COMPLICAÇÕES CAUSADAS POR ANEMIA FERROPRIVA DURANTE A GESTAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO CLÍNICO-LABORATORIAL

COMPLICATIONS CAUSED BY IRON DEPRIVITY ANEMIA DURING PREGNANCY AND THE IMPORTANCE OF CLINICAL- LABORATORIAL DIAGNOSIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10391571


Carla Cristina Silva (SILVA, C. C.).¹
Izamar Amancio da Silva Júnior (DA SILVA JÚNIOR, I. A.).²
João Vitor Barbo de Oliveira (DE OLIVEIRA, J. V. B.).³
Thaís Giovana Chagas Belarmino (BELARMINO, T. G. C.).4
Guilherme Borges Macêdo (MACÊDO, G. B.).5


RESUMO:

INTRODUÇÃO: A anemia é definida de acordo com os níveis de hemoglobina, que podem variar de acordo com muitos fatores, principalmente idade, sexo e etnia. Os impactos da anemia na gestação envolvem efeitos negativos na saúde materna que podem levar à morte e para os fetos. A avaliação laboratorial é fundamental para o diagnóstico definitivo de deficiência de ferro e tratamento precoce. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura. Serão analisados artigos científicos no Google acadêmico e nas bases PUBMED, SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (National Library of Medicine) publicados no período de 2018 a 2023, selecionados a partir dos títulos que contenham referência aos descritores. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A pesquisa demonstrou que é importante ter um balanço adequado de ferro corporal para o bem-estar e qualidade de vida. Nas gestantes, é necessário ter bons níveis de ferro para uma boa evolução da gravidez, para o bem- estar da mãe e para o desenvolvimento normal do feto e maturidade do recém-nascido. CONCLUSÃO: Mais esforços devem ser dedicados pelo sistema de saúde pré-natal para erradicar esse problema significativo, uma vez que crianças nascidas de mães deficientes em ferro ficam suscetíveis a diversos problemas de saúde.

Palavras-chaves: Anemia Ferropriva. Gestação. Pré-Natal.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Anemia is defined according to hemoglobin levels, which can vary according to many factors, mainly age, sex and ethnicity. The impacts of anemia during pregnancy involve negative effects on maternal health that can lead to death and death on fetuses. Laboratory evaluation is essential for the definitive diagnosis of iron deficiency and early treatment. METHODOLOGY: This is a narrative review of the literature. Scientific articles will be analyzed on Google Scholar and in the PUBMED, SCIELO (Scientific Electronic Library Online), MEDLINE (National Library of Medicine) databases published between 2018 and 2021, selected from the titles that contain references to the descriptors. RESULTS AND DISCUSSION: Research has shown that it is important to have an adequate balance of body iron for well-being and quality of life. In pregnant women, it is necessary to have good iron levels for a good outcome of the pregnancy, for the mother’s well-being and for the normal development of the fetus and maturity of the newborn. CONCLUSION: More efforts must be devoted by the prenatal healthcare system to eradicate this significant problem, as children born to iron-deficient mothers are susceptible to various health problems.

Keywords: Iron deficiency anemia. Gestation. Prenatal.

1 INTRODUÇÃO

A anemia é definida de acordo com os níveis de hemoglobina, que podem variar de acordo com muitos fatores, principalmente idade, sexo e etnia. Qualquer nível abaixo de 13 g/dL para homens e abaixo de 12 g/dL para mulheres é considerado anormal. Níveis de hemoglobina inferiores a 11 g/dL em qualquer momento durante a gravidez são considerados sinais de alerta (SANTIS, 2019).

Anormalidades nos índices de hemácias no hemograma geralmente precedem o desenvolvimento de níveis reduzidos de hemoglobina. A deficiência de ferro geralmente se desenvolve lentamente ao longo do tempo e pode não ser sintomática ou clinicamente específica. Quando as reservas de ferro estão completamente esgotadas, a acessibilidade do ferro aos tecidos diminui, levando à anemia sintomática (CASTRO et al., 2022).

