CENTER OF PRESSURE DURING GAIT INITIATION IN CHILDEREN 6 TO 9 YEARS OLD
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7850002
Thamara Cardoso Jacob1
Fernanda Grazielle da Silva Azevedo Nora2
RESUMO
A inicialização da marcha é a transição entre a postura em pé parada até a propulsão do corpo para frente, dando início ao primeiro passo. Crianças com idades entre 1 e 3 anos estão na fase de aquisição do andar independente. A partir dos três anos de idade, a criança inicia a fase de aquisição do padrão maduro da marcha, semelhante à de um adulto normal. Objetivo: Analisar e comparar o comportamento do centro de pressão de crianças com faixa etária entre 6 e 9 anos, que se encontram na fase de aquisição do padrão maduro da marcha. Participantes: Participaram do estudo 30 crianças de ambos os sexos, agrupadas em dois grupos: G6 (6 anos) e G9 (9 anos). A partir da plataforma de força. Variáveis: Analisou-se as variáveis referente a amplitude de deslocamento do centro de pressão e a velocidade média nas direções anteroposterior e médio-lateral, durante a inicialização da marcha. Resultados: O G6 apresentou valores maiores e significativos (p < 0,05) para as variáveis 1V_ML (fase antecipatória), 3V_AP e 3V_ML (fase de execução do segundo passo). Para as variáveis 1Des_AP, 1Des_ML, 1V_AP, 2Des_AP, 2Des_ML, 2V_AP, 2V_ML, 3Des_AP e 3Des_ML, o G9 apresentou valores superiores (p < 0,05) ao G6. Conclusão: Os resultados sugerem que a estratégia de equilíbrio das crianças se modifica ao longo do seu desenvolvimento. O uso da plataforma de força é essencial para avaliar essas mudanças de desenvolvimento na marcha e de identificar possíveis déficits no equilíbrio infantil.
Palavras-chave: Inicialização da Marcha; Centro de Pressão; Crianças; Equilíbrio Dinâmico
ABSTRACT
Gait initiation is the transition between the standing posture and the forward propulsion of the body, initiating the first step. Children aged between 1 and 3 years are in the phase of acquiring independent gait. From the age of three, the child begins to acquire a mature gait pattern, similar to that of a normal adult. Objective: To analyze and to compare the behavior of the center of pressure of children aged between 6 and 9 years, who are in the phase of acquiring the mature pattern of gait. Participants: Thirty children of both sexes participated in the study, grouped into two groups:G6 (6 years old) and G9 (9 years old). Variables: From the force platform, the variables related tothe amplitude of displacement of the center of pressure and the average velocity in the anteroposterior and mediolateral directions were analyzed, during the initialization of the gait. Results: Group G6 presented higher and significant values (p < 0.05) for the variables 1V_ML (first phase – anticipatory), 3V_AP and 3V_ML (third step: execution phase). For the variables 1Des_AP, 1Des_ML, 1V_AP (first phase – anticipatory), 2Des_AP, 2Des_ML, 2V_AP, 2V_ML (second phase – first step), 3Des_AP and 3Des_ML (third phase – second step), group G9 presentedhigher values (p < 0.05) than group G6. Conclusions: The results reveals that children’s balance strategy changes throughout their development. The use of a force platform is essential to assess these developmental changes in gait and to identify possible deficits in infant balance.
Keywords: Gait Initiation; Center of pressure; Children; Dynamic Equilibrium.
1. INTRODUÇÃO
A inicialização da marcha é uma ação complexa que desafia o equilíbrio e exige do controle motor na coordenação da transição entre a postura em pé parada até a propulsão do corpo para frente, iniciando o andar contínuo e instável (WINTER, 1995; MALOUIN et al., 2000; COUDRAT, GÉLAT, LE PELLEC, 2017; DA SILVA AZEVEDO NORA et al., 2020, NORA et al., 2021). Para a manutenção do equilíbrio corporal na coordenação da postura e do movimento, o sistema nervoso central utiliza dois mecanismos de controle: antecipatório (feedforward) e compensatório (feedback)..
