CLAMPEAMENTO TARDIO DO CORDÃO UMBILICAL E OS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE DO RECÉM-NASCIDO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8166126


¹Sabrina Teixeira Gomes
²Valéria Veronica Teodoro
Gismar Monteiro Castro Rodrigues
Nariman de Felicio Bortucan Lenza
Mariana Gondim Mariutti-Zeferino
³Natássia Carmo Lopes Queiroz Ferreira


RESUMO

O clampeamento do cordão umbilical é uma prática recorrente na rotina obstétrica, podendo ser reali- zada por profissional capacitado, preferencialmente por pediatra/neonatologista ou por enfermeiro obstetra/neonatal. Considera-se precoce àquele cordão umbilical clampado até o primeiro minuto do nasci- mento e tardio aquele realizado após o primeiro minuto ou quando ocorrer a parada da pulsação. O estudo teve como objetivo conhecer e sintetizar as evidências disponíveis na literatura sobre o clampeamento tardio do cordão umbilical e os benefícios para a saúde do recém-nascido. Trata-se de uma re- visão de literatura narrativa. Os estudos foram selecionados nas bases de dados: Scielo, Medline, Bdenf e Lillacs, incluídos na pesquisa trabalhos em português, publicados de 2011 a 2021. Resultado: Foram selecionadas nove evidências científicas e notou-se uma predominância da recomendação prática do clampeamento tardio. Ainda assim, diante de tantas vantagens do clampeamento tardio, a literatura aponta também algumas considerações com relação a contraindicar o procedimento. Conclui-se que a prática continua apresentando grande discussão e divergências na atualidade entre os profissionais de saúde que optam pelo procedimento precoce ou tardio. É necessário analisar as condições do recém- nascido e da mãe para optar sobre qual a melhor técnica a ser adotada e estimular a criação de protocolos institucionais para a adoção da prática.

Palavras-chave: Clampeamento tardio; Cordão umbilical; Recém-nascido.

1. INTRODUÇÃO

O clampeamento do cordão umbilical é um procedimento recorrente na rotina obstétrica, faz parte da conduta do trabalho de parto e tem sido frequentemente discutido nas últimas décadas (SOBIERAY; NEVES; SKROBOT, 2019. É um procedimento recomendado por ser fácil de ser realizado e possui baixo custo na tentativa de prevenir complicações futuras para o recém-nascido (BRASIL, 2011).

A assistência imediata ao RN5 deverá ser prestada por profissional capacitado, preferencialmente por pediatra/neonatologista ou por enfermeiro obstetra/neonatal, desde o início do trabalho de parto até o seu encaminhamento ao Alojamento Conjunto com a mãe ou à Unidade Neonatal (BRASIL, 2016).

O enfermeiro obstetra é inserido neste contexto, de acordo com a Resolução nº 0516 do COFEN6, em 2016, no artigo 3º, item VII. Este profissional tem com competência prestar assistência ao parto normal sem distocia (evolução fisiológica) e ao recém-nascido, realizando o clampeamento do cordão após este parar de pulsar ou após 3 minutos do nascimento, exceto em casos de necessidade de reanimação neonatal (BRASIL, 2016).

O Ministério da Saúde recomenda que o RN a termo com boa vitalidade deve ser secado e posicionado sobre o abdome da mãe ou ao nível da placenta por, no mínimo, um minuto, até o cordão umbilical parar de pulsar (aproximadamente três minutos após o nascimento), para só então realizar-se o clampeamento (BRASIL, 2012).

A OMS preconiza que seja realizado o clampeamento tardio, com tempo ideal de espera entre 1 a 3 minutos, ou até que pare de pulsar. Entende-se clampeamento precoce do cordão umbilical todo procedimento realizado até o primeiro minuto do nascimento. (OMS7, 2013), o qual é apenas recomendado em casos de necessidade de reanimação neonatal imediata e algumas doenças maternas, como: (HIV) Vírus da Imunodeficiência Humano e (HTLV) Vírus Linfotrópico de células-T Humano (SOBIERY; NEVES; SKROBOT,2019).

O sangue transferido para o recém-nascido entre o nascimento e o clampeamento do cordão umbilical é denominado de transfusão placentária. Consequentemente esse processo eleva o volume sanguíneo circulante no nascimento, garantindo uma melhor adaptação extrauterina (CASTRO; WESTPHAL; GOLDMAN, 2018).

