CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE REDUÇÃO DE DANOS RELACIONADAS AO CONSUMO DE ÁLCOOL ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DA SAÚDE

CONCEPTS AND PRACTICES TO REDUCE ALCOHOL USE DAMAGE WITH HEALTH UNDERGRADUATE STUDENTS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10891294


Paula Thaís Cardoso Menezes1
Victor Menezes Cardoso2
Vânia Sampaio Alves3


RESUMO: O uso prejudicial de álcool e outras drogas entre estudantes universitários é reconhecido como um problema de saúde pública amplo e complexo.  Os jovens correspondem a um grupo de maior vulnerabilidade para o consumo dessas substâncias e as causas que induzem esses indivíduos a usarem ou não álcool e outras drogas são múltiplas, envolvendo aspectos individuais, familiares e coletivos. Há um crescimento dos índices do uso abusivo de álcool. É preciso compreender sobre as concepções e práticas de redução de danos entre estudantes de cursos de graduação em saúde. Realizou-se pesquisa de desenho misto, em duas etapas complementares: a primeira com aplicação de questionário aos estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CCS/UFRB). A segunda etapa consistiu na realização de três grupos focais. Responderam ao questionário 173 estudantes do CCS/UFRB e constatou-se que o álcool é a principal substância psicoativa de consumo. Quanto as práticas de redução de danos, observou-se que são adotadas pelos participantes em contextos de festas, sob influência de pares, como um “modismo”, sem necessariamente refletir uma apropriação conceitual sobre a redução de danos. Os dados apontaram a necessidade de se falar abertamente sobre a questão das drogas nas universidades e no processo de sensibilização da comunidade acadêmica para adoção de práticas de redução de danos.

Palavraschave: Álcool. Redução de Danos. Estudantes Universitários.

ABSTRACT: The harmful use of alcohol and other drugs among college students is recognized as a complex and broad issue of public health. Young people represent a most vulnerable group to the consumption of these substances and the causes that induce these individuals to use or not alcohol and other drugs are multiple, involving individual, family and collective aspects. There is an increase in rates of alcohol abuse. This essay objective includes forms to understand about the concepts and harm reduction practices among students of health undergraduate courses. It was conducted joint research design in two complementary stages: the first with the application of questionnaire to students enrolled in undergraduate courses of the Health Sciences Center of the Federal University Reconcavo of Bahia (CCS / UFRB). The second stage consisted of three focus groups. Answered the questionnaire 173 students from CCS / UFRB and found that alcohol is the main psychoactive substance consumption. The harm reduction practices, it was observed that are adopted by the participants at party’s contexts, under the influence of peers as a “fad”, without necessarily reflect a conceptual appropriation of harm reduction. The data showed the need to speak out on the issue of drugs in the universities and in the academic community sensitization process for adoption of harm reduction damages.

Keywords: Alcohol. Damages Reduced. Undergraduate Students.

Introdução

O consumo do álcool é fortemente aceito na maioria das culturas ocidentais e por conta disso o acesso à substância e o início do seu uso se torna muito fácil. O uso prejudicial de álcool e outras drogas entre estudantes universitários é um problema de saúde pública amplo e complexo, apesar de já existirem algumas medidas de prevenção e políticas públicas de saúde. No Brasil, o consumo do álcool é um fator responsável por mais de 10% de seus problemas totais de saúde. Esse problema está correlacionado ao crescimento da violência urbana, a acidentes automotivos, a comportamentos antissociais, aumento de incidência de doenças e agravos não transmissíveis (DANT’s) e ao desempenho escolar e/ou acadêmico (LARANJEIRAS).  Nesse contexto, o Ministério da Saúde adotou de modo integral e articulado o desafio de prevenir, tratar, reabilitar os usuários de álcool e outras drogas como um problema de saúde pública, tendo como orientação a incorporação de práticas de Redução de Danos (BRASIL,2014).

As práticas de Redução de Danos(RD) faz compreender que os danos decorrentes do uso de álcool e outras substâncias psicoativas não são determinados apenas pelo produto em si, mas sim do resultado da interação entre o sujeito, o produto e o contexto social e e econômico. Ou seja, a droga é um fenômeno multideterminado, diversos fatores influenciam no comportamento individual, o que põe em evidência a fragilidade das estratégias proibicionistas derivadas da “Guerra às Drogas” e a pertinência da abordagem de Redução de Danos (BOARINI e MACHADO, 2013).   As ações de Redução de Danos no Brasil têm uma trajetória que vai além do desenvolvimento de fatores de proteção á saúde ao aliar conceitos de inclusão e cidadania às demandas da população e usuários de drogas (DELBON, 2006).

