COMPLICAÇÕES DECORRENTES DA HIPEROXIA EM PREMATUROS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7734961


Luan Ramon Vieira Rodrigues1 
Vanessa Sebastiana Marques Parente1 
Fabiana Paula Almeida Martins2 


RESUMO 

Introdução: O nascimento pré-termo, principalmente em casos extremos, expõe o recém nascido a vários riscos, a imaturidade de seus órgãos o torna frágil e vulnerável a diversas  complicações, consequentemente aumentando o número de internações em Unidade de Terapia  Intensiva Neonatal e exigindo dos profissionais de saúde atenção especial. Quando submetidos  a ventilação mecânica, os níveis de saturação de oxigênio ofertado ao recém-nascido prematuro  devem ser monitorados com atenção especial, tendo em vista que, apesar de ser de fundamental  importância para a manutenção da vida, o uso indiscriminado de oxigênio pode causar danos  irreversíveis a saúde. Objetivo: pontuar as principais complicações decorrentes da hiperoxia 

no prematuro submetido à ventilação mecânica ou oxigenoterapia, bem como, trazer a discussão  de valores usados como parâmetros que defina o nível de saturação de oxigênio (SatO2)  aceitável para a manutenção da vida sem causar prejuízos ao recém-nascido prematuro.  Método: Foi realizado uma revisão sistemática nos buscadores da PUBMED e BVS (Biblioteca  Virtual em Saúde). Após a busca pelos artigos, foram utilizados como critérios de exclusão:  estudos realizados com recém-nascidos a termo ou pós termo, estudos em pediatria, estudos  com adultos e animais, artigos de revisão, relato de caso e artigos com mais de 10 anos de  publicação. Como critérios de inclusão foram selecionados todos os artigos que resultaram da  busca nos idiomas português e inglês e que utilizaram como intervenção a ventilação mecânica ou oxigenoterapia em prematuros. Resultados: Oitenta e cinco artigos em potencial foram  encontrados na PubMed e BVS, dois autores avaliaram de forma independente e realizaram a  triagem que resultou em dez artigos dos quais após análise do texto completo foi identificado  que cinco artigos não atendiam aos critérios de elegibilidade, resultando em cinco artigos que  foram elegíveis para este estudo. Conclusão: As principais complicações decorrentes da  hiperoxia em prematuros citadas na literatura possuem ligação direta com danos aos pulmões e retinas, deve ser evitado os extremos de hipóxia e hiperoxia para minimizar os possíveis danos  da terapia com oxigênio. 

Palavras-chave: Complicações; Hiperoxia; Prematuro; Ventilação. 

ABSTRACT 

Introduction: Preterm birth, especially in extreme cases, exposes the newborn to various risks,  the immaturity of its organs makes it fragile and vulnerable to various complications,  consequently increasing the number of hospitalizations in the Neonatal Intensive Care Unit and requiring health professionals’ special attention. When submitted to mechanical ventilation, the  oxygen saturation levels offered to the premature newborn should be monitored with special  attention, considering that, despite being of fundamental importance for the maintenance of life,  the indiscriminate use of oxygen can cause damage irreversible to health. Objective: to point  out the main complications resulting from hyperoxia in premature infants submitted to  mechanical ventilation or oxygen therapy, as well as to bring up the discussion of values used  as parameters that define the level of oxygen saturation (SatO2) acceptable for the maintenance  of life without causing damage to the premature newborn. Method: A systematic review was  conducted in the search engines of PUBMED and VHL (Virtual Health Library). After  searching for the articles, the following exclusion criteria were used: studies carried out with  term or post-term newborns, studies in pediatrics, studies with adults and animals, review  articles, case reports and articles with more than 10 years of experience. Publication. As  inclusion criteria, all articles that resulted from the search in Portuguese and English and that  used mechanical ventilation or oxygen therapy in premature infants were selected. Results:  Eighty-five potential articles were found in PubMed and VHL, two authors independently  assessed and performed the screening which resulted in ten articles of which after analysis of  the full text it was identified that five articles did not meet the eligibility criteria, resulting in in  five articles that were eligible for this study. Conclusion: The main complications resulting  from hyperoxia in preterm infants mentioned in the literature have a direct connection with  damage to the lungs and retinas, the extremes of hypoxia and hyperoxia should be avoided to  minimize the possible damage from oxygen therapy. 

