ORTHOGNATIC SURGERY: ACCIDENTS AND COMPLICATIONS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7734824
João Alves dos Santos Neto1
Priscila Gomes de Carvalho Vasquez2
Javan Araujo Cunha3
Lauriene Marques Alves Borges4
Lucas Wagner Lima Alves5
Breno Augusto Arrial Barros6
Maria Eduarda Falcão Reis Cavalcanti7
Eduarda Évilyn de Andrade Machado8
Hellen Viana de Sousa9
Alice Vaccari Ribeiro10
Michaella Aires Xavier Caruncho11
Vitória Lavinia Nunes Vitorino12
RESUMO
A cirurgia ortognática é considerada um método confiável e previsível no tratamento de pacientes com deformidades dentais. Apesar de seus benefícios, as complicações são inerentes à cirurgia ortognática. A compreensão aprofundada da natureza e dos fatores que influenciam as complicações na cirurgia ortognática é vital na consulta pré-operatória e na tomada de decisões durante todo o tratamento. Dessa forma, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca da cirurgia ortognática, abordando os possíveis acidentes e complicações. Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. Os resultados revelam que a má oclusão pós-operatória, hemorragia, lesão do nervo alveolar inferior, má divisão e infecção são as complicações mais evidentes em cirurgia ortognática. Parecem estar relacionados ao sexo, duração da cirurgia, número de cirurgias, sítio cirúrgico e tipo de osteotomia realizada. Além disso, os procedimentos cirúrgicos envolvendo a mandíbula são mais propensos a complicações do que os procedimentos envolvendo a maxila, e aqueles envolvendo ambas as mandíbulas são mais propensas a complicações do que os procedimentos envolvendo uma única mandíbula.
Palavras-chave: Cirurgia ortognática. Complicação da cirurgia. Complicação
SUMMARY
Orthognathic surgery is considered a reliable and predictable method of treating patients with dentofacial deformities. Despite its benefits, complications are inherent to orthognathic surgery. A thorough understanding of the nature and factors that influence complications in orthognathic surgery is vital in the preoperative consultation and decision-making throughout the treatment. Thus, the present study aims to review the literature on orthognathic surgery, addressing possible accidents and complications. For the construction of this article, a bibliographical survey was carried out in the databases SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) and ScienceDirect, with the help of the Mendeley reference manager. The results reveal that postoperative malocclusion, hemorrhage, inferior alveolar nerve injury, maldivision and infection are the most prevalent complications in orthognathic surgery. They seem to be related to sex, duration of surgery, number of surgeries, surgical site and type of osteotomy performed. Furthermore, surgical procedures involving the mandible are more prone to complications than procedures involving the maxilla, and those involving both mandibles are more prone to complications than procedures involving a single mandible.
Keywords: Orthognathic surgery. Complication of surgery. Complication
1 INTRODUÇÃO
A deformidade dentofacial é caracterizada pelo desvio entre as proporções faciais e alteração da oclusão ideal. Em pacientes acometidos, nota-se a deterioração da aparência e das funções fisiológicas. Além disso, observa-se que, além dos efeitos físicos, há comprometimento psicológico nos indivíduos, o que afeta sua qualidade de vida (DUBOIS et al., 2015).
A deformidade esquelética de classe III em adultos é uma das mais graves e complexas para corrigir as deformidades dentofaciais. As anomalias de classe III de origem esquelética podem estar presentes com diferentes combinações de estruturas craniofaciais. Essas anomalias podem ocorrer retrognatia maxilar ou prognatismo mandibular ou com uma combinação de ambas as condições (AL-NAWAS et al., 2014; MARTIS; KARABOUTA, 1984).
Em indicados para cirurgia ortognática, observa-se que a mandíbula é corrida, com a finalidade de melhorar as dificuldades no sistema músculo-esquelético, no qual envolve a boa, o que inclui dificuldades com a mastigação e fonação, bem como melhorar as questões estéticas pela mudança no padrão de crescimento. Dessa forma, não resulta somente em recuperação funcional, mas também melhora a aparência, o que contribui para o convívio social do indivíduo (LANIGAN; ROMANCHUK; OLSON, 1993; LANIGAN; WEST, 1990; ZARONI et al., 2019).
Apesar dos grandes benefícios, a cirurgia corretiva da mandíbula também apresenta muitos riscos devido a complicações, incluindo doença vascular pós-operatória, problemas nas articulações da mandíbula, danos nos nervos, infecção, necrose óssea, doença periodontal, deficiência visual, problema auditivo, queda de cabelo, e problemas neuropsiquiátricos. Além disso, algumas complicações podem ser fatais. Uma complicação cirúrgica é definida como qualquer desvio do curso normal intra operatório ou pós-operatório (KIM; PARK, 2007; ZARONI et al., 2019)
Além disso, vários fatores afetam a frequência e o tipo de complicação, incluindo local da cirurgia, abordagem cirúrgica, natureza clínica da cirurgia, tempo de cirurgia, contaminação da ferida, força psicológica do paciente, cuidados pós-operatórios e habilidade do cirurgião. Ao considerar a cirurgia corretiva da mandíbula, o cirurgião deve ter em mente a prevenção, considerando a natureza das complicações e seus fatores causais. Quando surge uma complicação apesar das precauções, o tratamento adequado deve ser administrado para garantir um bom prognóstico (KIM; PARK, 2007; ZARONI et al., 2019).