As necessidades de ferro aumentam exponencialmente durante a gravidez para atender às crescentes demandas da unidade fetoplacentária, para expandir a massa eritrocitária materna e para compensar a perda de ferro no parto. Em mais de 80% dos países do mundo, a prevalência de anemia na gravidez é maior que 20% e pode ser considerada um importante problema de saúde pública. A prevalência global de anemia na gravidez é estimada em aproximadamente 41,8% e a anemia por deficiência de ferro não diagnosticada e não tratada pode ter um grande impacto na saúde materna e fetal (OLIVEIRA et al., 2021).

A anemia por deficiência de ferro é extremamente comum e atingiu um estado de epidemia global, e durante a gravidez é uma das principais causas de anemia em bebês e crianças pequenas, uma vez que muitas mulheres passam toda a gravidez sem atingir a ingestão mínima necessária de ferro (SOARES et al., 2021).

O ferro é um componente essencial nos processos metabólicos envolvidos na oxigenação dos tecidos. O ambiente ácido ajuda na absorção de ferro, que ocorre na primeira e segunda partes do intestino delgado, assim, a absorção de ferro é, portanto, aumentada pela coadministração de compostos ácidos, como o ácido ascórbico (BRITO et al., 2021).

A absorção de ferro também é normalmente aumentada em resposta a necessidades aumentadas. Após a absorção, o ferro ligado às proteínas é transportado para a medula óssea para incorporação na produção de hemácias e o excesso de ferro é armazenado na forma de ferritina (ROCHA; GONTIJO, 2021).

A anemia na gravidez tem diversos efeitos na saúde materna, como partos prematuros, insuficiência cardíaca, hemorragia pós-parto e até morte. Dado o significativo impacto adverso nos desfechos materno-fetais, o reconhecimento e o tratamento precoce dessa condição clínica são fundamentais. Portanto, os testes laboratoriais são recomendados desde o primeiro trimestre para avaliar os níveis de ferro (SOARES et al., 2021).

A suplementação oral de ferro é a primeira linha de tratamento em casos de anemia leve, no entanto, considerando os inúmeros efeitos colaterais gastrointestinais que muitas vezes levam à má adesão, outras estratégias terapêuticas devem ser avaliadas. Garantir serviços de saúde de qualidade na assistência pode ajudar a enfrentar a anemia e outros desafios relacionados à gravidez (CABRAL, 2019).

Há um aumento do volume sanguíneo durante a gravidez, o que pode levar a uma diminuição do armazenamento de ferro. À medida que aumenta o número de trimestres, aumenta também a demanda de ferro no corpo, portanto, no terceiro trimestre a possibilidade de a gestante está anêmica é maior do que no início da gestação (SOARES et al., 2021).

Diante disto questiona-se: como a anemia ferropriva pode impactar na saúde da gestante e do feto? Esta revisão visa descrever os impactos da anemia materna e da deficiência de ferro na gravidez e as opções de tratamento disponíveis.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura publicada em livros e artigos de periódicos, não apresenta critérios explícitos e sistemáticos para a busca e análise crítica da literatura, não necessita esgotar as fontes de informações e não adota estratégias de busca sofisticadas e exaustivas. Sendo uma forma de revisão apropriada para a fundamentação teórica de artigos, dissertações, teses, trabalhos de conclusão de cursos (SOUSA et al., 2018).

Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: pesquisas de cunho científico, disponibilidade do artigo na íntegra, publicados na língua inglesa e portuguesa, publicados no período de 2018 a 2023, seleção do título que contenha referência aos descritores, leitura classificatória do resumo e leitura do texto na íntegra (também classificatória).

Os critérios de exclusão foram artigos em que se disponibilizam apenas o resumo ou estudos que não forem disponibilizados na integra, títulos que não condizem com os descritores, além daqueles que apresentam duplicidade entre as categorias, e texto sem elemento relevante ao escopo do estudo.

Foram analisados artigos científicos no Google acadêmico e nas bases PUBMED, SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (National Library of Medicine), onde se aplicaram os seguintes descritores em saúde (MESH/DESC): anemia ferropriva, gestação, pré-natal.