Apesar dos benefícios da elevação dos níveis de ferritina, há que considerar a ocorrência inerentes do excesso da mesma, tais como a possibilidade de induzir à icterícia e Policitemia, que consiste no aumento da quantidade de hemácias, o que pode prorrogar a permanência hospitalar em função da necessidade de tratamento com fototerapia (GÓES, 2017).

Diante do exposto identificou-se a questão da pesquisa: quais os benefícios do clampleamento tardio do cordão umbilical para a saúde do recém-nascido?

É de grande relevância o estudo sobre o tema devido à necessidade de se compreender e dominar a técnica do procedimento conforme a recomendação da OMS, uma vez que há evidências científicas sobre os benefícios do clampleamento tardio (SOBIERY; NEVES; SKROBOT,2019).

As diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatizam a necessidade da adoção de boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento baseadas em evidências científicas. A aplicabilidade na enfermagem deve ser na participação em partos contribuindo com orientações e mudanças dos paradigmas de alguns profissionais que atuam neste campo visando assim maiores ganhos para a saúde do recém-nascido em tempo imediato e a longo prazo. Ainda assim, proporcionando a adoção da pratica, uma vez instituída como protocolo nas maternidades, de ser proporcionada ao binômio mãe-filho.

Deste modo a pesquisa tem possibilidade de contribuir com o conhecimento em relação aos efeitos benéficos do clampeamento tardio, em tempo ideal, para a saúde do recém-nascido, colaborando assim com o aperfeiçoamento desta prática para a equipe multidisciplinar.

2. OBJETIVO

Conhecer e sintetizar as evidências disponíveis na literatura sobre o clampeamento tardio do cordão umbilical e seus benefícios para a saúde do recém-nascido.

3. REFERÊNCIAL TEÓRICO

Atualmente, considera-se que o parto e o período pós-parto imediato, são momentos extraordinários e suscetível tanto para a parturiente como para o recém-nascido. Visto que o clampeamento do cordão umbilical, corriqueiramente é realizado de forma mecânica sem interrupções ao nascimento tornando-se imediata, não levando em consideração a prática ou consequências que o procedimento pode apresentar para o binômio (CASTRO; WESTPHAL; GOLDMAN, 2018).

Segundo a literatura, por volta do século XVIII, ocorreram informações do aumento da letalidade materna e infantil simultaneamente no parto e puerpério. A medicina acreditava que o clampeamento em tempo ideal do cordão umbilical, contribuiria em vantagens, para reduzir a letalidade materna e, relevantes aflições para aquele período. Considera-se que o episódio possibilitou a abertura de argumentação em qual seria a ocasião propícia para realizar o clampeamento do cordão umbilical, que mantêm a mesma na atualidade (CASTRO; WESTPHAL; GOLDMAN, 2018).

Em 1801, Erasmus Darwin, influente cientista deste período, contestava com ênfase ao clampeamento precoce. Em suas colocações estava a orientação de aguardar que descontinuas- sem as pulsações deste cordão, de outra maneira podendo vir a prejudicar o recém-nascido em consequência do sangue contido na placenta. Em 1875, Pierre Budin, conhecido como o fundador da neonatologia, publicou a seguinte pergunta: Qual o tempo apropriado para realizar o clampeamento do cordão umbilical? Expondo não haver uma prática ou certeza relacionado ao conteúdo proposto (CASTRO; WESTPHAL; GOLDMAN, 2018).

Na década de 1960 e 1970, buscas de estudos não identificados, abrangendo a contagem de clientes e prováveis impactos prejudicais ao recém-nascido, agregados ao clampeamento tardio, o qual reforçou o aumento do volume de sangue na transfusão placentária, podendo ocasionar alterações cardíacas, dificuldades respiratórias incluindo a Policitemia (CASTRO; WESTPHAL; GOLDMAN, 2018).

O debate sobre o momento ideal para realizar o procedimento após o nascimento tem registros desde o início do século anterior, quando as condutas obstétricas iniciaram e passaram de prática permanente de clampear imediatamente o cordão de 10 a 15 segundos para o tardio de um a três minutos depois do nascimento, prática atual e predominante em muitos cenários onde ocorre o parto. Diante disso, nota-se que existia pouca ou nenhuma evidência científica que justificasse o clampeamento imediato como prática de maior benefício para o recém-nascido (BRASIL, 2011. p.05).