Os ajustes posturais antecipatórios (APAs) consistem na ativação ou inibição involuntária dos músculos posturais antes de iniciar uma atividade que gere uma perturbação no equilíbrio, ou seja, é um pré-requisito para qualquer movimento voluntário de um segmento corporal, percebido a olho nu (LEDEBT, BRIL, BRENIÈRE, 1998; COUDRAT, GÉLAT, LE PELLEC, 2017; DA SILVA AZEVEDO NORA et al., 2020; MANI et al., 2021), com intuito de contrapor-se aos efeitos mecânicos e manter a estabilidade.
Os APAs na direção anteroposterior (AP) refletem a criação das condições necessárias para a progressão (BRENIÈRE, CUONG DO, BOUISSET, 1987) e os APAs na direção médio-lateral (ML), lidam com a transferência do peso corporal e da estabilidade lateral (LYON, DAY, 1997; MCILLROY, MAKI, 1999; YIOU, DO, 2010; COUDRAT, GÉLAT, LE PELLEC, 2017). A capacidade de ficar em pé e andar de forma independente está relacionada ao desenvolvimento do controle postural antecipatório (VAN DER FITS et al., 1999; CIGNETTI et al., 2013; MANI et al., 2021).
Dessa forma, os APAs são importantes para a diversas atividades da vida diária, e em especial, para a inicialização da marcha ao deslocar o centro de pressão (CoP) dos pés nas direções posterior e lateral em direção ao pé de apoio. Esse deslocamento auxilia no impulso do centro de massa (CoM) para frente, recurso necessário para que se efetive um passo. Os APAs contribuem para a estabilidade postural (MCILROY, MAKI, 1999) e atua na criação de forças propulsoras necessárias para alcançar a marcha a uma velocidade predefinida (LEPERS, BRENIÈRE, 1995; STANSFIELD et al., 1999; ISAIAS et al., 2014).
Os ajustes posturais compensatórios (APCs) acontece quando há perturbações no equilíbrio decorrente de forças externas inesperadas após o início do movimento, previsto ou não, ativando os músculos posturais e restaurando o equilíbrio (DUFOSSÉ et al., 1985; GODOI e BARELA, 2002). Esses ajustes têm como função de neutralizar e prevenir os efeitos mecânicos da instabilidade, agindo na manutenção do CoM dentro da base de sustentação (BoS), para evitar o deslocamento do CoP associado ao movimento.
Estudos anteriores demonstram que tanto os APAs como os APCs associados à inicialização da marcha são adaptáveis de acordo com a especificidade e os requisitos que uma determinada tarefa exige, como por exemplo a velocidade da marcha alcançada ao final do primeiro passo, a configuração postural inicial, carga, direção do movimento, superfície de apoio, etc (BRENIÈRE, CUONG DO, BOUISSET, 1987; COUILLANDRE, MATON, BRENIÈRE, 2000; DA SILVA AZEVEDO NORA et al., 2020, NORA et al., 2021).
Hay e Redon (1999) compararam crianças com idade entre 3 e 10 anos com adultos e como resultado não houveram diferenças significativas com relação ao funcionamento dos APCs. Já no mecanismo de APAs foram semelhantes ao adulto, somente em crianças acima de 8 anos de idade. Palluel et al. (2008), em seu estudo demonstraram que as crianças apresentam um comportamento antecipatório semelhante ao adulto somente na idade de 12 anos. Por outro lado, Nora et al. (2021) apresenta que aos três anos, as crianças já realizam o passo com mais segurança e dinamismo, sugerindo que ao executar o movimento do segundo passo, a criança utiliza de estratégias semelhantes à um adulto.
A aquisição e desenvolvimento da marcha possuem características e particularidades por solicitar tanto a capacidade motora quanto a adaptabilidade. Quando há qualquer disfunção, alteração na marcha ou entre os parâmetros, seja por idade, patologia, lesão ou qualquer outro motivo, identificam-se como distúrbios da marcha e, na sua ausência sugere normalidade (ALLARD et al., 2017). Desse modo, o presente estudo tem por objetivo analisar o comportamento do centro de pressão durante o processo de inicialização da marcha na fase de amadurecimento do andar independente em crianças de 6 e 9 anos de idade.
2. METODOLOGIA
2.1 Sujeitos participantes
Participaram do estudo crianças de ambos os sexos com idade de 6 anos e 9 anos, representando um total de 30 crianças saudáveis e capazes de caminhar de forma independente. Levou-se em consideração também a identificação das deficiências primárias neuromusculares e/ou musculoesqueléticas que afetam a marcha (ADAMS, PERRY, 2007). Sendo assim, não foram selecionadas para este estudo as crianças com patologias de origem neuromuscular e/ou ortopédica e/ou qualquer distúrbio da marcha. As crianças foram agrupadas em dois grupos: o G6 foi composto por crianças de 6 anos (n=15) e o G9 composto por crianças de 9 anos (n=15).