Por ser uma pesquisa de cunho descritivo, os artigos foram categorizados de acordo com os objetivos do estudo. Os artigos selecionados para constituir a base da elaboração deste estudo, se realizará a investigação de produções cientificas que atendam a questão norteadora, conforme critérios de inclusão e exclusão.

Figura 1. Fluxograma da pesquisa bibliográfica

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

3 RESULTADO E DISCUSSÃO

A pesquisa obteve um total de 18 artigos, o quadro 1 a seguir, apresenta o compilados dos resultados obtidos que foram incluídos no artigo, dos quais identificou- se que a necessidade de ferro durante a gravidez é significativamente maior do que no estado não grávido, apesar da pausa temporária das perdas de ferro ocorridas durante a menstruação. As necessidades de ferro aumentam exponencialmente durante a gravidez para atender às demandas aumentadas do feto, para expandir a massa eritrocitária materna e para compensar a perda de ferro no parto. A prevalência global de anemia na gravidez é estimada em aproximadamente 41,8% (CASTRO et al., 2022).

Quadro 1: Artigos que tratam sobre anemia ferropriva durante a gestação.

Autor (Ano)TítuloMetodologiaObjetivoResultados
ARAÚJO, P. P. et al. (2020)Incidência de anemia ferropriva em mulheres no período gestacionalRevisão narrativaReunir informações sobre a incidência da anemia ferropriva no período gestacional e seu significado clínico para gestante e feto.Durante o período gestacional deve-se acompanhar os níveis eritrocitários, ferro e ferritina do corpo das mães para que não haja carência nutricional para o feto.
BRITO, M. E. S. M. et al. (2021)Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da anemia ferropriva: Uma revisão de literatura.Pesquisa bibliográficaSumarizar a fisiopatologia, o diagnóstico e tratamento da anemia ferropriva.Com o estudo, foi possível evidenciar o alto potencial causal da anemia ferropriva na população infantil, podendo assim comprometer marcante e desumano o desenvolvimento infantil.
CASTRO, S. S. B. M. et al. (2022)Os riscos da anemia ferropriva durante a gestação e a importância do diagnóstico clínico- laboratorial.Pesquisa bibliográficaAnalisar os riscos da anemia ferropriva durante a gestação, destacando a importância da precisão do diagnóstico clínico- laboratorial.Os resultados encontrados evidenciam que  a anemia ferropriva pode acometer gestantes, podendo se agravar e torna-se uma  condição crônica. Os riscos para a saúde da gestante e da sua prole são imensos, por isso a previsão do diagnóstico é fundamental para reverter a deficiência do ferro no organismo e evitar prejuízos.
FERREIRA L. et al. (2018)Fatores Assistenciais e Gestacionais Associados à Anemia em Nutrizes Atendidas em um Banco de Leite Humano.Estudo transversalAvaliar os fatores assistenciais e gestacionais associados à anemia entre nutrizes atendidas em um banco de leite humano (BLH) de referênciaIdentificou-se a prevalência de anemia em 29,2% da amostra, sendo maior entre as mães que não realizaram o pré-natal (RP = 3,84; IC95% 3,26-4,54); as que realizaram até 3 consultas pré-natais (RP = 1,92; IC95% 1,21-3,06) e aquelas que tiveram gestação múltipla (RP = 2,29; IC95% 1,25-4,19).
GALDINO, R. C. S. J.; SILVA, J. D. (2023)Anemia ferropriva na gestação: uma revisão da literatura.Revisão da literaturaAnalisar dados bibliográficos desta patologia demostrando a importância da adesão ao tratamento da anemia ferropriva em gestantes.Confirma-se a necessidade de uma atenção especial durante o período de pré-natal, a fim de evitar complicações tanto para a mãe quanto para o feto.
LIMA, L. U. et al. (2019)Anemia ferropriva em adolescentes ao final da gestação: Amazônia Ocidental Brasileira, Acre.Estudo descritivo, transversal de abordagem quantitativaEstimar a prevalência de anemia ferropriva em adolescentes ao final da gestação.Foram investigadas 239 adolescentes. Destas, 17,2% apresentavam anemia ferropriva; 61,9% hipoferritinemia; 47,3% hemoglobina igual ou maior que 11g/dL, porém registravam deficiência de ferro ferritina < 30 µg/L).
