COMORBIDITIES IN INSTITUTIONALIZED ELDERLY PEOPLE: SYSTEMATIC REVIEW ON CHARACTERISTICS AND IMPACTS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202504202340
Murillo Cardi Peccinelli1
Gustavo Cardi Peccinelli2
Rafael Bueno Menezes3
Luís Fernando Gonçalves4
Nicolas Guilherme Patel Benetti5
Ana Luísa Silva Oliveira6
Maria Paula Cordeiro Carvalho7
Vanessa Resende Souza Silva8
RESUMO
O envelhecimento populacional é um fenômeno global, evidenciado pelo aumento da expectativa de vida e queda na taxa de natalidade, levando a um crescente número de idosos na sociedade. O aumento da longevidade traz desafios, já que a saúde física, mental e cognitiva tende a deteriorar-se com a idade, tornando os idosos mais suscetíveis a comorbidades. Nesse contexto, as instituições de longa permanência para idosos desempenham papel crucial no cuidado de idosos com limitações de autonomia. Contudo, viver em instituições de longa permanência para idosos pode agravar as comorbidades devido a fatores ambientais e sociais que afetam a qualidade de vida. Este estudo teve como objetivo investigar a prevalência, fatores associados e impactos das comorbidades na qualidade de vida dos idosos em instituições de longa permanência para idosos. Realizou-se uma revisão sistemática utilizando o método PRISMA, composto por 27 itens distribuídos em quatro fases: identificação, triagem, elegibilidade e inclusão. Foram selecionados artigos das bases MEDLINE/PubMed, SCIELO e LILACS, com descritores “Instituição de longa permanência para idosos”, “Envelhecimento” e “Doença”, considerando publicações de 2017 a 2024 e disponibilidade do texto completo. Ao final, nove artigos foram incluídos para discussão. Os resultados indicaram alta prevalência de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e depressão, associadas ao declínio cognitivo e funcional. Fatores socioeconômicos, como baixa renda e escolaridade, e deficiências no atendimento nas instituições de longa permanência para idosos agravaram a saúde dos idosos. A dieta administrada também foi identificada como um fator de risco. O estudo destaca a importância de abordagens integradas, melhorias no atendimento e estratégias de prevenção para melhorar a qualidade de vida dos idosos institucionalizados.
Palavras-chave: Envelhecimento. Instituição de Longa Permanência para Idosos. Comorbidade. Qualidade de vida.
ABSTRACT
Population aging is a global phenomenon, evidenced by the increase in life expectancy and the drop in the birth rate, leading to a growing number of elderly people in society. Increasing longevity brings challenges, as physical, mental and cognitive health tends to deteriorate with age, making older people more susceptible to comorbidities. In this context, homes for the aged play a crucial role in caring for elderly people with limited autonomy. However, living in homes for the aged can aggravate comorbidities due to environmental and social factors that affect quality of life. This study aimed to investigate the prevalence, associated factors and impacts of comorbidities on the quality of life of elderly people in homes for the aged. A systematic review was carried out using the PRISMA method, consisting of 27 items distributed in four phases: identification, screening, eligibility and inclusion. Articles were selected from the MEDLINE/PubMed, SCIELO and LILACS databases, with descriptors “Homes for the Aged”, “Aging” and “Disease”, considering publications from 2017 to 2024 and availability of the full text. In the end, nine articles were included for discussion. The results indicated a high prevalence of chronic diseases, such as hypertension, diabetes and depression, associated with cognitive and functional decline. Socioeconomic factors, such as low income and education, and deficiencies in care in homes for the aged worsened the health of the elderly. The diet administered was also identified as a risk factor. The study highlights the importance of integrated approaches, improvements in care and prevention strategies to improve the quality of life of institutionalized elderly people.
Keywords: Aging. Homes for the Aged. Comorbidity. Quality of Life.
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que tem sido observado cada vez mais em diversas sociedades. O aumento da expectativa de vida, aliado à diminuição da taxa de natalidade, tem resultado em uma proporção crescente de idosos na população (SILVA, 2011). Sendo assim, o idoso, segundo o ministério da saúde, é aquele cujo a idade é igual ou superior a 60 anos (BRASIL, 2003).
