REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411152111
André Gomes Alves1,
Gabriella Lima Santos1,
Maria Luiza Alencar1,
Nathalia Capassi de Freitas1,
Wenderson Izar1,
Patrícia Franciscone Mendes2
RESUMO
Estatísticas recentes do Censo Instituto Pet Brasil apontam para um aumento na população Brasileira de gatos, com isso a procura por especialistas e estudos específicos com felinos domésticos, suas doenças e tratamentos, também aumentaram. Tendo em vista a diferença biológica e comportamental entre os canídeos e felinos faz-se necessário a disseminação da informação quanto ao Complexo Respiratório Felino (CRF), e às infecções bacterianas secundárias que o mesmo pode acarretar. O CRF é um conjunto de doenças, sendo os principais patógenos: Herpesvírus felino Tipo 1 (FeHV-1), causador da Rinotraqueíte viral felina, Calcivírus felino (CVF), conhecido por sua alta taxa de infectividade, Bordetella bronchiseptica, Chlamydophila felis, e, menos frequentemente, Mycoplasma sp. a suscetibilidade de um felino contrair a doença está diretamente ligada a ambientes com alta concentração de gatos, como gatis, abrigos e colônias (GASKELL E DAWSON, 1994, 2005; LAPPIN, 2012).
Palavras-Chave: complexo respiratório felino rinotraqueíte viral felina, herpesvírus felino, calicivirose felina, bordetella bronchiseptica, mycoplasma sp.
INTRODUÇÃO
O Complexo Respiratório Felino (CRF) é um conjunto de doenças que afetam o sistema respiratório dos gatos, causando um impacto significativo na saúde felina. Entre os sinais clínicos, os mais comuns são os respiratórios, podendo ter espirros, tosses e corrimentos nasais, Também podem desenvolver alterações oculares, como conjuntivite, corrimento ocular purulento e até mesmo protrusão da terceira pálpebra. Úlceras na boca, febre, desidratação são sinais graves da doença. Essa condição é frequentemente associada a infecções virais e bacterianas que podem resultar em quadros clínicos variados, desde sintomas leves até formas mais graves que podem comprometer a vida do animal. O diagnóstico pode ser dado por exames de imagem como raio x, ultrassom e exames laboratoriais.
A compreensão das causas, sinais clínicos e estratégias de manejo são essenciais para veterinários e tutores, especialmente em contextos onde há alta densidade populacional de gatos como abrigos e colônias de felinos (WEBER, et. al, 2020). O CRF é geralmente causado por uma combinação de agentes infecciosos. Os principais agentes virais incluem o Herpesvírus felino Tipo 1 que é o vírus da rinotraqueíte felina (FVR), o Calcivírus felino (CVF), que são altamente contagiosos e podem causar sintomas respiratórios significativos. Infecções bacterianas secundárias, como aquelas causadas pelas bactérias Bordetella bronchiseptica, Chlamydophila felis e, menos frequentemente, o Mycoplasma sp, podem complicar o quadro clínico, levando a uma maior severidade das manifestações. (GRENNE, 2013). A doença é prevalente em locais com alta densidade populacional de gatos, como gatis, abrigos e colônias. A aglomeração de animais facilita a transmissão dos agentes patogênicos, tornando surtos de doenças respiratórias comuns. Além disso, fatores como estresse, falta de vacinação, baixa imunidade e condições de higiene precárias podem aumentar a suscetibilidade dos gatos a essas infecções (GREEENE, 2013). Gatos jovens, imunocomprometidos e aqueles que vivem em ambientes superlotados estão em maior risco de desenvolver CRF. A alta densidade populacional não apenas aumenta as chances de contato entre os animais, mas também propicia um ambiente estressante, que pode comprometes o sistema imunológico dos felinos. Gatos que já enfrentaram episódios anteriores de infecções respiratórias também podem ser mais suscetíveis a novas infecções (COHN, 2011; BERGER at al., 2015).
Os sinais clínicos do CRF variam, mas frequentemente incluem espirros, secreção nasal e ocular, tosse, febre, e, em casos mais severos, dificuldade respiratória. Em alguns casos, pode haver apatia, perda de apetite e desidratação, especialmente se os gatos não estiverem conseguindo se alimentar adequadamente devido á congestão nasal (COHN, 2011; BERGHER, 2015). O diagnóstico do CRF é realizado através da avaliação clínica dos sinais apresentados, complementado por exames laboratoriais que podem incluir testes PCR para identificação de agentes virais e bacterianos. Radiografias torácicas podem ser úteis para avaliar a presença de pneumonia ou outras complicações pulmonares. O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento eficaz e para evitar a propagação do complexo respiratório (HENZEL, 2012).
