CONDUTAS FISIOTERAPÊUTICAS PARA CICATRIZAÇÃO DE PACIENTES COM QUEIMADURAS: REVISÃO DE LITERATURA

PHYSIOTHERAPEUTIC PROCEDURES FOR THE HEALING OF PATIENTS WITH BURNS: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411291044


Iasmin da Silva Cruz1
Rayssa Caroline Lopes Oliveira1
Thaiana Bezerra Duarte2
Evelyn Castro Pinheiro de Souza3


Resumo

Introdução: O Brasil apresenta um alto índice de queimaduras, sendo um milhão de indivíduos já sofreram algum tipo de queimadura anualmente. De modo global, as queimaduras são responsáveis por cerca de 180.000 mortes anualmente. A fisioterapia se mostra relevante nesse tratamento pois possui recursos significativos que podem melhorar aspectos da pele, ajudar na cicatrização correta e melhorar as aderências visando melhorar a qualidade de vida funcional e social do paciente queimado, reinserindo e devolvendo o paciente para a sociedade com o mínimo de sequelas e danos. Objetivo: Analisar as condutas fisioterapêuticas para cicatrização de queimaduras. Materiais e método: Trata-se de uma revisão de literatura, foram utilizadas as bases de dados: PubMed, SciELO, Revis. Brasileira de queimadura e Biblioteca Virtual em Saúde. Os descritores utilizados, foram: fisioterapia, queimados, tratamento, intervenção. Sendo estas pesquisadas em inglês e português. Resultados: Tendo 5 artigos inclusos na revisão, em que os protocolos citados incluem a terapia por pressão (NPWT) e a laser terapia para melhora cicatricial. Conclusão: A presente revisão revelou um conjunto consistente de recursos que apoiam a utilização de diversas modalidades terapêuticas no manejo das sequelas de queimaduras. É válido ressaltar que, apesar dos resultados promissores, a necessidade de mais estudos mante-se evidente, mais investigações são necessárias para aprofundar a compreensão sobre a aplicabilidade e eficácia dessas técnicas no contexto clínico, visando aprimorar o tratamento de queimaduras e minimizar as sequelas associadas.

Palavras-chave: Fisioterapia. Queimadura. Laser. Terapia por pressão. Condutas.

Abstract

Background: Brazil has a high rate of burns, with one million people having suffered some kind of burn every year. Globally, burns are responsible for around 180,000 deaths every year. Physiotherapy is relevant in this treatment as it has significant resources that can improve aspects of the skin, help with correct healing and improve adhesions, with the aim of improving the burn patient’s functional and social quality of life, reintegrating and returning the patient to society with minimal sequelae and damage. Pourpose: Analyze physiotherapeutic procedures for healing burns. Methods: This is a literature review using the following databases: PubMed, SciELO, Brazilian burns journal and the Virtual Health Library. The descriptors used were: physiotherapy, burns, treatment, intervention. These were searched in English and Portuguese. Results: Five articles were included in the review, in which the protocols cited include pressure therapy (NPWT) and laser therapy for scar improvement. Conclusion: The present review revealed a consistent set of resources that support the use of different therapeutic modalities in the management of burn sequelae. It is worth highlighting that, despite the promising results, the need for more studies remains evident, further investigations are necessary to deepen the understanding of the applicability and effectiveness of these techniques in the clinical context, aiming to improve the treatment of burns and minimize the associated sequelae.

Keywords: Physiotherapy. Burns. Laser. Pressure therapy. Conduct.