3.1. Efeitos fisiológicos e fatores determinantes da transfusão placentária

A duração e a evolução do trabalho de parto vaginal são divididas em quatro períodos. O primeiro período ocorre a dilatação do colo uterino, o segundo é quando acontece a expulsão

do feto, terceiro acontece a dequitação ou expulsão da placenta e o quarto e último período é o de observação materna no pós-parto (FARIA, 2016).

Após o período do trabalho de parto relacionado à expulsão, existe circulação entre o recém-nascido e a placenta através da veia e das artérias umbilicais, o momento ideal do clampeamento do cordão umbilical propiciará benefícios quanto a quantidade de sangue do RN após o nascimento. A medida do volume de sangue residual placentário após o clampeamento da veia umbilical e as artérias em diferentes momentos, demonstrou-se que o sangue flui pelas artérias umbilicais, durante os primeiros 20 a 25 segundos após o nascimento, sendo indispensável que seja realizado o clampeamento após 40 a 45 segundos (BRASIL, 2012. p. 05-06).

Na veia do cordão umbilical o fluxo sanguíneo é contínuo da placenta para o RN por mais de três minutos depois do nascimento. Estudos tentaram medir o volume sanguíneo do neonato após clampear em momentos diferentes, o ponto médio aproximado dos valores estimados foi de 40 ml/kg de sangue placentário transferido, há espera de três minutos para pinçar o cordão. Isto representa um aumento de aproximadamente 50% no volume de sangue total do recém-nascido. A transfusão placentária também é indicada para o RN em todas as idades gestacional, no RN pré-termo (àquele que nascem antes das 37ª semanas de gestação), é relativamente menor, enquanto no RN a termo (entre 37 e 42 semanas), a transfusão apresenta maior eficácia (BRASIL, 2011. p.11).

A espera entre 30 a 45 segundos permitem elevado volume sanguíneo de 8 a 24%, no parto por via cesariana entre 2-16 ml/kg e no parto vaginal de 10 a 28 ml/kg, no início a velo- cidade de transfusão é rápida, após diminui lentamente e gradualmente. Aproximadamente 1/4 da transferência sanguínea ocorre nos primeiros 15 a 30 segundos após a contração uterina do nascimento, 50 e 78% da transfusão ocorre nos 60 segundos posteriores, e o restante ocorrerá até três minutos (BRASIL, 2011. p.11).

A quantidade sanguínea transferida pelo clampeamento imediato do cordão umbilical causa que acarreta em efeitos negativos, são mais presenciados nos prematuros e nos RN de baixo peso, devido ao seu menor volume sanguíneo feto-placentário, causando a dificuldade na adaptação cardiorrespiratória (BRASIL, 2011. p. 12).

Nesse sentido, a compreensão técnico científica e prática dos profissionais quanto ao melhor momento para o clampeamento do cordão e seus efeitos propicia assistência qualificada para o recém-nascido.

4. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura narrativa, acerca do tema: Clampeamento Tardio do Cordão Umbilical e os benefícios para a Saúde do Recém-Nascido, uma vez que eles são maiores que os riscos.

A “revisão narrativa” não utiliza critérios explícitos e sistemáticos para a busca e análise crítica da literatura. A busca pelos estudos não precisa esgotar as fontes de informações. Não aplica estratégias de busca sofisticadas e exaustivas. A seleção dos estudos e a interpretação das informações podem estar sujeitas à subjetividade dos autores (VOSGERAU; ROMANOWSKI, 2014).

Nesse tipo de estudo, são analisadas as produções bibliográficas em “determinada área […] fornecendo o estado da arte sobre um tópico específico, evidenciando novas ideias,

métodos, subtemas que têm recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada” (NORONHA; FERREIRA, 2000, p. 191).

