CONCEPT AND DIAGNOSIS OF MIGRAINE AND ITS RELATIONSHIP WITH HORMONAL ISSUES IN WOMEN.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202502141553
Ana Clara Silva Ribeiro 1
Antonio Ivan Obando Ribeiro 2
Daiane de Sena de Oliveira 2
João Ferreira Gonçalves Neto 2
José Augusto Lobo Favoretto 2
Luan Almeida Japiassu de Freitas Queiroz 2
Maria Eduarda Ruella Góes 2
Mariana Hamida Casale 2
Paulo Teodoro Couto Rodrigues 2
Victor Filipi Lemes Fernandes 2
Resumo
Entende-se a enxaqueca como uma condição neurológica complexa e debilitante, tendo grande enfoque na sua relação intrínseca com as questões hormonais em mulheres. Objetiva-se fornecer um panorama abrangente do conceito, diagnóstico e fisiopatologia da enxaqueca, com ênfase nas particularidades da enxaqueca menstrual e daquela associada ao uso de contraceptivos hormonais. A metodologia empregada consistiu em uma revisão retrospectiva da literatura, com coleta de dados nas bases PubMed, Google Acadêmico e Biblioteca Virtual em Saúde, selecionando 10 artigos publicados entre 2010 e 2025 que abordassem a temática central. Os resultados evidenciam que a enxaqueca, caracterizada por cefaleias latejantes e unilaterais, acompanhadas de náuseas e sensibilidade à luz e som, apresenta uma prevalência significativamente maior em mulheres, o que sugere uma forte influência do sistema endócrino feminino. As flutuações hormonais, especialmente nos níveis de estrogênio, emergem como gatilhos preponderantes para as crises. Conclui-se que o manejo da enxaqueca em mulheres exige uma abordagem multidisciplinar, que considere a complexidade da interação entre os sistemas neurológico e endócrino, visando aprimorar a compreensão da fisiopatologia e desenvolver terapias mais eficazes e personalizadas para melhorar a qualidade de vida das pacientes.
Palavras-chave: Enxaqueca. Hormônios. Mulheres.
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que a enxaqueca é conceituada como uma cefaleia primária debilitante que transcende a mera dor de cabeça e que se manifesta como um complexo distúrbio neurológico. Essa dor é caracterizada como latejante, geralmente unilateral, acompanhada de náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e/ou som, além de implicar grandes impactos na qualidade de vida e produtividade dos indivíduos que são acometidos por tal condição (INTERNATIONAL HEADACHE SOCIETY, 2018).
É notório que a disparidade de gênero na prevalência da enxaqueca aponta para a sua intrincada relação com o sistema endócrino feminino. As flutuações hormonais, em particular as variações dos níveis de estrogênio, marcam um gatilho preponderante para as crises de enxaqueca em mulheres. Observa-se que desde a puberdade, com o advento do ciclo menstrual, até a menopausa, com o declínio dos hormônios ovarianos, as mulheres experimentam diferentes fases de vulnerabilidade à enxaqueca, diretamente relacionadas às mudanças hormonais intrínsecas a cada período (FEBRASGO, 2021).
Além disso, ressalta-se que a influência hormonal na enxaqueca ultrapassa as flutuações naturais do ciclo de vida feminino, e se estende ao uso de contraceptivos hormonais, amplamente difundidos em mulheres com idade reprodutiva, que podem exacerbar ou desencadear as crises de enxaqueca, devido às alterações dos níveis hormonais causadas por esses medicamentos (FEBRASGO, 2021).
Nesse cenário, ao abordar as particularidades da enxaqueca menstrual e da enxaqueca associada ao uso de contraceptivos hormonais, objetiva-se fornecer um panorama abrangente e atualizado sobre o tema, visando aprimorar a compreensão e o manejo da enxaqueca em mulheres, promovendo uma melhor qualidade de vida e bem-estar.
