CYCLE OF LECTURES IN ACTION RESEARCH WITH A FOCUS GROUP OF LIBRAS/PORTUGUESE LANGUAGE TRANSLATORS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202412100432
Jailma da Costa Silva Dantas1
Shirley Barbosa das Neves Porto2
Resumo
Nosso objetivo neste artigo é apresentar a metodologia utilizada em uma pesquisa-ação de abordagem qualitativa (Bogdan e Biklen, 1994; Moreira e Caleffe, 2008) com grupo focal (Gondim, 2002), em uma formação para tradutores de Libras de instituições federais e estaduais da cidade de Campina Grande – PB, que se constituiu como parte de uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O ciclo de palestra com foco na estética da Libras (Sutton-Spence, 2021), saberes necessários ao tradutor (Rodrigues e Santos, 2018; Laguna, 2015; e Rosa, 2005) e Competência Tradutória (CT) do grupo PACTE (2003), da literatura infantil (Silva, 2020) e produção audiovisual (Zettl, 2017), para posterior a tradução da obra literária infantil ‘Maria vai com as outras’ (Orthof, 2002) o ciclo ocorreu de maio de 2023 a agosto de 2024 e foi composto por sete palestras neste texto.
Palavras-chave: Literatura em Libras 1; Tradução de texto literário infantil para a Libras 2; Formação de tradutor de Libras 3.
1. INTRODUÇÃO
Neste artigo iremos apresentar a metodologia utilizada em nossa pesquisa com tradutores de Língua Brasileira de Sinais (Libras) de instituições federais e estaduais da cidade de Campina Grande – PB, diante da formação ofertada a eles com vistas a tradução de uma literatura infantil escrita em português ‘Maria vai com as outras’ Orthof (2002)3, para Libras conforme os elementos da estética da Libras e produção em vídeo.
Essa circunstância de necessidade formativa em cursos não acadêmicos ocorre do fato de que, no Brasil, o bacharelado em Letras/Libras ainda é uma formação escassa e, quando se trata de uma tradução literária a ser realizada por tradutores de Libras, a ausência dessa formação se constitui como uma problemática.
Diante desse cenário, surgiu a inquietação de saber como a literatura escrita da língua portuguesa está sendo traduzida para Libras e como uma formação em grupo focal contribuiria com os tradutores. Assim, elaboramos e submetemos um projeto de pesquisa ao Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino (PPGLE) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) que continha as seguintes questões de pesquisa: Com qual conhecimento e competência técnica os tradutores de Libras participantes de nossa pesquisa têm atuado para tradução literária? De que modo um ciclo de formação realizado na UFCG – Universidade Federal de Campina Grande, focado na tradução por meio da estética da Libras pode contribuir com a realização de uma tradução de literatura infantil?
Diante disso, para a realização da pesquisa, definimos como objetivo geral: analisar o processo de formação dos tradutores de Libras em um ciclo de palestra com foco na estética da Libras e sua repercussão da formação na tradução da obra literária infantil ‘Maria vai com as outras’ Orthof (2002).
Com o intuito de efetivar esse objetivo, formulamos os seguintes objetivos específicos: 1) Desenvolver com os profissionais um estudo em grupo sobre livro infantil e produção videossinalizada; 2) Identificar o perfil profissional e os saberes teóricos e práticos em literatura infantil dos tradutores de Libras da UFGC-CG, UEPB-CG e IFPB-
CG sobre Literatura Estética em Libras; 3) Observar suas escolhas quanto aos elementos estéticos para produção da obra vídeossinalizada perante as implicações de novos saberes no processo de construção da tradução a partir da formação dos TILSPs sobre literatura infantil acontecidos no Ciclo de palestras; 4) Analisar a tradução da literatura Maria vai com as outras Orthof (2002) com os tradutores.
Com isso, a proposta da pesquisa seria a realização tomando um ciclo de palestras com temas interligados, como o espaço formativo dos tradutores e os temas definidos para estudos foram: a estética da Libras, a tradução de literatura, a produção audiovisual e a literatura infanto-juvenil. Buscávamos na interação entre os estudos realizados e as considerações dos tradutores resolução de nossas questões de pesquisa.
Sendo assim, após aprovação e inserção no mestrado, iniciamos a pesquisa utilizando-nos da abordagem qualitativa, conforme explanado por Moreira e Caleffe (2008), com suas técnicas de coletas de dados, que permitem através da interação a compreensão da proposta de investigação de forma rica e detalhada.
Ainda dentro desse contexto de definição metodológica, adicionamos duas abordagens ao nosso trabalho investigativo, a pesquisa-ação, segundo a proposta de Bogdan e Biklen (1994), buscando, junto ao coletivo estudado, tornar aparente as necessidades ocultas dos tradutores de Libras/Língua Portuguesa, e o grupo focal, como abordado por Gondim (2002), com a perspectiva de produzir informações em contexto de discussão coletiva que oferece uma ferramenta efetiva perante a experiência vivenciada pelos participantes para apreender as percepções e reflexões, possibilitando a troca de ideias e experiências em torno dos conteúdos abordados.
Os resultados esperados por meio da combinação dessas abordagens metodológicas foram de que uma formação específica no âmbito da literatura e tradução literária possam contribuir com traduções da literatura infantil escrita para a Libras e que investigar contribuições de formação em formato de Ciclo de Palestras ofertadas para compreensão dos assuntos discutidos sobre literatura, estética da Libras, tradução e produção em audiovisual, de modo a proporcionar uma reflexão crítica sobre suas práticas tradutórias realizadas antes do ciclo de palestras e as aplicadas depois que desembocam na performance de cada profissional da tradução em vídeos da narrativa “Maria vai com as outras” Ortohf (2002) se constitui como necessidade para uma área profissional em que a graduação ainda não se faz presente em todas universidades do país.
Estes profissionais aceitaram fazer parte da pesquisa de forma voluntária, participaram da formação do formato de ciclo de palestras, em sequência de um grupo focal, no qual realizaram tradução da literatura infantil escrita na língua portuguesa escolhida para a Libras. A descrição desse processo está descrita nas seções a seguir.
2. PESQUISA-AÇÃO POR MEIO DO CICLO DE FORMAÇÃO E PRODUÇÃO VIDEO SINALIZADA DE TRADUTORES DE LIBRAS ATRAVÉS DO GRUPO FOCAL
Nessa seção nos deteremos em apresentar e descrever a abordagem utilizada na pesquisa, o perfil dos participantes, a coleta dos dados com descrição do ciclo de palestra e instrumentos utilizados para execução do trabalho, movimento da tradução de uma literatura infantil com o grupo focal e o processo da produção em Libras e gravada em vídeo e as categorias para análise dos dados.
