COMPUTAÇÃO EM NUVEM E O SEU CONTEXTO EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7546751


Rodrigo Vieira Campos1
Juliana Bilecki Campos da Cunha2


RESUMO: Com o uso de serviços em nuvem, a tecnologia computacional aplicada aos negócios das empresas pode ser estabelecida e mantida em alto padrão a custos atrativos. As suas vantagens tornaram a computação em nuvem uma forte tendência atual do mercado. A partir de uma pesquisa bibliográfica, o presente trabalho tem o intuito de apresentar o cenário do surgimento da computação em nuvem, suas características e benefícios, além de contextualizar a sua abordagem no universo de micro e pequenas empresas. Apesar de a computação em nuvem favorecer a operação de empresas de qualquer tamanho, percebe-se uma defasagem desta percepção na perspectiva dos microempreendedores.

PALAVRAS-CHAVE: Computação em nuvem. Micro e pequenas empresas. Software como serviço.

Introdução

A computação em nuvem vem revolucionando a forma como pessoas e empresas lidam com a infraestrutura e os serviços de Tecnologia da Informação (TI). Segundo Kolbe Junior (2020), trata-se de uma inovação tecnológica que tem apresentado grande utilidade e economia de recursos financeiros na área da TI. Atualmente é uma realidade muito presente e elogiada em grandes empresas, por conta de seus benefícios. Suas vantagens vêm sendo amplamente utilizadas e exploradas por qualquer pessoa ou empresa que possui acesso à internet, mesmo que elas pouco entendam sobre como a computação em nuvem funciona e quais os recursos e privilégios que ela proporciona.

A computação em nuvem permite que as pessoas obtenham as informações de que precisam através da Internet (a nuvem), em vez do computador de mesa ou dos computadores corporativos. Ao invés de comprar um software de um revendedor tradicional ou desenvolver sua própria aplicação, indivíduos ou organizações podem fazer assinatura de um aplicativo fornecido através da web, pagando uma taxa mensal de acordo com o uso. Empresas como a Google estão usando a computação em nuvem para o uso de programas de processamento de texto, de geração de planilhas e outros aplicativos através da Internet (STAIR; REYNOLDS, 2015).

Sendo assim, percebe-se que a computação em nuvem promove diversas vantagens para qualquer pessoa ou empresa que utiliza atualmente a Internet, seja para uso pessoal ou para realizar negócios. Qualquer empresa com acesso à Internet e com pouco investimento está apta a explorar grande parte dos benefícios que a computação em nuvem proporciona.

De acordo com a Positivo Tecnologia (2018), diversas pessoas já usaram a computação em nuvem, também chamada de cloud computing, na rotina pessoal ou profissional e estão familiarizadas com algumas ferramentas relacionadas a essa tecnologia, mesmo que não saibam o que isso significa.

Diante deste contexto, este estudo pretende apresentar a computação em nuvem e abordar a posição de micro e pequenas empresas que, diante dos recursos financeiros escassos, não costumam explorar ou investir em tecnologias, mas conseguem usufruir das vantagens da computação em nuvem, mesmo sem saber ao certo o que ela significa.

1. Como surgiu a computação em nuvem

Os computadores pessoais surgiram na década de 80 e não foram vistos inicialmente como ferramentas para utilização em negócios (VERAS, 2015).

Com a popularização e diversificação dos computadores pessoais, percebeu-se a dificuldade de compartilhar arquivos digitais entre diferentes dispositivos. Normalmente os arquivos digitais ficavam armazenados no disco rígido (do inglês hard disk) ou HD da máquina utilizada, mas isso limitava bastante a utilização eficaz destes arquivos a partir de diferentes dispositivos (DE ROSE, 2020).

Um grande volume de dados digitais, que pode inclusive possuir valor inestimável, pode ser armazenado em computadores. Como consequência, percebe-se o risco associado em manter a integridade e segurança desses dados, quando armazenados em máquinas. O tempo de vida útil, problemas técnicos, acessos indevidos, incêndio, enchente, perda e roubo são algumas das situações que colocam em risco os computadores. A realização de cópias de segurança é a solução recomendada, porém é um processo que precisa ser feito regularmente e que normalmente utiliza dispositivos de armazenamento alternativos, como HDs externos ou pen drives, que estão sujeitos aos mesmos riscos das máquinas (DE ROSE, 2020).

