REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202503120707
Jennifer Lee Gonçalves Leung; Kauã Lucca Moura Segamarchi Chaves; Luis Felipe Lukavy; Liz Maria Pilla Boeira; João Lucas Parente Nogueira; Marina Helena Dias da Silva; Nicoly Milani Solinski; Mercedes Carmen Espichan Yupa; Ana Carolina Dos Santos Barata; Rafaella Pietra Della Bernadina Soares
RESUMO: INTRODUÇÃO: A colecistectomia é uma cirurgia comum no Brasil, indicada principalmente para o tratamento de cálculos biliares e colecistite. Pode ser realizada de forma eletiva ou em caráter de urgência, geralmente por via laparoscópica, conforme a condição do paciente. A retirada da vesícula biliar tem como objetivo aliviar os sintomas causados pelos cálculos ou pela inflamação, além de prevenir complicações mais graves, como perfuração ou sepse generalizada. OBJETIVOS: Realizar o levantamento epidemiológico sobre as colecistectomias realizadas no estado de São Paulo, no período de 2015 a 2024. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), referentes aos casos de colecistectomia registrados no estado de São Paulo entre 2015 a 2024. As variáveis analisadas incluíram: número total de procedimentos (código 0407030026), distribuição anual, caráter e natureza do procedimento, além da região de saúde em que foram realizados. RESULTADOS: Entre 2015 a 2024 houveram 144.802 procedimentos de colecistectomia em São Paulo. Sendo a distribuição anual: 1) 2015: 20.161 (13,9%), 2) 2016: 17.660 (12,2%), 3) 2017: 16.676 (11,5%), 4) 2018: 17.184 (11,9%), 5) 2019: 16.461 (11,3%), 6) 2020: 9.949 (6,9%), 7) 2021: 9.622 (6,6%), 8) 2022: 13.803 (9,5%), 9) 2023: 12.676 (8,7%) e 10) 2024: 10.610 (7,5%). Os procedimentos foram divididos em i) eletivo: 88.858 (61,4%) e ii) urgência: 55.944 (38,6%). A natureza dos procedimentos cirúrgicos foram divididos em: i) estadual: 4.876 (3,3%), ii) municipal 3.186 (2,3%), iii) filantrópico: 9.192 (6,3%), iv) ignorado: 127.548 (88,1%). CONCLUSÃO: A análise das colecistectomias realizadas em São Paulo entre 2015 e 2024 evidencia a predominância de procedimentos eletivos e uma redução significativa durante o período da pandemia. A expressiva quantidade de dados com informações ignoradas reforça a necessidade de aprimorar os sistemas de coleta, fundamentais para o planejamento eficaz de políticas públicas de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: “Colecistectomia”; “Procedimentos Cirúrgicos Eletivos”; “Epidemiologia”.
INTRODUÇÃO:
A colecistectomia é um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns no Brasil, realizado principalmente para o tratamento de doenças da vesícula biliar, como cálculos biliares e colecistite. O procedimento pode ser realizado de forma eletiva ou em urgência, dependendo da condição clínica do paciente. Em São Paulo, entre 2015 e 2024, um total de 144.802 colecistectomias foram realizadas, refletindo tanto a alta prevalência de doenças biliares na população quanto a eficiência da rede de saúde para tratar essa condição (SILVA et al., 2020).
A categorização dos procedimentos em eletivos e urgentes evidencia aspectos relevantes sobre a estrutura do sistema de saúde estadual, com a maior parte dos casos sendo executados de maneira planejada, isto é, com caráter eletivo (SANTOS et al., 2018). A análise da distribuição anual dos casos mostra variações ao longo dos anos, com uma diminuição no número de procedimentos em 2020 e 2021, provavelmente em função da pandemia de COVID-19, que afetou significativamente o sistema de saúde e o acesso a tratamentos eletivos (OLIVEIRA et al., 2021). Ademais, a classificação dos procedimentos com base na urgência e no tipo de hospital (estadual, municipal ou filantrópico) pode oferecer percepções valiosas sobre a estrutura do sistema de saúde em São Paulo. A maioria dos procedimentos é realizada em instituições filantrópicas, evidenciando a significativa presença do setor privado no estado.