A revisão de literatura ou revisão bibliográfica teria então dois propósitos: a construção de uma contextualização para o problema e a análise das possibilidades presentes na literatura consultada para a concepção do referencial teórico da pesquisa. Portanto, nesse tipo de produção, o material coletado pelo levantamento bibliográfico é organizado por procedência, ou seja, fontes científicas (artigos, teses, dissertações) e fontes de divulgação de ideias (revistas, sites, vídeos etc.), e, a partir de sua análise, permite ao pesquisador a elaboração de ensaios que favorecem a contextualização, problematização e uma primeira validação do quadro teórico a ser utilizado na investigação empreendida (VOSGERAU; ROMANOWSKI, 2014).

A questão norteadora para essa revisão foi: quais os benefícios do clampleamento tardio do cordão umbilical para a saúde do recém-nascido? Os estudos foram selecionados por meio de busca eletrônica nas seguintes bases de dados: Scielo, Medline, Bdenf e Lillacs.

Utilizou-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Clampeamento tardio, Cordão umbilical e Recém-nascido. Esses foram combinados por meio do operador boole- ano “AND” nas consultas. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: publicações em português e disponibilidade de textos completos e revistas de iniciação cientificas, disponíveis online, publicados de 2011 a 2021. Foram excluídos os artigos encontrados em duplicidade e que fugiram à temática proposta.

A coleta de dados ocorreu no período 23/08/2021 a 10/09/2022. Após a seleção dos registros que eram pertinentes ao tema, executou-se a leitura e análise minuciosa dos textos. Realizou-se a caracterização dos estudos segundo à autoria do estudo, ano de publicação, periódico, objetivo de pesquisa, e conclusão dos autores.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificados um total de 209 artigos científicos potencialmente relevantes. Após análise dos artigos pelo título e resumo que contemplasse o tema, foram excluídos 74 artigos. Após a leitura minuciosa dos artigos completos, permaneceram: 05 artigos na base de dados Scielo, 01 artigo Medline, 01 artigo Bdenf e 02 artigos no Lillacs. Restringiu-se para esta pesquisa 09 evidências científicas sobre o eixo temático, como ilustrado na figura 1.

Figura01: Fluxograma da busca das obras para compor a revisão narrativa. São Sebastião do Paraíso, MG, Brasil, 2021.

As evidências científicas identificadas na busca estão demonstradas no Quadro 1, a seguir, de maneira sumária.

Quadro1: Artigos incluído na revisão narrativa.

