CLIMATÉRIO E MENOPAUSA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:  AVANÇOS E DESAFIOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7647210


Vanessa Cristina de Oliveira1


RESUMO  

Introdução: O climatério representa um período de modificações biopsicossociais que  impactam na qualidade de vida feminina e demanda preparo para a integralidade da  assistência. A menopausa, que é a interrupção definitiva da menstruação, delimita esta  fase. O presente estudo teve como objetivo, identificar os avanços e os desafios na  assistência ao climatério e menopausa na rede de atenção primária à saúde. Metodologia: Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada nos preceitos da literatura. Os critérios de  inclusão foram artigos publicados na língua portuguesa nos anos de 2013 a 2023, os  critérios de exclusão foram artigos que não abordavam a temática proposta. Resultados  e Discussões: Foi evidenciado que a Atenção Primária à Saúde (APS), possui um papel  imprescindível voltado para a assistência às mulheres no período do climatério e da  menopausa que envolve a implementação de práticas voltadas para o diagnóstico precoce  e do tratamento dos sintomas climatéricos. Apesar dos esforços e avanços na inserção do  climatério nas políticas públicas de atenção à saúde da mulher, observa-se que na prática  há maior ênfase em programas materno-infantil. Conclusão: Sem descuidar dos avanços  obtidos, observa-se que ainda há um longo caminho a ser percorrido no sentido de que a  mulher possa usufruir em plenitude e na prática, os conceitos e pressupostos ensejados  pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher.  

Palavras chave: Climatério. Menopausa. Saúde Pública. Assistência à saúde.  

ABSTRACT  

Introduction: The climacteric represents a period of biopsychosocial changes that impact on the female quality of life and demands preparation for comprehensive care.  Menopause, which is the definitive interruption of menstruation, delimits this phase.  This study aimed to identify advances and challenges in climacteric and menopause care in the primary health care network. Methodology: This is a bibliographic review carried out according to the precepts of the literature. The inclusion criteria were articles published in Portuguese in the years 2013 to 2023, the exclusion criteria were articles that did not address the proposed theme. Results and Discussion: It was evidenced that  Primary Health Care (PHC) has an essential role aimed at assisting women in the climacteric and menopause period, which involves the implementation of practices aimed at the early diagnosis and treatment of climacteric symptoms. Despite efforts and advances in the insertion of climacteric in public policies for women’s health care, it is observed that, in practice, greater emphasis is placed on maternal-infant programs.  Conclusion: Without neglecting the advances made, it is observed that there is still a long way to go in the sense that women can fully and in practice enjoy the concepts and assumptions brought about by the National Policy for Integral Attention to Women’s  Health.  

Keywords: Climacteric. Menopause. Public health. Health care. 

1 INTRODUÇÃO  

O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde como uma fase  biológica da vida e não um processo patológico, caracterizado pela diminuição da função  ovariana, que ocorre na meia idade. A menopausa é o último acontecimento dessa fase,  correspondendo ao último ciclo menstrual, somente reconhecida depois de passados 12  meses da sua ocorrência (BRASIL, 2008).  

A menopausa, marcada pela interrupção fisiológica dos ciclos menstruais devido  ao fim da secreção hormonal dos ovários, é o termo mais conhecido da etapa de transição  da vida da mulher. Esse período é definido como “fim da ovulação” e por conseguinte  “não pode mais conceber” (FERREIRA et al., 2013).  

No climatério, fase de transição entre o período reprodutivo e não reprodutivo,  ocorre a falência dos folículos ovarianos e, de modo progressivo, a deficiência  estrogênica.  

Tal fase é associada com os sinais da menopausa, marcando o fim do período. Na  menopausa, com a falência ovariana, se estabelece um novo ciclo em que se manifestam  condições fisiológicas importantes. Portanto, a menopausa não é uma patologia, mas pode  estimular sinais e sintomas que careçam de controle e avaliação, com o objetivo de  garantir a qualidade de vida no processo de envelhecimento (SELBAC et al., 2018). 

A menopausa surge como um marco do processo de envelhecimento feminino.  Sendo o climatério um período de transição, ele consagra uma nova etapa do ciclo vital  da mulher trazendo uma série de mudanças biopsicossociais. Amiúde, essa nova etapa é  experimentada como uma crise pessoal que propõe a necessidade de uma reconstrução de  sua identidade (SELBAC et al., 2018).  

