COMPARAÇÃO DOS INDICADORES FISIOLÓGICOS ENTRE HOMENS E MULHERES NO BASQUETEBOL COMPETITIVO: REVISÃO DE EVIDÊNCIAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505252046


João Pedro Pereira Da Silva Magalhães
Profº Me Robert Maurício de Oliveira Araújo


RESUMO

Este estudo teve como objetivo analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, as principais diferenças fisiológicas entre atletas masculinos e femininos no basquetebol competitivo. A pesquisa baseou-se na Prática Baseada em Evidências (PBE), com uso da estratégia PICO para elaboração da pergunta norteadora e do fluxograma PRISMA para seleção dos estudos. Foram incluídos artigos publicados entre 2015 e 2025 que abordam indicadores fisiológicos como VO₂máx, força, potência anaeróbica, composição corporal, entre outros. A amostra final resultou em 18 artigos. Os resultados evidenciaram que, embora existam diferenças biológicas entre os sexos, as respostas ao treinamento são bastante semelhantes quando as metodologias são adaptadas às especificidades individuais. O uso de jogos reduzidos, sprints repetidos e treinos intervalados demonstrou ganhos significativos tanto para homens quanto para mulheres. Conclui-se que a compreensão e o respeito às particularidades fisiológicas de cada sexo contribuem para uma prescrição de treinamento mais eficaz e equitativa no contexto do basquetebol de alto rendimento.

Palavras-chave: Basquetebol. Fisiologia do exercício. Diferenças sexuais. Desempenho esportivo. Revisão integrativa.

ABSTRACT

This study aimed to analyze, through an integrative literature review, the main physiological differences between male and female athletes in competitive basketball. The research was based on Evidence-Based Practice (EBP), using the PICO strategy to formulate the guiding question and the PRISMA flow diagram for article selection. Articles published between 2015 and 2025 focusing on physiological indicators such as VO₂max, strength, anaerobic power, and body composition were included. A total of 18 studies met the inclusion criteria. The findings revealed that, although biological differences exist between sexes, the responses to training are quite similar when methodologies are adapted to individual characteristics. Small-sided games, repeated sprints, and interval training showed significant improvements for both male and female athletes. It is concluded that understanding and respecting the physiological particularities of each sex contributes to more effectiveand equitable training prescription in high-performance basketball.

Keywords: Basketball. Exercise physiology. Sex differences. Sports performance. Integrative review.

Introdução

O basquetebol é um dos esportes coletivos mais praticados mundialmente, com crescente adesão tanto no cenário amador quanto profissional. A modalidade, criada por James Naismith em 1891, evoluiu consideravelmente, sendo atualmente caracterizada por intensas exigências físicas, técnicas e táticas. No contexto brasileiro, o basquetebol possui uma trajetória histórica consolidada, apoiada por instituições como a Confederação Brasileira de Basketball (CBB), que têm fomentado a prática esportiva em diferentes categorias e promovido a participação equitativa entre os gêneros (CBB, 2020).

Com a expansão da participação feminina em competições de alto rendimento, torna-se relevante compreender como as características fisiológicas influenciam o desempenho de atletas de ambos os sexos. Estudos indicam que o basquetebol competitivo demanda elevado preparo aeróbio e anaeróbio, resistência muscular localizada, agilidade, velocidade de reação e recuperação eficiente (CASTAGNA et al., 2011). Tais componentes são essenciais para sustentar o ritmo intenso de jogo e responder às exigências de transições rápidas entre ataque e defesa.

As diferenças fisiológicas entre homens e mulheres, como composição corporal, consumo máximo de oxigênio (VO₂ máx), força e potência muscular, influenciam diretamente a performance atlética. Embora os homens apresentem, em média, maiores valores absolutos de VO₂ máx e força, as mulheres demonstram desempenho relevante em quesitos como flexibilidade e resistência à fadiga, especialmente quando submetidas a programas de treinamento adaptado (AREDE et al., 2021).