Conforme informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a estimativa é que até o ano de 2050 o número de indivíduos com mais de 60 anos alcance a marca de 2 bilhões, o que corresponderá a aproximadamente um quinto da população global. De acordo com estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde, em 2016 o Brasil já possuía a quinta maior população idosa do mundo. E, projetando para o ano de 2030, espera-se que o número de idosos supere a quantidade total de crianças com idade entre zero e 14 anos (OMS, 2005).
Mundialmente, observa-se preocupação com o envelhecimento da população. O histórico do estudo do envelhecimento e suas implicações para a saúde mental e física revela um cenário de grande interesse por parte de pesquisadores ao longo do tempo. Até meados do século XX, a ênfase estava concentrada principalmente nos processos de desenvolvimento da infância e adolescência, relegando o envelhecimento a um segundo plano. No entanto, nas últimas décadas, a preocupação com o bem-estar dos idosos tem ganhado maior visibilidade, conduzindo a uma maior investigação sobre as condições de saúde que os afetam (FERREIRA et al., 2010).
É importante destacar que, com o avançar da idade, muitos desses indivíduos enfrentam condições de saúde que requerem atenção e cuidados especiais (DINIZ et al, 2019). Sendo assim, o aumento da expectativa de vida indica que as pessoas estão vivendo mais, porém, isso também traz questões desafiadoras, como a gradual perda da saúde física, mental e cognitiva, tornando esses indivíduos mais vulneráveis a doenças (CHANG et al., 2019).
Nesse contexto, as instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) têm desempenhado um papel fundamental na assistência e cuidado a esses indivíduos. Auxiliam, especialmente, àqueles que enfrentam limitações em sua autonomia e que necessitam de cuidados contínuos (SILVA, 2011).
No entanto, viver em uma ILPIs, pode contribuir para o desenvolvimento de determinadas comorbidades. Isto pois, o ambiente é um fator de extrema relevância quando pensamos no envelhecimento saudável, pois irá interferir na qualidade de vida dos idosos, podendo causar a não aceitação de novos papéis sociais, desmotivação, problemas de autoestima e perdas afetivas, que, posteriormente, terão impacto na saúde destas pessoas (COUTINHO et al, 2020).
Vale ressaltar que, as comorbidades referem-se à ocorrência de duas ou mais condições médicas que podem atingir simultaneamente um mesmo indivíduo. Assim, os efeitos deste problema podem resultar em um impacto significativo na saúde e qualidade de vida desses idosos (MACHADO et al., 2016).
Deste modo, compreender as particularidades desse grupo de indivíduos, que, por motivos diversos, encontram-se acolhidos nessas instituições, e entender como as comorbidades podem influenciar sua qualidade de vida e autonomia é de grande importância, uma vez que o envelhecimento com saúde e dignidade é um direito humano fundamental (ALMEIDA, 2011).
Assim, uma investigação minuciosa das comorbidades relacionadas à saúde pode fornecer insights valiosos para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes, orientadas para o cuidado apropriado dos idosos em instituições de longa permanência (SOUSA et al., 2013).
Portanto, o propósito desta pesquisa foi identificar a prevalência de comorbidades, os seus fatores de risco e as possíveis consequências para a qualidade de vida dos indivíduos idosos, a fim de fornecer estratégias e planejamento de cuidados. Além disso, os resultados obtidos poderão embasar a elaboração de diretrizes para o aprimoramento das práticas clínicas, oferecendo um atendimento mais personalizado e eficiente a essa população mais vulnerável.
2. METODOLOGIA
O estudo se caracteriza como uma revisão sistemática. Nesse presente trabalho se utilizou o método PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analysis), o qual inclui uma lista de verificação contendo 27 itens devidamente descritos e exemplificados, e dividido em quatro fases, sendo elas, identificação, triagem, elegibilidade e inclusão.
Na fase de identificação, foram selecionados artigos das bases de dados: MEDLINE/Pubmed (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), SCIELO (Scientific Electronic Library Online) e LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), utilizando os descritores em ciências da saúde: “Instituição de longa permanência para idosos”, “Envelhecimento” e “Doença”. Para uma pesquisa mais ampla, foram empregados esses mesmos descritores, mas traduzidos para o inglês: “Homes for the Aged”, “Aging” e “Disease”; sendo utilizado o conector “AND” entre eles.
