REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8001546
Gisele da Silva dos Santos Souza¹
Lidiane Cardoso Dos Santos Sodré²
Nathalie Neves de Araújo³
Bruna Eleres do Nascimento4
Maria Vitória Alves Prado5
Analice Barbosa Santos de Oliveira6
Vanessa Pereira de Sousa7
Natiélly Cristine dos Santos8
Isabele Cristina Sampaio de Lima Soares9
Mayra Natasha Santana da Silva10
RESUMO
A anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por uma restrição alimentar significativa e uma preocupação excessiva com o peso corporal. As complicações nutricionais e metabólicas da anorexia nervosa podem ser graves e, em alguns casos, fatais. A restrição alimentar na anorexia nervosa pode levar a deficiências nutricionais, incluindo deficiências de vitaminas e minerais essenciais, como ferro, zinco, cálcio e vitamina D. Isso pode levar a uma série de complicações, incluindo anemia, osteoporose e fraqueza muscular. O objetivo desse artigo, através de uma revisão de literatura narrativa, é discutir as complicações nutricionais e metabólicas que decorrem da anorexia nervosa. Conclui-se que à medida que a anorexia avança, é frequente haver mudanças no metabolismo dos macronutrientes e micronutrientes, além de ocorrer alterações sistêmicas que podem levar a complicações em diversos órgãos.
Palavras-chave: Anorexia Nervosa, Complicações, Alterações Nutricionais, Desnutrição.
ABSTRACT
Anorexia nervosa is an eating disorder characterized by significant food restriction and excessive concern about body weight. The nutritional and metabolic complications of anorexia nervosa can be serious and, in some cases, fatal. Food restriction in anorexia nervosa can lead to nutritional deficiencies, including deficiencies in essential vitamins and minerals such as iron, zinc, calcium, and vitamin D. This can lead to a range of complications, including anemia, osteoporosis, and muscle weakness. The aim of this article, through a narrative literature review, is to discuss the nutritional and metabolic complications that arise from anorexia nervosa. It is concluded that as anorexia advances, it is common to have changes in the metabolism of macronutrients and micronutrients, as well as systemic alterations that can lead to complications in various organs.
Keywords: Anorexia Nervosa, Complications, Nutritional Changes, Malnutrition.
I. INTRODUÇÃO
A anorexia nervosa é um transtorno alimentar psiquiátrico caracterizado por uma perda de peso significativa, acompanhada de uma restrição alimentar persistente e uma preocupação excessiva com o peso corporal, resultando em desnutrição e consequentes complicações fisiológicas e psicológicas. É considerada uma doença complexa que envolve fatores biológicos, psicológicos e ambientais.1
Trata-se de um transtorno alimentar que afeta principalmente mulheres jovens, mas também pode afetar homens e pessoas de outras idades. Este transtorno é caracterizado por uma restrição alimentar significativa, juntamente com uma preocupação excessiva com o peso corporal, resultando em perda de peso significativa e desnutrição.2
As complicações nutricionais e metabólicas da anorexia nervosa podem ser graves e, em alguns casos, fatais. Além das complicações físicas, a anorexia nervosa também pode ter um impacto significativo na saúde mental do paciente. Os indivíduos com anorexia nervosa têm um risco aumentado de desenvolver depressão, ansiedade, comportamentos auto lesivos e suicídio.3
O tratamento da anorexia nervosa envolve uma abordagem multidisciplinar, que inclui aconselhamento psicológico, nutrição adequada e, em alguns casos, medicamentos. O tratamento precoce e adequado é essencial para melhorar o prognóstico e reduzir o risco de complicações graves.4
A revisão de literatura sugere que a anorexia nervosa é uma doença complexa que envolve fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Alguns dos fatores de risco para o desenvolvimento da anorexia nervosa incluem história familiar de transtornos alimentares, história de abuso físico ou sexual, baixa autoestima, perfeccionismo e pressão social para ser magro.
