CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS: LINHA 19 – CELESTE DO METRÔ DE SÃO PAULO COMO AGENTE DO FUTURO DA MOBILIDADE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7361528


Carolina Lobregati Lopes1 
Clecia dos Santos Sousa1 
Giovanne Soares Silveira1 
João Vitor de Souza1 
Thiago Caires Taboada da Silva1 
Orientadora: Ana Paula Branco do Nascimento2


RESUMO

Desde meados do século passado, o padrão de mobilidade da população brasileira vem passando por fortes modificações, reflexo principalmente do intenso e acelerado processo de urbanização ocorrido no país neste período e do crescimento das viagens urbanas motorizadas. A pesquisa tem por objetivo avaliar a percepção sobre a mobilidade das duas maiores cidades do estado de São Paulo, o mais populoso do país, sendo as cidades de Guarulhos e a capital homônima por seus moradores. Foi realizada entrevista com 91 participantes, sendo habitantes de ambas cidades e que utilizam ou não o transporte público metropolitano, a escolha de ambas cidades deu-se pelo início dos projetos executivos por parte do Metropolitano de São Paulo (Metrô de São Paulo), que iria conectar ambas cidades através da Linha 19 – Celeste. Através da categorização das perguntas, foi elaborado um roteiro que permite a análise quantitativa dos dados da pesquisa, bem como apresentar a discussão sobre a Linha 19 – Celeste como agente do futuro da mobilidade.

PALAVRAS-CHAVE: mobilidade urbana; desenvolvimento sustentável; Percepção do usuário.

  1. INTRODUÇÃO

Desde meados do século passado, o padrão de mobilidade da população brasileira vem passando por fortes modificações, reflexo principalmente do intenso e acelerado processo de urbanização ocorrido no país neste período e do crescimento das viagens urbanas motorizadas. Contudo, apesar das modificações, a população das duas maiores cidades do estado de São Paulo (São Paulo Capital e Guarulhos), assim como outras cidades da região metropolitana, ainda enfrentam problemas para realizar seus deslocamentos diários (a trabalho, estudo e outras atividades). Tais problemas estão relacionados a falta de acesso, rápido, fácil e direto a linhas de mobilidade sustentáveis que reduzem o tempo de deslocamento. Ainda observando os desafios apresentados no processo crescente de urbanização e motorização, estes problemas se agravam e se correlacionam com outros desafios: Primeiro, além da escassez de mobilidade rápida e sustentável, a cidade de Guarulhos, junto a capital enfrentam: enchentes, poluição, fome e pobreza.

Segundo, com o aumento do transporte individual motorizado, as condições de mobilidade da população vêm se degradando, principalmente em função do crescimento dos acidentes de trânsito com vítimas, dos congestionamentos urbanos e dos poluentes veiculares. Poucas são as políticas públicas adotadas no país, que contribuem para alterações nesse quadro em curto e médio prazo, pois os incentivos à utilização intensa de veículos privados prevalecem sobre as medidas de estímulo ao uso do transporte público e do transporte não motorizado.

Entende-se que “a mobilidade dentro da visão da sustentabilidade pode ser alcançada sob dois enfoques: um relacionado com a adequação da oferta de transporte ao contexto socioeconômico e outro relacionado com a qualidade ambiental. No primeiro se enquadram medidas que associam o transporte ao desenvolvimento urbano e a equidade social em relação aos deslocamentos e no segundo se enquadram a tecnologia e o modo de transporte a ser utilizado.” (CAMPOS, 2006)

Dentro da mobilidade sustentável, no tocante ao desenvolvimento urbano e a equidade social, um dos desafios atuais da Companhia Metropolitano de São Paulo (Metrô de São Paulo) é modernizar e ampliar suas linhas, de modo que consiga atender, cada vez mais, o maior número pessoas, como também ampliar sua malha para mais áreas afastadas e populosas. Guarulhos, 2ª cidade mais populosa do estado e maior cidade não-capital do Brasil, até os dias de hoje, não possui ligação direta via Metrô com a capital, fato a ser solucionado com a implantação da Linha 19 – Celeste, sendo um dos principais elos entre as duas maiores cidades do estado. Com as perspectivas socioambientais em ambas as cidades, pode-se entender como a expansão do metrô contribui para a mobilidade, desta forma, considerando este cenário de desenvolvimento já preconizado no PITU – Plano Integrado de Transportes Urbano do Estado de São Paulo, a implantação da Linha 19 – Celeste do Metrô de São Paulo pode ser um agente do futuro da mobilidade visando as cidades e comunidades sustentáveis, assunto-título do trabalho.