Ademais, a busca foi filtrada para trabalhos que comtemplaram tais descritores em seu título e/ou resumo e, os artigos correspondentes, foram refinados pelo ano de publicação entre 2017 a 2024 e aqueles disponíveis com texto completo.
Na etapa de triagem, dois revisores avaliaram os artigos com base na leitura dos títulos e resumos. Foram selecionados para a próxima etapa apenas os artigos relacionados ao tema deste estudo. Como critérios de exclusão, foram removidos artigos de revisão por não atenderem ao objetivo de análise de dados primários, artigos duplicados para evitar redundâncias, e estudos com ênfase em Covid-19, devido à sua desconexão com o foco principal da pesquisa é possível risco de confusão entre os sintomas da infecção respiratória com as comorbidades dos idosos propriamente ditas.
Na fase de elegibilidade, os artigos foram lidos integralmente e, posterior a isso, foram excluídos os que não contribuíram com os objetivos propostos e que tiveram resultados não relevantes ou ambíguos. Na etapa de inclusão, estão os trabalhos que abordaram o tema e objetivos deste presente estudo.
3. RESULTADOS
Pelo método de seleção utilizado neste estudo foram identificados vinte e cinco artigos durante a pesquisa avançada nas três bases de dados, sendo vinte e três deles na plataforma LILACS, um no PUBMED e um no SCIELO, como mostra a Figura 1.
Figura 1 – Fluxograma da Pesquisa Baseado no Método PRISMA.

Na fase de triagem, ou seja, os trabalhos selecionados pela leitura do título e resumo, foram excluídos treze artigos, dois por ser duplicado, quatro por não estarem relacionados com a temática e sete por darem ênfase no Covid-19. Ao final desse processo, se obteve um total de doze artigos.
Para a elegibilidade, foi feita a leitura integral dos estudos mantidos e, posteriormente, foram excluídos dois por não compreender nenhum dos objetivos propostos neste estudo e um por não apresentar resultados relevantes ou ambíguos.
Por fim, nove artigos foram incluídos nesta revisão sistemática por estarem dentro do escopo da pesquisa, sendo oito pertencentes à plataforma LILACS e um do SCIELO. Na Tabela 1, são apresentados os artigos selecionados, considerando-se os autores, título do artigo, ano de publicação e resultados principais de cada trabalho.
Tabela 1 – Relação dos Artigos Incluídos na Revisão Sistemática
AUTORES | TÍTULOS | ANO DE PUBLICAÇÃO | RESULTADOS PRINCIPAIS |
Andrade, F. L. J. P.; Lima, J. M. R.; Fidelis, K. N. M.; Jerez-Roig, J.; Lima, K. C. | Cognitive impairment and associated factors among institutionalized elderly persons in Natal, Rio Grande do Norte, Brazil. | 2017 | A maioria dos idosos (83,6%) apresentava incapacidade cognitiva, sendo que a origem desta pode ser oriunda de outras comorbidades. Além disso, as idades iguais ou superiores a 83 anos foram identificadas como fator de risco para incapacidade cognitiva moderada ou severa. A presença de doenças crônicas é comum em 88,2% dos idosos institucionalizados, sendo que, dentre esses, 95,4% fazem uso de medicação. Comorbidades como diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças cerebrais, depressão e doenças cardíacas estão associadas não apenas ao declínio cognitivo, mas também ao declínio funcional. |
Anjos, C. A.; Clemente, M.; Dias, J. F. G.; Burci, L. M.; Leite, R. O.; Miguel, M. D. | Quality of Life of Elderly People Living in Different Types of Long-term Care Facilities. | 2022 | O estudo compara duas ILPIs, uma privada e outra municipal, escolhidas com base em diferenças socioeconômicas. Na primeira, todos os moradores têm ensino superior completo, enquanto na segunda apenas um tem ensino superior e um terço é analfabeto. Ambas apresentaram menor pontuação na capacidade funcional, atribuindo-se à idade avançada na privada e ao histórico pessoal na municipal. Em contrapartida, a equipe multiprofissional da ILPI municipal é mais completa. No geral, apesar da discrepância no atendimento, os resultados dos escores de qualidade de vida não apresentam diferenças relevantes. |
Araújo, A. M.;Bós, A. J. G. | Qualidade de vida da pessoa idosa conforme nível de institucionalização. | 2017 | O estudo envolveu idosos residentes em ILPIs, distribuídos igualmente em três grupos: não residente, espera e residente. O grupo de não residentes em ILPIs apresentou melhores escores de qualidade de vida em comparação ao grupo de já residentes (2° melhor escore) e ao grupo de espera (3° melhor escore). Por outro lado, constata-se que a institucionalização não concede piora na qualidade de vida dos idosos. Isto se deve ao fato de a qualidade de vida, provavelmente, já estar comprometida quando se procura a ILPI, além de que a espera por uma vaga pode ainda impactar negativamente. |