O tratamento do CRF depende da gravidade da condição e da presença de complicações. EM muitos casos, o manejo é sintomático e pode incluir a administração de fluidos, medicamentos anti-inflamatórios, antibióticos em casos de infecções bacterianas secundárias e suporte nutricional. A terapia de oxigênio pode ser necessária em casos de dificuldade respiratória severa (GASKELL; BERGER, 2015), O prognóstico para gatos com CRF varia de acordo com a gravidade da doença, a rapidez do diagnóstico e a resposta ao tratamento. Gatos com infecções leves geralmente têm um bom prognóstico e se recuperam rapidamente. No entanto, casos mais graves, especialmente em gatos imunocomprometidos, podem ter um prognóstico reservado. A prevenção por meio da vacinação e manejo adequado do ambiente é essencial para reduzir a incidência do CRF (COH, 2011; CASTRO, 2015).
OBJETIVOS
Este estudo tem como objetivo principal examinar os aspectos relacionados ao Complexo Respiratório Felino (CRF) em gatos, com ênfase nas infecções respiratórias em colônias. A pesquisa buscará avaliar a frequência das infecções e os fatores predisponentes, como a elevada densidade populacional e o estresse, que favorecem a propagação do CRF. Além disso, será analisada a eficácia de diversos protocolos terapêuticos, incluindo o uso de antibióticos e corticosteroides, observando a resposta clínica e a duração dos sintomas (GASKELL E DAWSON, 1994).
O estudo também se propõe a identificar os agentes patogênicos associados ao CRF por meio de culturas microbiológicas, destacando a importância de patógenos como Bordetella bronchiseptica e Mycoplasma felis (HELPS, 2015). A relevância da prevenção será abordada, ressaltando a necessidade de um programa de vacinação contra o Herpesvírus felino (FeHV-1) e o Calcivírus felino (CVC) em colônias. Por fim, essa pesquisa visa contribuir para o desenvolvimento de protocolos de manejo e tratamento, sugerindo melhorias que fortaleçam e promovam a saúde dos felinos (LAPPIN, 2012).
MATERIAIS E MÉTODOS
Será realizada uma revisão sistemática de literatura já publicada sobre o assunto em livros, artigos científicos (papers), dissertações de mestrado e teses de doutorado a respeito do tema, com base em pesquisa relacionada com as seguintes palavras chave: complexo respiratório felino, rinotraqueíte viral felina, herpesvírus felino, calicivirose felina, Bordetella bronchiseptica; em algumas bases de dados científicos acadêmicos como: SciELO.org, Google Academy, Academia. Edu, BVS-VET, Repositório da USP, nos últimos 10 anos conforme disponibilidade de produções intelectuais durante o processo de desenvolvimento do mesmo.
RELATO DE CASO
Em 19 de julho de 2021, um felino doméstico, macho, sem raça definida, de 3 anos, foi apresentado para atendimento clínico em uma clínica de Perus, em São Paulo/SP. O animal tem acesso ao quintal e telhados da residência (gato errante). O felino, na ocasião com peso de 5,3 kg. apresentava secreção nasal e ocular de aspecto mucopurulento, agonia respiratória, espirros, sialorréia e tosse paroxística.
Ao exame físico observou-se escore 3 (1-10), desidratação, pelos opacos e secreções nasais em grande quantidade. As suspeitas levantadas foram de rinotraqueíte com diferencial para FIV e FeIV por se tratar de animal com acesso a áreas externas e sintomatologia variada que desencadeia infecções secundárias. Desta forma, foram receitados Amoxicilina associada ao Clavulanato de Potássio em virtude do tratamento da infecção bacteriana, Prednisolona, em decorrência da inflamação, Gaviz como protetor gástrico e TussedanR tendo em vista os sintomas da rinotraqueíte.
Aproximadamente vinte dias após este atendimento, a mesma tutora apresentou outro felino, fêmea, adulta com sintomatologia semelhante e trouxe também a informação de possuir uma colônia de gatos, incluindo uma minoria de gatos errantes, sendo assim considerou-se a rinotraqueíte proveniente de uma infecção viral, em que todos os gatos se infectam.
Devido ás restrições financeiras da tutora, os animais foram tratados de acordo com a amostragem, levando em consideração o pior caso do momento. Para confirmação diagnóstica, foram solicitados exames laboratoriais para mensuração de índices séricos e bioquímicos, tais como função renal (ureia e creatinina) e função hepática (ALT, GGT), além das sorologias para o Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) e Vírus da Leucemia Felina (FeLV). com resultados de ´´não-reagente´´ para todas as análises. Foram coletados swabs das secreções ocular e nasal para realização de cultura, e destes resultados foi detectado a presença de Bordetella bronchiseptica, o que indica uma infecção bacteriana que pode estar contribuindo para os sintomas respiratórios observados no animal.
Foram realizados exames de imagem, sendo a radiografia de tórax realizada nas incidências dorsoventral, latero-lateral direita e latero-lateral esquerda para avaliação de trato respiratório inferior sendo visualizado apenas discreto padrão bronquial e intersticial.