A partir desse contexto, e a problemática apresentada, define-se a seguinte questão: Qual a percepção dos usuários de transporte e como os benefícios e desafios afirmam que a linha 19- Celeste é um transporte sustentável?

O foco geral do estudo estruturou-se com base na implantação e desenvolvimento da Linha 19- Celeste, como agente do futuro da mobilidade sustentável. Para isso, foi colocado em pauta a percepção dos usuários quanto ao cenário atual da mobilidade urbana, a implantação da Linha 19- Celeste apresentando seus desafios e benefícios no âmbito socioeconômico, físico e biótico buscando correlacionar com a mobilidade sustentável. 

Desta forma, o estudo elaborado no presente artigo promove-se no campo acadêmico, pois agregará novos conhecimentos aos futuros egressos sobre a importância de avaliar os desafios e benefícios da implantação de um novo modal urbano, buscando a mobilidade sustentável. Já na esfera social e profissional o estudo agrega em análises e discussões de como o meio físico, ambiental e social influencia nas percepções do indivíduo e como isso afeta positivamente ou negativamente nas tomadas de decisões de cada pessoa. 

Para isso o artigo estrutura-se da seguinte forma: Objetivos, esta seção descreve os principais motivos pelos quais este estudo foi feito, nele constam informações do objetivo geral. Metodologia descreve como foi realizada e que tipos de dados foram utilizados para dar estrutura a esta pesquisa. Resultados, nesta seção é descrito todos os dados pesquisa de campo e Linha 19-Celeste que fez parte deste estudo, é feita discussão correlacionando a percepção dos usuários de transporte ao cenário atual mobilidade urbana sustentável e a linha 19-Celeste. Conclusão, por fim é nesta etapa que todos os dados colecionados durante o estudo são consolidados. 

  1. OBJETIVOS

Avaliar a percepção dos usuários de transporte nas cidades e como o projeto metroviário Linha 19- Celeste com seus desafios e benefícios pode contribuir para uma cidade mais sustentável e se tornar um agente do futuro da mobilidade urbana nas cidades de São Paulo e Guarulhos.

  1. METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste estudo é determinada por procedimentos metodológicos necessários para que o objetivo proposto possa ser alcançado. A abordagem utilizada neste trabalho, foi a pesquisa qualitativa, segundo Creswell (2007), esses procedimentos decorrem da necessidade de reunir dados quantitativos e qualitativos na coleta e análise de dados em um determinado estudo. 

Ainda sobre os métodos empregados a natureza é de pesquisa básica é feita para aumentar o que sabemos sobre um determinado assunto. Quanto aos objetivos, esta pesquisa se classifica como exploratória, que permite uma maior familiaridade entre o pesquisador e o tema pesquisado, visto que este ainda é pouco conhecido, pouco explorado (VERGARA, 2012). Para tanto, envolve levantamentos bibliográficos, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema, além da análise de exemplos. 

Com essas premissas para este trabalho foram utilizados os seguintes procedimentos, nas seguintes etapas, conforme o Quadro 1: Pesquisa bibliográfica, Pesquisa de campo com aplicação de questionário e Pesquisa documental.

Quadro 1. Planejamento da coleta de dados para responder o objetivo deste trabalho.