II. ANOREXIA NERVOSA
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a anorexia nervosa como um transtorno alimentar caracterizado por uma recusa a manter o peso corporal em ou acima do valor mínimo normal, um medo intenso de ganhar peso ou tornar-se gordo, e uma perturbação na forma como o peso ou a forma corporal são experimentados. Além disso, a CID-10 enfatiza que a anorexia nervosa não é causada por uma falta de disponibilidade de alimentos e que muitos pacientes com anorexia nervosa negam a gravidade de sua perda de peso e geralmente têm uma imagem corporal distorcida.5
Segundo a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a anorexia nervosa é definida pela presença de: restrição alimentar significativa que leva a um peso corporal abaixo do normal para a idade, altura e sexo do indivíduo (por exemplo, peso inferior a 85% do esperado); intenso medo de ganhar peso ou se tornar obeso, mesmo que o indivíduo já esteja abaixo do peso esperado; distúrbio na forma como o indivíduo percebe seu próprio peso ou forma corporal, com autoavaliação excessivamente influenciada pelo peso corporal ou forma corporal, ou falta de reconhecimento da gravidade da perda de peso atual.6
Pode ser dividida em dois subtipos: o restritivo, em que a perda de peso é alcançada principalmente pela restrição alimentar, e o purgativo, em que a perda de peso é alcançada através de comportamentos compensatórios, como vômitos autoinduzidos, uso de laxantes e diuréticos. A anorexia nervosa pode ter um impacto significativo na qualidade de vida do paciente e, se não tratada adequadamente, pode ser fatal.
Existem grupos que apresentam maior risco de desenvolver transtornos alimentares, como a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. Dentre esses grupos, destacam-se os adolescentes, que são particularmente vulneráveis devido às mudanças corporais que ocorrem nessa fase, além de sofrerem influências da mídia, familiares e amigos.
Um estudo conduzido com estudantes universitários de uma universidade pública do estado de São Paulo e teve como objetivo avaliar a relação entre comportamento alimentar e risco para anorexia nervosa. Os resultados mostraram que 12,3% dos estudantes apresentaram risco para anorexia nervosa, sendo a maioria mulheres. Foi observado que aqueles que apresentavam risco para anorexia nervosa tinham maior frequência de comportamentos alimentares inadequados, como saltar refeições, evitar alimentos ricos em gordura e açúcar, além de apresentar maior insatisfação com o próprio corpo.7
De acordo com a American Psychiatric Association (APA), a anorexia nervosa afeta cerca de 0,9% das mulheres e 0,3% dos homens ao longo da vida. A doença geralmente se desenvolve na adolescência e pode ter consequências graves, incluindo mortalidade prematura.8 Conforme um estudo realizado na Austrália e que envolveu uma amostra de 3.027 pessoas com idade entre 18 e 70 anos, através de um questionário on-line, a prevalência de qualquer transtorno alimentar foi de 9,5%, sendo que a maior prevalência foi encontrada para o TCAP (3,6%). Além disso, os fatores de risco mais fortemente associados aos transtornos alimentares foram o sexo feminino, insatisfação com a imagem corporal e a presença de sintomas depressivos.9
O quadro clínico da anorexia nervosa pode variar de leve a grave e requer um tratamento multidisciplinar que inclui psicoterapia, apoio nutricional e, em alguns casos, uso de medicamentos, medicação e terapia nutricional para ajudar o indivíduo a atingir um peso saudável e lidar com os pensamentos e comportamentos associados ao transtorno.
