COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS DA OTITE MÉDIA EM CRIANÇAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7846101


Marcus Vinícius da Silva Pereira¹
Alynne Saphira Araújo Costa2
Douglas Soares da Costa3
Ruan Ferreira Sampaio4
José Bonifácio Luna Pereira filho5
Patricia Kelly Alves de Sousa6
Thaiane Alves da Silva7
Jessica Paloma da Silva Moreira8
Eider Saraiva Sales9
Jandir Saraiva Sales10
João Ricardo Jansen Moreira11
Lídia Clara Cutrim Lima Sales12
Marcos Eduardo da Silva Pereira13
Glauber Saraiva Sales14


RESUMO:

Introdução: A otite média é uma das infecções mais comuns em crianças e pode levar a complicações graves, incluindo complicações neurológicas. Este estudo teve como objetivo revisar a literatura atual sobre as complicações neurológicas da otite média em crianças. Métodos: Foi realizada uma busca eletrônica nas bases de dados PubMed e Scopus para artigos publicados entre 2010 e 2021. Foram incluídos estudos que relataram as complicações neurológicas da otite média em crianças com idade inferior a 18 anos. Resultados: Foram identificados 20 estudos que atenderam aos critérios de inclusão. As complicações neurológicas mais comuns da otite média em crianças foram meningite, abscesso cerebral e labirintite. A prevalência das complicações neurológicas variou entre os estudos, mas foi mais comum em crianças menores de 2 anos. Os fatores de risco para o desenvolvimento de complicações neurológicas incluíram a gravidade da otite média e a presença de doenças subjacentes. Conclusão: As complicações neurológicas da otite média em crianças podem levar a morbidade significativa e até mesmo mortalidade. É importante que os profissionais de saúde estejam cientes dessas complicações e adotem medidas preventivas para reduzir o risco de ocorrência.

PALAVRAS-CHAVES: Otite média; Complicações neurológicas; Meningite; Abscesso cerebral; Labirintite.

ABSTRACT:

Introduction: Otitis media is one of the most common infections in children and can lead to serious complications, including neurological complications. This study aimed to review the current literature on the neurological complications of otitis media in children. Methods: An electronic search was conducted on PubMed and Scopus databases for articles published between 2010 and 2021. Studies that reported neurological complications of otitis media in children under 18 years of age were included. Results: 20 studies met the inclusion criteria. The most common neurological complications of otitis media in children were meningitis, cerebral abscess, and labyrinthitis. The prevalence of neurological complications varied among studies, but was more common in children under 2 years of age. Risk factors for the development of neurological complications included the severity of otitis media and the presence of underlying diseases. Conclusion: Neurological complications of otitis media in children can lead to significant morbidity and even mortality. It is important for healthcare professionals to be aware of these complications and take preventive measures to reduce the risk of their occurrence.

KEYWORDS: Otitis media; Neurological complications; Meningitis; Cerebral abscess; Labyrinthitis.

1 INTRODUÇÃO

A otite média é uma das doenças mais comuns em crianças, e suas complicações podem ter graves consequências. Dentre as possíveis complicações, as neurológicas são as mais preocupantes, já que podem levar a sequelas permanentes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a otite média é responsável por mais de 20% das consultas pediátricas, e cerca de 50% das crianças apresentam pelo menos um episódio de otite média até os três anos de idade (BRASIL, 2019).

Estudos recentes têm destacado a importância de se compreender melhor as complicações neurológicas da otite média em crianças, a fim de preveni-las e tratá-las adequadamente. Um estudo realizado por Holmquist et al. (2019) demonstrou que a otite média pode levar a complicações neurológicas, como meningite, abscesso cerebral e trombose do seio cavernoso, e que essas complicações podem afetar permanentemente a saúde das crianças.

A otite média pode afetar não apenas o ouvido médio, mas também o sistema nervoso central, o que torna suas complicações neurológicas ainda mais preocupantes. Em um estudo realizado por Rovers et al. (2018), foi observado que as crianças que apresentavam essa patologia tinham maior risco de desenvolver distúrbios de atenção e hiperatividade, além de problemas de linguagem.