De acordo com o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras (2010, p. 202), “os estudantes universitários apresentam consumo de drogas mais intenso e frequente do que outras parcelas da população”. Segundo Dimeff, os estudantes universitários recebem muitas informações acerca dos riscos do uso de álcool e outras drogas por meio da exposição sucessiva a propagandas midiáticas de prevenção que são embasas no discurso das políticas contra as drogas. Além disso, nos centros de formação participam de atividades como palestras em que o conhecimento disseminado é de instrução para que digam um não quando não quiserem utilizar essas substâncias em momentos considerados “errados”. Entretanto, apesar de disporem dessas informações sobre as drogas e da necessidade de dizerem “não” às mesmas, muitos estudantes usam álcool e outras drogas e podem se defrontar com situações de vulnerabilidade. Sendo assim, é notória a percepção de que a forma como essa temática vem sendo trabalhada produz resultados muito restritos. Em contraposição, um processo de produção de conhecimento que envolva os sujeitos de forma ativa nas mudanças comportamentais pode ser alcançado mediante a abordagem de redução de danos. Esta abordagem pode resultar um caminho para uma vida mais responsável, ao se caracterizar como uma medida de baixa exigência em relação às estratégias proibicionistas (BRASIL, 2003).

O ingresso na universidade, ainda que traga sentimentos positivos e de alcance de uma meta programada por estudantes do ensino médio, por vezes pode se tornar um período crítico, de maior vulnerabilidade, para o início e a manutenção do uso de álcool e outras drogas (PEUKER et al., 2006). O consumo de álcool entre universitários está associado à vida social mais intensa, pois o perfil social destes sofre mudanças, visto que geralmente começam a morar fora de casa, mudam o grupo de amizades e passam a ter um acesso mais fácil às drogas (OLIVEIRA et al., 2009). Além disso, problemas relacionados ao comportamento, um desempenho acadêmico prejudicado, comportamentos antissociais, desistências acadêmicas estão diretamente relacionados ao uso de álcool e outras drogas segundo Dimeff e corroboram negativamente para a vida do indivíduo.

O uso prejudicial do álcool resulta na morte de 2,5 milhões de pessoas anualmente, provoca doenças e lesões para muitos, e cada vez mais afeta gerações mais jovens e consumidores nos países em desenvolvimento (OMS, 2011). Seu uso indevido é um dos principais fatores que contribuem para a diminuição da saúde mundial, sendo responsável por 3,2% de todas as mortes e por 4% de todos os anos perdidos de vida útil (BRASIL, 2004). No ano de 2002, o Brasil apresentou uma mortalidade atribuível diretamente ao uso abusivo ou dependência de álcool correspondente a 0,8% de todas as mortes nos homens e 0,1% nas mulheres (MARIN-LEON, et al., 2007).

As causas que induzem um indivíduo a usar ou não drogas são complexas e múltiplas. Existem aspectos individuais, familiares e coletivos envolvidos. Muitas das vezes o estudante quando busca se relacionar com o álcool utiliza deste como uma estratégia associada a fuga dos problemas como como queda do desempenho acadêmico (PEARSON e HUSTAD, 2014).

Os estudos que envolvem a temática de consumo de álcool e outras drogas recebeu uma maior ênfase nos últimos anos (OLIVEIRA, et al., 2009). Entre estes estudos, diversos têm sido realizados no Brasil com o intuito de verificar a prevalência de uso de drogas entre a população universitária. A maioria deles concorda que o uso de álcool e outras substâncias é maior entre universitários de diversas instituições quando comparado à população geral (STEMPLIUK et al., 2005). Embora existam evidências de que experiências com álcool e outras drogas ocorram dentro dos campi universitários, a existência de projetos de prevenção e assistência em relação ao uso abusivo de substâncias psicoativas não se configura como uma exigência legal. Nessa perspectiva, o presente trabalho tem por objetivo caracterizar concepções e práticas de redução de danos entre estudantes de cursos de graduação da área de saúde. Espera-se assim contribuir para a atenção ao consumo de substâncias psicoativas entre esses estudantes a partir de uma abordagem de redução de danos sensível às especificidades desse grupo populacional.

Percurso Metodológico

O presente estudo está vinculado ao projeto de pesquisa “Concepções e práticas relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas entre estudantes de cursos de graduação em saúde”, desenvolvido no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Trata-se, portanto, de um recorte da referida pesquisa e tem por objetivo geral identificar as percepções e comportamentos quanto a redução de danos relacionadas ao consumo de álcool entre estudantes deste centro de ensino.

Para a análise deste estudo, escolheu-se uma abordagem de pesquisa descritiva com método misto, sendo desenvolvido em duas fases subsequentes e complementares: a primeira fase, de natureza quantitativa, consistiu na realização de um levantamento sobre a experiência de consumo de álcool e outras drogas, concepções e práticas relacionadas a este fenômeno dentre estes discentes. Para a coleta de dados na fase do levantamento foi aplicado um instrumento estruturado, o qual teve sua elaboração a partir da adaptação do questionário criado para o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras (BRASIL, 2010). Como meio para a coleta de dados, aplicou-se esse instrumento de pesquisa via internet, mediante o desenvolvimento de um formulário eletrônico para autopreenchimento.

