CLAREAMENTO DENTAL: TÉCNICAS E POSSIBILIDADES

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10423939


Jonas David Carneiro Vieira1
Juan Miguel Antezana Vera2
Orientador:Saul Alfredo Antezana Vera3


Resumo

O clareamento dentário é uma das técnicas estéticas mais utilizadas atualmente para promover um sorriso harmônico. Porém, a escolha da técnica do agente clareador e a frequência do uso deve ser feita de forma adequada para evitar danos ou alterações na estrutura dentária. Embora existam diversos métodos de tratamento associados à estética dentária, o clareamento endógeno ainda é considerado o método de tratamento mais conservador. Objetivo deste estudo, é avaliar por meio de uma revisão sistemática sobre o clareamento dental em consultório, e a melhora da qualidade de vida dos pacientes submetidos ao tratamento. Foi utilizando as bases de dados eletrônicas, das quais foram selecionados artigos que avaliaram a qualidade de vida de pacientes submetidos a clareamento dental em consultório. Portanto, é de extrema importância que o profissional tenha pleno conhecimento das indicações e limitações do clareamento, sempre baseado no que é explicado na literatura, para atingir os objetivos com segurança, sem danificar as estruturas dentárias e obter resultados satisfatórios. A técnica de clareamento em consultório tem a mudança de cor desde a primeira semana de tratamento, enquanto a técnica de Walking Bleach, apresenta maior efeito clareador a partir da segunda semana de tratamento.

Palavras-chave: Clareamento dental, técnica Walking Bleach, Peróxido de carbamida.

TOOTH WHITENING: TECHNIQUES AND POSSIBILITIES

Abstract

Tooth whitening is one of the most widely used aesthetic techniques today to promote a harmonious smile. However, the choice of whitening agent technique and frequency of use must be made appropriately to avoid damage or alterations to the tooth structure. Although there are several treatment methods associated with dental aesthetics, endogenous whitening is still considered the most conservative treatment method. The aim of this study is to evaluate, by means of a systematic review, in-office tooth whitening and the improvement in the quality of life of patients undergoing treatment. Electronic databases were used to select articles that assessed the quality of life of patients undergoing in-office teeth whitening. Therefore, it is extremely important for professionals to have full knowledge of the indications and limitations of whitening, always based on what is explained in the literature, in order to achieve the objectives safely, without damaging dental structures and obtaining satisfactory results. The in-office whitening technique has a color change from the first week of treatment, while the Walking Bleach technique has a greater whitening effect from the second week of treatment.

Keywords: Dental bleaching, Walking Bleach technique, Carbamide peroxide.

INTRODUÇÃO

A autoestima tem relação com a qualidade de vida de uma pessoa, e diz respeito à forma de como o indivíduo se vê e define as suas próprias expectativas. Frente a este, a busca por procedimentos cosméticos dentários vem aumentando à medida que os pacientes desejam melhoraria na aparência dos dentes (Pereira et al. 2022). Para a maioria das pessoas, ter um sorriso bonito significa ter dentes alinhados e brancos, isso explicaria o aumento pela procura de clareamentos dentários.

As técnicas de clareamento dentário no consultório são bastante aceitas, sendo um método comum para remoção de manchas extrínsecas e intrínsecas. Podendo ser causadas por alterações oriundas de fatores tais como necrose pulpar, trauma e hemorragia intrapulpar, materiais endodônticos utilizados para obturação do canal radicular, medicamentos para uso intracanal, como também por iatrogenias e extrínseca de bebidas, tabaco e alimentos que contenham corante, ou ainda por cálculo de biofilme dentário (Kwon e Wertz, 2015; de Almeida et al. 2020). Desta forma, existem diversos fatores pelas quais os dentes podem escurecer, variando a sua origem, podendo ser causadas por pigmentações internas, externas ou uma combinação de ambas.

Especialmente a alteração da cor nos elementos anteriores são perceptíveis e são de insatisfação para os pacientes, podem produzir efeitos psicológicos e comprometer a harmonia do sorriso, autoestima, requerendo a intervenção de um profissional (Kwon e Wertz, 2015; Lima e de Mendonça, 2021).

Segundo os estudos de Vieira et al. (2021) o clareamento endógeno tem sido o tratamento mais recomendado para casos de escurecimento dentário, especialmente nos casos por trauma e posteriormente realizado tratamento endodôntico. de Lucena et al. (2015) descrevem que antes do início do clareamento endógeno, deve-se testar todas as opções do clareamento no consultório. Uma vez que dentes com grandes restaurações não devem ser clareados, porque a resina não muda de cor ao entrar em contato com o agente clareador. Como também analisar a presença de fissuras e observar certos aspectos do canal radicular do dente tratado. Além disso, observar se o elemento dentário está bem obturado, evitando assim infiltrações do agente clareador, prevenindo danos periapicais e periodontais (Vieira et al. 2021).