EtapasMétodoColeta de dados
1Revisão Bibliográfica1. Mobilidade urbana sustentável
2. Problemas com a mobilidade urbana no Brasil
3. Mobilidade Urbana x Metrô x  cidade de São Paulo
4. Linha 10-Celeste
2Questionário– Perfil socioambiental dos entrevistados;
– Identificar como os entrevistados percebem a mobilidade urbana avaliando o impacto na qualidade de vida;
– Principal meio de transporte utilizado;
– Perspectivas sobre possíveis alternativas;
3Revisão documental– Relatório de Impacto Ambiental – RIMA relativo à Linha 19-Celeste – Trecho Bosque Maia/Anhangabaú
– Identificação e avaliação dos impactos
– Planos E Programas Ambientais
Fonte 1. Autores, 2022.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Análise de pesquisa de campo

Foi realizada uma pesquisa durante duas semanas, com moradores de São Paulo sobre suas percepções e opiniões em relação à mobilidade. Contribuíram com suas opiniões 91 participantes. Os dados obtidos permitem explorar o tema sob uma ótica complementar às informações obtidas nesse artigo e demais estudos sobre mobilidade urbana. Seguem os principais resultados obtidos pela pesquisa:

4.1.1. Perfil da Amostra

 Os participantes residem em Guarulhos ou São Paulo, cidades estas que contemplam o projeto da linha 19- Celeste. Cerca de 72% de participantes possuem até 29 anos, 7% de 30 a 39 anos e 21% acima de 40 anos, apontando para uma participação maior dos jovens na amostra. 86% possuem ensino superior incompleto ou completo. 28% declararam possuir renda familiar acima até R$ 9.263 e dessa forma se enquadram nas classes B, C e D, conforme o critério de classificação econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP. A participação dos moradores das cidades se dividiu por regiões da seguinte forma: maior participação de moradores da Zona leste (57%), 15% pertencentes à Zona Norte, 13% residem na Zona Sul, 8% na Zona Oeste e 7% na região central. A maioria dos participantes, aproximadamente 56%, possuem veículos próprios, sendo estes carros e/ou motos.

Tabela 1:  Caracterização do perfil socioambiental dos entrevistados no período de novembro de 2022.

Fonte 3: Elaborado pelo autor a partir dos dados levantados

4.1.2. Resultados da pesquisa

Os entrevistados foram perguntados sobre sua atual qualidade de vida e convidados a avaliar seu grau atual, classificando-a entre positivo ou negativo. Foram listados os principais pontos positivos das cidades e elencados na pesquisa na seguinte ordem: 1° Variedade de serviços e negócios ofertados (50,5%), 2° Importantes universidades e instituições de ensino (46,2%), 3° Mercado de trabalho (41,8%) e 4° Grandes Parques e Praças públicas (35,2%).

Já os pontos negativos se destacam expressivamente para o Trânsito, apontada como principal para 61,5% dos entrevistados. Logo em seguida a violência e insegurança se despontam entre as demais opções com 59,3%. Com percentuais menores, porém expressivos, estão a poluição (51,6%) e o alto custo de vida (50,5%).

O impacto da mobilidade urbana resulta em uma influência negativa sobre a qualidade de vida. A relação negativa desse impacto é direta sobre a produtividade dos moradores da cidade sob a ótica de 65% dos entrevistados.

O meio de transporte mais utilizado é o carro particular, com 23,1% dos respondentes. Seguem na sequência: apenas ônibus (17,6%), metrô + ônibus (15,4%) e 13,2% para metrô + trem + ônibus. O agrupamento dos principais meios de transporte apontam que aproximadamente 63% dos entrevistados utilizam o transporte público em seus deslocamentos diários como meio de transporte principal.

Já aos finais de semana a quantidade de entrevistados que usam o carro como principal meio de transporte passa para 53,8%. Outros aproximadamente 20% utilizam o transporte público em seus deslocamentos durante esses dias. De forma geral, a avaliação é de insatisfação em relação à principal forma de transporte utilizada durante a semana.

Em relação ao meio de transporte preferencial para realizar os deslocamentos durante a semana, os entrevistados apontaram que o meio mais desejado é o carro. Os demais seguem na seguinte sequência: deslocamento a pé, bicicleta e apenas metrô. 

Aos finais de semana a representatividade do meio carro aumenta para 72,5%, seguido pela bicicleta, deslocamentos a pé e uso de Táxi. 