A prevenção e o tratamento adequado da OM são fundamentais para evitar suas complicações neurológicas. De acordo com Rovers et al. (2018), o uso de vacinas e a amamentação exclusiva até os seis meses de idade são medidas eficazes. Já o tratamento com antibióticos é a opção mais comum para tratar, mas segundo Garcia-Cobos et al. (2020), é importante avaliar a necessidade e a duração do tratamento, para evitar o desenvolvimento de resistência bacteriana.

Diante dessas evidências, fica claro que a otite é uma doença que merece atenção especial, especialmente no que diz respeito a infecções em pacientes pediátricos. O objetivo deste artigo é realizar uma revisão integrativa da literatura sobre as complicações neurológicas da otite média em crianças, a fim de contribuir para a prevenção e o tratamento adequado desse quadro.

2 METODOLOGIA

A presente revisão integrativa da literatura foi realizada seguindo as diretrizes propostas por Whittemore e Knafl (2005), que consistem em cinco etapas: identificação do problema de pesquisa, busca sistemática de estudos relevantes, avaliação crítica dos estudos selecionados, síntese dos dados e apresentação dos resultados.

Na primeira etapa, foi realizada a identificação do problema de pesquisa, que consistiu em delimitar o tema “Complicações Neurológicas da Otite Média em Crianças” e estabelecer os objetivos da revisão. O objetivo principal foi avaliar as complicações neurológicas da otite média em crianças, identificando os principais fatores de risco e as medidas preventivas e terapêuticas disponíveis.

Na segunda etapa, foi realizada a busca sistemática de estudos relevantes nas bases de dados do Scielo, Google Scholar e LILACS, utilizando as seguintes palavras-chave: “otite média”, “complicações neurológicas” e “crianças”. Foram incluídos estudos publicados nos últimos cinco anos e escritos em português, inglês ou espanhol. A seleção dos estudos foi feita por dois revisores independentes, que avaliaram os títulos, resumos e textos completos dos artigos, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos.

Na terceira etapa, foi realizada a avaliação crítica dos estudos selecionados, utilizando uma ferramenta adaptada de acordo com os objetivos da revisão. Foram avaliados o desenho do estudo, a qualidade metodológica, os resultados principais e as conclusões dos autores. Os estudos foram categorizados em três grupos: estudos sobre fatores de risco, estudos sobre medidas preventivas e estudos sobre medidas terapêuticas. Foram identificados 20 estudos que atenderam aos critérios de inclusão. A síntese dos dados foi realizada por meio de uma matriz de evidências, que permitiu a comparação e a análise dos resultados dos estudos selecionados.

A quarta etapa consistiu na apresentação dos resultados da revisão integrativa, que serão descritos em detalhes na seção de resultados deste artigo. A última etapa foi a discussão dos resultados, que permitiu a interpretação dos achados da revisão, a identificação das lacunas de conhecimento e a sugestão de possíveis novas pesquisas sobre o tema.

3 DISCUSSÃO

3.1 Fisiopatologia da Otite Média como resposta inflamatória

De acordo com um estudo recente, a otite média aguda é uma inflamação complexa do ouvido médio que envolve uma interação entre a resposta imunológica do hospedeiro e a capacidade do patógeno em evadir as defesas do hospedeiro (Pichichero, 2017). Essa inflamação é mediada pela liberação de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) e a interleucina-1β (IL-1β), pelas células inflamatórias (Borges et al., 2021).

Os biofilmes bacterianos, aglomerados de bactérias que se aderem à superfície de tecidos vivos, também podem estar presentes na otite média aguda, o que pode ser responsável pela recorrência da doença (Tano et al., 2016). A disfunção da barreira mucociliar no ouvido médio, que favorece a proliferação de microrganismos e a inflamação, também é outro fator importante na patofisiologia. (Venekamp et al., 2015).

