COMO A ATIVIDADE FÍSICA PODE AUXILIAR NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10395837


Felipe Mendes Santos1
Davi Palhares Rocha Porto2
Luciana Mendonça Arantes3
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio4


Resumo: A depressão é uma desordem mental comum que pode ter grande impacto no bem estar individual e nas funções diárias. Como tratamento, é indicado o uso de antidepressivos. Contudo, devido aos elevados custos e à natureza prolongada de outros tratamentos, o exercício físico tem sido recomendado como uma terapia alternativa e eficaz para o tratamento da depressão. O propósito deste trabalho é compreender os mecanismos subjacentes à depressão e demonstrar ao leitor o impacto do exercício físico como uma forma de terapia não-farmacológica para essa doença. O presente estudo compreende uma revisão exploratória integrativa da literatura. Os resultados do estudo apontam a existência de associação da depressão ao sedentarismo, ao tabagismo e relacionada à renda. Além disso fica evidente nesse estudo que exercícios físicos podem ter resultados parecidos ou equivalentes à medicamentos antidepressivos, se tornando uma alternativa para o tratamento.

Palavras-chaves: atividade física, depressão, tratamento, exercícios

Abstract: Depression is a common mental disorder that can have a major impact on individual well-being and daily functions. As treatment, the use of antidepressants is indicated. However, due to the high costs and prolonged nature of other treatments, physical exercise has been recommended as an alternative and effective therapy for the treatment of depression. The purpose of this work is to understand the mechanisms underlying depression and demonstrate to the reader the impact of physical exercise as a form of non-pharmacological therapy for this disease. The present study comprises an integrative exploratory review of the literature. The results of the study indicate the existence of an association between depression and a sedentary lifestyle, smoking and income. Furthermore, it is evident from this study that physical exercise can have similar or equivalent results to antidepressant medications, becoming an alternative for treatment.

Keywords: physical activity, depression, treatment, exercises

Resumen: La depresión es un trastorno mental común que puede tener un impacto importante en el bienestar individual y las funciones diarias. Como tratamiento está indicado el uso de antidepresivos. Sin embargo, debido a los altos costos y la naturaleza prolongada de otros tratamientos, el ejercicio físico se ha recomendado como una terapia alternativa y eficaz para el tratamiento de la depresión. El propósito de este trabajo es comprender los mecanismos subyacentes a la depresión y demostrar al lector el impacto del ejercicio físico como forma de terapia no farmacológica para esta enfermedad. El presente estudio comprende una revisión exploratoria integradora de la literatura. Los resultados del estudio indican la existencia de una asociación entre la depresión y el sedentarismo, el tabaquismo y los ingresos. Además, de este estudio se desprende que el ejercicio físico puede tener resultados similares o equivalentes a los medicamentos antidepresivos, convirtiéndose en una alternativa de tratamiento.

Palabras clave: actividad física, depresión, tratamento, ejercicios

1 INTRODUÇÃO

A depressão é uma desordem mental comum que pode ter grande impacto no bem estar individual e nas funções diárias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta em torno de 300 milhões de pessoas e agora é a principal causa de incapacidade no mundo. Assim, a depressão é caracterizada por baixo astral persistente, ansiedade e angústia, é também associada à sérias comorbidades físicas incluindo doenças cardiovasculares, fatores de risco metabólicos, como adiposidade, mortalidade prematura e demanda um grande custo financeiro para a sociedade (Kandola et al, 2019).

É uma doença multifatorial, causada por alterações psicológicas que podem causar mortalidade. Como tratamento, é indicado o uso de antidepressivo. Porém, devido ao alto custo e o tratamento duradouro, o exercício físico vem sendo indicado como uma terapia alternativa e eficaz no tratamento da mesma (SANTOS, 2019, p. 108-109).

Estudos transversais mostraram que pessoas com altos níveis de atividades físicas apresentam menores sintomas depressivos, e esses resultados são consistentes entre diversos países e culturas. Por exemplo, evidências recentes usando dados do Brazilian National Health Survey, contando 59.399 indivíduos, demonstraram que a falta de atividades físicas por lazer estava associada com depressão em homens jovens, de idade média e adultos mais velhos. Exercícios podem melhorar sintomas depressivos em pessoas com depressão. De outra forma, similar com outros tratamentos, os exercícios não são uma panaceia e podem não ter resultados para todo (Barreto F 2019).