O climatério é uma fase proveniente da vida da mulher onde muitas passam por  ela sem lamentações ou intervenções medicamentosas. Outras têm sintomas que variam  na sua discrepância e intensidade. No entanto, em todos os casos, é fundamental que haja,  nessa fase da vida, um acompanhamento metódico visando à promoção da saúde, o  diagnóstico precoce, o tratamento imediato dos agravos e a prevenção de danos. Os  profissionais de saúde que atendem a população feminina devem cuidar para que haja a  maior efetividade possível (BRASIL, 2008).  

A Atenção Primária à Saúde (APS) é o nível mais apropriado para prestar esse  atendimento, já que é neste que se desenvolvem as ações de promoção da saúde e  prevenção de agravos. É relevante que os profissionais de saúde adotem estratégias para melhoria da qualidade de vida no climatério e na menopausa, pois as mulheres que estão  passando por esse processo necessitam vivenciar uma maior efetividade do serviço de  saúde a partir de orientações e intervenções que promovam sua saúde e seu bem-estar  (CAMPOS, 2022).  

O histórico das políticas públicas de saúde da mulher teve como marco, em 1984,  o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), experiência concreta de  inserção e incorporação do gênero nas políticas de saúde (LUZ; FRUTUOSO, 2021).  

Refletir no cuidado absoluto à saúde da mulher significa, entre outros aspectos,  colocar em análise as práticas profissionais, a estruturação dos serviços e as explicações  governamentais frente aos problemas de saúde dessa população específica. Nessa  perspectiva, insere-se a discussão sobre momentos da vida da mulher historicamente  negligenciados, como o climatério e a menopausa, fases de passagem do período  reprodutivo para o não reprodutivo (LUZ; FRUTUOSO, 2021).  

Nesse sentido, diante da importância do climatério e da menopausa, o presente  estudo tem como objetivo identificar os avanços e os desafios das políticas públicas na  assistência do climatério e da menopausa na rede de APS. Espera-se que os resultados  obtidos por este estudo, contribuam para a identificação de avanços e de lacunas  assistenciais, políticas e gerenciais, fornecendo informações relevantes para a  implementação de intervenções, no intuito de garantir a qualidade da assistência prestada  às mulheres no cuidado ao climatério e menopausa. Para alcançar esse objetivo será  realizada uma revisão sistemática da literatura.  

2 METODOLOGIA  

A metodologia empregada neste estudo foi uma pesquisa de revisão sistemática  da literatura. Este modelo de pesquisa compreende todos os trabalhos publicados que  oferecem um exame da literatura abrangendo assuntos específicos. São úteis para integrar  informações de estudos já realizados, podendo apresentar resultados contrários ou  semelhantes, bem como identificar temas que necessitem de evidências, contribuindo  para o direcionamento de investigações futuras (GALVÃO; RICARTE, 2019).  

Para identificação dos artigos acerca do assunto, realizou-se uma estratégia de  busca com base nas seguintes palavras-chave, consideradas descritores no DeCS  (Descritores em Ciências de Saúde): Climatério; Menopausa; Saúde Pública; Assistência  à Saúde. Estes descritores foram integrados por meio do operador lógico booleano “and”. 

Adotou-se como critérios de inclusão, artigos científicos publicados na língua  portuguesa, publicados no período de 2013 a 2023, indexados nas seguintes bases de  dados: LILACS (Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde) e SCIELO  (Scientific Electronic Library Online) e informações contidas em sites oficiais.  

Os critérios de exclusão foram artigos que não dispunham o texto na íntegra, e  aqueles que não abordavam a temática proposta.  

Efetuou-se uma leitura analítica e crítica do material levantado para facilitar a  construção do texto.  

3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS  

A saúde da mulher no climatério e na menopausa e suas demarcações nas  políticas públicas  

As primeiras políticas públicas direcionadas à saúde da mulher estiveram voltadas  ao ciclo gravídico-puerperal. Em 1984, é criado o Programa de Assistência Integral à  Saúde da Mulher (PAISM), com o objetivo de superar a abordagem centrada no binômio  materno infantil e focar no atendimento integral às necessidades de saúde das mulheres  (CUNHA et al, 2021). Porém, vale ressaltar que o PAISM se centrou no aspecto  biológico, distanciando-se da visão da mulher como um ser biopsicossocial, e dentre as  inúmeras lacunas do PAISM destaca-se a não atenção ao climatério e menopausa.  