Dessa forma, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca da cirurgia ortognática, abordando os possíveis acidentes e complicações.
2 METODOLOGIA
Refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativa. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico, nesse caso, acidentes e complicações associados a cirurgia ortognática (Pereira et al., 2018).
Sendo assim, para a construção do presente artigo, foi estabelecido um roteiro metodológico baseado em seis fases, a fim de nortear a estrutura de uma revisão integrativa, sendo elas: elaboração da pergunta norteadora, organização dos critérios de inclusão e exclusão e a busca na literatura, caracterização dos dados que serão extraídos em cada estudo, análise dos estudos incluídos na pesquisa, interpretação dos resultados e apresentação da revisão.
Foi utilizada a estratégia PICOS para a elaboração da pergunta norteadora, sendo o PICOS (Patient/population/disease; Exposure or issue of interest, Comparison Intervention or issue of interest Outcome), a População (P): Pacientes indicados para cirurgia ortognática; Intervenção (I): Cirurgia ortognática; Comparador (C): Não se aplica; Desfecho (O): Acidentes/complicações; Desenho do estudo (S) = Estudos prospectivos e retrospectivos, randomizados e não randomizados que avaliaram acidentes e complicações decorrentes da cirurgia ortognática. Diante disso, construiu-se a questão norteadora: “quais os acidentes e complicações tem sido associados a cirurgia ortognática?” (Tabela 1).
Tabela 1 – Elementos da estratégia PICOS, Brasil, 2022.
Fonte: Autoria própria, 2023.
Buscas avançadas foram realizadas em estratégias detalhadas e individualizadas em quatro bases de dados: SciVerse Scopus (https://www-scopus.ez43.periodicos.capes.gov.br/), Scientific Eletronic Library Online – Scielo (https://scielo.org/), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/) e ScienceDirect (https://www-webofknowledge.ez43.periodicos.capes.gov.br/), com auxílio do gerenciador de referência Mendeley. Os artigos foram coletados no mês de dezembro de 2022 e contemplados entre os anos de 2000 a 2022.
A estratégia de pesquisa desenvolvida para identificar os artigos incluídos e avaliados para este estudo baseou-se em uma combinação apropriada de termos MeSH (www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html), nos idiomas português e inglês.
Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.
A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso atingisse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos eram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo. Na sequência metodológica foi realizada a busca e leitura na íntegra dos artigos pré-selecionados, os quais foram analisados para inclusão da amostra.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na revisão de literatura feita nas bases de dados eletrônicas citadas, foram identificados 1487 artigos científicos, dos quais 189 estavam duplicados com dois ou mais índices. Após a leitura e análise do título e resumos dos demais artigos outros 1203 foram excluídos. Assim, apenas 20 artigos foram selecionados para compor este estudo. O fluxograma com detalhamento de todas as etapas de seleção está na figura 1.
Figura 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos estudos
Fonte: Autoria própria, 2023.
A cirurgia ortognática é amplamente utilizada para a correção de diversas deformidades dentais. Os principais objetivos de uma cirurgia ortognática bem-sucedida são alcançar um equilíbrio estético facial com melhora da má oclusão dentária associada e corrigir problemas relacionados às vias aéreas e à fala (STANBOULY et al., 2022). Quando relevantes, as complicações pós-operatórias foram ainda classificadas de acordo com a classificação de Clavien-Dindo, conforme esclarecido na Tabela 1
Tabela 1 – Classificação das complicações cirúrgicas de acordo com a classificação de Clavien-Dindo.
Fonte: Traduzido de PELEG et al. (2021).
Os acidentes e complicações em cirurgia ortognática podem acontecer em qualquer período durante o protocolo de tratamento, seja no pré-operatório, durante o tratamento ortodôntico, perioperatório ou, ainda, no intraoperatório (AGBAJE et al., 2015).
Alguns fatores de risco têm sido relacionados a frequência e o tipo de complicação, sendo eles: local da cirurgia, abordagem cirúrgica proposta, tempo de cirurgia, contaminação do sítio cirúrgico, características psicológicas dos pacientes, cuidados pós-operatórios e habilidade e conhecimento do profissional (AGBAJE et al., 2015; JONES; VAN SICKELS, 1991).
Devido à natureza altamente eletiva da cirurgia ortognática , reduzir ao mínimo a taxa de complicações é fundamental. Além de hemorragias, transecções nervosas e desvios do septo nasal , as ISC estão entre as complicações mais frequentes. Entre outras razões, isso pode ser atribuído ao uso de acessos cirúrgicos intrabucais em cirurgia ortognática, que podem resultar em contaminação com bactérias endógenas (PELEG et al., 2021; STRATTON et al., 2022).