Keywords: Complications; Hyperoxia; Premature; Ventilation.

INTRODUÇÃO  

Bebês prematuros necessitam de atenção especial, principalmente devido à fragilidade  de seus órgãos, baixo peso e imaturidade dos pulmões. O momento ideal para o nascimento  seria entre a 37º e a 42º semana de gestação, período em que o mesmo se encontra preparado  para a vida extrauterina, o nascimento antes da 37º semana de gestação o expõe a riscos dos  quais a gravidade vai depender da classificação de sua prematuridade, quanto mais extremo for  o prematuro maiores os riscos e complicações à sua saúde, essas complicações são os fatores  que os levam à internação em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e aumentam o  risco de morte1

Contudo, é oportuno salientar que a taxa de sobrevivência entre bebês prematuros no  Brasil vem aumentando desde 1990 graças à ascensão tecnológica, científica e de assistência  ao recém-nascido (RN), porém, os desafios enfrentados são grandes e as complicações  associadas à prematuridade ainda vêm ocupando o primeiro lugar nas causas de óbitos nos  primeiros cinco anos de vida2,3

O sistema respiratório inicia sua formação a partir da 4º semana de vida gestacional e o  estágio de desenvolvimento alveolar vai da 32º semana até a idade escolar, em decorrência desta imaturidade o RN fica propenso a apresentar dificuldade respiratória, o que pode levar a um  quadro de hipoxemia necessitando desta forma de suporte ventilatório4.

No entanto, a quantidade de oxigênio (O2) ofertada ao prematuro deve ser administrada  de forma consciente, pois, a exposição a níveis elevados de Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2) tem efeito tóxico sendo nocivo à saúde, acarretando complicações irreversíveis ao  organismo humano. Nos prematuros estas complicações estão ligadas principalmente a retina e  aos pulmões. Com isso, o suporte ventilatório deve ser empregado de forma que possibilite ao  prematuro uma oferta de O2 que seja confortável, capaz de corrigir a hipoxemia e prevenir os  efeitos deletérios do sistema respiratório, sem causar estresse oxidativo no organismo5.

Para tanto, diante da gama de complicações causadas em decorrência da hiperóxia no  pré termo (PT), como: retinopatia da prematuridade, doença pulmonar crônica, displasia  broncopulmonar, atelectasia por altas concentrações de O2, dano epitelial pulmonar devido ao  estresse oxidativo entre outras; vê-se a necessidade da realização de um levantamento dos  estudos publicados referente aos efeitos deletérios da hiperóxia, afim de investigar o consenso  descrito na literatura sobre qual seria a oferta adequada de oxigênio para esta população6,5.

Destarte, o presente estudo tem como objetivo pontuar as principais complicações  decorrentes da hiperoxia no prematuro submetido à ventilação mecânica ou oxigenoterapia,  bem como, trazer a discussão de valores usados como parâmetros que defina o nível de  saturação de oxigênio (SatO2) aceitável para a manutenção da vida sem causar prejuízos ao  RNPT. 

MATERIAL E MÉTODO 

Foi realizada uma revisão sistemática com o objetivo de identificar estudos publicados  que relatassem um nível ideal de saturação de oxigênio (SatO2) para prematuros (PT) e  descrevessem as complicações decorrentes da hiperoxia em recém-nascidos pré-termos  (RNPT). Para efetividade desta pesquisa foram realizadas buscas que envolvessem o assunto  abordado nos buscadores da PUBMED e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), onde foram  utilizadas palavras-chave obtidas dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca  Virtual em Saúde. A revisão foi realizada de acordo com as diretrizes do PRISMA – Preferred  Reporting Items for Systematic Review7. O uso de listas de verificação, por exemplo, PRISMA,  melhora a qualidade da elaboração de relatórios de revisões sistemáticas e fornece transparência  substancial no processo de seleção de artigos8,9.

