COMPLICAÇÕES DA ENDOMETRIOSE – RELATO DE CASO DE RECIDIVA DE FÍSTULA RETOVAGINAL EM PÓS OPERATÓRIO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10152725


Eduardo Delfino Bindi; Lucas Tonholo da Silva; Karoliny Moreira Gonçalves; Maíra Santi Orsi Climeni; Marcelo Vicentini de Azevedo; Mariana Loureiro Dias Michelin; Paulo Vitor Carvalho Souza; Ricardo Rangel de Freitas Rodrigues; Tatiana Cesário Fonseca; Orientadora: Rosimeire da Silva.


Resumo 

A endometriose é uma doença com etiologia pouco conhecida, caracterizada pela  presença de tecido endometrial de forma disfuncional, o qual evolui para reações  inflamatórias crônicas em mulheres em idade reprodutiva, provocando um grande  impacto na qualidade de vida desta população, muitas vezes levando as mulheres em  idade reprodutiva a infertilidade. O presente projeto tem como objetivo descrever  através de relato de casos o impacto da Endometriose na saúde da mulher bem como  as complicações que ela pode acarretar. As informações foram obtidas a partir de  entrevista e acesso a prontuário da paciente analisando diagnóstico, procedimentos  cirúrgicos e complicações. Contudo, espera-se aprofundar o conhecimento existente  acerca da Endometriose, frisando a importância do diagnóstico correto e precoce  dessa enfermidade e os riscos de complicações relacionadas ao diagnóstico, cirurgia  e reabilitação. 

Palavras-chave: Endometriose; Laparoscopia; Colostomia; Fístula Retovaginal

Abstract 

Endometriosis is a disease of little known etiology, characterized by the presence of  dysfunctional endometrial tissue, which evolves into chronic inflammatory reactions in  women of reproductive age, causing a major impact on the quality of life of this  population, often leading women to reproductive age and infertility. This project aims  to describe, through case reports, the impact of Endometriosis on women’s health, as  well as the complications it can cause. The information was obtained from interviews  and access to patients’ medical records, analyzing diagnosis, surgical procedures and  complications. However, it is hoped to deepen existing knowledge about Endometriosis, highlighting the importance of correct and early diagnosis of this  disease and the risks of complications related to diagnosis, surgery and rehabilitation. 

Keywords: Endometriosis; Laparoscopy; Colostomy; Rectovaginal fistula

Introdução 

A endometriose é considerada uma afecção clínica de difícil diagnóstico, porém  recorrente na população feminina. Conhecida desde o século XVII foi descrita  primeiramente por Von Rokitansky, em 1860 e uma nova visão surgiu com Sampson,  em 1927 que sugeriu o fluxo menstrual como facilitador para o tecido endometrial se  implantar na cavidade peritoneal1

É uma doença ginecológica caracterizada pelo crescimento de tecido endometrial fora  da cavidade uterina, quase exclusivamente diagnosticada em pacientes em idade  reprodutiva em órgão como ovários, fundo de saco posterior e anterior, folheto  posterior do ligamento largo, ligamentos uterossacros, útero, tubas uterinas, cólon  sigmóide, apêndice e ligamentos redondos2. Mais de 60 anos se passaram para que  mudasse a abordagem da doença, assim estabelecendo o conceito da infiltração das  lesões, determinando que a menstruação retrógrada cause a forma infiltrativa  profunda da endometriose na cavidade2,3

Seguindo com a evolução, a apresentação clínica da endometriose como sinais e  sintomas varia consideravelmente, pois não apresenta características clínicas  patognomônicas o qual dificulta a suspeita e diagnóstico correto1. O exame físico,  história clínica pouco auxilia na conclusão do diagnóstico dependendo da fase a qual  a doença se encontra, sendo assim necessário auxílio de densidades tecnológicas  como exames de imagem, em especial o ultrassom transvaginal e pélvico e  ressonância nuclear magnética1,2

Objetivo 

Relato de caso de um paciente portadora de endometriose profunda que foi submetida  a procedimentos cirúrgicos com complicações e se mantem ainda em processo de  reabilitação por sequelas.

Métodos 

As informações contidas nessa descrição de caso clínico foram obtidas por meio de  revisão de prontuário, relato de paciente, registro de imagens de exames diagnósticos  e revisão de literatura. 