OBJETIVOS:
Realizar o levantamento epidemiológico sobre as colecistectomias realizadas no estado de São Paulo, no período de 2015 a 2024.
METODOLOGIA:
O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico, ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos de colecistectomia em São Paulo, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), os quais encontram-se disponíveis no banco de dados online do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).
As variáveis coletadas e estudadas foram: número de colecistectomias (código 0407030026) realizadas em São Paulo, entre 2015 a 2024, distribuição anual dos procedimentos cirúrgicos, caráter do procedimento (eletivo ou de emergência), natureza da instituição hospitalar (estadual, municipal ou filantrópica) e região de saúde correspondente. A análise estatística dos dados foi realizada por meio do uso de frequências relativas com auxílio dos softwares Microsoft Excel e o Tabwin 3.6.
Em conformidade com a Resolução no 4661/2012, como o estudo trata-se de uma análise realizada por meio de banco de dados secundários de domínio público, este não foi encaminhado para apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa.
RESULTADOS:
Entre 2015 a 2024 houveram 144.802 procedimentos de colecistectomia em São Paulo. Sendo a distribuição anual: 1) 2015: 20.161 (13,9%), 2) 2016: 17.660 (12,2%), 3) 2017: 16.676 (11,5%), 4) 2018: 17.184 (11,9%), 5) 2019: 16.461 (11,3%), 6) 2020: 9.949 (6,9%), 7) 2021: 9.622 (6,6%), 8) 2022: 13.803 (9,5%), 9) 2023: 12.676 (8,7%) e 10) 2024: 10.610 (7,5%) (Gráfico 1). Sendo o três anos com maior número de casos: 2015, 2016 e 2018, respectivamente.
Gráfico 1. Distribuição dos casos de colecistectomia em São Paulo, entre 2015 a 2024.

Os procedimentos foram divididos em i) eletivo: 88.858 (61,4%) e ii) urgência: 55.944 (38,6%) (Gráfico 2). Sendo o caráter eletivo mais prevalente em São Paulo.

A natureza dos procedimentos cirúrgicos foram divididos em: i) estadual: 4.876 (3,3%), ii) municipal 3.186 (2,3%), iii) filantrópico: 9.192 (6,3%), iv) ignorado: 127.548 (88,1%) (Gráfico 3). Sendo os procedimentos filantrópicos com maior incidência. Além disso, destaca-se que mais de 80% dos procedimentos não houveram preenchimento de tal informação, o que denota a importância de atenção e cuidado para o preenchimento de fichas, uma vez que tais dados são utilizados para levantamento epidemiológico e organização de estratégias.

DISCUSSÃO:
A análise dos dados de colecistectomia em São Paulo entre 2015 e 2024 mostra algumas tendências relevantes em relação à quantidade de procedimentos realizados, ao perfil de urgência e à natureza dos hospitais envolvidos. Os três anos com maior número de procedimentos realizados foram 2015, 2016 e 2018, com uma tendência decrescente observada a partir de 2020. Essa diminuição pode ser explicada, em parte, pela pandemia de COVID-19, que impactou diretamente os serviços de saúde, resultando na suspensão de cirurgias eletivas e adiamento de tratamentos não urgentes, como apontado por Oliveira et al. (2021).
Outro dado importante foi a predominância dos procedimentos eletivos (61,4%) em relação aos realizados em urgência (38,6%). Isso sugere que, apesar da alta demanda por tratamentos relacionados a doenças biliares, a maioria dos pacientes consegue ser atendida de forma planejada, o que é um indicativo de eficiência e organização na rede de saúde paulista (SILVA et al., 2020). Esse padrão também pode refletir a disponibilidade de serviços especializados e a busca ativa por tratamento em estágios iniciais da doença.