Além disso, pesquisas recentes apontam que os programas de treinamento baseados em jogos reduzidos promovem adaptações fisiológicas semelhantes entre os sexos, indicando que o tipo de estímulo pode reduzir disparidades relacionadas ao desempenho (CLEMENTE et al., 2021a). A aplicabilidade desses métodos, que aliam intensidade e tomada de decisão, tem se mostrado eficaz no desenvolvimento físico e técnico de atletas, independentemente do sexo.

A literatura especializada destaca ainda que fatores como a motivação, o suporte psicológico e o contexto competitivo também exercem influência relevante sobre o rendimento esportivo. No caso de atletas do sexo feminino, há evidências de que a motivação intrínseca, o apoio do treinador e a percepção de competência são determinantes para a permanência no esporte e o desenvolvimento de habilidades (SOUZA JÚNIOR et al., 2020; DUQUE et al., 2022). Assim, o desempenho não pode ser interpretado apenas sob uma perspectiva fisiológica isolada.

Diante desse panorama, esta pesquisa teve como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura a fim de identificar, comparar e analisar os principais indicadores fisiológicos entre atletas masculinos e femininos no basquetebol competitivo. A proposta busca fornecer subsídios teóricos para treinadores, preparadores físicos e gestores esportivos, contribuindo com estratégias mais eficazes de prescrição e individualização do treinamento.

Ao adotar uma abordagem baseada em evidências, esta investigação também procura estimular reflexões sobre as necessidades específicas de cada grupo e promover práticas que respeitem as particularidades biológicas, sem comprometer o rendimento esportivo. Com isso, reforça-se a importância de um olhar integrativo e equitativo para o desenvolvimento de atletas no contexto do basquetebol contemporâneo (BREDT et al., 2020; IBÁÑEZ et al., 2023).

Métodos

A presente pesquisa configura-se como uma Revisão Integrativa (RI) da literatura, fundamentada na abordagem da Prática Baseada em Evidências (PBE), cujo objetivo é sintetizar os conhecimentos disponíveis sobre um tema específico a partir da análise sistemática de estudos científicos. Essa metodologia possibilita reunir e avaliar criticamente publicações relevantes, promovendo a integração entre ciência e prática profissional, o que é especialmente valioso nas áreas da saúde e do esporte (GUANILO; TAKAHASHI; BERTOLOZZI, 2011). Ao identificar os achados mais recentes, a revisão contribui para o aprimoramento da formação acadêmica, qualificação da prática esportiva e desenvolvimento de diretrizes técnicas mais eficazes.

Para garantir o rigor metodológico da investigação, foram seguidas etapas estruturadas, entre elas a definição clara da pergunta de pesquisa com base na estratégia PICO (População, Intervenção, Comparação, Desfecho), que auxiliou na delimitação do escopo do estudo. A pergunta norteadora formulada foi: “Quais são as diferenças nos indicadores fisiológicos entre atletas do sexo masculino e feminino no basquetebol competitivo, segundo a literatura científica?”. Adicionalmente, adotou-se o protocolo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses), com a finalidade de organizar e apresentar de forma transparente as fases de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos estudos, conforme ilustrado no Fluxograma da Figura 1 (MOHER et al., 2009).

Quadro 1 – Estratégia PICO 

Para a realização da busca dos artigos, utilizamos as seguintes bases de dados: SciELO e LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, PubMed, Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem online (Medline). Os descritores selecionados estão na lista de Descritores em Ciência da Saúde (DeCS), sendo eles: “Basquetebol”, “atletas”, “fisiologia do exercício”, “desempenho físico”, “sexo”, “esportes de alto rendimento”, “Basketball”, “Athletes”, “Exercise Physiology”, “Physical Performance”, “Sex Characteristics”, “Sports”. Para realização da busca foi aplicado os operadores booleanos “AND”, “OR”.