Uma outra dificuldade que parte desde esta época consiste em realizar reinstalações ou reconfigurações das máquinas que apresentam problemas ou a substituição por máquinas novas. Todo o conteúdo fica restrito às máquinas e copiar ou restabelecer um determinado estado exige grande mão de obra e conhecimentos avançados (DE ROSE, 2020).

As máquinas são um bem de consumo que exigem um investimento alto, mas que, em função dos avanços tecnológicos, acabam ficando defasadas em um tempo relativamente rápido. Os custos de manutenção e o valor de revenda também prejudicam a aquisição de um computador, do ponto de vista do negócio (DE ROSE, 2020).

Com o avanço das redes locais, iniciou-se uma nova forma de computação empresarial, a computação cliente/servidor. Empresas começaram a adotar máquinas da rede para servir de repositório de arquivos, mas havia um alcance limitado à rede local, ou seja, só funcionava para as pessoas que estivessem trabalhando em máquinas ligadas na mesma rede do servidor de arquivos. Ligar redes de diferentes organizações era uma tarefa complexa e cara (DE ROSE, 2020) (VERAS, 2015).

A partir do surgimento da internet, no fim dos anos 1990, a conexão entre diferentes redes se tornou viável, tendo sua utilização avançado rapidamente. São tantos pontos de conexão que a figura da nuvem para representar a Tecnologia da Informação (TI) tornou-se a mais adequada. Passou-se então a considerar o processamento e armazenamento dos dados corporativos na nuvem. Essa é a ideia central de utilizar a TI como serviço público (VERAS,2015).

A busca por um modelo que tratasse a computação como um serviço viável, ou seja, rápido, confiável e de qualidade foi progredindo a cada avanço na área de redes de computadores (DE ROSE, 2020).

O precursor da computação nuvem, que é conhecido como grade computacional (do inglês grid computing), tinha como proposta prover a demanda por computação na forma de serviço, acessada por uma rede que interligaria vários outros computadores ao redor do mundo, que seriam responsáveis por prestar esse serviço. Em virtude das dificuldades de controle de acesso às máquinas remotas, por questões de segurança das informações que trafegavam pela rede e por conta das dificuldades de implementar a cobrança pelo serviço, este conceito só era viável a algumas áreas específicas. Na época, não foi possível superar estas questões para atender as demandas do público em geral (DE ROSE, 2020).

De acordo com De Rose (2020), essa experiência com grades computacionais serviu para pavimentar o caminho para as nuvens, que acabaram herdando várias ideias e, depois de resolverem os problemas técnicos acima citados, conseguiram levar, em meados de 2010, o conceito de computação como um serviço para o público em geral.

O termo “computação em nuvem” ou simplesmente “nuvem”, representa uma nova forma de prover poder computacional, não pela aquisição de computadores, mas pela contratação de serviços remotos de execução de aplicações e de armazenamento de dados que são acessados pela Internet (DEROSE, 2020).

Para facilitar a utilização desses serviços, os provedores, como são chamadas as empresas que os prestam, vendem aos usuários uma capacidade de armazenamento ou de processamento virtual que, na realidade, pode ser apenas uma parte de uma máquina real ou até várias delas, dependendo da demanda desejada (DE ROSE, 2020). O provedor de serviços (em inglês cloud provider) é responsável por disponibilizar, gerenciar e monitorar toda a estrutura para a solução de computação em nuvem, compartilhando com os desenvolvedores e usuários finais a responsabilidade de sua manutenção (VERAS, 2015).

Estes serviços começaram a ser oferecidos comercialmente às empresas e ao público em geral a partir de 2006, por meio da empresa Amazon. Em 2008 e 2010, Google e Microsoft, respectivamente, lançam serviços similares (DE ROSE, 2020).

