ORTHOGNATHIC SURGERY IN PEDIATRIC PATIENTS: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501181527
Gisely Nayara Silva Livramento¹
Isaac José de Lima Lôbo Pereira²
Thaise Batista França³
Roseane Aparecida dos Reis Alves Madureira⁴
João Pedro Chagas Almeida⁵
Gabriel Uzai da Silva⁶
Carlos Miguel Pereira Ribeiro⁷
Eduarda Cristina Merigo Witschoreck ⁸
Evellyn Julianne Rodrigues Silva⁹
Isabela Lopes de Araújo¹⁰
RESUMO
A cirurgia ortognática em pacientes pediátricos é um campo especializado dentro da cirurgia bucomaxilofacial que visa corrigir deformidades dentofaciais e esqueléticas em crianças e adolescentes. Embora tradicionalmente associada a pacientes adultos, a cirurgia ortognática também é indicada em casos pediátricos, especialmente quando as deformidades afetam o crescimento e desenvolvimento ósseo facial ou comprometem a função mastigatória, respiratória ou estética.
Este artigo apresenta uma revisão da literatura focada nas particularidades da cirurgia ortognática em pacientes pediátricos, abordando as indicações clínicas, os desafios técnicos, os protocolos de tratamento e os resultados pós-operatórios. As indicações mais comuns incluem discrepâncias de classe II e III, anomalias de crescimento assimétrico, maloclusões graves, além de casos de apneia obstrutiva do sono associada a deformidades maxilofaciais.
Dentre os principais desafios enfrentados, destaca-se a necessidade de um planejamento cuidadoso devido à fase de crescimento contínuo dos ossos faciais, que pode interferir na definição de horários adequados para a intervenção cirúrgica. Em muitos casos, o tratamento é realizado em duas fases: uma fase inicial, que pode envolver o uso de aparelhos ortodônticos e, posteriormente, a cirurgia ortognática em idades mais avançadas, geralmente após o término do crescimento ósseo.
PALAVRAS CHAVE: Manejo Pós-operatório em Pacientes Pediátricos, Técnicas Cirúrgicas em Ortognática Pediátrica, Riscos e Complicações em Pacientes Pediátricos, Disfunção Temporomandibular em Crianças.
INTRODUÇÃO
A cirurgia ortognática é um conjunto de procedimentos cirúrgicos realizados para corrigir deformidades dentofaciais e disfunções da articulação temporomandibular (ATM) que afetam a posição, a forma e a função dos ossos da face e da mandíbula. Tradicionalmente, a cirurgia ortognática tem sido associada ao tratamento de adultos, sendo indicada principalmente em casos de maloclusões severas ou deformidades faciais que não podem ser corrigidas apenas com o uso de aparelhos ortodônticos. Contudo, nas últimas décadas, a cirurgia ortognática pediátrica tem se tornado cada vez mais reconhecida como uma estratégia válida e eficaz para o tratamento de crianças e adolescentes com distúrbios craniofaciais.
A adolescência e a infância são fases cruciais para o desenvolvimento e crescimento facial, e qualquer alteração nesse processo pode ter impactos significativos na saúde funcional e psicológica dos pacientes. As deformidades craniofaciais em crianças podem ser congênitas ou adquiridas, e frequentemente resultam em problemas significativos como dificuldades na mastigação, respiração, fala, e até mesmo problemas emocionais devido ao impacto estético das alterações faciais. Em muitos casos, o uso isolado de aparelhos ortodônticos não é suficiente para corrigir as malformações, sendo necessária a intervenção cirúrgica para garantir um alinhamento adequado dos ossos da face e da mandíbula.
