REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10078010
Michele Bertocchi1
Elizandra da Silva2
Resumo
Compreender comportamentos de consumo sustentável de água em grupos e regiões específicas pode contribuir para o direcionamento de ações públicas ou privadas para estimular a mudança de hábitos que levem ao alcance de eficiência no uso e redução de escassez de água. Neste sentido, este estudo analisou os comportamentos de consumo sustentável de água apresentados por estudantes universitários da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Cascavel. A pesquisa se caracteriza como quantitativa, por meio de levantamento utilizando questionário de perguntas fechadas baseadas na literatura. A amostra de estudantes analisada compreendeu 352 alunos da modalidade presencial de cursos de graduação e pós-graduação do Campus. Os procedimentos de análise foram a análise de frequência, estatística descritiva e correlações empregada na avaliação dos resultados. Os resultados demonstraram que o comportamento de consumo de água apresentado pelos estudantes é favorável, indicando que a maioria deles adotam bons hábitos de uso da água em tarefas cotidianas e visualizam a temática de forma sustentável. Relacionando dados sociodemográficos com a média geral da escala, constatou-se que o sexo feminino possui melhores níveis de consumo. Além disso, estudantes com menor renda demonstraram-se mais conscientes no uso da água em comparação aos níveis de renda mais altos. No comparativo entre Centros, os resultados demonstraram que alunos de ciências biológicas e da saúde são mais conscientes em relação à água que outros centros.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Consumo Sustentável de Água. Comportamento de Consumo.
1 Introdução
O Consumo sustentável de água é um fator crítico para o desenvolvimento sustentável, inserido no sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) denominado ‘Água Potável e Saneamento’ que objetiva “assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos” (Nações Unidas Brasil, 2022, s.p.).
O tema desta ODS é de interesse em publicações científicas, em especial no que trata do consumo consciente da água, tal como se observa em estudo realizado no Egito que buscou compreender os fatores influenciadores do comportamento de consumo sustentável de água e energia (Marzouk & Mahrous, 2020), e no estudo comparativo entre Brasil e Canadá que investigou o hiato existente entre atitude e comportamento de populações universitárias em relação ao consumo sustentável de água (Martins, Lima & Roque, 2017).
No Brasil em específico, destaca-se o estudo realizado com indivíduos com nível de educação superior que buscou entender por que e como os conflitos cognitivos relacionados ao consumo sustentável poderiam afetar atitudes e comportamentos dos pesquisados em relação ao consumo de água, identificando que a ausência de escassez de recursos resultou em deixar esta preocupação de lado ou transferir a responsabilidade para o governo (Damacena, Mross & Antoni, 2017). Também vale apontar o estudo realizado com mulheres da cidade de Ribeirão Preto – SP, que identificou que adotar um compromisso individual de consumo consciente de água é uma opção que pode derivar do receio pela escassez futura, mas também pelo desejo de respeito pelas futuras gerações (Carvalho & Guimarães, 2017).
A preocupação também se estende às práticas de órgãos públicos sobre o consumo de água, como se observa no estudo sobre a adesão de colaboradores de um órgão público, a Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará, às práticas da A3P – Agenda Ambiental na Administração Pública, especificamente abordando o consumo de água (Gomes & Silva Filho, 2019).
Diante disso, conhecer as características de determinados grupos facilita no direcionamento de ações para promover hábitos eficientes no uso da água e reduzir sua escassez. O objetivo deste estudo visa analisar os comportamentos de consumo sustentável de água apresentados por estudantes universitários da Unioeste/Cascavel.
2 Referencial Teórico
Consumo sustentável
O consumo sustentável requer um profundo entendimento do comportamento do consumidor (Gorni et al., 2012), que é influenciado por diversos fatores, incluindo estilo de vida, estruturas sociais, valores culturais e características pessoais (Capelini, 2007). O consumidor consciente é aquele que busca consumir de forma responsável, minimizando desperdícios e optando por produtos de empresas sustentáveis (Nascimento et al., 2015).
As primeiras proposições quanto ao consumo sustentável surgiram a partir da última década do século XX, onde a percepção dos impactos ambientais colocou em questionamento os níveis de produção e consumo (Nascimento et al., 2015). A preocupação com o impacto ambiental se expandiu do âmbito da produção para o estilo de vida e o consumo excessivo, levando ao surgimento de conceitos como “consumo verde” e “consumo sustentável” (Portilho & Russo, 2008).