1  INTRODUÇÃO

A pele reveste a superfície do corpo e é o maior órgão do corpo humano, sendo a principal barreira física contra o meio externo, desempenhando diversas funções vitais de comunicação e controle que garantem a homeostase do organismo. Com o passar dos anos a pele sofre constantes transformações decorrentes do tempo, alterando significativamente suas funções fisiológicas e estruturais. A pele possui três camadas: sendo a epiderme a camada mais externa a derme a camada intermediaria composta por tecido conjuntivo irregular, ricamente constituído por fibras de colágeno e elastina, e a hipoderme a camada mais profunda. A epiderme é constituída de células epiteliais achatadas sobrepostas que estão dispostas em; germinativa ou basal, espinhosa, granulosa, lúcida e córnea. Possui também os queratinócitos (ceratinócitos), que sintetizam queratina, que é uma proteína fibrosa filamentosa que dá firmeza à epiderme e a garante a proteção, permeabilidade e a protege da desidratação; os melancólicos que são células responsáveis pela síntese de melanina, pigmentação da pele cuja função é proteção dos raios ultravioleta; as células de Langherans são as células responsáveis pela ativação do sistema imunológico atuando como macrófagos contra microrganismos ou partículas estranhas, e as células ou discos de Merkel, que estão presentes entre a epiderme e derme atuando como receptores de tato ou pressão (Domansky et a., 2014). A última camada é considerada um órgão endócrino, constituídas por adipócitos, com as funções de armazenar reserva energética, proteger contrachoques, formar uma manta térmica e modelar o corpo (Tanissary, 2019).

Além de alterações fisiológicas a pele pode sofrer danos como as queimaduras que são classificadas como uma injúria comum e grave na pele, classificadas por uma condição aguda ou crônica de forma debilitante. Seus causadores são agentes químicos, elétricos, térmicos, radioativos e biológicos, ou ainda pelo atrito. Suas lesões, além de atingir a pele, podem se estender para tendões, músculos e ossos, lesionando de formal parcial ou total, levando à perda muscular severa, fraqueza muscular, além da redução da elasticidade tecidual e às deformidades, provindo a danos estéticos, psíquicos e familiar (Negrão, 2019).

As queimaduras podem ser classificadas em três tipos de graus, sendo o 1º grau atingindo de forma mais superficial, apresentando vermelhidão, inchaço e dor suportável. No 2º grau, suas lesões já são mais profundas, atingindo a epiderme e a derme, ocasionando risco de destruição das terminações nervosas da pele, levando um período de cicatrização maior que 3 semanas e ocasionando cicatrizes. No 3º grau, pode afetar até os ossos, apresentando dor parcial ou nenhuma dor, deixando a pele branca ou carbonizada (Ministério da Saúde, 2019).

O processo de cicatrização de queimadura se inicia da mesma forma como qualquer outro trauma na pele. Na fase inicial ocorre a hemostasia, seguida pela fase celular, que inclui inflamação, proliferação e remodelação (Silva, 2020).

O tratamento ou a reabilitação do paciente queimado envolve não somente o fisioterapeuta, como também uma equipe multidisciplinar. A fisioterapia pode atuar como forma de complemento no meio cirúrgico, respiratório e estético. A abordagem fisioterapêutica inclui imobilização, exercícios, alongamento dos tecidos moles, deambulação, trocas de decúbito, fortalecimento muscular, massagens, eletroterapia, terapia compressiva, orientação, acompanhamento, cosmética de tratamento e de cobertura. Suas condutas são de formas amplas, podendo ser iniciadas em diferentes fases e entre elas desde a internação à fase ambulatorial, além do tratamento domiciliar, tendo como domínio o tratamento das disfunções que afetam direta ou indiretamente o tecido tegumentar e agindo em todos os níveis de atenção à saúde (Melo, 2014).

O Brasil apresenta um alto índice de queimaduras, sendo que um milhão de indivíduos já sofreram algum tipo de queimadura anualmente. De modo global, as queimaduras são responsáveis por cerca de 180.000 mortes anualmente. A fisioterapia se mostra relevante nesse tratamento pois possui recursos significativos que podem melhorar aspectos da pele, ajudar na cicatrização correta e melhorar as aderências visando melhorar a qualidade de vida funcional e social do paciente queimado, reinserindo e devolvendo o paciente para a sociedade com o mínimo de sequelas e danos (Da Silva, 2022).

Contudo, tratamentos para queimaduras apresentam um déficit de informações acerca dos recursos que apresentam melhor desempenho quanto a melhora cicatricial, visando atenuar as sequelas estéticas e funcionais da queimadura.