A seleção dos estudos seguiu critérios de inclusão rigorosos, a fim de garantir a relevância e a validade dos achados analisados. Foram incluídos apenas artigos originais publicados em periódicos científicos indexados, no intervalo temporal de 2015 a 2025, redigidos em português, inglês ou espanhol. Além disso, os estudos deveriam conter atletas de basquetebol do sexo masculino e feminino, em contextos competitivos — juvenil, universitário ou de alto rendimento —, com foco na análise comparativa de indicadores fisiológicos, tais como consumo máximo de oxigênio (VO₂ máx), potência anaeróbica, composição corporal, força muscular, resistência física, entre outros. Também foi exigido que os artigos estivessem disponíveis integralmente e gratuitamente em formato digital.

Em contrapartida, foram excluídos todos os estudos que não apresentassem comparação entre os sexos ou que abordassem exclusivamente aspectos técnicos, táticos, psicológicos ou socioculturais, sem a devida mensuração de variáveis fisiológicas. Excluíram-se também pesquisas realizadas com amostras não competitivas, como praticantes escolares ou recreativos, bem como revisões narrativas, dissertações, teses, editoriais, resumos de congresso e artigos de opinião. Estudos com amostras mistas de diferentes modalidades esportivas também foram desconsiderados, a menos que apresentassem análise estatística específica para o basquetebol competitivo. A definição desses critérios visa garantir a fidedignidade dos dados analisados e a coerência com os objetivos da revisão, conforme orientações metodológicas de Moreira (2014) e Guanilo, Takahashi e Bertolozzi (2011).

A presente pesquisa foi conduzida com base em uma revisão integrativa da literatura, fundamentada nos princípios da Prática Baseada em Evidências (PBE). O objetivo central foi reunir e analisar criticamente os estudos que comparam indicadores fisiológicos entre atletas do sexo masculino e feminino no basquetebol competitivo, considerando aspectos como VO₂ máximo, força, potência anaeróbica e composição corporal. A fim de garantir um rigor metodológico, foram definidos critérios claros de inclusão e exclusão, delimitando o recorte temporal de 2015 a 2025, com foco em artigos disponíveis na íntegra, publicados em português, inglês ou espanhol. Para representar o processo de triagem dos estudos, foi utilizada a estratégia PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), amplamente reconhecida por promover a transparência na seleção de evidências científicas. A elaboração do fluxograma PRISMA demonstrou todas as etapas da revisão, desde a identificação dos registros até a seleção final dos estudos incluídos.

Figura 1 – Fluxograma da seleção dos artigos (PRISMA Flow)

Fonte: Elaborado pela autora com base no modelo PRISMA (2020).

Como pode ser observado, foram inicialmente identificados 268 estudos nas bases de dados científicas. Após a remoção de duplicatas, 212 registros únicos permaneceram para triagem por títulos e resumos. Desses, 78 foram selecionados para leitura completa e análise de elegibilidade, resultando na inclusão de 15 artigos que atenderam integralmente aos critérios estabelecidos para esta revisão.

O uso do fluxograma PRISMA contribui para a padronização e clareza na descrição do percurso metodológico de revisões científicas. Além de reforçar a credibilidade da seleção dos estudos, permite a replicação por outros pesquisadores e demonstra o compromisso com a transparência e qualidade na produção de conhecimento científico na área do esporte e desempenho humano.

Resultados 

A análise dos estudos selecionados revelou aspectos fisiológicos relevantes que diferenciam o desempenho de atletas de basquetebol de diferentes sexos. Os principais indicadores analisados foram: consumo máximo de oxigênio (VO₂máx), potência anaeróbica, força muscular, composição corporal e frequência cardíaca em situações de jogo e treino. Em geral, os atletas do sexo masculino apresentaram maiores valores absolutos de potência e VO₂máx, enquanto as atletas femininas demonstraram maior eficiência relativa em testes de resistência específica, em alguns contextos técnicos e táticos.

A tabela a seguir resume os principais artigos selecionados, com ênfase nos objetivos, variáveis analisadas e conclusões relevantes para a comparação entre atletas de ambos os sexos:

Quadro 1 – Artigos selecionados sobre indicadores fisiológicos em atletas de basquetebol (2015–2025)

Fonte: Elaborado pelo autor (2025).

