REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10078685
Rafael Tagori de Melo Cutrim Martins1
Ana Luiza Rodrigues Guerra2
Bárbara Chaves Lopes Machado3
Simone de Sousa Zeballos4
Resumo – Este trabalho objetiva a apresentação de caso clínico de Cisto Branquial Infectado em paciente pediátrico avaliado no Serviço de Pronto Socorro Pediátrico do Hospital Geral Público da cidade de Palmas/TO, acompanhando sua evolução até o momento da resolução do quadro. Ao exame inicial paciente de 02 meses de idade apresentando abaulamento associado a sinais flogísticos locais em topografia cervical esquerda, associada a dificuldade de movimentação e de deglutição. Após avaliação do quadro pelo Serviço de Cirurgia Pediátrica e pelo Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HGPP, procedeu-se a abordagem cirúrgica com drenagem de cisto branquial infectado à esquerda, (com coleta de amostra para análise laboratorial) até completa remoção de material, inserção de Dreno de Penrose seguido por fixação à pele, mantendo-se a paciente em acompanhamento hospitalar em leito de emergência.
Palavras-chave: Cisto, Branquial, Pediatria, Edema, Pescoço
Abstract – This paper aims to present a clinical case of Infected Branchial Cyst in a pediatric patient evaluated at the Pediatric Emergency Service of the General Public Hospital in the city of Palmas/TO, following its evolution until the moment of resolution of the condition. At the initial examination, a 2-month-old patient presented with bulging associated with local phlogistic signs in the left cervical topography, associated with difficulty in movement and swallowing. After evaluation of the condition by the Pediatric Surgery Service and by the Head and Neck Surgery Service of the HGPP, a surgical approach was performed with drainage of the infected branchial cyst on the left, (with collection of samples for laboratory analysis) until complete removal of material, insertion of Penrose Drain followed by fixation to the skin, keeping the patient under hospital follow-up in an emergency bed.
Keywords: Cyst, Branchial, Pediatrics, Edema, Neck
Introdução
A maioria das massas cervicais na população pediátrica são congênitas ou de origem inflamatória, exigindo uma compreensão anatômica e embriológica da região cervical, bem como análise cuidadosa para afastamento de condição de malignidade. ( GOINS & BEASLEY, 2012)
De acordo com Carvalho et al (2008), o aparelho branquial é constituído de cinco arcos de origem mesodérmica, sendo separados, externamente, por sulcos de origem ectodérmica e, internamente, por bolsas, endodérmicas, que darão origem às estruturas osteocartilaginosas, musculares, neurais e vasculares do pescoço.
Os cistos branquiais ou branquiógenos têm origem congênita, e usualmente apresentam-se como lesões císticas, localizados na região lateral do pescoço. Ao atingirem grandes dimensões ocupam a face anterior do músculo esternocleidomastóideo (podendo invadir regiões vizinhas) necessitando de terapia cirúrgica. (CASCABULHO et al, 2022).
Segundo Lehn et al (2007) o diagnóstico das anomalias branquiais é primariamente clínico e alicerçado por ultrassonografia e a tomografia que podem auxiliar no diagnóstico diferencial para cisto branquial, sendo o tratamento eminentemente cirúrgico.
Este trabalho objetiva, pois, relatar caso clínico/cirúrgico de Cisto Branquial Infectado em paciente pediátrico, bem como seu manejo, condução, evolução cirúrgica e pós cirúrgica.
Materiais e métodos
Apresentação de caso de paciente pediátrico atendimento no plantão do Pronto Socorro do Serviço de Pediatria do Hospital Geral Público da cidade de Palmas-TO, portadora de Cisto Branquial Infectado, ressaltando os aspetos clínicos, os impactos anatômicos, evolução, condução cirúrgica e condição pós operatória.
Relato do Caso e Discussão
Lactente do sexo feminino, 02 meses, parda, residente e procedente da zona urbana de Palmas, trazida pela genitora ao atendimento do Pronto Socorro do Serviço Pediátrico do HGPP/TO apresentando coriza e tosse iniciados há 30 (trinta) dias anteriores e “edema inflamatório em região cervical esquerda” de início aproximado de 08 (oito) dias, pós sintomas gripais.
Genitora relatou piora recente associada a fácies e atitudes de dor, períodos de irritabilidade e constipação além de dificuldade de movimentação, aceitação da amamentação e alteração postural, consonantes com os momentos dolorosos.
A ectoscopia à admissão evidenciou paciente em regular estado geral, com olhar atento e foco em rosto do avaliador, hidratada, corada, acianótica, anictérica e afebril. Sinais vitais fisiológicos. Avaliação da região cefálica mostrou fontanelas normais, pavilhões auditivos, órgãos visuais e nasais em condições anatômicas e normoinseridos. Orofaringe e otoscopia sem alterações. A lactente ostentava edema em região cervical esquerda com sinais flogísticos evidentes e consequente restrição de movimentação cervical, conforme figuras 01 e 02 abaixo:
A ausculta respiratória revelou murmúrios vesiculares presentes bilateralmente sem evidências de ruídos adventícios e boa expansibilidade torácica. A avaliação cardiovascular mostrou ritmo cardíaco regular com bulhas normofonéticas, atuando em dois tempos em todos os focos de ausculta, sem presença de sopros audíveis.