LIMA, P. M. (2022)Fatores determinantes para  o diagnóstico da anemia ferropriva em gestantes brasileiras: uma revisão integrativa.Revisão integrativaRealizar o levantamento de estudos que abordassem        os fatores determinantes para o diagnóstico da anemia ferropriva em gestantes brasileiras.Os resultados mostraram que o parâmetro mais utilizado para que se tenha um diagnóstico laboratorial da anemia ferropriva foi a hemoglobina sendo inferior a 11g/dL, porém, para que seja realizado de forma fidedigna, seguro e precisa, o ideal é fazer combinação com outros marcadores laboratoriais.
LINHARES, A. O.; CESAR, J. A. (2022)Suplementação de sulfato ferroso entre gestantes: um estudo de série temporal     no extremo   Sul do Brasil.Estudo de sérieAvaliar o efeito de algumas características maternas sobre o uso do sulfato ferroso entre puérperas pertencentes a cinco estudos perinatais do Município de Rio Grande.Houve grande melhora  na prevalência de uso de sulfato ferroso no período estudado, no entanto ainda falta atingir a equidade. Recomenda-se que os profissionais de saúde priorizem as mulheres com mais idade, com melhor nível socioeconômico e que utilizam o setor privado de saúde durante o pré-natal.
MAGALHÃES, E. I. S. (2018)Prevalência de anemia e determinantes da concentração de hemoglobina em gestantes.Estudo transversalAvaliar a prevalência de anemia e os fatores determinantes da concentração de hemoglobina em gestantes.A prevalência de anemia foi de 18,9%, e a média de hemoglobina, de 11,9 g/dL. Foram observadas menores médias de concentração de hemoglobina entre as gestantes que iniciaram o pré-natal no segundo trimestre e que não usavam suplemento de ferro, enquanto a maior média foi verificada entre as mulheres primigestas.
OLIVEIRA, L. B. M. et al. (2021)Anemia ferropriva na gravidez e a suplementação de sulfato ferroso.Revisão integrativaApresentar os principais aspectos envolvidos na gravidez em decorrência de anemia ferropriva.O manejo com sulfato ferroso, as mudanças no estilo de vida e uma correta assistência pré-natal seguindo as recomendações    da OMS e do Ministério da  Saúde – são estratégias que englobam tanto a prevenção quanto o tratamento da anemia ferropriva gestacional.
OLIVEIRA, E. A. S.; ROSÁRIO, S. C. (2022)Os riscos da anemia ferropriva durante a gestação e a importância do diagnóstico clínico- laboratorial.Revisão bibliográficaAnalisar os riscos da                   anemia ferropriva durante a gestação, destacando a importância da precisão do diagnóstico clínico-laboratorial.Os resultados encontrados evidenciam   que a anemia ferropriva pode acometer gestantes durante todo o período gestacional, podendo se agravar e torna-se uma condição crônica.
ROCHA, R. I. R.; GONTIJO, E. E. L. (2022)Diagnóstico precoce de deficiência de ferro na gestação e prevenção de anemia.Revisão bibliográficaDescrever sobre o diagnóstico precoce de deficiência de ferro na gestação e prevenção de anemia.Através do estudo percebe-se que é necessário a implementação de programas voltados para orientações nutricionais à gestante com vistas à prevenção das deficiências de nutrientes, principalmente ferro, de forma a minimizar os riscos de anemia.
SILVA, A. J. D.; VILLARINH O, A. C. A.; SOUZA, A. B. (2021)Fisiopatologia da anemia ferropriva.Revisão bibliográficaApresentar a anemia ferropriva e as causas da deficiência de ferro na saúde da mulher, descreve-se sobre essa fisiopatologia e apresenta-se as causas desta na mulher no período gestacional e na idade fértil, identificando o diagnóstico laboratorial e relatando seus tratamentos.O ferro é essencial para a vida humana e a deficiência desse micronutriente pode ser causada por perda sanguínea extra, alimentação inadequada e má absorção. Além disso, os grupos mais vulneráveis são as mulheres em idade fértil, grávidas e crianças nos seus primeiros anos de vida.
SOARES, F. M. M. et al. (2021).Incidência de anemia ferropriva em gestantes em um município de pequeno porteEstudo de corte transversal, retrospectivo e documentalAnalisar a incidência de Anemia Ferropriva em gestantes atendidas nas Unidades de Saúde do município de Solonópole-Ceará em 2020.A modificação do hábito alimentar com a introdução de dietas ricas em ferro, o monitoramento da anemia por meio de exames laboratoriais e uma suplementação medicamentosa de ferro,       são importância para evitar  possíveis efeitos colaterais na gestação.
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

