CISTO COLOIDE DO TERCEIRO VENTRÍCULO. RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7374741


Henrique Bosio Zemel1
Dionei Freitas de Morais1
Matheus Rodrigo Laurenti1
Carlos Eduardo Dall’Aglio Rocha1


Resumo

Intrudução: Os cistos colóides são tumores intracranianos benignos geralmente localizados no terceiro ventrículo do cérebro. Acredita-se que esses tumores representem 1 em cada 5 tumores intraventriculares primários. No presente trabalho foi relatado caso de cisto coloide de terceiro ventrículo com quadro clínico obstrução liquórica.

Relato de Caso: Paciente, 46 anos com história de cefaleia com piora progressiva com piora recente e surgimento de vertigem, náuseas, vômitos e quadros esporádicos de síncope. Foi realizada Ressonância Magnética Encefálica evidenciando lesão em terceiro ventrículo compatível com Cisto Coloide. Foi indicada exérese microcirúrgica da lesão. Procedimento foi realizado sem intercorrências. A paciente evoluiu satisfatoriamente recebendo alta hospitalar no quarto dia após a cirurgia.

Conclusão: Os cistos colóides do terceiro ventrículo constituem neoplasias intracranianas de evolução lenta e muitas vezes assintomática até a sua descompensação com quadro de hidrocefalia aguda que pode ser ameaçadora a vida. A suspeição de tal patologia baseada nos seus achados clínicos e sua ativa investigação se fazem necessárias para propiciar diagnóstico e tratamento precoces, diminuindo a morbimortalidade da doença.

Palavras Chave: Cisto Coloide; Terceiro Ventrículo; Microcirurgia.

INTRODUÇÃO

Os cistos colóides são tumores intracranianos benignos geralmente localizados no terceiro ventrículo do cérebro. Embora os cistos colóides sejam causas raras de tumores intracranianos, acredita-se que esses tumores representem 1 em cada 5 tumores intraventriculares primários. No presente trabalho foi relatado caso de cisto coloide de terceiro ventrículo com quadro clínico obstrução liquórica e foi realizada revisão da literatura acerca do tema.

RELATO DE CASO

Paciente, 46 anos, sexo feminino, com historia de cefaleia com piora progressiva há 4 anos. Nos últimos 3 meses refere piora de cefaleia e surgimento de vertigem, náuseas, vômitos e quadros esporádicos de síncope. Em investigação, foi realizada Ressonância Magnética Encefálica evidenciando lesão de 9 milímetros ovalada localizada em terceiro ventrículo, hiperintensa na sequência ponderada em T1 e hipointensa em T2, com realce ao contraste paramagnético, e sinais de dilatação dos ventrículos laterais (Figuras 1 e 2). Foi indicada exérese microcirúrgica da lesão através de acesso parassagital transcaloso. Procedimento foi realizado sem intercorrências. A paciente evoluiu satisfatoriamente no pós-operatório, recebendo alta hospitalar no quarto dia após a cirurgia já com melhora dos sintomas e foi encaminhada para seguimento ambulatorial.

DISCUSSÃO

Os cistos colóides do terceiro ventrículo são tumores intracranianos benignos e representam aproximadamente 2% das neoplasias intracranianas2. Apresentam taxa de incidência estimada de 0,9 casos por milhão de habitantes. A composição desses cistos geralmente inclui uma camada externa feita de tecido conjuntivo e uma camada epitelial interna que é ciliada e produtora de mucina. Os cistos consistem em um material amorfo e gelatinoso3. Como os cistos colóides são uma malformação do desenvolvimento, eles podem estar presentes no início da infância, mas podem permanecer assintomáticos, o que se deve em parte à natureza de crescimento lento desse tumor intracraniano. Os cistos apresentam em média 1–2 cm de diâmetro, e podem aumentar com o tempo devido ao acúmulo de produtos descamados e secretores3. Os sintomas geralmente são inespecíficos e incluem sinais de aumento da pressão intracraniana, como cefaléia, náuseas, vômitos, papiledema, hipertensão intracraniana, alterações hemorrágicas e raramente morte súbita1. Esses sintomas se manifestam quando há obstrução do fluxo para o líquor, o que ocorre mais frequente nos Forames de Monro. A ressonância magnética é o exame de imagem de escolha para o diagnóstico dessa patologia e demonstra uma lesão hiperintensa na imagem ponderada em T1 e hipointensa na imagem ponderada em T24. No caso de obstrução do fluxo liquórico a nível do Forame de Monro, a RM mostrará ventriculomegalia dos ventrículos laterais com tamanho normal do terceiro e quarto ventrículo. A hidrocefalia aguda devido à obstrução é tratada com intervenção cirúrgica. Com base na apresentação do paciente, uma ventriculostomia ou derivação liquórica pode ser necessária como tratamento inicial para diminuir efetivamente a pressão intracraniana e aliviar os sintomas, mas é uma medida temporária. A realização desse procedimento pode ajudar a diminuir o risco de déficits neurológicos persistentes. A longo prazo, a intervenção neurocirúrgica para remoção da obstrução é imperativa. Existem várias abordagens possíveis para a remoção desses cistos que foram bem-sucedidas, como as abordagens transcortical ou transcallosal, bem como aspiração estereotáxica ou endoscópica1.

CONCLUSÃO

Os cistos coloides do terceiro ventrículo constituem neoplasias intracranianas de evolução lenta e muitas vezes assintomática até a sua descompensação com quadro de hidrocefalia aguda que pode ser ameaçadora a vida. A suspeição de tal patologia baseada nos seus achados clínicos e sua ativa investigação se fazem necessárias para propiciar diagnóstico e tratamento precoces, diminuindo a morbimortalidade da doença.

IMAGENS:

Figura 1: Ressonância Magnética encefálica em corte sagital evidenciando Cisto Coloide de Terceiro Ventrículo

Figura 2: Ressonância Magnética encefálica em corte coronal evidenciando Cisto Coloide de Terceiro Ventrículo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Goldberg, E. M., Schwartz, E. S., Younkin, D., & Myers, S. R. (2011). Atypical syncope in a child due to a colloid cyst of the third ventricle. Pediatric Neurology45(5), 331–334. https://doi.org/10.1016/j.pediatrneurol.2011.08.005

Kabashi, A., Dedushi, K., Ymeri, L., Ametxhekaj, I., & Shatri, M. (2020). Colloid cyst of the third ventricle: Case report and literature review. Acta Informatica Medica: AIM: Journal of the Society for Medical Informatics of Bosnia & Herzegovina: Casopis Drustva Za Medicinsku Informatiku BiH28(4), 283–286. https://doi.org/10.5455/aim.2020.28.283-286

O’Neill, A. H., Gragnaniello, C., & Lai, L. T. (2018). Natural history of incidental colloid cysts of the third ventricle: A systematic review. Journal of Clinical Neuroscience: Official Journal of the Neurosurgical Society of Australasia53, 122–126. https://doi.org/10.1016/j.jocn.2018.04.061Roberts, A., Jackson, A., Bangar, S., & Moussa, M. (2021). Colloid cyst of the third ventricle. Journal of the American College of Emergency Physicians Open2(4), e12503.
https://doi.org/10.1002/emp2.12503


1Departamento de Neurocirurgia, Hospital de Base de São José do Rio Preto E-mail: henriquebz@terra.com.br