Por este motivo, este estudo realizou uma revisão de literatura para analisar condutas fisioterapêuticas que apresentam eficácia na cicatrização de queimaduras.

2  MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura. Foram utilizadas as bases de dados: PubMed, SciELO, Resv. Brasileira de queimadura e Biblioteca Virtual em Saúde. Os descritores utilizados, foram: fisioterapia, queimados, tratamento, intervenção. Sendo estas pesquisadas em inglês e português. A busca nas bases de dados ocorreu no período de setembro de 2024.

Foram incluídos na busca, artigos de acordo com os seguintes critérios de inclusão: artigos publicados nos últimos 10 anos que continham intervenção fisioterapêuticas de pacientes queimados e pacientes que tiveram atendimento fisioterapêutico pós-queimadura. Como critérios de exclusão, foram excluídos: artigos não disponíveis na integra, em outros idiomas diferente de inglês e português e duplicados. Os resultados foram expressos em texto e gráfico.

3  RESULTADOS

Foram encontrados 60 artigos nas bases de dados, onde 2 foram excluídos por estrem duplicados, 14 com mais de 10 anos de publicação e 6 artigos não possuíam intervenção fisioterapêutica. Foram lidos 38 títulos e resumos, onde foram excluídos artigos por conterem revisão sistemática, revisão de literatura e abordarem outra especialidade. Foram lidos 17 artigos na íntegra, sendo excluídos 9 itens por não estarem disponíveis na íntegra, também excluídos estudos observatório descritivos e estarem em outro idioma diferente de inglês, português e espanhol. Tendo 5 artigos inclusos na revisão, conforme figura 1.

Figura 1. Fluxograma

Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados para essa revisão.

Este estudo traz dados referentes a 127 pessoas. A média de idades das pessoas incluídas nesta revisão foi de 23,60 anos.

Um estudo (Roohaninasab et al., 2023) recrutou 10 pacientes com idades ente 25 e 50 anos. Na intervenção foi realizado em uma parte da cicatriz aplicação de CO2 laser isolado juntamente com injeção de solução de salina normal com placebo, e na outra parte da cicatriz foi usado a combinação de CO2 laser e injeção de SVF. O tratamento teve duração de três sessões com um mês de intervalo. A primeira sessão foi realizada CO2 fracionado laser para ambas as lesões com injeção de placebo em uma lesão e SVF na outra lesão. Na segunda sessão CO2 laser apenas para ambas as lesões e a terceira sessão CO2 fracionado para ambas as lesões acompanhado de injeção de placebo em uma lesão e injeção SVF na outra. O estudo demostra que o tratamento com combinado de CO2 fracionado laser e SVF como um novo tratamento tem eficácia aceitável no tratamento de cicatrizes de queimaduras.

Um estudo (Baggio et al.,2020) recrutou uma criança de 9 anos com queimadura elétrica em membros superiores com 15% da superfície corporal acometida. Na intervenção foi realiza a Terapia por Pressão Negativa (TPN) onde a realização do curativo iniciou-se pela limpeza da lesão com solução fisiológica de 0,9% aquecida, proteção de tendão e do nervo ulnar com hidrogel amorfo e plástico estéril. Logo em seguida, obteve-se a aplicação da espuma de poliuretano hidrofóbica, ocluída com filme transparente estéril, a espuma era conectada ao dreno de sucção que se conectava ao equipamento computadorizado interligado a um reservatório para a drenagem de exsudato, programado para exercer pressão negativa a 120 mmHg de forma contínua. A troca do curativo era prevista a cada 72 horas, onde foi realizado uma quantidade de 4 sessões. Foi possível evidenciar que a TPN no paciente pediátrico trouxe resultados satisfatórios e significativos no processo de cicatrização tecidual, além de efeitos positivos na aceitação do tratamento.