3.1 Etiologia da anemia na gestação

A causa mais frequente de anemia na gravidez é a deficiência de ferro de origem nutricional e, no puerpério, a perda aguda de sangue. De uma perspectiva global, a anemia durante a gravidez é mais frequente e grave em países com baixo desenvolvimento social e econômico. As recomendações consensuais definem a anemia como nível de hemoglobina (Hb) <11 g/dL durante a gravidez e <10 g/dL durante o período pós-parto (MILMAN, 2018).

O fato de que a anemia por deficiência de ferro frequentemente se desenvolve na gravidez indica que as adaptações fisiológicas são muitas vezes insuficientes para atender às necessidades aumentadas, e a ingestão de ferro geralmente fica abaixo das necessidades nutricionais. Se não diagnosticada e não tratada pode ter um grande impacto na saúde materna e fetal, podendo afetar o bem-estar geral da mãe e levar à fadiga e à redução da capacidade de trabalho. Também pode causar palidez, falta de ar, palpitações, dores de cabeça, tontura e irritabilidade (CABRAL, 2019).

Há evidências que sugerem uma correlação significativa entre a gravidade da anemia, parto prematuro e baixo peso ao nascer, restrição de crescimento intrauterino, baixo nível de ferro neonatal, pré-eclâmpsia e hemorragia pós-parto, à semelhança do que ocorre com outras doenças relacionadas com a gravidez (MAGALHÃES et al., 2018).

A anemia é um problema de saúde global que afeta aproximadamente um terço da população mundial. Embora as causas desse distúrbio sejam diferentes, incluindo hemoglobinopatias, deficiências de micronutrientes como folato, vitamina B12 e riboflavina, esquistossomose, parasitas, infecções agudas e crônicas e doença renal crônica, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a deficiência de ferro seja responsável por 50% dos casos (DIAS, 2018).

Na maioria dos casos a anemia ocorre em áreas com desnutrição crônica; no entanto, condições de deficiência de ferro sem anemia também são um problema de saúde comum em países desenvolvidos. A prevalência da deficiência de ferro pode variar de acordo com diferentes condições, assim como ocorre com outras deficiências nutricionais. Mulheres e crianças pequenas correm maior risco de desenvolverem anemia ferropriva, esta desordem prevalece na infância, mulheres grávidas e em mulheres em idade reprodutiva (GALDINO; SILVA, 2023).

3.2 Consequências maternas e fetais da anemia ferropriva

A Organização Mundial da Saúde estabeleceu seis metas a serem cumpridas até o ano de 2025. Entre as metas está a redução de 50% da anemia em mulheres em idade reprodutiva por meio de várias estratégias, como fortificação alimentar com ferro, ácido fólico e outros micronutrientes, distribuição de ferro como suplementos, controle de infecções e malária (OLIVEIRA et al., 2021).

O ferro é um metal essencial para os seres humanos. É necessário para a síntese de hemoglobina nas hemácias e a síntese de mioglobina nas células musculares, bem como para a função de várias metaloenzimas vitais contendo ferro. É importante ter um balanço adequado de ferro corporal para o bem-estar e qualidade de vida. Nas gestantes, é necessário ter bons níveis de ferro para uma boa evolução da gravidez, para o bem-estar da mãe e para o desenvolvimento normal do feto e maturidade do recém-nascido (OLIVEIRA; ROSÁRIO, 2022).