A sistematização dos estudos evidencia a necessidade de protocolos de treinamento adaptados às demandas fisiológicas específicas de cada sexo, respeitando tanto as diferenças biológicas quanto os contextos competitivos. A diversidade dos métodos utilizados reforça a importância de abordagens integradas na formação esportiva e no planejamento técnico de equipes mistas ou femininas.

Os resultados obtidos a partir da análise dos quinze estudos selecionados evidenciam diferenças fisiológicas marcantes entre atletas do sexo masculino e feminino no basquetebol competitivo. Uma das principais constatações foi a superioridade dos homens em parâmetros como força máxima, potência anaeróbica e velocidade em mudanças de direção, conforme apontado por Cabarkapa et al. (2023) e Pérez-Ifrán et al. (2022). Essas variáveis estão diretamente relacionadas à maior massa muscular e maior percentual de fibras do tipo II, características mais prevalentes na fisiologia masculina, o que contribui para o desempenho em ações explosivas e de alta intensidade.

Por outro lado, as atletas femininas demonstraram respostas adaptativas relevantes à carga de treinamento, especialmente quando expostas a protocolos de jogos reduzidos (small-sided games). De acordo com Arede et al. (2021) e Figueira et al. (2022), foi observado que, embora com menor produção de potência absoluta, as jogadoras conseguiram manter níveis de resistência aeróbica eficientes, o que sugere uma vantagem relativa na economia de esforço e na manutenção da intensidade em cenários de longa duração. Essa observação é particularmente importante no planejamento de treinos específicos para o basquete feminino, levando em conta a predominância de esforços intermitentes e de recuperação curta.

Outra variável de destaque foi a frequência cardíaca durante jogos e treinos. Estudos como os de Bredt et al. (2020) e Marcelino et al. (2016) demonstraram que, em situações de jogos com quadra reduzida, as mulheres apresentaram picos de frequência cardíaca semelhantes aos dos homens, mesmo com menor deslocamento absoluto, o que revela uma intensidade fisiológica equivalente. Isso reforça a ideia de que os critérios de esforço devem ser avaliados de forma relativa e não apenas com base em dados absolutos, sobretudo em contextos mistos ou comparativos.

A análise também destacou o impacto de protocolos de alta intensidade sobre variáveis como densidade mineral óssea e VO₂máx. O estudo de Jin et al. (2022) demonstrou que mulheres submetidas a treinos intervalados intensivos apresentaram ganhos expressivos na densidade óssea, o que representa não apenas uma melhoria do desempenho atlético, mas também um avanço no que tange à prevenção de lesões e à saúde óssea das atletas. Da mesma forma, os dados de Ibáñez et al. (2023) mostraram que a aptidão aeróbica, medida pelo VO₂máx, tem papel preditivo no rendimento competitivo de jogadoras de elite.

Foi possível observar que os treinamentos baseados em jogos, além de promoverem benefícios fisiológicos mensuráveis, apresentam potencial para minimizar as disparidades entre os sexos, principalmente quando ajustados de forma proporcional. Essa constatação aparece em estudos como os de Bujalance-Moreno et al. (2018) e Brasil, Ribeiro e Scaglia (2019), que defendem a utilização de metodologias que favoreçam o desenvolvimento físico e tático de maneira integrada. Portanto, os resultados desta revisão sugerem que a prescrição do treinamento deve considerar as especificidades fisiológicas, mas também deve valorizar as capacidades adaptativas e a individualidade biológica dos atletas, independentemente do sexo.

Os estudos evidenciaram que, apesar das diferenças fisiológicas entre os sexos, atletas femininas demonstram notável eficiência na recuperação entre esforços intermitentes, especialmente em formatos de jogos reduzidos (3×3), nos quais a intensidade é elevada e o tempo de resposta fisiológica é reduzido. Essa característica foi apontada em pesquisas recentes, como a de Figueira et al. (2022), que demonstraram menor acúmulo de lactato e melhor manutenção do desempenho tático entre jogadoras experientes. Isso sugere que o treinamento estruturado e específico pode mitigar os efeitos das diferenças hormonais e estruturais, promovendo respostas fisiológicas otimizadas em ambos os sexos.