Os discentes foram convidados a participar da pesquisa os mediante envio do link do formulário eletrônico por meio de listas de e-mail das turmas. O número total de estudantes participantes desta fase da pesquisa correspondeu a 173. O preenchimento do instrumento foi efetuado pelos próprios sujeitos participantes, de forma anônima e voluntária no período de agosto a outubro de 2014. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi incorporado ao formulário eletrônico, devendo o sujeito da pesquisa expressar a sua concordância em participar mediante o assinalamento da opção “Declaro ter lido o TCLE e concordo em participar da pesquisa”. Os dados produzidos nessa fase foram organizados e tabulados em um banco de dados desenvolvido no SPSS – Statistical Package of Social Science – e posteriormente analisados.

A segunda fase da pesquisa, de natureza qualitativa, correspondeu à realização de três grupos focais com estudantes dos cursos de graduação do CCS. Os grupos focais foram realizados no período compreendido entre setembro de 2014 e março de 2015, sendo conduzidos por mediadores, os quais desempenharam o papel de fomentar a discussão dos tópicos apresentados entre os participantes. Além dos mediadores, a condução do grupo focal contou com a colaboração de observadores, os quais foram responsáveis pelo registro de informações sobre os participantes, aspectos contextuais da atividade e manejo do gravador. Todos os participantes tiveram que expressar concordância em participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os registros foram efetuados mediante a elaboração de diários de campo pelos mediadores e observadores e o registro em áudio, os quais foram posteriormente transcritos.

No planejamento destes grupos focais foram considerados os resultados obtidos a partir do levantamento, os quais permitiram identificar questões para o aprofundamento do estudo acerca das concepções e práticas relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas entre estudantes dos cursos de graduação do CCS/UFRB. Para sua composição foram convidados estudantes de ambos os sexos que estavam matriculados a partir do segundo semestre no período letivo de 2014.1. Os convites primeiramente foram feitos em sala de aula para todas as turmas e posteriormente por meio de rede social (Facebook) nos grupos relacionados ao CCS. Participaram das 3 sessões um total de 15 estudantes, de ambos os sexos (4 do sexo masculino e 11 do sexo feminino), distribuídos entre os cursos Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, Enfermagem, Medicina, Nutrição e Psicologia.

Para análise dos dados qualitativos, adotou-se a descrição e interpretação destes dados a técnica de análise de conteúdo temática. De acordo com Minayo (2006, p. 316), “a análise temática consiste em descobrir os ‘núcleos de sentidos’ que compõem uma comunicação”. Foi então que se dividiu o trabalho em recortes produzidos a partir do processo de categorização, estes foram agrupados em: Caracterização das participantes da pesquisa; Fatores e práticas que influenciam o consumo de álcool entre os estudantes; As consequências do consumo de dessas substâncias na vida acadêmica e Concepções e Práticas de redução de danos.

Quanto às considerações éticas da pesquisa, o trabalho de campo para a coleta de dados empíricos foi iniciado apenas após emissão do parecer de aprovação (Parecer Nº 605.929) do protocolo de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – CEP-UFRB e cadastrado no Centro de Ciências da Saúde (Processo Nº 23007.008866/2014-16), em conformidade com as orientações da Resolução CNS 466/2012. Todos os sujeitos participantes expressaram concordância em participar da pesquisa mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A estes sujeitos foram assegurado o acesso às informações relativas ao desenvolvimento da pesquisa e aos resultados obtidos, o direito de retirar o seu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem qualquer prejuízo, o anonimato e o sigilo quanto às informações individualmente prestadas.

Resultados e Discussão

Caracterização das participantes da pesquisa e o consumo de álcool 

Participaram da primeira fase da pesquisa um total de 173 discentes, distribuídos entre os cinco cursos de graduação em saúde do CCS/UFRB. A idade dos participantes variou entre 18 a 41 anos, a maioria era do sexo feminino (75,1%), de estado civil solteiro (88,8%), cursava entre o 1° e o 4° semestre (60,1%), não residia com os familiares (78%).  Entre os participantes, 53,8% declaram-se pardos e 27,9% pretos, totalizando, assim, um total de 78,7% de negros conforme classificação de características étnico-raciais da população adotada pelo IBGE (2008).

De acordo com o I Levantamento Nacional Sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira (BRASIL, 2007), a avaliação de 3.007 pessoas com mais de 18 anos demonstrou que 59% da população com idade entre 18 e 24 anos consomem álcool. Este dado foi semelhante ao percebido entre os estudantes, o álcool desponta como aquela mais consumida entre os participantes, 68,8% relataram ter realizado consumo dessa substância nos últimos três meses que precederam a pesquisa. A respeito do consumo nesse período, 33,5% dos participantes da pesquisa referiram ter consumido bebidas alcóolicas entre duas a três vezes, 17,9% mensalmente, 15% semanalmente e 2,3% diariamente ou quase todos os dias. 