Bonafé, M.; Jorge, M. S. G.; Portella, M. R.;Doring, M.; Scortegagna, S. A.; Wibelinger, L. M. | Factors related to chronic pain in institutionalized elderly. | 2021 | Dos 125 idosos incluídos na pesquisa, a ocorrência de dor crônica atingiu 44% deles, com fatores associados que incluem a presença de doença reumática, lombalgia, polifarmácia e dependência para realizar atividades básicas do dia a dia. |
González, A.;Fernández, A. S.;Sánchez, I. L.;Núñez, S. P.;Ortiz, Z. M. P. | Caracterización de adultos mayores institucionalizados en una casa de abuelos. | 2021 | Há predomínio de homens solteiros de baixa renda nas ILPIs, sendo a hipertensão a comorbidade mais prevalente entre esses idosos institucionalizados, com relação direta ao envelhecimento. Quando associada à outras doenças, a taxa de dependência dos idosos aumenta consideravelmente. |
Pascotini, F. S.; Nazario, C. G.;Rosa, R. R.;Silva, R. S.; Fedosse, E. | Homes for the Aged: a study of a Health Region in Rio. | 2020 | As ILPIs demonstram diversos déficits, não cumprindo integralmente com os critérios da RDC 283/2005, principalmente sobre os critérios de infraestrutura, recursos humanos e atividades de lazer e culturais, atingindo negativamente a qualidade de vida dos idosos institucionalizados. Ademais, evidencia-se a falta de profissionais da saúde competentes e que conheçam as necessidades dos idosos, no qual, com a queda da saúde destes idosos, as ILPIs tendem a cuidar do declínio orgânico por meio de medicamentos, negligenciando os aspectos subjetivos, reduzindo as perspectivas de melhora. |
Peixoto, M. C. O.;Sager, N. R. V.;Oliveira, G. P.;Leães, R. M. V.; Cunha, G. L.;Santos, G. A. | Dependence level of elderly residents in long term care institutions. | 2017 | A maior parte dos idosos participantes têm menos de 5 anos de permanência na instituição, além disso, apresentam baixo nível de escolaridade e a viuvez é a situação conjugal mais comum. A maioria dos idosos são classificados como muito dependentes, principalmente em atividades básicas da vida diária, como higiene pessoal e alimentação. Não houve diferença significativa de dependência entre os gêneros. O aumento da dependência está associado à faixa etária mais avançada. O estudo destacou a importância da avaliação funcional do idoso pelos profissionais de saúde para compreender a gravidade das condições de saúde e o impacto das comorbidades. A independência nas atividades diárias foi ressaltada como crucial para a qualidade de vida dos idosos, com a institucionalização podendo levar a diferentes graus de dependência. |
Silva, J. A.; Silva, A. S.; Toscano, L. L. T.;Diniz, A. S.; Almeida, A. T. C.; Gonçalves, M. C. R. | Avaliação de fatores de risco associados à deficiência de vitamina A em idosos institucionalizados da cidade de João Pessoa-PB. | 2020 | Há carência nutricional em idosos institucionalizados, principalmente quanto à micronutrientes (vitamina A), mostrando associação direta com o desenvolvimento de esquizofrenia. Evidencia a necessidade de maior atenção e monitoramento quanto ao estudo nutricional dos idosos. |
Vale, B. A.; Araújo, H. T.; Sena, R. C. F.; Costa, P. B.; Miranda, F. A. N. | Ideação suicida e risco de depressão entre idosos residentes em instituições de longa permanência. | 2023 | Evidencia alto índice de sintomas depressivos entre os idosos institucionalizados, dentre esses, há ideação suicida em 35,7%. A prevalência é em idosos mulheres com faixa etária maior ou igual a 80 anos, solteiros, com tempo de institucionalização maior que um ano e analfabetos. Ademais, o quadro patológico da depressão contribui para a perda de autonomia e complicações de patologias preexistentes. Exibe maiores necessidades de cuidados individualizados, fornecendo o sentimento de amparo e de pertença social. |
4. DISCUSSÃO
Ao analisar os estudos selecionados sobre os idosos residentes de instituições de longa permanência, diversos entraves emergem e causam questionamentos. Com isso, surgem insights importantes para a compreensão dessas condições e seu impacto na qualidade de vida desses indivíduos.