2 METODOLOGIA
A presente revisão da literatura, de natureza retrospectiva, teve como objetivo sintetizar o conhecimento existente sobre o tema em questão. A coleta de dados foi realizada por meio de buscas nas bases de dados PubMed (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), Google Acadêmico e Biblioteca Virtual em Saúde. A seleção dos artigos foi guiada por critérios de elegibilidade pré definidos.
Foram incluídos estudos que abordassem a temática central no período de 2010 a 2025, que estivessem disponíveis na íntegra e de forma gratuita, e que fossem redigidos em inglês ou português. Um total de 10 artigos foram selecionados com base nesses critérios. Artigos que não se alinhavam com a temática central da revisão ou que foram publicados fora do período de tempo especificado foram excluídos. Essa estratégia de exclusão visou garantir a relevância e a atualidade das informações sintetizadas nesta revisão.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A enxaqueca, também conhecida como migrânea ou hemicrania, é uma doença neurológica, genética e crônica que se manifesta por crises de cefaleia de intensidade moderada a forte, frequentemente latejante e unilateral. As crises podem durar de 4 a 72 horas e são acompanhadas por sintomas como náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia), ao som (fonofobia) e, em alguns casos, aos cheiros (osmofobia). Em cerca de 25% dos pacientes, a enxaqueca é precedida por aura, um distúrbio neurológico transitório que pode afetar a visão, a sensibilidade ou a fala. Atualmente, entende-se que a enxaqueca é uma doença que afeta todo o cérebro, onde a predisposição genética interage com fatores ambientais, desencadeando as crises. O diagnóstico é clínico e se baseia nos critérios da Classificação Internacional de Cefaleias (ALVES, [s.d.]).
A fisiopatologia da enxaqueca é multifacetada, envolvendo uma complexa interação de eventos neuroquímicos e neurovasculares. Acredita-se que a ativação do sistema trigeminovascular desempenhe um papel central, com os axônios periféricos do gânglio trigeminal inervando estruturas intracranianas sensíveis à dor, como as meninges. Quando ocorre um estímulo nessas estruturas, as fibras sensoriais são ativadas e transmitem informações para o complexo trigeminocervical (CTC) no tronco cerebral, liberando neuropeptídeos como o CGRP, neuroquinina A e PACAP. A predisposição genética também desempenha um papel significativo, com diversos loci gênicos associados à enxaqueca expressando genes em tecidos vasculares e gastrointestinais (NORONHA; BERTOLINI, 2008).
A depressão alastrante (DA), um fenômeno neurológico caracterizado por uma onda de despolarização neuronal lenta que se propaga pelo córtex, também tem sido implicada na fisiopatologia da enxaqueca. A passagem da DA ativa o núcleo do trigêmeo e está relacionada à liberação de CGRP e óxido nítrico (NO). Embora o papel exato da DA na ativação trigeminovascular ainda necessite de esclarecimentos adicionais, estudos demonstram que ela pode levar à dilatação dos vasos arteriais na pia-máter. Em resumo, a fisiopatologia da enxaqueca envolve a ativação da via trigeminal, vasodilatação cerebral, inflamação neurovascular, sensibilização central e uma predisposição genética subjacente (NORONHA; BERTOLINI, 2008).
Já a enxaqueca menstrual se refere a crises de enxaqueca que ocorrem em relação ao ciclo menstrual da mulher. A International Headache Society (IHS) reconhece dois tipos principais: a migrânea relacionada à menstruação, que ocorre regularmente entre dois dias antes e três dias depois do início da menstruação, com crises adicionais em outros momentos do ciclo, e a migrânea menstrual pura, que se manifesta exclusivamente nesse período perimenstrual. A prevalência da enxaqueca menstrual é significativa, afetando uma parcela considerável das mulheres com enxaqueca, impactando sua qualidade de vida e bem-estar (FERREIRA; BOLINELLI; PAGOTTO, 2015).