Relato de Caso 

Paciente M.S.O.C., 33 anos, procurou serviço de saúde ambulatorial como  beneficiária de plano de saúde, de forma eletiva em 17 de agosto de 2021 no Hospital  Ministro Costa Cavalcanti na cidade de Foz de Iguaçu- PR, para consulta com  ginecologista. Previamente já tinha ooforectomia há esquerda devido gestação  ectópica em 2015, na consulta foram relatados os seguintes sintomas, dismenorréia  nos primeiros três dias e urgência urinária e infertilidade, ao exame especular nódulos  enegrecidos em fundo de saco, ao toque útero retrovertido, totalmente fixo, nódulo  retrocervical petro com aparente invasão de vagina, solicitado exame complementar  de ressonância magnética. 

Retornou no dia 15 de setembro de 2021 onde foi diagnosticado endometriose  complexa de compartimento posterior e lateral esquerda, endometriose de reto baixo,  sigmóide, apêndice, vagina, septo retovaginal, adenomiose, mioma, hematossalpinge  esquerda, comprometimento de plexo hipogástrico esquerdo. Submetida a cirurgia  eletiva no dia 04 de novembro de 2021 no mesmo hospital, onde foi realizado  retossigmoidectomia, colectomia direita, ressecção de nódulo em plexo hipogástrico,  parametrectomia bilateral, adenomiomectomia, colpectomia, apendicectomia e  enterectomia, ressecção de tumor de septo retovaginal, lesões em uterossacros, em  ligamentos redondos, peritônio vesical e fossas ovarianas, salpingectomia esquerda  e nódulo em vagina, identificado nódulo em válvula ileocecal durante o transoperatório  e retirado por risco de obstrução e nódulo de endometriose em plexo hipogástrico  inferior esquerdo. 

No 5º dia de pós operatório (PO) de endometriose apresentou vômitos, distensão  abdominal, desidratação e íleo paralitico. No dia 10/11/2021 foi realizado a  reabordagem cirúrgica de Laparostomia com colostomia por fístula retovaginal,  apresentou sangramento vaginal três dias após sendo necessário transfusão de hemoderivados. No 5ºPO de Laparostomia com colostomia apresentou derrame  pleural bilateral sendo encaminhada a Unidade de Terapia intensiva, recebeu suporte  intensivo por 4 dias e retornou a clínica. No 11º PO de Laparostomia com colostomia  apresentou sangramento vaginal em grande quantidade sendo submetida a nova  abordagem de laparotomia e colporrafia persistindo o sangramento no pós operatório  foi avaliada pelo vascular o qual optou pela embolização de ramo da ilíaca interna  direita, após 4 dias de recuperação recebeu alta médica. Foi indicado tratamento com  hiperbárica para fechamento da fístula, na 5ª sessão apresentou barotrauma em  ouvido direito o qual contraindicou a continuidade do tratamento. Fez  acompanhamento médico no período de um ano e dois meses por meio de  colonoscopia (figura 1). 

Figura 1 

Fonte: Exames Particulares da Paciente 

Realizada nova avaliação médica e foi marcada a reabordagem para 30 de janeiro de  2023. Nova abordagem cirúrgica sendo realizado colectomia parcial com colostomia,  cirurgia de abaixamento, cirurgia de acesso posterior, enterorrafia e retirada de  aderências de cirurgia prévia. Alta médica no 3º dia de pós operatório, com coleta de  exames posteriores (D4 e D7). No 14º dia de pós operatório já em sua residência  apresentou hemorragia por via vaginal e retal, levada a unidade básica da cidade natal  onde precisou ser encaminhada ao hospital de referência da cidade vizinha. Foi  avaliada na emergência sendo solicitada vaga para outro hospital que dispunha de  densidade tecnológica maior, durante o atendimento apresentou hipotensão severa  sendo necessário uso de noradrenalina. Encaminhada de SAMU para outro hospital,  submetida a tomografia computadorizada, administrado concentrado de hemácias e  avaliada pela cirurgia e ginecologia sendo diagnosticado presença de nova fístula  retovaginal. Paciente segue mantendo colostomia (transversostomia) e fístula retovaginal, sendo identificado na colonoscopia de controle estenose de anastomose  de reto (Figura 2). 