No início, os serviços de computação em nuvem eram direcionados sobretudo às grandes empresas. Mas, a computação em nuvem expandiu-se para pequenos e médios negócios e posteriormente aos consumidores. O iCloud da Apple, serviço lançado aos consumidores em 2012, obteve 20 milhões de usuários, uma semana depois do lançamento. O Evernote, serviço de arquivamento e ferramenta de notas em nuvem, lançado em 2008, atingiu 100 milhões de usuários em menos de 6 anos (STALLINGS, 2017).

2. Definição e características da computação em nuvem

Segundo a definição do NIST (National Institute of Standards and Technology), computação em nuvem é um modelo que permite acesso a um pool compartilhado de recursos computacionais configuráveis (redes, servidores, armazenamentos, aplicações e serviços) que podem ser rapidamente fornecidos e disponibilizados com um mínimo esforço de gestão ou interação com o fornecedor do serviço (LECHETA, 2015).

Segundo Vaquero et al. (2010), computação em nuvem é um conjunto de recursos virtuais facilmente utilizáveis e acessíveis, tais como hardware, software, plataformas de desenvolvimento e serviços. Esses recursos podem ser dinamicamente reconfigurados para se ajustarem a uma carga de trabalho (workload) variável, permitindo a otimização do seu uso. Esse conjunto de recursos é tipicamente explorado através de um modelo “pague pelo uso”, com garantias oferecidas pelo provedor através de acordos de nível de serviço.

A economia com a utilização desses serviços está no fato de que o pagamento é ajustado somente pelo que é consumido, forma de acerto denominada on-demand (KOLBE JUNIOR, 2020). É muito mais flexível que o modelo de aquisição, denominado Capital Expediture ou, simplesmente, CapEx. Não é necessário um grande investimento inicial e a quantidade de recursos pode ser ajustada à medida que a demanda for crescendo (DE ROSE, 2020).

A arquitetura de computação em nuvem significa mudar fundamentalmente a forma de operar a TI, saindo de um modelo baseado em aquisição de equipamentos para um modelo baseado em aquisição de serviços. A computação em nuvem, com a virtualização, teoricamente permite obter o melhor dos mundos: otimização do uso dos recursos e flexibilidade para o usuário (VERAS, 2015).

Assim como no modelo de grade computacional, a nuvem também não substitui o modelo de computação pessoal, mas o complementa, pois ainda é necessário utilizar uma máquina como ponto de acesso aos recursos. Mas, essa máquina não precisa ter a mesma capacidade de antes, podendo até ser um tablet ou um telefone celular mais avançado. O processamento pesado e até alguns dados intermediários do que está sendo processado também ficam na nuvem (DE ROSE, 2020).

A computação em nuvem pode ter vários métodos de implantação. A nuvem pública refere-se aos prestadores que oferecem seus serviços com base na nuvem para o público em geral, seja um indivíduo usando o calendário do Google ou uma corporação usando o aplicativo Salesforce.com. Existe também uma implantação de nuvem privada, em que a tecnologia é usada dentro dos limites de uma rede privada. Algumas empresas utilizam a computação em nuvem privada porque ela fornece mais controle sobre infraestrutura e segurança de computação que em nuvem pública. As empresas também podem combinar os serviços de nuvem pública e de nuvem privada para criar uma nuvem híbrida (STAIR; REYNOLDS, 2015).

Os serviços de computação em nuvem decorrentes da organização em nuvem pública são fornecidos em sua maioria por grandes organizações como Google (Google Cloud Platform), Microsoft (Azure), Amazon (Amazon Web Services – AWS), Rackspace e outros provedores regionais que hospedam e executam os aplicativos dos clientes empresariais. A tendência é que essa oferta cresça e mais opções apareçam, aumentando a concorrência nessa área e reduzindo os custos de utilização destes serviços (VERAS, 2015).

Desta forma, o propósito essencial da computação em nuvem é proporcionar aluguel conveniente de recursos de computação. O provedor de serviço de nuvem mantém os recursos de computação e armazenamento de dados que estão disponíveis na internet ou em redes privadas. Os consumidores podem alugar uma parte desses recursos, conforme precisarem (STALLINGS,2017).

Os serviços oferecidos por uma nuvem podem ser contratados em diferentes níveis de serviço (normalmente chamados na literatura especializada de modelos de serviço). Isso determina quão simplificado e automático será o uso desses recursos por parte dos usuários. Os três níveis mais comumente encontrados são: nível de aplicação, nível de ambiente e nível de máquina (DEROSE, 2020).