A cirurgia maxilofacial pediátrica é um campo especializado que visa tratar essas condições, envolvendo uma abordagem multidisciplinar que integra ortodontistas, cirurgiões maxilofaciais, fonoaudiólogos, psicólogos e outros profissionais da saúde. Esses procedimentos exigem uma avaliação cuidadosa do crescimento e do desenvolvimento craniofacial do paciente, uma vez que a idade para intervenção ortognática desempenha um papel crucial no sucesso do tratamento. A decisão sobre o momento ideal para realizar a cirurgia é influenciada por uma série de fatores, incluindo o tipo de deformidade, a gravidade do quadro, e o potencial de crescimento residual dos ossos faciais. Realizar a cirurgia muito cedo, antes de o paciente atingir um nível adequado de maturidade óssea, pode comprometer os resultados a longo prazo, enquanto uma intervenção tardia pode não resultar em uma correção funcional e estética ideal.
As indicações para a cirurgia ortognática em pacientes pediátricos incluem, principalmente, maloclusões esqueléticas severas, como a classe II e a classe III, que não podem ser corrigidas com aparelhos ortodônticos convencionais. Além disso, deformidades faciais associadas a síndromes genéticas ou condições adquiridas, como traumas craniofaciais, podem necessitar da intervenção ortognática para restaurar a simetria facial e as funções essenciais como a mastigação e a respiração. A cirurgia tem um papel importante na melhoria da qualidade de vida do paciente, não só do ponto de vista funcional, mas também psicossocial, já que o impacto estético de deformidades faciais pode resultar em transtornos emocionais significativos.
No entanto, a cirurgia ortognática em pacientes pediátricos apresenta desafios técnicos e emocionais únicos. Do ponto de vista técnico, a cirurgia deve ser planejada levando em consideração o processo contínuo de crescimento e desenvolvimento da criança, o que exige uma análise detalhada das radiografias e dos modelos de estudo para determinar o momento ideal para a intervenção. Além disso, o manejo pós-operatório em crianças e adolescentes pode ser mais complexo devido à necessidade de controlar o crescimento ósseo, evitar complicações e garantir o acompanhamento contínuo ao longo do tempo.
Do ponto de vista emocional, o processo de enfrentar uma cirurgia ortognática pode ser difícil para as crianças e seus familiares. O impacto psicológico de um tratamento ortognático, especialmente em idades mais precoces, pode afetar o bem-estar emocional do paciente. A necessidade de apoio psicológico durante o processo de tratamento é fundamental, considerando que muitos pacientes podem experienciar questões relacionadas à imagem corporal e ao ajuste social durante o período de recuperação.
Além disso, é importante destacar que o timing da cirurgia pode influenciar significativamente os resultados a longo prazo. A literatura discute diferentes abordagens para o momento da intervenção, com alguns especialistas defendendo a cirurgia precoce, enquanto outros sugerem que a intervenção deve ser adiada até que o crescimento craniofacial do paciente tenha se estabilizado. As técnicas cirúrgicas e os avanços nos procedimentos minimamente invasivos também têm melhorado a segurança e a eficácia da cirurgia ortognática pediátrica, tornando-a uma opção mais viável para uma gama mais ampla de pacientes.
Este estudo tem como objetivo revisar a literatura existente sobre cirurgia ortognática em pacientes pediátricos, abordando as indicações para o procedimento, as técnicas cirúrgicas utilizadas, os desafios específicos no tratamento de crianças e adolescentes, e as considerações importantes sobre a idade para intervenção ortognática. A análise dos benefícios e limitações dessa intervenção cirúrgica precoce ajudará a fornecer uma visão abrangente do impacto do tratamento ortognático no desenvolvimento funcional e psicológico das crianças, bem como os resultados a longo prazo para os pacientes pediátricos. Através desta revisão, buscamos ampliar a compreensão sobre o papel da cirurgia ortognática na correção de deformidades faciais em pacientes jovens e as melhores práticas para um tratamento eficaz e seguro.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo consiste em uma revisão sistemática da literatura sobre a cirurgia ortognática em pacientes pediátricos, com foco nas indicações, técnicas cirúrgicas, idade para intervenção ortognática e resultados a longo prazo. Para a realização desta revisão, foram selecionados artigos publicados entre 2020 e 2024, a fim de reunir as informações mais recentes e relevantes sobre o tema. A seguir, descrevem-se os detalhes do processo de coleta e análise dos dados.
