COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS E ACOLHIMENTO AOS FAMILIARES DO PACIENTE CRÍTICO PELO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

COMMUNICATION OF BAD NEWS AND WELCOME TO CRITICAL PATIENT’S FAMILIES BY THE NURSING PROFESSIONAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10365233


Bárbara Fernandes Neves1
Newton Ferreira de Paula Júnior2


RESUMO

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se caracteriza pela alta complexidade, monitoramento contínuo e ininterrupto, destinando-se ao atendimento de pacientes críticos. Comunicar más notícias neste ambiente gera sentimentos intensos para o paciente e seus familiares. Objetivo: compreender por meio de uma revisão integrativa de literatura, como a equipe de enfermagem comunica aos familiares de pacientes críticos, más notícias.  Metodologia: realizou-se uma revisão integrativa de literatura, nas bases de dados com interface na biblioteca virtual de saúde e portal CAPES, entre os anos de 2019 e 2023, nos idiomas português, inglês e espanhol. Resultados e Discussão: A partir da pesquisa foram encontrados 28 estudos, após aplicação dos critérios de exclusão e inclusão, obteve-se o total de 13 estudos, que compuseram o corpus dessa revisão. Após leitura dos artigos selecionados, emergiram três categorias: 1. Dificuldades da equipe de enfermagem na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes internados na UTI; 2. Preparo da enfermagem para a comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes internados na UTI e 3. Realidade encontrada na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI. Considerações Finais: A equipe de enfermagem comunica aos familiares de pacientes críticos, más notícias, com muitas dificuldades, em alguns estudos identificou-se o uso de estratégias como implementação do protocolo SPIKES, ou dos princípios de Travelbee, que podem ajudar a sistematizar essa comunicação de forma humanizada e empática.

Palavras-Chave: Comunicação. Enfermagem. UTI.

ABSTRACT

The Intensive Care Unit (ICU) is characterized by high complexity, continuous and uninterrupted monitoring, and is intended to care for critical patients. Communicating more news in this environment generates intense feelings for the patient and their families. Objective: to understand, through an integrative literature review, how the nursing team communicates more news to the family members of critically ill patients. Methodology: an integrative literature review was carried out, in databases interfaced with the virtual health library and CAPES portal, between the years 2019 and 2023, in Portuguese, English and Spanish. Results and Discussion: From the search, 28 studies were found, after applying the exclusion and inclusion criteria, obtaining a total of 13 studies, which made up the corpus of this review. After reading the selected articles, three categories emerged: 1. Difficulties of the nursing team in communicating more news to the families of patients admitted to the ICU; 2. Nursing preparation for communicating more news to the families of patients admitted to the ICU and 3. Reality found in communicating more news to the families of patients in the ICU. Final Considerations: The nursing team communicates more news to the families of critical patients, with many difficulties, in some studies it was agreed to use strategies such as implementing the SPIKES protocol, or the Travelbee principles, which can help to systematize this communication in a humanized and empathetic way.

Keywords: Communication. Nursing. ICU.

1.     INTRODUÇÃO

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) caracteriza-se pela alta complexidade, monitoramento contínuo e ininterrupto, e destina-se ao atendimento de pacientes criticamente enfermos. Comunicar más notícias neste ambiente, gera sentimentos intensos para o paciente, seus familiares e para os próprios profissionais. O paciente crítico é aquele que apresenta um ou mais de seus sistemas comprometidos e em alguns casos, instabilização hemodinâmica. Caso não seja assistido em ambiente apropriado, como a UTI, pode ter como desfecho a morte. Nesse contexto, os pacientes de UTI e Urgência e Emergência são considerados críticos por correr risco de morte ou apresentar condição clínica frágil, decorrente de traumas ou outras condições relacionadas a processos que necessitem de cuidados imediatos ou suporte e tratamento (HAAS; BRUST-RENCK, 2022)

A comunicação de más notícias é uma das funções mais árduas e complexas, determinadas aos profissionais da saúde tendo que fundá-las quanto à individualidade de cada pessoa e circunstância (CARNEIRO, 2017). A família, por ser integrante principal nesse momento, deve receber acolhimento dos profissionais da saúde visando adquirir apoio e o resguardo de sentimentos de angústia e inquietação, além de proporcionar humanização e qualidade no cuidado prestado (CERQUEIRA, 2017).

De acordo com Cerqueira (2017), o processo de comunicação na área da saúde é necessário e importância. O mesmo autor, salienta o direito de informação por parte do familiar e a responsabilidade do profissional de saúde por notificar de forma concisa a sua situação clínica. No entanto, o (a) enfermeiro (a) está diretamente ligado à essa função, e deve proporcionar suporte ao (à) paciente e seus familiares que acompanham o processo (CAMILO et al., 2022).

Nesse sentido, a má notícia é definida como uma informação que será interpretada como negativa e pode haver mudança drástica na vida do indivíduo, transformando sua concepção futura. A forma como essa informação negativa é apresentada, intervém de maneira direta nos sentimentos do indivíduo que a recebe, o que pode causar desconforto emocional, aflição, ansiedade e sofrimento (CINTRA; DIAS; CUNHA, 2022).

O acolhimento ao familiar, pelo (a) enfermeiro (a) tem papel fundamental na relação entre paciente-familiar-profissional. Contudo, o (a) profissional deve manter a visão holística e implementar o acolhimento de forma calma e empática, visto que caso isso não ocorra, poderá influenciar diretamente no estado de saúde do paciente grave, quanto à sua terapêutica e transmitir sentimentos de medo e insegurança ao familiar (CERQUEIRA, 2017).

Todavia, vê-se a necessidade de o profissional preparar-se durante a sua formação para que essa abordagem ao familiar seja confortável, tanto para o profissional quanto para a família. É necessário que o profissional de enfermagem consiga individualizar cada situação de maneira competente e criteriosa, isso inclui experiências, crenças e expectativas positivas independente da complexidade do paciente grave (CINTRA; DIAS; CUNHA, 2022).