2.1 Abordagem e Tipos de pesquisa: os percursos da pesquisa-ação e do grupo focal
Em nossa pesquisa trabalhamos com a abordagem qualitativa que, para Moreira e Caleffe (2008), possui como características o dado verbal e a coleta através de procedimentos como observação, descrição e gravação, explorando características dos sujeitos e cenários que não podem ser descritos numericamente.
Essa abordagem, também chamada de método de investigação por Bogdan e Biklen (1994), além da observação e descrição requer que o pesquisador seja empático com os participantes e se esforce em compreender os diversos pontos de vista na busca por entender o cenário em que eles estão inseridos.
A exploração sobre o contexto da rotina dos participantes, nesse sentido, o nível de ensino no qual atuam, formação e grau de conhecimento sobre literatura infantil e estética da Libras, assim como o ponto de vista de cada profissional, nos permitiram entender seus conhecimentos e limitações relacionados às literaturas mencionadas por meio da observação entre cada etapa proposta nessa pesquisa.
Para a realização dessa investigação convidamos um grupo de tradutores de Libras, com um quantitativo de oito participantes, da rede pública de Instituições de Ensino Fundamental, Médio, Técnico e Superior da cidade de Campina Grande-PB, sendo dois de cada nível de ensino. Perante o exposto, na subseção a seguir, versamos sobre o primeiro método utilizado, a pesquisa-ação, que conforme Bogdan e Biklen (1994), está relacionada à abordagem qualitativa por se embasar nas palavras das pessoas, para compreensão de um problema social ou para persuadir outras a colaborarem contra esses efeitos.
2.1.1 A Pesquisa-ação e seu papel formativo no contexto da pesquisa
Para atender aos objetivos da pesquisa, definimos a Pesquisa-ação como um dos métodos para seu desenvolvimento, desse modo, levantamos informações relevantes para reflexões e alterações necessárias quanto a estética da Libra, tradução, literatura infantil e produção audiovisual que venham somar ao conhecimento dos profissionais na escolha da sinalização em suas atuações, conforme descrito no referencial teórico presente na formação dessa área profissional.
A pesquisa-ação ou investigação-ação conforme Bogdan e Biklen (1994, p. 292) “consiste na recolha de informações com objetivo de promover mudanças sociais”. Para os autores essas investigações tornam visíveis algumas necessidades desconhecidas e buscam por mudanças, das quais o investigador age em busca de fatos para esclarecimentos e resolução por meio do coletivo estudado.
A pesquisa-ação possibilitou-nos de alcançar nosso objetivo geral que foi analisar o processo de formação dos TILSPs no ciclo de palestra e sua repercussão na tradução de uma literatura infantil por meio do grupo focal, descrito na sessão seguinte.
No contexto da pesquisa-ação utilizamos um ciclo de palestras como espaço formativo, portanto de intervenção, dividido nas seguintes categorias de informação e estudos para os tradutores: estética da Libras, tradução de literatura, produção audiovisual, literatura infanto-juvenil.
A realização do ciclo de palestra mobilizou junto aos TILSPs formação para a tradução a ser realizada como parte do trabalho investigativo. Para pôr em prática essa ação utilizamos como instrumentos a observação e a descrição dos acontecimentos no caderno de campo, assim como gravação das palestras.
A observação nos permitiu visualizar como se processou a tradução para Libras da obra escolhida pelos participantes, pois conforme Gil (2008) essa técnica em comparação a outras, possui a vantagem de perceber os fatos de imediato, sem intermediação.
Nesse sentido, em cada palestra, observamos e registramos as falas dos tradutores e suas reações ao que estava sendo discutido e abordado, de modo a identificarmos o conhecimento prévio sobre a literatura infantil e estética em Libras dos participantes. Essa dinâmica investigativa nos possibilitou a obtenção dessas informações em tempo real, conforme Richardson (2010).
Aliado a esse instrumento pudemos descrever de forma detalhada em notas, em conformidade Bogdan e Biklen (1994), nossas impressões e considerações sobre a formação acontecida e a relação dos tradutores com ela. Esse tipo de registro se torna necessário para recolha dos dados, por isso, observamos as atitudes, diálogos, comportamentos dos participantes uma vez que, de acordo com Triviños (2008, p.155), “os comportamentos, as ações, as atitudes, as palavras, etc. envolvem significados… próprios do sujeito e do ambiente sociocultural e econômico ao qual pertence”. E isso significou a possibilidade de entendermos suas práticas e experiências, assim como o envovimento deles com a tradução de literatura infantil.
O registro de elementos importantes da nossa coleta de dados para nossa posterior análise, nos permitiu capturar/registrar as interações em cada etapa programada nessa investigação. Segundo Garcez, Duarte e Eisenberg (2011, p. 253), “certos aspectos somente podem ser registrados e analisados mediante o uso da gravação em vídeo”.
Através desse registro, pudemos captar também as manifestações viso-espaciais, com vistas a obter toda a subjetividade de cada momento, possibilitando maior fidelidade a análise dos dados no que tange ao momento de realização da tradução.
Os instrumentos de pesquisa utilizados, para Moreira e Caleffe (2008), compreendem passos relevantes, pois essas formas de registro nos permitem revisitar informações que poderiam passar despercebidas e fixá-las para construção da análise.
Na próxima subseção apresentamos mais um método que utilizamos para coleta de dados, o Grupo Focal – GF, que foi formado para funcionar como espaço para a construção da tradução da literatura palestras, onde levantamos informações dos participantes por meio de interação mediada pela pesquisadora.
2.1.2 O Grupo Focal e seu papel informativo no contexto da pesquisa
O papel metodológico do Grupo Focal conforme Trad (2009) é de “reunir informações detalhadas sobre um tópico específico (sugerido por um pesquisador, coordenador ou moderador do grupo) a partir de um grupo de participantes selecionados, nos ajudando a atingir os objetivos específicos.
Conforme a referida autora, essa metodologia traz auxílio para a compreensão do comportamento sobre um tema, opiniões, convicção, produtos ou serviços durante a interação para o processo de coleta de informações.
Por meio da interação acontecida no grupo focal, pudemos observar a repercussão da formação no ciclo de palestra; o que foi significado, pensado de cada aula; e o que mudou em termos de falas sobre mudanças de suas práticas durante o decorrer desse estudo.
