, incluindo limitações relacionadas a mobilidade física, padrão de sono prejudicado, alterações no apetite e libido. No entanto, é natural que puérperas com ausência de dor, retornem as suas atividades cotidianas precocemente (10).

No puerpério, a presença de dor intensa pode afetar negativamente a saúde da mulher, pois muitas vezes o desconforto após o parto não é relatado pelas mesmas, visto que a atenção está voltada quase que exclusivamente aos cuidados com o recém-nascido (10).

No contexto do parto normal, a prática da episiotomia deve ser levada consideração, pois é um dos procedimentos que mais resultam em desconfortos após o parto. O uso corriqueiro desse procedimento deve ser reavaliado, em virtude dos diversos danos causados ao assoalho pélvico feminino. A dor no local da episiotomia pode afetar tanto no autocuidado da puérpera como na prestação de cuidados ao recém-nascido, além disso, pode retardar o processo de recuperação da mulher, afetando sua autoestima (10).

A prática da episiotomia pode resultar em diversas repercussões relacionadas a sexualidade da mulher e interferir no retorno as suas atividades sexuais podendo variar de mulher para mulher, sendo atribuído aos seguintes fatores: diminuição da libido, medo, cicatrização retardada da incisão e preocupação em relação a deformidade da genitália (11).

Estudos mostram ainda que a dor perineal pode durar por mais de seis meses em algumas mulheres, além de alterações na sensibilidade, na cicatrização, alteração na coloração da pele e dispareunia, esses traumas influenciam no retorno sexual da mulher, acarretando em insegurança e vergonha do parceiro (11).

A violência obstétrica contra a mulher no decorrer da parturição, através de ações realizadas por profissionais que violem o corpo e os processos de reprodução feminina torna-se um fator preocupante para o bem estar psicoemocional dessa mulher. Essa forma de violência pode se dá por meio do uso demasiado de intervenções no momento do parto, onde o processo natural é medicalizado e visto como patológico (7).

Nas instituições de saúde, inúmeros são os abusos cometidos contra a mulher no parto, como: abusos verbais e desrespeito, violência física, realização de procedimentos sem a permissão da mulher, ausência de privacidade, negação de internações nas instituições de saúde, descaso na administração de analgésicos e descuido no momento do parto que pode acarretar em complicações (7). Apesar de muitas mulheres não conhecerem o assunto, tornando-se mais vulneráveis a esses aspectos relacionados à violência obstétrica e suas repercussões na vida dessa mulher.

Conclusão

Pode-se concluir que a maioria das puérperas não tem conhecimento sobre o procedimento de episiotomia, não sabem sobre os riscos, indicações, vantagens e desvantagens e em mulheres que fizeram o procedimento observou-se algo agravante, pois  metade dessas mulheres não foram orientadas e nem consentiram a realização do procedimento.

 A recuperação dessas mulheres gerou desconforto e sensações dolorosas que perduram por mais tempo em relação com as que não foram submetidas à episiotomia.  Os resultados encontrados nesta pesquisa expressam que as puérperas desconhecem sobre as diversas formas de violência obstétrica, sendo relatado por elas somente os abusos verbais. Nesse sentido, ressalta-se a importância dos profissionais de saúde em direcionarem práticas educacionais para um cuidado mais humanizado em que haja respeito, e que a mulher possa se sentir confortável e segura, a fim de usufruir daquele momento de maneira satisfatória e prazerosa.

Dessa maneira, espera-se que o estudo desperte a atenção dos profissionais, para que os mesmos ofertem as informações necessárias sobre a episiotomia e violência obstétrica, através do desenvolvimento de práticas educativas durante o pré-natal, a fim de aumentar o nível de informação e conhecimento das parturientes sobre o seu parto e seus direitos reprodutivos, para que tenham autonomia e poder decisório sobre seu corpo.

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1Acadêmica de Enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas, Manaus-AM. Brasil.

2Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Santa Teresa, Manaus-AM. Brasil.

3Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Santa Teresa, Manaus-AM. Brasil.

4Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Santa Teresa, Manaus-AM. Brasil.

5Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Santa Teresa, Manaus-AM. Brasil.

6Professor Mestre da Faculdade Santa Teresa, Manaus-AM. Brasil.