II.I COMPLICAÇÕES NUTRICIONAIS CAUSADAS PELA ANOREXIA NERVOSA
Pessoas com anorexia nervosa podem ter rituais alimentares rígidos, como cortar a comida em pedaços muito pequenos ou contar meticulosamente as calorias. Eles também podem ter uma preocupação excessiva com o exercício físico e podem se exercitar demais para queimar calorias. Outros sintomas incluem fadiga, tontura, constipação, pele seca, perda de cabelo, depressão e isolamento social.10
Um estudo realizado em 2017 como objetivo avaliar o estado nutricional e composição corporal de adolescentes com anorexia nervosa, composta por 36 adolescentes do sexo feminino com diagnóstico de anorexia nervosa em um hospital psiquiátrico no México, mostraram que a maioria das adolescentes apresentava desnutrição moderada a grave, com baixo índice de massa corporal (IMC) e porcentagem de gordura corporal abaixo dos valores de referência. Ainda, os valores médios de albumina e pré-albumina séricas estavam abaixo do valor de referência, indicando desnutrição protéica. A maioria das adolescentes também apresentava deficiência de ferro e baixos níveis de vitamina D.1112
Também, pode afetar negativamente o metabolismo do corpo, levando a uma diminuição da taxa metabólica basal (TMB) – a quantidade de calorias que o corpo queima em repouso. Isso pode tornar ainda mais difícil para a pessoa com anorexia nervosa manter um peso saudável, e pode levar a uma série de complicações metabólicas, como hipotensão arterial, bradicardia e hipotermia.12
O sistema endócrino também é afetado, levando a alterações hormonais significativas. Isso pode levar a uma série de complicações, incluindo amenorreia (cessação da menstruação), infertilidade e diminuição da libido. Em casos extremos, a anorexia nervosa pode levar a complicações graves, incluindo insuficiência cardíaca, insuficiência renal, problemas hepáticos e até mesmo a morte. 13
II.II COMPLICAÇÕES METABÓLICAS CAUSADAS PELA ANOREXIA NERVOSA
A privação alimentar na anorexia nervosa pode levar a uma série de alterações metabólicas no corpo. Devido à restrição alimentar extrema e ao baixo índice de massa corporal, muitas funções corporais são afetadas.
Uma das principais complicações metabólicas da anorexia nervosa é a desregulação hormonal. A produção de hormônios importantes, como o hormônio do crescimento, a testosterona e o estrogênio, pode ser reduzida, levando a uma variedade de problemas, incluindo amenorreia (falta de menstruação), perda de massa óssea e diminuição da libido.14
Outra complicação metabólica comum é a desregulação do açúcar no sangue. A restrição alimentar leva a uma diminuição da glicose sanguínea, o que pode resultar em tonturas, desmaios e fraqueza muscular. Em resposta a isso, o corpo pode começar a quebrar proteínas e gorduras armazenadas para produzir glicose, levando a uma perda adicional de massa muscular e à redução da taxa metabólica basal.15
O estudo realizado por Zawłocka-Głogowska e colaboradores, com objetivo de avaliar os níveis séricos de adiponectina, leptina e resistina em adolescentes do sexo feminino com anorexia nervosa (AN) e compará-los com um grupo controle de adolescentes saudáveis, demonstrou que os níveis de adiponectina foram significativamente mais baixos no grupo de adolescentes com AN em comparação com o grupo controle. Por outro lado, não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de leptina e resistina entre os grupos. Esses resultados sugerem que a AN pode afetar negativamente os níveis de adiponectina no organismo, o que pode levar a um aumento no risco de desenvolvimento de doenças metabólicas. 16
Outro estudo demonstra que que a anorexia nervosa está associada a diversas complicações metabólicas e alterações endócrinas, incluindo desnutrição, osteoporose, alterações na função da tireoide, distúrbios hidroeletrolíticos, hipogonadismo e insuficiência adrenal. Ainda, essas complicações podem afetar a saúde física e mental dos pacientes, tornando o diagnóstico e o tratamento precoces extremamente importantes.17
Além disso, a anorexia nervosa pode levar a distúrbios eletrolíticos, como a hipocalemia (baixos níveis de potássio) e a hiponatremia (baixos níveis de sódio), que podem afetar a função muscular, cardíaca e neurológica. A desnutrição também pode levar a uma redução nos níveis de vitaminas e minerais essenciais, como a vitamina D e o ferro, o que pode afetar a saúde óssea e a produção de glóbulos vermelhos.18
A longo prazo, a anorexia nervosa pode levar a danos irreversíveis nos órgãos, como o coração, o fígado e os rins. A taxa metabólica reduzida também pode tornar difícil a recuperação após um período prolongado de desnutrição.19
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A anorexia nervosa é um distúrbio grave e pode levar a complicações de saúde graves. O tratamento da anorexia nervosa envolve uma abordagem multidisciplinar que inclui intervenção nutricional, psicoterapia e, em alguns casos, medicação. Os estudos demonstram que independente da análise realizada, a anorexia nervosa promove graves consequências para o indivíduo, devendo ser objeto de profunda análise e discussão. O diagnóstico e o tratamento precoce desses transtornos são fundamentais para garantir a recuperação. É importante destacar que essas complicações podem ser graves e, em alguns casos, podem levar à morte.
