REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411141323
Gabriel Henrique Junqueira1
Henrique Vilani1
Rafaela Bernardes de Carvalho1
Alessandro Ferreira Alves2
Bianca Reis Pereira2
Rafaella Rocha Figueiredo2
RESUMO
Este estudo investigou a utilização de diferentes modos ventilatórios em neonatos internados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTIN) e sua relação com o tempo de internação e desfechos clínicos. Nas últimas três décadas, a neonatologia avançou significativamente, especialmente em relação aos métodos ventilatórios, que são essenciais para a sobrevida e qualidade de vida de neonatos com dificuldades respiratórias. A pesquisa foi de caráter quantitativa, qualitativa, transversal e retrospectiva, analisando 80 prontuários de neonatos internados entre 2020 e 2024 em uma UTIN no sul de Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de prontuário eletrônico hospitalar e analisados com o aplicativo SPSS, considerando variáveis como gênero, tipo de parto, diagnóstico, peso, tempo de internação e uso de ventilação. Os resultados mostraram que a ventilação não invasiva (CPAP e VNI) estava associada a um tempo de internação mais curto e melhores desfechos clínicos em comparação à ventilação mecânica invasiva. Neonatos com ventilação não invasiva após a utilização de Ventilação Mecânica invasiva precisaram de menos ventilação prolongada e apresentaram menos complicações, como pneumonia associada à ventilação e disfunções motoras. A ventilação mecânica invasiva, embora necessária em casos críticos, foi associada a um tempo de internação maior e complicações mais graves. Além disso, o uso de oxigenoterapia não invasiva, como HOOD e cateter nasal, correlacionou-se com melhores resultados clínicos. Concluímos através deste estudo que, para otimizar desfechos e reduzir o tempo de internação, a ventilação não invasiva é altamente recomendada, especialmente para neonatos prematuros e de alto risco. A escolha do método ventilatório deve ser adaptada à necessidade individual do paciente, visando uma recuperação mais rápida e com menores complicações.
Palavras-chave: Modos Ventilatórios. Ventilação. Neonatologia.
ABSTRACT
This study investigated the use of different ventilation modes in neonates admitted to an Intensive Care Unit (NICU) and their relationship with length of stay and clinical outcomes. In the last three decades, neonatology has advanced significantly, especially in relation to ventilation methods, which are essential for the survival and quality of life of neonates with respiratory difficulties. The research was quantitative, qualitative, cross-sectional and retrospective, analyzing 80 medical records of neonates admitted between 2020 and 2024 to a NICU in the south of Minas Gerais. The data was collected through electronic hospital records and analyzed using the SPSS application, considering variables such as gender, type of delivery, diagnosis, weight, length of stay and use of ventilation. The results showed that non-invasive ventilation (CPAP and NIV) was associated with a shorter hospital stay and better clinical outcomes compared to invasive mechanical ventilation. Neonates with non-invasive ventilation after invasive mechanical ventilation required less prolonged ventilation and had fewer complications, such as ventilator-associated pneumonia and motor dysfunction. Invasive mechanical ventilation, although necessary in critical cases, was associated with a longer hospital stay and more serious complications. In addition, the use of non-invasive oxygen therapy, such as HOOD and nasal catheter, correlated with better clinical outcomes. We conclude from this study that in order to optimize outcomes and reduce length of stay, non-invasive ventilation is highly recommended, especially for premature and high-risk neonates. The choice of ventilation method should be adapted to the patient’s individual needs, aiming for a faster recovery and fewer complications.
Keywords: Ventilation Modes. Ventilation. Neonatology.
1. INTRODUÇÃO
O avanço da medicina na neonatologia, especialmente nos últimos 30 anos, tem transformado de forma drástica o prognóstico dos recém-nascidos prematuros e de alto risco, sendo observado progresso significativo, o qual impacta na melhora da sobrevida desses pacientes. Houve uma evolução quanto ao desenvolvimento de tecnologias e terapias que melhoram as taxas de sobrevivência e a qualidade de vida dos neonatos, tendo como um dos principais avanços o desenvolvimento de unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN), equipadas com incubadoras, ventiladores e monitores que permitem um cuidado intensivo e constante (TYSON et al., 2008).