Uma combinação de palavras-chave foi utilizada para a busca nas bases de dados  eletrônicas. Organizamos a busca e seleção de estudos seguindo a estratégia PICOS (Population  Intervention Comparison Outcome Study Design). Utilizamos como referência os modelos  aplicados por Massetti et al., (2016, 2017)10,11 e Sampaio e Mancini (2007)12, a estratégia de  busca com base na composição do método PICOS para localizar e comparar diferentes estudos  (figura 1). Neste modelo, a estratégia de busca é baseada nos temas Population (P), Intervention  (I), Comparison (C), Outcome (O) e Study (S). 

Figura 1: Estratégia PICOS (Population Intervention Comparison Outcome Study Design). 

Após realizada busca pelos artigos, estes passaram por triagem no qual, utilizamos os  seguintes critérios de exclusão: estudos realizados com recém-nascidos a termo ou pós termo,  estudos em pediatria, estudos com adultos e animais, artigos de revisão, relato de caso, artigos  com mais de 10 anos de publicação e artigos que não atendam aos objetivos deste estudo. Como  critérios de inclusão selecionamos todos os artigos que resultaram da busca nos idiomas  português e inglês e que utilizaram como intervenção a oxigenoterapia ou a ventilação mecânica invasiva ou não invasiva. 

Dois autores de modo individual avaliaram os títulos, resumos e critérios para inclusão dos estudos. Após selecionar os artigos, realizou de forma independente uma leitura rigorosa e  detalhada dos estudos, a sequência das etapas que foram seguidas para a seleção dos estudos é  demonstrada na figura 211,13

Figura 2: Etapas seguidas para a seleção do estudo. 

A primeira fase da seleção dos estudos foi realizada em três datas diferentes, afim de  que novos estudos em potencial para esta revisão sistemática pudessem ser encontrados nesse  intervalo de tempo, a primeira busca dos artigos nas bases de dados foi realizada em 02 de julho  de 2019, onde obtivemos como resultado nos buscadores da PUBMED 35 artigos e na BVS 45  artigo, a segunda busca foi realizada em 24 de agosto de 2019 e os resultados obtidos foram  iguais aos encontrados na primeira. Desta forma, para realizar a última busca foi incrementado  o intervalo de tempo entre uma busca e outra, a terceira busca foi então realizada em 03 de abril  de 2020, onde nesta data foram encontrados nos buscadores da PUBMED 37 artigos e na BVS  48 artigos que posteriormente foram submetidos a triagem. 

Na segunda fase foi realizado o cruzamento de dados e iniciado a triagem dos artigos  resultantes das buscas que foram realizadas na primeira fase de seleção, sendo feito incialmente a identificação dos artigos duplicados, seguido pela análise do título, a análise do resumo e  sequencialmente sendo aplicados os critérios de exclusão aos estudos, até então chegar na  terceira fase de seleção, nesta fase foi realizado a leitura e análise do texto completo e a  elegibilidade dos artigos. 

RESULTADOS 

Como resultado das buscas realizadas obtivemos 85 artigos em potencial para este  estudo, sendo que destes, 37 foram rastreados nos buscadores da PUBMED e 48 extraídos da  Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), estes artigos forma submetidos a triagem (figura 3), realizadas em quatro etapas, onde foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão até chegar  aos artigos elegíveis. Na primeira triagem foram identificados que 68 artigos estavam duplicados, nesta etapa excluímos 34 artigos, restando então 51 artigos que passaram para a  segunda triagem, nesta fase foram identificados 14 artigos que não atendiam aos critérios de  inclusão, pois cinco desses estudos estavam em outros idiomas e nove destes haviam sido  publicado à mais de dez anos, restando então 37 artigos que foram sendo excluídos na terceira triagem conforme análise do título e leitura do conteúdo de seu resumo, foram excluídos nesta  etapa 27 dos artigos, dos 10 artigos restantes após análise do texto completo foi identificado  que cinco artigos não atendiam aos critérios de elegibilidade, resultando em cinco artigos que  foram elegíveis para este estudo. 