1. Estratégia de Busca
A busca foi realizada nas principais bases de dados científicas, incluindo PubMed, Scopus, Web of Science, Scielo, PubMed e Lilacs, utilizando uma combinação de palavras-chave e descritores padronizados. Os termos usados para a busca incluíram:
- “Cirurgia Ortognática”
- “Pacientes Pediátricos”
- “Cirurgia Maxilofacial Pediátrica”
- “Idade para Intervenção Ortognática”
Esses termos foram combinados em diferentes variações e com operadores booleanos (AND, OR) para abranger as publicações mais pertinentes. Para garantir que a revisão fosse atualizada, a busca foi restrita a artigos publicados entre 2020 e 2024. Além disso, foram aplicados filtros para selecionar apenas artigos em inglês e português.
2. Seleção de Estudos
Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram os seguintes:
- Estudos clínicos, ensaios clínicos randomizados, estudos de caso-controle e revisões sistemáticas que abordassem a cirurgia ortognática em pacientes pediátricos.
- Artigos que discutissem a idade ideal para a intervenção ortognática, com foco no momento de realização da cirurgia em relação ao crescimento craniofacial.
- Artigos que detalhassem as técnicas cirúrgicas utilizadas em pacientes pediátricos, incluindo abordagens convencionais e minimamente invasivas.
- Estudos que abordassem os efeitos psicossociais da cirurgia ortognática em crianças e adolescentes.
- Pesquisas que apresentassem resultados a longo prazo de intervenções ortognáticas em crianças e adolescentes.
Foram excluídos os seguintes tipos de estudos:
- Artigos que não se concentraram na população pediátrica.
- Estudos que não tratavam de aspectos técnicos ou da idade para intervenção ortognática.
- Publicações que não abordavam diretamente os impactos a longo prazo ou os efeitos emocionais da cirurgia.
3. Procedimento de Coleta e Análise dos Dados
A coleta de dados foi feita de forma sistemática, extraindo informações dos artigos selecionados de acordo com os seguintes critérios:
- Indicações para cirurgia ortognática pediátrica: Estudo das condições clínicas e distúrbios faciais que justificam a realização da cirurgia em crianças e adolescentes.
- Idade ideal para intervenção ortognática: Análise das diferentes abordagens para determinar o momento adequado para a cirurgia, levando em consideração o crescimento e desenvolvimento craniofacial.
- Técnicas cirúrgicas: Descrição das abordagens cirúrgicas utilizadas para tratar deformidades faciais em crianças e adolescentes, incluindo as técnicas mais inovadoras e os benefícios das abordagens minimamente invasivas.
- Resultados a longo prazo: Avaliação dos resultados funcionais (como mastigação, respiração, fala) e estéticos (simetria facial) após a realização da cirurgia ortognática.
- Impacto psicológico e emocional: Discussão sobre os efeitos emocionais da cirurgia ortognática nas crianças e adolescentes, considerando o impacto da deformidade facial antes e após o procedimento.
4. Critérios de Avaliação da Qualidade dos Estudos
A qualidade dos estudos foi avaliada com base em critérios estabelecidos para ensaios clínicos e revisões sistemáticas. Para os estudos clínicos, foi utilizado o Critério de Avaliação de Estudos Clínicos (Jadad Scale), que considera:
- Clareza dos objetivos do estudo.
- Descrição detalhada da metodologia e dos procedimentos utilizados.
- Rigor no controle de viés e validação estatística.
- Análise crítica dos resultados e sua aplicabilidade clínica.
Para as revisões sistemáticas, foram analisados os critérios de qualidade metodológica estabelecidos pelo Cochrane Collaboration para garantir que as conclusões dos artigos fossem baseadas em evidências sólidas e rigorosas.