Em São Paulo, segundo o IBGE (2019), informa que o tempo médio de deslocamento feito diariamente é de 1 hora e 30 minutos, por semana chega a 7,8 horas.

Atualmente, 18% dos entrevistados informaram considerar, com alguma certeza ou com toda certeza, mudar de emprego para trabalhar próximos de suas casas, mesmo ganhando um valor inferior ao atual ganho. Esse número aumenta quando se considera ganhar o mesmo valor dos praticados pelos trabalhos atuais, sendo que mudariam com certeza 56% dos entrevistados. Diante do cenário “ganhando mais”, a certeza de mudança chega a 85% dos participantes.

 Apenas 5% dos entrevistados utilizam transportes alternativos, como bicicleta, em seus deslocamentos diários. Porém 52,8% indicaram possuir a intenção de utilizar com certeza ou alguma certeza esses meios. Entre os que indicaram não ter interesse na sua utilização 82% eram homens.

 A bicicleta é apontada como o principal meio para estes deslocamentos, por 48,4%. O principal motivo da não utilização dos meios de transporte alternativos no momento é a distância entre os locais que se é necessário percorrer, vistos como “longe”, apontado por 46,2% dos entrevistados. Outro fator significativo é a falta de estrutura adequada na cidade para a realização dos deslocamentos por 35,2%. A falta de respeito dos motoristas representou 25,3% das respostas desta questão. 

Pesquisas anteriores levantaram que o tempo médio gasto pelo paulista estaria próximo de duas horas e meia por dia. Foi perguntado aos participantes sobre o que gostariam de fazer, caso fosse possível aproveitar esse tempo. Foram tidos os seguintes resultados: 57,1% gostariam de usar esse tempo para praticarem mais esportes; 52,7% cuidarem mais da saúde; 39,6% aproveitaram o tempo para estudar mais e outros 38,5% responderam que dormiram mais. Já 37,4% utilizaram a oportunidade para gostariam de passar mais tempo com suas famílias e aproximadamente 24,2% aproveitariam esse tempo para ler mais.

Figura 1. Gráficos das quantidades de respondentes por conceitos avaliativos relativos às perguntas no questionário semiestruturado que foi aplicado em 2022.

Fonte 4. Elaborado pelos autores.

Observou-se que a porcentagem de utilização de veículo particular para uso individual é proporcional à renda e a faixa etária, e que dentre os pesquisados mais de 50% utilizam este transporte como seu principal meio de mobilidade. O transporte utilizado varia de acordo com o motivo da viagem: de segunda a sexta predomina o uso de transporte público e finais de semana veículos particulares. Em uma análise geral, tem-se que a segurança é o atributo mais importante e o conforto é o que menos impacta na escolha do transporte. Para os usuários do veículo particular o atributo tempo de viagem se sobressai em nível de importância. A faixa etária de 16 a 29 anos, apresenta mobilidade em quase todos os transportes disponíveis, confirmando ser a faixa etária mais ativa. O índice de utilidade do metrô, de acordo com os aspectos socioeconômicos analisados, apresentou o melhor índice de utilidade na mobilidade. Conclui-se que a faixa etária e a renda familiar influenciam na mobilidade dos usuários, isto pôde ser observado através da percepção dos participantes em relação à utilidade dos atributos de mobilidade de cada transporte, seja pelas opções atuais de transportes ou a consideração de outra forma de deslocamento mais sustentável. Logo, faz-se necessário preencher as lacunas existentes no sistema de mobilidade urbana através de intervenções pontuais, que proporcione o uso igualitário do espaço urbano e promova a utilização do transporte não motorizado e do transporte público coletivo proporcionando uma maior qualidade de vida aos usuários.

4.2. Estudo de caso Linha 19- Celeste

A Linha 19- Celeste é uma proposta de implementação da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), no Quadro 3, onde encontram-se mais informações sobre o empreendimento.

Quadro 3. Caracterização da Linha 19-Celeste.

Fonte 5. Elaborado pelos autores (RIMA, 2022)

Figura 2. Localização regional da Linha 19-Celeste, trecho Bosque Maia/Anhangabaú (sem escala).