Na busca por responder nossas questões que circundam a competência técnica utilizada na atuação de tradução literária antes do ciclo de palestras, o grupo focal também foi registrado em vídeo, de modo que os dados registrados permitam dizer como essa formação contribuiu com a realização da tradução de literatura infantil escolhida.
Diante da explanação acima, na sequência, apresentamos, o ciclo de palestras, o qual realizamos com intuito de responder as perguntas de nossa pesquisa. Porém para que o relato apresentado na sequência se torne mais claro, é necessário falarmos da primeira etapa de nossa pesquisa, a primeira entrevista, para então focarmos no ciclo de formação.
2.2 O registro dos dados
A coleta de dados se deu de maio de 2023 a agosto de 2024 em quatro etapas:
1) ETAPA 1 – Preenchimento do questionário, ocorrido após convite e aceitação dos profissionais para participação da pesquisa;
2) ETAPA 2 –Ciclo de Palestras, onde tivemos a participação de professoras da área de literatura, técnicos em cinematografia, uma especialista em tradução e interpretação e uma mestranda surda que estuda tradução literária língua portuguesa/Libras;
3) ETAPA 3 – Grupo focal (GF) para realização da tradução do livro infantil; e
4) ETAPA 4 – Entrevista individual sobre o processo de tradução.
Cada etapa nos encaminhou para o levantamento dos dados desejados. As subseções seguintes descrevem o modo como ocorreram cada etapa.
2.2.1 Questionário: Primeira entrevista
Nossa pesquisa começou o levantamento das informações sobre os tradutores por meio de um questionário com os participantes a partir de um formulário criado no Google Forms. Segundo Gil (2008), o instrumento possui uma técnica de investigação contendo questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças sentimentos, valores, interesses, expectativas etc., por isso, escolhemos esse recurso para começar nossa pesquisa com a finalidade de adquirir mais informações sobre os participantes.
O questionário continha onze perguntas, para construção do perfil profissional a partir da formação, local de atuação e tempo de experiência em tradução Libras/língua Portuguesa, assim como identificação dos conhecimentos sobre literatura infantil como objeto de tradução e a estética da Libras necessária para o ato tradutório.
Uma vez que as perguntas seguiram na direção de inquirir sobre seus saberes quanto a Estética da Libras, tradução/interpretação literária, produção audiovisual e literatura infanto-juvenil.
Para a etapa de organização dos dados, nós distribuímos em quadros com as categorias: formação, atuação e tempo de serviço na área. As respostas dos participantes, seguiram a ordem do formulário. Os nomes dos participantes são fictícios e foram escolhidos pela pesquisadora de forma aleatória.
O Quadro 01 abaixo refere-se aos três primeiros pontos do questionário, nos apresentando a faixa etária, sexo e o local de trabalho dos participantes. Vale salientar que os dados de um dos participantes não estão descritos, pelo fato de que apesar de ter aceitado colaborar com a pesquisa, a pessoa nunca participou das etapas propostas em nossa pesquisa, ora por motivo de doença, o que não se questiona, ora sem justificativas.
Quadro 01 -TILSPs participantes da pesquisa.
Nome | Idade | Sexo | Vínculo Empregatício | Instituição |
Ana | 43 | Feminino | Funcionária Efetiva | IFPB |
Artur | 46 | Masculino | Terceirizado | UEPB |
Bia | 47 | Feminino | Funcionária Efetiva | IFPB |
Laura | 31 | Feminino | Funcionária Efetiva | UFCG |
Luana | 28 | Feminino | Terceirizada | ECIAC |
Luna | 56 | Feminino | Terceirizada | UEPB |
Neide | 43 | Feminino | Funcionária Efetiva | UFCG |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
Como podemos observar no quadro acima, a faixa etária dos participantes está entre 28 e 56 anos de idade, sua maioria do sexo feminino, onde quatro dos sete profissionais são efetivos em instituições federais e os demais de instituições estaduais.
O próximo quadro nos indica a formação, área de atuação e tempo de experiência como TILSP, para entendermos o caminho acadêmico desses trabalhadores, em que área atuam e o período de experiência.
Quadro 02 – TILSPs – Formação, atuação e experiência
Nome | Formação | Área de atuação | Tempo de experiência como TILSP |
Ana | Pós-Graduação | Educação | 21 anos |
Artur | Pós-Graduação | Educação | 14 anos |
Bia | Pós-Graduação | Educação | 18 anos |
Laura | Pós-Graduação | Educação | 09 anos |
Luana | Superior | Educação | 10 anos |
Luna | Pós-Graduação | Educação | Mais de 10 anos |
Neide | Pós-Graduação | Educação | 08 anos |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
Sobre a formação, atuação e experiência como profissional, do quadro 02,vemos que todos possuem nível superior, onde seis dos sete respondentes possuem pós-graduação. Com respeito a atuação, ao relacionarmos essas informações com as do quadro 01, o que difere nessa área além de que todos os tradutores das instituições federais são concursados, enquanto que os do estado são terceirizados é o nível para o qual prestam seus serviços, com isso, temos uma participante que atua no ensino fundamental e médio – ECIAC, duas atuantes do ensino médio, técnico e superior – IFPB e quatro no ensino superior – UFCG e UEPB, havendo também diferença em tempo de experiência como profissionais, com o mínimo de oito anos de carreira e máximo acima de vinte anos.
As perguntas seguintes continham assuntos relacionados a nossa pesquisa, buscando informações quanto aos saberes dos participantes sobre literatura infantil e estética da Libras, na busca por levantar informações do antes e depois do ciclo de formação e assim produzir descrição desses dois momentos.
As respostas nos relataram que um dos sete participantes possui experiência com tradução de literatura infantil e que duas dos sete realizou trabalho com a Estética da Libras. Entre essas duas, uma (Luna) adquiriu conhecimento sobre o assunto por meio de um conteúdo abordado na disciplina de literatura do curso Letras/Libras da UFCG que a mesma cursou.
As duas últimas perguntas do questionário, elencadas no Quadro 03, estão relacionadas ao conhecimento audiovisual e sobre as expectativas dos TILSPs sobre a nossa pesquisa.
Quadro 03 – TILSPs – Planejamento Audiovisual e expectativa relacionada à pesquisa.