5. Limitações
O estudo apresenta algumas limitações, principalmente relacionadas à diversidade metodológica dos artigos selecionados. A maior parte dos estudos focou nos aspectos clínicos da cirurgia ortognática, mas poucos abordaram o impacto psicológico e as implicações emocionais para os pacientes pediátricos. Além disso, devido à variação no desenho dos estudos, não foi possível realizar uma meta-análise, o que limita a generalização dos resultados. Alguns artigos também apresentaram amostras pequenas ou dados limitados, o que pode ter afetado a robustez das conclusões.
6. Síntese dos Resultados
A análise dos artigos selecionados foi organizada de acordo com os temas-chave identificados na pesquisa. Para cada tópico, foram extraídas as principais conclusões, levando em consideração:
- Idade ideal para intervenção: A literatura discutiu diferentes estratégias para determinar o momento adequado para a cirurgia, com alguns estudos sugerindo a intervenção precoce e outros defendendo a espera até que o crescimento tenha estabilizado.
- Técnicas cirúrgicas: As técnicas minimamente invasivas e as novas abordagens no planejamento e execução da cirurgia foram amplamente discutidas, com ênfase nas vantagens no pós-operatório e nos resultados estéticos.
- Resultados a longo prazo: A maioria dos estudos revelou bons resultados em termos de melhoria funcional e estética, com destaque para a importância do acompanhamento contínuo para avaliar a estabilidade dos resultados a longo prazo.
- Impacto psicossocial: Vários estudos ressaltaram a importância do apoio psicológico durante o tratamento ortognático em pacientes pediátricos, dada a vulnerabilidade emocional e psicológica dessa população.
7. Considerações Éticas
Todos os estudos incluídos na revisão seguiram as normas éticas estabelecidas em seus respectivos países. Foi garantido que os direitos dos pacientes pediátricos fossem respeitados, especialmente no que diz respeito ao consentimento informado, à privacidade e à abordagem multidisciplinar no tratamento. A ética no manejo dos pacientes pediátricos, especialmente no contexto da cirurgia ortognática, foi um aspecto importante na avaliação dos estudos.
REVISÃO DA LITERATURA
A cirurgia ortognática em pacientes pediátricos é um campo crescente dentro da cirurgia maxilofacial, destinado a corrigir deformidades esqueléticas da face e da mandíbula, que impactam tanto a função quanto a estética. Em crianças e adolescentes, o tratamento ortognático envolve uma abordagem cuidadosa, pois o processo de crescimento craniofacial ainda está em andamento. A intervenção precoce, por vezes, se faz necessária para corrigir disfunções severas, mas a escolha do momento adequado para a cirurgia é crucial para o sucesso a longo prazo. Esta revisão da literatura explora as indicações para cirurgia ortognática em pacientes pediátricos, a importância da idade para intervenção ortognática, as técnicas cirúrgicas aplicadas e os resultados a longo prazo.
1. Indicações para Cirurgia Ortognática Pediátrica
A cirurgia ortognática pediátrica é geralmente indicada quando as deformidades esqueléticas não podem ser corrigidas apenas com o uso de aparelhos ortodônticos. As principais condições que indicam a necessidade de cirurgia ortognática em crianças incluem:
- Maloclusões Esqueléticas: As maloclusões do tipo classe II e classe III são comuns em pacientes pediátricos e frequentemente requerem cirurgia ortognática. A classe II é caracterizada pela retrognatismo mandibular, enquanto a classe III é caracterizada pelo prognatismo mandibular. Ambos os tipos de maloclusão podem resultar em dificuldades funcionais como mastigação, fala e respiração.
- Deformidades Congênitas ou Traumáticas: Crianças com deformidades faciais causadas por síndromes genéticas (como a síndrome de Crouzon ou a síndrome de Treacher Collins) ou trauma craniofacial grave também são candidatos para a cirurgia ortognática. Nestes casos, a cirurgia visa restaurar a simetria facial e a função, além de prevenir problemas funcionais a longo prazo.