É importante ressaltar que há um abismo teórico quanto a humanização sobre a comunicação de más notícias, e posteriormente, ao acolhimento dos profissionais de enfermagem, o levantamento dessas percepções pode facilitar o apontamento de questões a serem mais investigadas. O preparo dos profissionais nesse momento é relevante, visto que, tem uma parcela significativa de profissionais da área da saúde e da enfermagem que não tiveram formação adequada e treinamento suficiente para desenvolver tal habilidade (CAMILO et al., 2022).  

A comunicação é definida como a transmissão de informações entre pessoas e pode ser feita de forma verbal e não verbal. Mais do que isso, muitas vezes significa compartilhar informações e oferecer apoio emocional. Assim, a empatia é essencial para que essa comunicação seja adequada. Além disso, a comunicação deve ser considerada uma via de mão dupla. As formas de entender a informação que se busca transmitir também dependem do contexto sociocultural e pessoal do destinatário. Portanto, no processo de comunicação, ambas as partes precisam se entender e se apoiar (MARÇOLA et al., 2020).

Portanto, este estudo visa elucidar a questão norteadora: “Como a equipe de enfermagem comunica as más notícias e acolhe os familiares dos pacientes críticos (UTI e Urgência e Emergência)?”

Diante disso, essa pesquisa tem por objetivo conhecer como a equipe de enfermagem comunica aos familiares dos pacientes críticos as más notícias e conhecer como a equipe de enfermagem acolhem os familiares dos pacientes críticos internados na UTI após informar que eles apresentaram instabilidade ou faleceram. Possivelmente permitirá compreender as percepções e ações que os profissionais responsáveis têm ao informar as más notícias, identificando pontos que podem ser trabalhados para que isso seja feito de forma mais eficiente e eficaz, ao mesmo tempo que proporcionará uma melhor assistência de enfermagem.

2.     REFERENCIAL TEÓRICO

A comunicação é uma competência que não é desenvolvida de forma suficiente entre os profissionais da saúde. Portanto, é considerada um grave problema, pois, a má comunicação pode prejudicar o relacionamento com a família e os usuários do sistema de saúde, além de gerar confusão, ansiedade e desconfiança na própria equipe de saúde. Os profissionais devem informar a família para que ela possa assimilar e incentivá-la a perguntar com confiança tudo o que ela não entender. Existem diretrizes para desenvolver as habilidades de comunicação, a saber: desenvolver empatia; cuidar do meio ambiente; usar uma linguagem compreensível e verdadeira (PALOMO NAVARRO; LÓPEZ CAMPS, 2020).

O uso destas orientações pode levar ao sucesso na comunicação. A comunicação efetiva gera confiança, apoio emocional, ajuda na tomada de decisões, compreensão do diagnóstico e prognóstico. A capacidade empática é facilitada quando o profissional verifica o entendimento das informações após a sua emissão, em especial, relacionada à previsão. É comum que as famílias não aceitem a capacidade dos profissionais da saúde em prever, que também não pode ser realizada de forma categórica que não possibilite a mudanças na previsão. Também os profissionais de saúde podem enfrentar muitos obstáculos, inclusive sentir-se despreparados (VAN KEER et al., 2019; PALOM; NAVARRO; LÓPEZ CAMPS, 2020).

Logo, o prognóstico deve ser expresso como uma probabilidade em função da resposta do usuário, concedendo lugar a uma discussão aberta sobre ele, desta forma, à medida que a situação evolui, a família reconhecerá qual o caminho entre os plausíveis que tomou e o seu possível fim. Deve-se buscar um consenso com a equipe no que cerne a tomada de decisões. As recomendações realizadas acerca do tratamento não podem ser fundamentadas somente nas melhores evidências científicas, como também precisam acomodar os valores do indivíduo em tratamento e de seus respectivos ambientes. A equipe deve encorajar e respeitar as opiniões dos pacientes e familiares, ouvir ativamente e fornecer apoio (VAN KEER et al., 2019; PALOMO NAVARRO; LÓPEZ CAMPS, 2020).

Más notícias podem ser entendidas como qualquer informação que afete a percepção do indivíduo sobre seu futuro, sendo considerada negativa pelo receptor. Dar más notícias aos pacientes e suas famílias é um desafio. A primeira experiência da família em que essa notícia é dada influencia muito a forma como eles encaram o problema e lidam com ele posteriormente. Por isso, é importante que o profissional envolvido esteja ciente de como a má notícia deve ser transmitida. Os profissionais de saúde devem estar bem-preparados e comunicar isso em tempo hábil, repetida e cuidadosamente, de maneira honesta e clara (VAN KEER et al., 2019; MARÇOLA et al., 2020).

Em termos de cuidados de saúde, considera-se má notícia “qualquer informação que produza uma mudança nas perspectivas da pessoa sobre o seu presente e futuro”; está constantemente associada a situações de perda e/ou qualquer informação que não seja bem-vinda. Frequentemente, os termos “más notícias” ou “notícias difíceis” estão ligados a situações de perda e/ou a quaisquer informações que não sejam bem-vindas, e podem causar dano de caráter emocional e psicológico ao receptor (CABEÇA; MELO, 2020; CABEÇA et al., 2022).

Van Keer et al. (2019)explicam que a comunicação eficaz de más notícias se torna mais complexa para profissionais que trabalham em contextos tecnologicamente orientados, em que a pressão do tempo e o objetivo de salvar a vida dos pacientes são comuns, por exemplo nas UTI. Em tal âmbito os profissionais constantemente precisam comunicar más notícias porque os pacientes assistidos por eles estão em estado muito frágil e vulnerável. A equipe da UTI por vezes carece de proficiência em tal comunicação e se sente culpada/incompetente quando não consegue salvar os pacientes, devolvê-los para a sociedade. No entanto, más notícias devem ser transmitidas no momento mais oportuno e da melhor forma possível, pois melhoram a tomada de decisões no final da vida, a satisfação das famílias e da equipe e o cuidado dos pacientes.