O consumo de álcool entre esses estudantes revela-se elevado e semelhante ao encontrada em outros estudos (LAMBERT-PASSOS., et al; CHIAPETTI; ANDRADE., et al). As bebidas alcoólicas mais consumidas também seguiram o padrão encontrado em outros estudos (WAGNER, G. A., et al; CHIAPETTI; ANDRADE, et al). Entre os participantes da pesquisa, identificou-se a preferência pela ingestão de Cerveja ou Chopp (28%) seguida do Vinho (23%). Esse consumo pode ser motivado devido ao clima, o preço e fatores culturais poderiam explicar as preferências pelo tipo de bebida (MARDEGAN, et al., 2007).

Nas sessões de grupo focal, os participantes compartilharam a concepção de que o álcool é uma substância de fundamental importância nas relações sociais. A este respeito, alguns participantes dos grupos focais declaram:

Na verdade, eu considero o álcool e principalmente o álcool que é uma realidade que é mais próxima a nós, é uma substância, um fator socializador muito bom, se a gente for parar pra pensar que hoje as pessoas em torno do álcool se reúnem e acaba socializando, né? É acaba sendo uma substância que também proporciona o lazer e assim eu também vejo em relação a outros tipos de drogas. (GF01)

Eu acho que no uso de álcool e outras drogas, mais precisamente o álcool age como uma forma de interação social entre os alunos, na forma de ‘vamos sair, vamos tomar uma, vamos beber. (GF02)

Eu também vejo o consumo de álcool como uma questão de refúgio, mas também como um meio de sociabilizar. As pessoas hoje em dia, quando você não bebe, automaticamente você fica um pouco restringida na vivência com os colegas, acho que é geral no ambiente universitário, essa questão da bebida como forma de diversão, forma de se desestressar (GF02)

O comportamento dos estudantes em relação ao consumo de álcool, quando questionados sobre a frequência de no mínimo uma dose alcoólica nos últimos 12 meses, 2,9% não responderam, 27,2% declararam não beber, 1,2% referiu consumir quase todos os dias, 0,6% de três a quatro dias por semana, 15,5% de um a dois dias por semana, 18,5% de um a três dias por mês e 35,3% menos de uma vez por mês.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1994), o padrão de uso pesado de álcool por tempo determinado é denominado “binge drinking”, ou uso pesado episódico. Esse padrão é definido pelo uso de cinco ou mais doses de bebida alcoólica em única ocasião para homens e quatro ou mais doses para mulheres. Na pesquisa foi percebido esse uso em ocasiões mensalmente (34,7%) e semanalmente (7,5%).

No que se refere ao padrão de consumo diferenciado entre universitários, 24,9% dos participantes que responderam ao questionário alegaram que houve um aumento no consumo de bebidas alcoólicas após o ingresso na universidade.

Alguns estudantes participantes dos grupos focais demonstram a concepção de uma cultura universitária como um fator que pode favorecer o consumo de álcool:

Eu vejo no discurso das colegas “Eu estou na universidade agora pode tudo (GF02)

Eu vejo que a maioria já teve algum contato com álcool antes de entrar na universidade, agora, um contato menor. E ai o que desencadeia esse restrição quando entra na universidade é que praticamente a gente bebe por osmose, você tá com os amigos tá tendo álcool… Enfim, você acaba bebendo. (GF02)

Em contrapartida, para 34,7% dos estudantes não houve mudança no padrão de consumo de álcool após o ingresso na universidade. Além disso, para alguns sujeitos (10,4%) a mudança no consumo foi relacionada a uma redução, fato que também foi discutido em um dos grupos focais.

Eu, por exemplo, pensando na minha trajetória acadêmica e tal, eu consumia mais álcool antes de entrar na universidade do que depois que eu entrei, tanto é que hoje eu praticamente não bebo. (GF01)

Um fato importante percebido na realização dos grupos focais é em relação ao consumo de álcool entre as mulheres. Assim como aponta publicações recentes (ESPER LH. et al; FREITAS, G.L.et al.), o padrão de consumo dessa população tem aumentado visivelmente, assemelhando-se ao da população do sexo masculino. E sobre isso existiram os seguintes relatos nos grupos focais:

Eu acho que não tem diferença também não, acho que as meninas estão bem mais, e envolve outras questões né, da independência feminina, enfim… e ai tá todo mundo libertário ai, pô tem isso não, quer beber o tanto que quer, não tem mais isso da mulher ficar na posição quietinha, pode beber. (GF01)

Eu conheço mulheres que bebem muito mais do que homens (GF01)

Eu, particularmente, não vejo tanta diferença em quem consome mais ou quem consome menos, não vejo diferença de gênero não (GF03)

Cada indivíduo é diferente. O ser humano tem suas próprias características de personalidade, valores e atitudes. Entretanto, os resultados obtidos nessa pesquisa aponta que a experiência universitária pode corresponder a um momento de maior vulnerabilidade para o consumo de álcool e outras substâncias psicoativas, e isso pode ser influenciado por alguns fatores e práticas e gerar consequências na vida do estudante.