Segundo Avery, a neonatologia como especialização surgiu na França. Em 1892, um obstetra (Pierre Constant Budin), contribuiu com a criação do primeiro ambulatório de puericultura no hospital Charité, desenvolvendo também métodos básicos e alguns princípios que envolvessem a medicina neonatal.
A neonatologia compreende a uma especialidade, a qual se dedica de forma assistencial ao recém-nascido (RN), possuindo como objetivos a redução da mortalidade e morbidades perinatais, em prol de melhores condições funcionais (TRAGANTE 2009).
A portaria N° 930, promulgada no dia 10 de maio de 2012 pelo Ministro de Estado da Saúde estabelece as diretrizes e objetivos contribuindo para uma atenção integral e humanizada ao recém-nascido e regulamenta a classificação e os critérios para habilitar leitos de Unidade Neonatal com base no Sistema Único de Saúde (SUS) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Conforme o artigo 7 do capítulo 2, disposto na portaria 930, o qual corresponde a organização dos leitos de unidades neonatal, diz que para cada 1000 (mil) habitantes nascidos vivos poderão ser contratados 2 leitos de UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal), 2 leitos de Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UNINCo) e 1 leito de Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UNINCa) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
De acordo com a Sociedade Brasileira Pediátrica (SBP), a qual levantou dados do Ministério da Saúde, Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES) e considerou informações cadastrais entre os anos de 2010 a 2017, verificou-se, em números mais recentes, que o Brasil possui atualmente 8.766 leitos de UTIN, que incluem unidades privadas e públicas. Referente a esse total, o montante de 4.677 pertence ao SUS, significando, portanto, a razão de 1,5 leito para 1000 nascidos vivos (MEDSCAPE, 2018).
A UTIN pode ser indicada para os seguintes casos: baixo peso, ou seja, recém-nascidos com menos de 1500g; pré-termo; malformações; apresentação de asfixia perinatal; prolapso do cordão umbilical; sofrimento fetal crônico, subagudo ou agudo; descolamento placentário ou placenta prévia; oligo e polidrâmnio (diminuição do líquido amniótico); doenças hemolíticas; cardiopatias congênitas (MANUAL DE NEONATOLOGIA, 2015).
De acordo com a Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil, a UTI admite RN antes de 37 semanas de gestação (ou seja, menos de 259 dias). Esta condição é uma das principais causas de morbidade e mortalidade neonatal, sendo responsável por 75% a 95% de todas as mortes infantis prematuras não relacionadas a malformações congênitas. Os pacientes que estão abaixo do peso ou com problemas que podem afetar seu desenvolvimento, como doenças cardíacas ou respiratórias também são admitidos em tal setor.
Logo após o nascimento é realizado a avaliação do RN, de acordo com a escala de APGAR, que consiste em um teste feito no recém-nascido, logo após o nascimento, para avaliar o estado geral e a vitalidade. Durante o teste são avaliados alguns sinais apresentados pelo RN, como a cor da pele, número de batimentos cardíacos, resposta ao estímulo, tônus muscular, respiração, as quais são pontuados conforme a escala de APGAR para dar um resultado. Esta avaliação é imediatamente após o nascimento e repetida 5 minutos depois. No final da avaliação, a pontuação de cada sinal é somada para obter um valor único, que varia de 0 a 10 (SCHLATTER et al., 2023).
Além disso, são levados em consideração as complicações que envolvem o período gestacional. Segundo o manual MSD Versão Saúde para a Família, a classificação dos prematuros se dá como: extremo (menos de 28 semanas), moderado (28 a 31 semanas) e pré-termo leve (32 a 36 semanas). Quando associamos o peso à idade gestacional, o RN é classificado segundo o seu crescimento intrauterino em: RN grande para a idade gestacional (GIG), peso acima do percentil 90. RN adequado para a idade gestacional (AIG), peso entre o percentil 10 e 90. RN pequeno para a idade gestacional (PIG), peso abaixo do percentil 10 (MARGOTTO, 1991).