- Disfunção Temporomandibular (DTM): A DTM em crianças pode ser corrigida por meio de procedimentos ortognáticos, especialmente quando associada a deformidades esqueléticas.
De acordo com Bishara (2021), a correção precoce das maloclusões esqueléticas pode evitar complicações em estágios posteriores do desenvolvimento e melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente.
2. Idade para Intervenção Ortognática
O momento ideal para realizar a cirurgia ortognática em pacientes pediátricos é um tema controverso. O crescimento craniofacial continua até a adolescência, e a intervenção precoce pode afetar o desenvolvimento ósseo, enquanto uma intervenção tardia pode não ter os resultados esperados. A literatura revisada sugere duas abordagens principais:
- Intervenção Precoce (antes da puberdade): Alguns estudiosos defendem a realização da cirurgia ortognática em uma fase precoce, quando o crescimento ainda está em curso, para corrigir deformidades severas antes que se estabilizem. A vantagem dessa abordagem é que, em muitos casos, é possível evitar a necessidade de tratamentos ortodônticos prolongados mais tarde. Schendel e coautores (2021) argumentam que a intervenção precoce pode ser mais eficaz para correção de maloclusões em crianças, pois pode evitar o agravamento de problemas funcionais e estéticos durante o crescimento.
- Intervenção Tardia (após o término do crescimento): A maioria dos autores, no entanto, prefere esperar até que o crescimento da face esteja mais estabilizado, geralmente por volta dos 16-18 anos, para garantir que a cirurgia ortognática não interfira de forma adversa no desenvolvimento facial. Segundo Pieri e colegas (2023), intervenções tardias têm menos risco de comprometer a integridade do crescimento facial, o que resulta em resultados mais previsíveis a longo prazo.
O timing da intervenção depende fortemente da avaliação individual de cada paciente, incluindo o tipo de deformidade, o grau de disfunção e a velocidade do crescimento.
3. Técnicas Cirúrgicas em Pacientes Pediátricos
A cirurgia ortognática em crianças e adolescentes exige uma abordagem técnica cuidadosa, dada a dinâmica do crescimento ósseo e as peculiaridades do paciente pediátrico. As técnicas cirúrgicas mais comuns incluem:
- Osteotomia de Mandíbula: A osteotomia de mandíbula é realizada para reposicionar a mandíbula e corrigir deformidades associadas a maloclusões de classe II ou III. Em crianças, esse procedimento pode ser feito com técnicas de fixação temporária, como fios e parafusos absorvíveis, para evitar a necessidade de remoção de fixadores metálicos.
- Osteotomia do Maxilar: Utilizada principalmente para corrigir o posicionamento do maxilar superior, essa técnica pode ser empregada em casos de deformidades severas que afetam o desenvolvimento do maxilar e da mandíbula em relação um ao outro.
- Técnicas Minimamente Invasivas: Com os avanços nas tecnologias de imagem e nos métodos de planejamento cirúrgico, procedimentos minimamente invasivos estão sendo cada vez mais adotados na cirurgia ortognática pediátrica. Esses procedimentos envolvem menores incisões, menor tempo de recuperação e um risco reduzido de complicações. Vazquez et al. (2022) demonstraram em seu estudo que a cirurgia ortognática minimamente invasiva apresenta resultados estéticos satisfatórios com menos complicações em comparação com as técnicas convencionais.
A escolha da técnica depende da deformidade específica do paciente, do grau de desenvolvimento ósseo e da experiência do cirurgião.
4. Resultados a Longo Prazo
Os resultados da cirurgia ortognática pediátrica geralmente incluem melhorias significativas na função e na estética facial. A correção das maloclusões esqueléticas pode melhorar a mastigação, a fala, a respiração e a qualidade de vida geral. Além disso, os pacientes podem experimentar uma melhora significativa na autoestima, uma vez que as deformidades faciais são corrigidas.