O nível de aplicação, chamado de software como um serviço (do inglês Software as a Service – SaaS), dá-se quando é contratada uma aplicação completa na nuvem, como, por exemplo, um serviço de e-mail, como o Gmail da empresa Google. Aplicativos de interesse para uma grande quantidade de clientes passam a ser hospedados na nuvem como uma alternativa ao processamento local. Neste caso, o usuário não precisa instalar nada na máquina local, ficando a execução, os dados e a manutenção do aplicativo sob o encargo do provedor. O acesso ao serviço pode ser feito por um navegador comum, como o Chrome ou o Firefox, utilizando-se de um endereço de internet e credenciais de acesso (usuário e senha). Desta forma, o usuário não precisa se preocupar com atualizações para novas versões e nem com o espaço disponível para as mensagens recebidas, pois tudo está na nuvem (DE ROSE, 2020; VERAS, 2015).

O nível de ambiente, chamado de plataforma como um serviço (do inglês Platform as a Service – PaaS), dá-se quando é contratado um ambiente na nuvem, como um sistema de hospedagem de páginas de Internet ou um sistema gerenciador de banco de dados (SGBD). Neste caso, o provedor fica responsável pela manutenção desses ambientes (o que inclui, por exemplo, realizar atualizações de segurança e instalação de novas versões), mas o usuário fica responsável pela gerência das aplicações que serão utilizadas nesses ambientes. Ou seja, o uso dos recursos da nuvem já não é tão simples e automático como no caso anterior (DE ROSE, 2020).

O nível de máquina, chamado de infraestrutura como um serviço (do inglês Infrastructure as a Service – IaaS), dá-se quando é contratada uma máquina virtual na nuvem (do inglês virtual machine ou simplesmente VM), ou seja, um computador completo para ser usado temporariamente. O usuário fica responsável por escolher a configuração da máquina que aluga (número de processadores, quantidade de memória, velocidade de rede) e também pela instalação e manutenção de todos os aplicativos que forem usados nela (DEROSE, 2020).

A ideia central da nuvem é esta: em vez de comprar um computador, compra-se computação. Isso significa que, em vez de desperdiçar um grande volume de capital em máquinas físicas, que são difíceis de escalar, apresentam defeitos mecânicos e se tornam obsoletas com rapidez, é possível simplesmente comprar tempo de computador e deixar que elas cuidem de sua escala, da manutenção e do upgrade (ARUNDEL; DOMINGUS, 2019).

3. Vantagens da computação em nuvem

A proposta da computação em nuvem é, de alguma forma, melhorar o uso dos recursos e tornar a operação de TI mais econômica (VERAS, 2015).

A maior tendência atual na computação é que empresas usem um servidor de nuvem para cuidar de praticamente todas as suas necessidades de TI. Muitas empresas de comércio na Internet rodam suas aplicações na nuvem.

Diversas empresas e universidades também migraram suas aplicações da Internet (por exemplo, e-mail e hospedagem de páginas web) para a nuvem (KUROSE; ROSS, 2021).

A nuvem pode ser utilizada em tudo que disser respeito ao trato informático na empresa. A profundidade desse trato pode envolver: o armazenamento de aplicativos e serviços; cópias de backup; garantia da portabilidade de dados na perspectiva de mobilidade total (de uma equipe de vendas, por exemplo); transmissão de áudio e vídeo como streaming; oferta de software on-demand; e guarda e análise do resultado de atividades relacionadas ao fenômeno Big Data, uma das atividades mais importantes para as empresas na modernidade. Como é possível observar, trata-se de praticamente tudo o que uma empresa produz como resultado de suas atividades diárias que envolvem Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), o que, devido à economia e segurança que pode garantir, se converte em algo de alto interesse estratégico (KOLBE JUNIOR, 2020).