A deficiência de ferro, mesmo na ausência de anemia ferropriva, pode ter um impacto negativo em mulheres em idade reprodutiva, causando comprometimento da capacidade cognitiva e menor desempenho físico. As mulheres grávidas com anemia ferropriva apresentam vários sintomas, incluindo palidez, falta de ar, palpitações, queda de cabelo, dores de cabeça, vertigens, cãibras nas pernas, intolerância ao frio, tontura e irritabilidade (CASTRO et al., 2022).

A anemia ferropriva também pode levar à redução da termorregulação, fadiga, falta de concentração, redução da capacidade de trabalho, diminuição da produção de leite materno e depleção dos estoques de ferro materno durante o período pós-parto.

Além disso, o risco de depressão pós-parto aumenta significativamente em comparação com gestantes sem deficiência de ferro; fadiga e depressão, devido à anemia, podem influenciar negativamente a relação mãe-filho, assim como um risco aumentado de desenvolver complicações, como aumento da suscetibilidade a infecções, insuficiência cardiovascular, eclampsia, maior risco de choque hemorrágico ou necessidade de transfusão de sangue periparto em casos de grande perda de sangue. O risco de mortalidade materna tem correlação direta com a gravidade da anemia ferropênica (BRITO et al., 2021).

A anemia por deficiência de ferro está associada a riscos aumentados de baixo peso ao nascer e parto prematuro, especialmente nos casos em que a deficiência de ferro ocorre no primeiro e segundo trimestre da gravidez. No entanto, em outros tipos de anemia, um pequeno aumento desses riscos foi destacado. Por outro lado, em mulheres grávidas durante o terceiro trimestre, o risco de parto prematuro é acentuadamente atenuado, e o aumento de parto prematuro em gestantes também está relacionado à gravidade da anemia. Em casos de anemia moderada ou grave, o risco é praticamente o dobro, enquanto na anemia leve é aumentado em aproximadamente 10 a 40% (FERREIRA et al., 2018).

Durante a gravidez, a anemia ferropriva pode levar a problemas placentários, morte no útero, infecções e baixo estoque de ferro em recém-nascidos. O ferro desempenha um papel vital como cofator de enzimas e proteínas envolvidas nos processos de desenvolvimento do sistema nervoso central. Portanto, a deficiência de ferro pode estar associada a consequências significativas. De fato, a deficiência precoce de ferro altera a morfologia e o metabolismo das células cerebrais, tem um impacto negativo nos oligodendrócitos alterando a mielinização e compromete a neurotransmissão (OLIVEIRA et al., 2021).

Mais esforços devem ser dedicados pelo sistema de saúde pré-natal para erradicar esse problema significativo, uma vez que crianças nascidas de mães deficientes em ferro têm menor desenvolvimento cognitivo, motor, socioemocional e neurofisiológico e menor quociente de inteligência do que bebês e crianças nascidas de mães ricas em ferro. A anemia por deficiência de ferro tem sérias consequências tanto para mulheres quanto para fetos/recém-nascidos e requer intervenção eficiente com profilaxia e/ou tratamento com ferro (ROCHA; GONTIJO, 2021).

Mesmo para as mulheres que iniciam a gravidez com reservas razoáveis de ferro, os suplementos de ferro melhoram o nível de ferro durante a gravidez e por um período considerável após o parto, fornecendo assim alguma proteção contra a deficiência de ferro na gravidez subsequente (ROCHA; GONTIJO, 2021).

3.3 Diagnóstico de anemia ferropriva durante a gravidez

A Organização Mundial da Saúde estima que a anemia possa ocorrer em quatro a cada 10 gestantes por ser um período em que o aumento do volume plasmático excede o crescimento do volume de hemácias e gera hemodiluição fisiológica, reduzindo a concentração de hemoglobina e, além disso, a partir do três trimestre há uma necessidade maior de ferro, em decorrência do crescimento do feto e da placenta.