Autor(es)Ano de PublicaçãoTítulo dos artigos/Documento.Objetivo(s) da pesquisaConclusão do(s)Autor(s)
ALMEIDA, M.F.B.; RUTH GUINS- BURG, R. 2021.SBP-Reanimação do prematuro > 34 semanas em sala de parto.Implementar e a disseminar em larga escala as intervenções para melhorar a qualidade da assistência durante o parto e o nascimento.Estudos com RN IG ≥34 semanas indicam que o clampeamento tardio do cordão, quando comparado ao clampeamento imediato, é benéfico com relação à concentração de hemoglobina nas primeiras 24 horas após o nascimento e à concentração de ferritina nos primeiros 3 a 6 meses, embora possa elevar a frequência de policitemia, o que implica na necessidade de cuidado quanto ao aparecimento e acompanhamento da icterícia nos primeiros dias de vida.
BRASIL. Ministério da Saúde. 2011.Além da sobrevivência: Práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças.Conhecer os benefícios imediatos e no longo prazo, na saúde e na nutrição, do clampeamento tardio do cordão umbilical.As evidências dos benefícios vão muito além da sobrevivência, demonstrando efeitos no longo prazo na saúde da mãe e da criança, e na nutrição e desenvolvimento cognitivo desta. Ao contrário de muitas intervenções para salvar vidas, a implementação da prática do clampeamento tardio não implica custos recorrentes.
GÓES, J. 2017.Clampeamento tardio do Cordão Umbilical.Avaliar a influência do clampleamento tardio do cordão umbilical na indicação de tratamento de fototerapia nos recém nascidos a termo.Concluiu que atrasar o clampeamento do cordão umbilical em um minuto ou mais aumentou os níveis de bilirrubina total nas primeiras 72 horas de vida, porém esta prática não acarretou maiores taxas de policitemia, maior necessidade de tratamento com fototerapia ou tempo de internação mais prolongado para realizar este tratamento.
GUINS- BURG, R; ALMEIDA, M. F. B. 2021.Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria. SBP- reanimação do prematuro < 34 semanas em sala de parto.Conscientizar a comunidade para a importância da assistência nesse período crítico de transição para o ambiente extrauterino.O clampeamento de cordão em RNPT com boa vitalidade ao nascer após 30 segundos resulta em menor frequência de hemorragia intracraniana e enterocolite necrosante, além de diminuir a necessidade de transfusões sanguíneas, embora se comprove a elevação da bilirrubinemia indireta, com indicação de fototerapia.
MAGIONI, H. 2013.Qual o melhor momento para corte do cordão.Prestar assistência à saúde materno-infantil. Tendo como valores o atendimento humanizado personalizado, excelente técnica e medicina baseada em evidências científicas.O corte precoce do cordão aumenta o risco de o RN ter anemia. O clampeamento tardio do cordão, diminui o risco de hemorragia intraventricular, enterocolite necrosante, sepse infantil e transfusão de sangue.
OLIVEIRA, F, C. C. et al. 2014.Tempo de clampeamento e fatores associados à reserva de ferro de neonatos a termoAnalisar o impacto do tempo de clampeamento e parâmetros obstétricos, biológicos e socioeconômicos sobre a reserva de ferro em neonatos nascidos a termo.O combate à anemia deve envolver a implementação de um critério de clampeamento tardio do cordão umbilical para as diretrizes de trabalho de parto.
OMS, Estados Unidos/ Brasil. 2013.O clampeamento tardio do cordão umbilical reduz a anemia infantil.Melhorar a anemia infantil, reduzir a deficiência de ferro através de procedimento, visando a prevenção e profilaxia.A Organização Mundial de Saúde (OMS), recomenda-se a prática do clampeamento tardio do cordão umbilical, por permitir a continuidade de sangue via transplacentária para o RN e consequentemente eleva as reservas de ferro até aos seis meses de vida, contribuindo com os prematuros, prevenindo a ocorrências de enterocolite necrosante e sepse infantil.
SOBIERAY, N.L.E.C; NEVES, I.S; SKROBOT, T. 2019.Relação entre o tempo de clampeamento do cordão umbilical e incidência de Icterícia Neonatal e níveis de hematócrito em recém-nascidos a termo saudáveisAnalisar a relação entre o tempo de clampeamento do cordão umbilical e incidência de Icterícia Neonatal e níveis de hematócrito.A média do tempo de clampeamento dos grupos foi bastante similar, o que não nos permitiu concluir que RN com maior tempo de clampeamento apresentaram mais icterícia. No entanto, o risco relativo foi maior para esta situação. Os níveis de hematócrito foram maiores no grupo com clampeamento tardio. Outros estudos são necessários para se avaliar o impacto na prevenção de Anemia no lactente.
VITRAL, G. L.N. et al. 2017.Clampeamento oportuno de cordão umbilical e suas repercussões na concentração de hemoglobina neonatal.Avaliar a influência do clampeamento de cordão umbilical nos valores de hemoglobina do primeiro heritrograma neonatal.O procedimento tardio mostrou ser vantajoso em relação ao precoce. Abordagem contribui para uma reflexão da assistência ao neonato, visto que efeitos benéficos foram confirmados em relação ao retardamento da laqueadura do cordão. RN a termo de mães saudáveis apresentaram reservas de ferro maiores que os submetidos ao precoce. Estudos apontaram evidências de que a demora em relação aos cuida- dos com o cordão está associada a uma concentração de hemoglobina e ferro superior aos seis meses de vida e menor incidência de anemia aos quatro meses.

Fonte: (Gomes; Teodoro; Ferreira, São Sebastião do Paraiso MG. Brasil, 2021).

Nos estudos encontrados, nota-se uma predominância da recomendação prática do clampeamento tardio. Nos estudos da OMS (2013) e Guinsburg; Almeida (2021), recomenda- se esta prática por permitir a continuidade de sangue via transplacentária para o RN e com o objetivo de elevar as reservas de ferro até aos seis meses de vida. O procedimento diminuiu a necessidade de transfusões sanguíneas, embora tem a elevação da bilirrubinemia indireta, com indicação de fototerapia.