O fato de terem nascido antes do momento ideal para completar a gestação pode fazer com que esses RNs necessitem de cuidados especiais logo após o parto. Afinal, órgãos subdesenvolvidos podem torná-los mais suscetíveis a infecções ou outras complicações de saúde. O surfactante é produzido ao longo do amadurecimento dos pulmões do bebê, ainda no útero materno, após cerca de 28 semanas. Ele está presente em todas as espécies que respiram através de pulmões, pois, na sua ausência, o líquido presente entre o alvéolo e o ar apresenta uma tensão superficial alta, que exerce uma força de colabamento sobre estas estruturas pulmonares. Por isso, prematuros que nascem antes deste período, ainda podem não ter a produção suficiente desta substância, o que causa a síndrome do desconforto respiratório infantil acarretando em intensa insuficiência respiratória (NORBERTO et al., 2023).
O desenvolvimento do sistema respiratório fetal pode ser divididos em 4 estágios sendo eles: Estágio pseudoglandular inclui o período que se segue à etapa embrionária, na qual as principais estruturas das vias aéreas e dos pulmões são formadas, acontece da 6ª à 16ª semana de gestação. Estágio canalicular a partir da 16ª à 24ª semana, a pequena via aérea começará a tornar sua estrutura mais complexa, formando as estruturas necessárias para a troca gasosa que ocorrerá quando o ar entrar nos pulmões pela primeira vez. Estágio sacular esse período começa no final do segundo trimestre e termina no final (24ª á 38ª semanas). A importância dessa etapa é que durante ela as unidades de troca se tornam mais complexas até ficarem em condições ideais para serem utilizadas no final da gestação. Estágio alveolar ao contrário das anteriores, essa fase começa durante a gravidez (36ª semana) e termina na vida pós-natal, aproximadamente quando a criança completa 2 anos (MARTINELLI et al, 2021).
Os modos ventilatórios são de extrema importância a serem estudados dentro de uma unidade de terapia intensiva neonatal. O auxílio da ventilação mecânica pulmonar (VPM), promove uma melhoria na sobrevida dos pacientes que apresentam insuficiência respiratória, incluindo os RNs, os quais possuem imaturidade pulmonar, estando mais susceptíveis às insuficiências. Com isso, nota-se a presença da ventilação não invasiva (VNI), sendo um suporte de VPM, sendo utilizada como primeira estratégia ventilatória, complementando técnicas que englobam a fisioterapia respiratória convencional (OLIVEIRA et al., 2015).
A utilização da VNI na terapia respiratória traz como benefícios o aumento da expansibilidade pulmonar, eliminação de secreções, diminuição do trabalho respiratório, promovendo descanso dos músculos responsáveis pela respiração e seus auxiliares e traz melhorias na hematose (FERREIRA et al., 2009).
Já a ventilação mecânica invasiva (VMI), segundo o Manual de Neonatologia, consiste em um suporte ventilatório de pressão positiva, empregado aos recém-nascidos que fazem de uso de qualquer via aérea artificial, como o tubo endotraqueal ou cânula de traqueostomia, conectando a um dispositivo ventilatório. Tem o intuito de otimizar as trocas gasosas e o estado clínico do paciente, minimizando a ventilação, Fração inspirada de Oxigênio (FiO2) e a pressão (EICHENWALD, 2000).
Embora a VMI seja um suporte à vida de um RN crítico, seu uso de longa permanência trará danos significativos e acarretar riscos ao paciente, tendo como exemplo disfunções diafragmáticas e pneumonia associada à utilização da ventilação mecânica, entre outras complicações respiratórias e motoras (RIBEIRO et al., 2019).
Seguindo essa linha de pensamento, têm-se os modos convencionais ventilatórios, incluindo o modo controlado, assistido, ventilação mandatória intermitente, (IMV), ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV), Ventilação com pressão de suporte, pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), ventilação com liberação de pressão das vias aéreas (VLPVA) e ventilação de alta frequência (PELUSO, 2006).
No modo VCV (Ventilação com Volume Controlado), o ventilador entrega um volume fixo de ar por respiração, ajustado previamente, independentemente da pressão necessária. O ventilador também garante um número predeterminado de respirações por minuto. A pressão pode variar com a flexibilidade pulmonar. Este modo assegura um volume constante e controle preciso da ventilação (CAVALHO et al., 2000).
O modo PLV (Ventilação por Pressão Limitada) oferece uma pressão inspiratória fixa, mas o volume de ar pode variar conforme a flexibilidade e a resistência das vias aéreas. Este modo limita a pressão para segurança e permite variação no volume corrente.