Andrade et al (2017) e Bonafé et al (2021) identificaram uma alta prevalência de comorbidades, como doenças crônicas e dores persistentes, entre idosos institucionalizados. Andrade et al relataram que 88,2% dos idosos apresentavam doenças crônicas, com destaque para diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças cerebrais, depressão e doenças cardíacas. Essas condições, além de estarem associadas ao declínio funcional, contribuíram significativamente para a incapacidade cognitiva, que afetou 83,6% dos idosos avaliados. Idades iguais ou superiores a 83 anos foram apontadas como um fator de risco importante para incapacidade cognitiva moderada ou severa.
Bonafé et al complementam esses achados ao mostrar que 44% dos idosos sofriam de dor crônica, frequentemente ligada a doenças reumáticas, lombalgia, polifarmácia e dependência para atividades básicas. Esses dados reforçam a relação estreita entre as condições de saúde física, o declínio cognitivo e funcional, e o impacto na qualidade de vida desses indivíduos, como também discutido por Vale et al (2023), que destaca a associação com quadros depressivos.
Ademais, como destacado por González et al (2021), o avanço do processo de envelhecimento resulta na perda de papeis sociais, desmotivação e distanciamento de entes queridos. Tais fatores também se associam às afirmações de Vale et al (2023), sendo que o tempo de institucionalização salienta os sintomas depressivos e reduz a qualidade de vida. Esses achados são indicativos de atenção não apenas das necessidades físicas, mas também das emocionais desses idosos.
A perda de funcionalidade e vitalidade em idosos institucionalizados está intimamente relacionada ao agravamento de doenças comuns entre esses indivíduos, como observado por Andrade et al (2017) e González et al (2021). A hipertensão arterial, diabetes e depressão representam as comorbidades mais prevalentes nesses indivíduos, requerendo um manejo adequado para preservar a saúde e a qualidade de vida. Além disso, uma abordagem multidisciplinar que leve em consideração não apenas as condições médicas subjacentes, mas também os aspectos psicossociais e funcionais dos idosos, é fundamental para promover a saúde e, consequente, autonomia nessa fase da vida, como destacado por Peixoto et al (2017).
Ao examinar o perfil socioeconômico dos idosos nessas instituições, González et al (2021) e Peixoto et al (2017) identificaram uma predominância de indivíduos de baixa renda e com baixo nível educacional. Esses aspectos sociais não interferem diretamente sobre o bem-estar dos idosos na ILPI, uma vez que Anjos et al (2022) julga não haver diferenças significativas entre instituições públicas e privadas. Isso é explicado por seus estudos terem resultado em semelhantes níveis de qualidade de vida entre os idosos de ambas as instituições com diferentes níveis socioeconômicos.
Peixoto et al (2017) também destaca que a dependência funcional, especialmente em atividades básicas da vida diária, emerge como um importante fator de risco para o agravamento das comorbidades. A perda de vitalidade é o principal aspecto, pois agrega para a deterioração da saúde dos idosos institucionalizados ao longo do tempo. Esse cenário confirma as ideias de Vale et at (2023), onde há alto índice de sintomas depressivos entre os idosos institucionalizados incapacitados.