Reiterando a importância da técnica, Magioni (2013) afirma que o corte precoce do cordão aumenta o risco de apresentar anemia. Por isso o clampeamento tardio do cordão, diminui o risco de hemorragia intraventricular, enterocolite necrosante e sepse infantil.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) descreve evidências dos benefícios que vão muito além da sobrevivência, demonstrando efeitos a longo prazo na saúde da mãe e da criança, e na nutrição e desenvolvimento cognitivo desta. Ao contrário de muitas intervenções para salvar vidas, a implementação da prática do clampeamento tardio não implica custos recorrentes.

Vitral (2017) e colaboradores afirmam que o procedimento tardio se mostrou vantajoso em relação ao precoce. A abordagem contribui para uma reflexão da assistência ao neonato, visto que efeitos benéficos foram confirmados em relação ao retardamento da laqueadura do cordão. Recém-nascido a termo de puérperas saudáveis apresentaram reservas de ferro maiores que os submetidos ao precoce.

Estudos de Oliveira, et al., (2014) apontaram evidências de que a demora em relação aos cuidados com o cordão umbilical está associada a uma concentração de hemoglobina e ferro superior aos seis meses de vida e menor incidência de anemia aos quatro meses. A (OMS, 2013) recomenda que o combate à anemia deve envolver a implementação de um critério de clampeamento tardio do cordão umbilical para as diretrizes de trabalho de parto.

Com relação aos recém-nascidos prematuros, Guinsburg; Almeida, (2021) descrevem que estudos com RN IG8 igual ou superior a 34 semanas indicam que o clampeamento tardio do cordão, quando comparado ao clampeamento imediato, é benéfico com relação à concentração de hemoglobina nas primeiras 24 horas após o nascimento e à concentração de ferritina nos primeiros 3 a 6 meses, embora possa elevar a frequência de policitemia, o que implica na necessidade de cuidado quanto ao aparecimento e acompanhamento da icterícia nos primeiros dias de vida.

Na pesquisa de Sobieray; Neves; Skrobot, (2019), descreve que a média do tempo de clampeamento dos grupos de recém-nascidos pré-maturo, pré-termo e a termo com boa vitalidade foi bastante similar, o que não permitiu concluir que RN com maior tempo de clampeamento apresentou mais icterícia. No entanto, o risco relativo foi maior para esta situação. Os níveis de hematócrito foram maiores no grupo com clampeamento tardio. O trabalho indicou que outros estudos são necessários para se avaliar o impacto na prevenção de Anemia no lactente.

Góes (2017) relata que atrasar o clampeamento do cordão umbilical em um minuto ou mais aumentou os níveis de bilirrubina total nas primeiras 72 horas de vida, porém esta prática não acarretou maiores taxas de policitemia, maior necessidade de tratamento com fototerapia ou tempo de internação mais prolongado para realizar este tratamento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda-se que após nascimento do RN com respiração, choro imediato e presença de tônus muscular ao nascimento deve-se clampear o cordão umbilical entre 1 a 3 minutos. O neonato deve ser colocado no abdome ou tórax da mãe para evitar hipotermia corporal, enquanto se espera o momento ideal para o procedimento. As vantagens do clampeamento tardio do cordão umbilical, os efeitos imediatos em prématuro, pré-termo e baixo peso ao nascer, diminui o risco de hemorragia intraventricular, enterocolite necrosante, sepse neonatal, diminui a necessidade de transfusão sanguínea, uso de surfactante e ventilação mecânica. Eleva as taxas de hematócrito, hemoglobina, pressão sanguínea, oxigenação cerebral e estabilidade cardiovascular (GUINSBURG; ALMEIDA, 2021).

A longo prazo os efeitos nos pré-termo e de baixo peso são aumento significativo da hemoglobina na décima semana de vida. No recém-nascido a termo melhora o estado hematológico no período de 2 a 4 meses de vida, reserva de ferritina até o primeiro semestre de vida, prevenção contra anemia no primeiro ano de vida e aumenta as chances de sobrevida na infância (VITRAL, et al., 2017).

Por isso a prática do clampeamento tardio do cordão umbilical, por permitir a continuidade de sangue via transplacentária para o RN e consequentemente eleva as reservas de ferro até aos seis meses de vida, contribuindo com os RNs prematuros, prevenindo as ocorrências provenientes da própria prematuridade. Uma vez que há evidências dos benefícios na nutrição e desenvolvimento cognitivo desta prática. Ao contrário de muitas intervenções para salvar vidas, a implementação da prática tardia não implica custos recorrentes (BRASIL, 2011).