Kolbe Junior (2020) enumera ainda os seguintes benefícios da computação em nuvem: diminuição do custo envolvido com recursos de TI; aumento da velocidade devido à expertise altamente elevada dos profissionais que trabalham nas fornecedoras da nuvem; possibilidade de desenvolvimento dos trabalhos de forma global; possível aumento da produtividade de equipes mais enxutas e dedicadas ao atendimento aos usuário internos, do que no desenvolvimento de facilidades adicionais que demandam tempo excessivo e atendimento deficitário aos usuários finais; alto desempenho, considerando que os equipamentos e tecnologias inovadoras utilizadas pelas provedoras da nuvem representam uma possibilidade real no aumento do rendimento; e confiabilidade garantida, com base em cláusulas rigorosas estabelecidas no contrato, conhecido como Acordo de Nível de Serviço (do inglês Service Level Agreement – SLA).

Alguns benefícios da computação em nuvem não se restringem às grandes empresas, como os citados por De Rose (2020):

– Compartilhamento de dados: acesso a documentos a partir de vários dispositivos por meio de um serviço de HD virtual, como Dropbox, Google Drive ou Microsoft OneDrive, pelo qual se aloca um espaço na nuvem para o armazenamento de arquivos.

– Acesso a aplicativos: diversas ferramentas podem ser executadas diretamente na nuvem, inclusive de forma colaborativa com diversos usuários. Isso descarta a necessidade de instalar o aplicativo no dispositivo de cada usuário.

– Reinstalações e reconfigurações: migrar aplicações e dados locais para nuvem simplifica o processo de reinstalação ou reconfiguração do zero de um dispositivo, já que haverá menos dependência de arquivos ou aplicativos instalados localmente.

– Capacidade de processamento e de armazenamento: o modelo de nuvem permite adaptar as capacidades de processamento e armazenamento conforme a demanda e pagar apenas pelo que for consumido.

– Integridade e segurança dos dados: os riscos associados à integridade e segurança são reduzidos, pois são utilizados servidores de grande porte espalhados em diferentes lugares e que utilizam as mais modernas técnicas e ferramentas de proteção, o que os torna menos propensos a falhas e invasões.

– Custos: os dispositivos que acessam os serviços na nuvem podem possuir menos capacidade de processamento e armazenamento e tendem a ter uma vida útil maior, pois não ficarão defasados rapidamente.

Desta forma, percebe-se que computação em nuvem oferece muitas vantagens para as empresas. Ao terceirizar os sistemas de informações de negócios para a nuvem, a empresa economiza em design, instalação e manutenção de sistemas (STAIR; REYNOLDS, 2015).

Antes restrita às grandes empresas, a implementação de softwares de planejamento dos recursos empresariais (do inglês Enterprise Resource Planning – ERP), por exemplo, atualmente pode ser realizada por empreendedores e por organizações pequenas e médias. Muitos fornecedores estão empenhados em hospedar seus softwares na Internet e, desta forma, auxiliar o cliente a adquirir, usar e se beneficiar da nova tecnologia, enquanto evita toda a complexidade envolvida e os altos custos iniciais (STAIR; REYNOLDS, 2015).

A SAP, a maior e mais reconhecida provedora de soluções ERP, entre outras empresas, oferece uma versão hospedada na Internet de seu software ERP. O SAP Sourcing OnDemand utiliza o conceito de computação em nuvem.

Os clientes não têm de dedicar recursos de computação para o software. Eles usam recursos SAP sob demanda como as suas necessidades exigem, pagando a título de assinatura por usuário por mês. Enquanto isso, a SAP é responsável pelas tarefas administrativas, como backup de dados e, se necessário, restauração (STAIR; REYNOLDS, 2015).

Essa abordagem “pagamento por utilização” é atraente para as pequenas e médias empresas, porque elas podem experimentar recursos de softwares poderosos sem fazer um grande investimento financeiro. Além disso, usando o modelo de software hospedado na Internet, significa também que as pequenas empresas não necessitam contratar um profissional de TI em tempo integral para manter aplicativos-chave do negócio. A pequena empresa pode obter economias adicionais pelos custos reduzidos do hardware, além dos custos associados com a manutenção de um ambiente apropriado de computação, como ar-condicionado, energia e suprimento ininterrupto de energia (STAIR; REYNOLDS, 2015).