Fonte 6. RIMA, 2022.

Pensando em sustentabilidade no aspecto social, ambiental e econômico, o Quadro 4 evidencia os desafios e benefícios da Linha 19- Celeste, retratados na fase de operação da Linha. As informações foram retiradas do Relatório de impacto ambiental.

Quadro 4. Benefícios e Desafios da ampliação do transporte público na cidade de São Paulo, SP.

Fonte 7. Elaborado pelos autores (RIMA, 2022).

Analisado a intenção de expansão prevista para a malha metroviária (a cargo do Metrô/ SP) e da malha ferroviária (a cargo da CPTM/ SP) considerado no cenário de desenvolvimento preconizado pelo PITU – Plano Integrado de Transportes Urbano do Estado de São Paulo, a implantação da Linha 19–Celeste atende de forma positiva a intenção de desenvolvimento e expansão.

O relatório apresenta a Linha 19- Celeste como uma linha de integração, sendo assim, novas ligações proporcionadas pela linha, não só atenderá a outras linhas de metrô como irá integrar-se a todo o sistema estrutural de transportes municipais e metropolitano, alteraram de forma positiva a acessibilidade da população, de forma planejada e com previsibilidade para atender suas necessidades diárias. Observam-se, também, principalmente nas áreas de influência indireta e direta do empreendimento, intensas transformações urbanas e uma multiplicidade de projetos localizados e que, se implementados, tenderão acarretar, entre outras transformações, uma ampliação significativa de fluxos viários em toda a região de influência do projeto aqui contemplado.

Ao analisar os documentos do Relatório de Desafios Ambiental da Linha 19-Celeste, Trecho Bosque Maia / Anhangabaú, os estudos e as análises realizadas ao longo da elaboração destes documentos conduz ao entendimento de que, de fato, implantação e a operação da linha constituirá uma grande contribuição à mobilidade urbana, refletindo‐se significativamente na melhoria das condições de deslocamento das populações residentes em Guarulhos e São Paulo. No contexto de afetar o ambiente natural, entende-se que afetará com uma tendência reduzida já que a implantação ocorrerá em uma região que se mostra totalmente urbanizada e conturbada, refletida através de intensa ação do ser humano sobre o meio ambiente.

No âmbito dos desafios identificados no meio biótico durante a operação da linha, em relação a avifauna (caracterizada pela predominância absoluta de espécies de baixa sensibilidade às alterações ambientais), a extinção de árvores isoladas poderá trazer consequências, entre elas a perda de hábitat. Neste caso, o plantio compensatório de mudas será a medida mitigadora para este desafios, uma vez que depois de revegetadas as áreas propostas para tal fim servirão novamente de habitat para a avifauna regional.

Relativamente aos potenciais desafios do meio físico, ressalta se que todos terão caráter temporário e ocorrência predominantemente na fase de implantação, na fase de operação se refletirá na maioria das vezes as atividades e os serviços típicos da Operação rotineira da Linha 19-Celeste, manutenções preventivas e/ou corretivas / operações de abastecimento dos veículos e equipamentos; tráfego e movimentação de veículos pesados, máquinas e/ou equipamentos, necessários à operação da Linha 19-Celeste. 

Por fim, relativamente aos potenciais desafios do projeto no meio socioeconômico, entende-se que na etapa de operação, incidiram principalmente, sobre a população residente no entorno imediato das principais estruturas de apoio operacional projetadas em superfície e sobre os próprios trabalhadores alocados nas diferentes frentes de serviços, com o que a ênfase maior é dada às medidas de controle, segurança e conforto ambiental dos moradores e usuários das áreas afetadas, e da mesma forma, aos trabalhadores.

Da mesma forma, há de se destacar que a implantação da Linha 19 – Celeste gerará uma série de desafios ambientais positivos, previstos nas diferentes fases do empreendimento, destacando-se entre eles: Benefícios socioambientais, diretos e indiretos, para a população residente na AID e ADA; Readequação do sistema de transporte público na AII e AID, incluindo o aumento da mobilidade da população residente nessas áreas e em parte da RMSP; e Geração de empregos. 