Nome | Você possui algum conhecimento sobre produção audiovisual? | Qual a sua expectativa, como convidado, dessa pesquisa? |
Ana | Sim | Contribuir para que esse trabalho se realize, além disso aprofundar meus conhecimentos na área e adquirir um olhar diferenciado sobre as diversas questões que envolve a Língua de sinais e principalmente a Literatura. |
Artur | Sim | Espero contribuir com a pesquisa em questão e que seja um tema constante em formações. |
Bia | Não | Ter mais conhecimento sobre a Literatura Infantil |
Laura | Não | Boa |
Luana | Não | Ótima! |
Luna | Sim – um pouco | Que a pesquisa possa trazer novas possibilidades de se trabalhar literatura não só a literatura de ouvintes, mas a literatura do surdo com as crianças, tanto surdas quanto ouvintes |
Neide | Não | Ampliar de conhecimento para aplicar na minha atuação e colaborar com a pesquisa |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
Sobre o quesito produção audiovisual, três dos sete (Ana, Luna e Artur), possuem conhecimento relacionado ao assunto. Quanto às expectativas relacionadas a pesquisa os sete responderam de forma positiva, dizendo estarem empenhados em contribuir com nosso trabalho e desejosos de acrescentar conhecimento a seus saberes.
A utilização desse instrumento nos permitiu conhecer um pouco sobre os participantes, onde levantamos informações relevantes para o desenvolvimento de nossa pesquisa, o qual pudemos de forma breve observar o conhecimento prévio dos participantes com respeito aos pontos principais desse trabalho, a literatura infantil e estética da Libras.
Após essa etapa de coleta de dados e antes das demais previstas, tivemos um encontro no dia 27 de maio de 2023, às 9h, pelo Google Meet, no qual explicamos aos participantes que estes realizariam uma tradução e produção sinalizada de uma literatura infantil que seria gravada em vídeo.
Também informamos sobre o Ciclo de Palestras e que essas seriam gravadas para coleta de dados e que através desse ciclo seria necessário que eles refletissem sobre suas atuações diante dos assuntos abordados. A primeira palestra ocorreria na semana seguinte, dia 29 de maio de 2023, às 14h.
3. CICLO DE PALESTRAS COMO MOMENTO DE FORMAÇÃO PARA OS TILSPS
O Ciclo de palestras correspondeu a segunda etapa de nossa pesquisa, no qual abordamos os assuntos contidos na proposta dessa pesquisa sobre estética da Libras, tradução de literatura, produção audiovisual, literatura infanto-juvenil.
A ação do ciclo nos conectou ao objetivo proposto em nossa pesquisa que deteve a finalidade de analisar o processo de formação dos TILSPs no ciclo de palestra e sua repercussão na tradução do livro infantil “Maria vai com as outras” Orthof (2002).
As palestras aconteceram no formato híbrido, possibilitando que os participantes que trabalhavam integralmente não perdessem os conteúdos abordados, uma vez que não tiveram liberação para participar presencialmente. Nesse momentos, realizamos a gravação das palestras como instrumento de registro dos dados.
As palestras de formação ocorreram na sala de multimídia do Laboratório Multidisciplinar de Libras (LabLibras), com datas e horário agendados conforme mencionado, mais a frente, no quadro 05 com os participantes nos formatos presencial e virtual, assim apresentamos o laboratório de multimidia onde as aulas foram realizadas na figura 01.
Figura 01: Laboratório de multimídia LabLibras
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023)
Para melhor compreensão do local além da imagem do laboratório apresentada acima, descrevemos a estrutura do ambiente de forma detalhada, onde os materiais e equipamentos existentes nesse espaço estão enumerados para melhor descrição apresentados no quadro 04.
Quadro 04 – Descrição da sala de multimídia
1 | Sala de multimídia | Lugar em que as aulas são ministradas, com equipados equipamentos relacionados a proposta do ambiente tais como: computador, TV, videoconferência etc. |
2 | Local de posicionamento da pesquisadora | Responsável quanto à utilização da sala |
3 | Local de posicionamento dos Professores palestrantes | Local de onde ministraram suas aulas |
4 | Local de posicionamento dos TILSP Participantes | Cadeiras reservadas para os participantes |
5 | TV onde ocorrem as Videoconferência- | Videoconferência por meio da TV, com transmissão por meio de notebook e computador |
6 | Tela das Vídeochamadas | Por meio da plataforma Google Meet |
7 e 8 | Local de posicionamento dos materiais utilizados para as vídeochamadas | Notebook da pesquisadora, TV computador e webcam do LabLibras |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
Conforme descrição, esses foram os materiais e equipamentos utilizados para concretização das palestras. Dessa forma, os participantes da pesquisa tiveram um total de 12 horas/aula no laboratório. Colocamos a figura 01 para destacar o cenário de cada palestra e a Figura 02 nos apresenta a gravação da primeira palestra.
Figura 02– Primeira palestra de formação
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023)
A figura 02 representa a primeira palestra, que foi ministrada pela prof.ª Joyce Alencar com o seguinte título “Estética literária em Libras e a estrutura de um poema em língua de sinais e português”.
Para execução das palestras dividimos essa etapa em sete momentos, agendados uma vez por semana, com duração de duas horas, cada, para que o grupo convidado entendesse as possibilidades da tradução diante de cada assunto abordado nessa formação. O quadro abaixo apresenta os temas das palestras, as especialidades dos palestrantes assim como data e horário das palestras.
Quadro 05 – Descrição do Ciclo de Palestras.
CICLO DE PALESTRA | PALESTRANTE | DATA | HORA |
Reunião explicativa | A pesquisadora | 27 de maio de 2023 | 9h às 10h |
Estética da Libras | Professora de Literatura – Libras – UFCG | 29 de maio de 2023 | 14h às 16h |
Tradução/Interpretação de Libras | Especialista emTradução/interpretação de Libras – UFCG | 07 de junho de 2023 | 14h às 16h |
Planejamento Audiovisual | Técnico Cinematográfico – UFCG | 19 de junho de 2023 | 14h às 16h |
Roteiro de Gravação | Técnico Cinematográfico – UFCG | 06 de junho de 2023 | 14h30 às 16h30 |
Perspectiva de tradução de livro infantil para Língua de Sinais | Mestranda Surda do PPGLE | 13 de julho de 2023 | 14h às 16h |
Livro infantil | Professora doutoranda do PPGLE | 20 de junho de 202427 de junho de 2024 | 9h às 11h9h30 às 11h |
Produções surdas | Pesquisadora | 04 de julho de 202411 de julho de 2024 | 8h às 10h8h às 10h |
Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2023 e 2024).