2.2 Aspectos éticos
Trata-se de um estudo transversal no qual analisou-se os componentes de força e as coordenadas do CoP nos momentos correspondentes a atividade de inicialização da marcha (fase antecipatória, fase de execução do 1º passo e a fase do 2º passo) em crianças. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (CEP/UFG) registrado sob o parecer de número 2.016.980. Participaram do estudo somente as crianças no qual o responsável legal preencheu e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando a participação do menor no estudo, podendo retirar a participação em qualquer etapa do estudo.
2.3 Protocolo experimental
No intuito de caracterizar os grupos, utilizou-se uma coleta de informações contendo dados sobre idade, estatura e peso corporal. Para o procedimento da coleta de dados utilizou-se uma plataforma de força AMTI, modelo L201. Para registrar os componentes da força de reação do solo ajustou-se a frequência de amostragem de 100Hz, filtrados por meio de filtro Butterworth passabaixa de quarta ordem com frequência de corte de 6 Hz e de fase zero.
Para a execução do protocolo a seguir, a criança precisou cumprir os seguintes requisitos: realizar todas as etapas usando roupas leves (short e camiseta) e estar descalça para que o calçado não interferisse na realização da atividade. Dessa forma, cada criança permaneceu em pé e parado, com os dois pés ligeiramente afastados sobre a plataforma de força – fase antecipatória. Ao comando sonoro dado pelo pesquisador, iniciava a atividade. A atividade consistia em executar o primeiro passo, iniciando com o pé dominante, e caminhar até o final da trajetória (sob blocos de madeira de dois metros) previamente informada (NORA et al., 2019; NORA et al., 2021). Cada criança teve três tentativas para realizar o protocolo.
A trajetória do CoP foi dividida em três fases (LEDEBT et al., 1998, MALOUIN et al., 2000, HASS et al., 2012, VIEIRA et al., 2015, NORA et al., 2019; NORA et al., 2021): Fase 1 – Antecipatória: início do movimento até a posição mais lateral do CoP em direção ao pé de balanço (fase de duplo apoio); Fase 2 – Primeiro passo: momento entre o final da Fase 1 até a posição mais lateral do CoP, em direção ao pé de apoio e a; Fase 3 – Segundo passo: momento entre o final da Fase 2 até o final do movimento, quando o CoP se desloca para frente (realização do 2º passo).
O início do movimento se deu pelo instante no qual acontece o movimento do CoP na direção anteroposterior (AP) e na direção médio-lateral (ML), em direção pé de balanço, enquanto a criança estava em cima da plataforma aguardando o comando sonoro dado pelo pesquisador. O final do movimento é o instante no qual acontece a perda de contato do pé de apoio com a plataforma, consequentemente, a componente vertical da força de reação do solo cai a zero.
2.4 Local da realização do protocolo experimental
Para proceder com a coleta de dados, os equipamentos necessários foram organizados na própria instituição de ensino em que as crianças estão matriculadas, por ser um local em que as crianças já estão ambientadas, minimizando os riscos da interferência externa.
2.5 Variáveis analisadas
Analisou-se as seguintes variáveis:
I. amplitude de deslocamento do CoP, dada em centímetros (cm) nas direções AP (Des_AP) e ML (Des_ML). A amplitude de deslocamento do CoP foi calculada pela raiz quadrada da soma da derivada do CoPy e derivada do COPx, para a tarefa completa e para cada uma das fases da inicialização da marcha (WINTER, 1995);
II. velocidade média de deslocamento do CoP, dada em centímetros/segundo (cm/s) nas direções AP (V_AP) e ML (V_ML). A velocidade média foi calculada pela soma da diferenciação do deslocamento do CoP, dividida pelo tempo total da tarefa e de cada fase. As variáveis foram avaliadas em cada uma das três fases do movimento de inicialização da marcha e apresentadas como média.