Alguns estudos afirmam a necessidade do clampeamento imediato, principalmente nos casos que apresentam adversidades com a circulação placentária como: descolamento prematuro de placenta, placenta prévia, ruptura, prolapso ou nó verdadeiro de cordão. Aquele RN que não apresentar sinais vitais ao nascer, apresenta maior possibilidade de ser encaminhado para unidade de cuidados intermediários ou intensivos e com risco de morte nas primeiras 24 horas de vida, neste contexto não há benefício no clampeamento tardio (GUINSBURG; ALMEIDA, 2021)

Ainda assim, diante de tantas vantagens do clampeamento tardio, a literatura aponta também algumas considerações com relação a contraindicar o procedimento, tais como: doenças maternas como o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e HTLV (Vírus Linfotrópico de Células T Humana) são retrovírus que infecta células importante do sistema imunológico, icterícia neonatal, que pode causar hiperbilirrubina indireta na primeira semana de vida, falta de conhecimento por alguns profissionais, divergências em opiniões e as recomendações dos mesmos quanto a prática (BRASIL, 2011).

As recomendações da OMS para 2012 declaram que o clampeamento tardio do cordão umbilical é recomendado até mesmo em parturientes soropositivas ou com status sorológico para o HIV desconhecido. O mesmo é transmitido verticalmente por meio de microtransfusões de sangue materno durante a gravidez, da exposição ao sangue e a membranas mucosas durante o parto vaginal ou por meio do aleitamento materno (OMS, 2013).

Durante o tempo entre o nascimento e o clampeamento, o fluxo sanguíneo da placenta para o recém-nascido é o mesmo fluxo que ocorre durante a gestação. Não há evidências de que 1 a 3 minutos de fluxo sanguíneo adicional da placenta após o nascimento aumente a possibilidade de transmissão. As recomendações da OMS são incentivadas como uma prática recomendada. O procedimento deve ser praticado no contexto de outros elementos de prevenção da transmissão vertical, na redução da carga viral materna, com fármacos antirretrovirais no período gestacional, parto e puerpério. os protocolos devem ser seguidos, incluindo testes e aconselhamento pré-natais e no período intraparto, profilaxia materno-infantil adequada e acompanhamento para serviços de epidemiologia, (OMS, 2013).

Durante o tempo que o recém-nascido está ligado ao cordão umbilical e o mesmo está pulsando, recebendo irrigação sanguínea pelos vasos do cordão, o sangue é rico em ferro, que irá suprir a necessidade do RN durante os primeiros meses. O corte precoce do cordão predispõe ao risco de anemia. E o clampeamento tardio diminui o risco de hemorragias intraventricular, enterocolite necrosante, sepse infantil e necessidade de hemotransfusões (MAGIONI, 2013).

Estudos e pesquisas presenciaram benefícios quando se retarda o clampeamento do cordão umbilical, o estoque de ferro é elevado ao nascimento, conservando-se no decorrer do primeiro ano de vida do recém-nascido, capaz de controlar a anemia ferropriva nesse período do desenvolvimento desta criança (CASTRO; WESTPHAL; GOLDMAN,2018).

O ferro é o principal elemento descrito como indicação do clampeamento tardio, sendo um micronutriente essencial para o desenvolvimento de uma criança, desde o sistema imunológico ao desenvolvimento neurológico. Quando as mães seguem a recomendação de amamentar exclusivamente durante os primeiros 6 meses de vida, o leite materno fornece apenas uma pequena quantidade de ferro ao RN. Para atender às altas exigências de ferritina durante este período de crescimento e desenvolvimento, depende de suas reservas adquiridas no nascimento. É sugerido que clampar o cordão umbilical tardiamente fornece até 75 mg de ferro (um supri- mento de 3,5 meses) nos primeiros 6 meses de vida e que o maior benefício é constatado em recém-nascido a termo de mães com deficiência de ferro e em RN com pesos ao nascimento inferiores a 3.000 kg (OMS, 2013).