No cenário mostrado acima, cada um dos desafios identificados no relatório são dadas propostas de medidas de controle ambiental que, por sua vez, poderão ter características mitigadoras e/ou compensatórias (para os desafios negativos), ou potencializadas (para os desafios positivos), cuja implementação é, na maioria das vezes, de responsabilidade do empreendedor, via empresas construtoras contratadas.

4.3 Discussões

Evidente nos últimos tempos, houve aumento de viagens individuais motorizadas em detrimento das viagens por transporte público coletivo. Do ponto de vista do bem-estar individual, é positiva a escolha já que a modalidade hoje traz mais conforto e qualidade de vida, vimos isso nas escolhas de modais pelos usuários que responderam o questionário. Mas a qualidade de vida urbana e funcionamento das cidades afetam de forma negativa.

Os acidentes de trânsito são o primeiro ponto negativo, com impacto devastador sobre a sociedade; O aumento dos tempos de viagens das pessoas é outro forte ponto negativo desse padrão de mobilidade individualizado, principalmente nos grandes centros urbanos, onde se concentra a maior parte da frota de veículos. O aumento da poluição atmosférica (e sonora) também se constitui em importante ponto dos sistemas de mobilidade.

Na ótica da sustentabilidade, deve haver preocupação permanente em aumentar a participação do transporte público coletivo e também do transporte não motorizado na matriz modal de deslocamentos. Modos coletivos de transporte apresentam gastos de energia e consequentemente emissões de poluentes per capita muito menores. Dessa forma, cidades com maior percentual de viagens com transporte público, bicicletas e a pé apresentam menores níveis de poluição atmosférica e sonora, além de serem mais funcionais do que as cidades com alto grau de uso de veículos motorizados privados.

As questões ligadas à organização, à forma e ao desenvolvimento das cidades também são importantes para a sustentabilidade ambiental. Na análise dos relatórios evidenciou, ainda, que os benefícios previstos de ocorrer com a implantação da Linha 19 – Celeste se concentraram mais intensamente nos municípios Guarulhos e São Paulo; entretanto, indiscutivelmente, o empreendimento também contribuirá para a racionalização do sistema de transporte da RMSP, para uma redução generalizada dos tempos gastos no transporte, para economias nos custos de transportes e para uma grande diversidade de outros benefícios socioeconômicos, diretos e indiretos, que asseguram que o balanço socioambiental geral deste empreendimento é amplamente positivo.

5. CONCLUSÃO

Esse trabalho pretendeu entender como a Cidade de São Paulo pode se tornar uma cidade mais sustentável, trazendo como proposta a linha 19 – Celeste do metrô como agente do futuro da mobilidade. 

As condições de mobilidade da população vêm se degradando muito no Brasil nos últimos anos com o aumento do transporte individual motorizado, principalmente em função do crescimento dos acidentes de trânsito com vítimas, dos congestionamentos urbanos e também dos poluentes veiculares. A partir desse contexto, procurou-se iniciar um debate sobre a percepção dos usuários de transportes e o que caracterizaria um modelo de mobilidade urbana sustentável para as cidades e como a Linha Celeste-19 traça os caminhos e princípios para viabilizá-lo, a partir de Pesquisas bibliográficas, Pesquisa de campo com aplicação de questionário e Pesquisa documental. 

Para se atingir uma compreensão da percepção dos usuários de transporte e como o projeto metroviário Linha 19- Celeste com seus desafios e benefícios pode contribuir para uma cidade mais sustentável nas cidades de São Paulo e Guarulhos, definiu-se três objetivos específicos. O primeiro pesquisar sobre a mobilidade urbana atual e a mobilidade sustentável. Depois, entrevistar usuários de transportes de Guarulhos e São Paulo e por fim realizar análise documental dos estudos de impacto ambiental da Linha 19- Celeste. Com isso, a hipótese do trabalho “Qual a percepção dos usuários de transporte e como os benefícios e desafios afirmam que a linha 19- Celeste é uma transporte sustentável?” Se confirmou que, embora a fase de operação do empreendimento também possa provocar alterações no âmbito socioambiental, comumente essas alterações possuem um caráter positivo tendo em vista tratar-se de um modal de transporte com baixo impacto em substituição a outros modais com maior grau de impacto socioambiental. 