Na APS, o PAISM é de extrema abrangência, uma vez que, as mulheres procuram  os serviços de saúde em maior número que os homens. Para resolver a essa questão, o  serviço de saúde deve ofertar atendimento que resulte em promoção da saúde, prevenção  de agravos e recuperação da saúde em todas as etapas do ciclo de vida da mulher  (FERNANDES et al, 2016; CUNHA at al, 2021).  

Ainda nessa perspectiva, duas décadas depois da publicação do PAISM, o  Ministério da Saúde (MS), instituiu em 2004, a Política Nacional de Assistência Integral  à Saúde da Mulher (PNAISM), de modo a concretizar e organizar as ações das diretrizes  do PAISM. A PNAISM incorpora a integralidade e a promoção da saúde como princípios  norteadores para atender as necessidades de saúde das mulheres, de forma abrangente,  humanizada e hierárquica. Em consonância com essa política, o MS criou estratégias que  garantissem impactos esperados sobre os indicadores de saúde da população, e a saúde da mulher foi contemplada, num compromisso firmado através do Pacto pela Saúde  (SILVA, 2016).  

Nesse sentido, visando reorganizar a APS, em 2004, o MS implementou Programa  Saúde da Família (PSF), hoje denominado, Estratégia Saúde da Família (ESF), que  pressupõe ações coletivas que possibilitam a realização de uma assistência à saúde na  atenção básica de forma integral, universal e equânime (JORGE et al, 2015).  

 Sendo a menopausa e o climatério eventos presentes na vida das mulheres, e  ocasionaram mudanças metabólicas, hormonais, sociais e psicológicas, é necessário que  o atendimento à mulher climatérica valorize a escuta qualificada, ansiando conhecer suas  dificuldades, experiências, questionamento, com intuito de vivenciar esta fase sem  mistérios, a fim de superar problemas de forma consciente, assim sendo, os profissionais  de saúde devem assumir a função de facilitadores, promovendo o cuidado das mulheres,  principalmente o autocuidado (BRASIL, 2008).  

A menopausa não pode ser tratada de forma padronizada, pois, a despeito de esse  acontecimento acometer todas as mulheres em uma determinada fase de sua vida, trata se de uma fase imbuída de significados e alterações diferenciadas em cada mulher, sendo  essas alterações principalmente biopsicossociais (FERREIRA, 2017). A parada da  menstruação resulta em diversos sentimentos para a mulher, causando ao mesmo tempo  sensações de alívio e de apreensão, acabam as restrições, desconfortos e preocupações  com gestação, mas se instala o receio, consciente ou não, da perda da feminilidade, do  valor social e da saúde (LUZ; FRUTUOSO, 2021).  

Em 2008, o Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa elaborado  pela Área Técnica da Saúde da Mulher (ATSM), reforçou os objetivos da Política  Nacional quanto à atenção ao climatério e ressaltou o acolhimento, o vínculo e a ética nas  relações entre profissionais e mulheres diante dos aspectos biopsicossociais,  consequência das transformações oriundas do climatério. As opções terapêuticas  preconizadas por esse manual contemplavam as indicações para a terapia de reposição  hormonal e alternativas de tratamento, como a fitoterapia e a homeopatia, em  concordância com diversas revisões científicas que apontavam os benefícios desses  tratamentos (LUZ; FRUTUOSO, 2021).  

Ainda nessa dimensão, adotando o Caderno de Protocolos da Atenção Básica, que  propõe uma abordagem humanizada das mulheres climatéricas, com o mínimo possível  de intervenção e de uso de tecnologias duras (exames, medicamentos), percebe-se a grande lacuna entre as diretrizes propostas e as práticas profissionais (LUZ; FRUTUOSO,  2021).  

Com base nessas prerrogativas, os protocolos e recomendações existentes sobre o  climatério, propõem mecanismos que asseguram o acesso e o acolhimento adequado às  mulheres, considerando a integralidade do cuidado por equipe multiprofissional. Nenhum  programa efetivo que tenha sido desenvolvido no âmbito da saúde básica está, de fato,  sendo aplicado para garantir melhorias na qualidade de vida das mulheres no período do  climatério e menopausa. A falta de profissionais preparados, de programas públicos  direcionados a orientações básicas e ao acompanhamento que auxilie na qualidade de vida  durante o climatério, são alguns fatores que corroboram à inadequação da assistência  prestada à essas mulheres na atenção primária à saúde (SOUZA et al, 2021).  

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Diante do exposto, podemos perceber, em rápida retrospectiva, que muitas  conquistas foram obtidas ao se pensar no modelo de atenção à saúde da mulher.  Entretanto, ainda se enfrenta desafios no que diz respeito à assistência prestada às  mulheres no climatério e menopausa.  