Figura 2 

Fonte: Exames Particulares da Paciente 

Discussão de Caso 

As fístulas retovaginais são comunicações anormais entre o trato gastrintestinal baixo  e a vagina, são consideradas grandes desafios aos cirurgiões colorretais pois  dependem de sua complexidade, podendo ser determinado pela localização, etiologia  e qualidade dos tecidos circuncidantes. São causadas na maioria das vezes por  traumas obstétricos, cirurgias ginecológicas, traumas, doenças inflamatórias, entre  outros. Fístulas de pequeno diâmetro, distais no septo retovaginal, secundárias a  lesão traumática ou infecção são consideradas simples. As que apresentam diâmetro  maior, mais próximas ao septo retovaginal e associadas a doença inflamatória  intestinal subjacente, radiação, neoplasia ou reparos anteriores insuficientes são  consideradas mais complexas. Existem várias abordagens cirúrgicas bem descritas  que podem ser divididas em reparos transanais, transvaginais, transperineais e  transabdominais .O tipo do procedimento dependerá da qualidade dos tecidos  circundantes, da localização e da etiologia da fístula. Na última década houve um  crescente uso de biopróteses em forma de plugues e luvas no tratamento das fístulas.  Um pequeno número de casos demonstrou resultados promissores, mas ainda há  uma escassez de dados de longo prazo. Portanto podemos verificar a dificuldade no  manejo das fístulas retovaginais, sucesso no tratamento e risco latente de recidiva4,5,6.

Conclusão 

O presente trabalho visa colaborar para maior aprofundamento do conhecimento  sobre endometriose e suas complicações, visto que é um tema de enorme relevância  na atualidade, com objetivo de motivar novos profissionais da saúde e pesquisadores  a se aprofundarem na patologia e suas sequelas, estimulando-os a produzir novos  trabalhos e demonstrar o impacto da endometriose na qualidade de vida das  pacientes. Para isso, é necessário reconhecer a importância do diagnóstico e  tratamento precoce da doença, a fim de evitar possíveis complicações como esta  descrita neste relato de caso, o que influencia diretamente na infertilidade da mulher  e taxa de fecundação, sendo primordial o desenvolvimento de políticas públicas  voltadas para a prevenção e/ou detecção precoce da endometriose.

Referências 

1. Rosa e Silva JC, Valerio FP, Herren H, Troncon JK, Garcia R, Poli Neto OB.  Endometriose – Aspectos clínicos do diagnóstico ao tratamento. Femina.  2021;49(3):134-41. FeminaZ2021Z49Z-Z3.pdf (febrasgo.org.br) 

2. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Endometriose; PORTARIA Nº  879, DE 12 DE JULHO DE 2016; Ministério da Saúde; PROTOCOLO CLÍNICO  E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS (www.gov.br) 

3. Podgaec, Sérgio Manual de endometriose / Sérgio Podgaec. — São Paulo :  Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia  (FEBRASGO), 2014 Manual Endometriose 2015.pdf (pucgoias.edu.br) 

4. Soares, G. de Q., Camargo de Jesus, E., Lacerda da Silva, I. V. ., & Faria  Sarmento, L. . (2023). Fístula Retovaginal: relato de Caso Clínico. Caminhos  Da Clínica, 1(01). Recuperado de  https://unifoa.emnuvens.com.br/caminhos/article/view/4218 

5. IMPACTO DA ENDOMETRIOSE NA SAÚDE DA MULHER: RELATO DE CASO Isadora Bazzan Machado , Marina Galinari Vieira , Marcel Pereira  Rangel , Fernanda Shizue Nishida 403.pdf (unicesumar.edu.br) 

6. FÍSTULA RETOVAGINAL: DA COLOSTOMIA AO AVANÇO DE RETALHO  DE MARTIUS Annata Teixeira Della Costa, Jean Carlo Barbosa, Gabriel Felipe de  Lima Delfino, André Pereira Westphalen, Raphael Flavio Fachini Cipriani, Geanine Baggio Fracaro, Allan Cezar Faria Araujo; Journal of Coloproctology Volume 37, Supplement 1, October 2017, Page 61 FÍSTULA RETOVAGINAL: DA COLOSTOMIA AO AVANÇO DE RETALHO DE MARTIUS – ScienceDirect