CLINICAL ENGINEERING TEAMS IN BRAZIL: DIFFERENT PROFILES AND IMPACTS ON PERFORMANCE INDICATORS

EQUIPES DE ENGENHARIA CLÍNICA NO BRASIL: DIFERENTES PERFIS E OS IMPACTOS NOS INDICADORES DE DESEMPENHO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411301054


Jonathan Martinichen¹;
Prof. Dra. Marília Miranda Forte Gomes².


Abstract

Healthcare establishments, to ensure the quality and safety of medical equipment and reduce acquisition and maintenance costs, must rely on in-house, outsourced, or mixed clinical engineering teams. These teams are responsible for planning and executing the acquisition and maintenance of equipment, whose performance indicators vary depending on the establishment and its maintenance team, allowing for the monitoring of service efficiency. This study aims to present the profile of Clinical Engineering teams and analyze the relationship between performance indicators and the composition of Clinical Engineering sectors and the characteristics of healthcare establishments. Questionnaires were sent to clinical engineers across Brazil, members of a WhatsApp group called “Engenharia Clínica Brasil.” The questionnaire collects data on engineers’ education, establishment characteristics, team profiles, and quality indicators related to maintenance activities. The results show a balance between in-house teams (42.6%) and outsourced teams (44.4%), with only 13% being mixed teams. In-house teams are composed of up to 4 technicians (62.5%) and mainly work in private hospitals (56.5%). Outsourced teams have 5 or more technicians (69.6%) and mainly work in public hospitals (75%). The research indicates that the composition of the teams and the characteristics of the establishments influence the effectiveness and efficiency of maintenance activities. Therefore, it is essential for healthcare establishments to monitor the performance of their teams to ensure the quality and safety of equipment while minimizing costs.

Keywords: Clinical engineering. Performance indicators. Maintenance. Healthcare equipment.

Resumo

Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, para garantir a qualidade e segurança dos equipamentos médicos e reduzir custos de aquisição e manutenção, devem contar com equipes de engenharia clínica internas, terceirizadas ou mistas. Essas equipes são responsáveis por planejar e executar a aquisição e a manutenção dos equipamentos, cujos indicadores de desempenho variam conforme o estabelecimento e sua equipe de manutenção, permitindo monitorar a eficiência dos serviços. Este estudo visa apresentar o perfil das equipes de Engenharia Clínica e analisar a relação entre indicadores de desempenho e a composição dos setores de Engenharia Clínica e as características dos EAS. Foram enviados questionários a engenheiros clínicos de todo o Brasil, membros de um grupo de WhatsApp chamado “Engenharia Clínica Brasil”. O questionário coleta dados sobre a formação dos engenheiros, as características dos estabelecimentos, o perfil das equipes e indicadores de qualidade relacionados às atividades de manutenção. Os resultados mostram um equilíbrio entre equipes internas (42,6%) e terceirizadas (44,4%), com apenas 13% de equipes mistas. As equipes internas são compostas por até 4 técnicos (62,5%) e atuam, principalmente, em hospitais privados (56,5%). As terceirizadas possuem 5 ou mais técnicos (69,6%) e atuam principalmente em hospitais públicos (75%). A pesquisa indica que a composição das equipes e as características dos estabelecimentos influenciam a eficácia e eficiência das atividades de manutenção. Portanto, é essencial que os estabelecimentos monitorem o desempenho de suas equipes para garantir a qualidade e segurança dos equipamentos, minimizando os custos.

Palavras-chave: Engenharia clínica. Indicadores de desempenho. Manutenção. Equipamentos médico-hospitalares.

1. Introdução

Nos últimos anos, a engenharia clínica tem se consolidado como uma disciplina fundamental no contexto dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS). A engenharia clínica envolve a gestão, manutenção e controle de equipamentos médico-hospitalares (EMH), assegurando que estes atendam às normas de segurança e qualidade, fundamentais para a prestação de serviços de saúde eficientes. A função dos engenheiros clínicos vai além da manutenção dos equipamentos, abrangendo a análise, calibração, e a implementação de tecnologias que otimizam a área assistencial, promovendo a segurança dos pacientes e a eficiência dos serviços médicos.

A gestão eficiente de EMH em um EAS é diretamente influenciada pela configuração das equipes de engenharia clínica. A literatura descreve três modelos principais para essas equipes: próprias, terceirizadas e mistas. As equipes próprias, compostas por profissionais internos ao EAS, apresentam maior controle e autonomia, enquanto as equipes terceirizadas, mais comuns em instituições de menor porte, podem enfrentar desafios relacionados à falta de familiaridade com as especificidades de cada instituição. Já as equipes mistas combinam as vantagens de ambos os modelos, sendo uma solução estratégica para instituições de maior porte ou complexidade (Felice, 2020; Souza, 2014).

A relevância dos indicadores de desempenho na engenharia clínica é amplamente discutida na literatura. Tais indicadores, como tempo médio de reparo, taxa de manutenção preventiva, taxa de disponibilidade de equipamentos e custos operacionais, são essenciais para avaliar a eficácia das operações e a qualidade dos serviços prestados. Esses indicadores não apenas permitem uma análise quantitativa do desempenho das equipes, mas também são utilizados para ajustes estratégicos nas operações de manutenção, contribuindo para a otimização dos recursos (Darold, 2021; Martinichen, 2023).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece, por meio da Resolução RDC nº 509/2021, que todos os EAS devem garantir a qualidade e segurança dos equipamentos médicos. Associada à RDC nº 63/2011, apresenta as bases para que as instituições monitorarem indicadores de desempenho regularmente e implementem estratégias de manutenção preventiva para reduzir custos com manutenções corretivas e aumentar a disponibilidade operacional dos EMH (ANVISA, 2011; ANVISA, 2021).