Fatores e práticas que influenciam o consumo de álcool entre os estudantes

Mudanças relacionadas ao ingresso dos estudantes na universidade, como a migração para outra cidade, distanciamento da família e de suas normas, sentimento de maior liberdade e independência podem ser considerados fatores que influenciam no consumo de bebidas alcóolicas. Sobre essas mudanças que ocorrem após esse acesso à universidade, os participantes dos grupos focais relataram que alguns estudantes passam a ter uma sensação de liberdade, fazendo com que tenham coragem de ter atitudes que antes não tinham, devido ainda residirem com os pais.

A maioria tá fora da casa dos pais, não tem o controle, não tem vergonha de chegar em casa bêbado, vergonha de sair com os amigos pra beber… (GF02)

Eu acho que o afastamento da família influencia no consumo do álcool, não tem mais a vergonha de chegar bêbado em casa, você tem sua liberdade, tem a responsabilidade porque ah’, eu estou em casa, meu pai e minha mãe me sustentam”… e aqui eu não tenho que acordar pra ir trabalhar, posso levantar e ir pra aula de ressaca (GF02)

A maioria dos estudantes é de fora e saem das casas de seus pais muito novos e vem e acabam perdendo um pouco o controle no sentido de que antes eles tinham que prestar contas aos pais e eles se veem numa liberdade maior… (GF03)

A questão de jovens que saem de casa muito cedo e que aqui encontram um ambiente mais propício a esse consumo…(GF03)

Essa liberdade e a independência atreladas a um afastamento da supervisão dos pais, podem constituir fatores de vulnerabilidade para o consumo de álcool. Essa população que passa a morar em uma cidade longe dos familiares cria vínculos maiores de amizades com outros jovens, esses também podem exercer um papel de influência para tal consumo. A influência ao consumo de álcool por parte dos pares funcionaria como uma força que caminharia em sentido a aceitação pelo grupo, como foi descrito em uma fala de um integrante do grupo focal.

Acho que a juventude, ela é ao tempo todo pressionada, por isso a busca da liberdade e esse aumento do uso de drogas, aqui a gente também tem que pensar, que a juventude que é pressionada, ela também tem uma facilidade enorme em criar laços, em criar vínculos. E existe um fator que é muito grande, que a gente às vezes esquece que é a questão da pressão do grupo. Eu por exemplo, eu não bebo, mas eu fui para uma última festa em que eu bebi, não porque eu queria me libertar, mas eu tinha um grupo pressionando. Veja, não é só isso, mas isso também passa a ser um fator.  (GF01)

Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, 67,9% dos estudantes participantes da pesquisa declaram preferir beber socialmente, ou seja, na companhia de outras pessoas. A pesquisa de Ramis et al. (2012) se assemelha com os dados aqui encontrados, onde a maioria dos acadêmicos entrevistados relataram fazer um consumo de álcool com amigos.

Os indivíduos muitas vezes se comportam observando o comportamento de seus pares. Segundo Cardoso e Malbergier (2014) consequências consideradas pelos jovens como positivas decorrentes do comportamento, como valorização social, sensação de pertencimento ao grupo e popularidade, são responsáveis pela influência no consumo de álcool e outras drogas. Sobre essa influência alguns participantes dos grupos focais relataram que:

Há uma grande influência porque meus amigos já me ligam: “Vamos beber?”. Ninguém liga mais pra assistir um filme, pra conversar… Aí mesmo que eu não queira beber eu vou, pra fazer companhia. Às vezes eu falo: “não, não estou a fim de beber não”, a pessoa diz: “então vamos pra acompanhar… Você fica olhando e eu bebo”. Então acho que é influência, pois o maior número de convites pra sair é para beber. (GF01)

Eu ainda brinco com uma colega minha que ela mastiga a bebida, que ela não gosta daquilo. E por que beber, entendeu? Porque ninguém tá forçando ela, mas eu acho que é uma necessidade dela de dizer eu também faço isso, eu faço parte do grupo. (GF01)

O ritual de passagem dos jovens para as universidades, muitas vezes, é estabelecido por maior autonomia, possibilitando novas e diferentes experiências. Os motivos que levam ao consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens são inúmeros. Quando questionados sobre o principal motivo para esse consumo, 29,5% dos estudantes responderam para se divertir com os amigos. Outros motivos que receberam destaque foram para se sentir bem (27,7%), para celebrar ocasiões importantes (15,6%) e para relaxar (8,1%). Estes achados são semelhantes a um estudo realizado por Chiapetti e Serbena (2007) com discentes das áreas de Ciências Biológicas e de Saúde de uma universidade particular da cidade de Curitiba. Nessa pesquisa percebeu-se que as motivações que levam os jovens a consumir o álcool na primeira vez foram a obtenção de prazer ou diversão, o melhor desempenho acadêmico, social ou sexual, por curiosidade ou por influência de amigos(as) e namorados(as).