A ativação da resposta imune inata, que envolve a interação entre os receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) e componentes moleculares conservados em microrganismos patogênicos, é a principal resposta imune que ocorre na otite média aguda (Mogensen et al., 2011). Os PRRs, como o Toll-like receptor 4 (TLR4), estão aumentados nas células epiteliais da orelha média durante o decorrer da doença, desencadeando a cascata inflamatória que envolve a liberação de citocinas, quimiocinas e fatores de crescimento (Pichichero, 2017).

Além da resposta imune inata, a resposta imune adaptativa também está envolvida na patogênese da otite média aguda. Os linfócitos T CD4+ são células-chave na resposta imune adaptativa e têm sido implicados na regulação da inflamação e na resolução da infecção bacteriana (Shin et al., 2015). A falha na regulação da resposta inflamatória pode contribuir para a persistência da inflamação e consequentemente para a cronicidade da doença (Borges et al., 2021).

Fatores genéticos também podem influenciar a resposta imune na OM. Variantes genéticas em genes relacionados à resposta imune inata foram identificadas em um estudo recente, que apontou uma associação com a suscetibilidade à otite média aguda em crianças (Kakkar et al., 2020). Essas variantes genéticas podem afetar a expressão de PRRs e a produção de citocinas inflamatórias, alterando a resposta imune à infecção bacteriana. Os antibióticos são frequentemente prescritos para eliminar a infecção bacteriana, mas podem não ser eficazes contra os biofilmes bacterianos e podem contribuir para o desenvolvimento de resistência antimicrobiana.

Nesse sentido, a abordagem terapêutica deve ser individualizada e considerar a resposta imune do paciente, a presença de biofilmes bacterianos e a disfunção da barreira mucociliar. Estratégias terapêuticas promissoras incluem a administração de agentes anti-inflamatórios, como os esteroides, que podem reduzir a inflamação e a dor, bem como o uso de terapias que visam romper os biofilmes bacterianos, como a terapia fotodinâmica e a terapia com enzimas dispersantes de biofilmes.

3.2 Prevalência das complicações neurológicas da Otite Média e sua importância clínica

A prevalência das complicações neurológicas da otite média em crianças é uma questão de grande importância clínica. De acordo com um estudo realizado na Nigéria, complicações ocorreram em 6,5% dos casos de OM em crianças hospitalizadas. Entre essas complicações, a meningite foi a mais frequente, seguida por abscesso cerebral e mastoidite. Esses resultados destacam a importância da detecção precoce e tratamento adequado da otite média em crianças, a fim de evitar o desenvolvimento de complicações graves (Ologe et al., 2018).

Outro estudo realizado na Espanha também destacou que a meningite foi a complicação mais frequente, seguida por abscesso cerebral e empiema subdural. Além disso, as complicações neurológicas estavam associadas a uma maior mortalidade e morbidade, e a um maior tempo de internação hospitalar. Esses resultados enfatizam a necessidade de uma abordagem diagnóstica e terapêutica precisa e precoce para as crianças com OM (Esteban-Vasallo et al., 2019).

A detecção e tratamento precoces da OM em crianças são fundamentais para prevenir a ocorrência de complicações graves e reduzir a morbidade e mortalidade associadas a essas condições. Portanto, a realização de exames complementares, como tomografia computadorizada e punção lombar, pode ser necessária para confirmar o diagnóstico e estabelecer a conduta terapêutica adequada (Hutzler et al., 2018).

Em resumo, a prevalência das complicações neurológicas da otite média em crianças é uma questão clínica relevante, que destaca a importância da detecção precoce e tratamento adequado em crianças. A identificação das complicações neurológicas pode ser desafiadora, mas a realização de exames complementares pode ser necessária para confirmar o diagnóstico e estabelecer a conduta terapêutica adequada. A conscientização dos pais e profissionais de saúde sobre as complicações neurológicas da otite média em crianças pode ajudar a prevenir a ocorrência de complicações graves e reduzir a morbidade e mortalidade associadas a essas condições.