Com relação à contratação de softwares, existem ainda vantagens fiscais relacionadas ao tipo de comercialização, já que a computação em nuvem é considerada um serviço. Sendo um serviço, está sujeito à incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). A alíquota desse imposto, de acordo com a lei, não pode ultrapassar 5% sobre o valor da Nota Fiscal. Para a aquisição de softwares, é realizada a compra de uma licença (produto), que sofre a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), uma alíquota que pode chegar até 18% dependendo do estado. Esse é um fator que contribui para que a tecnologia se torne mais acessível para empresas de pequeno e médio porte. Enquanto nos sistemas tradicionais, devido ao custo elevado, a implementação fica mais restrita às grandes organizações (POSITIVO TECNOLOGIA, 2018).

Desta forma, considerando o contexto das micro e pequenas empresas, as vantagens da computação em nuvem também são perceptíveis. Ela é uma solução dinâmica com custos proporcionais à utilização dos recursos. Provê uma forma de racionalizar o uso dos recursos, tanto por conta da capacidade do servidor quanto pelos gastos com energia e refrigeração (VERAS, 2015).

Empresas de pequeno e médio porte estão identificando na computação em nuvem uma opção para reduzir custos operacionais vinculados a operação de uma infraestrutura para energia, espaço físico, pessoal de apoio e outros elementos. Soluções internas precisam de investimento em infraestrutura e aquisições de tecnologia. Os custos de nuvem, por outro lado, são de natureza operacional. Desta forma, utilizar a computação em nuvem pode representar grandes possibilidades de redução de custos para boa parte das empresas. Os aspectos de segurança da informação também são relevantes, já que os provedores de computação em nuvem utilizam tecnologias sofisticadas na área de segurança que muitas vezes não estão implementadas internamente em uma organização (VERAS, 2015).

Pequenas empresas e usuários domésticos têm acesso ao mesmo parque de hardware e software, no mesmo nível em que têm as grandes empresas. A nuvem está sendo vista como uma possibilidade que as pequenas e médias empresas ganham de se valer das tecnologias exponenciais. Permite-se, assim, que pequenos grupos obtenham os mesmos resultados que grandes equipes (KOLBE JUNIOR, 2020).

Basicamente, com a computação em nuvem, consegue-se economia de escala e gerenciamento profissional de rede e segurança. Essas características podem ser atraentes para as pequenas e grandes empresas, agências governamentais e usuários de computadores pessoais e de equipamentos móveis. O indivíduo ou empresa somente precisam pagar pela capacidade de armazenamento e pelos serviços de que precisam. O usuário, seja ele empresarial ou individual, não tem o aborrecimento de estabelecer um sistema de base de dados, adquirindo o hardware de que precisa, fazendo manutenção e backup dos dados – tudo isso faz parte do serviço de nuvem (STALLINGS, 2017).

4. Computação em nuvem em micro e pequenas empresas

Embora a computação em nuvem tenha começado a tomar as extremidades opostas do espectro da computação, é possível perceber que as nuvens têm atraído a atenção de pequenas e médias empresas (PMEs). À medida que o mundo das PMEs procura usar a presença da Internet para competir com empresas maiores e mais ágeis, têm-se visto uma mudança na maneira de como eles estão começando a usar aplicativos semelhantes às nuvens para alavancar sua presença na Internet, permitindo-lhes prestar muito mais serviços aos seus clientes do que com os métodos tradicionais de processamento de dados (CHEE; FRANKLIN JR, 2013).

Dentre os modelos de computação em nuvem apresentados, o Software como Serviço (SaaS), permite ampla utilização pelas micro e pequenas empresas. O SaaS possibilita que o consumidor use aplicações de provedor na nuvem, executadas na infraestrutura de nuvem do provedor. As aplicações são acessíveis a partir de vários dispositivos do cliente por meio de uma interface simples, como o navegador de Internet. Em vez de obter licenças de desktops e servidores para os produtos que usa, a empresa obtém as mesmas funções a partir dos serviços na nuvem. O SaaS elimina a complexidade da instalação de software, manutenção e atualizações. Exemplos de serviços desse nível são o Gmail, serviço de e-mail do Google e a Salesforce.com, que ajuda as empresas a manter o controle de seus clientes (STALLINGS, 2017).