Na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), os pais enfrentam diariamente situações difíceis. Eles ficam imersos no desconhecido em um ambiente de cuidado complexo, confrontados com medo, incerteza, barulho e comoção constante. Nesta área técnica e estressante, combinada com a ansiedade e confusão sobre a saúde de seus filhos, os pais devem tomar decisões informadas, muitas vezes com pressa, em busca do que é “melhor” para seus filhos. Estas decisões, muitas vezes geram um pensamento ético, têm um impacto significativo no estado emocional dos pais, na sua representação idealizada da parentalidade, no equilíbrio da família e no futuro da criança (BONNOT FAZIO et al., 2022).

Além de tais aspectos, alguns familiares associam a má notícia com o óbito do bebê e outros relacionam a qualquer fato negativo que a família não esperaria. Os profissionais veem esse momento como o rompimento de sonhos e expectativas, e o classifica como negativo e doloroso. Embora o (a) enfermeiro (a) não atue de maneira ativa na comunicação de más notícias, seu papel é reconhecido como essencial no momento após a comunicação, pois fornece amparo, esclarece dúvidas, atende às necessidades e individualiza o cuidado ao paciente e família (CAMILO et al., 2022).

No contexto de hospitalização de crianças em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), devido à complexidade dos cuidados necessários e à crescente dependência de tecnologia, é frequente que a família seja abordada por profissionais com informações que podem ser consideradas notícias difíceis. Quando se trata de criança em cuidados intensivos, as notícias anunciadas pelos profissionais de saúde causam intenso sofrimento à família, que demanda cuidados durante a hospitalização. Diante das situações imprevisíveis, os familiares apresentam sentimentos negativos, como choque, impotência, desespero e medo de morte da criança, com repercussões no cotidiano (CABEÇA et al., 2022).

O ocultamento das informações ao paciente pediátrico por parte dos profissionais da saúde pode ser motivado por vários fatores, tais como: inabilidade de profissionais em abordá-la verbalmente; medo de que a criança não coopere com o tratamento e desejo de proteger seu emocional, o que diminui o impacto da realidade. Entretanto, a falta de diálogo entre médicos (as) e pacientes pediátricos pode ser fonte de maior angústia e ansiedade, uma vez que, mesmo sem saber de fato o que está acontecendo, a criança percebe as mudanças em seu corpo, na rotina e no curso do tratamento, razão pela qual os (as) profissionais precisam estabelecer comunicação adequada e acolhedora (SOEIRO; VASCONCELOS; SILVA, 2022).

No contexto das UTIP é comum que familiares sejam abordados por profissionais de saúde com más notícias. Condições graves de saúde podem ter impacto significativo na família, como diagnósticos suspeitos, falha de terapias curativas, necessidade de procedimentos paternos e/ou desconfortáveis, indicações de procedimentos cirúrgicos, internações prolongadas, prognóstico reservado e/ou questões sobre o fim da vida indicação de cuidados (CABEÇA; MELO, 2020).

Comunicar notícias difíceis é considerada incumbência laboriosa que empreende conhecimento, perícia e habilidade, uma vez que não há como mudar a realidade a ser revelada. Ademais, informações insuficientes, bem como o uso de jargão ou linguagem altamente técnica, podem dificultar a compreensão da notícia pela família. Então, podem acontecer ruídos de comunicação, ou seja, qualquer fonte de distorções de mensagens comunicadas por falta de clareza e, até mesmo, falhas, como atitudes de silenciamento e informações enganosas de tratamento e/ou cura, comprometendo o processo de comunicação. O uso de protocolos nesses treinamentos pode ser muito útil, pois funcionam como um guia para dar más notícias (MARÇOLA et al., 2020; CABEÇA et al., 2022).

Nos casos em que há a possibilidade iminente de morte de crianças, isto é, quando a perspectiva da ordem natural dos ciclos de vida é interrompida, diversos questionamentos circundam familiares e profissionais sobre a existência do ser. Aproximadamente 60% das mortes ocorrem em hospitais e a maioria das mortes hospitalares ocorre em UTI. Isto posto, pode-se afirmar que alguns dos fatores que afetam o processo de luto estão associados ao período na UTI. Nesse momento, é indispensável entender todas as implicações e contribuições da assistência dada à criança e sua família, acolher os sentimentos, promover oportunidades de escuta, apoio e superação de dor (GÜVEN et al., 2022 MEDEIROS et al., 2022).

Ainda, existem muitas barreiras que impedem um cuidado eficiente e humanizado, como, por exemplo, regras da instituição, barreiras físicas, como falta de infraestrutura adequada, rotinas pré-estabelecidas, além dos próprios indivíduos envoltos na assistência, uma vez que não são todos que se mostram solícitos à flexibilização e readequação da assistência. Diante disso, o (a) profissional deve tentar propor estratégias para adequar a realidade do serviço às necessidades dos pais. Tem-se a necessidade de promoção de espaços de reflexão sobre o cuidado oferecido ao recém-nascido em cuidados paliativos e sua família durante o processo de comunicação de más notícias (CAMILO et al., 2022).

O protocolo SPIKES, nesse sentido, pode ser utilizado nas UTI, que é amplamente utilizado em oncologia, mas aplicável em qualquer situação clínica ao lidar com más notícias. Constitui uma série de seis etapas consecutivas e cria um ambiente favorável à divulgação de notícias de forma delicada, informativa e compassiva, conforme mostrado na figura 1 a seguir (MARÇOLA et al., 2020).

Quadro 1 – Protocolo SPIKES

SeetingCenário  Refere-se a um local apropriado para a conversa, mas também à presença de pessoas importantes para quem a notícia é recebida (profissionais e familiares)
PerceptionPercepçãoCompreender o que o paciente e/ou familiar sabe sobre a doença
InvitationConviteConfira e respeite a quantidade de informações desejadas
KnowledgeConhecimentoPassar a informação gradualmente, usando pausas e repetições para permitir que a pessoa absorva
EmotionsEmoçõesEmpatia – demonstrar apoio e compreensão ao acolher os sentimentos provocados pela notícia
SummarizeEstratégiaResumo – encerrar a conversa e incluir um plano de cuidados.