Ao exame da região abdominal se observou anatomia globosa porém indolor à palpação, com peristalse presente e visceromegalias ausentes. Avaliação dorsal mostrou-se sem alterações da estrutura da coluna espinhal e região lombo sacral em condições de normalidade. Ânus aparentemente pérvio.
A inspeção visual do órgão genital mostrou estrutura tipicamente feminina e sem alterações. A análise de membros evidenciou ausência de edema em todos os membros, panturrilhas livres e indolores. Preensão palmar e plantar preservadas. Sinais de Barlow e Ortolani negativos.
Evolução, Condução Cirúrgica e Condição Pós Operatória
A avaliação laboratorial apresentou resultados de índice PCR ligeiramente aumentado (46,2 mg/L) demonstrando infecção em curso. Avaliação imaginológica tomográfica de cabeça e pescoço evidenciou formação hipodensa-cística septada compatível, entre outras patologias, a cisto branquial (possivelmente infectado), com epicentro no espaço cervical e causando compressão e desvio antero-radial do espaço carotídeo sem alargamento ou comprometimento mediastinal, segundo imagem radiográfica.
Demais exames laboratoriais com resultados dentro da normalidade. Somando-se informações da anamnese, ectoscopia, e os resultados obtidos através dos exames, aventou- se como diagnóstico Cisto Branquial Infectado, optando-se por abordagem cirúrgica.
Após a realização de procedimentos preparatórios, procedeu-se à drenagem cirúrgica de abcesso cervical, com incisão da superfície epidérmica cervical à esquerda, coleta de alíquota do primo-exsudato, extraído em seringa estéril, e encaminhamento deste material para análise laboratorial e cultura de microrganismos. Seguiu-se a divulsão de tecido por planos, exteriorização de cisto infectado e drenagem de secreção purulenta em grande quantidade, conforme figuras 04, 05, 06 e 07 abaixo:
Após avaliação da cavidade cirúrgica e confirmação da eliminação da totalidade da secreção purulenta, optou-se pela inserção de dreno de Penrose, seguida por fixação cervical, conforme figuras 08 e 09 abaixo:
A paciente apresentou boa recuperação, com retorno incipiente ao aleitamento materno exclusivo, evacuando e flatulando normalmente, sendo encaminhada ao acompanhamento em leito de enfermaria pediátrica.
Resultados e Discussão
A complexidade anatômica do pescoço propicia o surgimento de diversos tipos de anomalias congênitas, que exigem diferenciação de doenças inflamatórias ou neoplasias. Manobras semiológicas de palpação e ausculta de tumores cervicais, quando indicadas, são importantes para a determinação de fatores como mobilidade, flogose e de fluxo vascular no seu interior (CASCABULHO et al 2022). Em nosso caso, as manobras indicadas pela literatura, mostraram estrutura com mobilidade perceptível a manipulação, flogose de alta intensidade e fluxo vascular ausente, no sítio de inspeção.
Lehn et al (2007) ensinam que anomalias branquiais são condições que remanescem da regressão do aparato branquial (durante o curso do desenvolvimento) que ocorre durante a gênese das estruturas cervicais. A presença de infecção nestas anomalias torna seu quadro clínico mais evidente e a atuação médica mais incisiva.
Para Carvalho et al (2008), o cisto branquial mais comumente encontrado é aquele originário da segunda fenda branquial localizado na região cervical alta, anterior ao músculo esternocleidomastóideo, região jugular-carotídea, após infecção de via aérea superior.
Em nosso caso, a paciente havia apresentado quadro compatível com síndrome gripal, aproximadamente, 08 (oito) dias antes do aparecimento do primeiro sinal de infecção branquial, e o cisto se posicionava em região cervical alta, lateralizado ao músculo esternocleidomastóideo, coadunando às informações literárias.
Referências
CARVALHO, C. P.; BARCELOS, A. N.; TEIXEIRA D. C.; LACERDA, M. A. C.;
RIBEIRO, C. A. Cisto Branquial Malignizado ou Metástase de Tumor Primário? Relato de Caso. 2008. Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo, v.12, n.3, p. 463-465.
CASCABULHO A.M.E., et al. Cisto branquial da 4ª fenda – relato de caso . Rev Med (São Paulo). 2022 maio-jun.;101(3):e-191723.
GOINS M.R.; BEASLEY M.S. Pediatric neck masses. Oral Maxillofac Surg Clin North Am. 2012 Aug;24(3):457-68. doi: 10.1016/j.coms.2012.05.006. PMID: 22857718.
LEHN C.N. et al. Tumores congênitos do pescoço. Rev Assoc Med Bras 2007; 53(4): 283- 92
¹Professor do Instituto Federal do Tocantins – Brasil. Perito Oficial Criminal da Polícia Civil do Tocantins. – Interno de Medicina UFT – Brasil. Mestre em Educação. Doutor em Biodiversidade e Biotecnologia.
²Médica Residente de Pediatria UFT- Hospital Geral Público de Palmas/TO- Brasil.
³Médica Cirurgiã Pediátrica – Hospital Geral Público de Palmas/TO- Brasil.
4Médica Pediatra Emergencista – Hospital Geral Público de Palmas/TO- Brasil. Endereço para correspondência: tagorirafael@gmail.com