2.6 Análise estatística
A análise estatística foi realizada por meio do software Minitab 19.0. O teste de normalidade de Kolmogorov Smirnov evidenciou a distribuição dos dados. Para constatar se houve diferença entre os grupos para a variável amplitude de oscilação e velocidade aplicou-se o teste de Kruskal Wallis com post-hoc de Tukey, considerando assim, o nível de significância com valor de p < 0,05. Em ambiente Matlab (Mathworks versão 12) foi elaborado um código com a finalidade de realizar o cálculo do centro de pressão e das variáveis de interesse.
3. RESULTADOS
Participaram do estudo 30 crianças, sendo 15 crianças com idade de 6 anos (G6) e 15 crianças com idade de 9 anos (G9). As características antropométricas das crianças participantes da pesquisa (idade, estatura e massa corporal) estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1: Características antropométricas das crianças participantes
G6 (n =15) | G9 (n=15) | |
Idade (Anos) | 6,21 (±0,78) | 9,77 (±1,38) |
Estatura (cm) | 115,9 (±0,65) | 139,65 (±0,28) |
Massa Corporal (kg) | 18,37 (±0,55) | 34,45 (±0,35) |
Os resultados estão apresentados em média e ± desvio-padrão
Fonte: Elaborada pelas autoras (2022).
A tabela 2 apresenta os resultados obtidos da amplitude de deslocamento do CoP (cm) nas direções anteroposterior (Des_AP) e mediolateral (Des_ML) na fase antecipatória, ou seja, primeira fase de inicialização da marcha no qual cada criança permaneceu em pé e parada, com os dois pés ligeiramente afastados sobre a plataforma.
Tabela 2: Deslocamento do centro de pressão durantes as três fases da inicialização da marcha em crianças
Fase 1 – Antecipatória | ||||
G6 | G9 | Valor P | ||
1Des_AP (cm) | 5,17 (±1,17) | 6,80 (±0,80) | 0,000* | |
1Des_ML (cm) | 6,34 (±1,24) | 11,90 (±1,98) | 0,004* | |
Fase 2 – Primeiro passo | ||||
G6 | G9 | Valor P | ||
2Des_AP (cm) | 8,35 (±2,05) | 15,40 (±3,40) | 0,000* | |
2Des_ML (cm) | 9,39 (±1,93) | 17,01 (±2,05) | 0,004* | |
Fase 3 – Segundo passo | ||||
G6 | G9 | Valor P | ||
3Des_AP (cm) | 9,15 (±1,65) | 18,20 (±3,45) | 0,000* | |
3Des_ML (cm) | 8,61 (±0,51) | 14,62 (±0,51) | 0,004* |
Os resultados estão apresentados em média e ± desvio-padrão
Fonte: Elaborada pelas autoras (2022).
O valor encontrado para 1Des_AP na fase antecipatória do grupo G6, foi menor do que no grupo G9. Para 1Des_ML o valor encontrado de G6 também foi menor que no grupo G9. Houve diferenças estatísticas na fase antecipatória com relação às variáveis de deslocamento do CoP analisadas (1Des_AP e 1Des_ML) ao comparar o grupo G6 com G9 (p=0,0001 e p=0,004, respectivamente).
A amplitude de deslocamento do CoP no momento em que registra o final da fase antecipatória até a posição mais lateral do CoP, em direção ao pé de apoio, está apresentada na tabela 2. O valor encontrado para 2Des_AP pelo grupo G6 foi menor do que no grupo G9. Para 2Des_ML o valor encontrado de G6 também foi menor que no grupo G9. Houve diferenças estatísticas na fase 2 com relação às variáveis de deslocamento do CoP analisadas (2Des_AP e 2Des_ML) ao comparar o grupo G6 com G9 (p=0,0001 e p=0,004, respectivamente).
Os valores que correspondem ao deslocamento do CoP na fase 3 estão expressos na tabela 2. A fase 3 representa o momento entre o final da Fase 2 até o final do movimento, quando o CoP se desloca para frente. Na execução do segundo passo, os valores que correspondem ao deslocamento do CoP 3Des_AP e 3Des_ML foram menores no grupo G6 do que no grupo G9 (p=0,000 e p=0,004, respectivamente).
A tabela 3 apresenta os resultados obtidos da velocidade média de deslocamento do CoP (cm/s) nas direções anteroposterior (V_AP) e médio-lateral (V_ML) na fase antecipatória do movimento, ou seja, primeira fase de inicialização da marcha no qual cada criança permaneceu em pé e parada, com os dois pés ligeiramente afastados sobre a plataforma. O valor encontrado para 1V_AP do G6 foi significativamente menor quando comparado ao G9 (p=0,001). Ainda no mesmo momento, G6 apresentou uma velocidade média na direção médio-lateral superior ao G9 (p=0,003).