No entanto, é importante ressaltar que a cirurgia ortognática em crianças apresenta riscos, especialmente em relação ao impacto do crescimento ósseo. Campos et al. (2021) mostraram que a cirurgia ortognática precoce pode ter um impacto positivo em termos de resultados funcionais e estéticos, mas requer acompanhamento contínuo para monitorar a estabilidade a longo prazo. A retorno da deformidade pode ocorrer se o crescimento não for monitorado adequadamente, necessitando de intervenções adicionais.
Em relação aos resultados psicológicos, a literatura sugere que os pacientes pediátricos geralmente experimentam uma melhoria significativa no bem-estar emocional após a cirurgia ortognática. Lemos et al. (2023) observaram uma redução significativa na incidência de problemas de autoestima e ansiedade pós-cirurgia, especialmente em adolescentes.
5. Considerações Psicológicas e Emocionais
A cirurgia ortognática tem um impacto significativo não só no aspecto físico, mas também no aspecto psicológico dos pacientes pediátricos. A correção de deformidades faciais pode aliviar a ansiedade e a insegurança associadas à imagem corporal, aspectos cruciais para o desenvolvimento social e emocional na infância e adolescência. Contudo, como discutido por Miller et al. (2022), o apoio psicológico pré e pós-operatório é essencial para garantir que os pacientes lidem adequadamente com as mudanças físicas e os desafios emocionais decorrentes do processo cirúrgico.
Por fim, embora os avanços nas técnicas cirúrgicas e no planejamento digital tenham permitido a obtenção de melhores resultados em pacientes pediátricos, ainda existem várias áreas que necessitam de mais investigação. Uma das principais lacunas identificadas na literatura é a necessidade de protocolos mais consistentes para a seleção da idade ideal para a cirurgia. A maioria dos estudos sobre o tema se baseia em análises retrospectivas e, em muitos casos, ainda não há consenso sobre a melhor forma de otimizar os resultados a longo prazo. Além disso, mais pesquisas são necessárias para entender como os fatores psicológicos e as expectativas emocionais influenciam os resultados da cirurgia ortognática em pacientes jovens, o que poderia orientar melhores práticas no tratamento dessa população.
Em suma, a cirurgia ortognática pediátrica é uma área dinâmica que oferece melhorias significativas para os pacientes, mas que também apresenta desafios únicos. A personalização do tratamento, com base nas necessidades específicas de cada paciente, é crucial para garantir resultados positivos. Embora a técnica esteja em constante evolução, é evidente que o sucesso do tratamento depende não apenas da habilidade técnica, mas também de uma abordagem integrada que considere o aspecto físico e emocional do paciente em todas as etapas do processo.
DISCUSSÃO
A cirurgia ortognática em pacientes pediátricos é um tema que tem ganhado crescente atenção devido às complexidades envolvidas em sua realização e aos benefícios que pode proporcionar, tanto em termos funcionais quanto estéticos. A literatura revisada sugere que, embora as intervenções cirúrgicas em crianças e adolescentes apresentem desafios particulares, elas também são capazes de oferecer melhorias significativas na qualidade de vida dos pacientes, quando realizadas de maneira cuidadosa e no momento adequado. Esta discussão se baseia nas questões levantadas pelos estudos revisados, refletindo sobre os aspectos positivos e as dificuldades associadas à cirurgia ortognática em pacientes pediátricos.
Desafios do Crescimento Facial e Momentos Oportunos para a Cirurgia
Um dos maiores desafios da cirurgia ortognática em pacientes pediátricos é o controle do crescimento facial. Diferente dos adultos, os pacientes pediátricos ainda estão em processo de crescimento ósseo, o que pode afetar os resultados da cirurgia, tornando-os mais volúveis a alterações com o tempo. O crescimento contínuo das estruturas faciais pode gerar uma recorrência das deformidades, mesmo após a cirurgia, o que aumenta a complexidade do tratamento. Por isso, a decisão sobre o momento ideal para a intervenção deve ser cuidadosamente considerada, levando em conta não apenas a deformidade em si, mas também a fase de crescimento do paciente. Embora o conceito de “cirurgia precoce” tenha sido explorado em alguns casos, é essencial equilibrar os benefícios de uma correção precoce com os riscos de interferir no processo natural de desenvolvimento ósseo.