Outro dado recorrente foi a associação entre o tipo de exercício prescrito e as adaptações fisiológicas obtidas. Atletas do sexo feminino que participaram de intervenções com sprints repetidos, jogos reduzidos e treino intervalado de alta intensidade apresentaram melhora significativa em marcadores como VO₂máx, potência aeróbica e agilidade (Arede et al., 2021; Jin et al., 2022). Em contrapartida, atletas do sexo masculino mostraram maior incremento em força explosiva e capacidade de salto vertical, o que pode ser atribuído a fatores como maior massa magra e densidade óssea, conforme apontado por Cabarkapa et al. (2023).

Além das variáveis fisiológicas clássicas, alguns estudos analisaram a relação entre carga de treinamento e percepção subjetiva de esforço (PSE), observando que, embora homens apresentem maiores cargas absolutas, as mulheres relatam percepção de esforço similar. Isso revela a importância de avaliar variáveis relativas e não apenas absolutas na prescrição de treinos, respeitando os limites e potencialidades de cada atleta. A padronização dessas métricas pode contribuir para a construção de programas mais equitativos e eficazes, com ganhos reais na performance esportiva e na prevenção de sobrecargas e lesões.

Discussão

A análise dos estudos selecionados nesta revisão integrativa permitiu compreender com maior profundidade as especificidades fisiológicas de atletas masculinos e femininos no basquetebol competitivo, demonstrando que as diferenças entre os sexos vão além da dimensão anatômica e hormonal, refletindo-se também nas respostas ao treinamento e na performance em quadra. A literatura aponta que essas diferenças devem ser analisadas sob múltiplos ângulos, considerando fatores como a periodização do treino, a carga relativa, o estado maturacional e a modalidade específica do jogo (5×5 ou 3×3) (Arede et al., 2021; Figueira et al., 2022).

Um dos aspectos mais evidentes nos estudos foi a superioridade dos homens em relação à potência anaeróbica e à força explosiva, variáveis frequentemente associadas à maior massa muscular e níveis de testosterona (Cabarkapa et al., 2023). No entanto, tais diferenças não devem ser interpretadas como indicadores absolutos de vantagem esportiva, visto que as atletas femininas demonstraram elevada capacidade adaptativa e resistência em tarefas intermitentes e de curta recuperação, evidenciando eficiência metabólica em protocolos específicos de jogo (Bredt et al., 2020).

A comparação entre formatos de jogo, como o 3×3 e o 5×5, revelou respostas fisiológicas distintas entre os sexos. Estudos como os de Figueira et al. (2022) e Brasil, Ribeiro e Scaglia (2019) apontaram que o modelo 3×3, por sua intensidade e menor tempo de recuperação, tende a gerar maior sobrecarga em mulheres, especialmente nas fases iniciais do jogo. No entanto, ao longo das partidas, observou-se equilíbrio nas variáveis de frequência cardíaca e percepção subjetiva de esforço, sugerindo que as adaptações ao esforço são mais rápidas do que se pensava anteriormente.

Outro ponto relevante refere-se ao impacto do treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) e dos jogos reduzidos (small-sided games – SSG) no condicionamento físico de atletas femininas. Segundo Jin et al. (2022), o HIIT pode trazer benefícios adicionais às mulheres, como melhora na densidade mineral óssea e na resistência cardiovascular. Tais efeitos são potencializados quando os treinos são planejados com base em evidências e respeitando os princípios da individualização e da progressão da carga (Ibáñez et al., 2023).

A eficiência na utilização do oxigênio (VO₂máx) também mostrou-se uma variável determinante na performance competitiva, sendo observada como fator preditivo em mulheres de alto rendimento, conforme dados de Ibáñez et al. (2023). Embora os valores absolutos de VO₂máx ainda sejam superiores em homens, os estudos demonstraram que, quando ajustados ao peso corporal e à taxa de esforço, os níveis de desempenho tornam-se comparáveis, indicando que as métricas fisiológicas devem ser analisadas de maneira relativa (Pérez-Ifrán et al., 2022).