A fisiopatologia da enxaqueca menstrual está intrinsecamente ligada às flutuações hormonais características do ciclo menstrual, em especial a queda nos níveis de estrogênio que ocorre nos dias que antecedem a menstruação. Essa diminuição do estrogênio pode desencadear uma cascata de eventos neuroquímicos no cérebro, incluindo a liberação de prostaglandinas, que contribuem para a sensibilização das vias da dor e o surgimento da crise de enxaqueca. Acredita-se que a modulação dos sistemas glutamatérgicos e serotoninérgicos pelos hormônios ovarianos também desempenhe um papel importante na fisiopatologia da enxaqueca menstrual (FERREIRA; BOLINELLI; PAGOTTO, 2015).
A fisiopatologia dessa relação envolve a sensibilidade do sistema nervoso central às alterações hormonais. O estrogênio, em particular, tem um impacto significativo nos sistemas de neurotransmissores envolvidos na enxaqueca, como o sistema serotoninérgico. As mudanças nos níveis de estrogênio induzidas pelo uso de contraceptivos hormonais podem desencadear uma cascata de eventos neuroquímicos que culminam em uma crise de enxaqueca. A progesterona também pode desempenhar um papel, embora sua influência seja menos clara e possa variar dependendo do tipo de progestágeno utilizado no contraceptivo (CARVALHO, 2025).
4 CONCLUSÃO
Em suma, esta revisão da literatura reafirma a enxaqueca como uma condição neurológica complexa e multifatorial, com uma prevalência maior em mulheres, o que destaca a intrincada relação com o sistema endócrino feminino. As questões hormonais, especialmente as variações nos níveis de estrogênio ao longo do ciclo menstrual e em diferentes fases da vida reprodutiva, emergem como gatilhos preponderantes para as crises de enxaqueca. Além disso, o uso de contraceptivos hormonais pode exacerbar ou desencadear a condição em mulheres predispostas, o que reforça a importância de uma avaliação individualizada na escolha do método contraceptivo.
Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de uma abordagem abrangente e multidisciplinar no manejo da enxaqueca em mulheres, que considere tanto os aspectos clínicos e neurológicos quanto as particularidades do sistema endócrino feminino. Estudos futuros devem se concentrar em aprofundar a compreensão dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na relação entre hormônios e enxaqueca, bem como em desenvolver terapias mais eficazes e personalizadas para o alívio dos sintomas e a melhoria da qualidade de vida das pacientes.
REFERÊNCIAS
INTERNATIONAL HEADACHE SOCIETY. Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) the International Classification of Headache Disorders, 3rd Edition. Cephalalgia, v. 38, n. 1, p. 1–211, jan. 2018.
PAHIM, L. S.; MENEZES, A. M. B.; LIMA, R. Prevalência e fatores associados à enxaqueca na população adulta de Pelotas, RS. Revista de Saúde Pública, v. 40, n. 4, p. 692–698, ago. 2006.
Febrasgo POSITION STATEMENT Publicação oficial da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Migrânea e terapia hormonal. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.febrasgo.org.br/media/k2/attachments/FeminaZ2021Z49Z-Z10.pdf>. Acesso em: 7 fev. 2025.
NORONHA, S. M.; BERTOLINI, G. L. Fisiopatologia da enxaqueca. Revista Uningá, v. 16, n. 1, 20 jun. 2008.
ALVES, B. / O. / O.-M. Enxaqueca | Biblioteca Virtual em Saúde MS. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/enxaqueca/>.
FERREIRA, K. DOS S.; BOLINELLI, L. P.; PAGOTTO, L. C. Migraine and menstrual cycle synchrony in females: is there a relationship? Case report. Revista Dor, v. 16, n. 2, 2015.
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1 Discente do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário de Mineiros Campus Mineiros e-mail: anaclara06022003@hotmail.com
2 Discente do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário de Mineiros- Unifimes