Tabela 3: Velocidade do centro de pressão durantes as três fases da inicialização da marcha em crianças
Fase 1 – Antecipatória | ||||
G6 | G9 | Valor P | ||
1V_AP (cm/s) | 5,44 (±0,58) | 7,20 (±,078) | 0,001* | |
1V_ML (cm/s) | 8,02 (±2,02) | 4,56 (±1,67) | 0,003* | |
Fase 2 – Primeiro passo | ||||
G6 | G9 | Valor P | ||
2V_AP (cm/s) | 8,16 (±3,65) | 10,80 (±3,85) | 0,001* | |
2V_ML (cm/s) | 5,92 (±0,75) | 8,67 (±1,35) | 0,003* | |
Fase 3 – Segundo passo | ||||
G6 | G9 | Valor P | ||
3V_AP (cm/s) | 9,91 (±1,78) | 4,77 (±1,64) | 0,001* | |
3V_ML (cm/s) | 8,23 (±1,45) | 5,21 (±3,45) | 0,003* |
Os resultados estão apresentados em média e ± desvio-padrão
Fonte: Elaborada pelas autoras (2022).
A velocidade do CoP na segunda fase, registrada no momento final da fase antecipatória até a posição mais lateral do CoP, em direção ao pé de apoio, está apresentada na tabela 3. Nesta fase, os valores encontrados para as variáveis 2V_AP e 2V_ML no G6 foram menores quando comparados com o grupo G9 (p=0,001 e p=0,003, respectivamente). Os valores que correspondem a velocidade do CoP na fase 3 estão expressos na tabela 2. Os valores encontrados para 3V_AP e 3V_ML durante a execução do segundo passo foram significativamente maiores para o grupo G6 do que no grupo G9.
Nas três fases de inicialização da marcha, analisando as variáveis de deslocamento do CoP e a velocidade média do CoP, houve diferenças estatísticas entre os dois grupos investigados neste estudo. Nas tabelas 4 e 5 estão apresentados os valores de cada grupo, em cada uma das três fases de inicialização da marcha, a fim de acompanhar e apresentar a progressão dos resultados individualmente.
Tabela 4: Variáveis obtidas pelo grupo G6
Fase Antecipatória | Fase 2 – primeiro passo | Fase 3 – segundo passo | |
Des_AP | 5,17 (±1,17) | 8,35 (±2,05) | 9,15 (±1,65) |
Des_ML | 6,34 (±1,24) | 9,39 (±1,93) | 8,61 (±0,51) |
V_AP | 5,44 (±0,58) | 8,16 (±3,65) | 9,91 (±1,78) |
V_ML | 8,02 (±2,02) | 5,92 (±0,75) | 8,23 (±1,45) |
Os resultados estão apresentados em média e ± desvio-padrão
Fonte: Elaborada pelas autoras (2022).
Tabela 5: Variáveis obtidas pelo grupo G9
Fase Antecipatória | Fase 2 – primeiro passo | Fase 3 – segundo passo | |
Des_AP | 6,80 (±0,80) | 15,40 (±3,40) | 18,20 (±3,45) |
Des_ML | 11,90 (±1,98) | 17,01 (±2,05) | 14,62 (±0,51) |
V_AP | 7,20 (±,078) | 10,80 (±3,85) | 4,77 (±1,64) |
V_ML | 4,56 (±1,67) | 8,67 (±1,35) | 5,21 (±3,45) |
Os resultados estão apresentados em média e ± desvio-padrão
Fonte: Elaborada pelas autoras (2022).
4. DISCUSSÃO
No presente estudo, comparou-se o comportamento do centro de pressão com o objetivo de analisar dois períodos da infância a fim de obter informações sobre como o corpo reage às instabilidades da postura a partir da inicialização da marcha na fase de amadurecimento do andar independente, em crianças de 6 e 9 anos de idade. As variáveis estudadas, deslocamento e a velocidade do CoP, nos direciona para a avaliação do controle do equilíbrio e da locomoção sugerindo, quando necessário, instabilidades em sujeitos saudáveis e/ou com alguma patologia.