A gravidez aumenta a demanda materna de ferro por três razões. Os volumes plasmáticos e sanguíneos maternos aumentam durante a gravidez, cada grama extra de hemoglobina que a mãe sintetiza requer uma adição de 3,46 miligramas de ferro elementar. Além disso, o feto requer ferro para suas próprias necessidades metabólicas e de fornecimento de oxigênio, bem como para o carregamento de seus estoques endógenos comparativamente grandes de ferro que serão utilizados nos primeiros seis meses de vida pós-natal (ROCHA; GONTIJO, 2021).

Além disso, a placenta é um órgão altamente metabolicamente ativo com grandes necessidades de ferro. Tem a capacidade de armazenar ferro nas células retículo-endoteliais para fornecer um tampão contra períodos de baixo suprimento materno de ferro. No geral, a gravidez requer um grama adicional de ferro, dividido de forma relativamente igual entre a mãe e o feto (OLIVEIRA et al., 2021).

O nível de ferro em mulheres pode ser determinado antes da gravidez usando biomarcadores padrão para ferro, ferritina plasmática, ferro plasmático (jejum), níveis de transferrina plasmática, receptor de transferrina sérico (sTfR) e hemoglobina sanguínea, incluindo um perfil hematológico completo e índices hematimétricos (BRITO et al., 2021).

A classificação atual relaciona como anêmicos os seguintes níveis: níveis de Hemoglobina (Hb) g/dL e Hematócrito (Hct) percentual abaixo de 11 g/dL e 33%, respectivamente, no primeiro trimestre; 10,5 g/dL e 32%, respectivamente, no segundo trimestre; e 11 g/dL e 33%, respectivamente, no terceiro trimestre com presença de hemácias hipocrômicas e microcíticas. Devido às inúmeras consequências adversas para a saúde materna e fetal que a anemia ferropriva causa durante a gravidez, o diagnóstico precoce é essencial (SANTIS, 2019).

A avaliação laboratorial é fundamental para o diagnóstico definitivo de deficiência de ferro. Como a etiologia da anemia inclui várias causas, o diagnóstico não pode ser baseado apenas nos valores de Hb. Para esclarecimento diagnóstico, é necessário avaliar o hemograma e os níveis séricos de ferritina (SF). O parâmetro mais confiável para revelar a deficiência de ferro é o SF, e a triagem da concentração de SF no início da gravidez é recomendada (MILMAN, 2018).

Se SF for <30 g/L, há uma alta probabilidade de que os estoques de ferro estejam esgotados, mesmo na ausência de anemia. Um valor de SF <30 g/L está associado a uma concentração de Hb <11 g/dL durante o primeiro trimestre, <10,5 g/dL durante o segundo trimestre e <11 g/dL durante o terceiro trimestre são diagnósticos de anemia ferropriva em grávidas (LINHARES; CESAR, 2022).

A terapia com ferro deve ser considerada nesses casos. Porém, na presença de processos inflamatórios ou doenças crônicas, os níveis de ferritina podem estar falsamente normais ou elevados, apesar da presença de anemia, que ocorre porque a ferritina reage como uma proteína de fase aguda. A avaliação dos níveis de proteína C-reativa (PCR) pode auxiliar no diagnóstico correto, excluindo infecções ou inflamações (ROCHA; GONTIJO, 2021).

Se o valor da PCR estiver elevado, recomenda-se a reavaliação do nível de ferritina sérica após a normalização da concentração da PCR. Repetir a medição dos níveis de ferritina posteriormente durante a gravidez não é necessário se a paciente não apresentar sintomas de anemia. Por outro lado, a concentração de Hb deve ser medida em cada trimestre. Quando os níveis de ferritina são 30 g/L, além de medir os níveis de PCR, é necessário realizar outras investigações diagnósticas, como a determinação da saturação de transferrina e ferro sérico (LIMA, 2022).