Em relação à natureza dos hospitais, destaca-se o alto percentual de procedimentos realizados em instituições filantrópicas (6,3%). Isso pode ser um reflexo da forte atuação do setor privado no atendimento à população de São Paulo, que, apesar de ser filantrópico, representa um braço significativo no fornecimento de serviços de saúde para a população em situações de grande demanda (SANTOS et al., 2018). No entanto, um dado alarmante é o grande número de procedimentos com a informação de natureza ignorada (88,1%), o que sugere a necessidade de maior atenção no registro das principais informações processuais, sendo estas indispensáveis para coletas de dados efetivas, visando o planejamento de políticas públicas de saúde e para o monitoramento epidemiológico da região.
Analisando os dados registrados, a falha do sistema de saúde em situações de crise hospitalar – como a redução no número de colecistectomias durante o período pandêmico da COVID-19 -, juntamente à falta de informações necessárias, é um dado alarmante, espelhando a falha na preparação para acesso contínuo aos cuidados em saúde. Com isso, ressalta-se a importância da revisão destes sistemas, visto que, alinhado com outros estados brasileiros, São Paulo possui predominância da colecistectomia entre os procedimentos cirúrgicos de maior demanda, especialmente em situações não emergenciais. (SILVA et al., 2020)
CONCLUSÃO:
Uma análise epidemiológica das colecistectomias realizadas no estado de São Paulo entre 2015 e 2024 revela tendências significativas que refletem tanto a prevalência de doenças biliares na população quanto a capacidade do sistema de saúde em atender essa demanda. Com um total de 144.802 procedimentos, a predominância de cirurgias eletivas (61,4%) em relação às de urgência (38,6%) sugere uma organização eficiente na rede de saúde e permite que a maioria dos pacientes receba tratamento planejado. Além disso, corrobora a positividade desse dado encontrado neste estudo ao comparar a mortalidade do procedimento nas modalidades de urgência e eletiva, em relação às eletivas (FELÍCIO et al., 2017).
Entretanto, a queda acentuada no número de procedimentos em 2020 e 2021, atribuída à pandemia de COVID-19, destaca a vulnerabilidade do sistema de saúde em situações de crise, onde o acesso a cuidados não emergenciais foi severamente comprometido. Este dado, além de evidenciar a importância da revisão das estratégias direcionadas à organização dos procedimento eletivos, traz consigo a necessidade de planejamentos robustos que garantam a efetividade contínua dos atendimentos, mesmo em situação de emergências sanitárias, que podem vir a surgir.
Além disso, a alta taxa de dados ignorados (88,1%) em relação à natureza dos procedimentos, demonstra falhas críticas na coleta e registro de informações essenciais para a formulação de políticas públicas de saúde. Para um monitoramento epidemiológico eficaz, é fundamental a maior visibilidade sobre a qualidade necessária dos dados, pois isto espelha diretamente na alocação adequada de recursos, permitindo uma resposta mais ágil e competente às necessidades da população. Para tanto, torna-se necessário o levantamento de dados acerca dos motivos e dificuldades que ocasionam tal negligência para com o registro dessas informações, o que contribuirá para a resolução de tal falha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SILVA, M. F.; LIMA, G. A.; COSTA, R. D. Análise epidemiológica da colecistectomia: Dados e tendências no Brasil. Arquivos de Cirurgia Geral, v. 29, n. 4, p. 220-225, 2020.
SANTOS, L. M.; PEREIRA, A. D.; MARTINS, F. P. Fatores determinantes para a realização da colecistectomia em caráter eletivo e de urgência em São Paulo. Jornal Paulista de Cirurgia, v. 34, n. 2, p. 102-107, 2018.
OLIVEIRA, R. P.; SOUZA, M. S.; ALVES, T. R. Impactos da pandemia de COVID-19 na realização de procedimentos eletivos em São Paulo. Revista Brasileira de Saúde Pública, v. 56, p. 1-7, 2021.
FELÍCIO, Saulo José Oliveira. MORTALIDADE DA COLECISTECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA DE URGÊNCIA VERSUS OPERAÇÃO ELETIVA PARA COLECISTITE AGUDA. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 47-50,