Tanto a sabedoria popular quanto investigações científicas indicam que a prática de atividade física se revela eficaz na diminuição dos sintomas da depressão, contribuindo para uma melhoria geral no estado de ânimo, a qualidade do sono, o apetite e a autoestima, impactando, portanto, de maneira positiva tanto na saúde física quanto na saúde psicológica. Diante disso, torna-se essencial a pesquisa aprofundada dessa terapia adicional, visando fornecê-la de maneira mais apropriada ao público-alvo. (Anibal C et al, 2017)

De acordo com a OMS, até 2030, é previsto que a depressão se torne mais prevalente do que o câncer e as doenças cardíacas, afetando um maior número de indivíduos, tornando-se a condição de saúde mais comum globalmente. O estilo de vida e os fatores estressantes do ambiente, interligados à predisposição genética para respostas negativas, desempenham um papel crucial nesse processo. Diante disso, pesquisadores têm procurado abordagens paliativas de tratamento com o objetivo de não apenas reduzir os custos públicos na área da saúde, mas também melhorar a qualidade de vida dos pacientes, tendo em vista que estes comumente sofrem com as reações adversas das terapias medicamentosas (Anibal C et al, 2017).

Dados da Fundação Oswaldo Cruz, mostram que transtornos mentais como a depressão gera um alto custo social e econômico, por conta do seu tratamento ser demorado, e o Ministério da Saúde completa ainda que 2,3% do gasto do SUS é destinado a saúde mental. Em países como Estados Unidos, anualmente US$ 26 bilhões é referente ao gasto com a saúde mental. Ainda nos EUA, do total de pessoas acometidas com depressão, apenas 55% recebem tratamento, porém apenas 32% relatam alívio nos sintomas depressivos. A ausência de atividade física ou a inatividade física representa um impacto substancial na saúde mental, uma vez que está associada à redução da autoestima, da autoimagem, do bem-estar e da sociabilidade. Paralelamente, observa-se um aumento significativo nos níveis de estresse, ansiedade e, possivelmente, depressão. Indivíduos depressivos são pessoas que manifestam forte propensão para desenvolver outras doenças, e o exercício, pode ter benefícios adicionais como, por exemplo, controle do peso corporal, mudando a autoimagem.

Estudos apresentam associação positiva entre exercício físico e saúde mental, pois pode reduzir as repostas emocionais frente ao estresse e comportamentos neuróticos, tendo impacto positivo no indivíduo, tornando-se um método efetivo na redução dos riscos de desenvolvimento de doenças psicológicas. Aspectos neuroendócrinos, como mudança na atividade central de monoaminas, são responsáveis por efeitos antidepressivos no humor do indivíduo (SANTOS, 2019, p. 108-109).

 O propósito deste trabalho é elucidar os mecanismos subjacentes à depressão e apresentar ao leitor o impacto do exercício físico como uma forma de terapia não-farmacológica para essa condição.

2 METODOLOGIA

O presente estudo consiste em uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.

Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “Quais os benefícios da atividade física no tratamento de pacientes depressivos, comparando pacientes que a praticam e sedentários?” Nela, observa-se o P: Pacientes depressivos; I: Atividade Física; C: Pacientes que praticam atividades físicas e sedentários; O: Benefícios da atividade física.

 Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medcine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: depressão, atividade física, physical activity, depression, anxiety. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se os operadores booleanos “and”, “or” “not”.

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed), EbscoHost.

A busca foi realizada no mês de setembro de 2023. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em português e inglês, publicados nos últimos dez anos (2013 a 2023), que abordassem o tema pesquisado e que estivem disponíveis eletronicamente em seu formato integral, foram excluídos os artigos que não obedeceram aos critérios de inclusão.

Após a etapa de levantamento das publicações, encontrou 24 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos. Em seguida, realizou a leitura na íntegra das publicações, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 0 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados 22 artigos para análise final e construção da revisão.

Posteriormente a seleção dos artigos, realizou um fichamento das obras selecionadas afim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.