Além disso, a fundamentação teórica sobre a engenharia clínica abrange a análise da gestão de riscos e o impacto das falhas de equipamentos na segurança dos pacientes. Segundo Bronzino (2006), a falha de um EMH pode ter consequências graves para o paciente e para o próprio hospital, destacando a importância de programas de manutenção rigorosos. Nesse sentido, aponta que a gestão de riscos é uma área que deve ser desenvolvida dentro das equipes de engenharia clínica para prevenir danos e garantir a eficiência das operações.

Este estudo tem como objetivo explorar o impacto dos modelos de equipes e indicadores de desempenho na gestão dos EAS brasileiros. A análise das práticas de engenharia clínica, incluindo a comparação entre equipes próprias, terceirizadas e mistas, ajudará a identificar as melhores estratégias para melhorar os indicadores de desempenho, a disponibilidade de equipamentos e reduzir os custos operacionais.

2. Materiais e métodos

O estudo foi realizado com base em questionários aplicados a engenheiros clínicos de todas as unidades da Federação. Os participantes foram selecionados a partir do grupo “Engenharia Clínica Brasil”, no WhatsApp, que reúne 255 profissionais da área. Destes, 54 responderam ao questionário, resultando em uma amostra representativa com nível de confiança de 90% e margem de erro de 10%.

O questionário continha 27 perguntas distribuídas em quatro seções principais:

  • Formação e atuação profissional;
  • Características institucionais dos EAS;
  • Composição e perfil das equipes de engenharia clínica;
  • Indicadores de desempenho.

As análises foram realizadas utilizando o software SPSS, com ênfase na comparação de indicadores de desempenho entre diferentes tipos de equipes (próprias, terceirizadas e mistas) e tamanhos de EAS. Os indicadores avaliados incluíram:

  • Tempo médio para reparo;
  • Taxa de manutenções preventivas realizadas/planejadas;
  • Taxa de disponibilidade do parque tecnológico;
  • Custos médios de manutenção corretiva.

A análise permitiu identificar padrões e discrepâncias significativas entre os diferentes modelos de gestão.

3. Resultados

Os resultados obtidos a partir da análise dos questionários permitiram identificar tendências importantes:

3.1 Perfis das equipes

Das instituições pesquisadas, 43% utilizam equipes próprias, 13% contam com equipes mistas e 44% recorrem exclusivamente a equipes terceirizadas, conforme a Figura 1. Observou-se que equipes próprias apresentam maior autonomia para decisões estratégicas, enquanto as terceirizadas são mais dependentes de contratos e prazos externos. Equipes mistas combinam as vantagens de ambos os modelos, oferecendo maior flexibilidade e eficiência.

Figure 1 – Tipo do Setor de Engenharia Clínica.

3.2 Indicadores de desempenho:

A maioria das equipes mistas registraram um tempo médio para reparo de até 5 dias (42,9%) ou de 6 a 10 dias (42,9%), enquanto equipes terceirizadas demoraram até  5 dias (66,7%) em sua maioria, conforme a Figura 2.

A média geral da taxa de disponibilidade do parque tecnológico foi de 94%. Destaque para os 85,7% das equipes mistas que apresentam de 96,1% a 98% de disponibilidade, conforme Figura 3.

Os dados indicam que 45,5% das equipes que gastam até R$ 25.000,00 como custo médio de manutenção corretiva, realizam mais de 95% das manutenções preventivas planejadas, enquanto 27,3% realizam entre 86% e 95%. Em contrapartida, 25% das equipes que gastam mais de R$ 100.000,00 realizam até 65% das manutenções preventivas planejadas, conforme Figura 4.

Figure 2 – Tempo médio para reparo por tipo de equipe de EC.
Figure 3 – Taxa mensal de disponibilidade do parque tecnológico por tipo de equipe de EC.
Figure 4 – Valor mensal gasto com manutenção corretiva X Taxa de manutenções preventivas realizadas.

3.3 Impactos institucionais:

Os EAS com maiores parques tecnológicos e mais de 400 leitos tendem a apresentar melhores resultados, atribuídos à especialização e maior investimento em tecnologia. No entanto, 25% dos respondentes relataram dificuldades em cumprir metas de manutenção preventiva, citando falta de recursos como principal barreira, principalmente os de setor público.

4. Conclusão

A pesquisa revelou que a composição das equipes de engenharia clínica tem um impacto direto nos resultados dos indicadores de desempenho e nos custos operacionais. Equipes mistas, que combinam gestão própria com serviços terceirizados, mostraram-se as mais eficazes, alcançando taxas de disponibilidade superiores a 96% e custos mais reduzidos. No entanto, desafios como a formação inadequada de profissionais e limitações financeiras ainda representam barreiras significativas.

Recomenda-se que os gestores de EAS considerem as particularidades de suas instituições ao escolher o modelo de equipe mais adequado. Investimentos em capacitação e em tecnologias de suporte são essenciais para garantir a sustentabilidade e a eficiência dos serviços de engenharia clínica no Brasil..

Referências

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______. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada (RDC), n.º 63, de 25 de novembro de 2011. Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde. Brasília, 2011.

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¹ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2375-7594; Universidade de Brasília – Campus Gama, UnB, Brasil; E-mail: eng.martinichen@gmail.com.
²ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8584-9676; Universidade de Brasília – Campus Gama, UnB, Brasil; E-mail: mariliamfg@gmail.com.