O modo SIMV (Ventilação Intermitente Sincronizada com Mandatória) combina respirações controladas, assistidas e espontâneas. A frequência respiratória definida geralmente é menor do que a espontânea do paciente. Esse modo pode levar a uma ventilação mecânica mais prolongada e menor eficiência no desmame comparado ao modo AC (RIBEIRO et al., 2019).
No modo AC (Ventilação Assistida e Controlada), o ventilador fornece ciclos assistidos ou controlados com base na presença de um impulso respiratório. O modo usa pressão ciclada por tempo e pode aumentar a Pressão Média nas Vias Aéreas (MAP). Ajustes devem ser feitos com cuidado, especialmente em recém-nascidos prematuros (RIBEIRO et al., 2019).
Nessa perspectiva, o estudo tem aplicabilidade na qualificação quanto ao uso dos modos ventilatórios em uma unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), tendo em vista a adequação da tecnologia, buscando novos caminhos para uma melhor assistência à vida humana. Objetivando a análise dos modos ventilatórios na influência de tempo de internação e consequentemente o desfecho clínico do paciente.
2. REVISÃO DE LITERATURA
A neonatologia tem evoluído significativamente nas últimas três décadas, com avanços notáveis que impactaram diretamente a sobrevida e a qualidade de vida dos recém-nascidos prematuros e de alto risco. Esses avanços incluem a introdução de tecnologias e terapias inovadoras, como o desenvolvimento das UTINs, que foram equipadas com incubadoras, ventiladores e monitores. Essas tecnologias permitem um cuidado intensivo e constante, essencial para a sobrevivência desses neonatos críticos (TYSON et al., 2008).
Os recém-nascidos prematuros enfrentam uma variedade de desafios devido ao subdesenvolvimento de órgãos e sistemas. A classificação dos prematuros e a importância de cuidados especializados são bem estabelecidas. As complicações associadas, como a síndrome do desconforto respiratório infantil, são críticas e estão bem documentadas na literatura (NORBERTO et al., 2023).
Os modos ventilatórios são essenciais no tratamento de recém-nascidos com insuficiência respiratória. A literatura destaca diferentes modalidades de ventilação, como ventilação não invasiva (VNI) e ventilação mecânica invasiva (VMI), bem como os modos ventilatórios específicos, como Ventilação Controlada por Volume (VCV), Ventilação por Pressão Limitada (PLV), e Ventilação Intermitente Sincronizada (SIMV) (OLIVEIRA et al., 2015).
O desenvolvimento do sistema respiratório fetal é crucial para entender a necessidade de suporte ventilatório em neonatos prematuros. As etapas do desenvolvimento pulmonar, desde o estágio pseudoglandular até o estágio alveolar, são bem descritas na literatura e são fundamentais para entender a patogênese da síndrome do desconforto respiratório e a necessidade de intervenções adequadas (MARTINELLI et al., 2021).
Fazendo uma primeira aproximação o tópico 2.1 abordará sobre os modos ventilatórios utilizados em uma UTIN , já no tópico 2.2 abordará sobre a incidência de displasias, no tópico 2.3 abordará sobre as complicações de ventilação mecânica em recém-nascido.
2.1 Modos ventilatórios utilizados na UTIN
Os avanços contínuos na assistência neonatal têm sido cruciais para reduzir a mortalidade e a morbidade nessa faixa etária. A ventilação pulmonar mecânica, como um método essencial de suporte ventilatório, tem desempenhado um papel fundamental no tratamento das patologias respiratórias, proporcionando uma abordagem mais eficaz e segura para o tratamento desses recém-nascidos vulneráveis.
No modo VCV, o ventilador é configurado para entregar um volume fixo de ar ou gás a cada respiração. Esse volume é ajustado previamente e é garantido a cada ciclo respiratório, independentemente da pressão que é necessária para entregar esse volume. O ventilador também é ajustado para fornecer um número predeterminado de respirações por minuto. Se o paciente não iniciar uma respiração espontânea ou se não conseguir atingir o volume respiratório adequado, o ventilador assume e entrega o volume fixado. A pressão que o ventilador aplica pode variar para entregar o volume fixo de ar, dependendo da flexibilidade dos pulmões e das vias aéreas. Se a flexibilidade mudar (por exemplo, devido a um aumento da rigidez do pulmão), a pressão necessária para entregar o volume fixado também pode mudar. O VCV é útil para garantir um volume consistente de ventilação, proporcionando controle preciso da ventilação em situações críticas (CARVALHO et al., 2000).