Figura 3: Fluxo das informações com as diferentes fases da revisão. 

Tabela 1: Caracterização dos estudos selecionados por autor, tipo de estudo, amostragem,  objetivos, oxigenoterapia e consequências da hiperoxia/VM.

AUTOR  E ANOTIPO DE  ESTUDO AMOSTRAOBJETIVOOXIGENOT ERAPIA CONSEQUÊNCIA DA HIPEROXIA/ VM 
Abrisham.  et al., 201314Estudo
transversal
122 RN (65
femininos,
57 masculinos)
internados
UTIN <32 semanas.
Avaliar a
incidência e os
fatores de risco
para ROP em bebês muito prematuros nascidos de 2006 a 2010 em Mashhad.
Oxigênio por OxyHood e CPAP ou ventilador.Não apresentado
no estudo
Clarke et  al., 201515Ensaio clínico cruzado,
randomizado e controlado.
16 lactentes
<32 semanas.
Comparar o
intervalo de tempo da SatO2 mantendo uma gama alvo de 88-92% com os cuidados de rotina da enfermagem.
Pressão positiva nas vias aéreas /
ventilação mandatória intermitente sincronizada contínua
Dessaturações
<86% Rotina (7.7– 27.1) média 17.1;
Controle (12.8–
25.8) média
23.1 (p = 0.60).
Dessaturações
<70% (p = 0.33).
Eijk et al.,  201316Observacional*Prematuros
internados UTIN
*Equipe
multidisciplinar de seis membros
Avaliar prospectivamente os riscos no processo de
oxigenoterapia
suplementar em
bebês muito
prematuros
internado em uma UTIN holandesa, utilizando um
“Modo de falha
e Análise de
Efeitos (FMEA).”
Oxigenoterapia suplementarNão apresentado
no estudo
Lim et al., 201517.Relatório de pesquisa curto32 crianças
IG média de 26 semanas;
média de PN 914g e média de idade pós-
natal no
início de
cada gravação 23 dias.
a) Documentar o contexto em que os episódios de queda de SatO2 ocorreram;
b) Valores da
SatO2 durante a perda e recuperação de sinal
c) Alteração
resultante na
SatO2 e os fatores que influenciaram
este parâmetro.
Oxigênio
suplementar – Pressão
Positiva
Contínua
(CPAP)
5709 episódios
de queda de
SatO2. Sendo
1419 com duração de
<10s, 22 durou
600 s e havia
287 antes e 49
concomitante
com ajustes de
FiO2.
Zhang et
al.,201618
Relatório de
pesquisa curto
40 RN <32
semanas
Divididos em 4 grupos
Baixo <30% FiO2
Médio 30 a 40% FiO2 Elevado 40% FiO2
Ar – não
recebeu
terapia de
O2.
Explorar o
mecanismo de
aumento induzido
pela proteína
p47phox de
espécies de O2
reativas (ROS) em células
mononucleares do sangue periférico
(PBMC) após a
terapia de O2, e
determinar um
novo alvo para a redução da lesão por estresse oxidativo ambiente clínico.
Não especificadoNão apresentado no estudo

Tabela 2: Autor e resultado dos estudos. 