Fonte: Traduzido de Marçola et al., (2020).

Assim como o SPIKES, existem outros protocolos semelhantes, como o EMPATIA – que recomenda lidar com as Emoções em um ambiente adequado (Reunião), compreendendo primeiro o conhecimento que o Paciente/família já possui, uso de Linguagem Adequada; o direito do paciente/família; verdade e esperança; e seu empoderamento (Sim para empoderamento) para a tomada de decisões. Também, tem-se teoria de médio alcance da Relação Interpessoal, formulada por Joyce Travelbee, em 1966, como uma possibilidade de estratégia de cuidado, que foi criada em torno das relações entre duas pessoas, em que uma presta assistência a outra (MARÇOLA et al., 2020).

A teoria de Travelbee orienta a relação entre enfermeiro e sujeito/família, com objetivo de ensinar o profissional a explorar o sentido da doença e sofrimento, com ênfase em apoiar o outro a descobrir novos significados em meio à dor. Ela pode ofertar condições necessárias de enfrentamento aos sentimentos de adoecimento,  terminalidade da vida e luto. Prestar cuidados, na teoria das relações, é um processo de interação ativo, mútuo, estabelecido mediante a comunicação, em que as relações se tornam terapêuticas enquanto existe o compromisso e intencionalidade em enxergar o outro como único em suas singularidades e necessidades (MEDEIROS et al., 2022).

3.     METODOLOGIA

Para desenvolvimento do estudo realizou-se uma revisão integrativa de literatura (RIL), que é desenvolvida a partir de materiais científicos já elaborados, como artigos, estudos científicos, feita em cinco etapas subsequentes: formulação do problema; coleta de dados; avaliação dos dados; análise e interpretação das informações e divulgação dos dados (GIL, 2008). A coleta de dados realizou-se em fontes disponíveis online, a busca foi realizada em maio de 2023.

A coleta de dados foi realizada nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), interface com Biblioteca Virtual de Saúde  (BVS), biblioteca digital Scientific Electronic Library Online (SciELO); Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica e base de dados bibliográficos da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América (MEDLINE) (interface com BVS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) (interface com BVS) e banco de teses da Portal de Periódicos Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, fundação do Ministério da Educação (CAPES/MEC).

Os Descritores adotados no idioma português, com seus respectivos significados em inglês foram: más notícias/bad new; comunicação/comunication; enfermagem/nursing; enfermeiro/nurse; UTI/ICU. Os critérios para a escolha dos descritores consistiram em: pertencer ou representar, ao menos em parte, a temática do estudo e apresentar uma ou mais artes marciais e seus efeitos no bem-estar psicológico dos praticantes. Os descritores foram combinados em cada base de dados a partir da utilização do operador booleano AND.

Adotou-se como critérios de inclusão dos estudos: artigos completos; artigos que tratam do tema proposto, disponíveis no idioma vernáculo (português) e estrangeiro (inglês) e artigos indexados nas bases de dados mencionadas. Foram excluídos trabalhos publicados em anais de eventos, editoriais, cartas e estudos duplicados nas bases de dados.

Após seleção dos artigos, fez-se a leitura explorativa dos que respondiam aos descritores adotados e, posteriormente, o tratamento dos dados, aplicando-se o método da análise de conteúdo. Para divulgação dos dados foram verificados os pontos de convergência e divergência entre os artigos e a relação entre os achados e a questão de pesquisa.

Adotou-se como critérios de inclusão dos estudos: artigos disponíveis na íntegra gratuitamente; com o tema de comunicação de más notícias no contexto da UTI disponíveis no idioma português, inglês e espanhol; indexados nas bases de dados mencionadas, publicados no período de 7 anos (entre 2017 e 2023) a fim de analisar e divulgar informações científicas atualizadas sobre a temática em questão. Foram excluídos anais de eventos e artigos duplicados nas bases.

Para delimitação da busca usou-se a estratégia PCC, sendo (P) População – Neonatos, Crianças, Adolescentes, Jovens, Adultos e Idosos, (C) Conceito – Comunicação de más notícias, e (C) UTI, UTIN e UTIP.

Após seleção dos artigos, fez-se a leitura explorativa dos artigos que respondiam aos descritores adotados e, posteriormente fez-se o tratamento dos dados, aplicando o método de análise de conteúdo. Depois, para divulgação dos dados, verificou-se os pontos de convergência e divergência entre os artigos e a relação entre os achados e a questão de pesquisa.

Quadro 2. Estratégias de busca de artigos utilizadas para a realização da revisão sistemática, Itumbiara, 2023.