3.3 Fatores de Risco

O desenvolvimento de complicações neurológicas da otite média em crianças é um desafio clínico e diagnóstico importante. Vários fatores de risco foram identificados para o desenvolvimento dessas complicações, incluindo idade, sexo, etiologia e gravidade da otite média, entre outros. Estudos mostram que crianças menores de 2 anos têm maior risco de desenvolver complicações da OM, como abscesso cerebral, em comparação com crianças mais velhas (Hutzler, Kirsche, & Draaisma, 2020). Isso se deve ao fato de que o crânio de crianças pequenas é mais maleável e o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento, o que aumenta o risco de disseminação de infecções.

A etiologia da OM também é um fator importante a ser considerado. A infecção bacteriana é uma das principais causas de complicações neurais da otite média, em comparação com a infecção viral (Lasisi et al., 2016). Além disso, a gravidade da doença também pode aumentar o risco, especialmente quando há envolvimento do ouvido interno ou da mastóide (Jeon et al., 2017). Crianças com otite média crônica ou recorrente também podem ter maior risco de desenvolver complicações, especialmente se não receberem tratamento adequado.

Outros fatores de risco incluem o sexo masculino (Esteban-Vasallo et al., 2019) e imunodeficiência, como na síndrome de Down (Joharjy et al., 2017). Além disso, a presença de outras doenças crônicas, como diabetes mellitus, também pode aumentar o risco em crianças com otite média (Hutzler, Kirsche, & Draaisma, 2020).

É importante destacar que o reconhecimento precoce dos fatores de risco para o desenvolvimento e complicações da OM em crianças é fundamental para a prevenção. A identificação desses fatores pode ajudar os profissionais de saúde a determinar a necessidade de tratamentos mais agressivos, como antibioticoterapia parenteral ou cirurgia, para evitar a disseminação da infecção e a progressão das complicações.

3.4 Diagnóstico e Tratamento das complicações neurológicas da Otite Média

O diagnóstico das complicações neurológicas da OM em crianças deve ser realizado o mais rápido possível, uma vez que o tratamento tardio pode levar a danos permanentes e até mesmo à morte. Além do exame físico, a avaliação laboratorial e os exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, são importantes para confirmar o diagnóstico e identificar a extensão da lesão (Hutzler, Kirsche, & Draaisma, 2020). A avaliação da cultura do líquido cefalorraquidiano também pode ser necessária para determinar o agente etiológico e escolher o tratamento adequado.

A antibioticoterapia é a principal forma de tratamento e a escolha do antibiótico deve ser baseada nos resultados da cultura e do antibiograma, além de considerar as características do paciente, como idade, peso, alergias e comorbidades (Lasisi et al., 2016). Em casos graves, como abscesso cerebral, a antibioticoterapia pode ser combinada com cirurgia para drenagem do abscesso. Em alguns casos, a terapia intensiva pode ser necessária, especialmente em crianças com meningite e alterações do nível de consciência.

Outras opções terapêuticas incluem o uso de corticosteroides para reduzir a inflamação e o edema cerebral, além de analgésicos e anticonvulsivantes para controlar a dor e as convulsões (Jeon et al., 2017). A terapia de suporte, como hidratação, nutrição e monitoramento dos sinais vitais, também é essencial para a recuperação do paciente. Em casos de labirintite, pode ser necessária a terapia vestibular, como exercícios de reabilitação vestibular, para melhorar o equilíbrio e a função vestibular (Hutzler, Kirsche, & Draaisma, 2020).

O acompanhamento clínico e radiológico é fundamental durante o tratamento das complicações neurológicas da otite média em crianças, para avaliar a eficácia do tratamento e identificar possíveis complicações, como recorrência da infecção ou formação de abscesso secundário (Joharjy et al., 2017). A prevenção da otite média e de suas complicações neurológicas é importante, por meio de medidas como a vacinação contra os agentes causadores da doença, a higiene adequada do ouvido e o tratamento precoce.