3 RESULTADOS

Autores e anoTituloAchados principais
P. C. Dinas • Y. Koutedakis • A. D. Flouris. 2010Effects of exercise and physical activity on depression– atividade física possui efeitos benéficos à ansiedade e depressão comparados a medicamentos antidepressivos
Cíntia Anibal 1 , Luis Henrique Romano². 2017Relações entre atividade física e depressão: estudo de revisão– tempo dedicado à atividade física, altera o foco do pensamento, afastando pensamentos negativos
Darren E.R. Warburton and Shannon S.D. Bredin. 2017Health benefits of physical activity: a systematic review of current systematic reviews– atividade física está relacionada a boas condições de saúde
Thamires Gomes Toti1 , Felipe Antônio Bastos1 , Phillipe Rodrigues2,3. 2018Fatores associados à ansiedade e depressão em estudantes universitários do curso de educação física– chance de apresentar ansiedade foi associada com a prática insuficiente de atividade física no lazer
Marilisa Berti de Azevedo Barros, Lhais de Paula Barbosa Medina, Margareth Guimarães Lima, Renata Cruz Soares de Azevedo, Neuciani Ferreira da Silva Sousa, Deborah Carvalho Malta. 2019Associação entre comportamentos de saúde e depressão: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde– associação de depressão com inatividade física no estrato de renda superior – prevalência de depressão em pessoas relacionadas com o uso de tabaco
Lucineide da Silva Santos Castelo Branco de Oliveira,1 Edila C. Souza,2 Rosilene Andrade Silva Rodrigues,1 Carlos Alexandre Fett,3 Angelo Biagini Piva4. 2019The effects of physical activity on anxiety, depression, and quality of life in elderly people living in the community– grupos sedentários apresentaram maiores taxas de ansiedade e depressão
Felipe Barreto Schuch, PhD1 and Brendon Stubbs, PhD. 2019The Role of Exercise in Preventing and Treating Depression– níveis elevados de atividade física conferem efeitos protetores de incidentes depressivos
Sun-Young Kima , Jae-Hyun Parkb , Mi Yeon Leec , Kang-Seob Ohd , Dong-Won Shind , Young-Chul Shin. 2019Physical activity and the prevention of depression: A cohort study– manter atividades físicas por um ano diminui incidentes depressivos
Maria Clara Barbuena Santos*. 2019O exercício físico como auxiliar no tratamento da depressão– exercício físico aeróbico de intensidade média é o mais indicado para pacientes com depressão
Aaron Kandola, Garcia Ashdown-Franks, Joshua Hendrikse, Catherine M. Sabiston, Brendon Stubbs. 2019Physical activity and depression: Towards understanding the antidepressant mechanisms of physical activity– mecanismos presentes na atividade física para maximizar os efeitos antidepressivos
Ana Cahuas, Zhonghui He, Zhanjia Zhang & Weiyun Chen. 2019Relationship of physical activity and sleep with depression in college students– atividade física vigorosa e sono prevê  significantemente níveis de depressão
Jesús López-Torres Hidalgo* and the DEP-EXERCISE Group. 2019Effectiveness of physical exercise in the treatment of depression in older adults as an alternative to antidepressant drugs in primary care– atividade física apresentou mesmo resultado de antidepressivos no tratamento da depressão
Brent M. Kious 1,*, Douglas G. Kondo 1,2 and Perry F. Renshaw 1,2. 2019Creatine for the Treatment of Depression– ensaios clínicos indicam eficácia como agente antidepressivo (suplemento de treino)
Kathrin Hassdenteufel1  · Manuel Feißt2  Katharina Brusniak1  · Katrin Lingenfelder1  · Lina Maria Matthies1  · Markus Wallwiener1  · Stephanie Wallwiener1. 2020Reduction in physical activity signifcantly increases depression and anxiety in the perinatal period: a longitudinal study based on a self-report digital assessment tool– mulheres que diminuíram atividades físicas durante a gestação mostraram maiores taxas de ansiedade e depressão
Aaron Kandola, Gemma Lewis, David P J Osborn, Brendon Stubbs, Joseph F Hayes. 2020Depressive symptoms and objectively measured physical activity and sedentary behaviour throughout adolescence: a prospective cohort study– comportamento sedentário durante a adolescência está associado a risco de sintomas depressivos
Xiaowei He. 2021Physical activity in the treatment of depression in college students– pacientes que praticam atividades respiratórias e natação tiveram sintomas depressivos melhorados
Mercy Ngosa Mumbaa , Alexandra F. Nacarrowa,b , Shameka Codya , Betty A. Keya , Hui Wangc , MacKenzie Robba , Abigail Jurczykd , Cassandra Forda , Mary Ann Kelleya and Rebecca S. Allenb. 2021Intensity and type of physical activity predicts depression in older adults– relação de renda com depressão, maior renda=menor taxa de depressão. (relacionado com prática de atividades físicas)
Tassia Barcelos Mendes, Karla Cardoso de Souza , Carolina Nunes França ,Fabrício Eduardo Rossi Rafael Pereira Guimarães Santos,Kalil Duailibi, Izabela Tuleta ,Jane de Eston Armond, Brendon Stubbs , Lucas Melo Neves. 2021Atividade física e sintomas de ansiedade e depressão entre estudantes de medicina durante a pandemia– estudantes de medicina que praticam atividades físicas apresentaram menos sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia
Márcia Marrocos Aristides Barbiero, Maria Helena Lenardt1 Susanne Elero Betiolli, Karina Silveira de Almeida Hammerschmidt, Maria Angélica Binotto, Patrícia Rosa Gonçalves Leta.2021.Marcadores de fragilidade física preditivos de sintomas depressivos em pessoas idosas da atenção primária à saúde– idoso com sintomas depressivos apresentavam alto índice de fragilidade ou pré-fragilidade
Marcos Paulo da Silva Costa, Ademir Schmidt, Priscila Valverde de Oliveira Vitorino, Krislainy de Sousa Corrêa. 2021,Inatividade física e sintomas de depressão, ansiedade e estresse em adolescentes estudantes– há um elevado índice de sedentarismo nas escolas em que foi efetuado o estudo, resultando no aparecimento de sintomas de depressão, ansiedade e estresse.
Matthew Pearce, Leandro Garcia, Ali Abbas, Tessa Strain, Felipe Barreto Schuch, Rajna Golubic, Paul Kelly, Saad Khan, Mrudula Utukuri, Yvonne Laird, Alexander Mok, Andrea Smith, Marko Tainio, Søren Brage, James Woodcock. 2022Association Between Physical Activity and Risk of Depression: A Systematic Review and Meta-analysis  – foi percebido uma relação inversamente proporcional entre a prática de atividades físicas e o desenvolvimento de depressão