Reconhece-se também a escassez de estudos nesta área e necessidade de uma  maior interface entre estudos ginecológicos, psicológicos, psiquiátricos, e gerontológicos,  a fim de se aprofundar a detecção e explicação dos problemas, e a oferta de uma  abordagem terapêutica sistêmica e integrada entre o que expõe a importância de enfocar  melhor as questões relacionadas ao climatério. Não obstante, o estudo possibilita que os  profissionais, percebam a importância da assistência integral à saúde da mulher  climatérica e dessa forma haja uma melhor intervenção e a intensificação do  conhecimento para os profissionais e para as mulheres que estão passando ou irão passar  por esse período.  

Espera-se que as informações providas deste artigo, contribuam para a  identificação de avanços e de lacunas assistenciais, políticas gerenciais, fornecendo  informações relevantes para a implementação de intervenções, no intuito de garantir a  qualidade da assistência prestada às mulheres no climatério e menopausa e proporcionar  uma reflexão sobre os processos assistenciais atualmente aplicados. 

* Especialista em Saúde Pública com Ênfase em Estratégia Saúde da Família. Graduanda do curso  de Especialização em Saúde da Mulher do Centro Universitário São Camilo. orcid.org/0000- 0002-9475-3454. E-mail: upnessa@yahoo.com.br Climacteric and menopause in primary health care: advances and challenges for public policies.  

REFERÊNCIAS  

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília. Ministério  da saúde, 2008.192p. [acesso 10/dez./2022]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_mulher_climaterio.pdf

FERREIRA, Vanessa Nolasco; et al. Menopausa. Marco biopsicossocial do  envelhecimento feminino. Revista Psicologia e Sociedade. Juiz de Fora, v.25, n.2.,  p.419-419, fev.2013.  

SELBAC, Mariana Terezinha; et al. Mudanças comportamentais e fisiológicas  determinadas pelo ciclo biológico feminino- climatério à menopausa. Revista Alethéia.  Canoas, v.51, n. 1-2, p. 177-190, jan./dez 2018.  

CAMPOS, Poliana Ferreira; et al. Climatério e Menopausa: conhecimento e condutas de  enfermeiras que atuam na atenção primária à saúde. Rev. Enferm. UFSM. Santa Maria,  v.12, e41, p. 1-21, 2022.  

LUZ, Milene Mori Fereira; FRUTUOSO, Maria Fernanda Petroli. O olhar do profissional  da atenção primária sobre o cuidado à mulher climatérica. Revista Interface. Botucatu,  v.25, p.1-15, 2021.  

GALVÃO, Maria Cristiane Barbosa; RICARTE, Ivan Luiz Marques. Revisão Sistemática  da Literatura: Conceituação, produção e publicação. Revista Logeion. Rio de Janeiro, v.  6, n. 1, p. 57-73, set.2019/fev.2020.  

CUNHA, Maria Adnir Loyola; et al. Atendimento à mulher climatérica em unidade de  saúde: a integralidade em questão. Rev. Residencies Jornoul HRJ. [S.I]. V.2, n.11,  p.106-125,2021.  

FERNANDES, Leiliane Teixeira Bento; et al. Atuação do enfermeiro no gerenciamento  do programa de assistência integral à saúde da mulher. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. João Pessoa, V.20, n.3, p. 219-226, 2016.  

SILVA, Angel Maria. Atenção ao pré-natal, parto e pós-parto na perspectiva de  mulheres atendidas na Rede Cegonha [tese]. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem  Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2016.  

JORGE, Herla Maria Furtado; et al. Assistência pré-natal e políticas de saúde da mulher:  Revisão Integrativa. Rev Bras Promoç Saúde. Jan/mar; V.28, n. 1, p. 40-148, 2015.  

FERREIRA, Dayanne Marcelle Guedes. Assistência a mulher climatérica na atenção  primária à saúde: revisão integrativa de literatura. 2017.52f. Trabalho de conclusão  de curso. Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 2017. 

SOUZA, Bruna Mickaelly Silva; et al. Assistência à saúde da mulher climatérica: uma  revisão de literatura. Revista Research, Society and Development. [S.I]. V.10.n. 17,  e26101724332, 2021.


1Especialista em Saúde Pública com Ênfase em Estratégia Saúde da Família. Graduanda do curso
de Especialização em Saúde da Mulher do Centro Universitário São Camilo. orcid.org/0000-
0002-9475-3454. E-mail: upnessa@yahoo.com.br