O consumo verde surgiu na década de 1970, dando ênfase às práticas cotidianas e ao impacto ambiental das escolhas de consumo (Portilho, 2005). O consumo sustentável, por sua vez, implica na utilização de bens e serviços que atendem às necessidades básicas enquanto minimizam o uso de recursos naturais, a geração de resíduos e as emissões ao longo do ciclo de vida do produto ou serviço (Yoshimochi, 2015). Isso está alinhado ao conceito de desenvolvimento sustentável da ONU, que busca o uso racional dos recursos para atender às necessidades presentes sem comprometer as futuras gerações (Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1988).
hbgtygzxO consumidor sustentável busca informações para fazer escolhas de consumo que causem menos impacto ambiental, priorizando produtos que atendam aos requisitos ambientais (Silva et al. 2017). A disseminação desse conceito por consumidores conscientes promove grandes transformações, equilibrando a satisfação pessoal com a preocupação ambiental (Instituto Akatu, 2011).
Consumo sustentável de água
A gestão adequada da água é fundamental para garantir sua disponibilidade para as necessidades humanas e preservar a biodiversidade e os ecossistemas (Oliveira, 2013). O consumo de água é a quantidade utilizada para suprir as necessidades básicas, incluindo o desperdício devido a vazamentos e uso inadequado (Cheung et al., 2009). Numerosos estudos têm sido realizados sobre o consumo sustentável de água em diferentes contextos, tais como residências, indústrias e agricultura. Estes enfatizam a importância de reduzir o consumo de água por meio de práticas mais eficientes e sustentáveis (Rego et al., 2007; Magalhães Júnior, 2007; Gonçalves et al., 2009).
A cultura e os hábitos do usuário são fatores que influenciam o consumo de água, assim como a tecnologia dos equipamentos que afetam a vazão e o consumo (Gonçalves, 2006). O aspecto cultural molda comportamentos e atitudes em relação ao consumo de água, sendo o desperdício associado à negligência do usuário (Cheung et al., 2009).
Outro fator que pode influenciar a cultura do indivíduo é o acesso à água, uma vez que milhões de pessoas enfrentam a escassez física e econômica (Mekonnen & Hoekstra, 2016). Estima-se que um montante de aproximadamente 1,6 bilhão de pessoas enfrentem escassez “econômica” de água, o que significa que, embora a água possa estar fisicamente disponível, não existe infraestrutura necessária para que as pessoas tenham acesso a ela (Comprehensive Assessment of Water Management in Agriculture, 2007).
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), têm como meta para o Brasil garantir acesso universal e equitativo à água potável (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2019). No último levantamento realizado no ano de 2018, apurou-se que 98,2% dos brasileiros utilizam serviços de água potável gerenciados de forma segura. Observa-se ainda que a região nordeste do país é aquela com o menor percentual deste serviço, apresentando um índice de 95,2% (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2018).
Na literatura, observa-se que a presença de incentivos ou desincentivos financeiros podem incitar a mudança de padrões de comportamento de uma população (Kotler & Lee, 2011). Além disso, alguns indivíduos tendem a acreditar que suas ações são suficientes e significantes para resolver os problemas relacionados à água. Outros consideram medidas individuais como anódinas, sentindo que a solução parte de instituições regulamentares que impõe medidas que devem ser cumpridas por todos (Vaccari, 2014). Consoante a isso, a motivação individual pode exercer um impacto positivo na redução do hiato entre atitude e comportamento favorável à preservação ambiental (Roque, 2016), visto que a motivação é a força que direciona as atividades do indivíduo às satisfações de suas necessidades e alcance de metas (Kotler & Keller, 2012). A transformação de atitudes e intenções em comportamentos requer a ruptura de duas barreiras: os hábitos e as necessidades psicológicas. Os hábitos são responsáveis em grande parte pela forma de consumo, e para mudá-los é preciso esforço, tempo e conscientização (Arbuthnott, 2012).
Além disso, um fator que pode influenciar positivamente na regulação do consumo de água é o enfrentamento de alguma situação de crise hídrica. Em uma pesquisa sobre análise das características do consumo de água no Distrito Federal, que levantou dados de 2014 a 2017, constatou-se uma redução do consumo per capita de em 15,4 milhões/m³, como consequência do período de racionamento iniciado em 2017. Os autores atribuem ainda que as variações observadas tenham sido causadas por uma conjunção de fatores, que vão desde a contração na renda, à majoração das tarifas, até a queda na atividade econômica (Brandão & Paviani, 2018).