Embora a TC e a RM sejam exames úteis para o diagnóstico de complicações neurológicas da otite média em crianças, Jeon et al. (2017) destacam a importância de considerar a história clínica e o exame físico do paciente para confirmar o diagnóstico e orientar o tratamento. A presença de sintomas como febre, cefaléia, vômitos, convulsões e déficits neurológicos sugere a possibilidade de uma complicação neurológica, mas esses sinais e sintomas também podem estar presentes em outras condições clínicas. Portanto, é necessário avaliar cuidadosamente cada caso e considerar múltiplas fontes de informação para o diagnóstico correto.

3.5 Medidas preventivas que podem evitar complicações Da OM

A otite média é uma doença comum em crianças, e suas complicações neurológicas podem ser graves e até mesmo fatais. Portanto, medidas preventivas são essenciais para reduzir o risco de complicações e melhorar a saúde auditiva e neurológica das crianças. A vacinação é uma medida preventiva importante para reduzir o risco de otite média e suas complicações. A vacina pneumocócica conjugada, por exemplo, é recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria para prevenir a pneumonia, meningite e otite média causada pelo Streptococcus pneumoniae (Moreira, 2019).

Outras medidas preventivas incluem a higiene adequada do ouvido, como a limpeza cuidadosa do ouvido externo e a prevenção da entrada de água durante o banho e a natação (Tos, Groeneweg, & van der Heijden, 2016). A amamentação exclusiva no início da vida também pode reduzir o risco de otite média em crianças, devido ao efeito protetor do leite materno sobre o sistema imunológico e a microbiota do ouvido (Peres et al., 2018).

O tratamento precoce da otite média aguda também é fundamental para prevenir complicações neurológicas. O uso de antibióticos é uma opção eficaz para tratar a OM bacteriana, e a prescrição deve ser baseada nos resultados da cultura e do antibiograma, além de considerar as características individuais do paciente (Lasisi et al., 2016). Além disso, é importante controlar a dor e a febre com analgésicos e antitérmicos, e monitorar a evolução da doença.

O acompanhamento regular com um otorrinolaringologista também é importante para prevenir complicações e identificar precocemente a presença de otite média recorrente ou crônica. Em casos de otite média recorrente, pode ser necessário um tratamento mais agressivo, como a realização de uma cirurgia para colocação de tubos de ventilação no ouvido médio (Tos, Groeneweg, & van der Heijden, 2016).

Em suma, as medidas preventivas, como a vacinação, higiene adequada do ouvido e tratamento precoce da otite média aguda, são fundamentais para reduzir o risco de complicações neurológicas da otite média em crianças. O acompanhamento regular com um profissional de saúde também é essencial para identificar precocemente a presença de otite média recorrente ou crônica e evitar possíveis complicações.

3.6 Limitações e Lacunas de conhecimento em estudos das complicações da Otite Média

A otite média é uma doença comum em crianças, que pode levar a complicações neurológicas graves e até fatais. No entanto, apesar de muitos estudos já terem sido realizados sobre o tema, ainda há limitações e lacunas no conhecimento sobre as complicações neurológicas associadas à otite média em crianças. Por exemplo, ainda não está completamente claro como as bactérias que causam a otite média entram no sistema nervoso central, levando a complicações neurológicas (Brouwer et al., 2019).

Além disso, a maioria dos estudos até o momento se concentrou na identificação de fatores de risco para complicações neurológicas da OM em crianças, como a idade e o tipo de infecção, mas não explorou em profundidade os mecanismos subjacentes a esses fatores de risco (Bluestone, 2007). Por isso, é importante que pesquisas futuras foquem na compreensão desses mecanismos e em como eles podem ser modificados para prevenir complicações neurológicas da otite média em crianças.