O tratamento de suporte foi instituído com dose de 0,5 mg/kg de Amoxicilina associada ao Clavulanato de Potássio (250mg + 62,5mg/5ml) na (dose de 1,5 mL), via oral, a cada 12 horas por 14 dias; Acetilcisteína (FluimucilR , xarope infantil, 20 mg/ml), 1ml por via oral, a cada 8 horas, por 5 dias e Doxicilina (dosagem, repetição, medicamento utilizado), aciclovir (dosagem, repetição, medicamento utilizado), Inalação por 30 minutos com 6ml de Soro Fisiológico e 1/3 do flaconete de ClenilR A.
Houve uma melhora clínica, contudo, os sinais clínicos não desapareceram totalmente, mesmo com atendimento continuado. Assim que os trabalhos laboratoriais foram emitidos, realizamos ajustes na dose, concentração e apresentação da Amoxicilina associada ao Clavulanato de Potássio para comprimidos de 50 mg, 1 comprimido a cada 12 horas, por 21 dias.
Para fortalecer a resposta imune foi prescrito um suplemento vitamínico a base de treonina, taurina, glutamina, Saccharomyces Cerevisiae, vitamina C, aditivo flavorizante, óxido de zinco, maltodextrina, caulin, metionina, vitamina E, parede celular de levedura, triptofano, vitamina A, L-lisina (PromunR Cat pasta), 4 gramas a cada 24 horas, por 45 dias. Exames laboratoriais foram repetidos para controle da doença.
O tratamento final foi instituído com base na sintomatologia clínica individual e os animais apresentaram melhora clínica satisfatória.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No estudo de caso, os felinos acometidos pelo Complexo Respiratório Felino (CRF) apresentavam sinais de distúrbios respiratórios e sindrômicos, incluindo secreção nasal e ocular, secreções oculares mucopurulentas, tosse e agitação. O primeiro felino, um macho de 3 anos, passou por tratamentos com corticosteroides (Prednisolona), antibióticos (Amoxicilina com Clavulanato de Potássio) e suporte sintomático, o que resultou em uma melhora parcial dos sinais clínicos. Isso enfatiza a característica crônica das infecções relacionadas á IRC, principalmente em áreas de densidade populacional elevada. Vinte dias depois, outro gato da mesma colônia apresentou sintomas semelhantes, apoiando a teoria de um surto viral. Bordetella bronchiseptica e Mycoplasma felis, que podem intensificar as infecções respiratórias, foram descobertas pela cultura microbiológica (SMITH et al., 2018)
A presença de vários agentes patogênicos, como o Herpesvírus felino (FeHV-1) e o Calcivírus Felino (CVF), em infecções bacterianas secundárias, foi confirmada pelos dados obtidos pelo CRF. A gravidade dos sintomas pode ser elevado por coinfecções, principalmente em gatos em condições de superpopulação e estresse. A sequência dos sinais clínicos pode ser relacionada á presença contínua do agente viral primário, embora o uso de antibióticos de amplo espectro tenha sido eficaz para controlar uma infecção bacteriana. A presença de infecções foi aumentada por um ambiente estressante e pelo papel da imunização, demonstrando a necessidade de manejo adequado. A melhora significativa da clínica foi concluída após a inclusão da suplementação vitamínica e ajuste na dosagem de antibióticos. A nutrição adequada é fundamental para melhorar a resposta imunológica em felinos com CRF (GASKELL E DAWSON, 1994; HELPS et al., 2005; LAPPIN, 2012).
CONCLUSÃO
Com base no relato de caso e métodos de diagnóstico, foi observado um quadro clínico de rinotraqueíte felina em uma colônia de gatos, onde inicialmente apenas um gato apresentou sintomas e após um período outros gatos de sua colônia também viera a apresentar sintomas similares, incluindo alguns errantes, tais sintomas como secreção nasal e ocular, agonia respiratória, espirros, sialorréia e tosse paroxística.
Apesar dos exames laboratoriais inicialmente não indicarem a presença de FIV ou FeLV, a cultura das secreções revelou infecção bacteriana. O tratamento instituído, incluindo antibióticos e suplementos, resultou em melhora clínica, embora alguns sinais persistam. Ajustes foram feitos na terapia, levando em consideração a resposta individual de cada gato, o que levou a uma melhora satisfatória.
Os casos de reemergência dos sintomas, apesar do tratamento, destacam a importância do acompanhamento contínuo e da adaptação terapêutica conforme necessário.
REFERÊNCIAS
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GASKELL, R. M.; DAWSON, S. Doença respiratória felina: o papel das infecções virais. Journal of Feline Medicine and Surgery. v. 1, n. 1, p, 1-10, 1994.
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WEBER, J.; et al Language racism: A critical overview of contemporary issues in veterinary medicine and animal health management. Palgrave Macmillan, 2020.
1Discentes do Curso de Medicina Veterinária no Centro Universitário das Américas – FAM
2Docente do Curso de Medicina Veterinária no Centro Universitário das Américas – FAM