AUTOR E ANORESULTADOS 
Abrishami et al., 201314.Incidência de ROP de 26,2%. 
ROP foi mais comum entre os pacientes que apresentaram menores índices de idade gestacional (<32 semanas), peso ao nascer e de APGAR. Além de episódios de hipóxia, hiperóxia extrema e baixa SatO2 sangue. 
Nos grupos de caso e de controle, os valores máximos de SatO2 por oxímetro de pulso foram de 96% e 91,7%, respectivamente (p= 0,534), e os valores de saturação de oxigênio mínimo eram 63,8% e 84,26%, respectivamente (p= 0,000). 
Clarke et al., 201515Médias de tempo gasto dentro da faixa alvo foram semelhantes. 
Rotina (34.6 ± 28.5%) 
Controle (38.3 ± 29.3%, p = 0.230). 
Eijk et al., 201316.Definidos 134 perigos, com pontuação da NPR (Número de  Prioridade de Risco) geral variando entre 45 e 507 pontos. 
Elencados 10 riscos com maior índice geral todos relacionados a limites de ajustes de alarme incorretos: 1 – FiO2; 2 – SatO2 e 3 – oximetria de pulso nos monitores de uso temporário. 
Elaborado recomendações para resolver os perigos. 
Lim et al., 201517.A queda do sinal de SatO2 foi responsável por 1,7% de toda a  gravação e ocorreu com maior frequência relativa durante hipóxia (SatO2 <85%). 
Os níveis de SatO2 após a recuperação do sinal foi de 85% em 1376 de 3932 episódios (35%), 85-95% em 2140 (54%) e >95% em 416 (11%).
A duração de queda foi maior nos episódios em que não havia ajuste da FiO2 – (Aumento da FiO2 74 (33–184); Diminuição da FiO2 67 (45–150); ajustamento da FiO2 34 (19–68) p<0.05. 
Falta informação sobre a causa real do episódio de queda de sinal em cada caso, e alguma incerteza em relação ao estado clínico anterior ou durante o evento. 
Zhang et al., 201618.Há o aumento do nível de ROS de forma significativa após o  tratamento com O2 de um modo dependente da concentração (p<0,05); 
Reforço da translocação e expressão de proteína p47phox foram significativamente reforçadas (p< 0,05);
PBMC cultura in vitro mostraram um aumento dos níveis de ROS, após tratamento com concentrações elevadas de O2; translocação p47phox, e aumento da expressão, (p<0,05). 

DISCUSSÃO 

Devido a imaturidade dos pulmões os recém-nascidos prematuros (RNPT) ficam  propensos a apresentarem dificuldades respiratórias, necessitando desta forma de suporte  ventilatório, embora o oxigênio (O2) seja fundamental para manutenção da vida seu uso de  forma indiscriminada pode ser lesivo ao organismo, os estudos de Zhang et al.18 demonstram  que o excesso de oxigênio produzem grande quantidade de reações oxidativas à nível celular,  causando lesões por estresse oxidativo. Corroborando com este achado Abrishami et al.14 afirmam que os radicais livres de oxigênio desempenham um papel importante para  desenvolvimento de retinopatia da prematuridade (ROP) e que há relação significativa entre a  duração da terapia com O2 e a incidência de ROP. 

Nos prematuros as complicações decorrentes da hiperoxia estão ligadas principalmente  a retina e aos pulmões. Zhang et al.18 mencionam que a longo prazo a terapia de oxigênio de  alta concentração é um precursor importante de broncodisplasia pulmonar em RNPT e também  uma das principais causas de ROP em tais pacientes. Com isso, o suporte ventilatório deve ser  empregado de forma que possibilite ao prematuro uma oferta de O2 que seja confortável, capaz  de corrigir a hipoxemia sem causar estresse oxidativo no organismo. 

Silva et al.19 analisaram retrospectivamente prontuários de 172 crianças com IG ≤ 37  semanas e PN ≤ 1.500 gramas de uma UTIN de Ponta Grossa no Paraná, no período de janeiro  de 2010 a dezembro de 2014. A frequência da ROP encontrada foi de 10,5%, onde 10 (55,6%)  desenvolveram o estadiamento III da doença. Divididos em dois grupos, de caso que  desenvolveram a ROP e de controle que não desenvolveram a ROP o tempo de exposição ao  oxigênio e valores de Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2) aos quais esses pacientes foram expostos, foram equivalentes a 73,3 dias e FiO2 77,2% no grupo de caso e 28,3 dias e FiO2  59,1% no grupo controle, com significância estatística (p<0,001). 