O consumo de álcool pode justificar a falta de atividades acadêmicas, atrapalhar na concentração durante as aulas, ocasionar atrasos relacionados à vida acadêmica. Esses fatos podem acabar interferindo na formação intelectual dos universitários, como relatado em uma fala do grupo focal.

Eu acho que sim, influencia até bastante, acho que talvez a gente nem percebe mas um dia após aula, as vezes até dois dias após aula, você tá, você não tá no mesmo nível de concentração. É seu sono, seu padrão de sono, ele não tá desregulado, as vezes aumenta, concentração né? Eu acho que é o mais determinante ai. Pelo menos eu, quando eu consumo álcool, que não é frequente viu gente? Eu não fico muito bem no outro dia não, assim pra me concentrar, eu fico meio devagar, e eu acredito que seja um pouco geral né? Os meus colegas todos também têm isso, esse lance da ressaca eu não costumo sentir, dor de cabeça, nada disso, mas eu me sinto um pouco mais lento, um pouco devagar, e dá até um peso na consciência, depois sempre bate aquele, eu podia ter estudado e eu estava na festa, ao invés deu tá fazendo o artigo eu estava bebendo. Eu acho que também isso me atrapalha, porque a gente fica pensando nisso, perdi tempo, mas na outra semana você está lá bebendo. (GF02)

Existem outros prejuízos, além do desempenho acadêmico, que podem ser decorrentes do consumo de álcool e que não foram mencionados pelos participantes da presente pesquisa, como relações sexuais sem proteção, envolvimentos em brigas e maior exposição a danos físicos, como é citado por Fachini e Furtado (2010). As consequências do uso do álcool entre universitários podem ser diversas e graves para ambos os gêneros. Haja vista que tais consequências podem envolver outras pessoas que não necessariamente estão no mesmo grupo, sendo então de fundamental importância analisar as concepções e práticas de redução de danos entre estudantes universitários.

Concepções e práticas de redução de danos

As ações de Redução de Danos têm como finalidade minimizar tanto quanto possível os eventuais prejuízos que podem ser acarretados aos indivíduos pelo uso abusivo ou não de álcool e outras substâncias psicoativas.

Figura 1 – Conhecimento sobre o termo Redução de Danos entre os estudantes participantes da pesquisa. Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Santo Antônio de Jesus, 2014

Um percentual expressivo de participantes da pesquisa (25,4%) referiu não saber ou nunca ter ouvido falar em redução de danos (Figura 1), fato que foi observado no grupo focal, quando um participante declarou o desconhecimento do termo até a apresentação naquele instante.

Não. Acabei de ouvir falar. Não sabia o que era. Eu achei muito interessante (GF02)

Na fase quantitativa da pesquisa, estudantes declararam ter, nos últimos doze meses que precederam à pesquisa, praticado ações como conduzir veículo automotor sob efeito de álcool (8,6%), conduzir veículo automotor após ter ingerido quantidade superior a 5 doses alcoólicas (para homens) ou quantidade superior a 4 doses alcoólicas (para mulheres) dentro de um período de 2 horas (4%), pegar carona com condutor de veículo automotor alcoolizado (48%) ou ter se envolvida em acidentes de trânsito (0,5%), conforme demonstrado na Tabela 1. Essas afirmações demonstram que estes indivíduos passaram por situações de vulnerabilidade em decorrência do uso de álcool. A este respeito, a literatura aponta que uma em cada cinco vítimas de trânsito atendidas nas emergências de hospitais do Sistema Único de Saúde ingeriu bebidas alcoólicas. O consumo de álcool está associado a 21% dos acidentes de trânsito que geraram vítimas atendidas pela rede pública de saúde (BRASIL, 2011).

Tabela 1 – Comportamentos de risco ou proteção relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas entre estudantes participantes da pesquisa. Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Santo Antônio de Jesus, 2014

Nos últimos 12 meses você:Frequência (n)Percentual (%)
Envolveu-se (no caso de ser condutor de veículo automotor) ou foi envolvido (no caso de ser passageiro) em acidentes de trânsito em que alguém se machucou10,5%
Conduziu veículo automotor após ter ingerido quantidade superior a 5 doses alcoólicas (para homens) ou quantidade superior a 4 doses alcoólicas (para mulheres) dentro de um período de 2 horas (binge drinking)74%
Conduziu veículo automotor sob efeito de álcool158,6%
Pegou carona com um condutor da vez (aquele que deu carona porque não bebeu)2212,7%
Pegou carona com condutor de veículo automotor alcoolizado8448%
Foi o condutor da vez (aquele que deu carona porque não bebeu)8448%

A maioria dos participantes da pesquisa (74,6%) sinalizou ter conhecimento sobre o conceito de redução de danos (Figura 1). Algumas práticas relacionadas à redução de danos foram demonstradas quando os participantes da pesquisa indicaram no questionário que assumiram atitudes como, por exemplo: 48% dos participantes foram os condutores da vez (aquele que deu carona porque não bebeu) e 12,7% pegaram carona com um condutor da vez (aquele que deu carona porque não bebeu), conforme dados da tabela 1.