Fonte: autoria própria, 2022.

4 DISCUSSÃO

Os resultados do estudo apontam a existência de associação entre a depressão e o sedentarismo, o tabagismo, e relacionada à renda. Além disso, fica evidente nesse estudo que exercícios físicos podem ter resultados parecidos ou equivalentes à medicamentos antidepressivos, se tornando uma alternativa para o tratamento dessa desordem mental que afeta em torno de 300 milhões de pessoas, segundo a OMS.

De acordo com De Oliveira et al. (2019), idosos fisicamente ativos tiveram maior pontuação em qualidade de vida (QV), quando comparado aos idosos sedentários, que tiveram estatisticamente uma menor taxa de ansiedade e depressão. No entanto, do ponto de vista fisiológico, o processo de envelhecimento não ocorre simultaneamente ao avanço cronológico da idade. O envelhecimento pode ser influenciado por múltiplos fatores combinados que incluem, envelhecimento biológico, ocorrência de doenças e certos padrões de estilo de vida. Nesse estudo, as maiores pontuações de QV foram recebidas por idosos que praticavam exercícios físicos.

Segundo uma pesquisa realizada por Barbiero et al. (2021), os marcadores de exaustão, sedentarismo e redução da atividade física são preditores dos sintomas depressivos em pessoas idosas, de forma que no estudo realizado com 389 participantes, 109 apresentaram esses sintomas depressivos, dos quais 79,6% eram considerados idoso frágeis ou pré-frágeis.

No entanto, o desenvolvimento da depressão não é restrito às pessoas idosas, de modo que na atualidade inúmeros adolescentes sedentários são vítimas dessa enfermidade. Dessa forma, uma pesquisa realizada por Costa et al. (2021), com 516 adolescentes, há um elevado índice de sedentarismo nas escolas em que foi efetuado o estudo, cerca de 93,5% nas escolas de tempo parcial e 98,3% nas escolas integrais. Nesse sentido, essa situação foi associada ao desenvolvimento de sintomas de ansiedade, depressão e estresse, como a presença de boca seca algumas vezes na semana (32,9%), ausência de pensamentos positivos na semana (29,8%) e 25,2% afirmaram estarem nervosos algumas vezes durante a semana.

Ademais, segundo Kandola et al. (2020), em seu estudo, as pontuações de depressão aos 18 anos foram associadas a pessoas que não praticavam atividades físicas ao menos por 60min/dia, identificando um comportamento sedentário aos 12 anos, 14 anos e 16 anos. Porém, adolescentes que praticam exercícios por 60min/dia apresentaram as menores taxas de depressão e ansiedade. A modelagem desse estudo foi apresentada em grupos de 12 a 16 anos, identificando três subgrupos latentes de comportamento sedentário. A pontuação de depressão foi maior naqueles com comportamento sedentário alto e persistente médio, comparado com aqueles de comportamento sedentário persistente baixo e menores ainda aos de comportamento persistente alto de atividades físicas.