Um estudo (Frear et al., 2020) recrutou crianças com queimaduras térmicas agudas cobrindo menos 5 por cento da área total da superfície corporal, sendo randomizado 114 pacientes. Os participantes foram randomizados para receber curativo padrão ou curativos padrão em combinação com NPWT. Os curativos padrão consistiam em Acticoat™ uma malha de fibra impregnada com prata nanocristalina, e Mepitel™ uma interface de silicone. A intervenção foi administrada por meio de uma bomba de vácuo ajustada para uma pressão subatmosferica contínua de 80mmHg e crianças menores de 12 meses foi utilizada uma pressão de 40 mmHg para reduzir o risco de dano isquêmico. Os participantes retornavam ao centro de queimaduras a cada 3 à 5 dias para remoção e reaplicação de NPWT e/ou curativos padrão até o fechamento da ferida.

Um estudo (Bravo et al., 2016) com paciente de 38 anos vítima de queimadura em região de cervical e tronco, realizou-se como intervenção LIP + lazer ablativo fracionado com uso de anestésico 30 minutos antes do procedimento. Houve ao todo 8 sessões, onde na primeira sessão houve apenas o uso do LIP, após a primeira sessão as demais foram realizadas com laser ablativo fracionado Ebium: YAG. Em todas as sessões foram utilizados laser e de forma imediata a aplicação de tretinoína 0,05% + hidroquinona 4% + fluocinolona acetonida 0,01% em creme e oclusão com filme plástico por 4 horas. Nos pós laser, a paciente foi orientada a utilizar dipropionato de betametasona e gentamicina em creme, duas vezes ao dia por 14 dias. O caso apresentou melhora clínica significativa no aspecto estético da lesão, com diminuição das áreas hipertróficas, das traves fibróticas e da coloração da pele.

Um estudo (Nascimento et al., 2014) com paciente de 21 anos vítima de queimadura causado por álcool em 40% da sua superfície corporal. Na avaliação de inspeção e palpação, foram identificadas coloração avermelhada, relevo irregular, mandíbula assimétrica, temperatura elevada no local e espessura acima do nível do relevo da pele. Foi usado como intervenção sete sessões realizado uma vez por semana aplicando a luz intensa pulsada associada ao Lazer de Baixa Potência, radiofrequência e vácuo. A radiofrequência foi usada em 27,12 MHz com intensidade 10/5 watts por 3 minutos; vácuo em frequência continua/pulsada com intensidade 400/-700 mmHG por 3 minutos até eritema leve; Laser de baixa potência com frequência contínua com intensidade 16J/cm² a cada 2 cm²; e Luz Intensa Pulsada com frequência 475nm a 1100nm com intensidade 13J/cm² com 1 disparo para 2 cm².

4  DISCUSSÃO

No presente estudo, após as revisões dos artigos selecionados, pode-se observar que o protocolo a laser foi de grande eficácia no tratamento das lesões, contendo resultados positivos na funcionalidade da pele e estética. As cicatrizes por queimaduras além de remeterem ao indivíduo danos estéticos e psicológicos, trazem consigo redução da funcionalidade do tecido, contraturas e alterações hipertróficas.

No estudo de Bravo et al. (2016), eles realizaram as condutas para o tratamento das lesões através de laser e LIP, onde houveram intercalação dos recursos. Logo na primeira sessão teve aplicação apenas do LIP e as demais sessões houve a combinação dos dois recursos, aumentando a potência do laser após a terceira sessão, onde foi observado a melhora estética da cicatriz, redução das áreas hipertróficas e alteração da coloração da pele, enquanto no Nascimento et al. (2014) eles demostraram as condutas de laser e LIP associados a radiofrequência e vacuoterapia, onde trouxe a aplicação da radiofrequência monopolar por três minutos, seguido com a vacuoterapia ao lado esquerdo da mandíbula da paciente, finalizando com aplicação do laser. Ao lado direito da mandíbula teve a aplicação apenas do LIP associado a gel resfriado, ao final das sessões foi observado a redução da pigmentação da área e diminuição da espessura e relevo da região, o estudo de Nascimento et al. (2014) também observou que o LIP associado a radiofrequência e vácuo não teve uma resposta tão satisfatória, porem ele apresentou resposta de inativação dos vasos dérmicos não uteis a cicatriz, favorecendo a sua transformação em cicatriz crônica, ou seja, estável. Já no estudo de Roohaninasab et al (2023) a comparação foi entre laser co² fracionado em combinação com a fração vascular estromal (SVF) em comparação com o laser CO² fracionado isolado. Realizado em dez pacientes foram divididos em grupos onde concluiu-se que ambos tiveram uma melhora significativa, porem a combinação do laser CO² com SVF foi bem maior do que o laser CO² isolado.