Uma das demonstrações mais claras do uso excessivo de álcool são os acidentes automobilísticos. Geralmente as pessoas sabem quando irão beber, entretanto algumas misturam essa prática com a condução de veículos. A organização feita com antecedência é um plano eficiente de redução de danos. Além do estabelecimento de limites para a bebida, outras medidas podem impedir problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas, como por exemplo não beber sozinho ou garantir carona com um motorista que não tenha bebido (BRASIL, 2004).

Conhecimentos e práticas relacionadas à Redução de Danos foram também ilustradas em relatos dos Grupos Focais.  Os discentes afirmaram consumir água ou refrigerante de forma intercalada ao consumo de álcool ou ingerir alimentos antes do uso de bebidas alcoólicas.

Eu lembro muito de uma experiência no São João que o CCS montou uma barraca e falava de redução de danos e então pediu a bebida, ‘ah, você já bebeu demais, não ta bom de comprar uma água não?’ Eu gostei dessa iniciativa por que meio que apresentava ao pessoal, ‘oh gente, você já bebeu demais, vai te prejudicar, você vai passar mal’. Gostei dessa abordagem. (GF02)”

Esse lance da redução de danos é muito presente nas festas. Cê tá aqui, ai o colega ta com refrigerante, você pergunta: ‘oxem, parou de beber? Não, redução de danos’, virou até bordãozinho dos alunos, sempre toma água, uma refrigerante, tava bebendo bastante e ver que ta ficando… pelo menos eu faço isso e tenho vários colegas que fazem isso. Você percebe que tá ficando já alterado, cabeça começou a rodar, pára e bebe um refrigerante, se melhorar volta, se não, não volta. Mas não deixa de ser redução de danos, eu acho interessante esse tema. A redução de danos aqui ela funciona, na, relacionado aos jovens.(GF02)

Já ouvi sim e prático! Prático quando eu bebo a água (GF03)

Quando eu tenho uma outra coisa pra comer, quando eu como antes de beber, quando eu forro o meu estômago antes (GF03)

O uso do álcool aumenta a perda de água pelo corpo, gerando assim uma desidratação. Sendo assim, a ingestão de água é reconhecida como uma maneira de reduzir danos do álcool, bem como a prática de alimentação (BRASIL, 2001). Quanto ao consumo de bebidas como refrigerantes, não foram identificadas na revisão de literatura informações sobre o seu efeito para a redução de danos relacionado ao consumo de álcool.

A respeito das práticas relacionadas à redução de danos, observa-se que são adotadas pelos participantes da pesquisa principalmente em contextos de festas, sob influência de pares, como um “modismo”, sem necessariamente refletir uma apropriação conceitual acerca da redução de danos.

Do total de participantes, 17% relataram já ter feito o uso simultâneo de bebidas alcoólicas e outras substâncias psicoativas. Entre as muitas combinações, o uso de álcool a outras drogas tem sido a mais comum com o passar dos anos conforme publicada em uma pesquisa divulgada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA, 2007). Segundo Nobrega e Oliveira(2007), essa mistura pode gerar danos pois desencadeia vários efeitos cumulativos, além de casos letais decorrentes da co-ingestão das substâncias.

Esses dados apontam a necessidade de se falar abertamente sobre a questão das drogas nas universidades e no processo de sensibilização da comunidade acadêmica para a adoção de práticas de redução de danos. Dentre os participantes da pesquisa, 55,5% declararam não ter recebido informações sobre o uso de álcool e outras drogas e seu impacto sobre a saúde nos últimos 12 meses na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

Os dados produzidos a partir das sessões de grupo focal são convergentes com os achados quantitativos. Enquanto, na fase quantitativa da pesquisa, 44,5% dos estudantes referiram acesso à informações sobre o uso de álcool e outras drogas e seu impacto na saúde no contexto do CCS, entre os participantes da fase qualitativa do estudo, apenas um estudante relatou ter recentemente recebido informações sobre o assunto no espaço acadêmico.