Bases de DadosEstratégias de Busca
MEDLINE(“UTI” and “comunicação” and “más notícias” “Enfermagem” or nurse$) [Title] (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news” and “Enfermagem” and “Unidade de Terapia Intensiva”) [Title/subject/abstract], ((“enfermagem” AND “comunicação” and “más notícias” AND “unidade de terapia intensiva”)) [Title] ((“”comunicação” and “más notícias” and “enfermagem” and “UTI”)) [Title/subject/abstract], (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news” and “nurse” OR “enfermagem” and “UTI” OR “Unidade de terapia intensiva” or Intensive Care Units OR “ICU) [Title/subject/abstract]
BDENF(“UTI” and “comunicação” and “más notícias” “Enfermagem” or nurse$) [Title] (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news” and “Enfermagem” and “Unidade de Terapia Intensiva”) [Title/subject/abstract], ((“enfermagem” OR “nurse” AND “comunicação” and “más notícias” AND “unidade de terapia intensiva”)) [Title] ((“”comunicação” and “más notícias” and “enfermagem” and “UTI”)) [Title/subject/abstract], (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news” and “nurse” OR “enfermagem” and “UTI” OR “Unidade de terapia intensiva” or Intensive Care Units OR “ICU) [Title/subject/abstract]
LILACS(“UTI” and “comunicação” and “más notícias” “Enfermagem” or nurse$) [Title] (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news”) [Title/subject/abstract], ((“enfermagem” AND “comunicação” and “más notícias” AND “unidade de terapia intensiva”)) [Title] ((“”comunicação” and “más notícias” and “enfermagem” and “UTI”)) [Title/subject/abstract], (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news” and “nurse” OR “enfermagem” and “UTI” OR “Unidade de terapia intensiva” or Intensive Care Units OR “ICU) [Title/subject/abstract]
SciELO(“UTI” and “comunicação” and “más notícias” “Enfermagem” or nurse$) [Title] ((“enfermagem” AND “comunicação” and “más notícias” AND “unidade de terapia intensiva”)) [Title] ((“”comunicação” and “más notícias” and “enfermagem” and “UTI”)) [Title/subject/abstract], (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news” and “nurse” OR “enfermagem” and “UTI” OR “Unidade de terapia intensiva” or Intensive Care Units OR “ICU) [Title/subject/abstract]
Portal CAPES(“UTI” and “comunicação” and “más notícias” “Enfermagem”) [Title] (“comunicação” OR “comunication” and “más notícias” OR “bad news” and “Enfermagem” and “Unidade de Terapia Intensiva”) [Title/subject/abstract], ((“enfermagem” AND “comunicação” and “más notícias” AND “unidade de terapia intensiva”)) [Title] ((“”comunicação” and “más notícias” and “enfermagem” and “UTI”)) [Title/subject/abstract]

Fonte: Dados da Pesquisa, 2023.

Assim, foram analisadas as palavras contidas nos títulos, resumos e descritores, para delimitar os estudos que poderão ser incluídos na presente pesquisa. Os estudos selecionados que responderem à questão norteadora desta revisão foram lidos na íntegra, para que o conteúdo fosse analisado, sintetizado, extraiu-se as evidências encontradas nos estudos de acordo com a temática, que foram analisadas e apresentadas.

Destaca-se que foi considerado neste estudo para classificar o nível de evidência (N.E.) dos artigos do sistema de classificação que é composto por sete níveis, conforme apresentado no quadro 3.

Quadro 3 – Hierarquia de evidências para estudos de intervenção.

4.     RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da pesquisa foram encontrados 28 estudos, após aplicação dos critérios de exclusão e inclusão, obteve-se o total de 13 estudos incluídos nesta sistemática. Após leitura dos artigos selecionados foi possível categorizá-los de acordo com os temas abordados pelos autores em duas categorias distintas, a saber: 1. Dificuldades da equipe de enfermagem na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI; 2. Preparo da equipe de enfermagem na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI; e 3. Realidade encontrada na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI.

Categoria 1. Dificuldades da equipe de enfermagem na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI.

Quadro 4 – Principais artigos que apresentaram as dificuldades da enfermagem na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI.

Autor (es) (Ano)RevistaBase de dadosMetodologiaPrincipais AchadosN.E.
Camilo et al. (2022)Revista Gaúcha de EnfermagemSciELOPesquisa qualitativa descritivaOs desafios são relacionados à falta de preparo, impotência e subjetividades.III
Cintra, Dias e Cunha (2022)Revista Baiana de EnfermagemPortal CAPESPesquisa qualitativa teórico-metodológicaOs profissionais sentem-se pouco preparados e muito desconfortáveis diante da comunicação de más notícias.V
Marçola et al. (2020)Revista paulista de pediatriaSciELOEstudo transversalÉ necessário melhorar a comunicação das notícias na UTIN analisada. O treinamento pode auxiliar.V
Van Keer et al. (2019)Science direct –  Educação e Aconselhamento do PacienteMedLINETrabalho de campo etnográficoA transmissão de más notícias em uma UTI multiétnica apresenta uma série de dificuldades específicas. Isso pode ter consequências negativas.III

Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

Alguns estudos (30,77%) elucidaram a respeito das dificuldades que os profissionais da saúde possuem no que se refere a comunicação das más notícias a família dos pacientes. Van Keer et al. (2019)explicam que a comunicação de más notícias foi dominada principalmente pelos (as) médicos (as). As contribuições dos pacientes e familiares e o envolvimento de outros profissionais na comunicação foram limitados. Os funcionários possuem dificuldades relacionadas com a etnocultura, na escolha do(s) parceiro(s) de conversa adequado(s); na escolha do local das conversas e, na troca de informações. Os funcionários geralmente tentavam resolver esses problemas no local de maneira rápida e pragmática. Às vezes, suas abordagens eram mais motivadas pela emoção, do que pela razão.

Nesse sentido, os referidos autores afirmaram que funcionários encontraram dificuldades relacionadas a fatores étnico-culturais na escolha de uma conversa adequada, assim eles afirmaram que num contexto multiétnico, a transmissão de más notícias pode ser ainda mais dificultada devido as diferenças linguísticas e culturais, o que pode trazer diversos prejuízos na relação entre paciente e profissionais (VAN KEER et al., 2019).

Marçola et al. (2020) e Cintra, Dias e Cunha (2022) apresentaram em seus estudos a estratégia SPIKES, no que diz respeito a comunicação de más notícias aos pais no cenário da UTIN, pois os familiares muitas vezes querem compartilhar suas ansiedades e sentimentos e serem ouvidos. Dar uma má notícia é uma tarefa complexa e desafiadora para os profissionais de saúde, e recebê-la é muito difícil para a família.

Em tal conjuntura, vale ressaltar, segundo Cintra, Dias e Cunha (2022) que essa comunicação no contexto pediátrico é dificilmente vivenciada pelos (as) enfermeiros (as), pois o cuidado infantil, muitas vezes, demanda habilidades técnicas e comportamentais específicas. Logo, a relação entre famílias e profissionais pode intensificar ou minimizar o sofrimento durante a comunicação, que sofre interferências pelas experiências, crenças e expectativas anteriores a respeito do presente e do futuro.