Este dilema do tempo certo para a cirurgia exige que a equipe multidisciplinar envolvida no tratamento, composta por ortodontistas, cirurgiões, psicólogos e outros profissionais, mantenha um acompanhamento constante do crescimento facial do paciente. A interação entre ortodontia e cirurgia, com um planejamento meticuloso do momento ideal para a intervenção, é crucial para reduzir os riscos de recidiva e garantir um resultado estável a longo prazo.
Avanços Tecnológicos e Melhorias nos Resultados
Os avanços tecnológicos têm transformado significativamente as abordagens cirúrgicas, especialmente no campo da cirurgia ortognática pediátrica. O planejamento digital assistido por computador, a utilização de imagens tridimensionais e o desenvolvimento de modelos anatômicos por impressão 3D oferecem uma maior precisão na avaliação da deformidade e no planejamento da intervenção cirúrgica. Essas inovações permitem que o cirurgião visualize as estruturas faciais com maior clareza, otimizando o processo de tomada de decisão e aumentando a probabilidade de resultados favoráveis.
Além disso, técnicas minimamente invasivas, como a osteotomia assistida por laser e o uso de dispositivos temporários de fixação, têm se mostrado eficazes em reduzir o trauma cirúrgico e o tempo de recuperação, um fator particularmente importante em pacientes pediátricos, que podem ter uma recuperação mais lenta ou mais difícil do que os adultos. A precisão no planejamento e execução da cirurgia, aliada a essas técnicas inovadoras, possibilita resultados mais estáveis e previsíveis, com menores riscos de complicações a longo prazo.
A Importância de um Acompanhamento Multidisciplinar
A cirurgia ortognática em pacientes pediátricos exige uma abordagem integrada e multidisciplinar. É fundamental que ortodontistas, cirurgiões, psicólogos e outros profissionais de saúde trabalhem de forma colaborativa durante todo o processo, desde o diagnóstico até o pós-operatório. O acompanhamento ortodôntico pré e pós-operatório é essencial para garantir que os maxilares permaneçam alinhados e que a função mastigatória e respiratória seja restaurada de forma satisfatória.
Além disso, a avaliação psicológica do paciente, principalmente durante a fase de pré-operatória e pós-operatória, é crucial. O suporte emocional adequado pode ajudar a mitigar as ansiedades relacionadas ao procedimento cirúrgico, ao processo de recuperação e à mudança na imagem corporal. O envolvimento da família no processo, com informações claras sobre o que esperar da cirurgia e do pós-operatório, também desempenha um papel importante no sucesso do tratamento.
CONCLUSÃO
A cirurgia ortognática pediátrica é uma intervenção altamente eficaz para o tratamento de deformidades esqueléticas, mas exige uma abordagem cuidadosamente planejada e personalizada. A escolha do momento ideal para a intervenção, a seleção das técnicas cirúrgicas mais apropriadas e o acompanhamento psicológico são aspectos fundamentais para o sucesso do tratamento. Apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas e nas opções de tratamento minimamente invasivas, a cirurgia ortognática pediátrica continua a apresentar desafios tanto no aspecto clínico quanto no emocional.
É necessário um equilíbrio entre a correção precoce e o risco de interferir no crescimento facial, considerando sempre a complexidade individual de cada paciente. O apoio psicológico, a monitorização do crescimento ósseo e o acompanhamento pós-operatório contínuo são essenciais para garantir que os resultados estéticos e funcionais sejam estáveis a longo prazo. O sucesso do tratamento ortognático pediátrico depende, portanto, de uma abordagem integrada que considere as necessidades clínicas e emocionais do paciente, assegurando uma recuperação satisfatória e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
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