O agente clareador comumente usada é o peróxido de hidrogênio (H2O2) aplicada em dentes vitais ou não vitais. Esta solução aquosa é instável, quando se combina com a saliva e a estrutura dentária, se dissocia do oxigênio e da água sendo responsável pelo clareamento, no entanto, deve-se ter muito cuidado ao manuseá-las, pois altas concentrações de peróxido de hidrogênio são perigosas e tóxicas para os tecidos moles (Baratieri et al. 1995; Pontarollo e Coppla, 2019; Lima et al. 2023).

A permeabilidade da estrutura dentária permite o seu clareamento, uma vez que, as suas características permitem a propagação do oxigênio pelo esmalte e a dentina agindo sobre as estruturas orgânicas do dente, e consequentemente clareando-o. Quando os corantes causam pigmentação dental devido a exposto ao oxigênio, uma vez que este possui baixo massa molecular, conseguindo assim, penetrar o esmalte e a dentina. Esses pigmentos são constituídos por cadeias longas moleculares de alto massa molecular e sendo difíceis de serem removidas da estrutura dentária. O processo de clareamento quebra as cadeias longas deixando mais leves, e assim tornando mais claras. Desta maneira, o oxigênio por meio de reação oxirredução, promovem a quebra de moléculas longas ficando menores ao final do processo, e assim sendo suprimidas parcial ou totalmente da estrutura dental (Baratieri et al. 1995; Lima et al. 2023).

Partindo da premissa que os tratamentos devem ser simples, confiáveis, precisos e validados, e considerando os diferentes métodos de estudos clínicos para avaliar a relação do clareamento em consultório e os aspectos psicossociais, este estudo de revisão sistemática teve como objetivo descrever por meio de publicações relacionados a clareamento dental, descrevendo as possíveis dúvidas sobre o real efeito dos agentes clareadores na estrutura dental.

  MATERIAIS E MÉTODOS

Para a elaboração deste es tudo de revisão literária, foram realizado uma pesquisa na base de dados digitais de artigos científicos disponibilizados em: PubMed, SciELO, Google Acadêmio, Periódico Capes.Os critérios de inclusão foram os artigos publicados que abordassem temas e pesquisas dentro de “clareamento dental”, “doenças da polpa dentária”, “tratamentos de clareamento”, entre os mais relevantes.

REVISÃO DA LITERATURA

Existem diversas causas da mudança da cor dentária podem ser causadas por etiologias variadas, tais como tratamento endodôntico inadequadamente, necrose pulpar, traumatismos, manchamentos ao uso medicamentosa ou comorbidades, ou ainda  devido a alterações congênitas, como amelogênese imperfeita, dentinogênese imperfeita, hipoplasia de esmalte e porfirismo congênito, bem como alterações adquiridas, incluindo hipocalcificação do esmalte, fluorose dentária e outras alterações sistêmicas (Plotino et al. 2008; de Lucena et al. 2015).

Segundo os estudos de Plotino et al. (2008), o manchamento ou descoloração intrínseca podem ser por origens pré-eruptivas sendo: medicamentos (tetraciclinas); metabolismo (Fluorose); genética (hiperbilirrubinemia, amelogênese imperfeita, fibrose cística do pâncreas) e traumatismo dentário, ou por pós-eruptivas sendo: necrose pulpar; hemorragia intrapulmonar; tecido pulpar residual após o tratamento endodôntico – materiais endodônticos (medicamentos/irrigantes, selador de canal radicular); material restaurador; reabsorção radicular e processo de envelhecimento (Gupta e Saxena, 2014; Lima et al. 2023).

Clareamento endógeno e sua indicação

Os critérios que indicam o clareamento endógeno devem ser avaliados com muito cuidado e, podem somente ser realizados em dentes que não apresentem restaurações extensas ou coronária insuficiente, fratura no esmalte, raízes escurecidas e presença de lesões periapicais em tratamentos endodônticos. Obturações seladas em canais radiculares é um dos requisitos importantes para o clareamento de dentes tratados endodonticamente (Loguercio et al. 2002).

 O dente deve estar assintomático, e é necessário um período de espera e no caso de uma radiografia periapical estiver visível na radiografia, tais lesões devem ser observadas para determinar se a alteração está progredindo ou se é um processo de cicatrização é visível (Zimmerli et al. 2010).