Comportamentos de consumo de sustentável de água em populações universitárias
Na literatura, observa-se a existência de pesquisas relacionadas ao consumo consciente e ao meio ambiente que tiveram como amostra populações universitárias (Flach & Schuh, 2017; Silva, Bertolini & Brandalise, 2013 e Gorni et al., 2012). Entretanto, ainda há certa incipiência de estudos que tratem especificamente do consumo consciente de água aplicado às populações universitárias. A importância de mensurar e conhecer o comportamento de consumo consciente deste público justifica-se em razão da universidade ser um ambiente de formação de opinião e de posterior disseminação destes conhecimentos para a sociedade (Straughan & Roberts, 1999). Além disso, conhecer as características do consumidor é fundamental ao estímulo do consumo sustentável (Capelini, 2007).
Uma das pesquisas encontradas na literatura referentes a esta temática, trata da identificação de influência das variáveis demográficas sobre os diferentes comportamentos em relação ao consumo sustentável de água com a população universitária da Universidade de Viçosa. A pesquisa identificou que os consumidores do gênero feminino, com alta renda e escolaridade, são mais propensos ao consumo sustentável de água (Martins et al., 2018). Paralelamente, em um estudo realizado em escolas estaduais de Minas Gerais, constatou-se que os usuários possuem conhecimento sobre a preservação da água, mas a aplicação prática e a transformação desse conhecimento em ações efetivas ainda são limitadas (Oliveira, 2013).
3 Metodologia
O estudo possui perspectiva quantitativa, utilizando a estratégia de levantamento, que se serve de questionários ou entrevistas estruturadas para a coleta de dados, com o objetivo de efetuar generalizações a partir de uma amostra de população (Creswell, 2007).
A população deste estudo compreende os estudantes universitários da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus Cascavel. Foram considerados apenas os estudantes da modalidade presencial, compreendendo estudantes de graduação e pós-graduação. O montante de alunos da modalidade presencial do Campus de Cascavel corresponde a 3.229 pessoas, conforme o levantamento atualizado no ano de 2023 (Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2023).
Quanto a abordagem dos respondentes, realizou-se presencialmente e via Academus. A abordagem presencial ocorreu nos pontos de maior circulação de pessoas da universidade (restaurante universitário, corredores e entradas), disponibilizando um QR Code com acesso ao questionário pela plataforma do Google Forms. Além disso, foi solicitado à secretaria de comunicação o envio do questionário via Academus para todos os estudantes da modalidade presencial do Campus Cascavel. As abordagens iniciaram no início do mês de setembro de 2023 e foram finalizadas ao final do mesmo mês, ao alcançar o número amostral para a população definida.
No cálculo da amostragem mínima tendo em vista uma população finita, alguns fatores devem ser considerados, como o nível de confiança, o erro máximo permitido, a ocorrência do fenômeno e o tamanho da população (Miot, 2011). Para o cálculo do tamanho da amostra foi utilizada a fórmula abaixo, a erro de 5%, nível de confiança em 95% e “p” em 50%, pois é o valor que dará a amostra máxima, levando em consideração a população de 3.229 alunos.
Figura 1. Cálculo de amostragem de populações finitas
Nessas condições, a amostragem mínima é de aproximadamente 325 indivíduos, de acordo com resultados obtidos com a utilização da fórmula presente na Figura 1.
A aplicação do questionário pelos mecanismos de abordagem via Academus e presencial, resultou em um montante de 352 respondentes, ultrapassando a amostragem mínima necessária. Destaca-se que a amostra não foi estratificada a priori por Centro, e a proporção de respondentes foi maior no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (61,1% dos respondentes), possivelmente pela menor dispersão destes estudantes no campus, que se encontram num único bloco e turno de estudo, e pelo acesso facilitado da pesquisadora que pertence ao mesmo Centro. Entretanto, para os fins desta pesquisa, embora o número de respondentes tenha sido menor nos demais Centros, o comparativo foi realizado, considerando que o obtiveram proporções de resposta próximas da proporção da amostra geral (10%).
O questionário foi elaborado a partir da literatura com questões fechadas. A categorização das questões e detalhamento das referências utilizadas encontra-se na Tabela 1.