A discussão também deve considerar as questões de planejamento técnico e tático no basquetebol. As descobertas apontam que treinadores que adotam abordagens baseadas em jogos com sobrecarga controlada conseguem reduzir as disparidades de desempenho entre os sexos, especialmente no que se refere à resistência específica e à recuperação pós-esforço (Bujalance-Moreno et al., 2018). Isso reforça a importância da aplicação de estratégias pedagógicas que integrem componentes fisiológicos e cognitivos no processo de ensino-aprendizagem.

Além disso, há evidências de que os aspectos psicológicos e motivacionais interagem diretamente com os fatores fisiológicos na formação do rendimento esportivo. Estudos recentes indicam que atletas do sexo feminino, quando expostas a ambientes motivadores e desafiadores, apresentam melhora significativa no desempenho físico, sobretudo quando são estimuladas por meio de feedbacks positivos e metas individuais (Duque et al., 2022; Almagro et al., 2020). Portanto, uma visão holística do treinamento é essencial para maximizar os resultados.

Outro ponto discutido na literatura recente é a influência das características morfológicas e biomecânicas na propensão a lesões e no desempenho esportivo. Mulheres apresentam maior risco de lesões ligamentares, especialmente no joelho, o que exige intervenções específicas na preparação física e nos exercícios preventivos. Assim, o conhecimento das diferenças fisiológicas entre os sexos contribui não apenas para o aprimoramento da performance, mas também para a prevenção de danos (Castagna et al., 2011; Jin et al., 2022).

As limitações metodológicas dos estudos incluídos também merecem ser destacadas. Muitos artigos apresentaram amostras pequenas ou homogêneas, dificultando a generalização dos resultados para diferentes contextos e categorias competitivas. Além disso, houve uma carência de investigações longitudinais que acompanhassem os efeitos de diferentes tipos de treinamento ao longo do tempo, o que limita a extrapolação de tendências e padrões de resposta fisiológica sustentada (Cabarkapa et al., 2023; Arede et al., 2021).

A análise dos estudos selecionados evidencia que as diferenças fisiológicas entre homens e mulheres no basquetebol não devem ser compreendidas como limitações, mas sim como parâmetros para otimização do desempenho com base em especificidades biológicas. Os dados reforçam que as mulheres, apesar de menor massa muscular e força absoluta, conseguem desenvolver adaptações relevantes por meio de metodologias ajustadas, como os treinos intervalados de alta intensidade e jogos reduzidos (Delextrat et al., 2018; Arede et al., 2021).

Os resultados também mostraram que há equidade na resposta ao treinamento aeróbico, com melhorias comparáveis no VO₂máx em ambos os sexos, quando respeitadas as proporções de carga e recuperação (Figueira et al., 2022). Essa constatação fortalece a ideia de que, quando o treinamento é periodizado com critérios científicos, o rendimento não se limita às diferenças sexuais, mas se baseia na individualidade biológica e na preparação adequada.

Outro aspecto relevante discutido nos artigos é o papel da composição corporal na performance. Homens geralmente apresentam menor percentual de gordura e maior massa magra, o que favorece a execução de movimentos potentes, como saltos e arranques. No entanto, estudos como o de Jin et al. (2022) indicam que mulheres bem treinadas conseguem compensar essas diferenças por meio de estratégias de força funcional, melhoria da técnica e resistência muscular localizada.

A frequência cardíaca máxima e o tempo de recuperação também apresentaram padrões semelhantes entre os sexos, especialmente em atletas de elite. Isso mostra que, do ponto de vista cardiovascular, os organismos respondem de forma equivalente, desde que submetidos a estímulos progressivos e consistentes. Os estudos de Castagna et al. (2011) e Cabarkapa et al. (2023) apontam que a eficácia do treinamento está diretamente relacionada à qualidade da prescrição, e não ao sexo do atleta.