O clampeamento tardio do cordão umbilical, no período neonatal que corresponde do nascimento termina após os vinte e oito dias completo do nascimento, propicia um aumento dos níveis de hematócrito, hemoglobina e, por conseguinte de ferritina além de reduzir o risco de anemia por deficiência de ferro, nos primeiros semestres de vida em recém-nascidos à termo. Este é um fator positivo pois contribui para a redução dos índices de anemia ferropriva nas populações (GÓES, 2017).

Os profissionais de enfermagem que compreendem e atuam de forma ativa e humanizada, durante o trabalho de parto e parto devem respeitar, conhecer, entender os direitos, as necessidades individuais e limites de cada gestante, sendo quesitos importante na assistência humanizada e de qualidade. Dentre as diversas e inúmeras funções e deveres, e incumbência da equipe estar capacitada e conscientizada sobre humanização do parto e nascimento (DAMACENO, 2015).

A inserção do enfermeiro na equipe multiprofissional na atenção ao parto e nascimento assegura o cuidado humanizado às parturientes e RN. A relevância de sua participação ativa neste contexto está na garantia do cuidado integral e holístico e com o mínimo de intervenções. A adoção de boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento baseadas em evidências científicas reforçam o parto como um evento natural, uma vez que o RN necessita de cuidados que, na maioria das vezes, podem ser inteiramente proporcionados pelo profissional enfermeiro durante o acompanhamento do trabalho de parto, parto e nascimento (BRASIL, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão narrativa da literatura, nos proporcionou analisar o que vem sendo discutido nos últimos dez anos, em relação ao procedimento clampeamento do cordão umbilical e os efeitos que apresenta para a saúde do recém-nascido em tempo imediato e a longo prazo. Foram selecionadas nove evidências científicas nas bases de dados e notou-se uma predominância da recomendação prática do clampeamento tardio. Ainda assim, diante de tantas vantagens, a literatura aponta também algumas considerações com relação a contraindicar o procedimento.

Os efeitos aos RNs foram comprovados em diversos estudos de diferentes naturezas, o tempo que o procedimento é realizado pode levar a vantagens e desvantagens para saúde do mesmo. Porém as vantagens sobressaem em relação as desvantagens conforme foi descrita nos resultados e discussão. O importante é verificar e comprovar se o local que oferece o atendimento as parturientes, se são adequadas e equipe capacitada para diagnosticar e tratar possíveis causas decorrente dos efeitos do clampeamento tardio.

A prática continua apresentando grande discussão e divergências na atualidade entre os profissionais de saúde que optam pelo procedimento precoce ou tardio, principalmente o procedimento tardio, que demonstrou efeitos benéficos aos recém-nascidos, respeitando sempre as condições clínicas que o mesmo apresenta ao nascimento.

Em consideração e evidências comprovadas cientificamente a respeito dos benefícios do clampeamento tardio do cordão umbilical para saúde do recém-nascido, é de grande relevância e competência do enfermeiro obstetra, que poderia contribuir ao conscientizar toda a equipe atuante sobre a importância da prática em todas as vias de parto.

A elaboração de protocolos nas maternidades com intuito de inserir tal prática como rotineira, acompanhada de capacitações permanentes da equipe multiprofissional, além de incluir o procedimento como padrão nas instituições, poderia garantir uma assistência mais qualificada ao binômio mãe-filho.

REFÊRENCIAS

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CLAMPEAMENTO TARDIO DO CORDÃO UMBILICAL E OS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE DO RECÉM-NASCIDO, Artigo submetido em 17/10/2022, e apresentado à Libertas – Faculdades Integradas, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem, em 03/11/2022.

5 RN – Recém-nascido

6 COFEN – Conselho Federal de Enfermagem

7 WORD HEATH ORGANIZATION, Organização Mundial da Saúde, OMS, 2013

8 O RN pode ser classificado quanto, à idade gestacional (IG).


¹Graduanda em Enfermagem pela Libertas – Faculdades Integradas – E-mail: sabrigomes1110@gmail.com

²Graduanda em Enfermagem pela Libertas – Faculdades Integradas – E-mail: valeriateodoro2018@gmail.com

³Professora-orientadora. Mestra em Tecnologia e Inovação em Enfermagem – EERP – (USP) Universidade de São Paulo, Docente na Libertas – Faculdades Integradas – E-mail: natassiaferreira@libertas.edu.br