Em geral, a reação inflamatória é uma ação necessária no processo de recuperação tecidual e restauração da função. No entanto, a resposta exacerbada pode afetar o reparo tecidual e levar a complicações, por exemplo, o trismo ocorre devido ao espasmo muscular causado pelo processo inflamatório. Nesse processo, há compressão das estruturas nervosas pelo edema, levando à limitação dos movimentos acompanhada de sensação dolorosa, que pode variar de desconforto a dor intensa (PELEG et al., 2021; STRATTON et al., 2022).
PELEG et al. (2021) em seu estudo, revelou que as complicações estavam, majoritariamente, relacionadas ao período intra operatório, sendo elas: (I) hemorragia, com sangramento anormal durante o processo cirúrgico; (II) bad Split, fratura involuntária da mandíbula; (III) planejamento inadequado da cirurgia durante o pré-operatório, o que gera mudança no plano de tratamento durante a operação; (IV) lesão iatrogênica de tecidos moles durante o procedimento cirúrgico e; (V) falha de instrumental, incluindo sua quebra, desprendimento do material ortodôntico ou parafusos de fixação.
Ainda neste estudo foram notadas algumas complicações pós-operatórias, sendo elas: hemorragia, alterações sistêmicas (como perda de peso ou diminuição nos valores de hemoglobina), infecções do sítio cirúrgico, má oclusão pós-operatória, desvio do septo nasal, comprometimento nervoso (como o nervo alveolar inferior e/ou infraorbital), desordens temporomandibulares, dentre outras (PELEG et al., 2021).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados revelam que a má oclusão pós-operatória, hemorragia, lesão do nervo alveolar inferior, má divisão e infecção são as complicações mais prevalentes em cirurgia ortognática. Parecem estar relacionados ao sexo, duração da cirurgia, número de cirurgias, sítio cirúrgico e tipo de osteotomia realizada. Além disso, os procedimentos cirúrgicos envolvendo a mandíbula são mais propensos a complicações do que os procedimentos envolvendo a maxila, e aqueles envolvendo ambas as mandíbulas são mais propensas a complicações do que os procedimentos envolvendo uma única mandíbula.
REFERÊNCIAS
AGBAJE, J. O. et al. Systematic review of the incidence of inferior alveolar nerve injury in bilateral sagittal split osteotomy and the assessment of neurosensory disturbances. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 44, n. 4, p. 447–451, 2015.
AL-NAWAS, B. et al. Influence of osteotomy procedure and surgical experience on early complications after orthognathic surgery in the mandible. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 42, n. 5, p. e284–e288, 2014.
DUBOIS, L. et al. Controversies in orbital reconstruction–II. Timing of post-traumatic orbital reconstruction: a systematic review. International journal of oral and maxillofacial surgery, v. 44, n. 4, p. 433–440, abr. 2015.
JONES, J. K.; VAN SICKELS, J. E. Facial nerve injuries associated with orthognathic surgery: A review of incidence and management. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 49, n. 7, p. 740–744, 1991.
KIM, S.-G.; PARK, S.-S. Incidence of Complications and Problems Related to Orthognathic Surgery. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 65, n. 12, p. 2438–2444, 2007.
LANIGAN, D. T.; ROMANCHUK, K.; OLSON, C. K. Ophthalmic complications associated with orthognathic surgery. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 51, n. 5, p. 480–494, 1993.
LANIGAN, D. T.; WEST, R. A. Aseptic necrosis of the mandible: Report of two cases. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 48, n. 3, p. 296–300, 1990.
MARTIS, C.; KARABOUTA, I. Infection after orthognathic surgery, with and without preventive antibiotics. International Journal of Oral Surgery, v. 13, n. 6, p. 490–494, 1984.
PELEG, O. et al. Orthognathic surgery complications: The 10-year experience of a single center. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 49, n. 10, p. 891–897, 2021.
STANBOULY, D. et al. What factors influence the cost of orthognathic surgery among patients in the US? Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology and Oral Radiology, 2022.
STRATTON, M. et al. Benefits of the enhanced recovery after surgery pathway for orthognathic surgery. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 51, n. 2, p. 214–218, 2022.
ZARONI, F. M. et al. Complications associated with orthognathic surgery: A retrospective study of 485 cases. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 47, n. 12, p. 1855–1860, 2019.
1https://orcid.org/0000-0003-4683-1208
2https://orcid.org/0000-0001-7805-7099
3https://orcid.org/0000-0002-0828-3434
4https://orcid.org/0009-0003-2928-0907
5https://orcid.org/0009-0000-0347-0807
6https://orcid.org/0009-0006-1155-2291
7https://orcid.org/0000-0001-5290-0308
8https://orcid.org/0000-0003-4019-0032
9https://orcid.org/0000-0001-6074-0308
10https://orcid.org/0009-0007-5374-2584
11https://orcid.org/0009-0005-5324-0272
12https://orcid.org/0009-0005-0220-3439