Tivemos como palestrantes os seguintes profissionais: Professoras de Literatura em Libras e Literatura Brasileira; Técnicos Cinematográficos, Mestranda PPGLE – Especialista em Tradução/Interpretação de Libras e Mestranda Surda PPGLE -Perspectiva Sobre Tradução de Livro Infantil, esses abordaram os assuntos relacionados à tradução sinalizada que os TILSPs realizariam.
O quadro 06 a seguir nos apresenta os palestrantes e os conteúdos que abordaram diante do tema proposto para cada palestra.
Quadro 06: Palestrantes e suas palestras
TÍTULO DA PALESTRA | NOME DO PALESTRANTE | ASSUNTO DA PALESTRA |
Estética da Libras | Prof.ª Ma. Joyce Gomes de Alencar – docente do curso de Licenciatura em Letras Libras da UFCG | Estética literária em Libras e a estrutura de um poema em língua de sinais e português |
Tradução de Libras/Português | Jailma da Costa Silva Dantas – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino – PPGLE/UFCG | Tradução de Libras e literatura infantil |
Produção Audiovisual | Reinaldo Toscano – Me. em Computação, Comunicação e Artes e coordenador do Laboratório multidisciplinar de Libras | Pré-produção Audiovisual |
Produção Audiovisual | Bernardo Hennys – – Graduado em Arte & Mídia, técnico em cinematografia e técnico do Laboratório Multidisciplinar de Libras | Roteiro para gravação |
Perspectiva de Tradução de Literatura Infantil | Morgana Katarine Benevides Neves – Mestranda surda do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino – PPGLE/UFCG | Análise estética da tradução para a literatura em língua de sinais do livro infantil “Guilherme Augusto Araújo Fernandes”. |
Livro infantil | Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves – docente do PPGLE e do curso de Licenciatura em Língua Portuguesa da UFCG E Marcela de Araújo Lira – Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino – PPGLE/UFCG | Prática leitora com apresentação de histórias infantis através de contação |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
Dos palestrantes que contribuíram com nossa pesquisa em suas respectivas áreas de atuação, cinco são servidores efetivos da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, na Unidade Acadêmica de Letras – UAL/CH. Duas são discentes do PPGLE. Seguimos a sequência descrita com intenção de alinhar cada assunto ao conteúdo principal, Estética da Libras, para a produção e gravação da tradução sinalizada do livro infantil “Maria vai com as outras” para Libras.
Assim, tivemos a seguinte sequência de palestras e seus objetivos formativos:
Primeira palestra – Estética da Libras
Iniciamos o ciclo apresentando a estética da Libras e os elementos que a compõe na palestra da prof.ª Ma. Joyce Gomes de Alencar, que faz parte do corpo docente do curso Letras/Libras, e iniciou citando Fernando Alvarado destacando a seguinte frase “a literatura é simultaneamente linguagem e estética”.
Em seguida, a professora apresentou a Estética da Libras e seus elementos utilizando referencial teórico e mostrando a diferença entre a utilização ou não desse recurso por meio da leitura e análise de vídeos com produções literárias sinalizadas.
Nessa aula, tivemos a presença de três dos sete TILSPs, duas no formato presencial e uma no formato remoto, como a gravação da palestra foi apenas por google meet ficamos sem o destaque visual das participantes que estavam presentes para evitar que se tornem confusas as informações da presença dos participantes organizamos quadros apontando o comparecimento de quem esteve e em que formato em cada formação, assim sendo, o quadro 07 a seguir exibe os presentes no primeiro encontro.
Quadro 07– Participação das palestras
PRESENCIAL | REMOTO | INSTITUIÇÃO |
Ana | —— | IFPB |
Luana | ECIAC | |
Neide | —— | UFCG |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
A professora iniciou a palestra citando Fernando Alvarado destacando o seguinte “a literatura é simultaneamente linguagem e estética” e que a estética é fundamental para a literatura, que é aprazível, bela, agradável e divertida de acordo com Sutton-Spence (2021, p. 25).
Na perspectiva de que por meio da visão e do tato se possibilita a experiência corporal dos surdos a professora apresentou as áreas em que a estética em Libras permeia, são elas: Slam, Vernáculo Visual (VV), Teatro, Narrativa, Poesia e Piada.
Destacou, ainda, que a produção visual de cada uma dessas áreas é indispensável à utilização dos elementos da estética em Libras como: velocidade; espaço e simetria; mesmas configurações de mãos: estética e metafórica; morfismo: mudando as configurações da mão; mostrar humanos (por incorporação); mostrar animais, plantas e objetos inanimados; classificadores (e novos classificadores); elementos não manuais; perspectivas múltiplas.
Para finalizar essa primeira parte da palestra a professora Joyce apresentou alguns videossinalizados como exemplo dos elementos da estética em Libras. Por meio de sete links que serão apresentados no quadro a seguir.
Quadro 08- Links de acesso.
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
A professora apresentou e discutiu com o grupo de TILSPs a estética literária presente nas obras. Na sequência falou da estrutura do poema em Língua de Sinais e português mostrando suas diferenças.
Ao finalizar a palestra a professora realizou uma atividade prática através dos poemas “A onda” de Manoel Bandeira (1963) e “Casas” de Débora Moreno, juntamente as Configurações que Mãos que seriam utilizadas. Uma das participantes aceitou o desafio e tentou fazer a primeira e a palestrante foi acrescentando algumas ideias, já o segundo poema a própria professora executou.
Segunda Palestra – Planejamento audiovisual
Na sequência a palestra foi sobre Produção Audiovisual com o Me. em Computação, Comunicação e Artes, Reinaldo Toscano, coordenador do Laboratório multidisciplinar de Libras – LabLibras.
Ele apresentou e discutiu sobre pré-produção audiovisual, buscando saber se os participantes tinham o conhecimento desse planejamento. Perante a pergunta do palestrante, Luana disse que com eleição e Ana em um projeto de extensão da UFCG com materiais didáticos para Libras e editais no IFPB, até esse momento Neide não estava presente.
Após obter as respostas, o palestrante versou sobre a Pré-Produção Audiovisual, ou seja, aos pontos que devem ser trabalhados antes da produção audiovisual, quando apresentou por meio de slides as etapas e conceitos existentes para que a produção audiovisual se efetive, mostrando que a compreensão das etapas que precedem a produção audiovisual são importantes para o produto final, uma vez que estar consciente dessa sequência permite ao idealizador alcançar os resultados esperados porque entendeu e respeitou os estágios que compõe a gravação.