Sendo assim, a percepção dos usuários de transporte do cenário atual da mobilidade urbana é de insatisfação e por consequência houve aumento no uso de veículos particulares e que podemos afirmar que a linha trará grandes benefícios entre eles a readequação do sistema de transporte público, incluindo o aumento da mobilidade da população residente nessas áreas e em parte da RMSP. Os instrumentos de coleta dos dados permitiram o entendimento das percepções e opiniões dos moradores das cidades contempladas pela Linha 19-Celeste em relação à mobilidade e as pesquisas bibliográficas foram esclarecedoras sobre a mobilidade sustentável para se ter a possibilidade de avaliação dos desafios e benefícios da Linha 19- Celeste. Em pesquisas futuras, pode-se pesquisar a percepção dos usuários após a implantação da Linha 19- Celeste ou de outros modais implantados; Analisar se foram atingidas as metas de sustentabilidade para a mobilidade urbana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério Brasil 2022. 2022. Disponível em: https://www.abep.org/criterio-brasil. Acesso em: 02 Nov. 2022.

CAMPOS, Vânia Barcellos Gouvêa. Uma visão da mobilidade urbana sustentável. Revista dos transportes públicos, v. 2, n. 99-106, p. 4, 2006.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed, 2007. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002 .

HOME AGENT. Os desafios da mobilidade urbana na cidade de São Paulo. 2013. Disponível em: https://www.mobilize.org.br/estudos/133/os-desafios-da-mobilidade-urbana-na-cidade-de-sao-paulo.html. Acesso em: 02 Nov. 2022.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA- Mobilidade urbana sustentável: conceitos, tendências e reflexões .2016. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6637/1/td_2194.pdf. Acesso em: 05 Nov. 2022.

METRÔ- EIA/RIMA – Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental da Linha 19 – Celeste. 2022. Disponível em: https://transparencia.metrosp.com.br/dataset/eiarima-estudo-de-impacto-ambiental-e-relat%C3%B3rio-de-impacto-ambiental-da-linha-19-celeste. Acesso em: 04 Nov. 2022.

METRÔ CPTM- Projeto básico da Linha 19-Celeste custará R$ 93 milhões ao Metrô. 2021. Disponível em: https://www.metrocptm.com.br/projeto-basico-da-linha-19-celeste-custara-r-93-milhoes-ao-metro/. Acesso em: 02 Nov. 2022.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 11 ed. São Paulo: Hucitec, 2008. 

PÁDUA, L. C. T. A geografia de Yi Fu Tuan: Essências e Persistências. 2013, 208f. Tese (Doutorado em Geografia). 2013. Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

PREFEITURA DE GUARULHOS- Metrô inicia sondagem para as obras da linha 19-Celeste na avenida Paulo Faccini.2022. Disponível em: https://www.guarulhos.sp.gov.br/article/metro-inicia-sondagem-para-obras-da-linha-19-celeste-naavenidapaulofaccini#:~:text=O%20cronograma%20prev%C3%AA %20que%20as,e%20seja%20finalizada%20at%C3%A9%202030. Acesso em: 04 Nov. 2022.

SANCHEZ, Luís Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. 3 ed. São Paulo: Oficina de textos, 2020.

VALOR. IBGE: Tempo de deslocamento ao trabalho no país é de 4,8h por semana, mas chega a 7,8h em SP. 2021. Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/05/07/ibge-tempo-de-deslocamento-ao-trabalho-no-pais-e-de-48h-por-semana-mas-chega-a-78h-em-sp.ghtml . Acesso em: 02 Nov. 2022.

VASCONCELLOS, E. A. de; CARVALHO, C. H. R. de; PEREIRA, R. H. M. Transporte e mobilidade urbana. Brasília, DF: CEPAL. Escritório no Brasil-IPEA, 2011.


1Graduando(a) em Engenharia de Produção, USJT, Brasil
2Orientadora: Professora Doutora, USJT, Brasil