Cabe aos profissionais adotarem uma abordagem reflexiva a fim de entenderem as divergências e complexidades dos pacientes e de seus familiares, agregando recursos que tornem mais fácil o desenvolvimento dessas relações. Além disso, é necessário também considerar suas próprias experiências pessoais, significados e subjetividade no processo de comunicação. Além disso muitas vezes as capacitações aos profissionais são realizadas considerando somente os aspectos técnicos científicos, portanto, vê se a necessidade de desenvolvimento de cursos de educação continuada referente a comunicação e humanização da assistência (CINTRA; DIAS; CUNHA, 2022).

Já, na pesquisa de Camilo et al. (2022) também foi investigado o cenário da UTIN, em que as experiências de enfermeiros que envolvem um recém-nascido em cuidados paliativos, ressaltam que a comunicação de más notícias é complexa e árdua. Esse processo é desagradável, permeado de consequências negativas para ambas as partes: família e profissionais. Em tal conjuntura o enfermeiro (a) tem participação indispensável no processo de comunicação de uma má notícia, no acolhimento e intervenções com essas famílias, que objetivem, inclusive, a prevenção do luto complicado quando a progressão da doença ou o óbito da criança são inevitáveis.

Categoria 2. Preparo da equipe de enfermagem na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI.

Quadro 3 – Principais artigos que apresentaram a necessidade de preparo dos (as) enfermeiros (as) na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI.

Autor (es) (Ano)RevistaBase de dadosMetodologiaPrincipais AchadosN.E.
Bonnot Fazio et al. (2022)Arquivos de pediatriaMedLINEEstudo transversalO desenvolvimento de novos métodos e ferramentas de treinamento de comunicação, como a simulação, permite aos profissionais adquirirem novas habilidades focadas nas necessidades das famílias.V
Cabeça et al. (2022)Escola Anna Nery Revista EnfermagemBDENFEstudo fenomenológicoO aprimoramento de competências interpessoais e de comunicação pode extrapolar a dimensão técnica na UTI.V
Exequiel et al. (2021)Enfermagem em focoLILACSPesquisa qualitativa de caráter descritivo e exploratórioNecessidade de propor estratégias de cuidado com vistas a minimizar os efeitos negativos decorrentes da hospitalização do recém-nascido na UTIN.V
Haas, Brust-Renck (2022)Psicologia USPSciELOEstudo misto – processos sistemáticos de dados quanti e qualitativosVerifica-se a necessidade de desenvolver competências para aprimorar a relação com paciente e famílias.V
Medeiros et al. (2022)Revista Brasileira de EnfermagemMedLINEPesquisa qualitativaA assistência aos familiares pode ser estabelecida usando-se os princípios de Travelbee, pois oferecem aporte teórico oportuno para ações no contexto do processo de morte e morrer.V
Soeiro, Vasconcelos e Silva (2022)Revista BioéticaSciELOEstudo de abordagem qualitativa, exploratória e descritivaNecessidade de preparo técnico e pessoal pois a participação da criança no tratamento é limitada, realidade que dificulta a comunicação e exercício da autonomia.V

Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

De modo predominante, a maioria dos estudos (46,15%) identificou em seus resultados a necessidade de treinamento e capacitação da equipe dos profissionais de saúde na comunicação de más notícias aos familiares. Destes, nos estudos de Exequiel et al. (2021), Bonnot Fazio et al. (2022) eSoeiro, Medeiros et al. (2022) e Soeiro, Vasconcelos e Silva (2022) investigaram sobre UTIN e UTIP, e afirmaram que é importante ter um olhar crítico dos profissionais de saúde para a temática, oportunizando que as mães e os familiares exponham suas experiências, pois os pais têm uma necessidade particular de informação e comunicação para lidar com o medo e a antecipação da situação num contexto de incerteza e stress onde o risco é omnipresente.

Medeiros et al. (2022) afirmam que a enfermagem frente as situações de impossibilidade terapêutica de cura e de terminalidade da vida em crianças e neonatos deve possuir uma visão holística, que vai além da assistência restrita à pessoa doente. Os profissionais devem proporcionar ao familiar o amparo das suas necessidades prestando atenção integral à criança, que ocorre até o momento do morrer de maneira digna, sem dor e em paz, além de considerar o luto dos que ficam. Essas ações fortalecem as relações de apoio aos familiares, considerando que estes também vivenciam o adoecer, o término da vida, o luto e as repercussões da perda de seu ente.

Complementando tais informações, Bonnot Fazio et al. (2022) enfatizam que o envolvimento precoce dos pais nos processos de tomada de decisão e o apoio individualizado limitariam o risco de estresse pós-traumático e depressão grave na mãe em caso de morte da criança. No entanto, as expectativas otimistas irrealistas dos pais e as emoções induzidas por essas situações específicas de cuidado refletir em sua concentração, no processamento de informações compartilhadas pelos médicos e em sua capacidade de tomar decisões.

Soeiro, Vasconcelos e Silva (2022), por sua vez, explicam quea dificuldade mais evidente em tal contexto dentre as principais dificuldades de diálogo entre a equipe de saúde e a criança consiste na exclusão do paciente, pois a comunicação é realizada geralmente entre profissional e pais ou responsáveis, que, além disso, frequentemente decidem o que será ou não compartilhado com a criança.

Cabeça et al. (2022) apresentaram que os discursos revelam que a tecnologia moderna no processo de comunicar as notícias difíceis, afasta-se do ser e perde-se de sua essência. Os autores trouxeram como medida resolutiva a implementação do protocolo SPIKES, pois, a comunicação requer forma apropriada conforme o assunto, de maneira que a efetividade advém da flexibilidade para utilizá-lo em cada circunstância, atentando para a complexidade, a reciprocidade dos indivíduos envolvidos e a singularidade de cada ser, sempre adotando postura ética e de respeito ao outro.