Nessa palestra contamos com a presença de quatro dos sete integrantes da pesquisa, uma no formato presencial e três à distância e para melhor entendimento dessa dinâmica organizamos um quadro destacando quem estava no formato presencial e no formato remoto. O quadro 09 apresenta os nomes dos participantes e a modalidade de participação na palestra.
Quadro 09 – Participação das palestras
PRESENCIAL | REMOTO | INSTITUIÇÃO |
—— | Ana | IFPB |
—— | Bia | IFPB |
—— | Luana | ECIAC |
Neide | —— | UFCG |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
Os pontos mencionados são componentes necessários para que a pré-produção audiovisual seja realizada, esses constituintes partem da ideia que desencadeia o planejamento de conteúdo, estuda a logística e por fim, organiza a equipe e os recursos assim o palestrante apresentou através de uma estrutura os conceitos de modo que ficasse claro o entendimento de todos, a representação do esboço feito pelo palestrante segue na figura 03 abaixo.
Figura 03 – Conceito dos elementos da pré-produção audiovisual
Ideia Base criativa da qual todo o desenvolvimento e produção audiovisual são confeccionados. | PRÉ-PRODUÇÃO AUDIOVISUAL | Logística Planejamento dos aspectos práticos e operacionais envolvidos no projeto. Coordena recursos, pessoas, locações, equipamentos, cronogramas etc. |
Planejamento de Conteúdo Define de forma estratégica o que será produzido, para quem, como e quando será distribuído. Corrobora com a criação de conteúdo relevante ordenado aos objetivos do projeto audiovisual. | Equipe e Recursos As funções dos envolvidos na produção audiovisual e equipamentos que serão utilizados. |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
Conforme a estrutura apresentada na aula, a pré-produção audiovisual quando alinhada à nossa pesquisa e elencadas com cada elemento destacado na figura de forma análoga, funciona da seguinte forma:
- Ideia criativa das pesquisadoras com a tradução videossinalizada de uma literatura infantil, com o objetivo de analisar o processo de formação dos participantes no ciclo de palestra e sua repercussão na tradução;
- Planejamento do conteúdo a ser produzido por meio do ciclo de palestras com a finalidade de provocar os participantes diante das teorias apresentadas e assim desenvolver com eles um estudo em grupo sobre livro infantil escolhido e produção vídeossinalizada;
- Logística que é a parte prática através do Grupo Focal onde analisamos os elementos estéticos para construção da tradução sinalizada nivelada a formação no ciclo, como também na escolha de qual dos integrantes iria expor sua imagem na produção sinalizada em vídeo.
Quanto a equipe e os recursos todos os TILSPs participaram do processo de tradução para efetivação da produção audiovisual com a escolha dos equipamentos que seriam utilizados como a iluminação, posicionamento da câmera e o profissional que seria gravado.
Ao finalizar sua fala o palestrante comentou que poderíamos utilizar algumas das etapas exibidas na aula dividindo entre o grupo cada responsabilidade para a efetivação produção audiovisual da tradução vídeossinalizada.
Terceira Palestra – Roteiro de gravação
Para abordar o tema da terceira palestra que foi Produção Audiovisual, tivemos o técnico em cinematografia do LabLibras Bernardo Hennys, graduado em Arte & Mídia. Ele abordou o conteúdo relacionado ao planejamento audiovisual, roteiro para gravação, explicando cada elemento desse tema que antecede a gravação, relembrando alguns aspectos expostos na palestra anterior, Pré-produção Audiovisual, para dar início ao assunto proposto.
Na palestra estiveram presentes quatro dos sete participantes que estão descritos no quadro abaixo.
Quadro 10 – Participação das palestras
PRESENCIAL | REMOTO | INSTITUIÇÃO |
—— | Ana | IFPB |
—— | Artur | UEPB |
—— | Luana | ECIAC |
Neide | —— | UFCG |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
O palestrante deu início perguntando se os participantes haviam tido experiência com produção audiovisual, Artur disse que apenas com transmissão em palestras e seminários pelo YouTube, mas que gravação não.
Após a fala dos participantes, o palestrante apontou os passos necessários para que o roteiro seja desenvolvido, esse depende da ideia e do desenvolvimento do projeto para que possa ser organizado e executado, ao finalizar os pontos levantados no roteiro, esses não possuem mais valor. Dito isso, explicou as etapas para execução do roteiro que segue na figura 04 abaixo.
Figura 04 – Etapas do roteiro apresentadas pelo palestrante
1ª ETAPA | 2ª ETAPA | 3ª ETAPA | 4ª ETAPA | 5ª ETAPA |
Ideia | Story-line | Argumento | Estrutura | 1º Tratamento |
Um roteiro começa sempre por uma ideia, ou um fato que gera o desejo de desenvolvermos uma história. | História contada em rápidas pinceladas numa frase. Ex: uma criança entrega um presente aos pais no dia de Natal após longa espera. | Justificativa. Nesta altura a história começa a ganhar personagens, ação localizando-se no tempo e espaço. Ex: a história começa aqui, passa por lá e termina acolá. | Divide o argumento em cenas que determinam a localização no tempo e no espaço e a ação correspondente de cada cena. | Aqui surgem os diálogos, as falas, o início e o final das cenas, bem como o seu desenvolvimento. Os personagens são tratados e trabalhados como se tivesse vida própria, emoções e conflitos |
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
O roteiro parte da ideia, com destino a produção audiovisual e que a organização dele permite uma pré-visualização de como a gravação será realizada, pois essas etapas estão relacionadas ao processo que antecede a produção.
A apresentação possibilitou a compreensão dos passos necessários para que o roteiro de gravação seja desenvolvido para cada produção audiovisual, considerando os passos de organização e execução e alertando de que o respeito as etapas necessárias para a produção audiovisual determinam o resultado da produção.
Quarta Palestra – – Perspectiva de Tradução de Literatura Infantil
Para a palestra que abordou a Tradução de Literatura Infantil tivemos a participação da mestranda surda do PPGLE/UFCG Morgana Katarine Benevides Neves, formada em Licenciatura Letras/Libras – UFCG que apresentou seu trabalho de tradução para o TCC intitulado “Análise estética da tradução para a literatura em língua de sinais do livro infantil ‘Guilherme Augusto Araújo Fernandes’, destacando como realizou seu trabalho e os elementos estéticos que utilizou em sua pesquisa.
Dessa palestra participaram quatro dos sete profissionais, o quadro abaixo detalha os presentes assim como o formato de participação.