Tabela 1
Questionário da pesquisa
Quanto à escala, utilizou-se a do tipo Likert, escala de pontuação amplamente empregada, a qual demanda que os respondentes apontem o grau de concordância ou discordância para um conjunto de questões (Malhotra et al., 2005). Foi utilizada uma escala de 5 pontos, que vai de “discordo totalmente” a “concordo totalmente”, passando pelo ponto “nem concordo, nem discordo”, conforme a Figura 2.
Figura 2. Representação da escala de 5 pontos
A análise dos dados foi feita com análise de frequência e estatística descritiva, médias das respostas e correlação entre elementos do perfil dos respondentes e o comportamento de consumo sustentável de água que apresentaram.
4 Resultados e discussões
O questionário aplicado com os estudantes universitários conteve inicialmente um diagnóstico sociodemográfico que levantou informações pessoais e referentes ao curso, centro e período de estudo. Esta caracterização pode ser visualizada na Tabela 2.
Tabela 2
Resultados Sociodemográficos
Na sequência foram apresentadas as questões propostas para avaliação do comportamento de consumo sustentável dos estudantes, obedecendo a ordem de caracterização das variáveis analisadas, como descrito na Tabela 3.
Tabela 3
Resultados do questionário
Na categoria “Acesso à Informação”, percebe-se que os maiores percentuais apontam do ponto neutro para o concordo, indicando que a maioria dos estudantes tem conhecimento sobre assuntos relacionados à água. Ainda neste segmento, nota-se que o conhecimento de medidas para redução no consumo de água é comum para a maior parte dos respondentes. Em seguida, no conjunto de questões pertinentes ao “Peso da Variável Financeira”, os percentuais apontam que uma parcela dos estudantes nega a necessidade de descontos para que reduzam seu consumo e aceitam a punição pelo desperdício, entretanto economizar água para redução no valor da conta é um comportamento adotado pela maioria.
Em “Comportamento e Influência Social”, percebe-se que as campanhas publicitárias foram importantes na alteração do comportamento de consumo de água e que os estudantes possuem disposição individual, independendo da mudança de outras pessoas na alteração do seu próprio comportamento. Ainda, observa-se que a mudança de comportamento de consumo da comunidade ao entorno e a introdução de medidas governamentais, não configuram um fator essencial à mudança de consumo dos jovens.
Nas questões referentes à “Preservação Ambiental”, nota-se uma avaliação positiva, visto que os maiores percentuais se encontram na escala entre 4 e 5 para todas as questões abordadas. Isso indica que os estudantes se preocupam com a economia de água e com a sua disponibilidade permanente. Na pesquisa de Roque (2016), que serviu de base para elaboração deste instrumento, averiguou-se que o público é mais motivado por questões ambientais do que por questões econômicas, portanto programas e campanhas direcionadas ao incentivo do consumo consciente de água podem ser mais eficientes quando se emprega apelos ambientais. Paralelamente, quando questionados nos itens referentes às “Condições Climáticas”, a maioria aponta que houve mudanças de hábitos em períodos de escassez de água, e que no final destes períodos de racionamento muitos mantiveram estas medidas.
Em relação à categoria “Hábitos” os resultados apontam que a maioria dos estudantes adota medidas para redução do consumo de água, fechando pontos de consumo, evitando o uso de mangueiras para lavar calçadas, fechando a torneira ao lavar louças e escovar os dentes, encurtando o tempo do banho e utilizando a máquina de lavar na capacidade máxima. Observa-se, no entanto, que a prática de fechar o chuveiro durante o banho e tomar menos de um banho por dia não é adotada, devido ao percentual presente nestes itens.
Ao analisar a coluna que contém as médias da escala e elencar os valores em relação aos extremos (1 – discordo totalmente e 5 – concordo totalmente), nota-se que a menor média se encontra na questão referente a fechar o chuveiro durante o banho, o que significa que é a prática com menos adesão pelos estudantes. A maior média pode ser observada na questão referente ao fechamento de algum ponto de consumo que apresenta vasão, atitude empregada por grande parte dos respondentes.
Na sequência, cruzou-se informações sociodemográficas com a média obtida individualmente por questão através da escala aplicada, gerando um gráfico Box-Plot para cada variável analisada. A Figura 3 permite visualizar a distribuição dos dados ao comparar uma variável quantitativa (no caso em questão as médias das questões individuais) com uma variável qualitativa. Com isso, se pode observar a média, a mediana e os quartis, que revelam a distribuição dos dados. Além disso, é possível verificar os outliers, que são pontos de dados que diferem significativamente das demais observações. Dentro disso, o resultado do primeiro Box-Plot que compara o gênero com a média geral de consciência de consumo de água, demonstra que o sexo feminino apresentou maiores níveis de consciência de consumo e identificou outliers no sexo masculino, principalmente.