Por volta de sete e oito anos de idade, a estratégia dos movimentos articulares do quadril e tornozelos (DUARTE e FREITAS, 2010; CASTRO, 2013) juntamente com a atividade muscular dos extensores do tronco são utilizadas para o controle da oscilação na postura em pé (BERGER et al., 1995; LAFOND et al., 2009; CASTRO, 2013). Essas estratégias são semelhantes à de um adulto ao assumir uma posição que exige equilíbrio estático, e isso reflete nas características da marcha adulta, como a diminuição da velocidade das mudanças e a previsibilidade do padrão da marcha madura.
Logo, as crianças de 6 e 9 anos deste estudo demonstram a perspectiva do período de amadurecimento da habilidade de manter a postura na transição entre o equilíbrio estático e o equilíbrio dinâmico, indicando amadurecimento do desenvolvimento e desempenho motor, a depender da tarefa requisitada e do ambiente em que esta será realizada.
Enquanto houve uma progressão na amplitude de deslocamento do CoP (Des_AP) nas fases da inicialização da marcha, em ambos os grupos, ao compará-los entre si, nas demais variáveis os valores oscilam. Diante dos resultados obtidos, a amplitude de deslocamento do CoP nas direções anteroposterior e mediolateral das crianças do grupo G9 apresentaram valores maiores quando comparados com o grupo G6.
Esse achado corrobora com o previsto na literatura, de que quanto mais experiente a criança for com o processo da inicialização da marcha, mais desenvolvido estão aos ajustes antecipatórios e assim, maior será a amplitude de deslocamento do CoP nas direções anteroposterior e médio lateral (MALOUIN e RICHARDS, 2000; DA SILVA AZEVEDO NORA et al., 2015; 2020; NORA et al., 2021).
Na fase antecipatória, o grupo G6 apresentou valores menores amplitude de deslocamento 1Des_AP e 1Des_ML sugerindo que nesta faixa etária, que compõe a fase de aprimoramento do andar independente e dos ajustes antecipatórios, sendo assim, é exigido mais equilíbrio para manter a postura no início da progressão do corpo ao se deslocar para frente e portanto, necessita de mais experiência com o andar, quando comparados com as crianças maiores do grupo G9.
A velocidade do deslocamento na direção AP (1V_AP), na fase antecipatória da inicialização da marcha, apresentou valores estatisticamente menores (p=0,001) para as crianças do grupo G6 (5,44 ± 0,58) quando comparado com o grupo G9 (7,20 ± ,078). Quanto à velocidade do deslocamento do CoP na direção ML (1V_ML), o grupo G6 apresentou valores maiores (8,02 ± 2,02) e significativos (p=0,003) que as crianças do grupo G9 (4,56 ± 1,67).
A variável de velocidade do deslocamento do CoP está associada ao equilíbrio e ao controle da inicialização do movimento da marcha propriamente dita. A tendência é que a velocidade do deslocamento diminua com a idade, ao passo que a criança adquire mais experiência com o andar independente.
Diferentemente dos resultados apresentados aqui, estudos anteriores descrevem que na fase antecipatória da inicialização da marcha, os valores referente às variáveis de amplitude de deslocamento e a velocidade média do CoP são estatisticamente menores em crianças mais jovens, ou seja, menos experientes com o andar independente (MALOUIN e RICHARDS, 2000; DA SILVA AZEVEDO NORA et al., 2015; 2020; NORA, 2010; NORA et al., 2021).
Na execução do primeiro passo, também conhecida como fase 2 – de sobrecarga do pé de apoio – encontram-se os seguintes resultados: a velocidade média dos dois grupos aumentou quando comparados entre si e analisados com os dados obtidos na fase antecipatória. Para as crianças do grupo G6, o 2Des_AP, 2Des_ML, 2V_AP e 2V_ML apresentaram um padrão menor (p=0,000; p=0,004, p=0,001 e p=0,003 respectivamente) que os valores encontrados pelo grupo G9. Esses achados correspondem ao encontrado por Hay e Redon (1999) e Mani et al. (2019), no qual afirmam que a amplitude de deslocamento do CoP nas direções AP e, principalmente, ML aumenta gradualmente até os oito anos de idade.