A ligação entre depressão e tabagismo, observada em adultos brasileiros, foi documentada em diversos estudos. Uma metanálise que buscou avaliar a força da associação de tabagismo com depressão estimou, em estudos transversais, chance de depressão 50% maior entre os fumantes e, em estudos longitudinais, chance 62% maior dos fumantes desenvolverem depressão. A constatação, neste estudo, da correlação entre depressão e tabagismo reitera a importância de incorporar a atenção à saúde mental nos programas destinados ao controle e à cessação do tabagismo, principalmente dos segmentos socialmente mais vulneráveis e marginalizados, pois apresentam maiores prevalências de depressão e de dependência à nicotina (BARROS 2021).

Somado a isso, a presença de depressão foi 12% e 83% maior nos inativos e sedentários, respectivamente, associações que também foram encontradas em outros estudos de base populacional. Uma metanálise com 111 estudos revelou que qualquer nível de atividade física atenua o risco de depressão, mas os níveis moderados e altos estão mais fortemente associados ao menor risco (MARQUES et al 2020). Outra metanálise evidenciou a atividade física como fator de proteção contra o surgimento de depressão, independentemente da idade e região geográfica. Existem também indícios que destacam a relevância da prática de atividade física no manejo dos sintomas associados à depressão. Neste estudo, a prevalência da depressão foi maior nos indivíduos que não praticam atividade física no lazer, em ambos os estratos de renda, mas a associação foi mais forte naqueles que referem maiores proventos mensais, que são as que dispõem de maior acesso às práticas de lazer mas que teriam essas práticas mais afetadas pela presença de transtornos depressivos (BARROS 2021).

De acordo com um estudo realizado por Pearce et al. (2022), foi percebido uma relação inversamente proporcional entre a prática de atividades físicas e o desenvolvimento de depressão, de modo que os participantes que adotaram metade da dose semanal recomendada de atividades físicas, 4,4 horas, obtiveram risco 18% menor de depressão, enquanto os indivíduos que acumularam o volume recomendado, 8,8 horas semanais, apresentaram um risco 25% menor para esse transtorno.

Novos estudos são necessários para detalhar qual tipo de exercício pode ser mais benéfico para adultos com depressão, analisando se tal exercício poderia ser uma alternativa terapêutica aos antidepressivos ou tratamentos psicológicos, e determinar os riscos e custos relacionados. Prescrever um exercício físico em um consultório, como é feito por exemplo com um remédio para doenças crônicas, exige conhecimento sobre qual exercício e mais adequado para a tarefa, e a duração, frequência e intensidade necessárias.

As evidências disponíveis sugerem que o exercício pode beneficiar pacientes depressivos e ser comparável à tratamentos antidepressivos (DINAS et al 2011). Portanto, é razoável que o exercício seja recomendado a pessoas com sintomas de depressão ou que preenchem os critérios diagnósticos.

No entanto, a melhor forma de aplicação na prática clínica não é conhecida, não sendo possível fornecer informações precisas sobre o quão benéfico o exercício pode ser, se deve ser aeróbico, de resistência, ou se feito em grupo ou individualmente. Porém, segundo Kim et al. (2019) em termos de mudança em um ano, se mantido os níveis de atividade física, foi encontrado evidências claras de redução de sintomas depressivos em homens e mulheres.

O status de sedentário para fisicamente ativo, foi de grande melhora na saúde mental das pessoas no estudo. É bem aceito que manter esse estado ativo, em comparação com outros estados de saúde, é eficaz na prevenção da síndrome metabólica e doença de vasos, que contribuem para a depressão. Outra explicação sugerida para a manutenção desse estado fisicamente ativo é que ele pode sintetizar o Fator Neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) para prevenir a depressão. Embora numerosos estudos tenham relatado que uma única sessão de exercício pode aumentar o BDNF, praticar exercícios regulares é importante pois os níveis de BNDF permanecem regulados por apenas sete dias após a prática física (Kim 2019).

4 CONCLUSÃO

Durante esse estudo foi discutido sobre a prática de exercícios físicos como alternativa na redução do uso de medicamentos. Assim, fica claro que por ser uma alternativa mais acessível financeiramente, pode se tornar um grande avanço no que diz respeito ao tratamento de ansiedade e depressão.

Porém, como citado na discussão, ainda não foi possível identificar claramente até qual ponto o exercício físico pode auxiliar no tratamento dessa desordem mental que afeta milhões de pessoas no mundo. Assim, para obter uma ideia mais precisa do efeito do exercício na depressão há necessidade de novos estudos utilizando metodologias cientificamente sólidas. (HIDALGO, 2019).

REFERÊNCIAS

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Felipe Mendes Santos – Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM).1
Davi Palhares Rocha Porto – Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM).2
Luciana Mendonça Arantes – Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM).3
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio – Docente do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM).4