Se o nível de ferritina for normal, um valor de transferrina sérica <15% prova uma deficiência latente de ferro porque mais ferro é liberado da circulação sanguínea pela transferrina para garantir a eritropoiese. Os níveis séricos de ferro são suscetíveis a flutuações diurnas, portanto, geralmente, a avaliação dos níveis séricos de ferro e transferrina auxilia no diagnóstico, embora a ferritina sérica represente a estratégia certa (SILVA; VILARINHO; SOUZA, 2021).

Outro parâmetro útil para detectar a deficiência de ferro durante a gravidez, no caso de ferritina normal e PCR elevada, é o receptor de transferrina (sTfR) que mostra um aumento nos casos de deficiência de ferro ou maior demanda celular de ferro. Durante a gravidez, o aumento dos valores de sTfR está relacionado ao aumento da estimulação da eritropoiese e a uma maior necessidade de ferro devido à proliferação celular dependente de ferro. Baixas concentrações de sTfR no primeiro período da gravidez parecem estar associadas a uma eritropoiese inibida no primeiro trimestre, como alguns estudos têm mostrado, além disso, a concentração de sTfR não é influenciada por infecções ou reações inflamatórias (ROCHA; GONTIJO, 2021).

Para o diagnóstico diferencial com outras causas de anemia, como hemoglobinopatias, infecções ou doença renal crônica, são necessárias investigações adicionais. Em particular, a eletroforese ou cromatografia de Hb é indicada para excluir doenças genéticas, como a β-talassemia. Em casos de anemia megaloblástica, a vitamina B12 deve ser medida, pois a deficiência de vitamina B12 é uma condição comum, enquanto a anemia por deficiência de ácido fólico é menos frequente (MILMAN, 2018).

CONCLUSÃO

A literatura atual indica que a anemia por deficiência de ferro na gravidez é um fator de risco para parto prematuro e subsequente baixo peso ao nascer e, possivelmente, para saúde neonatal inferior.

Os impactos da anemia na gestação envolvem efeitos negativos na saúde materna que podem levar à morte e para os fetos, os efeitos incluem baixo peso ao nascer, asfixia ao nascer e morte perinatal. Bebês nascidos de mães anêmicas correm maior risco de apresentarem deficiência mental e física e, mais tarde, apresentarem baixo desempenho escolar. Além disso, bebês prematuros podem ter retardo de crescimento e evidências de baixas reservas de ferro no primeiro ano de vida.

Este tema é relevante e requer uma exploração mais aprofundada devido à tendência dos bebês de desenvolver anemia por deficiência de ferro e devido às consequências adversas documentadas dessa condição no desenvolvimento infantil, sendo essencial o diagnóstico laboratorial para o tratamento adequado em tempo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, P. P. et al. Incidência de anemia ferropriva em mulheres no período gestacional. Journal of Medicine and Health Promotion., v. 5, n. 1, p. 1-13, 2020. Disponível em: https://jmhp.fiponline.edu.br/pdf/cliente=13-bdc9a2fa5468fefe9d0068ea61dce007.pdf. Acesso em 24 set. 2023.

BRITO, M. E. S. M. et al. Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da anemia ferropriva: Uma revisão de literatura. Revista de Casos e Consultoria, v. 12, n. 1, p. 1-18, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/casoseconsultoria/article/view/23523/13910. Acesso em 23 set. 2023.

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¹Discente do Curso de Biomedicina. Universidade Evangélica de Goiás, Ceres, GO, Brasil. scarlacristina100@gmail.com
²Discente do Curso de Biomedicina. Universidade Evangélica de Goiás, Ceres, GO, Brasil. izamarjuniorr@gmail.com
³Discente do Curso de Biomedicina. Universidade Evangélica de Goiás, Ceres, GO, Brasil. jvbarbo@gmail.com
4Discente do Curso de Biomedicina. Universidade Evangélica de Goiás, Ceres, GO, Brasil. thaisgiovanang@icloud.com
5Docente do Curso de Biomedicina. Universidade Evangélica de Goiás, Ceres, GO, Brasil. macedoguilherme18@gmail.com