Na fase 3 de execução do segundo passo, ou seja, no momento em que o CoP está sob o pé de apoio, o deslocamento 3Des_AP e 3Des_ML, no grupo G9 apresentou valores estatisticamente maiores que no grupo G6 (p=0,000 e p=0,004 respectivamente). Quanto à velocidade de deslocamento do CoP na fase 3, o grupo G6 tanto na 3V_AP (p=0,001) quanto na 3V_ML (p=0,003) aumentou quando comparado com o grupo G9.
A transferência do peso nas direções ML exigem mais dos sistemas posturais do que nas direções AP (de propulsão do passo à frente) pois induz o desequilíbrio lateral do corpo. A base de apoio se adequa proporcionalmente ao crescimento, porém, ao comparar as faixas etárias, crianças mais novas têm a base de sustentação mais larga para manter a postura bípede e o equilíbrio. Isso ocorre porque a relação largura/altura pélvica é maior em crianças mais novas e requer um comportamento diferente (HAY e REDON, 1999; MANI et al., 2019; MANI et al., 2021).
Portanto, os resultados encontrados nesse estudo podem estar relacionados à distância entre os pés, a partir da posição inicial do protocolo experimental. Nesses casos, o sistema nervoso central (SNC) usa uma estratégia mais protetora, priorizando a estabilidade e conforto ao invés do desempenho motor. Houve diferenças estatísticas entre os dois grupos investigados, a partir dos dados obtidos por meio das variáveis de deslocamento do CoP e a velocidade média do CoP. Os resultados sugerem que a estratégia de equilíbrio em crianças se modifica ao longo do desenvolvimento. O uso da plataforma de força é essencial para avaliar essas mudanças de desenvolvimento na marcha e de identificar possíveis déficits no equilíbrio infantil.
5. CONCLUSÃO
A marcha é uma complexa habilidade que requer controle das forças propulsoras para manter a postura e o equilíbrio durante a tarefa. Essa habilidade se desenvolve ao longo dos anos da infância por meio de experimentação e vivência que estimulem o desempenho motor, sendo assim, é considerada um marco de independência da criança.
O presente estudo analisou o comportamento do centro de pressão durante o movimento de transição entre o equilíbrio estático e dinâmico, por meio da inicialização da marcha, em crianças que estão na entre os dois momentos de desenvolvimento: o amadurecimento da marcha independente e a aquisição do padrão de marcha adulta.
Os resultados deste estudo indicam que a inicialização da marcha está intimamente relacionada à idade das crianças. Na fase antecipatória, a amplitude de deslocamento aumenta com a idade, assim como a velocidade de deslocamento na direção AP. A velocidade de deslocamento do CoP durante as três fases de inicialização da marcha sofre uma oscilação, entre os grupos analisados. Para a manutenção do equilíbrio, em resposta ao estímulo do primeiro passo, o grupo de crianças menores (G6) atrasam o tempo de ajustes, diferentemente das crianças maiores (G9).
6. REFERÊNCIAS
ALLARD, P.; LETENEUR, S.; WATELAIN, É.; BEGON, M. Urban legends in gait analysis. Movement & Sport Sciences, 98, p. 5-1, 2017.
BRENIÈRE Y.; CUONG DO M.; BOUISSET S. Are dynamic phenomena prior to stepping essential to walking? Journal of Motor Behavior, n. 29, p. 19 – 62, 1987.
COUDRAT, L.; GÉLAT, T.; LE PELLEC, A. Interaction between emotion and postural control associated with forward or backward step initiation. Movement & Sport Sciences – Science & Motricité, 98, p. 31–38, 2017.
DA SILVA AZEVEDO NORA, F. G.; HENTSCHEL LOBO DA COSTA, P.; FRAGA VIEIRA, M. Comportamento do centro de pressão no equilíbrio estático e dinâmico: Ballet e Inicialização ao Passo. Novas Edições Acadêmicas, 2015.
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1Mestre em Educação Física pela UFG – Goiânia-GO
UFG – Faculdade de Educação Física e Dança – Campus Goiânia / GO Avenida Esperança s/n, Campus Samambaia, Goiânia – Goiás, CEP: 74690-900
e-mail: jacob.thamara@hotmail.com
2Doutorado em Fisioterapia pela UFSCar, São Carlos – SP
UFG – Faculdade de Educação Física e Dança – Campus Goiânia / GO Avenida Esperança s/n, Campus Samambaia, Goiânia – Goiás, CEP: 74690-900
e-mail: fernanda_nora@ufg.br