Portanto, nesse estudo foi sugerido que os profissionais da área da saúde atuantes na educação permanente dos serviços priorizem o desenvolvimento de competências e habilidades que abarquem a dimensão humana, indo além da perspectiva técnico-científica. Outrossim, aponta-se a necessidade de adequações curriculares nos cursos da saúde, possibilitando a inclusão de tal temática, comunicação de notícias difíceis, como ferramenta fundamental para a assistência à saúde (CABEÇA et al., 2022). Em tal cena os autores Haas e Brust-Renck (2022) também reafirmam a necessidade do conhecimento sobre a história do paciente e de seus familiares como um fator facilitador e as mudanças inesperadas no quadro clínico do paciente foram destacadas como fatores dificultadores do processo de comunicação. A comunicação de más notícias é difícil e emotiva, independentemente do tempo de atuação em UTI.

Categoria 3. Realidade encontrada na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI.

Quadro 4 – Principais artigos que caracterizaram a realidade encontrada na comunicação de más notícias aos familiares dos pacientes na UTI.

Autor (es) (Ano)RevistaBase de dadosMetodologiaPrincipais AchadosN.E.
Cabeça e Melo (2020)Revista Brasileira de EnfermagemBDENFEstudo fenomenológicoA solidariedade e a sensibilidade por parte dos profissionais de saúde, principalmente dos enfermeiros, são essenciais para compreender a dimensão existencial dos familiares  compreendendo as diversas facetas de sua existência e oferecendo-lhes oportunidades de se projetarem.V
Güven et al. (2022)BMC PsycholMedLINEPesquisa documental demográficaA taxa de negação e culpa nas reações de luto entre os familiares dos pacientes quando recebem a notícia da morte na UTI aumenta com a diminuição da idade do paciente.V
Palomo Navarro e López Camps (2020)Revista Bioética e DireitoSciELOEstudo transversalÉ importante que a comunicação de más notícias, em especial, a limitação dos tratamentos de suporte à vida, seja adequada. A informação é dever dos profissionais e está contemplada na lei, no código de ética.V

Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

A realidade encontrada na UTIP segundo Cabeça e Melo (2020) reflete nos sentimentos dos familiares, que vivem a facticidade arrojada a situações imperecíveis, independentemente de suas escolhas, e se deparam com sentimentos de comoção, desespero e medo antes de uma notícia difícil. Devido ao impacto emocional, em especial nas situações quando há possibilidade de morte, os familiares revelam a esperança como mecanismo para enfrentar a situação.

Ainda, Cabeça e Melo (2020) explicaram que na UTIP as más notícias fazem parte do cotidiano dos enfermeiros (as), portanto, é necessário adotar uma linguagem compreensível aos familiares, que em muitas ocasiões, não conseguem entender a mensagem transmitida. É importante destacar que a comunicação como tecnologia de cuidado, demanda atenção no que cerne ao envolvimento e respeito com o outro, às relações mais horizontalizadas e à escuta sensível nos modos de coexistência.

Para os autores Palomo Navarro e López Camps (2020) o que a família requer na realidade da UTI consiste na qualidade da informação (verdadeira, sem discrepâncias entre os informantes), capacidade de interagir com os informantes, empatia, acessibilidade à informação, sentir que as decisões são tomadas por meio de um processo considerando o paciente, seu ambiente e as melhores evidências, sentir que há nenhum abandono do paciente e que seu conforto seja assegurada principal barreira de comunicação entre a equipe assistencial e a família geralmente sente a falta de tempo dedicado à informação, que limita o entendimento completo da situação clínica do seu ente querido.

Além disso as informações com dados confusos e discordantes, junto com as falsas expectativas de que a alta tecnologia seja capaz de resolver todos os problemas clínicos, ou com os diferentes aspectos culturais, religiosos ou linguísticos, desenha-se um cenário com repercussões negativas para todos os participantes (PALOMO NAVARRO; LÓPEZ CAMPS, 2020).

Já, de acordo com a pesquisa de Güven et al. (2022) a realidade encontrada na UTI consiste no feedback dos familiares enlutados mostra que tanto a boa comunicação quanto a integridade e precisão das informações sobre os pacientes desempenham papéis importantes no processo de luto. Portanto, nesta fase, é relevante adotar uma abordagem empática e uma comunicação com as pessoas que primeiro transmitem a notícia da morte. É difícil dizer a um membro da família que seu parente morreu. Os médicos assumem essa difícil tarefa, pois as mortes ocorrem com mais frequência em hospitais, em específico nas UTI.

5.     CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os (as) enfermeiros (as) precisam estar devidamente treinados para a comunicação de más notícias, em muitos estudos foi reportado e evidenciado sobre a necessidade de treinamento dessa comunicação, pois os treinamentos realizados para a enfermagem, na maioria dos casos, contemplam somente os aspectos técnicos científicos da profissão.

A equipe de enfermagem comunica aos familiares de pacientes críticos, más notícias, com muitas dificuldades, em alguns estudos identificou-se o uso de estratégias como implementação do protocolo SPIKES, ou dos princípios de Travelbee, que podem ajudar a sistematizar essa comunicação de forma humanizada e empática.

Como limitações da pesquisa, pode-se afirmar que na literatura, a abordagem e assistência após a comunicação de más notícias não se encontra amplamente elucidada. Encontrou-se que, muitas vezes, os familiares não compreendem as informações passadas, seja pelo linguajar técnico científico, ou pelas diferenças étnicos culturais, e desse modo, os indivíduos pesquisam as informações para compreenderem melhor o que lhes foi dito. Desse modo, é importante salientar que os (as) enfermeiros (as) que trabalham com cuidados intensivos precisam ir além dos conhecimentos e capacitações técnico-científicas, buscando agregar um olhar humanizado aqueles que recebem más notícias. Verifica-se a necessidade de desenvolvimento de mais pesquisas como essa, em especial, que investigue a abordagem profissional no esclarecimento de dúvidas, acolhimento e assistência geral após a comunicação de más notícias.