De acordo com Araújo e Bós (2017) idosos não residentes de ILPIs apresentam melhores situações de vida quando comparados a idosos institucionalizados. Isso pode ser explicado pelas observações feitas por Pasconiti et al (2020), que revelam deficiências no atendimento oferecido nas instituições de longa permanência para idosos, incluindo infraestrutura inadequada e falta de profissionais qualificados. Esses aspectos podem contribuir para um ciclo de declínio da saúde e bem-estar dos idosos, especialmente quando combinados com a ocorrência de dor crônica, depressão e carência nutricional, como discutido nos estudos de Silva et al (2020) e Vale et al (2023). Isto posto, Peixoto et al (2017) ressalta a falta de atividades de lazer e culturais adequadas, contribuindo, da mesma forma, para a redução da qualidade de vida dos idosos institucionalizados.
No que diz respeito à nutrição, Silva et al (2020) observaram uma carência significativa de nutrientes essenciais, como a vitamina A, entre os residentes das instituições. Essa deficiência nutricional está associada a certas comorbidades, evidenciando a importância de uma dieta balanceada e de uma atenção adequada à nutrição dos idosos institucionalizados. Como observado por Pascotini et al (2020), o déficit de profissionais qualificados está intimamente relacionado à carência nutricional, o que resulta em uma dieta carecida aos idosos de ILPIs.
Por fim, em consonância com as observações de Vale et al (2023), a presença de lacunas na prevenção e intervenção de comorbidades, sugere que estratégias mais eficazes e focadas no indivíduo sejam essenciais para contribuir com melhoria substancial na qualidade de vida desta população vulnerável. E, como verificado por Peixoto et al (2017), há também necessidade de uma visão holística sobre esses idosos, ou seja, uma visão integral, atuando não apenas no que se refere às comorbidades, mas no ambiente como um todo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise realizada, conclui-se que idosos residentes em ILPIs apresentam alta prevalência de comorbidades crônicas, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, quadros depressivos e declínio funcional. Esses fatores estão frequentemente associados à perda de funções sociais e ao distanciamento de familiares e amigos, agravando a qualidade de vida dos residentes. O perfil predominante é de idosos com baixa renda e nível educacional limitado, o que reflete desigualdades socioeconômicas, embora não se observe diferença significativa na qualidade de vida entre instituições com diferentes fontes de financiamento.
O estudo reforça que a dependência funcional e a infraestrutura inadequada nas ILPIs são fatores de risco importantes para o agravamento da saúde desses idosos. Também evidencia a necessidade de melhorias no atendimento oferecido, maior qualificação profissional e a promoção de atividades culturais e de lazer para os residentes. Assim, destaca-se a urgência de abordagens integradas e estratégias de intervenção eficazes que priorizem a prevenção, o cuidado integral e a promoção da qualidade de vida dessa população vulnerável.
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1MURILLO.PECCINELLI@academico.unifimes.edu.br. Graduando em medicina Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES Mineiros – Goiás, Brasil. Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes.
2gcpmcp@academico.unifimes.edu.br. Graduando em medicina Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES Mineiros – Goiás, Brasil. Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes.
3rafaelbm.enf.policiacientifica@academico.unifimes.edu.br. Graduando em medicina Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES Mineiros – Goiás, Brasil. Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes.
4l.fergon11@academico.unifimes.edu.br. Graduando em medicina. Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES Mineiros – Goiás, Brasil. Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes.
5NIC.BENETTI@academico.unifimes.edu.br. Graduando em medicina. Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES. Mineiros – Goiás, Brasil. Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes. ORCID iD: https://orcid.org/0009-0001-1752-4690
6analuisasoliv@academico.unifimes.edu.br. Graduanda em medicina Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES. Mineiros – Goiás, Brasil. Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes.
7mariapaulacordeiroc@gmail.com. Graduando em medicina Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES. Mineiros – Goiás, Brasil. Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-0565-9886
8vanessa.resende@unifimes.edu.br. Docente do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros/Unifimes. Doutora em Imunologia e Parasitologia Aplicadas Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES. Mineiros – Goiás, Brasil ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-8313-5271