O modo PLV refere-se à Ventilação por Pressão Limitada (Pressure Limited Ventilation), também conhecida como Ventilação por Pressão Controlada (Pressure Controlled Ventilation – PCV). O ventilador fornece uma pressão inspiratória pré-determinada a cada respiração, mas o volume de ar ou gás que é entregue pode variar dependendo da flexibilidade dos pulmões e da resistência das vias aéreas. O modo PLV é útil para garantir que a pressão inspiratória não exceda um nível seguro, enquanto permite uma variação no volume corrente com base nas condições dos pulmões do paciente (CARVALO et al., 2000).
O modo SIMV (Ventilação Intermitente Sincronizada com Mandatória) é caracterizado pela ventilação por pressão, podendo operar com fluxo contínuo ou livre. Este modo permite a realização de ciclos controlados, assistidos e espontâneos. Para evitar volumes correntes reduzidos, os ciclos espontâneos devem ser combinados com ventilação por pressão de suporte (PSV). O ciclo controlado é acionado apenas se não houver disparo assistido na janela de tempo anterior. A frequência respiratória definida para o SIMV costuma ser menor do que a frequência espontânea do paciente (RIBEIRO et al., 2019).
Observa-se uma tendência de diminuição no uso do modo SIMV na ventilação neonatal, possivelmente porque este modo pode resultar em uma duração mais prolongada da ventilação mecânica em comparação ao modo AC. Além disso, o modo AC tende a fornecer volumes correntes mais consistentes, reduzindo o trabalho respiratório, a taquipneia, promovendo melhor sincronia e acelerando o desmame da ventilação mecânica invasiva (VMI) em relação ao modo SIMV (RIBEIRO et al., 2019).
Na modalidade AC (Ventilação Assistida e Controlada), o ventilador oferece ciclos que podem ser assistidos ou controlados, dependendo da presença de um impulso respiratório. Este modo opera com base em pressão e é ciclado por tempo com fluxo contínuo. Não se utiliza a ciclagem por volume neste modo devido à variabilidade da pressão, que pode potencialmente causar lesão pulmonar se os níveis de pressão de pico ou platô forem excessivos. Quando o fluxo é livre, o modo é conhecido como Ventilação por Pressão Controlada (PCV), disponível no Dixtal. Nesse caso, o fluxo pode ser ajustado para acelerar ou desacelerar, o que pode aumentar a Pressão Média nas Vias Aéreas (MAP). Este ajuste deve ser feito com precaução, especialmente em recém-nascidos prematuros (RIBEIRO et al,2019).
2.2 Incidência de displasias
A sobrevivência de recém-nascidos de muito baixo peso (RNMBP) melhorou nos últimos anos, mas a displasia broncopulmonar (DBP) e outras morbidades a longo prazo ainda são um problema importante. A DBP afeta 20 a 30% dos RNMBP e leva a tratamentos e internações prolongadas, o que pode causar efeitos neurológicos perigosos. Fatores como baixo peso ao nascer, idade gestacional, síndrome do desconforto respiratório, ventilação mecânica, infecção neonatal, persistência do canal arterial e subnutrição aumentam o risco de desenvolver DBP, embora a causa da doença não seja totalmente conhecida (TAPIA et al., 2006).
2.3 Complicações da Ventilação Mecânica em recém-nascidos
Quando é necessária a ventilação mecânica, a meta principal é extubar o mais rapidamente possível para evitar complicações, tais como lesões pulmonares relacionadas ao ventilador, síndromes de vazamento de ar, complicações na intubação endotraqueal e pneumonias. Geralmente, esses danos são causados por pressões inadequadas no equipamento, que podem provocar barotrauma ou volutrauma. Para reduzir essas complicações, empregam-se táticas de ventilação protetora, particularmente em bebês, ajustando a pressão e o volume de acordo com as demandas individuais para assegurar uma adequada oxigenação dos alvéolos e prevenir a hiperinsuflação pulmonar (ARAÚJO & GUIMARÃES, 2022).
3. MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, qualitativa, transversal, observacional e de caráter retrospectivo, considerando as características do recém-nascido e o modo ventilatório. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) para apreciação e aprovada sob o CAAE 83299424.4.0000.5111.
O estudo foi realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) de uma instituição pública-privada na cidade de Varginha, sul de Minas Gerais. Participaram do estudo neonatos internados durante os anos de 2020 a 2024, que fizeram o uso de algum modo ventilatório, tendo como critério de exclusão pacientes que não fizeram quaisquer usos de suporte ventilatório durante a internação. Para a realização da coleta de dados foi necessário o acesso ao sistema de gestão hospitalar (SPDATA) que é adotado pela instituição e que se encontrava o módulo de prontuário eletrônico do paciente (P.E.P). Foram retiradas as informações para contemplação das variáveis presentes na planilha de coleta.
As variáveis de estudo foram gênero, data de entrada e de saída, peso de entrada e de saída, tipo de parto, diagnóstico de admissão, idade e classificação gestacional, dias de internação na UTIN e hospitalar, se usou mais de um modo ventilatório e qual (is), se utilizou ventilação não invasiva. Fez-se uso de oxigênio e qual tipo de oxigenioterapia, se utilizou oxigênio na incubadora, se fez uso de drogas vasoativas, se utilizou algum sedativo, se utilizou algum bloqueador neuromuscular se fez uso de Morfina, se fez algum procedimento cirúrgico e se sim qual, se foi traqueostomizado e o desfecho do paciente.
Foram selecionados dados de 80 prontuários de pacientes neonatos que cumpriram os critérios de inclusão da pesquisa. Os responsáveis da instituição, sendo diretor administrativo da instituição hospitalar, médico e fisioterapeuta coordenadores da unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), assinaram uma carta de anuência, a qual assegura a acessibilidade aos dados em qualquer fase, a preservação da identidade. Foi garantido o sigilo dos dados coletados, sendo esses utilizados apenas para finalidades científicas.
Os dados coletados contidos nos prontuários foram compilados e plotados em planilha Excel® e analisados estatisticamente pelo programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). Para as variáveis descritivas, foram calculadas média, desvio padrão, porcentagem e frequência absoluta. Inicialmente, aplicaram-se os testes de normalidade de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smimov aos dados. Em seguida, a correlação de Spearman foi usada para as análises de associação. Os níveis de significância considerados foram: p < 0,05 e p < 0,01.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram considerados para elegibilidade 406 prontuários, entre anos de 2020 a 2024. Destes prontuários, foram excluídos 326, por não se encaixarem nos critérios de inclusão (figura 01).
Figura 1- Coleta dos prontuários
Fonte: Autores (2024). Fluxograma referente aos prontuários analisados para coleta de dados realizando a exclusão daqueles que não se encaixavam nos critérios da pesquisa.
No que se refere à caracterização da amostra, o tempo médio de internação foi de 39.57 dias e 81.3% dos pacientes obtiveram alta para casa. Além disso, observou-se maior porcentagem de neonatos pré termo extremo na unidade de terapia intensiva. O modo ventilatório invasivo mais aplicado foi o PLV. Os demais itens estão descritos na tabela 01.
Tabela 01: Caracterização da Amostra
Fonte: Autores (2024). As variáveis: Idade Gestacional e Tempo de Internação foram dadas mediante média, desvio padrão e Intervalo de Confiança. As demais variáveis foram descritas mediante frequência e porcentagem. Legenda: M: Média; ± Desvio Padrão, IC: Intervalo de Confiança.
Houveram correlações inversamente proporcionais, entre as variáveis: tempo de internação e os modos ventilatórios: PLV e CPAP, sendo estes modos, os mais utilizados dentro da UTI. Além disso, também houveram correlações semelhantes entre os modos de oxigenioterapia: HOOD e cateter nasal . Cabe ressaltar que a modalidade cateter nasal foi utilizada em 98,8% dos pacientes, o que possivelmente justifica a correlação moderada e, consequentemente, menor tempo de internação.
Tabela 02: Correlação entre as variáveis Tempo de Internação e Modos ventilatórios Invasivos e Não Invasivos.