Percebe-se que há uma tendência proeminente e crescente de algumas organizações a mover parte substancial ou mesmo toda a operação de TI para uma infraestrutura conectada à Internet, conhecida como computação empresarial em nuvem. Ao mesmo tempo, usuários individuais de computadores pessoais e dispositivos móveis estão confiando cada vez mais nos serviços de computação em nuvem para fazer backup de dados, sincronizar dispositivos e compartilhar dados, usando a computação em nuvem pessoal (STALLINGS, 2017).

Outra vantagem é poder colaborar facilmente com outras pessoas através do compartilhamento de documentos na Internet (STAIR; REYNOLDS, 2015). Um simples armazenamento de dados na nuvem possibilita que pequenos negócios e usuários individuais tenham vantagem do armazenamento de dados, bem como o acesso a aplicativos compatíveis com suas necessidades sem ter de pagar, manter e gerenciar isso (STALLINGS, 2017).

A maioria dos usuários individuais, e muitos profissionais corporativos, tiveram seu primeiro contato com a nuvem através de um aplicativo de produtividade pessoal. O mais famoso desses aplicativos é o Google Docs, o serviço de desenvolvimento de documentos on-line ligado à conta de usuário da Google. O Google Docs rapidamente se tornou um sistema usado por muitos que queriam escrever cartas e relatórios básicos ou apenas cuidar de seus trabalhos escolares ou assuntos comerciais essenciais, não precisando se preocupar com um aplicativo de produtividade pessoal ligado a um único computador (CHEE; FRANKLIN JR, 2013).

Para ser considerado computação em nuvem basta que um ambiente de computação (software e armazenamento) sejam fornecidos como um serviço de internet. Google e Yahoo!, por exemplo, armazenam e-mails, calendários, contatos e listas de tarefas de muitos usuários. O iCloud da Apple permite às pessoas armazenar suas músicas e outros documentos em seu sistema. O Facebook proporciona a interação social e permite armazenar fotos pessoais; o Youtube oferece filmes; o Google Docs oferece software de produtividade e gestão da informação pela web. A partir da computação em nuvem, comunicações, contatos, fotos, documentos, músicas, e mídias estão disponíveis por meio de qualquer dispositivo conectado à Internet (STAIR; REYNOLDS, 2015).

Os serviços de streaming são exemplos de SaaS, que muitas pessoas usam e não sabem. Trata-se de serviços por assinatura, ou seja, softwares de transmissão de áudio e vídeo de um servidor de armazenamento em nuvem para aparelhos eletrônicos, como celular, tablet, televisão e computador. Alguns exemplos são Netflix, Spotify, Disney+, Amazon Prime Video, HBO Max e outros (OMIE, 2022).

O que se nota é que muitos empreendedores individuais e pequenas empresas já usufruem no seu dia a dia de serviços fornecidos pela computação em nuvem, mas não percebem, por não saberem que tais serviços são baseados nesta tecnologia. Alguns destes serviços, inclusive, são gratuitos ou apresentam um limite de utilização gratuita para os usuários, o que, muitas vezes atende às necessidades de micro e pequenas empresas.

A facilidade para assinatura e utilização é um diferencial do software como serviço. Ao invés de instalar e executar o aplicativo em seu próprio computador ou servidor, a empresa contratada hospeda e gerencia a solução de software para o cliente. Portanto, está incluso o serviço de hospedagem, atualização e manutenção do software, servidores e bancos de dados (DUÒ,2022).

Desta forma, editores online, compartilhamento de arquivos, construtores de sites e até mesmo redes de mídia social são alguns exemplos de soluções de software baseadas em nuvem, concebidas para resolver problemas individuais. Dentre as soluções que também contribuem para as pequenas organizações, é possível citar os serviços de pagamento online, como o PayPal; repositório de projetos de software, como o Github; ferramenta online para elaboração de design visual de conteúdos, o Canva; e o Google Workspace que oferece hospedagem de e-mail, calendário, armazenamento e compartilhamento de arquivos, edição de documentos e planilhas, chats, videoconferências e criação de formulários (DUÒ, 2022).