Figura 3. Gênero vs Média da Escala
Comparando a renda com a média geral da escala, percebe-se que não se pode inferir que uma maior renda familiar resulte em um melhor nível de comportamento de consumo. Nota-se que os estudantes que recebem até dois salários mínimos possuem maior média na escala, enquanto os níveis mais baixos são encontrados no grupo que recebe de 6 a 8 salários mínimos. Entretanto, este resultado difere-se do que foi observado em pesquisas como a de Roque (2016) e Martins et al. (2018), que igualmente compararam variáveis demográficas com o comportamento dos indivíduos em relação à água e identificaram associações positivas entre estas variáveis.
Figura 4. Renda vs Média da Escala
Ainda, ao comparar o Centro a que o curso de cada estudante pertence com a média geral da escala, nota-se de que o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) apresentou a maior média e a maior mediana. Já o Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas (CCET) teve a menor média e mediana, fato que demonstra que estudantes de áreas da saúde apresentam consciência de consumo de água mais elevadas, conforme a Figura 5.
Figura 5. Centro vs Média da Escala
Embora os estudos que analisem o comportamento de consumo de água sejam incipientes, é possível estabelecer alguns parâmetros comparativos com o que se apresenta hoje na literatura. Em uma pesquisa anterior que analisou o comportamento de consumo de água aplicada a populações universitárias relacionando elementos do perfil com os resultados obtidos, constatou-se que igualmente, o sexo feminino apresentou melhor comportamento de consumo de água (Martins et al., 2018). O mesmo pode ser observado em uma pesquisa que investigou o hiato entre comportamentos e atitudes em relação à água, que indica que o hiato é menor no sexo feminino Roque (2016). Os resultados obtidos nesta pesquisa corroboram com estes estudos que empregam características similares.
5 Conclusões
Este estudo teve como objetivo analisar os comportamentos de consumo sustentável de água apresentados por estudantes universitários da Unioeste/Cascavel, a partir de um conjunto de questões fechadas elaboradas com base na revisão de literatura respectiva à área e de sua aplicação pelo método de levantamento. As principais contribuições deste trabalho são de um nível geral de consciência comportamental positivo por parte da maioria dos estudantes respondentes da pesquisa. Analisando-se o conjunto de questões pertencentes às variáveis “Acesso à Informação”, “Peso da Variável Financeira”, “Comportamento e Influência Social”, “Preservação Ambiental”, “Condições Climáticas” e “Hábitos”, se pode conhecer as características comportamentais dessa população no que se refere ao uso da água.
Dentre as informações apuradas, constatou-se que o nível de conhecimento dos estudantes sobre ações para mitigar o desperdício de água é satisfatório. Além disso, a maioria aceita punições pelo desperdício de água e nega a necessidade de descontos para reduzir o consumo, entretanto a redução no valor da conta ainda é um fator motivante para a economia. Uma informação relevante é a disposição individual dos estudantes, uma vez que a pesquisa demonstra que para a maioria, mudanças de comportamento de consumo independem das ações de terceiros, inclusive de imposições governamentais.
Paralelamente, pode-se notar pelos resultados que existe uma consciência ambiental atrelada ao uso da água e que condições climáticas críticas forçaram a adoção de novas medidas que foram mantidas posteriormente pelos estudantes. Em relação aos hábitos de consumo de água analisados, percentuais majoritários indicam que bons hábitos são adotados para a grande maioria das tarefas cotidianas, entretanto o momento do banho é uma tarefa que foge às estimativas de economia de água apresentadas nos demais itens considerados para a variável.
Constatou-se que o sexo feminino possui um melhor nível de comportamento de consumo de água, e que maiores níveis de renda não equivalem a maiores níveis de consciência de consumo, uma vez que os estudantes que recebem até dois salários mínimos foram os que apresentaram a maior média na escala. Por fim, estudantes do centro de ciências biológicas e da saúde apresentaram os melhores índices de propensão ao uso consciente de água, em contrapartida, estudantes de ciências exatas apresentaram índices inferiores.
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Doutorado em Administração pela Universidade Federal do Paraná. Professora Associada na Universidade Estadual do Oeste do Paraná2