Um estudo realizado Roohaninasab et al. (2024) por meio de uma revisão sistemática vem avaliar uma série e intervenções para o tratamento de queimaduras em crianças, entre eles a laser de CO 2 fracionado, que mostrou que a laser e fototerapia produziu mais de metade de melhora em vários estudos. Sendo ele bem tolerado entre os pacientes, com a terapia com laser de CO 2 fracionado fornecendo uma alternativa adequada sem os riscos associados à anestesia geral. Relatando a eficácia significativa dos lasers de CO e sua efetividade na diminuição da espessura, a perfusão e a aparência de cicatrizes de queimaduras em pacientes pediátricos de 2 a 10 anos, levando a reduções significativas nas pontuações VSS. Notavelmente, a terapia a laser mostrou sua significância, com a maior redução na gravidade da cicatriz.

Outros estudos utilizados foram o de Frear et al. (2020) em que os pacientes foram randomizados e divididos em 2 grupos, sendo o grupo controle fazendo uso de um curativo padrão Acticoat™ e o grupo NPWT, que utilizava a combinação do curativo padrão e a terapia por pressão. A intervenção foi ajustada para uma pressão subatmosférica contínua de 80 mmHg. Para queimaduras envolvendo as extremidades em crianças com menos de 12 meses foi usada uma pressão de 40 mmHg. Os participantes retornavam a cada 3–5 dias para remoção e reaplicação dos recursos até que a ferida estivesse fechada. Pode-se observar que mais da metade da população avaliada teve a aceleração da reepitelização, diminuição na colonização bacteriana, o enxerto de pele e a gravidade da cicatriz, enquanto o estudo de Baggio et al. (2020) o paciente realizou a aplicação da espuma de poliuretano hidrofóbica, ocluída com filme transparente estéril. A espuma era conectada ao dreno de sucção que, por sua vez, conectava- se ao equipamento computadorizado interligado a um reservatório para drenagem de exsudato, programado para exercer pressão negativa a 120 mmHg, de forma contínua. A troca de curativo ocorreu em 72 horas, após esse período, houve a primeira abertura do curativo onde observou a maceração intensa da pele perilesão, aumento do tecido de granulação, redução da profundidade e preservação do tendão hidratado. Já na segunda troca da TPN, a lesão evoluía totalmente com o tecido de granulação e expansão da área granulada sobre as estruturas óssea, tendínea e do nervo ulnar, a redução da profundidade e do volume de exsudato drenado, tendo a pele perilesão livre de maceração. Ao final da quarta sessão com a TPN, a lesão apresentava- se granulada, sem exposição óssea e tendínea, com isso foi possível evidenciar que a TPN no paciente trouxe resultados satisfatórios e significativos no processo de cicatrização tecidual. Isso porque segundo Qiu et al. (2023) a NPWT melhora a microcirculação e o fluxo linfático e estimula o crescimento de tecidos de granulação, além de drenar secreções e tecido necrótico. Como uma terapia clínica significativa na revisão de cicatrizes, a NPWT reduz a tensão, fixa o enxerto e melhora o leito da ferida.