Outro ponto discutido é a aplicação do modelo de jogos reduzidos como ferramenta de desenvolvimento multissistêmico. Esse modelo, amplamente utilizado nos estudos analisados, mostrou-se eficaz para o aumento do tempo em zona de alta intensidade, além de promover simultaneamente estímulos físicos, táticos e cognitivos (Bredt et al., 2020). Tais adaptações ocorrem em ambos os sexos, com ganhos específicos dependendo da proposta de treino e do nível de maturidade do atleta.

O fator motivacional, embora não seja fisiológico, aparece frequentemente associado ao rendimento físico. A motivação intrínseca e o engajamento durante os treinamentos afetam diretamente a qualidade das adaptações, sendo que estudos como o de Almagro et al. (2020) e Duque et al. (2022) ressaltam que mulheres tendem a apresentar alta resiliência psicológica, o que favorece a aderência aos treinos e a superação de desafios competitivos.

A literatura revisada também aponta a importância de se considerar o ciclo menstrual nas atletas, pois variações hormonais podem influenciar o rendimento, a fadiga e o risco de lesões. Embora essa variável ainda seja subexplorada na literatura específica do basquetebol, seu reconhecimento é essencial para o avanço do planejamento esportivo feminino baseado em evidências.

Em relação aos métodos de avaliação fisiológica, foi possível observar que o uso de testes como o Yo-Yo Intermittent Recovery Test e o protocolo de saltos verticais (CMJ e SJ) são comuns tanto para homens quanto para mulheres. Isso mostra que os instrumentos de mensuração da performance vêm sendo aplicados de maneira semelhante, permitindo comparações confiáveis e análises padronizadas entre os sexos (Marcelino et al., 2016).

A discussão também revela que o desempenho não está atrelado apenas a aspectos fisiológicos, mas sim a uma combinação de fatores como experiência competitiva, suporte técnico, ambiente social e metodologias de ensino-aprendizagem (Ibáñez et al., 2023). Dessa forma, estratégias pedagógicas mais inclusivas e individualizadas tendem a equalizar as oportunidades de desenvolvimento de habilidades em ambos os sexos.

Conclusão

A presente revisão integrativa permitiu identificar e sistematizar evidências científicas publicadas entre 2015 e 2025 a respeito das diferenças fisiológicas entre atletas do sexo masculino e feminino no basquetebol competitivo. Com base nos estudos analisados, foi possível constatar que embora existam diferenças estruturais e funcionais entre os sexos, como maior massa muscular e força explosiva em homens, as mulheres apresentam elevada capacidade de adaptação aos estímulos fisiológicos do treinamento, sobretudo quando submetidas a metodologias individualizadas e baseadas em evidências.

A literatura demonstra que as variáveis como VO₂máx, potência anaeróbica, resistência intermitente e frequência cardíaca respondem de forma semelhante entre os sexos quando as cargas de treino são proporcionalmente ajustadas. Isso indica que as atletas do sexo feminino possuem pleno potencial de desenvolvimento e rendimento quando expostas a estratégias planejadas com embasamento científico. Além disso, os dados sugerem que abordagens pedagógicas integradas — como os jogos reduzidos (SSG), o treino intervalado de alta intensidade (HIIT) e o monitoramento de cargas — contribuem para reduzir as disparidades fisiológicas e maximizar o desempenho esportivo.

Observou-se, ainda, que fatores psicológicos, motivacionais e contextuais interagem diretamente com os indicadores fisiológicos, influenciando tanto o rendimento quanto a adesão das atletas aos programas de treinamento. Dessa forma, conclui-se que a compreensão das diferenças fisiológicas deve ser orientada para a personalização do treino, o respeito às especificidades biológicas e a promoção da equidade esportiva. Os achados desta revisão reforçam a necessidade de mais estudos longitudinais e comparativos que explorem não apenas o desempenho, mas também a recuperação, a prevenção de lesões e o impacto de variáveis contextuais nas respostas fisiológicas ao basquetebol competitivo.

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