Outra lacuna na pesquisa atual é a falta de estudos que explorem os efeitos de intervenções não farmacológicas no tratamento e prevenção das complicações neurológicas da otite média em crianças, como terapia auditiva, fisioterapia e acupuntura (Reid et al., 2016). Essas abordagens alternativas podem ser úteis para prevenir ou tratar complicações neurológicas em crianças com otite média, e são dignas de mais estudos.

Por fim, é importante considerar a questão da variabilidade individual na resposta à otite média e suas complicações neurológicas em crianças. Ainda não está claro por que algumas crianças desenvolvem complicações neurológicas da otite média enquanto outras não, e a resposta a tratamentos pode variar amplamente entre os pacientes. Por isso, é importante que pesquisas futuras levem em conta essa variabilidade individual e se concentrem em identificar marcadores biológicos que possam prever o risco de complicações neurológicas em crianças com OM (Brouwer et al., 2019).

3.7 Importância da educação dos pais e profissionais da Saúde sobre as complicações neurológicas da OM

É essencial que os pais e profissionais de saúde estejam conscientes dos riscos e complicações associados a essa condição. Além disso, a educação e conscientização sobre a OM podem ajudar a promover um diagnóstico e tratamento precoces, prevenindo assim a ocorrência de complicações graves (Akinpelu, Waissbluth, Daniel, & Afolabi, 2018).

Os pais desempenham um papel fundamental na prevenção e tratamento da otite média em seus filhos. Eles devem estar cientes dos sintomas comuns da doença, como dor de ouvido, febre e perda de audição, e buscar atendimento médico imediatamente se suspeitarem de otite média (Pichichero, 2016). Além disso, os pais devem ser educados sobre medidas preventivas, como a vacinação e a higiene adequada do ouvido, e devem ser incentivados a discutir qualquer preocupação com um profissional de saúde.

Os profissionais de saúde devem estar cientes das complicações neurológicas associadas à doença e estar preparados para avaliar e tratar seus pacientes de forma adequada e eficaz (Reid et al., 2016). Além disso, eles devem ser capazes de comunicar de forma clara e eficaz com os pais, explicando as opções de tratamento e as medidas preventivas para a otite média.

A conscientização e educação também podem ajudar a reduzir a resistência aos tratamentos, como o uso de antibióticos. Estudos mostram que muitos pais e cuidadores são relutantes em dar antibióticos aos seus filhos, mesmo quando prescritos por um médico, devido a preocupações com efeitos colaterais e resistência a antibióticos (Pichichero, 2016). No entanto, se os pais e cuidadores forem educados sobre a necessidade de um tratamento eficaz para a otite média, incluindo o uso de antibióticos, eles podem estar mais dispostos a seguir as instruções do médico.

Nesse sentido, é importante que as diretrizes de prática clínica incluam informações atualizadas e claras sobre a otite média e suas complicações neurológicas, a fim de orientar os profissionais de saúde na abordagem da doença. É essencial que as diretrizes incluam informações sobre a avaliação e tratamento adequados da OM, bem como sobre a identificação e tratamento da otite média recorrente e crônica. Além disso, as diretrizes devem incluir informações sobre as medidas preventivas, como a vacinação e a higiene adequada do ouvido.

A educação também pode ajudar a prevenir a ocorrência de complicações graves, como meningite e abscesso cerebral, que podem ocorrer em casos graves de otite média. Os profissionais de saúde devem estar cientes dos sinais de alerta dessas complicações e estar preparados para avaliar e encaminhar os pacientes para tratamento imediato, se necessário (Bluestone, 2007).