Além disso um estudo feito por Lumsden et al. (2023) onde foi realizado um ensaio piloto randomizado de controle de local único, usando trinta participantes com os seguintes critérios de inclusão: ter idade ≤ 16 anos, estar bem e tratados dentro de 24 horas após sofrer uma queimadura na mão ou no pé. Os participantes foram randomizados para tratamento padrão (Mepitel® – um curativo de contato de interface de ferida de silicone – e ACTICOAT™ – um curativo impregnado com prata nanocristalina) ou tratamento padrão mais NPWT. Conclui a eficácia na redução do tempo de reepitelização, porém menciona as barreiras à utilização desse método, incluindo problemas mecânicos, e a escassez de conhecimento sobre como aplicar adequadamente a intervenção, dificultando a integração da terapia por pressão no tratamento de queimaduras. Já o estudo realizado Liu et al. (2023) mostra através de um estudo clínico usando vinte pacientes com queimaduras profundas de espessura parcial na mão foram divididos aleatoriamente em um grupo experimental e um grupo controle. Combinando treinamento de reabilitação precoce com NPWT. Ambos os grupos receberam 4 semanas de reabilitação após feridas cicatrizadas por NPWT com ou sem enxertos de pele. A função da mão foi avaliada o movimento ativo total da articulação da mão (TAM) e o breve Michigan Hand Questionnaire (bMHQ). Após quatro semanas não houve diferença significativa nas pontuações TAM e bMHQ entre os dois grupos após a remoção da pressão negativa. Porém, após 4 semanas de treinamento de reabilitação, as pontuações TAM e bMHQ foram significativamente melhoradas em ambos os grupos, entretanto aqueles do grupo experimental mostraram maior significância do que aqueles do grupo controle. Concluindo assim que a NPWT combinada ao treinamento de reabilitação precoce para tratamento de queimaduras é eficaz no presente estudo.

Outro estudo vem evidenciar a eficácia da NPWT através de um relato de caso Ortega et al. (2021) onde foram descritos dois casos em que foram aplicados essa tecnologia em lesões elétricas. Ambos os pacientes apresentaram formação precoce de tecido de granulação adequado para reconstrução cirúrgica, e nenhum deles apresentou perda de enxertos de pele, usando a NPWT duas vezes no tratamento. Na fase inicial, para preparar a ferida e acelerar a formação de tecido de granulação para uma reconstrução precoce. Após a reconstrução, a NPWTi foi usada para melhorar a pega do enxerto. Isso porque a pressão negativa reduz o edema, aumenta o fluxo sanguíneo, limpa a ferida, diminui a carga bacteriana e acelera a formação de proteínas e o tecido de granulação.

Ao utilizar a NPWT com instilação, o tecido de granulação adequado foi obtido 4 a 6 dias após a aplicação da terapia, o que permitiu uma reconstrução rápida. Evidenciando sua eficácia no tratamento de queimaduras.

No geral, as descobertas indicam que a terapia a laser e a NPWT são opções de tratamento eficazes para cicatrizes de queimaduras. No entanto, é essencial que mais estudos sejam feitos para evidenciar o uso e as dificuldades nas aplicações dessas técnicas, com o intuito de aprimorar e implementar tais recursos no tratamento de queimaduras. Portanto, mais estudos de alta qualidade são necessários para substanciar essas conclusões.

5  CONCLUSÃO

A presente revisão revelou um conjunto consistente de recursos que apoiam a utilização de diversas modalidades terapêuticas no manejo das sequelas de queimaduras. Os ensaios clínicos e relatos de caso mostram que abordagens como a termoterapia, radiofrequência, fototerapia (incluindo Luz Intensa Pulsada), terapia por pressão negativa (TPN) e o uso de laser fracionado mostram benefícios significativos na melhora das cicatrizes e na recuperação funcional dos pacientes.

Sendo assim, a fisioterapia e as intervenções terapêuticas associadas demonstram um papel essencial na atenuação das sequelas de queimaduras, melhorando não apenas a qualidade estética das cicatrizes, mas também a qualidade de vida dos pacientes, sugerindo a necessidade de protocolos multidisciplinares adaptados às necessidades individuais dos pacientes. É válido ressaltar que, apesar dos resultados promissores, há necessidade de mais estudos, mais investigações são necessárias para aprofundar a compreensão sobre a aplicabilidade e eficácia dessas técnicas no contexto clínico, visando aprimorar o tratamento de queimaduras e minimizar as sequelas associadas.

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1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.

2 Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE e do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas Itacoatiara.

³ Especialista em Saúde da Mulher, Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE

Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1232, Centro | Manaus | AM | CEP: 69020-030 | (92) 3212-5000.