De acordo com o estudo de Attin et al. (2003) é importante determinar se a descoloração dentária se origina internamente. Para avaliar o grau de descoloração do dente, primeiramente deve-se limpa toda a superfície. Outrossim, o paciente deve ser informado de que os resultados dos procedimentos de clareamento não são previsíveis e que a restauração total da cor não é garantida em todos os casos (Baratieri et al.1995; Pontarollo e Coppla, 2019).

Agentes clareadores

O peróxido de hidrogênio, mais comumente utilizado, na concentração de 30% por volume e 100% por peso, também conhecida por Superoxol, ou água oxigenada, cuja fórmula está representada por (solução de H2O2 30% + água) é ainda hoje a substância mais efetiva para o clareamento de dentes. Esta solução deve ser manuseada adequadamente, uma vez que é bastante corrosiva, devido a esta propriedade, ela é utilizada em diferentes concentrações (Zimmerli et al. 2010).

Kaiser e Beux (2013) descrevem que os agentes clareadores são oxidantes promovendo a oxidação de macromoléculas estáveis integradas na estrutura dentária, quebrando-a e deslocando para o meio esterno por meio de difusão, assim obtendo um efeito branqueador.

Os principais agentes atualmente utilizados para o clareamento endógeno são o perborato de sódio, o peróxido de hidrogênio e o peróxido de carbamida, manipulados isoladamente ou em combinação. O peróxido de hidrogênio a 30% e 35% é mais comumente usada para o clareamento de dentes não vitais, mas os agentes clareadores de peróxido de carbamida a 37% estão disponíveis no mercado em várias concentrações. O peróxido de hidrogênio também pode ser utilizado de forma isolada ou associada com perborato de sódio na forma de pasta espessa, selada na câmara pulpar, com ou sem a adição de calor (Sampaio et al. 2010; de Souza et al. 2020).

Como o nome indica, a ideia é aplicar o agente clareador tanto na superfície externa quanto interna do dente. A cavidade de acesso permanece aberta durante todo o processo de tratamento. Uma vantagem dessa técnica é que uma baixa concentração de gel clareador é suficiente para obter o efeito desejado (Zimmerli et al. 2010).

Efeitos adversos de clareamento endógeno

Segundo os estudos por Bersézio et al. (2018), os efeitos adversos do clareamento endógeno é a reabsorção radicular externa e, ainda que rara, pode resultar em perda dentária. Ainda assim, os efeitos variam de 1% a 13%, conforme descrito na literatura. Sabe-se que o alto poder oxidativo do peróxido de hidrogênio pode alterar as propriedades histológicas e morfológicas na estrutura dentária (Sato et al. 2013).

Outra limitação no clareamento de dentes tratados endodonticamente é a recidiva da cor obtida no início, devendo o paciente ser informado que os resultados do clareamento não podem ser totalmente presumíveis e alcançar a cor desejada, assim a durabilidade não pode ser assegurada em todos os casos (Attin et al. 2003).

Técnica Walking bleach

Esta técnica foi proposta originalmente por Spaser (1961) e foi modificada ao longo dos anos. Este tratamento consiste na adição de uma pasta espessa de perborato de sódio e peróxido de hidrogênio na cavidade pulpar. seguidamente, o dente é selado e o agente clareador é mantido na cavidade por 7 dias. O processo deve ser repetido até que o resultado desejado seja alcançado, no máximo em 4 sessões. hoje em dia é considerada a técnica com menor risco de induzir reabsorção cervical externa (Maciel et al. 2019). Além disso, tem produzido resultados positivos principalmente pelo seu conservadorismo e preço acessível, proporcionando rápido retorno estético e satisfação do paciente (de Lucena et al. 2015).

Assim, o sucesso do tratamento clareador depende da correta indicação, sendo essencial um bom exame clínico e físico para obter o resultado da saúde periapical, periodontal e gengival do paciente; também conhecer a etiologia do escurecimento do dente, para que o paciente não dê falsas expectativas sobre os possíveis resultados. Situações dentárias em que a superfície vestibular amplamente restaurada ou cariada, a existência de trincas dentárias, obturações mal adaptadas e canais mal obturados impedem o clareamento de dentes não vitais (Cardoso et al. 2011).

DISCUSSÃO

A estética facial está em ascensão, uma vez que a atratividade física tem um impacto significativo no comportamento social. Trauma psicológico relacionado com imagem corporal negativa e os fatores socioculturais por exemplo, padrões de beleza ideais através das redes sociais (Basting et al. 2012), assim o crescente procura por tratamentos estéticos, que incluem o clareamento dentário (Gurgan et al. 2010).