REFERÊNCIAS

BONNOT FAZIO, S.; DANY, L. ; DAHAN, S. ; TOSELLO, B. Communication, information, and the parent-caregiver relationship in neonatal intensive care units: A review of the literature. Archives de pediatrie: organe officiel de la Societe francaise de pediatrie, v. 29, n. 5, p. 331–339, 2022. https://doi.org/10.1016/j.arcped.2022.05.013

CABEÇA, L. P. F.; CASTILLO, A. N. C. M.; SILVA, C. C. DA; SIQUEIRA, K. M.; MISKO, M. D.; MELO, L. DE L. Da técnica à tékhnē: comunicação de notícias difíceis em unidade de terapia intensiva pediátrica.Esc. Anna Nery, v. 26,  e20220133, 2022. http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2022-0133pt.

CABEÇA, L. P. F.; MELO, L. DE L. From despair to hope: copying of relatives of hospitalized children before bad news report. Revista brasileira de enfermagem, v. 73, n. suppl 5, p. e20200340, 2020. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0340

CAMILO, B. H. N.; SERAFIM, T. C.; SALIM, N. R.; ANDREATO, A. M. O.; ROVERI, J. R.; MISKO, M. D. et al. Comunicação de más notícias no contexto dos cuidados paliativos neonatal: experiência de enfermeiros intensivistas. Revista Gaúcha de Enfermagem, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/cM4GSjhR9pXkqXD8b8bgK5C/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 jan. 2023. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2022.20210040

CARNEIRO, A. C. M. DE S. Comunicação De Más Notícias No Serviço De Urgência. Escola Superior de Saúde, 2017. Disponível em: http://repositorio.ipvc.pt/bitstream/20.500.11960/1917/1/Ana_Carneiro.pdf. Acesso em: 23 jan. 2023.

CERQUEIRA, A. B. P. O Acolhimento Dos Enfermeiros Aos Familiares Da Pessoa Em Situação Crítica No Serviço De Urgência: Estudo Das Perspectivas Dos Enfermeiros E Dos Familiares. Escola Superior de Enfermagem, 2017. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/49371/1/Andr%c3%a9%20Barro s%20Pinto%20Cerqueira.pdf. Acesso em: 23 jan. 2023.

CINTRA, D. C. E. DIAS, P. M.; CUNHA, M. L. R. Comunicação de más notícias em emergências pediátricas: experiências dos profissionais no contexto pré-hospitalar. Rev. Baiana Enfermagem, 2022. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/pdf/rbaen/v36/2178-8650-rbaen-36-e44267.pdf. Acesso em: 23 jan. 2023.

EXEQUIEL, N. P.; MILBRATH, V. N.; GABATZ, R. I. B.; VAZ, J. C.; SILVA, L. L. DA;  KLUMB, M. M.; MACLUF, S. P. Z. Sentimentos vivenciados pelas mães na hospitalização neonatal. Enfermagem em Foco, v. 12, n. 1, 2021. DOI: 10.21675/2357-707X.2021.v12.n1.4018

GALVÃO, C. M. Níveis de evidência. Acta Paulista de Enfermagem, v. 19, n. 2, p. 5–5, 2006.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GÜVEN, B. B.; MADEN, Ö.; SATAR, A. D. ; ERSOY A. Factors affecting the emotional reactions of patient relatives who receive news of death: a prospective observational study. BMC psychology, v. 10, n. 1, p. 58, 2022. doi:  10.1186/s40359-022-00763-2

HAAS, K. D. C.; BRUST-RENCK, P. G. A comunicação de más notícias em Unidade de Terapia Intensiva: um estudo qualitativo com médicos experientes e novatos. Psicologia USP, v. 33, p. e220006, 2022. https://doi.org/10.1590/0103-6564e220006

MARÇOLA, L. ; ZOBOLI, I.; POLASTRINI, R. T. V. DE BARBOSA, S. M. M. Breaking bad news in a neonatal intensive care: The parent’s evaluation. Revista paulista de pediatria: órgão oficial da Sociedade de Pediatria de São Paulo, v. 38, p. e2019092, 2020.

MEDEIROS, J. A. DE ; ALMEIDA JÚNIOR, J. J. DE .; OLIVEIRA, L. P. B. A. DE .; SILVA, F. R. S. DA .; SILVA, C. C. DOS S.; BARROS, W. C. T. dos S. Death and dying of newborns and children: relationships between nursing and family according to Travelbee. Revista brasileira de enfermagem, v. 75, n. 2, p. e20210007, 2022. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0007

PALOMO NAVARRO, M.; LÓPEZ CAMPS, V. Medicina intensiva. Aspectos bioéticos. Información y comunicación. Revista de bioetica y derecho, n. 48, p. 23–39, 2020.

PETERS, M.; GODFREY, C. MCINERNEY, P.; MUNN, Z.; TRICCO, A. C. ; KHALIL, H. Chapter 11: Scoping Reviews. In: Aromataris E, Munn Z (Editors). JBI Manual for Evidence Synthesis, JBI, 2020.  Disponível em: https://synthesismanual.jbi.global. Acesso em: 01 jun. 2023. Doi: https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-01

SOEIRO, A. C. V.; VASCONCELOS, V. C. S.; SILVA, J. A. C. DA. Desafios na comunicação de más notícias em unidade de terapia intensiva pediátrica. Revista Bioética, v. 30, n. 1, p. 45–53, 2022. https://doi.org/10.1590/1983-80422022301505PT

VAN KEER, R.-L.; DESCHEPPER, R.; HUYGHENS, L. ; BILSEN, J. Challenges in delivering bad news in a multi-ethnic intensive care unit: An ethnographic study. Patient education and counseling, v. 102, n. 12, p. 2199–2207, 2019. https://doi.org/10.1016/j.pec.2019.06.017


Bárbara Fernandes Neves – Acadêmica do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária Itumbiara – Goiás1
Newton Ferreira de Paula Júnior – Docente do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária Itumbiara – Goiás2