Fonte: Autores (2024). Foi utilizada Correlação de Spearman. Legenda: *p<0,05; **p<0,01.
Do mesmo modo, foram observadas correlações positivas entre as variáveis desfecho do paciente e os modos invasivos e não invasivos, respectivamente: PCV, Uso de VNI, CPAP e HOOD. Tais modalidades obtiveram maior porcentagem de uso e possivelmente impactaram no desfecho positivo do paciente (tabela 03).
Tabela 03: Correlação entre as variáveis Desfecho do Paciente e Modos ventilatórios Invasivos e Não Invasivos.
Fonte: Autores (2024). Foi utilizada Correlação de Spearman. Legenda: *p<0,05; **p<0,01
De modo semelhante, a análise mostrou uma correlação positiva entre a utilização dos modos invasivos e o desfecho negativo dos pacientes (óbito). Modos como o PCV, se usado por períodos prolongados, podem aumentar os riscos de disfunções respiratórias e infecções relacionadas ao uso da ventilação invasiva, como exemplo a pneumonia associada à ventilação, PAV. A pesquisa de Ribeiro et al., 2019, indica que a permanência prolongada em modos ventilatórios invasivos, está associada a complicações que influenciam o prognóstico de neonatos. Além disso, a literatura menciona que, embora necessário em casos específicos, a ventilação mecânica invasiva deve ser utilizada por períodos mínimos possíveis para evitar danos extras nos pulmões. (ARAÚJO & GUIMARÃES, 2022).
Os resultados deste estudo indicam que os modos ventilatórios menos agressivos, ou seja, que causam menos danos, como CPAP e PLV, apresentam correlação inversa com o tempo de internação na UTIN. A justificativa se dá em razão de ser um modo de ventilação seguro, apresentando menor risco de complicações pulmonares, tais como barotrauma e volutrauma, em comparação a ventilação controlada por volume (VCV). Estudos prévios reforçaram tal associação, instigando o uso da ventilação não invasiva, para a redução do tempo de internação e consequentemente acelerando o processo de desmame do RN, direcionando uma recuperação mais rápida. (FERREIRA et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2015).
A alta prevalência do uso VNI e CPAP, ambos correlacionados com o desfecho favorável de alta hospitalar, confirma a proposta da abordagem menos invasiva. Além de ajudar a manter a oxigenação e a ventilação eficazes, esses modos também proporcionam maior mobilidade do diafragma e, portanto, preservação da função pulmonar, o que é crítico para evitar a displasia broncopulmonar (DBP). De acordo com o estudo de Tapia et al., 2006, traz evidências de que o uso adequado da ventilação mecânica contribuiu para a diminuição dos casos de DBP entre neonatos com muito baixo peso ao nascer, altamente suscetíveis a essa doença.
Os resultados deste estudo também são consistentes com a prática clínica atual para melhorar o uso dos modos ventilatórios, tendo preferência em selecionar métodos menos invasivos como tratamento de primeira linha, quando possível. Portanto, a seleção de um método de ventilação apropriado mostra-se como uma estratégia eficaz para reduzir o tempo de permanência na UTIN e melhorar os resultados clínicos neonatais, otimizando a qualidade de vida do paciente e reduzindo os custos de hospitalização.
5. CONCLUSÕES
Este estudo proporcionou uma melhor compreensão da utilização de diferentes modos ventilatórios no desenvolvimento clínico de neonatos internados na UTIN. Os resultados indicam que ventilação menos invasiva, com CPAP e VNI, está associada a internações hospitalares mais curtas e melhores resultados clínicos. Esses métodos ajudam a manter a função pulmonar sem efeitos adversos relacionados a métodos mais invasivos que podem causar problemas respiratórios e aumentar o tempo de ventilação mecânica e consequentemente de internação. Portanto, a seleção criteriosa e o uso eficiente de métodos de baixa ventilação aparecem como estratégias fundamentais para melhorar a qualidade da assistência neonatal. Sugerimos estudos futuros para análise mais criteriosa dos modos ventilatórios
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1Discentes do curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: gabriel.junqueira1@alunos.unis.edu.br; henriquevilani10@hotmail.com; rafaela.carvalho0@hotmail.com;
2Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: rafaella.figueiredo@professor.unis.edu.br; biancafisio2103@gmail.com;