Já o estudo de Eijk et al.16 aponta os riscos da oxigenoterapia suplementar na  neonatologia e afirma através da FMEA (Modo de falha e análise) que o principal perigo é a  hiperoxia e que esta ocorre devido o ajuste incorreto da FiO2. Neste mesmo estudo os autores recomendam que haja um protocolo para ajustes manuais de FiO2 na Unidade de Terapia  Intensiva Neonatal (UTIN) e a realização de campanhas educacionais sobre os riscos da terapia  com oxigênio suplementar. 

Na tentativa de diminuir o número de intervenção nos ajustes de FiO2 Clarke et al.15 empregaram em seu estudo um período de latência de 3 minutos e valores de 88% – 92% como  alvo de saturação de oxigênio (SatO2) e os alarmes de SatO2 com valores entre 86% – 94% e compararam seus resultados com os números de intervenções de rotina chegando a resultados  semelhantes entre ambos, porém salientaram em suas conclusões que a atual administração de  oxigênio na UTIN onde foi realizado o estudo parece já estar em um padrão equivalente ao  preconizado nas orientações que foram testadas em seu estudo. 

A SatO2 sofre constantes variações em RNPT, como é possível observar durante a  monitorização através da oximetria de pulso, Lim et al.17 afirmam que durante os episódios em  que ocorre o abandono de sinal da SatO2, sua recuperação ocorre geralmente em uma gama  normóxico relativa, sendo portanto, pouco prováveis os efeitos benéficos dos ajustes “cegos” de FiO2, em seu estudo utilizaram alvo de SatO2 iguais aos utilizados por Clarke et al.15 e  alarmes de SatO2 definidos entre 85% – 95%, a queda de sinal de SatO2 ocorreu com maior  frequência relativa durante hipóxia (SatO2 <85%), após ser recuperado a SatO2 apresenta uma  mediana de 3,2% mais elevada do que a SatO2 da queda. 

Não foram encontrados protocolos para ajustes manuais de FiO2 empregados nos  estudos encontrados, porém, Eijk et al.16 sugerem dois artigos em seu estudo que descrevem protocolos para ajustes de FiO2 e enfatizam a necessidade de desenvolver um protocolo com  base na literatura e experiência atual. 

A literatura não determina valores que possam ser usados como parâmetros que defina  o nível de saturação de oxigênio aceitável para a manutenção da vida sem causar prejuízos ao  RNPT, os valores encontrados variam entre 88% – 92% conforme foi utilizado por Clarke et  al.15 e Lim et al.17

Apesar de descrevermos vários estudos que demonstram o quão nocivo é a oferta de O2  em excesso e mesmo com todo avanço tecnológico, cientifico e de assistência ao RNPT, nota se que os desafios ainda são grandes, por tanto deve ser alcançado um alvo que permita uma ventilação protetora, com oferta de FiO2 e níveis de SatO2 que seja ideal para o prematuro,  evitando os extremos da hipóxia e da hiperoxia, favorecendo a vida e diminuindo os risco a  saúde dos nascidos pré termo. 

CONCLUSÃO 

As principais complicações decorrentes da hiperoxia em prematuros citadas na literatura  possuem ligação direta com os pulmões e retina, sendo a retinopatia da prematuridade a  complicação mais citada nos estudos investigados, a administração de oxigênio deve ser feita  de forma consciente evitando os extremos de hipóxia e hiperoxia para desta forma minimizar  os possíveis danos que a terapia com oxigênio possam causar aos recém-nascidos prematuros. 

Ressaltamos a necessidade de estudos que possam determinar valores ideias de níveis  de saturação para recém-nascidos prematuros pensando na imaturidade do organismo e que  minimizem os danos causados ao neonato, para assim proporcionar aos profissionais de saúde  maior segurança no manejo da terapia embasada em evidências científicas. 

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1Acadêmicos do Curso de Graduação Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário UNINORTE, Rio  Branco – Acre.  

2Docente do Curso de Graduação Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco  – Acre.