A universidade pode ser reconhecida enquanto espaço que produz informação acerca de muitas temáticas, inclusive a de álcool e outras drogas. Para isso, é preciso a ampliação desses espaços e das oportunidades de abordar o tema, pensando na prevenção dos reflexos danosos desse consumo. Os participantes dos grupos focais relataram suas considerações sobre isso:

Eu acho que os alunos no CCS mais recentemente eles estão bem engajados com práticas extensionistas de divulgação desse consumo, dos seus malefícios e tal, então isso vem acontecendo com mais presença, eu acho que essas divulgações de corredor elas são mais eficazes do que uma palestra, sério, eu acho muito bom. (GF02)

Eu acho que é interessante também esse tipo de discussão, porque se tornou é, o consumo de álcool e outras drogas ele se tornou um assunto muito banal, e então normalmente as pessoas não tem muita noção do prejuízo que pode causar, embora, a mídia, tudo, esteja ai tentando esclarecer como as coisas funcionam, mas, no ambiente universitário é um pouco mais complicado. Então eu acho assim, que essa, acho muito interessante a questão da redução de danos porque, não é uma coisa que vem de fora para tentar conscientizar as pessoas, mas é ali, tipo, com a convivência com o colega, com a pessoa que tá do lado, é aquela pessoa que vai lhe ajudar naquele quesito. Então eu acho que essa questão dos próprios estudantes terem uma noção, vai ajudar eles a dar noção pros outros estudantes, porque essa relação de igualdade, no que você traz, do que vim uma pessoa de fora, que conhece do assunto, para tentar te explicar porque as coisas não devem acontecer daquela forma. Acho que eu… essa discussão é muito plausível e significativa. (GF02)

É, eu acho que é muito enriquecedor, como ela falou, é importante, mas a sugestão que dou é que não fique só na pesquisa, no primeiro semestre você já viu agora, o tripé da universidade, ensino, pesquisa e extensão! A extensão ela é muito importante, ela é muito esquecida também, o aluno ele só quer pesquisar, só quer estudar e às vezes essa parte de intervenção, acho que fica um pouco escanteada. Como vocês tem um material desse, uma pesquisa de campo. (GF02)

Eu acho que essas discussões são enriquecedoras porque a gente acaba falando um pouco das nossas experiências, vendo onde a gente exagera, onde a gente erra, o que a gente pode fazer para melhorar a nossa própria vida e convívio com nossos amigos. A gente fala muito de redução de danos, mas vai pra uma festa beber e passar mal, ver um amigo bebendo e passando mal, mas a gente não lembra de oferecer a ele uma água quando a gente ver que ele tá ficando alterado.(GF02)

Estratégias de prevenção e assistencial ligadas ao uso de drogas, integrando a academia e a sociedade são necessárias, pois essas visam reduzir o consumo prejudicial e os problemas decorrentes. É fundamental a inclusão da temática álcool e outras drogas nas experiências acadêmicas, pessoais e cotidianas dos universitários para que assim eles se tornem participantes ativos dessa mudança de paradigma dentro da academia.

Considerações Finais

O consumo de drogas (lícitas e ilícitas) transformou-se em uma preocupação mundial nas últimas décadas. O uso de álcool e outras drogas entre estudantes universitários é reconhecido como um problema de saúde pública amplo e complexo. O álcool é a substância psicoativa mais consumida e que acarreta mais danos à população. As bebidas alcoólicas estão a cada dia mais presente no cotidiano das pessoas, sendo consumidas de maneira indiscriminada pela população, por vezes, sem preocupações com as consequências desse uso de álcool para indivíduos e coletividades. 

Os jovens correspondem a um grupo de maior vulnerabilidade para o consumo dessas substâncias e as causas que induzem esses indivíduos a usarem ou não álcool e outras drogas são múltiplas, envolvendo aspectos individuais, familiares e coletivos. A partir da análise dos dados do levantamento realizado no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CCS/UFRB), pode-se contatar que o consumo dos estudantes de graduação participantes da pesquisa assemelha-se ao descrito no I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras (BRASIL, 2010).

Nesse estudo identificaram-se práticas que remetem para vulnerabilidades relacionadas ao uso de álcool entre os estudantes. Uma parcela significativa dos estudantes não tem acesso à informação sobre os possíveis danos relacionados ao uso de álcool no contexto do CCS ou mesmo desconhecem o sentido da expressão “redução de danos”.

Os achados dessa pesquisa evidenciam a importância da inclusão de conteúdos relacionados ao tema álcool e outras drogas e à redução de danos nas atividades acadêmicas promovidas no contexto do CCS/UFRB. Os futuros profissionais de saúde, dentro de sua área de atuação, precisam conhecer e prevenir os danos relacionados ao consumo de substâncias psicoativas. Além disso, os acadêmicos da área da saúde precisam estar preparados para debater sobre estes tópicos, tornando-os próximos dessa realidade.

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1 Bacharela em Saúde-UFRB, Doutoranda em Medicina-USP

2 Bacharel em Saúde-UFRB, Doutorando em Saúde Pública-USP

3 Docente do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde- UFRB, Psicologa e doutora em Saúde Coletiva-UFBA