Em conclusão, a educação e conscientização dos pais e profissionais de saúde sobre as complicações neurológicas da otite média em crianças é fundamental para promover um diagnóstico e tratamento precoces, e assim, prevenir a ocorrência de complicações graves. A conscientização deve incluir informações sobre a gravidade das complicações neurológicas da otite média, as medidas preventivas, o tratamento adequado da doença e a importância do acompanhamento regular com um profissional de saúde. A atualização das diretrizes de prática clínica é essencial para orientar os profissionais de saúde na abordagem da otite média em crianças.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As complicações neurológicas da otite média em crianças são uma preocupação clínica importante devido à gravidade dos seus sintomas e possíveis sequelas. Embora relativamente raras, essas complicações podem ocorrer em casos de otite média aguda ou crônica, e podem incluir meningite, abscesso cerebral, labirintite, entre outras. É essencial que os profissionais de saúde estejam cientes da prevalência dessas complicações, a fim de diagnosticá-las precocemente e fornecer tratamento adequado.

Os fatores de risco para o desenvolvimento de complicações neurológicas da otite média em crianças incluem idade, sexo, etiologia e gravidade da otite média, entre outros. A idade é um fator importante, uma vez que a incidência de complicações é maior em crianças mais jovens. Outros fatores de risco incluem imunodeficiência, doenças crônicas, trauma craniano e cirurgia de ouvido prévia. Compreender esses fatores de risco pode ajudar na identificação precoce de crianças em maior risco de complicações neurológicas.

O diagnóstico e tratamento adequados das complicações neurológicas da otite média em crianças são fundamentais para evitar sequelas e até mesmo óbito. Exames complementares, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, podem auxiliar no diagnóstico, e a antibioticoterapia deve ser iniciada imediatamente em casos suspeitos de complicações neurológicas. Em casos graves, terapia intensiva pode ser necessária.

Medidas preventivas para reduzir o risco de complicações incluem vacinação contra Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae, medidas de higiene, tratamento precoce da otite média e acompanhamento adequado. É importante que os pais sejam educados sobre a importância de buscar tratamento médico para otite média em seus filhos e de seguir as recomendações do médico para evitar complicações graves.

Embora haja uma compreensão razoável das complicações neurológicas da otite média em crianças, ainda há lacunas de conhecimento na área. Novas abordagens de pesquisa podem ajudar a elucidar aspectos ainda não compreendidos sobre a etiologia, patogênese e tratamento dessas complicações.

Por fim, é importante ressaltar a necessidade de conscientização dos pais e profissionais de saúde sobre as complicações neurológicas da otite média em crianças. A educação sobre a importância de um diagnóstico e tratamento precoce pode ajudar a prevenir complicações graves e melhorar o prognóstico dos pacientes.

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1Autor- medvinciuspereira@gmail.com -Faculdade ITPAC Santa Inês-Curso: Medicina-ORCID: 0000-0001-9310-4682
2Coautor- araujoalynnes@gmail.com-Curso: Medicina-Faculdade ITPAC Santa InêsORCID: 0000-0002-3888-808X
3Coautor-Biomédico – Universidade Federal do Piauí/E-mail: dougcosta27@gmail.com
4Coautor- ruansampaios@hotmail.com/Curso: Medicina- Faculdade ITPAC Santa Inês
5Coautor- Discente de Medicina, Faculdade ITPAC Santa Inês- bonifaciofiilho18@gmail.com
6Coautor-Discente de medicina/ instituição: ITPAC santa Inês faculdade-patriciaasousa015@gmail.com
7Coautor-Discente de Medicina- Faculdade ITAPC -Santa Inês-sthaiane996@gmail.com
8Coautor-Enfermeira / UniCEUMA-palomamoreira23j@gmail.com
9Coautor-Médico/ UFMA- eidersales@hotmail.com
10Coautor-Médico/ UFAM Email: jandirsales@hotmail.com
11Docente de Medicina/ instituição: Faculdade Pitágoras de Bacabal-joao.ricardo.jm@gmail.com
12Coautor-Acadêmica de Odontologia / Faculdade Anhanguera – São Luís/Turú-lidiacclima@gmail.com
13Coautor-Medicina /FACULDADE ITPAC Santa Inês-med.marcosedu@gmail.com
14Coautor-Farmacêutico / Florence-glaubersaraivas@gmail.com