REFERÊNCIAS
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2 RODRIGUES, R. T.; BACALTCHUK, J. Anorexia nervosa: revisão das complicações clínicas e nutricionais. Revista da Associação Brasileira de Nutrição, v. 12, n. 1, p. 18-27, 2020.
3 MEHLER, P. S.; RYLANDER, M. Transtornos alimentares: anorexia nervosa e bulimia nervosa. Revista Brasileira de Medicina, v. 75, n. 4, p. 340-347, 2018.
4 RODRIGUES, R. T.; BACALTCHUK, J. Anorexia nervosa: revisão das complicações clínicas e nutricionais. Revista da Associação Brasileira de Nutrição, v. 12, n. 1, p. 18-27, 2020.
5 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10. 5. ed. rev. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016.
6 American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27178033/. Acesso em 12 de maio de 2023.
7 PAULA, Vanessa Barros de et al. Comportamento alimentar de estudantes universitários: relação com anorexia nervosa. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 5, p. 1357-1366, 2015. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232015205.08562014
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9 MITCHISON, D.; MOND, J.; BUSSEY, K. et al. Prevalence and correlates of binge eating disorder related features in the community. International Journal of Eating Disorders, v. 50, n. 1, p. 58-67, 2017. DOI: 10.1002/eat.22595.
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Gisele da Silva dos Santos Souza¹
Nutricionista Pós-graduada em Nutrição clínica e ambulatorial e Pós-graduanda em Terapia nutricional enteral e parenteral
UNINASSAU | Salvador/BA https://orcid.org/0009-0002-7187-8120 E-mail: nutgiselesantos@hotmail.com
Lidiane Cardoso Dos Santos Sodré²
Nutricionista
UNINASSAU | Salvador/BA https://orcid.org/0009-0005-6306-0187 E-MAIL: nutri.lidianecardoso@gmail.com
Nathalie Neves de Araújo³
Graduanda em Nutrição
UFPB | João Pessoa/PB https://orcid.org/ 0009-0008-0279-4357 E-MAIL: nathalienaraujo@gmail.com
Bruna Eleres do Nascimento4
Nutricionista Especialização em Saúde Pública com Ênfase em Estratégia Saúde da Família e
Nutrição Pediátrica, Escolar e na Docência
UNINILTONLINS | Manaus/AM https://orcid.org/0009-0008-5036-1927 E-MAIL: eleresbruna92@gmail.com
Maria Vitória Alves Prado5
Nutricionista
Universidade Estácio do Ceará | FORTALEZA- CE https://orcid.org/0009-0001-4870-810X
E-MAIL: vitoriapradonutri@gmail.com
Analice Barbosa Santos de Oliveira6
Nutricionista Especialista em Nutrição Clínica e Fitoterapia
Universidade Cruzeiro do Sul | Brasília-DF https://orcid.org/0000-0002-4878-3193
E-mail: anadf.26@gmail.com
Vanessa Pereira de Sousa7
Nutricionista
Faculdade Literatus | Manaus/AM https://orcid.org/0009-0002-0086-9665
E-MAIL: vanessasousa.am@hotmail.com
Natiélly Cristine dos Santos8
Nutricionista
Universidade Positivo- UP | Curitiba- Paraná https://orcid.org/0009-0004-4572-136X
E-MAIL: natiellycristinee@gmail.com
Isabele Cristina Sampaio de Lima Soares9
Graduanda em Nutrição
UNIFOR | Fortaleza- CE https://orcid.org/0009-0006-0241-4567 E-MAIL: isabelecristina@edu.unifor.br
Mayra Natasha Santana da Silva10
Nutricionista pós-graduada em Nutrição clínica e hospitalar
UNINORTE | Manaus/AM https://orcid.org/0009-0002-9482-992X E-MAIL: mayra_natasha@hotmail.com