A indicação do clareamento em dentes despolpados após escurecimento recente, necrose ou em dentes jovens. No entanto, é contraindicado se for por pigmentação metálica, escurecimento antigo, medicamentos e fatores sistêmicos (fluorose) (Toledo et al. 2009). Em concordância Vieira et al. (2021) enfatizou que existem diversos fatores para o escurecimento dentário, onde diferentes medidas são utilizadas para restaurar uma cor mais harmoniosa da unidade escurecida. Portanto, o clareamento endógeno tornou-se uma opção de tratamento mais econômica, eficiente e conservadora do que a reabilitação estética como as facetas ou lentes de contato, onde a estrutura do elemento dentário exige desgaste.

A possibilidade de combinação a técnica de clareamento de consultório (técnica imediata) e da técnica do Walking bleach (técnica mediata) é aconselhada, pois esta combinação permite obter resultados satisfatórios com maior rapidez. Na técnica de consultório, o produto clareador pode ser ativado com luz ou calor (Attin et al. 2003; da Silva et al. 2022). Corroborando a esses princípios Dominges et al. (2018) mencionaram que a técnica de clareamento interno da mediata consiste na aplicação de curativo intracâmara pulpar, de pasta do pó de perborato de sódio é misturado com peroxido de hidrogênio por 3 a 5 dias. Também pode ser usado o perborato de sódio ligado a água destilada, mas nesta forma ele libera menos oxigênio, então os resultados podem não ser tão satisfatórios.

A eficácia da concentração do peróxido de hidrogênio 35% e do peróxido de carbamida 37% pode ser medida objetiva e subjetivamente, uma vez que ambas as fórmulas podem ser aplicadas em pequenos clareamentos dentários não vitais. Ambos os produtos apresentaram resultados satisfatórios após um período de um mês de tratamento (Bersezio et al. 2018). Por outro lado, discordando desses estudos Lucena et al. (2015) descreveu que o peróxido de hidrogênio a 30% pode afetar os componentes orgânicos e inorgânicos da dentina, podendo causar desnaturação proteica, danificando o substrato dentário e o material adesivo. Além disso, recomenda-se a restauração definitiva deste elemento após 7 a 10 dias, para afim de evitar danificar o sistema de adesão.

Segundo a literatura, o efeito colateral mais importante associado ao clareamento endógeno é a reabsorção radicular externa. Porém, a solução para evitar isso é adicionar uma camada protetora cervical do dente clareador, para que seja reduzida a possibilidade de o gel clareador penetrar nos túbulos dentinários (Toledo et al. 2009). Em divergência desses estudos da Silva et al. (2022) constataram no seu estudo que o método que utiliza perborato de sódio e água apresenta menor potencial de liberação de hidroxilas, o que leva a menor risco de efeitos adversos como reabsorção radicular externa.

A eficácia dos procedimentos de clareamento, o número de consultas, o tempo de atendimento, bem como a necessidade de cooperação e adesão do paciente, bem como sobre a possível recidiva da cor anterior do dente (Gupta e Saxena, 2014). Pacientes bem informados geralmente tendem a apresentar elevadas satisfações com o tratamento 8. Além disso, a escolha da técnica e dos agentes clareadores deve ser baseada em um diagnóstico adequado e na compreensão dos mecanismos clareadores e dos fatores biológicos associados ao sucesso dos resultados (Plotino et al. 2008; Gupta e Saxena, 2014).

CONCLUSÕES

A odontologia estética vem evoluindo e sofrendo mudanças ao longo dos anos, o clareamento endógeno também acompanhou as tendências deste segmento. Existem diferentes maneiras de tratar o escurecimento dos dentes, que pode ocorrer por vários motivos. O clareamento endógeno tornou-se assim uma opção de tratamento conservadora e eficaz em comparação à restauração estética. Em síntese, para que o tratamento de clareamento seja satisfatório, o profissional deve ter pleno conhecimento das indicações e limitações, por meio de um planejamento detalhado e à seleção dos materiais adequados, primando sempre pela integridade das estruturas dentárias.

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Jonas David Carneiro Vieira – Discente, Faculdade de Ciências Odontológicas de Manaus (FOM)1
Juan Miguel Antezana Vera – 2Prof. Dr. Faculdade de Ciências Odontológicas de Manaus (FOM)2
Saul Alfredo Antezana Vera3 – Orientador: Prof. Dr. Faculdade de Ciências Odontológicas de Manaus (FOM).