Quadro 11- Participação das palestras
PRESENCIAL | REMOTO | INSTITUIÇÃO |
—— | Ana | IFPB |
—— | Bia | IFPB |
—— | Laura | UFCG |
—— | Luana | ECIAC |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
A palestrante compartilhou a motivação para construção do seu TCC focada na tradução de literatura infantil. Comentou que fez parte de um projeto de extensão – PROBEX na UFCG no ano de 2018 durante a licenciatura em Letras/Libras sob a supervisão da prof.ª. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto e a prof.ª Dra. Márcia Tavares Silva, essa ação extensionista estava focada no estudo de tradução do texto em português para Libras.
Explicou que o objetivo era realizar a tradução de uma literatura infantil para Libras e com isso produzir uma contação de história e apresentá-la na ECIAC, assim escolheu Guilherme Augusto Araújo Fernandes (Fox, 1995).
Depois estudou o livro para poder realizar a tradução, ao finalizar esse processo, compartilhou com o grupo da extensão, porém sentiu que faltava algo pelo fato de não ser profissional na área de tradução e que seu desejo era de deixar a contação de acordo com os elementos da literatura em Libras.
Percebeu que não se tratava de uma tradução qualquer, então estudou o livro com o intuito de adaptá-lo para Libras conforme a literatura em Libras Sutton-Spence (2021), então decidiu fazer análise de uma sinalização existente da mesma obra em seu TCC.
Explicou que durante a análise percebeu que se tradução estava ligada ao português e que por isso, se apropriou dos elementos estéticos da Libras e elaborou a tradução conforme a teoria.
Compartilhou que utilizou quatro das nove categorias existentes nos elementos estéticos, simetria, incorporação por humano, neologismo e repetição, para a tradução alinhando a contação de história a esses componentes para que os alunos surdos tivessem experiência visual e provocar suas emoções, para que eles pudessem sentir a história.
Comentou ainda que na tradução existente dessa obra tem muita datilologia, a cultura surda não é levada em consideração. Após finalização de sua fala Morgana compartilhou a tradução vídeossinalizada da contação de história que escolheu com o link exposto no quadro a seguir.
Quadro 12 – Link da tradução de contação de história
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2023).
As participantes ficaram motivadas com o trabalho realizado pela mestranda e comentaram da necessidade de agregar esse conhecimento as suas práticas e provocar impacto nas sinalizações despertarem emoções no público surdo.
Morgana finalizou dizendo que essa teoria foi bem desafiadora, por possuir muitos detalhes e que no curso de extensão não entendia muito sobre o assunto, mas que ao se aprofundar nos estudos sobre a estética da Libras obteve mudança de percepção na área.
A apresentação constituiu o espaço para entendimento de que o ato tradutório é a etapa final do trabalho conceitual sobre a estética da Libras e como ela se materializa na tradução. As dificuldades e desafios diante da teoria escolhida e da performance sinalizada foram aspectos também contemplados na palestra.
Quinta e Sexta Palestras – Livro infantil e a prática leitora de histórias infantis através de contação.
As palestras que abordaram o Livro infantil foram realizadas pela Doutoranda Marcela de Araújo Lira com a participação Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves, que faz parte do corpo docente do curso de Letras Língua Portuguesa na área de literatura.
Na quinta palestra, os palestrantes realizaram prática leitora de literatura infantil, possibilitando aos participantes conhecerem um pouco mais sobre esse tipo de literatura, permitindo que no contato através da contação de história a estética literária das narrativas fosse percebida e destacada.
Marcela, começou com um diálogo para conhecer os TILSPs perguntando sobre a área de atuação deles, a quanto tempo e como começaram a trabalhar como intérpretes. Logo após se apresentou e falou um pouco sobre sua pesquisa no doutorado, que está em fase de conclusão, voltada para as relações entre palavras e imagens dos livros ilustrados, pensando na proposta de mediação para sala de aula, trabalhando especificamente com a autora chamada Ângela Lago que é escritora e ilustradora, sendo orientada pelo prof. Dr. Helder.
Na sequência o professor fez uma breve apresentação, o qual disse que trabalha com literatura brasileira, popular, de cordel, teoria da literatura, literatura infantil, juvenil e que seu horizonte de pesquisa tanto para escrita quanto e comunicação está voltado para poesia.
A partir desse momento a professora começou falar um pouco acerca da literatura infantil, e seu surgimento no Brasil e explicou que os bichos são escolhas muito presentes nos livros para crianças, algumas vezes para tratar assunto mais difícil para não ter uma identificação tão direta por exemplo sobre morte, se colocar um humano pode ter uma recepção impactante, já com um animal se torna diferente, assim consegue-se falar de forma mais amena e ao mesmo tempo poupa uma identificação de gatilho.
Após essa introdução falou sobre livro ilustrado – que possui três linguagens: a materialidade, texto verbal e texto visual e, se essas linguagens forem separadas a história deixa de existir, por isso é um desfio para tradução, por causa disso alguns livros não são uma boa escolha, pelo fato de alguns dependerem da virada de página, do movimento e que tirando ele desse suporte não é tão interessante.
Em seguida, começou a realizar as contações de história, deu início com ‘Este chapéu não é meu’, de Jon Klassen, na sequência ‘Quero meu chapéu de volta’, do mesmo autor. Depois o professor fez a leitura de ‘Pinote o fracote e Janjão o fortão’ de Fernanda Lopes de Almeida, quando finalizou a leitura por curiosidade perguntou se havia possibilidade de se contar essa história em Libras? A resposta foi um, unanime, sim! Um dos exemplos mencionados foi que poderia ser feita uma adaptação, onde Janjão seria ouvinte e Pinote um surdo. O professor e a palestrante acharam muito interessante.
Como tivemos alguns contratempos, foi marcado outro encontro para encerrarmos as contações que Marcela havia preparado assim como momento para tirar dúvidas e encerrou a primeira parte contando a história de ‘Chapeuzinho Amarelo’ de Chico Buarque e ilustração de Ziraldo, a palestrante perguntou como seria a contação dessa história se está relacionada a troca silábica, todos disseram que esse tipo de história é mais difícil.
Na sexta palestra, com intensão de que refletissem sobre a estética da Libras no momento das contações, leituras de livros infantis foram retomadas discutindo com os participantes sobre o modo como recepcionavam as narrativas e como estas se vinculavam as escolhas estéticas pensadas por eles para a produção de uma possível tradução de cada obra.