Existem ainda várias opções de sistemas do tipo SaaS que podem atender diversos negócios de pequenas empresas. Para vendas e gestão de loja virtual, por exemplo, existem opções de baixo custo para pequenas empresas voltados para e-commerce, como Nuvemshop, Shopify, VTEX, Loja Integrada, Magento e outras. Para automação de tarefas e planejamento de atividades, os softwares mais utilizados são: Runrun It, Trello, Monday, Pipefy, Atlassian, Asana, Hubspot e outros. Na parte de comunicação empresarial, os softwares contam com várias funções disponíveis, dentre elas: reuniões online, gestão de marketing, redes sociais, chats, fóruns, grupos de trabalho e disparos de e-mails.

Alguns exemplos são: RD Station, Rock Content, Microsoft Teams, MailChimp, Zoom, Discord, Slack, dentre outros (OMIE, 2022).

5. Considerações Finais

Este artigo definiu e apresentou diversos benefícios da computação em nuvem, focando no contexto de micro e pequenas empresas. Percebe-se que a utilização deste tipo de serviço vem se expandindo no mercado, principalmente em grandes empresas, que estão constantemente em busca de vantagens competitivas e soluções tecnológicas.

O mercado mostra-se preparado para atender às micro e pequenas empresas, oferecendo diferentes serviços de computação em nuvem. Porém, uma parte do público em geral ainda não compreende o significado da computação em nuvem e nem a sua utilidade em seu negócio. Inclusive, uma parcela dos usuários até já são favorecidos por esta tecnologia em sua rotina pessoal ou profissional sem se dar conta disso.

A popularização deste conhecimento pode contribuir para a identificação de oportunidades de negócio e para o crescimento das pequenas organizações. Desta forma, espera-se que, de alguma forma, as informações apresentadas nesta pesquisa possam também contribuir com esta tarefa.

Referências

ARUNDEL, John; DOMINGUS, Justin. DevOps nativo de nuvem com Kubernetes: Como construir, implantar e escalar aplicações modernas na nuvem. São Paulo: Novatec, 2019.

CHEE, Brian J. S.; FRANKLIN JR, Curtis. Cloud Computing – Computação em Nuvem: Tecnologias e Estratégias. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2013.

DE ROSE, Cesar Augusto Fonticielha. O que é esta tal de nuvem e o que pode fazer por você? Porto Alegre: EDIPUCRS, 2020.

DUÒ, Matteo. 40 Produtos SaaS que Usamos para Crescer Nossa Empresa de Hospedagem Web. Blog Kinsta, nov. 2022. Disponível em: https://kinsta.com/pt/blog/produtos-saas/. Acesso em: 02 dez. 2022.

KOLBE JUNIOR, Armando. Computação em nuvem. Curitiba: Contentus, 2020.

LECHETA, Ricardo R. Web Services RESTful: aprenda a criar web services

RESTful em Java na nuvem do Google. São Paulo: Novatec, 2015.

KUROSE, Jim; ROSS, Keith. Redes de Computadores e a Internet: uma abordagem top-down. Porto Alegre: Bookman, 2021.

OMIE. Conheça os principais tipos de SAAS para pequenas empresas. Blog

OMIE, mai. 2022. Disponível em: https://blog.omie.com.br/blog/conheca-os-principais-tipos-de-saas-para-pequenas-empresas. Acesso em: 11 nov. 2022.

POSITIVO TECNOLOGIA. SaaS: tudo o que você precisa saber sobre Software as a Service. Panorama Positivo, jan. 2018. Disponível em: https://www.meupositivo.com.br/panoramapositivo/saas/. Acesso em: 8 nov. 2022.

STAIR, Ralph M.; REYNOLDS, George W. Princípios de Sistemas de Informação. São Paulo: Cengage Learning, 2015.

STALLINGS William. Arquitetura e organização de computadores. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017.

VAQUERO, Luis M, et al. A break in the clouds: towards a cloud definition. ACM Sigcomm Computer Communication Review, vol. 39, n. 1, jan. 2010.

VERAS, Manoel. Computação em Nuvem: Nova arquitetura de TI. Rio de Janeiro: Brasport, 2015.


1 Professor na Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo.
2 Professora no Instituto Federal de São Paulo.