Marcela deu início explicando que faria a leitura de algumas obras e na sequência o grupo conversaria para decidirem qual história iriam escolher para traduzirem, então leu ‘Festa no céu’ Um conto do nosso folclore por Ângela Lago, A ‘Arvore Generosa’ de Shel Silverstein, ‘Flicts’ de Ziraldo e ‘Maria vai com as outras’ de Sylvia Orthof.
Ao término das contações perguntou se o grupo já pensava em alguma história e todos falaram da ‘Árvore generosa’, então começaram a falar das possibilidades de performance. Artur e Bia pensaram na sinalização em dupla, já Ana e a pesquisadora pensaram em ser apenas uma pessoa fazendo a incorporação dos personagens. Ao ver que existia várias formas de sinalizar a história, a professora disse que tinha visto a contação dessa história em Libras, pediu para darmos uma olhada e desejou que fizessem um ótimo trabalho, em seguida se despediu. Laura não participou desse momento, pois teve que se ausentar para cumprir demanda de trabalho.
Esses dois encontros aconteceram em uma das salas de aula, da Unidade Acadêmica de Letras no período da greve. Estiveram presentes os quatro participantes que permaneceram na pesquisa descritos no Quadro 13 abaixo.
Quadro 13 – Participação das palestras
PRESENCIAL | REMOTO | INSTITUIÇÃO |
Ana | IFPB | |
Artur | UEPB | |
Bia | ||
Laura | UFCG |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2024).
A pesquisadora encontrou os exemplares em Libras da ‘Árvore generosa’ e percebeu que já existia mais de uma interpretação, por isso propôs a mudança da obra ao grupo, outra história que tinha se interessado foi ‘Maria vai com as outras’, com isso decidiram traduzir essa segunda opção.
Antes de iniciarem a tradução da história tiveram mais um encontro, dessa vez, com a pesquisadora para que tivessem mais contato com produções surdas, mesmo depois de terem visto exemplares nas palestras anteriores. Assim tivemos o sétimo encontro.
Sétima palestra – Tradução de Libras/português
Para conclusão do ciclo de palestras nos encontramos com os participantes para falar sobre Tradução do português para Libras. Por ser tradutora/intérprete de Libras da instituição, além de mestranda do PPGLE/UFCG, eu, Jailma da Costa Silva Dantas, busquei na última palestra tratar sobre estética da Libras através de produções surdas como modelos para suas performances.
Esse foi o momento de relembrar o conceito de tradução, uma vez que parte dos participantes praticam o serviço de interpretação com mais frequência em sala de aula e eventos do que o de tradução. Pelas falas deles, quando confrontados com uma solicitação de tradução realizavam o serviço com assuntos que diferentes da literatura. Foi espaço também de recapitular a teoria da estética da Libras para fazer a tradução da literatura infantil “Maria vai com as outras”.
O encontro foi realizado pelo google Meet, tivemos pouco tempo para discutirmos os vídeos e as percepções dos TILSPs, pois houve a necessidade de rememorar a teoria para que os participantes se atualizassem quanto aos vídeos, outro motivo foi que os participantes teriam demanda logo após o encontro.
Quadro 21 – Participação das palestras
PRESENCIAL | REMOTO | INSTITUIÇÃO |
—— | Ana | IFPB |
—— | Artur | UEPB |
—— | Bia | IFPB |
——- | Laura | UFCG |
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2024).
Foram apresentadas produções surdas para inspiração do trabalho. Começou com Nelson Pimenta em sua produção ‘O homem que queria ser cachorro’, ‘Eu X rato’ de Rodrigo Silva e ‘A árvore versão de Fernanda Machado. Em seguida temos um quadro com os links das produções em Libras.
Quadro 14 – Link das produções em Libras
Fonte: elaborado pela pesquisadora (2024).
Sobre o conteúdo, a pesquisadora explicou que a estética da Libras explora a beleza por meio da performance para que os surdos leiam a obra a partir de um lugar de significação em que o efeito estético recepcionado produza reações apenas advindas do contato com a arte nesse público.
Também disse que uma exímia performance faz uso dos elementos: velocidade, espaço e simetria, mesmas a configurações de mãos, morfismo, mostrar humanos (por incorporação), mostrar animais plantas e objetos inanimados, classificadores (e novos classificadores), elementos não manuais e perspectivas múltiplas.
Após a rememoração quanto a Estética da Libras e os vídeos das produções surdas assistidos, os TILSPs começaram a compartilhar quais dos elementos estéticos mais se destacaram para eles que foram: os elementos não manuais tão fortemente empregados, incorporação e classificadores, menos sinais e foram relacionando a estética da Libras.
Ao finalizar o encontro a pesquisadora lembrou a importância de estudarem mais a teoria para a próxima fase, a tradução em grupo focal, que ficou marcada para a semana seguinte.
CONCLUSÕES
Em um país onde a formação em nível superior para tradutores/intérpretes de Libras acontece apenas em poucas universidades federais, pensar a formação desse setor é imprescindível. Em se tratando da tradução literária, a significação e importância é linguística, mas também artística. Para propiciar espaço de estudo e reflexão o ciclo de palestras desenvolvido como parte de nossa metodologia de pesquisa permitiu-nos após identificar o perfil dos profissionais e se os mesmos possuíam conhecimento teóricos e práticos quanto a literatura infantil e estética da Libras constatar que há falta de formação literária e estética para os tradutores de Libras na cidade de Campina Grande e que em lugares de ausência de formação em nível de graduação, formações por meio de palestras pode significar consideráveis avanços na qualidade do material traduzido pelos servidores das instituições da cidade.
Por fim, por se tratar de uma artigo que versa sobre uma pesquisa-ação que faz uso de um ciclo de palestras, importa-nos dizer que os resultados em processo de análise nos indicam a importância do trabalho realizado.
3Maria vai com as outras, história e ilustrações criadas por Sylvia Orthof em 2002. Na narrativa, Maria era uma ovelha que sempre fazia o que as outras faziam. Se todas iam para baixo ela ia também, se iam para cima, Maria as seguia. Ela nunca fazia o que queria, até que um dia ela tomou uma decisão: trilhar seus próprios caminhos Orthof (2002).
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1Discente do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino – PPGLE – Universidade Federal de Campina Grande. Campus Campina Grande-PB. Email: jailmacsd@gmail.com;
2Docente do Curso de Licenciatura em Letras/Libras e do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino – PPGLE da Universidade Federal de Campina Grande. Campus Campina Grande-PB. Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). e-mail: shirley.barbosa@professor.ufcg.edu.br